quarta-feira, agosto 31, 2016

A Nossa Senhora do Loreto de Alcafozes

É costume dizer-se que onde existe uma Nossa Senhora existe um milagre. Talvez Alcafozes e a Senhora do Loreto sejam a excepção que confirma a regra.

Há quem diga que a imagem da Santa foi abandonada pelas tropas napoleónicas e que posteriormente foi erguida uma Ermida no local. Sabemos apenas que depois da Senhora do Loreto ter sido declarada pelo papado em 1920 como Padroeira Universal da Aviação, alguém teve a feliz ideia de erguer um Santuário nesta aldeia da Beira Baixa.

E todos os anos, no final da festa em honra da Senhora do Loreto (que se realiza no último fim de semana de Agosto), na segunda-feira de manhã, se realiza uma procissão que conta com a participação e apoio da Força Aérea e de inúmeras companhias e tripulantes da aviação civil.

Nesta fotografia além da Nossa Senhora do Loreto é possível ver uma das aeronaves que deu vida aos famosos "Asas de Portugal" (T 37), que depois de deixar de voar e fazer acrobacias foi oferecida ao Santuário.

(Fotografia de Luís Eme) 

terça-feira, agosto 30, 2016

Um Exemplo de Profissionalismo


Fui passar mais um fim de semana à Beira Baixa, desta vez porque era tempo de "Festa" em Alcafozes, onde sou, e quero ser, pouco mais que um visitante anónimo.

Se excluirmos a procissão de segunda feira de manhã em honra a Nossa Senhora do Loreto, o momento alto dos festejos acabou por ser a noite de sábado com a visita dos GNR.

Talvez tenha sido a "crise" ou a "concorrência", cada vez mais feroz, neste "mundo" cheio de cantores e cantoras, de primeira, segunda, terceira e quarta categoria, que levou o Grupo do Novo Rock a esta pequena aldeia, quase perdida, no Concelho de Idanha-a-Nova.

Por uma ou outra razão, foi óptimo assistir ao concerto deste grupo mais dado a urbanidades, que actuou como se estivesse num dos "coliseus", com uma alegria e um profissionalismo pouco vistos, pelo menos nas "terras de ninguém".

E apesar dos anos passarem, o Reininho, o Toli, o Romão e companhia, continuam em excelente forma e são um dos poucos grupos que sabem mais que três canções diferentes. Ou seja, não passam os concertos a cantarem sempre a mesma canção...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, agosto 28, 2016

Estar Longe Ficou Mais Perto

Estar longe ficou mais perto, graças aos avanços tecnológicos.

Claro que quem gosta de preservar a sua intimidade, cada vez tem menos espaço.

Soluções? Milhentas. Não ter nada ligado à internet; não usar telemóvel; não possuir cartões de pagamento electrónico. Mesmo assim ainda não é suficiente...

É preciso não ter um veículo motorizado; não ter cartão de cidadão; não estar inscrito na segurança social, e principalmente, não existir como contribuinte.

Ou seja, quem quiser preservar a sua intimidade, só tem um caminho: não existir...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, agosto 26, 2016

Ter Opinião é Outra Coisa...

Falar sobre as coisas não é a mesma coisa que ter opinião.

À partida ter opinião deveria pressupor conhecimento sobre aquilo que discutimos, saber no mínimo sobre o que falamos.

Mesmo sabendo que os constantes "bombardeamentos" feitos pela comunicação social (capaz de dizer uma coisa agora e o seu contrário cinco minutos depois...), provocam uma confusão danada em qualquer "cabeça pensadora"...

Mas a nossa sociedade actual está longe de estar e ser bem informada. Ou seja, não é a quantidade de informação (nunca houve tanta como nos nossos dias) que nos torna mais conhecedores dos problemas do país ou de mundo.

Até porque temos de contar sempre com os "comentadores de camisola", que o mais fazem é manipular a informação, sempre a pensar nos seus interesses...

