terça-feira, janeiro 31, 2012

A Realidade e o "Mundo da Lua"


Gostava de escrever coisas mais descontraídas por aqui, mas o meu envolvimento num projecto de investigação, de cariz sociológico, faz com que tenha dificuldade em abstrair-me de tudo aquilo que tenho apreendido nos últimos tempos. Eu já sabia que a realidade fazia doer, por isso é que sabe sempre bem viver no "mundo da lua". 

Uma das coisas que mais me aflige é perceber que se continuarmos neste caminho, muitas das nossas cidades irão desaparecer, ficarão praticamente abandonadas, como muitas aldeias por esse interior fora. E não serão necessários vinte anos...

Esta coisa de convidar os jovens a "emigrar", tem muito que se lhe diga. Pode inclusive "matar" um país como o nosso, com uma população cada vez mais envelhecida...

O mais grave é que muitos destes problemas são do conhecimento de uma boa parte dos governantes (autarcas incluídos...), que preferem fazer como a avestruz e continuar a "meter água"...

O óleo é de Vladimir Sorin.

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Livros Vendidos como "Sabonetes"


Maria do Rosário Pedreira, poetisa e editora, diz-nos, nas suas "Horas Extraordinárias", que os livros têm hoje  uma esperança média de vida de sete semanas, nos expositores das livrarias.

Isso explica a minha dificuldade em encontrar alguns livros, que não compro logo que saem. E também explica a "irracionalidade" do negócio (a palavra estupidez até me parece mais apropriada...), em que a quantidade parece ser mais importante que a qualidade (pensava que um livro bom, era "eterno", mesmo nas livrarias...).

Mas como iremos explicar a estes entendidos de "marquetingue" que vender um livro é diferente de vender um sabonete?

Não iremos, claro.

Resta-nos a esperança de encontrar os tais "livros desaparecidos" numa das milhentas feiras do livro que se encontram por aí...

O óleo é de Iman Maleki.

domingo, janeiro 29, 2012

«No que foi que nos tornámos?»


«No que foi que nos tornámos?»


Eu sabia a resposta. Entre outras coisas, num bando de egoístas, imbecis e idiotas.

Deixámos que a "epidemia" da riqueza e importância, que alastrou de Norte a Sul com o "cavaquismo", destruisse muitos dos ideais que nós tínhamos como válidos, como se o valor das coisas passasse a ter uma só medida: o dinheiro.

Agora estamos a ser governados pelos "filhos" do cavaquismo", que além de terem trazido a pobreza de volta, também trouxeram a indiferença, a desigualdade, o abandono, a caridadezinha (os ricos adoram-na, para darem os seus "restos" aos pobrezinhos...), transformando as pessoas mais vulneráveis em lixo.

Os jornais e as televisões preferem noticiar o espectáculo (as mortes garantem mais audiências, dizem eles em surdina...), que chamar a atenção sobre o que está a acontecer no país. Não falam dos "sem abrigo" que crescem todos os dias nas cidades, que sem emprego e sem dinheiro, sentem que a rua é a última alternativa para se sobreviver. Não falam das pessoas idosas que deixaram de comprar medicamentos porque as reformas mal dão para a alimentação, renda, água e luz... nem contabilizam todos aqueles que ainda ficaram mais fechados em casa, com o fim dos descontos do passe da "terceira idade". 

E nem vou até ao Interior, onde milhares de pessoas estão mais isoladas que nunca, com o fecho dos centros de saúde e escolas. As suas mortes só não são noticiadas, porque nas aldeias todos se conhecem e quando alguém deixa de dar sinal de vida, entra-se pela sua casa adentro, sem esperar pela polícia ou bombeiros, "modernices" que não existem no país rural...

E nós, vamo-nos continuar a comportar como umas bestas, egoístas, cobardes e insensíveis, até quando?

A escultura é Sérgio Zanni.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Aprender Quase só com o Olhar


Há muitas coisas que aprendemos só  com o olhar, com os exemplos daqueles que amamos e aprendemos a admirar pela vida toda, muitas vezes sem ser preciso o uso das palavras.

São as lições de vida...

O meu pai não falava muito, era capaz de dizer muito apenas com uma palavra.

Lembro-me de ir de mão dada com ele  pela rua e de sermos cumprimentados com vénias por alguns vizinhos, a quem dava o bom dia ou boa tarde, quase sem os olhar. Percebia pelo seu olhar que era gente a quem não se devia dar qualquer tipo de confiança.

