quinta-feira, maio 31, 2012

Diferenças & Percepções


Uma das maiores diferenças que encontro nos meus filhos é a percepção de que, enquanto ela quer crescer, quer ser mulher num instante, ele não se importa nada de prolongar a meninice, de continuar a brincar com os carrinhos e lego, eternamente...

Claro que esta constatação não é nenhuma novidade. O mundo é mesmo assim, as mulheres nascem a querer crescer mais depressa que nós e conseguem-no, quase sempre...

O óleo é de Suchitra Bhosle.

terça-feira, maio 29, 2012

Os Netos de Salazar


Nunca tinha ouvido a expressão, "Os Netos de Salazar", utilizada pelo velho João, para definir a malta que está no governo. 

Sorri quando ele disse, com a sua voz teatral, quase a imitar um "papão": «eles têm medo do que nós vemos para lá dos quadros da parede, que querem comunicar connosco. Da mesma forma que se assustam com o que alguns livros nos podem dizer. Mas o que lhes mete mais medo é o teatro, o cinema e umas certas músicas. Não suportam o que escapa à vulgaridade e ao gosto fácil. É por isso que querem deixar a malta sem subsídios. Pobres tiranetes.»

Gosto de pessoas como o João, que conseguem falar de coisas sérias como se estivessem a brincar.

O óleo é de Olga Larionova.

domingo, maio 27, 2012

Os Poemas Escolhidos da Graça

Ontem fui ao lançamento do livro, "Poemas Escolhidos", de Graça Pires.

Nesta obra a Graça faz uma selecção de poemas dos livros que publicou entre 1990 e 2011. Ou seja, é uma bela forma de conhecer toda a poesia da autora, bonita e singular.


Eu que normalmente não declamo poemas, li este, que fez parte do livro, "Quando as Estevas Entraram no Poema" e é um dos seus "Poemas Escolhidos":





No verão as mulheres caiam as casas e as memórias.
De branco: como as estevas e a lua cheia.
Os seus anseios se espalham, com a brisa,
na quentura das noites.
Por isso, conservam no olhar uma inesperada tristeza.



O óleo é de Steve Perrault

sábado, maio 26, 2012

As Memórias de Amor das Mulheres


Nos anos que já levo de "ouvidor", tenho a percepção de que as mulheres gravam com mais sonoridade e nitidez, todas as suas memórias de amor.

Há  muitos acontecimentos que nos passam completamente ao lado e que ficam de tal forma registados pelas mulheres, que quando nos são contados até chegamos a duvidar dos pormenores apresentados.

Depois de fazermos um exercício de memória percebemos que foi mesmo assim, que não é fruto da sua imaginação...

Escolhi este óleo de Raymond Leech, porque enquanto esta despedida para o homem (de uma forma geral, claro) foi apenas isso, para a mulher foi uma "cena de cinema inesquecível", tendo gravado o dia, a hora, a estação, a carruagem e especialmente o beijo de adeus...

quinta-feira, maio 24, 2012

Os Pescadores e os Caçadores são uns Inocentes


Em matéria de mentiras, os pescadores e os caçadores são uns inocentes, não passam de meras "lupas" da realidade. Os primeiros oferecem ao pescado dimensões maiores que as reais, tal como as quantidades, os segundos repetem a "receita", mas com a caça.

O pior é não terem qualquer hipótese de concorrer com os políticos, em concursos de mentiras. O giro é em cada governo aparecer sempre um mentiroso daqueles grandes. Depois de Sócrates é agora o Relvas quem "papa concursos".

Gostei de ver aquele senhor que de ministro das obras públicas saltou para a empresa que tem ganho mais concursos de obras também públicas, falar de amizade e de solidariedade com o Relvas. O mais curioso foi ele ter dito o mesmo em relação ao Sócrates, ao Vara e companhia.

Não há dúvida nenhuma, isto está mesmo tudo ligado...

A escolha do óleo de Michel Pellus, não tem muito a ver com os pescadores que estão por ali, tem mais a ver com  a expressão reflexiva daquela mulher, com o chapéu bem enfiado na cabeça, que diz quase tudo aos políticos portugueses: «mais um barrete», e explica o porquê do estado actual do nosso país. 

quarta-feira, maio 23, 2012

O Reflexo do Teu Corpo


Ao olhar o teu corpo reflectido no espelho, sorrio de satisfação por o tempo não me ter cansado das tuas curvas, menos firmes, mas com as marcas do nosso amor tão salientes..

