quinta-feira, junho 30, 2016

O Futebol é Outra Coisa...


Não sei se Portugal vai ganhar à Polónia. E não estou muito preocupado com isso.

Começou o prolongamento e tanto uma equipa como outra, coitadinhas. Mas só uma é que pode perder...

O que me irrita é como jogadores que até sabem tratar a bola por tu, de repente parece que perderam o talento andam ali no relvado a fazer outra coisa, a jogar ao jogo do seleccionador.

O senhor além de não gostar de colocar os melhores jogadores em campo, aposta num futebol sem ligação, entre a defesa, o meio-campo e o ataque, e depois fica à espera da sorte, que por acaso não lhe tem sido madrasta. Talvez que a sua maior virtude seja rezar aos "santinhos".

É por isso que pergunto: como é que é possível, nós que hoje somos reconhecidos como uma potência na formação de treinadores, termos um técnico de selecção tão fraquinho?

Fernando Santos até pode ser Campeão da Europa, mas será sempre um treinador vulgar. E é uma pena que consiga transformar bons jogadores em futebolistas vulgares.

Adenda: Portugal ganhou no desempate por grandes penalidades. Claro que não retiro uma virgula do que escrevi.

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, junho 29, 2016

Dois Mundos Quase Diferentes...

Apesar de receber algumas informações em sentido contrário, continuo a pensar que as conversas entre homens se desenrolam de uma forma diferente das entre mulheres.

E não me refiro apenas ao calão utilizado - ou ao vernáculo -, mas sim à forma descontraída com que se processam as conversas, mesmo as aparentemente sérias.

Há sempre alguém capaz de contar uma anedota ou dizer uma graçola, cortando a "seriedade da coisa". Claro que há quem viva as coisas de uma forma mais intensa e seja capaz de saltar de exaltação em exaltação, mas não é a norma (pelo menos no seio dos meus amigos...).

Até porque quando estamos entre amigos, o objectivo acaba por ser mais a diversão, passarmos um bom bocado, que carpir mágoas... E sabe sempre bem ouvir: «Ainda hoje não tinha soltado uma gargalhada. Só mesmo vocês para me fazerem rir...»

(Fotografia de Henri Cartier-Bresson)

terça-feira, junho 28, 2016

As Danças da Vida...

Estou farto de saber que a verdade e a ficção passam a vida a abraçarem-se e a dançarem, músicas que tanto podem ser mexidas como uma coisa mais elaborada e bonita, como um tango. Sempre achei este aparte óptimo, aliás, acho que é também por isso que escrevo...

A história de um rapaz da minha idade, que nunca trabalhou, pelo menos se pensarmos nas profissões normalizadas que normalmente nos deixam sempre pouco realizados, encheu a mesa do café, há pelo menos meia-dúzia de dias. 

Depois de contarem que ele vivia à conta de uma mulher com idade para ser sua mãe, houve comentários para todos os gostos. Só o Jorge é que foi capaz de adjectivá-lo sem qualquer tipo de moralismo, utilizando apenas uma palavra:  «Esperto.»

Eu já conhecia a personagem e a história apenas confirmou aquilo que os meus olhos já tinham descoberto há pelo menos meia-dúzia de anos.

Mas o que me interessou mais foi a história da mulher - essa sim, completamente desconhecida -, que ficou rica depois dos sessenta anos, e de uma forma completamente improvável. O marido que sempre lhe fizera a vida negra e nunca lhe deu qualquer filho (a maior tristeza da sua vida...), teve um acidente de trabalho fatal. Como a multinacional onde trabalhava tinha um bom seguro de vida, a senhora tornou-se milionária de um dia para o outro.

Em poucos meses tornou-se uma outra mulher. Comprou um apartamento mais central e maior, passou a vestir-se com gosto e frequentar a cabeleireira todas as semanas e a ter um cachorrinho para a acompanhar nos passeios. E para ser falada, ainda arranjou o tal "moço de companhia", o rapaz que deve ter mais ou menos a minha idade, e que também deve ter sentido que lhe saiu a sorte grande, quando ela o aceitou na sua vida...