Além de ser alto e forte, esta sua forma de estar inspirava medo, por isso é que nunca teve grandes problemas, ninguém o tentou "domar", mesmo antes de 1974, nos tempos "idílicos da bufaria" (que infelizmente parecem estar a voltar...).

Hoje sinto que muito do que sou, devo-o aos seus exemplos pouco palavrosos, mas tão certeiros, no reconhecimento dos "bons e maus", por mais máscaras que usem.

E como gostei hoje de dizer ao "papagaio", que é um ás no auto-elogio e no "corte e costura", para falar mais baixo, ou então para mudar de sala...

O óleo é de Ted  Seth Jacobs.

quarta-feira, janeiro 25, 2012

De Vergonha em Vergonha


Já sabia que o ministro da propaganda deste governo não tinha pingo de vergonha.

Mas pensava que o seu descaramento não iria chegar tão longe, ao ponto de fazer de Sócrates, um anjinho, nestas coisas de "cortar o pio" a jornalistas.

Quem deve estar muito satisfeita com o estado do país, é a senhora que dizia que suspendia a democracia por seis meses.

Não vale a pena continuar a fingir, a democracia caminha mesmo para a suspensão, graças a este governo de direita, apostado em entregar tudo o que é lucrativo aos amigos.


Pelo caminho ainda tenta dominar tudo o que é jornal, rádio ou televisão, com o silêncio dos "falsos inocentes", que se venderam por um "prato de lentilhas".

Só espero que quem colocou esta gente no poder esteja feliz.

terça-feira, janeiro 24, 2012

«Nós homens, fingimos acreditar em muitas coisas, com e sem carrossel, por terem mulheres.»


Sabia que havia cada vez mais gente a viver, temporariamente só, nos muitos prédios altos e baixos das pequenas e grandes cidades.

Este "temporariamente" dependia de pelo menos três variantes: a idade, a facilidade que se tem, ou não, em conhecer pessoas, e o não menos importante, "desistir" dos outros. Para este último grupo, o temporário caminhava para o definitivo...

Também sabia que nós homens, temos mais dificuldade em conviver com a solidão, em entrar em casas vazias, sem vozes e sem vida. 

Essa poderá ser uma das muitas explicações para a existência de muito mais viúvas que viúvos, por quilómetro quadrado.

Todas estas palavras porque ouvi dois balzaqueanos, bastante entusiasmados a fazerem publicidade no café sobre o "baile das viúvas". Houve uma expressão que me fez sorrir, quando o homem mais bem aperaltado explicou: «lá não encontras rosinhas dos limões, só actrizes de filmes italianos.»

Além de sorrir fiquei curioso sobre qual seria a "configuração" de uma actriz de filmes italianos, num baile de viúvas...

Pensei para comigo: «Nós homens, fingimos acreditar em muitas coisas, com e sem carrossel, por terem mulheres.» 

O óleo é de Clayton J. Beck.

domingo, janeiro 22, 2012

Guimarães Capital Europeia da Cultura




Tenho quase a certeza que o que o Vasco  ontem queria, era falar da "inutilidade" de Guimarães ser a Capital da Cultura em 2012. Mas como lhe faltaram os argumentos, resolveu "atacar" a Cultura do nosso país, por inteiro.


Como pudemos ver na televisão, Guimarães está com a Cultura e sabe que este acontecimento é uma mais valia para todos, pois além da música, do teatro e de tantas outras artes, irá trazer muitos turistas à "Cidade Berço", ajudando a economia local.


Até porque os seus programadores querem chegar às pessoas, querem envolver os vimaranenses nas iniciativas que irão levar a cabo ao longo do ano.


Também gostei da forma como conseguiram associar o calçado e a moda à Cultura.

sábado, janeiro 21, 2012

"As Brincadeiras Culturais" do Vasco


A crónica do Vasco Pulido Valente de hoje no "Público", roça o ridículo e a estupidez, em praticamente todos os parágrafos.

Quando ele diz: «A Ditadura tivera a religião, o PREC a "cultura". o artista e o intelectual passaram a opinar sobre o destino da Pátria e da civilização, com uma autoridade de origem suspeita mas reconhecível», demonstra ignorância e sobretudo preconceito (por a esquerda se afirmar culturalmente).

