terça-feira, abril 30, 2013

A Música, as Palavras e a Dança


A Dança foi festejada ontem, em muitos palcos e até nas ruas, por corpos mexidos pela música, que não foi a de hoje.

A de hoje é especial, é o Jazz, que continua a gostar de ser pintada em tons escuros e que vive sobretudo do improviso, que não se consegue esconder daquilo que entendo por arte instrumental.

As Palavras, essas são festejadas todos os dias. São de tal forma importantes, que conseguem iluminar os corpos que dançam sem parar ou ampliar os sons mágicos de uma "multidão" de instrumentos, que gostam de se afirmar pela e em Liberdade.

O óleo é de Johanna Perdu.

segunda-feira, abril 29, 2013

Afinal o Verdadeiro Artista Era o Outro...


Estranhei o homem que se pavoneava junto aos quadros, com lencinho ao pescoço dentro da camisa, cabelo puxado atrás com gel e um bigode fino, à "Clark Gable". Não me aproximei muito e fiquei a pensar que deveria ser galerista ou então algum agente contratado para "vender quadros".

Preferi cumprimentar e trocar algumas palavras com o Francisco, que estava sentado num canto, a ler uma revista, na vulgaridade das suas calças de ganga e camisa aos quadrados pequenos, felizmente sem ninguém por perto naquele momento.

Voltei a olhar alguns quadros e ao passar perto ouvi o "Gable" a explicar a temática e as cores do quadro, com uma desenvoltura, digna de qualquer artista plástico.

Foi quando a galerista chamou a atenção aos presentes, dizendo que se iria proceder à inauguração oficial da exposição.

Disse umas palavras de circunstância, antes de apresentar o Francisco, que com um discurso simples e minimalista, agradeceu a presença de todos os amigos e convidados, esperando que pelo menos eles se interrogassem sobre o que estava dentro dos quadros.

Entretanto olhei à minha volta e nada de "Gable", evaporara-se. Algumas pessoas próximas olhavam umas para as outras e interrogavam-se, quase com desdém: «então este é que é o artista?» Uma ainda foi mais longe, «coitadinho».

Esbocei um sorriso e lembrei-me que estava em Portugal, no país onde as pessoas parecem gostar de ser enganadas... 

Preferem sempre as palavras bonitas à realidade.

O óleo é de Danian Elwes.

sexta-feira, abril 26, 2013

Quase Poema de Amor (quase)...


Eu sei,
o mais certo 
é já não me amares.

Deve ser por isso
que tenho esta vontade 
de te dizer: «amo-te».

O óleo é de Steve Hanks.

quarta-feira, abril 24, 2013

As Flores de Abril


Ela sabia que as flores da Revolução, as flores de Abril, eram encarnadas e eram cravos...

Mesmo assim escolheu umas coisas amarelas, bonitas, que eu nem sequer sabia o nome, mas que não eram cravos.

Perguntei-lhe porque razão tinha comprado aquelas flores e não cravos. Disse-me com sorriso, que eram as mais bonitas.

Ainda acrescentei que estávamos em Abril. Ela disse que sim, mas também estávamos na Primavera, a estação de todas as flores e cores...

Olhei para a jarra e fiquei por ali em silêncio, uns segundos, antes de pegar num livro e partir para outros lados.

Não voltei a falar de flores com ela, até porque ela tinha razão, a Primavera não fazia qualquer tipo de distinção entre plantas, dava-lhes cores e perfumes diferentes, mas a beleza continuava lá...

Quando saísse à rua comprava cravos e colocava-os numa outra jarra...

O óleo é de Jean Pierre Gilret.

terça-feira, abril 23, 2013

Um Dia com Mais Livros que o Costume


Hoje festeja-se o Livro, um pouco por todo o lado. Claro que este dia faz mais sentido para quem gosta de ler e gosta de livros, como é o meu caso.

Digo com toda a certeza que não vou ler mais hoje que ontem, até porque estou de volta de um daqueles livros que têm muitas páginas e letras pequenas ("Os Detectives Selvagens" de Roberto Bolaño), com um início fabuloso, muita palha no meio e depois de certeza que acabará em beleza...

Vou sim pegar em dez livros da minha autoria, e distribuí-los por aí, pela cidade de Almada...

O livro para mim tem sido mais que uma companhia, tem sido sobretudo uma fonte de inspiração para tantas viagens...

A propósito, tenho uma pequena surpresa na "A Minha Carroça de Livros". Se quiserem passem por lá.

O óleo é de Alexey Tkachev.

segunda-feira, abril 22, 2013

Um Corpo que se Mostra, um Corpo que se Esconde...