O óleo é de Daniela Benedetti.

segunda-feira, maio 21, 2012

Já Não Há...


Ele percebia melhor as mulheres que nós todos juntos.

Nunca percebi qual era o seu segredo, mas fiquei sempre com a sensação que era sobretudo lata, com um niquinho de inteligência. 

Era o único capaz de abrir a porta de um carro para um dama sair ou tirar o chapéu da cabeça para cumprimentar as mulheres com quem nos cruzávamos na rua ou no café. Ou de colher uma flor na rua para oferecer a qualquer musa.

Também era o único capaz de namorar três moçoilas ao mesmo tempo, sem crises existenciais.

E o que as mulheres gostavam dele. Sim ele era amado (e odiado, claro, estes sentimentos estão sempre próximos...), pois despertava tudo menos indiferença. Mesmo entre os seus pares, era tão invejado...


O que ninguém percebeu muito foi a sua decisão inesperada de se casar, de ficar apenas com uma mulher.

O óleo é de Raymond Leech.

domingo, maio 20, 2012

Colar os Sonhos...


Subi as velhas escadas de madeira, abri a porta e entrei.

Depois de me habituar à falta de luz, comecei a ver coisas que já não estavam por ali, há muito tempo.

A pouco e pouco fui apanhando os sonhos que ainda estavam espalhados pelo sotão...

Quando desci, fiquei a olhar para as árvores e vegetação que crescia desordenadamente no quintal, há anos sem ninguém para as abraçar, pela janela fechada.

A fotografia é minha e foi tirada no interior de uma "casa-fantasma"...

quinta-feira, maio 17, 2012

As Mulheres dos Filmes e dos Bares...




«Não sei quase nada sobre mulheres. Às vezes penso que só sei porque gosto delas.»

Sorri porque não tinha palavras para entregar ao Carlos. Além disso queria saber o que ele sabia...

«Íamos aos bares porque uma boa parte dos filmes que víamos diziam que era aí que se arranjavam mulheres diferentes, que nos olhavam nos olhos e que usavam saias acima do joelho e não passavam a vida a puxá-las para baixo.»

Continuei em silêncio, à espera...

«Gosto delas porque têm um corpo bonito e saboroso, que me lembra um barco, com mais que uma âncora...»

O óleo é de Sean Diediker.

terça-feira, maio 15, 2012

O Mundo Parece um Lugar Estranho


Um homem pede-te um cigarro, dizes que não tens, acrescentas que não fumas. Ele não acredita e dá duas voltas rente a ti, até que se afasta.

Um segundo homem surge quase do nada e também te pede um cigarro, dizes que não tens, mas desta vez não acrescentas nada e o homem também não, acabando por se afastar.

Estás intimidado com o silêncio daquele lugar, quando te aparece uma terceira pessoa, para te salvar, para te levar dali para fora. 

Caminham de mãos dadas em silêncio e tu pensas que para a próxima vez que apareceres por ali compras um maço de cigarros, para matar o vicio àquela malta...

O óleo é de Beth Moon.

domingo, maio 13, 2012

«Os homens casados são uma chatice.»



No meio daquela "selva" de homens casados, calculei que a "boca" de uma daquelas mulheres, quase bonitas, não era para mim. Deve ter sido por isso que me limitei a sorrir...

Fiquei a pensar que no campo da "chatice", não deveriam existir grandes diferenças entre homens casados e solteiros.

Depois com os comentários seguintes percebi que a chatice afinal era outra, era de já termos "dona"...

O óleo é de Avetis Khachatryan.

sexta-feira, maio 11, 2012

A Alice do Bernardo...


Ainda ontem estive a ouvir a banda sonora do filme, "Alice", um original de Bernardo Sassetti, porque me apeteceu ouvir apenas música.

As poucas vezes que o vi, ele estava no palco e eu na plateia, motivo mais que suficiente para dizer que era um músico de excepção.


Embora seja normal toda a gente dizer bem do Bernardo, hoje e amanhã, ao olhar para a notícia do "Público", não pude deixar de parar nas palavras de Pedro Costa, editor discográfico, que  disse que com ele nunca falou de dinheiro, acrescentando que o Bernardo era a pessoa mais generosa que conheceu.