Como calculam houve comentários de todo o género naquela mesa de homens. Alguns bem ordinários, diga-se de passagem. Eu limitei-me a sorrir.

A senhora não sai muito, mas quando a encontro, vejo-a bem arranjada e com um ar feliz. E fico a pensar - ao contrário de alguns companheiros - que finalmente a vida lhe lançou um sorriso e lhe ofereceu a oportunidade de acabar os seus dias ao lado de alguém que a respeita e que ela deve tratar como um filho (embora possa estar errado, nunca os vi como amantes...).

E ele também não se deve importar muito com o seu papel, até por ter bastante liberdade de acção. Não é por acaso que ele é um frequentador assíduo das matinés dançantes do Ginjal.

(Fotografia de Henri Cartier-Bresson)

domingo, junho 26, 2016

Na América Tudo Parece ser Possível


Não resisto à tentação de transcrever uma frase de "O Livro das Ilusões" de Paul Auster, que de alguma forma retratava uma das muitas coisas que se passavam (e passam...) nos Estados Unidos da América, que dizem ser a terra das oportunidades: 

«Não tens convivido muito com actores pois não? os actores são as pessoas mais desesperadas do mundo. Noventa por cento estão desempregados, e se lhe ofereces um trabalho com um salário decente, podes crer que não vão levantar muitas questões. Tudo o que querem é uma oportunidade de trabalhar.»

Tudo isto se deve a uma conversa que tive com o meu amigo dos cinemas que me disse que tinha estado há alguns meses numa cidade em que mais de noventa por cento dos seus habitantes eram actores ou escritores (pelo menos era assim que respondiam, quando lhe perguntavam a profissão...), mesmo que a maioria nunca tivessem entrado num filme ou escrito qualquer livro.

Podiam lavar pratos num restaurante, varrer as ruas, conduzir autocarros, que isso não colidia com os sonhos e com a ambição natural de terem a sua oportunidade nos muitos estúdios que os rodeavam.

Se eu duvidasse das palavras de Paul Auster, o Gui ainda conseguiu tornar a questão mais complicada...

sábado, junho 25, 2016

Um Bilhete Postal para a Croácia

Hoje a selecção portuguesa teve sorte na vitória alcançada sobre a excelente equipa da Croácia, num lance que resultou da aparição esporádica de Cristiano Ronaldo, aproveitada pelo talento de Ricardo Quaresma, mesmo quase no final do prolongamento.

Mas depois do que aconteceu, especialmente nos dois primeiros jogos, era tempo de se mudar alguma coisa, nem que fosse o sentido da sorte. Provavelmente foi também por isso que o Cédric e o Adrien foram titulares...

E agora seguem-se os polacos.

Mas é bom que a selecção comece a jogar melhor, mesmo que este seleccionador seja mais adepto da eficácia que do bom futebol.

Cédric e Renato Sanches deram mais que provas durante os mais de 120 minutos de jogo que merecem um lugar no onze.

Escolhi esta fotografia, porque Modric, Vida, Srna e companhia, bem merecem regressar a casa num paquete de luxo...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, junho 24, 2016

Uma Exposição Admirável das Escolas

Tem estado patente da Sala Pablo Neruda do Fórum Romeu Correia, uma exposição feita pelos alunos e professores das escolas do concelho de Almada (acho que foi mais das Bibliotecas das escolas, embora não tenha a certeza...), com muita qualidade artística e até informativa.


A minha filha fez parte do Clube de Leitura da sua escola e também participou no projecto "Quantos Queres?", em que a paz, a guerra e os livros foram o tema dominante.

Apesar das dificuldades cada vez maiores em se ser professor no nosso país, noto que que a relação entre as escolas, instituições e população tem melhorado bastante nos últimos anos em Almada.

(Fotografias de Luís Eme)

quarta-feira, junho 22, 2016

O Livro das Ilusões


Os livros que lemos são como a vida, não nos sorriem todos os dias, nem sentimos sempre a mesma boa vontade de os ler do princípio ao fim.