Seria bom recordar este senhor, de que os "comentadores"  do que quer que seja (como ele), são uma coisa relativamente recente. Os da imprensa (com várias colunas diárias) devem o seu espaço de papel ao aparecimento do "Público", que mudou na época o paradigma dos jornais generalistas. E os "opinadores" televisivos, cresceram e multiplicaram-se, primeiro com o aparecimento da televisão privada e depois com os canais por cabo. Até ai, eram quase inexistentes.

Embora tivesse apenas onze, doze anos no PREC, pelo que tenho lido, os ditos "intelectuais" de esquerda que o VPV fala, andavam sim, de braço dado com as comissões de trabalhadores, a fazerem cursos de alfabetização, principalmente no interior do país.

Mas o mais absurdo estava guardado para o último parágrafo: «As câmaras arranjaram "vereadores culturais", com funções para lá da compreensão humana. Promoveram colóquios, simpósios, festivais. Convenceram o Estado a comprar os cineteatros de 1905 ou 1940, que se iam desfazendo serenamente em ruinas, para uma "produção nacional" imaginária ou pobre.» Que acaba desta maneira (muito mal escrito diga-se de passagem): «A crise veio de muitos milhares de histórias assim.»

Num país que nunca investiu na Cultura, onde o dinheiro gasto no património e na produção cultural foi sempre insignificante, é triste ver um "parvalhão" destes, que só pode ter uma vida pequenina e completamente afastada da realidade, culpar a Cultura da crise.

Se culpasse por exemplo o futebol, o investimento que foi feito nos estádios para o Europeu de 2004, e até em estádios municipais, cujos custos de manutenção são um problema para vários Municípios, poderia dar-lhe razão, mas falar das "migalhas" que sempre foram atribuídas à Cultura (que tiro as aspas dele e coloco em letra grande), é absurdo e revelador de uma grande ignorância e estupidez, por muito inteligente que a "personagem" julgue ser.

O óleo é de Marta Kiss.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

«Porquê tanta mentira?»


Não estava com a Rita desde o ano passado.

E tinha de acontecer logo hoje, no dia que o senhor Silva se armou um "pobrezinho", a dizer para quem o quis ouvir, que o que ganha não dá para as despesas, adiantou um número e tudo, 1.300 euros. Já antes dissera que a "sua maria" fartara-se de trabalhar e só recebia 800 euros de reforma.

Como muito bem a Rita disse, «estas figuras da política portuguesa esquecem-se de um ditado importante: apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo». Ao que eu acrescentei, «tomam-nos todos por "papalvos".» 

Ela acrescentou: «tornam-nos por papalvos porque nos portamos como tal.»

Com toda a razão, somos demasiado condescendentes com esta gentalha. Cavaco e Passos mereciam levar com uma "chuva de tomates podres", nas suas aparições públicas com televisão, tal como Sócrates antes.

Quando a Rita me perguntou: «porquê tanta mentira?», não consegui responder. Até por não acreditar que só é possível governar este país falseando a realidade.

O óleo é de Jeffrey Smart.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Fazer as Malas e Partir não é Solução


Por muita vontade que tenhamos, não é possível fazermos todos as malas e partir por aí, à procura de um outro país, mais justo e sério.

Apesar de também ser difícil,  talvez seja menos utópico conseguirmos "correr" com a gente que tem dominado e dirigido o país nas últimas três décadas, de uma forma completamente incompetente, utilizando, quando as coisas correm mal, quase sempre o mesmo artificio: «os trabalhadores portugueses ganham muito e produzem pouco.»

É uma daquelas mentiras que repetida muitas vezes, parece verdade, pelo menos para algumas mentes menos esclarecidas.

Basta fazer um pequeno exercício de memória, para se perceber que nenhuma destas medidas "passadistas" são inocentes, e pior, nada disto vai transformar Portugal num país melhor.

As leis que os senhores deputados (muitos deles co-responsáveis pela situação do país...) desenham no parlamento, estão longe de responsabilizar quem devem. Refiro-me à gente que tem gerido as empresas públicas e privadas da forma desonesta e incompetente; a quem usou e abusou dos fundos europeus para proveito próprio; a quem abriu as portas ao consumismo desenfreado e ao empréstimo fácil, para tudo e mais alguma coisa.