(Óleo de Vittório Matteo Corcos)

quarta-feira, agosto 24, 2016

Memórias com Palavras, Imagens e Gente...


A casa continuava lá, mais velha e cansada, mas mesmo assim ele notou o quanto respirava serenidade...

Andou de um lado para o outro, sorriu várias vezes sozinho, enquanto ia descobrindo a arte do pai, onde era possível pintar a diferença.

Por momentos pensou que tinham passado 100 anos e não apenas 15, desde que ele partira.

Fingia que não tinha saudades. Aceitava o destino, por mais errado que isso lhe soasse...

E depois descobriu a harmonia nas pequenas coisas que a mãe continuava a arrumar, mesmo que já ninguém vivesse ali em permanência.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, agosto 23, 2016

A Liberdade Passa o Tempo a Ser Beliscada


A Liberdade passa o tempo a ser beliscada e confundida (especialmente pelos que gostam de confusões e a usam com segundas intenções, sem esconderem o seu gostinho especial em a colocar em causa, entre risinhos cobardes...). 

É também por isso que imunidade não é sinónimo de impunidade, em nenhum dicionário. Só o é nos muitos jogos políticos que se travam de China a Angola, passando por Ponte de Sor, apenas porque sim, dizem eles...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal - Blue & Yellow)

segunda-feira, agosto 22, 2016

Os Políticos e os Porcos que sabem Andar de Bicicleta...


A presença oficial do CDS (e de Paulo Portas...) no Congresso do MPLA em Angola  podia entrar naquelas historietas em que há sempre alguns fulanos a afirmarem que viram o porco do costume "a andar de bicicleta"...

Mas não, foi mesmo verdade. E até mandaram um  "deputado afro", que quase se torceu todo em elogios, aquele governo exemplar

Este procedimento retrata muito bem os políticos portugueses que têm ocupado cargos de poder nas últimas décadas, sempre sorridentes, agachados e de mão esticada para com os "donos de Angola".

Pouco importa se Angola é uma "democracia a fingir" ou se voltou a ser o país com a maior taxa de mortalidade infantil do mundo. Os diamantes e o petróleo são bem mais importantes que a democracia e as criancinhas...

(Fotografia de Sebastião Salgado)

domingo, agosto 21, 2016

As Medalhas não Caem do Céu

Os Jogos do Rio estão a chegar ao fim e nós mais uma vez vimos os resultados dos nossos atletas espelhados na nossa realidade desportiva. 

Somos um país sem desporto escolar e com cada vez menos praticantes - se exceptuarmos as escolas de futebol - nas chamadas modalidades amadoras.

Se analisarmos com rigor o historial das nossas participações, deparamos com um fosso enorme entre  os atletas medalhados e os outros. E se formos honestos, registamos que são os nossos heróis olímpicos que estão fora do contexto desportivo e social do nosso país. Ou seja, as medalhas que conquistaram, devem-se sobretudo ao seu talento natural e a algum apoio técnico de excepção - como foi o caso do professor Moniz Pereira.

É natural que o país que se coloque em bicos de pés quando o talento de um Carlos Lopes ou de um Nelson Évora, fazem a diferença, porque a ignorância sempre foi atrevida. Menos natural é o papel desempenhado pelos jornalistas e políticos, pois muitas vezes são os primeiros a exigirem o impossível... quando conhecem bem - ou deviam conhecer - a nossa realidade.

A única modalidade que se percebeu que fez um óptimo trabalho e que estava preparada para entrar na "guerra das medalhas", foi a canoagem. O quarto, o quinto e o sexto lugar alcançados dizem tudo. Estivemos lá, mesmo rente ao pódio. E o nosso melhor atleta desta modalidade  explicou que passou duzentos dias em estágio no último ano, longe da família e dos amigos...

As medalhas não caem do céu. É preciso muito trabalho e muito apoio. 

(Fotografia de autor desconhecido) 

sábado, agosto 20, 2016

Escolher o Nosso Caminho...