Hoje aprendi mais uma diferença entre o homem e a mulher, relativa aos corpos.

A mulher é um corpo que se mostra, que se exibe em exposição permanente. O homem é um corpo que se esconde, por debaixo de uma camisa e de umas calças, ciente que a sua verdadeira função é observar o "mundo".

Claro que todas as diferenças são relativas, assim como as frases filosóficas saídas do "compêndio de camionista", mas do que não tenho dúvidas é que não há nada como um decote sugestivo ou um par de pernas que sobem pelo joelho acima, para nos deixar presos à paisagem feminina urbana ou rural, que passa ou que fica...

Quase sem me aperceber, notei que estava a dar razão aos defensores das diferenças, que dizem que somos sobretudo, "observadores"...

O óleo é de Kenton Nelson.

domingo, abril 21, 2013

O Teu Chapéu "Inglês"


Hoje ao cruzar-me com uma mulher, com um chapéu quase gigante, lembrei-me de ti e do te chapéu amarelo, que quase parecia um "sombrero" mexicano, que fazias questão de usar com o teu vestido da mesma cor.

As mulheres sempre foram mais caprichosas com a roupa, com os conjuntos, com as cores que falam umas com as outras, nós nem por isso. Talvez seja falta de alguma boa literatura de costumes...

O mais curioso era seres detestada pelas raparigas locais, que te olhavam como se fosses "estrangeira". A inveja sempre foi, é, e será,  uma coisa terrível. Sei que muitas vezes é mais forte quase que o querer, mas não deixa de fazer mossa.

Deve ter sido por isso que ela se aproximou de nós, de mim e do meu irmão, acabando por nos conquistar como amigos, apagando a possibilidade de mais qualquer coisa.

Nessa altura pensava que quando conhecíamos bem demais uma pessoa nunca a poderíamos amar com paixão, a amizade não casava bem com o tal amor que fazia bater o coração.

Provavelmente lia os livros errados e falava com as pessoas incertas...

O óleo é de Jonathan Green.

sábado, abril 20, 2013

A Loura do Vestido Preto e dos Olhos Verdes


O Sol continua a fazer prodígios em Abril, até consegue que os homens das lojas da rua das montras saiam à rua e se interroguem, porque razão a loura que por ali passa diariamente, não deixa o negro das roupas, ainda que  apareça com um  vestido mais leve.

Um deles, com mais lata, solta sempre um «bom dia menina», recebendo de volta um outro bom dia, o que o faz insistir e perguntar qualquer banalidade, apenas para a prender mais um segundo e tentar ver o que escondem aqueles olhos verdes...

O óleo é de Douglas Gray.

quinta-feira, abril 18, 2013

Não era Aquele o Lugar...


Havia muito espaço, muito campo, mas não era aquilo que ele queria.

Não lhe chegava o azul do céu, também precisava do azul do mar...

Só tinha uma alternativa, entrar no carro e fazer-se novamente à estrada, à procura do tal lugar, próximo dos sonhos...

O óleo é de Joe Simpson.

terça-feira, abril 16, 2013

O Velho Marinheiro


Embora tivesse escolhido para todo o sempre, ser apenas "marinheiro de água doce", o velho Comandante Jorge aproveitava todas as oportunidades que a vida lhe dava para vestir a sua farda de oficial da Marinha Mercante.

Sorria para os companheiros, escondendo o desgosto de ser apenas "meio marinheiro". Foi logo durante o curso que percebeu que o seu amor pelo mar não era correspondido pelo seu corpo frágil, mais especificamente o seu estômago, que dava voltas e voltas, acompanhando as ondas e provocando enjoos permanentes, que faziam com que largasse "carga ao mar", mesmo quando apenas lhe restavam as tripas...

Embora ocupasse cargos de responsabilidade na orgânica naval, limitava-se a ver os navios partirem rente ao cais, muitas vezes fardado, como qualquer comandante de uma daquelas barcas que desafiavam o oceano e seguiam os caminhos desbravados pelos nossos estupendos navegadores quinhentistas.

O óleo é de Douglas Gray.

segunda-feira, abril 15, 2013

O Quadro da Mulher Nua


Uma das primeiras coisas que me fizeram alguma confusão na cabeça, ainda na infância, foi a presença de um quadro com uma mulher nua, pendurado numa das paredes da sala da casa de uma família religiosa, das que não perdia a missa dominical.

Nessa tempo ninguém me tentou explicar que a nudez artística (pintura e escultura...) era isso mesmo, apenas Arte. Ainda bem, era capaz de fazer algumas perguntas.

