sexta-feira, fevereiro 28, 2014

O Jogo da Vida


Saia de casa depois do almoço e com o seu andar vagaroso dirigia-se à sede da sua Colectividade.

Pedia um café e sentava-se junto a uma das mesas, acompanhado do tabuleiro e das peças de xadrez.

Ficava por ali, em silêncio, à espera do jogador que nunca chegava, porque aquela malta preferia as cartas e o dominó...

Às vezes imaginava a filha, antes de crescer e tornar-se mulher, à sua frente, a querer ganhar-lhe a partida.

Com os olhos a brilharem,  quase que sorria, abraçando o silêncio. 

O silêncio era um amigo e um adversário, para quem inventava um ou outro xeque-mate.

Olhava o relógio antes de arrumar o tabuleiro e ir embora. 

Já na rua, dizia para os seus botões, que a Primavera nunca mais chegava, para finalmente puder mudar de cidade...

O óleo é de Tony Luciani.

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Somos umas Bestas e uns Cobardes


Hoje fui almoçar com a minha mãe, às Caldas. Como de costume, passámos o tempo à conversa, sem ligar a televisão, mesmo na hora das notícias...

Se tivéssemos ouvido as notícias, sabíamos que hoje foi divulgado um estudo sobre a violência exercida sobre os idosos, que revelava que a família está na primeira fila dos protagonistas destes actos sem classificação, exercidos sobre quem não se pode defender.

As pessoas que deveriam estar na primeira fila para os proteger, família e vizinhança, são os primeiros a abusar da sua posição e da proximidade, o que faz com que estes raramente denunciem os maus tratos de que são vitimas, por medo de represálias e também por vergonha...

Desde há muito que sei que somos um país de cobardes, gente que gosta de bater nos mais fracos (crianças, mulheres e velhos...) ou naqueles que estão no "chão"... Gente que me mete nojo.

O óleo é de Suzanne Valadon.

terça-feira, fevereiro 25, 2014

Somos Meros Objectos nas Mãos de Políticos Desonestos e Mentirosos


Sei que me repito muitas vezes nos adjectivos que utilizo para caracterizar a generalidade dos políticos (que se me lerem, devem ficar muito ofendidos, porque usam sempre espelhos especiais que só lhes mostram o que querem ver...).

Mas não posso dizer outra coisa de quem passa a vida a prometer o que não pode, ou não quer cumprir.

Estas palavras vêm a propósito de alguns comentários suscitados pelo livro que escrevi sobre a Lisnave. Quando se falou das razões do seu fecho, um antigo funcionário disse que o descontentamento das pessoas que moravam nas imediações (pela poluição que provocava...) tinha tido algum peso. Discordei de imediato, até por ser morador na antiga Quinta da Alegria, o espaço habitacional mais próximo dos estaleiros. Nunca circulou qualquer abaixo assinado para correr com a Lisnave, muito menos se fez qualquer tipo de manifestação. Ou seja, não tivemos nenhum peso no encerramento dos estaleiros.

Se nós, cidadãos, não conseguimos parar esta "febre" de fechar coisas tão importantes (e não é por não se sair para a rua a protestar) como uma escola, um centro de saúde ou um tribunal, provocando ainda mais desemprego e e menos actividade económica nas nossas cidades, como poderíamos ter alguma influência no fecho de uma empresa, vitima de tantas manipulações, ao longo dos anos, especialmente dos seus administradores?

É por tudo isto que continuo a pensar que somos meros objectos nas mãos de gente pouco séria, que faz tudo para se manter no poder. 

O único acto democrático que depende apenas de nós são as eleições. É aqui que podemos fazer a diferença. Mas infelizmente a maioria das pessoas, completamente desiludida, não vai votar, ignorando que ao fazer isso está a beneficiar as forças políticas mais fortes...

A fotografia é fresquinha, tem apenas dois dias...

segunda-feira, fevereiro 24, 2014

«Sinto que não tenho vida.»


Quando uma mulher nos diz, com alguma serenidade: «sinto que não tenho vida.»

Perante a nossa perplexidade, adianta que se limita a sobreviver como pode, e como lhe deixam, saindo de casa apenas para trabalhar ou para ir às compras.

Continua os seus desabafos, afirmando que há anos que não vai ao cinema, ao teatro ou a um baile, ela que em nova gostava tanto de dançar.

Digo-lhe que não é velha, pois tem pouco mais de cinquenta anos.

Finge que não me ouve e acrescenta que quando olha para dentro de si, descobre não ter nada de relevante para dizer. 

Embora não seja uma mulher feia, demonstra não sentir qualquer interesse em se relacionar com alguém. Diz com um sorriso nos lábios que um homem foi suficiente para lhe dar cabo do juízo. 

«Afinal tenho uma coisa na vida, paz...», deixando-me sem palavras.

O que mais me incomodou neste quadro, foi ver esta mulher, apesar de consciente do vazio dos seus dias, completamente rendida à sua vidinha, sem ter vontade para alterar o que quer que fosse...