Apesar de soprarem por aí ventos contrários, continuo a pensar que continuamos em evolução de geração em geração.

E acho que conseguimos ser melhores se tivermos a capacidade de pensar pela nossa cabeça, e claro, a liberdade de puder escolher o nosso próprio caminho.

Pensei nisto hoje, ao lembrar-me do meu pai e no meu avô. Ambos tentaram passar para mim e para o meu irmão algumas tradições, que lhe eram caras, mas não o conseguiram...

O meu pai ainda nos quis iniciar nas caçadas, mas nós não demonstramos o mínimo interesse em andar por aí a matar animais. O pai percebeu a mensagem e não nos voltou a incomodar... O meu avô era um aficionado das touradas, e também ele não nos passou esse "bichinho", apesar de nos levar a algumas praças e nos explicasse com emoção algumas coisas giras do mundo dos touros e toureiros.

Embora não tenhamos nada contra as pessoas que gostam destas duas tradições, sabemos que temos um olhar diferente sobre a natureza.

(Óleo de Pablo Picasso)

sexta-feira, agosto 19, 2016

"As Primeiras Coisas" de Bruno Vieira Amaral


Comecei a ler, "As Primeiras Coisas", de Bruno Vieira Amaral no final de férias. Cheguei ao fim há já alguns dias e como tinha sentido logo vontade de dizer algumas coisas, aqui estou eu.

Devo começar por dizer que se trata de um bom livro, muito bem escrito, com acção, humor e originalidade. No entanto devo realçar que, mesmo sabendo que cabe quase tudo no "romance", acho que "As Primeiras Cosias" são outra coisa...

O autor foi inteligente na forma como montou esta história, depois de uma pequena divagação, faz a colagem de dezenas de crónicas biográficas sobre as personagens (muito bem construídas, com todos os "cromos" que são possíveis de encontrar num bairro problemático, entre o esquecido e o abandonado...) do Bairro Amélia, um dos muitos que povoam as cidades suburbanas que rodeiam a Capital, neste caso particular o Barreiro, metendo-as com relativa facilidade dentro da história autobiográfica que nos quis contar.

Apesar da qualidade da escrita, senti a falta da densidade do romance tradicional e do protagonismo de uma ou outra personagem (como o autor escreve na primeira pessoa, acaba por ser ele a figura principal da história, do princípio ao fim).

É também por isso que acho que este livro não merecia tantos prémios para romances (na contracapa são publicitados quatro...). Sem estar a ser "má língua", espero que o Bruno não tenha sido premiado por estar ligado a um dos dois grandes grupos editoriais que dominam o nosso pequeno mercado livreiro.

E claro, fico à espera de um segundo livro do Bruno, desejoso de que seja um romance de verdade, daqueles que as personagens tomam conta da história e conseguem fintar o autor...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, agosto 18, 2016

Dúvidas e Certezas na Estrada Larga do Amor...


Não sei se há alguma coisa que nos leve a cometer mais erros, que os chamados "males do coração", que tanto gostam de fintar a "razão".

Também não sei se as telenovelas ou as revistas que enrolam e embrulham pessoas semana após semana, têm influência no comportamento quase estranho de algumas mulheres e homens.

Sei apenas que há quem não consiga (nem queira...) escapar das teias tecidas pelas "boas e bons malandros", que passam o tempo a cantarolar  todas as "baladas do bandido" que conhecem. Há quem caia, uma duas três quatro cinco vezes, e continue a suspirar e a encontrar coisas positivas nestas histórias desiguais. 

Quando ouvimos alguém a dizer que nunca foi tão feliz como no tempo em que viveu com o homem que lhe deu cabo da conta bancária e "limpou" a casa de tudo aquilo que tinha valor... há qualquer coisa que não bate certo... por muito que isso me interesse no campo literário...

(Óleo de Marcel Dyf)

quarta-feira, agosto 17, 2016

O Álbum de Recortes que Chegou do Quase Nada...