Mas quando o principal responsável político do país, o presidente da República, (que foi ministro das finanças e primeiro-ministro durante dez anos), passa o tempo a colocar-se de fora do problema, a fingir que não teve nada a ver com a situação em que nos encontramos, estamos conversados...

O óleo é de MIke Kleimo.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Um Dia Negro


Nunca pensei ver um sindicalista a sorrir para as câmaras e quase a cantar vitória, num dia negro, em que os trabalhadores passaram a ser obrigados a fazer um desvio, numa ruela que promete levá-los de volta à "escravidão".

Não sei se ele é uma "marionete" nas mãos dos "patrões", sei sim, que se eu fosse filiado na UGT, não pagaria nem mais uma quota.

O óleo é de Guy Demum.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

O Mau e o Bom Vinho


No sábado fomos jantar com três casais amigos e a meio da noite dei por mim a imaginar como era o ambiente das tabernas, que nunca frequentei.

Um dos anfitriões tinha bebido mais que a conta e não só falava demasiado alto, como se intrometia em todas as conversas, só com um objectivo, torná-las impossíveis, inventando discussões sem pés nem cabeça, que nos deixavam a olhar uns para os outros.

A sua companheira começou a cantarolar, tentando desanuviar o ambiente. Ele respondeu-lhe com um grito, o que fez com que as outras mulheres também começassem a cantar. 

Não sei se já via a dobrar, o que é certo é que começou a sorrir, perante a pertinente solidariedade feminina, apelidando-as de "vozes de cana rachada".

Inventou mais discussões, até comigo. Ignorei-o e comecei a falar com outro amigo, até por não ter grande intimidade com ele, a amiga era a Laura. 

No fim da noite recordei que aturei várias bebedeiras pela noite dentro, mas tive quase sempre a sorte de ter amigos com "bom vinho", incapazes de estragar (ou pelo menos tentar) um jantar de amigos.

O óleo é de Alfredo Garcia Gil.

domingo, janeiro 15, 2012

O Tal Jornalismo de Referência...

Não sei o que dizer a esta publicidade.


Não tenho conhecimento de um jornal oferecer "vespas", direitinhas para velhos e novos "fura-greves" (grande incentivo)...


A sorte do "Expresso" (e de outros que tais...) é não existirem "agências" a medirem o lixo que se oferece por aí, misturado com notícias...

A Força do Mal


Há três fontes que considero essenciais para as minha histórias: as ruas, os livros e o cinema.

Durante uma cena de um filme, fiquei com a sensação que o mal não carece de qualquer tipo de inteligência, ou seja, por muito "burras" que as pessoas possam ser, não terão qualquer dificuldade em ferir ou humilhar os outros, devido à própria irracionalidade da malvadez, que está sempre ao virar da esquina a aproveitar oportunidades...

O óleo e de Angela Fraleigh.

sábado, janeiro 14, 2012

«Lembras-te de quando nadávamos contra a corrente?»


«Lembras-te de quando nadávamos contra a corrente?»

Claro que me lembrava. Como me iria esquecer daquele nosso esforço quase inglório, a nadar contra a maré, que nos queria empurrar na direcção do mar?

Quando sentíamos a força a faltar, fazíamos uma diagonal em direcção à margem e por ali ficávamos uns minutos, com a água à altura de uma mão, a recuperar do esforço.

Até me lembraste que fazíamos olhinhos às namoradas dos "engomadinhos", que pensavam que tinham dinheiro suficiente para comprar o mundo, connosco lá dentro. Como não o conseguiram comprar, resolveram dar cabo dele...

O que me querias dizer, é que ainda não era desta que ias sair do país, não aceitaste a proposta milionária que chegou da terra do Dos Santos. Não ias fazer as malas e andar de chapéu e roupas claras, à "colonizador"...


Foi por isso que combinámos, logo que chegasse a Primavera, reviver as nossas braçadas vigorosas contra a corrente, satisfeitos por não encontrar por lá os "engomadinhos" e as  suas beldades, que "mudam de pele" nas Maldivas e nos solários... 

O óleo é de Paul Coventry-Brown.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Porquê?


Há dias que me irrita de uma forma menos latente, a estranheza que está dentro de mim, aquela coisa que se esconde por detrás de tudo, até do espelho. 