Ando satisfeito porque há uns tempos que não lia um livro com tanto gosto. Isto também acontece porque nem sempre nos apetece escolher bons livros para ler... e nem vou falar de que nem todos gostamos das mesmas histórias, dos mesmos escritores, entre outras coisas.

Embora tenha livros em praticamente todos os cantos da casa, tenho uma amiga que gosta de me oferecer livros e poemas. A minha satisfação deve-se a ela, pois foi ela que me deu "O Livro das Ilusões" de Paul Auster, que estou a adorar ler. Isso acontece porque ele é mesmo um livro cheio de ilusões... 

E como nós precisamos delas para sobreviver, neste pequeno canto europeu, que parece ser capaz de atrair mais malandros por metro quadrado, que outro lugar qualquer. E daqueles que se acham bem falantes e gostam de usar gravatas (tenho a sensação que foram inventados pelo Eça...).

(Óleo de August Macke)

terça-feira, junho 21, 2016

Cristiano Ronaldo é Grande Mesmo no Chão (a minha legenda da fotografia)

Cheguei à pouco a casa. Liguei a televisão e estavam a transmitir a chegada, partida ou outra coisa qualquer do autocarro da selecção, como se isso fosse o que de mais importante se passa no "mundo". Desliguei a máquina de imagens e liguei a de sons.

Eu que gosto de futebol começo a sentir-me incomodado com tanta "loucura", com tantos excessos, com tantas cambalhotas, com tantas passagens de besta em bestial e vice versa em minutos.

Agora tornou-se moda o "tiro ao Ronaldo", como se ele fosse culpado de todos os males do mundo e também os da selecção.

Eu gosto dele, e não é apenas por ele ser um campeão. É também por saber que para lá do tipo vaidoso que beija todos os espelhos que encontra, se encontra um gajo porreiro, que nunca quis ser um "príncipe" de nada, apenas continua a querer ser o melhor futebolista do mundo. Mas ninguém consegue ser o melhor todos os dias... 

E é óbvio que ele não está a cem por cento. Só se falham livres e até uma grande penalidade quando a confiança está abaixo dos níveis normais...

É por isso é que era bom que o "fardo" da selecção fosse repartido por todos, e não carregado apenas pelo mesmo de sempre, que está longe de ser o dono da bola (como tantos dizem...). É simplesmente o nosso melhor jogador de sempre.

Não sei se Portugal amanhã ganha. Espero que sim, como a maior parte dos portugueses (ainda que isso represente mais dias de loucura e doença...). 

Mas pensava que o seleccionador era mais inteligente. Mesmo que seja campeão europeu (como diz que vai ser...) nunca irei perceber porque razão não apostou no meio-campo do Sporting (William, Adrien e João Mário), que jogam quase de olhos fechados uns com os outros, entre outras aselhices...

(Fotografia de autor desconhecido)

segunda-feira, junho 20, 2016

O S. João e Portugal a Concurso em Almada

Sem pretender estar a fazer publicidade, esta fotografia cheia de reflexos é de uma montra de uma das lojas da Avenida D. Afonso Henriques que concorre ao "Concurso de Montras" das Festas Sãojoaninas de Almada.

Achei curioso terem juntado o S. João à participação de Portugal no Europeu de futebol de 2016....

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, junho 19, 2016

A Arte Urbana no Ginjal

Embora o Ginjal se aproxime cada vez mais dos lugares que normalmente se chamam a "terra de ninguém", tal é o abandono a que está votado, há pelo menos uma coisa que faz com que seja diferente. Refiro-me à constante mudança nas pinturas dos muros e das paredes, graças aos adeptos da arte urbana, que sempre que podem, dão largas à sua imaginação.

Embora a maior parte das pinturas sejam quase "autógrafos", que devem satisfazer mais o ego dos seus autores que a paisagem urbana, também costuma aparecer uma outra coisa diferente, que se aproxima daquilo que normalmente entendemos por arte.

