quarta-feira, junho 29, 2011

O Homem que Lia as Capas dos Livros


Embora estivesse quase com oitenta primaveras, detestava ficar em casa, sentado a ver os programas de televisão que animavam os dias da esposa. Gostava de conversar mas cada vez tinha menos amigos, que mesmo velhos e reformados, ainda continuavam a gostar de falar de mulheres e futebol, entre outros prazeres mundanos.


Quando não encontrava estes amigos entrava na biblioteca municipal e ficava por ali a ver as pessoas a folhearem livros, em silêncio, com meia dúzia de livros à sua frente, que escolhia apenas pela cor e vida das capas.

Provavelmente ninguém imaginava que aquele homem não sabia ler. E ainda menos acreditariam que ele era capaz de ler as histórias que se escondiam dentro dos livros, olhando apenas para as suas capas...

O óleo é de Pierre Bonard.

terça-feira, junho 28, 2011

Sim, Porquê?


Por muito que me esforce, não consigo perceber, tal como o
Eduardo, como é que alguém que se opôs convictamente à aprovação de duas leis igualitárias (identidade de género e casamento entre pessoas do mesmo sexo), como a deputada Teresa Morais, aceite o cargo de secretária de estado, com a pasta da Igualdade.

segunda-feira, junho 27, 2011

A Voz da Invenção


Há quem o confunda com a "voz da razão", por normalmente ser uma pessoa excessivamente bem informada.


Mas sempre foi mais a "voz da invenção". Desde os seus tempos do "Expresso" que se tornou famoso por inventar factos políticos. Estes jeitos nunca se perdem, tal o gosto de espalhar "veneno" aqui e ali, misturado com as suas "lições".

Parece que no passado domingo quis ser mais uma vez o primeiro "mensageiro" da boa nova, ao afirmar na sua TVI que o seu director geral iria ser secretário de estado.

Quem não gostou da "lata" do comentador foi Passos Coelho, que fez o que outros não tiveram coragem para fazer, e o tal director, depois de pedir a demissão, ficou a ver a secretária de estado por um canudo.

Claro que não tenho pena do senhor, de certeza que haverá outro lugar compatível à sua espera, de director geral de qualquer coisa (serão as próximas nomeações...), mas desta vez sem a benção e o conhecimento do "professor martelo", que bem podia montar uma barraca de feira e vender latinhas de "banha da cobra".

domingo, junho 26, 2011

«Nunca seremos iguais, simplesmente porque somos diferentes»


O velho embarcadiço de cabelo cinzento que fumava cigarrilhas castanhas, não tinha dúvidas de que nós homens éramos mais de partir e as mulheres de ficar, esperar.


Não valeu de nada dizer-lhe que os tempos eram diferentes, que inclusive já havia muitas mulheres a deixarem a casa e começarem uma vida nova.

Conseguiu arrumar-nos com uma frase que nos pareceu simples, apesar da sua complexidade.

«Nunca seremos iguais, simplesmente porque somos diferentes».

O óleo é de Jeffrey Hein.

sexta-feira, junho 24, 2011

Não é Não!


A manifestação de amanhã no Rossio, em que as mulheres querem sublinhar com determinação que «Não é Não!», tem mais que uma leitura, assim como o seu manifesto.


Essas leituras dependem muito da vivência e do passado de cada uma das gerações.

Sei que não me posso fiar no Carlos, que se aproxima dos setenta, ou no Raul que passou agora mesmo os sessenta, que me dizem que a maior parte das mulheres da sua geração foram habituadas a dizer não, quando queriam dizer sim. Vão mais longe e argumentam que as ditas mulheres sérias não podiam dizer que gostavam, ou queriam ter sexo, segundo as cartilhas que lhes eram impostas em casa, com o beneplácito da "santa igreja".

A minha geração começou a rebelar-se contra estas e outras coisas e terá sido das primeiras a tentar dividir o não do sim (nem sempre com sucesso, claro, estas coisas demoram sempre tempo a mudar na cabeça das pessoas...).

Hoje acredito que um não é mesmo um não, para as gerações mais jovens. E fico feliz por isso.

Mas em relação às roupas que se usam na rua, considero que algumas peças são totalmente provocatórias e até vexantes para a mulher. Alguém que sai de casa com uma mini-saia, que a qualquer movimento mais baixo, faça notar a cor e o modelo das cuequinhas, e com um decote que exiba as suas belas maminhas, não pode estar à espera que as pessoas com quem se cruza, olhem para o lado ou para o ar. Até porque em muitos destes casos noto que quem se mostra mais incomodada com a situação são as outras mulheres, que murmuram quase sempre um «ordinária» sumido, além de olhar de lado, com ar de reprovação.