Ainda hoje penso que um nu, mesmo sendo arte, não deixa de nos mostrar a nudez de um corpo, mas...

O óleo é de Ariel Gulluni.

sábado, abril 13, 2013

A Popularidade das Bicicletas na Marinha Grande e Arredores


No final da já longínqua  década de setenta do século passado, fazia algumas viagens para Leiria, para participar em campeonatos desportivos e uma das coisas mais curiosas que encontrava na estrada era um grande número de ciclistas, homens e mulheres.

Isto passava-se em praticamente todas as Terras próximas de Leiria, especialmente na Marinha Grande, na altura um pólo industrial bastante importante, especialmente no sector vidreiro.

Muito raramente vou para aqueles lados, pelo que não sei se esta tradição se mantém, ou se a entrada de Portugal na Comunidade Europeia no malfadado "cavaquistão", também acabou com este hábito saudável de circular nas nossas estradas.

O óleo é de Wanda Choete.

sexta-feira, abril 12, 2013

Pensar e Caminhar (sem interferências...)


Um dos nossos maiores problemas como povo, é conseguir caminhar pelos seus próprios pés.

Estamos sempre à espera de um sinal, de uma pista.

Há quem continue a apontar o dedo a Salazar, mas eu penso que um século antes, já era assim.

É sobretudo um problema cultural e também escolar.

Cultural, por só em 1974 é que nos conseguimos livrar (ainda que ligeiramente...) das chamadas "élites", que a única coisa que faziam era viver à sombra do Estado.

Escolar, porque o nosso ensino nunca teve grandes  preocupações em formar alunos autónomos, em ensinar a pensar, a olhar, a ver mais longe.

Infelizmente os governantes que temos e a própria igreja, sempre tiveram medo de quem gosta de pensar pela sua própria cabeça...

O óleo é de Andrew Baines.

quinta-feira, abril 11, 2013

Quando Duas Pessoas São Uma Multidão


Antes de entrar em casa, fiquei a falar alguns minutos com um dos meus vizinhos, que aproveitou a minha "companhia" para chamar a atenção a um "passeador de cães", com bons modos, que a encomenda que o seu bicho de estimação tinha deixado no passeio, era para apanhar.

O homem de trinta e poucos anos olhou para nós meio espantado e sem dizer uma palavra, pegou num saco guardado no bolso e limpou o passeio, seguindo a marcha em silêncio.

Entre as várias graçolas que trocámos,  falámos da possibilidade da existência de um bairro só para pessoas com cães, tendo o meu vizinho acrescentado logo que isso não resolveria a situação, porque os donos gostam sempre de levar os animais a "cagar longe" das suas portas...

Ou seja, se existisse um bairro mais "zoológico", os passeios das suas zonas fronteiriças dariam ares de qualquer coisa como um "campo minado", menos perigoso mas mais cheiroso...

Nestes casos, duas pessoas são quase uma multidão, pois são capazes de dizer coisas, que não diriam se estivessem sós. Até porque as pessoas que passeiam animais, estão longe de ser as mais simpáticas do mundo.

O óleo é de Tyson Grumm.

terça-feira, abril 09, 2013

Somos (pelo menos) Dois Países em Tantas Coisas...


Ultimamente ando calmo, nem sequer chamo nomes aos tipos que fingem ser "manéis céguinhos", mesmo quando quase que peço licença para passar em qualquer passadeira.

É mais uma das situações em que percebo que somos pelo menos dois países. 

Neste caso particular até encontro três tipos de condutores diferentes (sem distinção sexual...): os que param; os que aceleram; os que conduzem normalmente e que devem ter problemas de vista, pois para eles a estrada é apenas uma pista.

Isso levanta-me uma questão: será que o facto de se tirar a carta em escolas e cidades diferentes, tem influência na forma como se olha para as linhas brancas, que de vez enquanto surgem nas estradas?

Uma coisa é certa, não se podem desculpar com as regras de trânsito, porque lá está tudo bem explicito, por muita vontade (ou hábito...) que tenham de contornar a "lei"...

O óleo é de Daniel Del Orfano.

segunda-feira, abril 08, 2013

«Vamos todos embora, pá.»


O Gui vai viver uns tempos para São Paulo, foi por isso que hoje estivemos à conversa ao cair da tarde. Como de costume, contámos e ouvimos histórias que não se limitaram às nossas vidas.

Quase na hora da despedida, antes de trocarmos um abraço, ele desafiou-me com um sorriso trocista: «vamos fazer a vontade ao Passos, vamos todos embora, pá.»