Tanta conversa porque hoje descobri uma pintura nova...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, junho 18, 2016

Parar no Tempo...


Hoje ao reparar numa jovem mulher com saia comprida e blusa e casaco de malha "vintage", fiquei com a sensação de que através da roupa que as pessoas vestem, podemos descobrir se elas se sentem neste ou noutro tempo.

Embora possa ser especulativo (como quase tudo...), fiquei mesmo a pensar que uma das formas que mostram a nossa "paragem num tempo qualquer" é a roupa que usamos diariamente, tal como o penteado...

(Fotografia de autor desconhecido)

sexta-feira, junho 17, 2016

A Dificuldade em Fugir das Máquinas de Retratos dos Outros...


Numa cidade que é invadida diariamente por turistas, torna-se difícil fugir das muitas dúzias de máquinas fotográficas, que querem fixar Lisboa, de todas as formas e feitios.

Percebo perfeitamente que as pessoas não gostem de ser fotografadas por estranhos. Eu também costumo fugir com o rosto das objectivas que nos dizem olá.

Embora prefira fotografar lugares sem pessoas, de vez em quando também apanho alguns desconhecidos (fico com a sensação que há quem queira ficar mesmo na fotografia porque não deixa os sítios que quero fotografar...). Prefiro sempre que estejam numa posição que não sejam facilmente reconhecíveis, ou seja, que possam ser "qualquer pessoa", que estão ali apenas para compor a fotografia e não em pose.

Claro que de vez em quando as pessoas olham quando não devem e acabam por "estragar o boneco" (como foi o caso do homem que estava a fazer as palavras cruzadas neste banco de jardim...). Além de terem todo o direito de não achar piada, também acabam por fazer com que a fotografia seja outra coisa, distante da vontade inicial do retratista...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, junho 16, 2016

Quando não Gostamos de Nós Próprios...


Quando não gostamos de nós próprios, dificilmente gostamos dos outros...

Não sei se é também por isso que somos tão permissivos com os ditadores e revelamos tanto medo de ser livres, de fazer aquilo que realmente gostamos.

Nem me vou esforçar por perceber um país como os Estados Unidos ou os norte-americanos, que depois de nos últimos anos terem sido governados com alguma democracia e liberdade, podem recuar no tempo e eleger como presidente um individuo racista, homofóbico e lunático.

Nos filmes até pode parecer engraçado que num certo estado se viva em democracia e que mesmo ao lado, exista a pena de morte e os xerifes possam fazer a sua própria lei. Mas a realidade é outra coisa, daí que me pareçam absurdos os discursos contra as "coreias" e as "venezuelas" do mundo, para depois se esconder debaixo do tapete todo o "lixo" interno.

É por isso que penso que empurrar o assassínio brutal de mais de cinquenta pessoas, por um só individuo, apenas para cima do terrorismo, é esconder ainda mais coisas debaixo do tapete. 

E se é verdade que o homem que matou e feriu tanta gente era frequentador habitual da discoteca gay de Orlando, ainda se levantam outras questões, como a não aceitação da própria tendência sexual, por se viver numa sociedade que continua a alimentar o ódio pelas minorias e pela diferença.

Continuo a pensar que quando não gostamos de nós próprios, dificilmente gostamos dos outros...

(Fotografia de Walter Sanders)

quarta-feira, junho 15, 2016

O Tempo, Perturbado e Indeciso...

Se há alguém que anda ainda mais perturbado que nós, é o tempo...

Perturbado e indeciso. É esta a explicação mais fácil que encontro para narrar os abraços do sol e da chuva a meio de Junho.

Até porque sei que este "casamento" nunca será feliz nem duradouro.

Com a agravante de nos encher de pequenos problemas, que começam e acabam quando olhamos para a janela e para o guarda roupa, quase em simultâneo...

(Óleo de Stanislaw Kanocki)

terça-feira, junho 14, 2016

Uma Outra Existência, um Outro Eu...