E não me venham falar de liberdades individuais. Eu se andar pela rua com o cabelo azul ou encarnado, só tenho um objectivo: dar nas vistas, dizer aos outros «olhem para mim».

quinta-feira, junho 23, 2011

As Vantagens da Mesa Vazia


Já vos contei mais que uma vez que uma das vantagens de estar sozinho numa mesa de café, é a possibilidade de escrever sobre o que me surge, quase sempre nos papeis de guardanapo, tipo papel "bíblia".


Ouço e vejo sempre mais. Por exemplo poderia ter dito à moçoila que entrou com a saco preto com um coração vermelho e a palavra Budapeste, que também gostava da cidade, mesmo sem a conhecer...

Provavelmente não assistiria com tanto interesse à oferta de um presente antes de tempo, de uma senhora idosa para outra da mesma geração. A partir de certa idade tudo é possível, até entregar presentes um dia antes do aniversário, sem que se fale de agoiro.

O mais curioso foi ver uma outra mulher plantada na parte de fora do café, com um carro de compras nas mãos, à espera. Percebi que queria muito saber o que estava escondido dentro do embrulho de papel colorido. Depois de perceber que era um colar e dois brincos, que se vendem em qualquer loja de bugigangas, lá seguiu. Devia ser do clube das pessoas que não gostam de jurar falso e que não acreditam que a curiosidade matou o gato (e o rato, claro)...

O óleo é de Francisco Motto Portillo.

quarta-feira, junho 22, 2011

A Mudança é uma Constante nas Nossas Vidas

A mudança é uma constante nas nossas vidas.

Mudamos de quase tudo, de emprego, de mulher, de hábitos e até de vícios.

Digo isto porque considerava impensável ver o Raul substituir com sucesso o habitual uísque, que o acompanhava nas mesas e balcões dos bares e cafés, por água com gás.

Há situações que podem parecer hilariantes e retiradas de filmes, mas que quando vividas não devem ser assim tão engraçadas. A história mais forte que me contou dava uma história. Talvez pense nisso um dia destes e até já lhe dei um título: "A Trilogia do Desconhecimento". Imaginem o que é acordar numa cidade desconhecida, num hotel que nos parece completamente estranho, ao lado de uma mulher jovem, que também parece uma invenção, e que poderíamos jurar, nunca a ter visto em sitio nenhum. Aconteceu.

O álcool faz isto. Vai apagando e destruindo a memória.

Neste caso particular, a mudança ficou a dever-se à escolha entre a vida ou o vício. O gosto pela vida do Raul foi mais forte que a ilusão e o falso poder que lhes davam as bebidas fortes...

O óleo é de Fabian Perez

terça-feira, junho 21, 2011

Cedo de Mais...


É cedo de mais para começarem a desaparecer as pessoas da minha geração, como foi o caso do Pedro Hestnes Ferreira (1962 - 2011), que nos deixou ontem.


Tenho a certeza que é um actor que passou ao lado da maior parte do púbico, porque nunca se interessou pela televisão, nunca fez uma telenovela.

Quem como eu viu bastante cinema português, a partir da segunda metade dos anos oitenta, sabe como enchia a tela, com o seu ar triste e o melancólico, mas tão real, tão humano.

Pedro conseguiu nos transmitir com as suas interpretações, que o cinema é um "mundo" muito diferente do teatro.

Vi-o em: "Agosto", Jorge Silva Melo (1988); "Sangue", Pedro Costa (1989); "Idade Maior", Teresa Vilaverde; "Xavier", Manuel Mozos (1992); "As Três Palmeiras", João Botelho ( 1994); "Casa da Lava", Pedro Costa (1994); "Anjo da Guarda", Margarida Gil (2000). Mas Pedro entrou em mais de trinta filmes e é a par de Maria e Inês de Medeiros, um dos actores mais consistentes e talentosos do cinema português dos últimos trinta anos.

Pedro era também neto de um dos meus poetas, o grande Zé Gomes Ferreira.

segunda-feira, junho 20, 2011

A Noite Antes do Fim


Assim que passei os olhos por este livro policial, gostei logo da capa e do título. Ainda por cima era da autoria de um escritor português que assinava com um pseudónimo quase das américas dos "gangsters", na colecção "enigma", provavelmente pelas contingências do mercado...


Roussado Pinto e Dinis Machado também escreveram policiais com pseudónimos, mas mais próximos dos seus nomes: Ross Pynn e Dennis Mcshad, na colecção "Rififi".