Sabe que não foi um grande actor, mesmo assim ainda entrou numa dúzia de filmes e fez quase meia centena de peças de teatro.

Depois aceitou um emprego normal e deixou definitivamente o mundo do espectáculo.

Não guardou nada, nem sequer uma notícia de revista ou jornal da sua estreia. Já havia muitas invenções nesses quase loucos anos sessenta, em que se inventavam namoradas, para vender "plateias" e "crónicas femininas", com casais quase perfeitos, masculinizando os calvários e os garcias dos palcos e das canções. 

Foi sempre um corpo estranho naqueles bastidores, cheios de histórias proibidas, por uma coisa bastante simples para o comum dos mortais, ter o defeito "imperdoável" de gostar de mulheres. Embora na altura não o assumisse, foi também por isso que se afastou...

Não fazia ideia de que tinha tido admiradoras. Só quando há dias uma jovem lhe bateu à porta, para lhe entregar um álbum sobre a sua curta carreira, organizado pela avó, percebeu que a sua actividade artística não era tão vazia como pensara...

(Fotografia de autor desconhecido)

terça-feira, agosto 16, 2016

Passagem pelo Oeste

Aproveitei o fim de semana prolongado para regressar às origens.

Houve alguns momentos altos. Um deles terá sido o passeio que dei de bicicleta pela Lagoa de Óbidos menos conhecida, com o meu irmão e o meu filho.

Na noite de sábado fomos beber café à Foz do Arelho e vimos a temperatura descer para uns impensáveis 18 graus, depois de tantos dias acima dos 40...

Embora esta continue a ser a "Minha Praia", lamento a sujidade da areia da praia da Lagoa, ano após ano. 

Não sei se são as águas do Sul se é o facto de estar a caminhar para "velho", mas já não me consigo adaptar à temperatura de água da Foz...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, agosto 15, 2016

Olhar o 15 de Agosto

O 15 de Agosto sempre foi um dia festivo na minha Cidade Natal.

Além da Feira anual havia também a tradicional tourada, que traziam muita gente às Caldas.

Sei que os tempos mudaram e já nada é igual, mas ainda continuo a gostar do meu querido "15 de Agosto"...

(Fotografia de Luís Eme - série "Blue & Yellow")

sábado, agosto 13, 2016

Cuba: Um Exemplo de Resistência

Embora esteja longe de ser adepto de estados totalitários (tanto de esquerda como de direita), não posso deixar de registar a grande resistência do povo cubano, que no começo do ano de 1959 conseguiu implantar uma sociedade socialista, num dos lugares mais improváveis, quase quase ao lado dos Estados Unidos da América.

Conhecendo o que os americanos fizeram em países como o Chile, Argentina ou Nicarágua, imagino as muitas tentativas que fizeram para reverter a situação política em Cuba.

Mesmo sem querer enaltecer Fidel Castro, que completou 90 anos de idade - que pode não ter sido alvo de atentados frustrados dos serviços secretos dos EUA por duzentas vezes, mas que foram bastantes, foram com toda a certeza - , ou Che Guevara, que continua a ser sobretudo um mito, não posso deixar de registar a longa vida do socialismo Cubano (cinquenta e sete anos), que se deseja que mantenha nos seus propósitos políticos a abertura ao mundo...

(Fotografia de autor desconhecido)

sexta-feira, agosto 12, 2016

«Por alguma razão nem toda a gente chora a ver filmes...»

A maior ou menor sensibilidade de cada um de nós, faz-se notar em pequenos nadas do nosso dia a dia, muitas vezes quando menos se espera...

Ninguém percebeu se o Jorge estava a falar a sério ou a brincar quando disse que era um chorão quando via um filme que lhe enchia as medidas.

Lacrimejar não digo, mas ficar com os olhos húmidos toca a todos, basta ser um daqueles filmes que fazem mexericos com as nossas emoções.

Claro que ele estava a brincar. Quem não achou piada a brincadeira foi a Rita que disse: «por alguma razão nem toda a gente chora a ver filmes...»