Nunca se alimentou tanto a ilusão - não me apetece chamar-lhe mentira - como nestes tempos povoados de animação social (mesmo que seja só virtual...). Ou seja, nunca foi tão fácil viver outras vidas, inventarmos personagens. É como se o cinema tivesse descido da tela e passasse a fazer parte do nosso dia a dia, com um guião só nosso.

A culpa não é da proliferação de imagens, nestes tempos em que se fotografa e filma quase tudo, é mais da confusão social (e mental...) que se gerou ao tornarmos mais importante a apresentação de uma fotografia com um prato de lagosta ou  de qualquer destino exótico (mesmo que não passe do tal filme...), que da aldeia simples onde crescemos. Às vezes penso que voltaram a existir "testes" como os da adolescência, que nos poderiam dar acesso ao grupo dos "mais" de qualquer coisa.

Eu sei que a mentira parece ser muito melhor que a verdade (tantas vezes...), pelo menos quando de gordos passamos a elegantes e os nossos vulgares olhos castanhos passam a ter a tonalidade azul ou verde. Só que todos os dias temos de enfrentar o espelho, esse maldito, que nos diz que aquela fotografia que importámos da Estónia ou da Noruega, não passa de mais um engano. Claro que é só mais uma invenção, mas é a pior de todas, é aquela que nos levar levar a partir espelhos...

O mais ingrato de tudo isto, é que este não é o "mundo de aparências" de Sócrates versus Platão, é mais o do político-estudante na Cidade Luz...

Curiosamente não vejo muita gente a dizer: «Tirem-me deste filme!»

(Óleo de Raymond Parker)

segunda-feira, junho 13, 2016

«Quando foi que deixámos de falar?»


Um casal estava sentado frente a frente numa esplanada, quando o homem perguntou: «quando foi que deixámos de falar?». A mulher olhou-o meio espantada e sem dizer nada, voltou a baixar os olhos.

Estava ali ao lado escondido atrás da revista do "Expresso" e senti o peso daquele silêncio na atmosfera. Silêncio que não se voltou a quebrar, nem mesmo quando o homem se levantou para pagar a conta e desaparecer, sem que a mulher tirasse os olhos do telemóvel.

Não consegui perceber se eram casados ou apenas namorados, embora já tivessem ultrapassado os trinta anos. Embora isso nem fosse importante.

Fiquei a pensar que é um problema ficarmos cativos do silêncio, ficarmos cada vez mais palavras no bolso, aparentemente inúteis. Depois à medida que o tempo vai passando, sem se apercebermos, elas deixam de se soltar, é como se ficassem aprisionadas...

Talvez esteja mesmo a mudar a linguagem entre humanos. Talvez as pessoas deixem de comunicar verbalmente num futuro próximo. Talvez apenas o façam por mensagens, por muito estranho que nos pareça...

Por muito que isto me pareça uma espécie de "morte" nas relações humanas, tenho de dizer que já vi acontecerem coisas ainda mais estranhas nas últimas décadas.

(Fotografia de Luís Eme - Arte Urbana de Almada)

sábado, junho 11, 2016

A Dificuldade em Definir uma Excelente Fotografia


Para o autor há sempre alguma dificuldade em definir o que é uma excelente fotografia.

Podemos gostar de uma ou outra, acharmos que fogem do que consideramos normal, mas se tivermos um sentido estético bastante apurado, raramente surge uma que nos "enche as medidas".

Talvez seja por isso que em algumas exposições (quando nos é possível passarmos por gente anónima...), nos aproximamos para ouvir os comentários de quem está por ali a olhar.

Algumas vezes ouvimos coisas curiosas, como a referência a pormenores que nos tinham escapado. Outras elogios ao autor. Reparo que raramente se diz mal. Talvez exista algum pudor em fazê-lo. Talvez seja isso que querem dizer alguns silêncios... 