A propósito, Dick Haskins é o pseudónimo de António de Andrade Alburquerque, que ainda continua a escrever, apesar de já ter ultrapassado os oitenta anos de vida.

domingo, junho 19, 2011

O Tráfico Diário de Emoções


A televisão mudou muito nos últimos anos.


Uma das maiores mudanças foi a transformação de programas diários, que deveriam ser espontâneos, em verdadeiras encenações - com guiões e placas instrutórias para o público, para rir, aplaudir ou chorar -, que têm como objectivo principal a exploração das emoções humanas. Normalmente este espectáculo era-nos oferecido no cinema, com melodramas que não passavam de caricaturas da vida real.

Não acho muita piada a este "jornalismo" ou "entretimento" que faz chorar, em que se paga a pessoas para contarem as suas histórias tristes no pequeno ecran (que já não é tão pequeno quanto isso...). Mas parece que o público gosta, e não faltam entrevistados para se submeterem a estes "jogos de emoções"...

sexta-feira, junho 17, 2011

Por Muito que nos Tentem Dizer o Contrário, Somos um País Normal


Se por um lado temos o mau hábito de passar o tempo a dizer mal do país e dos nossos conterrâneos (o Eça já era assim há mais de cem anos...), também gostamos de dourar a pevide, enaltecer os nossos heróis, mesmo que eles hoje sejam mais artistas do futebol (Cristiano Ronaldo e José Mourinho) que das letras ou de outras artes.


Digo isto porque uma amiga belga me confessou ter uma grande inveja das nossas histórias bonitas. Gostava muito de ter um Poeta que salvou o seu livro profético dos mares, a nado, já só com um olho, assim como uma Rainha capaz de transformar pão em rosas...

Sorri, com vontade de lhe dizer que sempre tivemos um grande espírito inventivo...

O óleo é de Richard Smith.

quinta-feira, junho 16, 2011

Provocação ou Talvez Não


Não é muito comum que alguém decida dizer o piorio sobre a leitura e sobre livros, a um palmo de pessoas que escrevem e gostam de ler.


Mas como somos um país livre, continuámos a nossa conversa, sem sequer olharmos a figura, que vendia a imagem de ser muito dona de si mesmo.

Quando ela se calou e bateu em retirada, o Carlos perguntou se alguém conhecia o "cromo". Não, ninguém o conhecia. Quase em simultâneo todos nos interrogámos se era possível existir alguém assim.

Claro que era, e é. Houve logo quem acusasse a escola. O Gui mudou a trajectória da conversa e queixou-se que os livros continuavam a ser muito caros. E fez muito bem, não houve tempo para "acusar" o Salazar...

Num clima mais cordato concluímos todos que, embora as estatísticas do ministério da educação e as novas oportunidades, digam o contrário, somos um país de "iletrados", de gente a quem não houve tempo para ensinar a gostar de livros, muito menos para lhes explicar o que existe de delicioso dentro deles...

terça-feira, junho 14, 2011

A Aventura de Miguel Littin


Devo muito a Gabriel Garcia Marquez, foi graças a ele que descobri o realismo mágico que torna a América Latina um lugar incomum.


Mas também lhe devo outras coisas. Ao ler, "A Aventura de Miguel Littin Clandestino no Chile", senti que poucos autores conseguem prender os leitores, com um relato real, como Gapo. A sua narrativa além de escorreita, prende-nos do principio ao fim. Além de ficcionista, ele é uma narrador estupendo, tal como já me tinha demonstrado na sua "Crónica de uma Morte Anunciada".

E pensar que este livrito me custou menos de dois euros, na colecção "nobel" da "Sábado"...

E não falei nem um pouco da história...

Como o título nos indica, é a aventura de MIguel Littin, uma realizador chileno exilado, que regressou ao Chile para filmar o país durante duas semanas. Para o conseguir, mudou o seu visual de uma forma consistente (nem a mãe o reconheceu...), e claro, usou uma identidade falsa. Depois são as peripécias de uma aventura do género, num país que na época ainda era chefiado pelo Pinochet e mantinha em vigor o "saudável" recolher obrigatório...

segunda-feira, junho 13, 2011

Cruzou por Mim, Veio Ter Comigo, Numa Rua da Baixa

[...]

Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
É estar ao lado da escala social,
É não ser adaptável às normas da vida,
Às normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.

[...]

Alvaro de Campos

O óleo é de J.B. Durão.

quinta-feira, junho 09, 2011

A Aldeia Salgada


Quando era mais pequeno chamava-lhe a Aldeia Salgada, o que fazia sorrir os crescidos.