É uma estupidez partir assim, com apenas 41 anos, com tanto para criar, ainda por cima de uma forma  completamente solitária, numa falésia a tirar retratos (fiquei a pensar que também eu já tenho corrido riscos, sem me aperceber, por causa de uma ou outra fotografia)...

O Mau Hábito dos Políticos de Mentir


Gostava que o antigo ministro, Mário Lino, fosse condenado pelas "cambalhotas" que tem dado no processo, "face oculta". É uma falta de respeito para com o país, com a justiça, e claro, para todos nós, que ainda queremos acreditar que Portugal é um Estado de direito.

A possível "vexação" da abertura de um processo-crime por alegadas falsas declarações, não é suficiente. É preciso acabar com o mau hábito dos políticos de mentir.

O importante é que ele seja responsabilizado e acusado criminalmente, para que as coisas comecem mesmo a mudar na justiça, como parece ser vontade da ministra.

Claro que se olharmos para o funcionamento da justiça, para a diferença abissal que existe entre acusações e condenações de gente com poder, é uma ideia quase utópica, mas... 

Neste caso particular era bom que isso acontecesse, para que o senhor percebesse que os "camelos" não somos nós, e não me refiro apenas a quem mora no "deserto" da Margem Sul.

quinta-feira, maio 10, 2012

Constatações...


Noto que nos últimos dois meses o número de visitas ao "Largo" duplicou, das mais de duas centenas, passou para as mais de quatro.

O mais curioso é que o número de comentários tem diminuído.

Para mim a essência dos blogues são os seus comentadores. Os visitantes que passam sem deixar rasto, apenas contam para a estatística...

Esta conversa vem a propósito de uma outra conversa, com um dos meus amigos, que abandonou a blogosfera há quase um ano. Ele recebia mais de mil visitas diárias, mas os comentários eram uma raridade, o que o deixava aborrecido e ajudou a que abandonasse este espaço virtual.

Claro que não estou a pensar em abandonar a blogosfera, mas que este fenómeno é estranho, lá isso é. Vêm os visitantes, vão embora os comentadores...

O óleo é de Tom Bouchier.

quarta-feira, maio 09, 2012

A Puberdade


O Parque das Caldas da Rainha tem uma bela colecção de esculturas da autoria de Simões de Almeida.

No domingo ainda dei lá uma saltada e parei na "Puberdade". Fiquei por ali, a olhar, para perceber até que ponto aquela imagem estaria bem representada.



Pensei que a Puberdade, embora seja uma palavra feminina, está longe de ser coisa apenas de meninas (eu que o diga que tenho um catraio com catorze anos em casa...).

Tirei alguns retratos, que reproduzo, apenas com uma certeza, o modelo feminino  reproduz de uma forma mais fiel, a "Puberdade"... 

segunda-feira, maio 07, 2012

A Professora de Sorrisos




Não sabia que podia haver alguém cuja ocupação principal fosse ensinar a sorrir.


Só quando me "fizeram um desenho" é que percebi que os modelos, masculinos e femininos, "vivem" muito do saber sorrir para as câmaras de filmar e de fotografar... 


Eu sabia que nem todos os bonecos e bonecas são espontâneos e tratam as "máquinas" por tu, mas daí até terem uma professora ou professor...


Pensei logo em escrever qualquer coisa sobre a bela profissão da Susana, ensinar a sorrir.

domingo, maio 06, 2012

Obrigado, Mãe!


O óleo é de Trent Gudlundsen.

sábado, maio 05, 2012

Os Aviões de Papel


Achei curioso um dos meus sobrinhos ao falar da sua meninice, lembrar-se de fazermos aviões de papel, que voavam mesmo.

Até explicou à "plateia" divertida qual era o segredo que eu lhe ensinara para os aviões planarem mais no ar.  Mas explicou de forma prática. Foi buscar uma folha de papel A4 e teve a preocupação de criar uma espécie de "planadores" na ponta das asas...

E depois colocou o avião a voar. E como era hábito ele voou mesmo uns metros, não fez um daqueles voos atabalhoados, na direcção do chão...

O óleo é de Giovanni Dalessi.

quinta-feira, maio 03, 2012

Deslumbramentos...


A palavra deslumbramento tem tanto de bonita como de perigosa. Basta dizer que "navega" entre a ilusão e a desilusão...

Nunca fui muito de deslumbramentos (provavelmente por medo...), nem nunca vivi (nem vivo) muito iludido com as coisas, apesar de ser optimista por natureza.