Há muito tempo que não via alguém chamar "besta" a outra, com tanta diplomacia.

(Fotografia de autor desconhecido)

quinta-feira, agosto 11, 2016

Estamos Quase lá, no Mundo da Cegueira e da Surdez...

Basta-me olhar para as pessoas, nos transportes ou  na rua, para perceber que um telemóvel com rede, sinal e jogos, é mais importante que o resto do mundo...

Mesmo que todo este fogo lhes chegue ao "faicebook", é apenas uma imagem, como a do prato de lagosta que a Isilda comeu ontem ou a praia onde o Gilberto está de férias a refrescar os pés.

Já nem sequer sei se as pessoas conseguem distinguir a ficção da realidade... se as telenovelas não passaram a ser uma cópia suas vidas, do avesso...

Provavelmente não tiveram tempo para escutar, Rafaela Silva, a judoca brasileira que ganhou a medalha de ouro na sua categoria, que na hora dos festejos não se esqueceu de falar da sua vidinha de favelada, da sorte que teve quando um professor lhe segurou a mão e lhe mostrou que o desporto, com muito treino e vontade de vencer, poderia ser uma "porta" para chegar ao mundo dos outros. Felizmente ela acabou por ir muito mais longe e chegar ao Olimpo no Rio (ao contrário de Londres, onde o facto de ficar pelo caminho fez com que fosse vitima de racismo, especialmente nas fabulosas redes sociais, com macacos e jaulas à mistura).

Gostei de a ouvir contar como o "mundo" a vê, ter a coragem de dizer que basta a cor da sua pele, para que  nas ruas e nos autocarros segurem a bolsa com mais força e a olhem sem nunca baixar a retaguarda.

E nem falou da sua condição de mulher, num país onde as violações são uma banalidade...

Por cá? Fingimos que está tudo bem. Entramos num café e perguntamos a senha da internet e vamos até "Marte". A Terra? Que se lixe! 

O problema só é problema quando por exemplo os "incêndios" nos entram pela casa ou pelo festival dentro...

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, agosto 10, 2016

Este País Constantemente Adiado...

Os incêndios dos últimos dias são apenas mais uma consequência deste país, à beira-mar plantado, constantemente adiado, gerido há tempo demais por políticos que colocam quase sempre os interesses particulares à frente dos interesses do Estado e de todos nós.

Se por um lado não querem perder eleições e tomar medidas pouco populares, por outro não têm vontade nem força, para lutar contra os muitos interesses instalados. E as reformas tão necessárias são constantemente adiadas... Continua a ser mais fácil despedir funcionários que fazem falta aos hospitais que encerrar institutos ou observatórios, cuja única utilidade é a oferta de empregos aos "amigos do partido"...

O mesmo se passa com o ordenamento do território - que vem sempre à baila na época dos incêndios (assim como a prevenção) -, que marca passo ano após ano, tal como o país, porque quando sair do papel vai mexer nos interesses imobiliários e industriais da "gente amiga" do costume...

E nós aceitamos tudo isto, como se se tratasse apenas de mais uma catástrofe natural.

Até somos capazes de chamar "coitadinhos" aos bandidos dos incendiários (quase sempre a soldo de alguém...) e desculpá-los por isto e por aquilo.

É nestas alturas que mais me dói ser português...

(Óleo de Rene Magritte)

terça-feira, agosto 09, 2016

«O humanismo não tem mãos, braços ou pernas.»

Há uns tempos que não me sentava com a Rita num café (desta vez fugimos da esplanada e dos quarenta graus...), porque o Julho e o Agosto enviam-nos para outras paragens, para pudermos sonhar e fingir que o "mundo" muda depois das férias...

Durante poucos minutos (foi o beber um café ter ou fingir pressa e perceber que não é do nosso mundo...) estivemos acompanhados por um fulano, que bastou dizer duas ou três coisas para registarmos o quanto é egoísta e até cínico.