Dizia isso porque era uma terra praticamente igual às aldeias que conhecia. A única coisa que tinha de diferente, era o Mar, logo ali, quase ao fim da rua.

Às vezes quando estava farto de campo, de Salir de Matos onde passsava boa parte das férias grandes, pensava o quanto saboroso devia ser ter o mar logo ali depois da esquina. Tínhamos o rio, mas além de estreito no Verão, não tinha ondas...

Não íamos lá todos os anos, porque ficava um pouco fora de mão. Ficávamos na casa do tio Joaquim, irmão da avó, que nos recebia principescamente.

Gostava das pessoas de lá, tudo gente simples, pelo menos as que conhecia. Eram pescadores e agricultores quase em simultâneo, por uma questão de sobrevivência...

Este fim de semana quase longo vou visitar a minha Aldeia Salgada, que já não tem nada a ver com a terra pequena e simples de há mais de quarenta anos. O turismo e alguns empresários descobriram-na e não há nada a fazer...

O óleo é de Giner Bueno.

quarta-feira, junho 08, 2011

«Sim, senhor ministro!»


A deputada europeia Ana Gomes resolveu dizer das boas sobre o inconfundível ex-candidato a primeiro-ministro, que, segundo as fontes anónimas do costume, não se importa de ser apenas ministro, desde que lhe ofereçam
a pasta desejada, a que tem os negócios com os estrangeiros.

Ana Gomes diz que não pode. Falou no caso dos submarinos (ainda em investigação), e entre outros "telhados de vidro", foi buscar o exemplo do belo Dominique, o "predador" do FMI (com insinuações pouco claras...) e relembrou as acusações do caso Casa Pia, que quase nos deram garantias de que os pedófilos eram todos socialistas, inclusive o presidente da República em exercício na época.

Num país que já foi chefiado por Cavaco Silva, Santana Lopes, José Sócrates, que teve ministros e secretários de estado com a ética e a moral de Dias Loureiro, Jorge Coelho, Oliveira e Costa, Ferreira do Amaral, Armando Vara, Celeste Cardona, Manuel Pinho, Arlindo Cunha, Isaltino Morais, Telmo Correia, Costa Freire, Arlindo de Carvalho, Mário Lino, Couto dos Santos, etc., é por mais evidente que Portas tem o perfil ideal para chefiar qualquer pasta.

O óleo é de Meirion Ginsberg.

terça-feira, junho 07, 2011

Pontos Comuns


Sei que nos tempos mais próximos vou ler um livro de Arturo Péres-Reverte.


Não ando atrás de autores cuja obra me é desconhecida, espero quase sempre que eles se aproximem e me digam alguma coisa do género, «estou aqui».

A entrevista de Arturo, na revista "Ler" deste mês, fez-me perceber que temos alguns pontos comuns em relação à literatura e à própria sociedade. É por isso que transcrevo duas frases simples que me dizem tanto:

«Normalmente, estabelece-se uma falsa dicotomia entre literatura de entretimento e literatura reflexiva. A literatura pode ser ao mesmo tempo um entretimento e uma forma de reflexão.

Um livro que me faça reflectir mas que me aborreça não me serve. Preciso que o livro além de me fazer reflectir, me divirta, que crie em mim aquele estado de ansiedade do leitor.»

(Para mim a literatura é isto, os livros devem ser sobretudo prazer e nunca chatice...)

Em relação à sociedade também eu não concebo viver num mundo sem regras, irrita-me profundamente o vale tudo...

«As regras não significam forçosamente conservação. Não roubar é uma regra. Não mentir é uma regra. Não fazer política suja é uma regra. Ser honrado é uma regra. Não são regras conservadoras, são regras de humanidade. No mundo actual vale tudo.»

segunda-feira, junho 06, 2011

Finalmente umas Eleições com Derrotados


Não me lembro de ouvir um discurso pós-eleitoral como o de Sócrates, a querer ficar com a derrota toda para ele, pedindo inclusive a demissão de secretário geral, mas daquelas a sério, que não admitem cortinas de fumo nem falsos unanimismos.


Sócrates conseguiu calar toda a gente, até os críticos. E esta?

Embora tenha admitido a derrota, o líder do partido em que votei, mesmo perdendo metade dos deputados foi incapaz de colocar o seu lugar à disposição...

Mas para mim os grandes derrotados destas eleições foram os abstencionistas (mesmo vencendo-as claramente...).