Talvez...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, junho 10, 2016

Olá Portugal

Hoje é tal dia que é  muitos dias: Dia de Portugal; Dia das Comunidades; Dia de Camões; Dia da Raça (embora não saiba muito bem o que é isto, às vezes até me parece que nós portugueses somos uma espécie quase "rafeira", tal é a mistura e o banho de culturas que fomos recebendo ao longo de muitos séculos).

Curiosamente ou não, também já se vêm algumas bandeiras portuguesas nas varandas, não tanto por este dia, mas sim pela participação de Portugal no Europeu de futebol, que se realiza em França e começa já na próxima semana (para nós...).

Foi por isso que resolvi recuperar esta fotografia, que já tem uns anitos bons, quando Lisboa foi invadida por dezenas de vacas "artísticas"...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, junho 09, 2016

O Vicio de Encantar das Mulheres

Nós homens somos muito menos distraídos do que o que deixamos transparecer. Embora só possa falar por mim, acho que isso acontece porque dá-nos sempre algum jeito andarmos mais à vontade, mesmo quando as situações pedem menos leveza.

Onde se nota mais isso é na forma de vestir. Mesmo em encontros informais as mulheres gostam de deslumbrar, de aparecer, além de bonitas, bem vestidas, como se fossem para uma festa. Embora nunca tenha falado a sério com elas sobre isso, acho que há ali um encanto juvenil, o querer regressar aos tempos da adolescência em que passavam horas a mais ao espelho. Imaginam qualquer coisa que sabem que não vai acontecer (porque não querem ou porque têm medo que possa mesmo acontecer...).

Porque é que digo isto? Porque há pouco tempo encontrei-me com uma amiga num lugar público (não nos devíamos ver há uns dois três anos, o tempo passa por nós sempre a correr...) e ela apareceu-me de vestido  e de sapatos altos (normalmente veste calças...). Disse-lhe que estava deslumbrante, acrescentando que me podia ter dito que de seguida íamos ao baile, pelo menos podia ter vestido um casaco e uma camisa mais formal.

Passando ao lado do aspecto visual, a conversa que tivemos foi completamente normal, não fui alvo de qualquer jogo de sedução. 

E o mais curioso, é que eu em vez de me mostrar agradecido por ela ter caprichado para o nosso encontro, estou aqui a escrever sobre o "vício de encantar" das mulheres...

(Fotografia de Georges Dambier)

quarta-feira, junho 08, 2016

O Vicio de Escrever e o Negócio da Escrita


Quem tenha uma visão "tecnocrata" do mundo, não percebe que alguém escreva apenas porque gosta, porque não concebe que se façam coisas sem se pensar em "cifrões", em ganhar dinheiro (dinheiro que se veja, nada dos tostões da literatura...).

Claro que não é nada que me preocupe. Nós somos o que somos (lá me estou a repetir...). Sei que há mais coisas que apenas o gostar. Às vezes penso que é uma maluquice, como a mania que tenho de falar sozinho (embora agora seja uma coisa quase vulgar, por causa dos telemóveis...). Outras vezes penso que é quase uma vicio como "tirar retratos" ao que no parece giro (eu sei que as fotografias têm a mania de fugir da realidade, mas isso faz parte do "jogo"...), é apanhar um papel a jeito e deixar umas palavras sobre o que aconteceu ou simplesmente sobre o que apareceu na cabeça. Claro que a maior parte destes papeis acabam no lixo (sei que me estou outra vez a repetir, mas o blogue também serve para isso, para escrever mais do mesmo...), porque mudamos de ideias mais rapidamente do que pensamos. Ou seja, escrever é muitas coisas, e também é a possibilidade de se poder ganhar um dinheirito extra (às vezes dá para uma viagens e para a ajuda das férias).

Mas se contasse isso aos tais homens do dinheiro, ainda me olhavam com mais espanto. a pensar que o país não evolui porque há demasiada gente a perder tempo com "tostões", com coisas que não servem para nada...

E agora vou passar a um exemplo concreto.