Quando saiu falámos da sua aparente incoerência, mas fomos chegando à conclusão que nós é que estávamos errados, por levar o idealismo longe demais... Para nós os dois um comunista não pode ser egoísta, já que defende a igualdade entre todas as pessoas, e a solidariedade é um das grandes bandeiras da esquerda.

Esquecemos que a ambição dos homens está em todo o lado, puxa e empurra para baixo e para trás, na aproximação ao poder. É por isso que o humanismo, a sensibilidade para percebermos e ajudarmos os outros, não tem nada que ver com credos políticos, embora devesse estar muito mais próxima das "esquerdas"...

Foi por isso que a Rita disse que: «o humanismo não tem mãos, braços ou pernas.»

Pois não, tem sobretudo coração...

(Fotografia de Luis Eme - série "Blue & Yellow")

segunda-feira, agosto 08, 2016

«Não imaginas o quanto tenho aprendido contigo, companheiro.»


Sempre que se fala na sua segunda vida, ele sorri... e fica-se por aqui. Nem uma palavra sobre o assunto.

Claro que um dia também quis ser apenas músico de jazz, mas depressa percebeu no sarilho que se ia meter. Já não se chateia de ser funcionário público das nove às cinco, pela montra que é de ideias e de comportamentos esquizofrénicos. Claro que até tinha pensado em reformar-se mais cedo, mas como os governantes alteraram as regras, ele teve de mudar de planos...

A transferência da tal vida quase inteira para a casa de campo herdada dos avós, com espaço suficiente para criar e ser livre, continua quase presente. Mas como passa muitos fins de semana a tocar, continua aparentemente a ser mais sonho que realidade... embora a casa esteja lá à espera, a caminho do Sul.

Só me disse uma vez, quando estava a ouvir os meus desabafos: «uma das melhores qualidades que tenho é não me levar demasiado a sério, nem sequer ter a mania que sou o melhor músico da minha rua. O que isso me tem poupado dinheiro em antidepressivos...»
Eu sorri e percebi a mensagem: há defeitos que também são qualidades... 

E embora não seja de me lastimar, graças aos seus exemplos deixei de perder tempo a "lamber as feridas" ou a querer mudar o mundo sozinho...

Acho que ele já devia ter ouvido da minha boca algo como: «Não imaginas o quanto tenho aprendido contigo, companheiro.»

Especialmente com os seus silêncios e pausas.

(Óleo de Gosta Adran Nilsson)

sábado, agosto 06, 2016

A Ponte (não) é uma Miragem...

A ponte deixou de ser uma miragem no final de 1962, quando se iniciaram as obras do projecto público mais arrojado até então: a construção de uma ponte que unisse as duas margens do Tejo, junto à Capital (havia projectos desta travessia com quase um século...). 

Mas as coisas até correrem bem, menos de quatro anos depois foi possível fazer a festa da sua inauguração, há exactamente 50 anos...

Este poema que aqui publico foi escrito para ilustrar com palavras uma exposição que fiz ("A Ponte é uma Miragem"), cheia de pontes e de Tejo, da qual também faz parte a fotografia publicada.

A Ponte é uma Miragem

a ponte é uma miragem
que ultrapassa a exposição
pois é também uma viagem
do olhar e dos sentidos
que buscam inspiração
e querem que a ponte seja mais
que uma simples passagem.

olhar que se cruza
com um Rio de “visões”
tanto a norte como a sul
e que se deixa levar
em todas as direcções

sentidos explorados
pelo som que se confunde com o vento
de um tabuleiro povoado de carros
suspenso pelos cabos do tempo

sentidos encantados
pelas cores de um Tejo radiante
que pinta toda a paisagem
de uma forma contagiante
e transforma a ponte na tal miragem

                            Luís Milheiro

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, agosto 05, 2016

Um Olhar da Ponte (Diferente) à Escolha...


Devo ter mais de uma centena de fotografias com a Ponte Sobre o Tejo.

Até já fiz uma exposição individual com o título "A Ponte é uma Miragem".