Embora seja difícil fazer um estudo "estatístico" sobre esta gente, incapaz de cumprir o seu dever cívico, não tenho dúvidas que estão lá muitos desempregados, muita gente que recebe o rendimento mínimo, e claro, a malta que anda à rasca (pelos vistos não devem estar assim tão à rasca, pois até se dão ao luxo de desperdiçar o seu voto, que pode ser de tudo, até de protesto).

E se pensarmos que serão estas pessoas que irão enfrentar tempos mais dificeis nos próximos anos, notamos que há aqui qualquer coisa que não bate certo...

domingo, junho 05, 2011

A Utilidade e a Inutilidade do Voto


Sempre ouvi falar do voto útil. Da sua utilidade e inutilidade. Uma boa parte dos candidatos acham que o voto na sua lista é o mais útil de todos. Mesmo que não sejam eleitos...


Eu por exemplo hoje pensava estar ligeiramente indeciso em quem votar, a minha única certeza era que votaria à esquerda. Ao chegar à mesa de voto, a pessoa que estava por lá a entregar os boletins, convenceu-me. Conhecia-o quase de ginjeira. Mesmo sabendo que ele não era candidato, que não passava de um funcionário partidário...

Este elemento apenas me transportou para a realidade, lembrou-me que não podia votar na força política que brinca à democracia em Almada, há mais de trinta e quatro anos.

Também sabia que desta vez votar em branco ou nulo, era a mesma coisa que me abster.

Nunca como hoje senti, que o mais importante era votar em quem achava ser um "mal menor" para o país, sem perder tempo com utilidades ou inutilidades.

O óleo é de Graça Martins. Escolhi-o porque sinto que a Liberdade está a tornar-se um mito. Distribuem-se cada vez mais "vendas" por aí, ao mesmo tempo que se cortam as asas às pombas brancas, para que não possam voar...

sábado, junho 04, 2011

«Gostas mesmo de farturas?»


A rua estava cheia de gente, uns a dançar, outros a apreciar o espectáculo, de pé ou sentados nas esplanadas improvisadas que enchiam a rua Capitão Leitão, perfumada com o cheiro da sardinha assada.


O hall do velho cinema da Incrível com a feira do livro, estava quase às moscas.

De vez enquanto lá entrava alguém, mais para ver que para comprar.

Foi o que aconteceu com aquela mãe e aquele filho, que devia ter oito, nove anos e ficou logo agarrado a um pequeno livro, de apenas um euro.

A mãe leu-lhe a cartilha num tom audível, «se levares o livro não te compro uma fartura, agora escolhe.» O miúdo ficou indeciso e sem dizer nada acabou por largar o livro e sair com a mãe.

Menos de um minuto depois ele voltou a entrar. Decidido pegou no livro e estendeu-me a mão com um euro. Antes de receber o dinheiro perguntei-lhe se gostava mesmo de farturas, disse-me que sim, meio pesaroso, provavelmente a pensar no sabor do frito doce. Como era noite de festa disse-lhe que podia levar o livro e ficar com a moeda para comprar a tal fartura.

Agradeceu-me e saiu dali com um sorriso de orelha a orelha.

Contra todas as previsões, parece que ainda há crianças que gostam de livros de papel...

O óleo é de Jan McDonald.

sexta-feira, junho 03, 2011

«Vinde a mim, pobrezinhos.»


Nunca esperei ver o partido mais conservador do nosso panorama político, o albergue natural das classes mais privilegiadas, "transvestir-se" no partido dos "pobrezinhos", hasteando em todos os comícios, a bandeira do Estado Social..


Mesmo sabendo que Portas é na actualidade o político mais hábil e mais experiente a lidar com o povo (a par de Jerónimo de Sousa, mas sem a genuinidade deste, claro...). Além de ser o rei dos abraços, beijinhos e apertos de mãos, não se esquiva a beber um copo de tinto ou a comer uma sardinha assada, mesmo que deteste os seus sabores e cheiros, falando sempre ao jeito dos seus contendores.

Mas estranho estranho, é ouvir gente que se diz de esquerda, dizer que vai votar no líder do CDS.

Há qualquer coisa que me está a escapar, de certeza.


Ou então sou eu que continuo com "memória de elefante" e não esqueço os submarinos, os sobreiros e as resmas de assessores "independentes" que vegetavam à sua volta, muitos dos quais andam por aqui na blogosfera...

A ilustração é do Rui, ainda dos tempos do "O Jornal"...

quarta-feira, junho 01, 2011

Um Dia Cheio de Nada


Apesar do dia ter sido cheio de pequenos nadas, ainda me sobrou algum tempo para brincar com os meus filhotes, tal como ontem e anteontem.

O óleo é de Shira Sela.