Já nem sei se me incomoda ter voltado a viver o tempo das dúvidas e incertezas. Na meninice também era um pouco assim, embora obtivesse mais respostas e partisse para outra pergunta, afastando-me da "terra das incertezas".

É por isso que me pergunto muitas vezes: «porquê esta busca pela sabedoria e conhecimento, se isso isso só nos torna mais infelizes, só faz com que nos esqueçamos de nós e das pequenas coisas que nos dão prazer?»

Só pode ser mesmo porque sim...

O óleo é de Iman Maleki.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Não Queria, mas é Mais Forte que Eu!


Não queria andar por aqui a soltar a minha indignação, pelo desequilibro da balança social estar cada vez mais acentuado.

Os desempregados sem direito a subsídio de desemprego aproximam-se do meio milhão, ao mesmo tempo que os "desocupados" do PSD e CDS - com reformas milionárias - são colocados nos habituais lugares de "confiança política".

Não sei se esta gente pensa mesmo que somos "burros" ou se apenas abusa do nosso "comodismo". O que é claro, é que se julgam mais "espertos" que os outros, insistindo na mentira, no compadrio e na trapaça.

Começo mesmo a acreditar que nunca sairemos do "buraco" onde nos meteram, com gente com a ética e a moral de um Catroga, uma Cardona, um Coelho, uma Cristas, um Portas, uma Morais, um Relvas, etc.

Perguntei ao espelho o que faria se estivesse desempregado, sem receber subsídio e sem ter perspectivas de emprego. Iria pedir para as ruas? Não. iria roubar carteiras por aí a gente distraída? Não. Iria assaltar uns quantos milionários governantes ou ex-governantes deste país? Sim.

Até porque dizem que ladrão que rouba a ladrão, tem cem anos de perdão...

O óleo é de Lesley Humphrey.

terça-feira, janeiro 10, 2012

A Visita ao Hospital


Não sei o que foi que ela viu naquele lugar estranho, onde a avó, mesmo sorridente, andava de um lado para o outro com uma espécie de cabide metálico de pé alto,  atrás, ligada por pequenos tubos a um saco com um liquido transparente.

Sei apenas que foi uma coisa diferente da que eu vi.

Desde a minha infância que sei que os hospitais e os cemitérios não são lugares para crianças, não sei se pela minha mãe ter trabalhado num hospital se por outra coisa qualquer.

Elas não precisam de conhecer o fim no princípio...

O óleo é de Carl Vilhelm Holsoe.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

«Tens dúvidas que os folhetins de jornal suplantam os romances?»


«Tens dúvidas que os folhetins de jornal suplantam os nossos romances?»

Claro que tinha todas as dúvidas, quanto mais não fosse, por fugir a sete pés dos romances de terceira qualidade, vendidos por aí como "best-sellers".

A segunda pergunta ainda foi mais forte: «conheces algum escritor capaz de criar uma personagem, que para tentar chegar ao terreno pantanoso da fama instantânea, desvenda o segredo de ser filho do "estripador" de Lisboa?»

Sorri, afinal de contas era uma piada...

Mas o Gui estava imparável. «Tenho outra ainda mais forte para ti. Conheces algum espião nos livros ou no cinema, que em vez de investigar os casos no terreno anda a trocar segredos de avental e a ouvir música clássica?»

Nova piada, novo sorriso.

Percebi que não valia a pena explicar que ficção não era isso, não era a "corruptela" da realidade, era algo que gostava mais do "acaso" que das "páginas dos jornais"...

Não ia... até porque corria o risco de me enganar mais uma vez. Nada me diz que um desses autores que também apresentam telejornais, não vá pegar num destes assuntos e o transforme em  mais um "best-seller"...

O óleo é de Marcel Franquelim.

domingo, janeiro 08, 2012

A Vida não é uma Batota


Por muito que nos tentem provar que a vida se está a tornar uma batota, que tudo está viciado à partida, há pequenos gestos que nos dizem que não.

Não me interessa nada que uma boa parte das pessoas pense que nos tribunais mais importante que sermos inocentes é termos a possibilidade de contratar um advogado caro e bem relacionado, daqueles que aparecem na televisão; que para chegarmos a chefia de algo, temos de pertencer a qualquer coisa secreta; que para ascendermos a um lugar de destaque num partido, temos de ser mentirosos e corruptos; que para que o nosso clube preferido seja campeão, seja necessário comprar árbitros; que para ganharmos um prémio qualquer temos de ser amigo dos elementos do júri; que só conseguimos arranjar emprego com a cunha do senhor fulano tal, etc. Parece que podia estar aqui até amanhã a dar exemplos do género.