E às vezes apetece mesmo partir...

O óleo é de Joe Simpson.

domingo, abril 07, 2013

A Música das Águas que Sobem e Descem


As barragens continuavam a abrir as comportas e a fazer subir a água dos rios e a formar ilhas, um pouco por todo o lado, deixando algumas povoações quase isoladas.

Como de costume, nem toda a gente ficava triste com esta mudança. 

Numa das aldeias isoladas rente a Santarém havia pelo menos duas pessoas que adoravam esta paragem no tempo: o Inácio que tinha a oportunidade de andar com o seu barco pelas ruas, como se fosse um "gondoleiro" de Veneza e a Margarida, que tocava piano o dia todo, virada para o rio, como se buscasse inspiração nas águas movimentadas...

O óleo é de Ernesto Arrisueno.

sexta-feira, abril 05, 2013

Viagens pelo Oeste


As "viagens pelo Oeste" que tenho perdido nos últimos meses...

Sei que devia aparecer, quase de surpresa, dentro de um autocarro ou comboio, mesmo que a automotora de hoje seja uma coisa esquisita, parecida com autocarro - mas para pior... - que anda por cima de carris e parte de uma estação quase no "cu do mundo".

Até porque já não tenho desculpas para as conversas adiadas, que acabam por se cruzar com os projectos parados...

De saudades não falo, estou proibido. Muito menos de fados ou de outro género de canções.

A "Gazeta" mantém-me actualizado, mas é insuficiente, porque não dá notícias de tanta gente e de tantos lugares que gosto...

O óleo é de Francis O'Leary.

quinta-feira, abril 04, 2013

Ter Opinião


Se há coisa que ele não prescinde é de ter opinião. Sabe que muitas vezes é incómodo e até inconveniente, mas faz sempre questão de não se deixar condicionar pelos outros, especialmente quando se torna necessário lutar pela sua verdade.

Não só é teimoso, como é capaz de saltar "muros" quando lhe tentam fechar portas.

Sabe que isso faz com que vá adquirindo alguns "inimigos de estimação", que adoram "enfiar carapuças" e vêm fantasmas em tudo, até na sua própria sombra.

Mas factos são factos, mesmo num país como o nosso que privilegia de uma forma tão notória a incompetência, o compadrio e o desleixo (como se vê até na escolha dos nossos governantes, ao mais alto nível...).

O óleo é de Jiri Borsky.

quarta-feira, abril 03, 2013

A Amizade e Outras Coisas


Não se foi um poeta ou um prosador que disse uma coisa quase assim: a verdadeira amizade é uma coisa que se entranha e nunca se estranha. Sei apenas que tem toda a razão.

Mesmo sabendo que cada vez é mais difícil fazer amigos (até mesmo os "conhecidos" começam a escassear com o passar dos anos...), há pessoas que conhecemos, muitas vezes quase por acaso, mas que são das que vêm para ficar... e ficam... a vida toda.

Há outra gente com quem nos relacionamos anos e anos e nunca conseguimos criar a intimidade que alimenta esta amizade, que está acima  das hipocrisias, dos cinismos e das invejas, que viram de pernas para o ar esta sociedade.

Hoje apeteceu-me falar aqui dos poucos amigos que tenho. Porque a sua companhia é quase sempre uma festa, ao café ou ao almoço. Às vezes parecemos crianças crescidas, como ontem, em que só à terceira é que acertámos na ementa para o almoço, com a complacência do empregado de mesa, que além de já nos conhecer, sabe que estamos num tempo em que não há "clientes chatos"...

Percebemos que somos invejados e olhados de lado, por quem não consegue ser como nós e não percebe que a amizade não se compra, não se vende e muito menos se chantageia. 

Às vezes insistem em vir para a nossa mesa, mesmo sabendo que não é isso que faz com que sejam como nós.

Talvez um dia eles percebam que a nossa amizade é sobretudo fraternidade e solidariedade, sem "empurrões", muito menos, "facas nas costas"... 

A escultura é de Gustav Vigeland.

terça-feira, abril 02, 2013

Abril é Esperança


Abril é sempre um mês de esperança.

Um mês de cor e de vida...

Era bom que fosse também sinal de mudanças, por cá e pelas europas (para melhor claro, para pior já basta assim...).

Por cá é um tempo já urgente, de seguir outros caminhos.

Era bom que o Tribunal Constitucional cumprisse o seu dever e, parafraseando o Zeca, esta gente embalasse a trouxa e zarpasse...

O óleo é de Gil Bruvel.