Aqui já há uns tempos, um conhecido, desempregado (deve ter ouvido a história do João Ricardo Pedro...), abeirou-se de mim e perguntou-me como é que funcionava o "negócio dos livros", a pensar que eu devia ganhar uma "pipa de massa", mesmo como "escritor da III divisão... Lá lhe estraguei o "sonho" de encontrar a "galinha dos ovos de ouro" através da escrita. Disse-lhe que só o Rodrigues dos Santos e mais meia dúzia de escritores é que ganhavam dinheiro com os livros. E muitos deles graças às traduções para outros países, como é o caso de Lobo Antunes.

A proliferação de editoras que vendem a ideia de que escrever um livro e ganhar dinheiro, é a coisa mais natural do mundo, deve ter influência no número de publicações diárias e nas pessoas que pensam que se pode ganhar dinheiro através da escrita. Embora na maior parte dos casos estes negócios se revelem ruinosos para os autores, que se ficam quase sempre pelo sonho de assistir ao feliz nascimento de um livro com o seu nome na capa.

Ou seja, eu penso que há mais gente que escreve para não perder dinheiro, que o contrário.

Se me perguntarem se gostava de vender muitos livros e ter muitos leitores, claro que digo que sim. Mas isso é outra coisa...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, junho 07, 2016

«Somos o que somos. Nem melhores nem piores que os outros, apenas diferentes»


Estava a conversar sobre escritores e editores antigos com um amigo e veio à baila o Luiz Pacheco e algumas das suas histórias mirabolantes. Confessei que foi uma personagem que nunca me despertou qualquer interesse em conhecer.

Quando disse isto reparei no seu ar de espanto. Expliquei-lhe que tenho dificuldade em lidar com pessoas que sobrevivem graças a "expedientes", que passam o tempo a servirem-se da sua esperteza para ludibriar os outros (que na maior parte das vezes fazem-se de parvos, por razões óbvias...), mesmo que isso aconteça por uma questão de sobrevivência e que sejam talentosos, como era o caso, etc.

Ele insistiu com a história do Pacheco ter vivido nas Caldas da Rainha, a minha "terra". E eu continuei a dizer-lhe que esse tempo foi péssimo para ele e para a família (foi quando lhe retiraram os filhos e ele escreveu a obra "O Caso das Criancinhas Desaparecidas"...).

Foi quando fui qualificado como moralista e mais algumas coisas que não dá muito jeito escrever.

E nem sequer falámos da sua vida pessoal, dos seus casos amorosos com irmãs ainda meninas. Ficámos-se pelos "vintes" que cravava a toda a gente conhecida com que se cruzava...

Talvez seja mesmo um "moralista". Mas somos o que somos. Nem melhores nem piores que os outros, apenas diferentes. Se os exemplos que recebemos em casa são completamente antagónicos destes estilos de vida, que agora até estão na moda, em que muita gente passa o tempo a tentar enganar o próximo, é mais difícil aceitar aquilo que para mim não passa de mais uma "deturpação social". Ou seja, algo que em vez de nos engrandecer, nos empobrece como pessoas. 

(E tens mesmo razão, sou muito mais moralista do que pensava, O escrever também nos ajuda a conhecermos-nos melhor, é mais um espelho...)

(Fotografia de Ann Mansolino)

segunda-feira, junho 06, 2016

Os Amigos e os Outros...


Ninguém precisa de amigos imparciais, por mais honestos que sejam. Aliás honestidade não é sinónimo de imparcialidade em nenhum dicionário.

Nem nós conseguimos ser imparciais, quando é um verdadeiro amigo que está em causa. Quando se é mesmo amigo, o valor da amizade ultrapassa outros, que aparentemente parecem mais importantes. Parecem mas não são. Pelo menos naquela hora.

Só quem não tem verdadeiros amigos, daqueles capazes de "ir à guerra" por nossa causa, é que não percebe isto que acabo de escrever.

Talvez tenha sido vítima de proteccionismo excessivo de alguns amigos mais velhos, na infância e na adolescência, que me ajudaram a crescer e a perceber que ser amigo é uma coisa para todas as horas.