Mas ainda na sexta-feira, quando me levantei da mesa onde estivera sentado uma senhora, que não conhecia de lado nenhum, falou mais alto, para me avisar que me estava a esquecer da mala. Pois é, parece que o mundo afinal não é essa coisa que pintam.

E se há coisa que nos faz mesmo mal, nos dia que correm, é ler jornais e ver notícias na televisão ou escutá-las na rádio.

Sinto cada vez mais que andam a "fabricar" um mundo que ainda não existe mas que já começa a roubar-nos demasiadas coisas, até o prazer de passearmos nas ruas, cada vez mais desertas... 

O óleo é de Kim Cogan.

sábado, janeiro 07, 2012

O Olhar Atrevido do Balzac


- Não gosto do teu gato.
- Porquê?
- Porque não gosto da forma como olha para mim, parece que me quer despir com o olhar.
- É gato para isso, mas isso só demonstra que gosta de ti.
- Sim?
- Sim.
- Explica lá isso.
- Nós só nos damos ao trabalho de despir alguém com o olhar, se gostarmos dela...
- Agora também és gato?
- Não, mas além de pertencer ao género masculino, conheço o Balzac melhor que tu.

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Transições


Hoje assisti a uma comunicação brilhante, sobre "Tradições Almadenses e Democracia Contemporânea", na "Tertúlia do Dragão", organizada pela SCALA em Almada.

A viagem histórica feita em redor do associativismo almadense, que foi durante mais de um século decisivo na formação e educação de milhares de jovens, que frequentaram as suas escolas de música, bibliotecas, núcleos desportivos e grupos cénicos, enquanto o Estado olhava para o lado, "esquecido" das suas responsabilidades, foi deliciosa. 

Não menos importante foi a ligação feita na parte final, à contemporaneidade, em que nos fez reflectir sobre a sociedade em que vivemos e sobre a qualidade da sua democracia.


As várias intervenções dos tertulianos, por caminhos diferentes, como convém nestas situações, foram interrompidas pelo "maldito relógio".  Ficámos mais uma vez com a sensação que ficou tanto por dizer, porque o "tempo" gosta sempre de nos interromper...

Quando vinha para casa dei por mim a pensar que estamos a caminhar para uma época de transições, a vários níveis. Acredito que algo se irá passar de verdadeiramente revolucionário  a nível planetário, tanto em termos económicos como sociais. Sinto que o mundo vai ser uma coisa diferente, só espero que melhor.

Obrigado Vitor! 

Escolhi este óleo de Henry Jules Jean Geoffroy porque sei que grande parte das revoluções são feitas por jovens, graças à sua "inconsciência", tantas vezes libertadora...

quarta-feira, janeiro 04, 2012

A Dança das Palavras


"A Dança das Palavras" talvez seja o título de um pequeno caderno de textos meus (uma boa parte publicada aqui no "Largo da Memória"...), a apresentar brevemente.

Talvez.

Não sei se vou conseguir, mas queria afastar-me de todas as histórias que nos irritam e causam indignação. Queria muito que o "Largo" fosse um lugar onde habitasse a esperança, onde fosse possível colocar um pé no chão e outro nas nuvens.

Isto sem fazer qualquer truque de ilusionismo ou mudar-me para a "lua".

Mas sei que vai ser bastante difícil olhar lá para baixo (como neste óleo da Marta Czok) e "pintar" a realidade com outras cores, menos cinzentas...

terça-feira, janeiro 03, 2012

Azul


Nada ofuscava o azul dos teus olhos.

Os teus cabelos pouco cuidados ou a roupa gasta e suja pelo tempo, eram apenas elementos secundários.

Nada te roubava a força do olhar, nem a vontade de um dia seres gente.

Sim, gente. Gente como os que te olham de lado, fingindo não ver a beleza do teu olhar...

O óleo é de Daniel Brici.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Encontrar...


Sabe bem encontrar uma imagem, cheia de coisas boas: mulheres, livros, música, flores.

Espera, também tem mascarados.

Pois é, "o carnaval da vida" são sempre mais que três dias e pode começar logo no dia primeiro...

O óleo de Ana Perpinya é um espanto não é?