E como hoje não tinha nada para dizer (há dias assim...), andei à procura de uma fotografia que fugisse do habitual, que oferecesse uma perspectiva diferente. 

E calhou esta...

(Fotografia de Luis Eme)

quinta-feira, agosto 04, 2016

Cacilhas com Barcas

Hoje e amanhã é possível visitar alguns veleiros de grande porte, que estão acostados no Largo de Cacilhas, como é o caso do "Crioula" (na foto).

Esta iniciativa faz parte das comemorações do 50.º aniversário da inauguração da Ponte sobre o Tejo (baptizada "Ponte Salazar" até Abril de 1974 e depois "Ponte 25 de Abril" - muito mais bonito, diga-se de passagem...).

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, agosto 03, 2016

Uma Paisagem Ilusória

Tirei esta fotografia, hoje, no alto da arriba onde termina a Mata dos Medos, com vista para a praia da Fonte da Telha, minutos depois de ter deixado o meu filho rente ao mar.

Chamo-lhe "paisagem ilusória", porque toda esta beleza esconde os péssimos acessos que existem para as praias da Costa de Caparica e Fonte da Telha, que deverão ser as que recebem mais pessoas de Norte a Sul no Verão.

De vez em quando apetece-me ir dar um mergulho ao mar, mas só de pensar na dificuldade que terei em estacionar o carro, perco logo a vontade...

E nem falo de quem ainda tem de ultrapassar mais um outro obstáculo gigantesco chamado "Ponte 25 de Abril", com filas intermináveis, essa mesma que está quase a festejar o seu primeiro cinquentenário.

(Fotografia de Luís Eme) 

terça-feira, agosto 02, 2016

As Leituras de Férias


Como de costume li bastante nas férias.

Li seis livros e deixei outro quase a meio.

Comecei por ler, "Deixar a Vida", de Jorge Silva Melo, que também visitou o areal da praia. Em simultâneo ia lendo por  casa "Fernando Pessoa, uma Fotobiografia" de Maria José de Lencastre e "O Caso Clínico de Fernando Pessoa" de Mário Saraiva, porque continuo apostado em escrever um conto com Fernando Pessoa de passagem por Cacilhas...

Depois vieram "M Train" da Patti Smith; a "Inquietude" de Isabel Pires e "A Boca na Cinza" de Rui Nunes.

O livro que ficou a meio foram "As Primeiras Coisas de Bruno Vieira Amaral.

Gostei particularmente de ler, "Deixar a Vida", de Jorge Silva Melo, porque me ensinou mais algumas coisas sobre teatro; A "Inquietude", de Isabel Pires, porque fiquei a conhecer um pouco melhor esta Mulher-coragem, que usou as palavras para responder à vida, que está longe de ser cor de rosa; e "M Train" pela simplicidade com que a Patti conseguiu juntar pedaços da sua vida cheia, sem se esquecer de misturar os sonhos, as fotografias e alguns objectos aparentemente vulgares.

O mais curioso é que não li um romance, "romance". "A Boca de Cinza" de Rui Nunes é outra coisa (e até "As Pequenas Coisas" de Bruno Vieira Amaral são um "romance" especial, mas sobre este livro falarei depois...). 

segunda-feira, agosto 01, 2016

Uma Fotografia com Dois Sentidos

Esta foi a última fotografia que tirei da praia, quando lhe disse adeus, ao fim da manhã de ontem.

Mas também podia ser de chegada, de um primeiro olhar sobre o mar, através das dunas.

Dunas que me proporcionaram uma boa memória, logo nos primeiros dias de férias. Graças às temperaturas elevadas voltei a sentir o cheiro da areia quente nas dunas, um perfume forte que se aliava à vegetação seca da protecção dunar tão presente nas praias do sotavento algarvio...

Regressei às dunas gigantes de Salir do Porto, que na infância subíamos a custo, para depois rebolarmos ou escorregarmos até próximo da água...

(Fotografia de Luís Eme)