E se há coisa que detesto é que me "passem a mão pelo pelo", que digam coisas que eu sei que não sou, que me tentem "levantar ao ar e aproximar da lua", quase sempre por "razões que a razão conhece"...  

Como me olho ao espelho todos os dias, sei que não sou aquele que me querem pintar. É nestes momentos que descubro que sou muito terra a terra e que não preciso de palcos para ser feliz. 

Claro que isto também tem o seu "lado negro", há sempre alguém à nossa beira, preparado para aproveitar uma boleia e subir por nós acima, deslumbrado por qualquer coisa que não vislumbramos...

O óleo é de Avetis Khachatryan.

quarta-feira, maio 02, 2012

Adeus Fernando... (1935 - 2012)



Conheci Fernando Lopes graças ao jornalismo, quando o entrevistei para o "Record", em Março de 1992.

Além de um excelente conversador, o Fernando era extremamente culto e um dos melhores realizadores do cinema português.

Da sua obra destaco o "Belarmino" e "O Delfim", grandes filmes em qualquer parte do mundo.

Em sua homenagem vou transcrever uma das suas respostas a uma das perguntas que lhe fiz:

- A tragédia humana dos ídolos é o que mais resulta como filme?

- No caso do Belarmino era de tudo mais a riqueza humana que ele tinha.
Se pensar no Vitor Baptista, é uma espécie de Belarmino no futebol. Eles não são a preto e branco, têm muitas "nuances". Eventualmente, ele explorou, mas foi mais explorado que explorador. E tinha tudo contra ele, o semianalfabetismo, a miséria. A favor, só a cara e um talento para o boxe fora de série. Se olharmos para o Eusébio, ele ficou aquém do que devia.
É acusado de muitas coisas, mas nós devemos-lhe muito mais do que ele nos deve a nós. Devemos-lhe quase tudo e pagámos-lhe pouco.

Nós também te devemos muito, Fernando...

A Miséria Portuguesa Bem à Vista (Sobretudo Moral) no 1º de Maio


Não tenho muitas palavras para definir este patronato, que já nem o Dia do Trabalhador respeita.

Muito menos palavras tenho para com as pessoas que foram atrás dos "doces" oferecidos pelo senhor que fala holandês e polaco, quando se trata de negócios.

Sei que as dificuldades fazem com que as pessoas tenham preço, mas mesmo assim, não percebo esta "loucura", este passar horas em filas, desvirtuando tudo aquilo que foi conquistado durante mais de um século, por homens que comeram o "pão que o diabo amassou", e mesmo assim, não desistiram de lutar por uma sociedade mais justa.

A única certeza que tenho é que o "pingo doce" será uma loja a evitar.

Das poucas coisas que achei piada neste Primeiro de Maio, foram os cartazes do MRPP, tão "prequianos"...

terça-feira, maio 01, 2012

Tentar Fintar a Realidade com as Histórias de Papel...


Os domingos e os feriados são os dias em que posso dormir mais um pouco, mas isso raramente acontece. Sou quase sempre "acordado" por acontecimentos ou personagens que querem saltar dos sonhos para o papel.

Umas vezes escrevo um ou outro apontamento no caderno que faz companhia aos livros de mesa de cabeceira, outras levanto-me e tento ir mais longe e construir algo mais sólido no computador.

Foi o que aconteceu hoje. Ao ser acordado por uma "personagem", que me ofereceu pistas tentadoras para a história, da sua vida e dos outros que o rodeiam. Disse-me textualmente que o meu desafio era conseguir que ele "sobrevivesse"...

Mas não pensem que ele surgiu do nada. Apareceu pela primeira vez durante a conversa de almoço na passada quinta-feira, muito bem caracterizado por uma amiga, com um cargo administrativo num hotel, preocupada com a "personagem". Tratava-se de um cozinheiro de baixa, completamente derrotado pela vida, pois em menos de um ano perdeu o filho e a mulher (verídico...). E todos tinham medo do que ele poderia fazer, pois mesmo com a mulher a seu lado, dizia que nada o prendia à vida...

Comecei a escrever e em apenas uma hora consegui arranjar argumentos suficientes para a sua "sobrevivência" neste mundo.

Gostava de ter tempo e espaço para lhe oferecer uma história a valer, mas não sei se ele me voltará a bater à porta...

O óleo é de Alexey Terenim.