E depois ainda tive a "pancada" de me oferecer voluntário para uma tropa especial, onde o espírito de corpo era uma coisa daquelas, que surgem em filmes de aventuras do género dos mosqueteiros, todos por um e um por todos. O mais engraçado é sentirmos naquela doidice dos vinte anos que as coisas funcionavam mesmo assim.

Tudo isto parece romantismo. Uma coisa antiga. Ou até coisa dos filmes. Até porque o serviço militar obrigatório acabou (pois é, nunca mais foi preciso aos jovens perceberem que sem os outros não valem nada...), como tantas outras coisas na nossa sociedade, que parece que assustavam alguns "meninos jotinhas" que hoje são governantes e deputados desta espécie de país.

Deve ser por isso que eu gosto tanto de ter amigos antigos...

(Fotografia de Roger Schaal)

domingo, junho 05, 2016

«Não vês que a tinta e o ferro fazem toda a diferença»

A leveza das roupas que usamos quando o calor aperta, alimentou a conversa de café que troquei com a Rita e a Cristina, uma colega dela que eu pensava que era mais de ouvir que de falar. Acabei por descobrir que afinal também  "parte uns pratos" de vez em quando.

Mais calor é sinónimo de mais cor e também de mais vestidos, mais alças, mais mini saias, mais pernas, mais decotes, mais sandálias...

Só nós é que dificilmente vamos para o trabalho de calções ou de sandálias. Temos muito menos escolhas no guarda-roupa...

Não sei se é por elas duas não conseguirem largar as calças - tal como os homens -, que cortam tanto nos decotes, nas saias e vestidos curtos, que "mostram tudo".

Claro que apenas sugerem, estão longe de mostrar tudo... acrescentei eu, sem as convencer.

Foi quando lhes disse que só à arte pública é permitida a nudez, que desde o século dezanove que as estátuas e os quadros nos ensinavam anatomia, e da boa...

A Rita com o seu sentido de humor apurado, respondeu-me logo à letra: «Não vês que a tinta e o ferro fazem toda a diferença.»

(Óleo de Henri Lebasque)

sexta-feira, junho 03, 2016

A Piscina do Isaque e dos Amigos

Hoje quando passava no Jardim do Almada, reparei em vários jovens que aproveitavam para se refrescar no tanque com repuxo, que fica junto aos paineis de azulejo de Manuel Cargaleiro.

A miudagem estava muito divertida, foi quando pedi ao Isaque (um míudo de cor que andou na primária com a minha filhota) se lhe podia tirar uma fotografia.

Ele acenou-me que sim, com o seu sorriso traquina, divertido a dar banho a um dos amigos...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, junho 01, 2016

Grande Novidade...

Passei por um espaço de publicidade das culturas e fui quase obrigado a olhar nos dois cartazes com amor. O primeiro por razões óbvias, o segundo pelo lugar comum do título do filme, e também pela imagem, como se o amor entre dois homens fosse uma coisa do próximo século.

Basta passear pela blogosfera para perceber que "o amor é (mesmo) uma coisa estranha" (os outros lugares com redes, só conheço de nome...). 

Há quem escreva com relativa facilidade sobre as suas histórias povoadas de amores impossíveis, fazendo-o muitas vezes quase em forma de "folhetins". Esperam com relativa facilidade pelo quase impossível, embora também possa ser apenas uma "fantasia".

Também tenho escrito bastante (fora do blogue...) sobre a facilidade com que nos desentendemos e como extremamos posições, quase como se homens e mulheres tivessem vindo de planetas diferentes. Até por continuar a pensar que não somos assim tão diferentes.

E nem vou falar dos outros lados do amor, entre o absurdo, o surreal, que visitam algumas conversas decalcadas de jornais e revistas, cujos protagonistas parecem saídos de filmes "noir", embora sejam de carne e osso. São gente capaz de fazer tudo por amor, até matar, porque fingem entender o casamento como algo eterno, como se ensina na missa.

Por onde eu já vou, e apenas porque passei à hora errada  pela publicidade errada.

(Fotografia de Luís Eme)