O óleo é de Lortiwa.

domingo, fevereiro 23, 2014

Lisboa, Cidade Triste e Alegre


Tenho cá em casa, por empréstimo de um amigo, o célebre livro de Victor Palla e Costa Martins, "Lisboa, Cidade Triste e Alegre", a primeira edição de 1959, com as páginas amarelecidas pelo tempo...

Foi feita uma segunda edição há uns dois anos, mas uma boa parte dos seus exemplares foram comprados por alfarrabistas, que acabaram por inflacionar o seu preço (tal como fizeram com "Servidões", de Herberto Helder) e eu achei que não devia desembolsar 90 euros pelo belo livro...

Já o tinha folheado antes, mas sem o poder apreciar página a página.

O que mais me impressiona é a forma como foram tiradas quase todas as imagens, com uma Lisboa - e as pessoas que aparecem nas fotografias - "distraída", como é a vontade de qualquer fotógrafo que se preze...

Gostei particularmente do texto em prosa de José Rodrigues Miguéis, do qual transcrevo um parágrafo:

 «Lisboa – dizia-me um poeta que há vinte anos morreu inédito e tuberculoso, como cumpre a todos os génios desta freguesia dos Mártires – é uma ilusão cubista, esta espuma no ar, toiradas, gritos, pregões, o Fado: só os marujos e os operários lhe dão realidade e personalidade. De resto, quem somos nós? Vagabundos que vamos pela orbe sem destino certo, ou ficamos por esses becos a sonhar grandezas, a arranhar a banza, a vomitar os pulmões de mistura com pragas e endeixas… Os que não envelhecemos numa loja obscura a vender panos!»

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

A Festa das Artes da SCALA


Amanhã é inaugurada a Festa das Artes da SCALA, na Oficina de Cultura de Almada.

Esta mostra de arte abre as comemorações do 20º Aniversário desta Associação Cultural Almadense, da qual faço parte, com muito orgulho.

Participo com quatro fotografias (que podem ver no meu "casario"), todas elas com o Tejo dentro. Desta vez resolvi "adulterar" um pouco as suas cores naturais.

Uma delas é esta: "Partir..."

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Uma Boa Notícia


Manuel Jorge Marmelo, escritor e jornalista, foi o vencedor do "Prémio Literário Casino da Póvoa", atribuído durante as "Correntes d' Escrita" que decorrem na Póvoa do Varzim.

Uma boa notícia para um excelente jornalista e escritor do Norte, actualmente no desemprego.

Quem não conhece a escrita do Jorge, pode visitar o seu  "Teatro Anatómico" em qualquer altura...

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

A Amante do Dono da Sapataria


O tempo em que era moda ter uma amante já passou, pelo menos nos moldes antigos, do velho "reino" do Estado Novo. 

Qualquer empresário que se prezasse, instalava num apartamento uma mulher vistosa, jovem, para exibir junto dos amigos.

Tenho quase a certeza que que uma boa parte destes patrões, tinham mais prazer em "mostrar" que em "possuir"... 

Lembrei-me disto porque assisti hoje a uma cena de rua que me fez lembrar uma fita italiana: uma mulher insultava uma jovem, que pela sua conversa era a amante do marido, dono de uma sapataria... 

Sorri por várias razões, até por não ter vocação para "voyeur". Não fui capaz de parar, apesar da conversa ter um vocabulário riquíssimo, ao contrário das pessoas que já começavam a fazer uma roda...

O óleo é de Ophélia Redpath.

terça-feira, fevereiro 18, 2014

A Descoberta da Mulher


Conheço-a há mais de vinte anos, desde os seus tempos de menina.

Assisti ao seu crescimento e a alguns dos seus dramas, de passagem, como a sua gravidez precoce (conseguiu ser mãe uns meses antes de eu ser pai, apesar de eu lhe levar quase vinte anos de avanço...).

O mais curioso, é que nunca deixou de ser menina aos meus olhos, até hoje, quando me cruzei com ela e com a mãe, em que trocámos ambos um bom dia e um sorriso.

Finalmente descobri a mulher, por sinal bem gira. 

Tinha de acontecer depois dos trinta, quando as mulheres realmente se tornam mulheres.

Nós homens temos a vantagem de poder continuar a ser rapazes, ainda para lá dos cinquenta...

O óleo é de Lorraine Lewitzka.

domingo, fevereiro 16, 2014

O Meu Mar Nunca foi Chão


Quando olho para o Mar que mora dentro de mim, nunca o encontro parado,  quase a querer imitar a lassidão de um rio. 

Sei que a culpa é da minha praia da infância (e de sempre...) a Foz do Arelho, com um mar selvagem diário, povoado de sons e ondas fortes, distantes de qualquer "canto de sereia".

Foi naquela praia atlântica que percebi que o Mar é quase como nós, precisa de espaço para se expandir e para libertar toda a sua raiva.

Nas praias com menos agitação foi muito mais fácil ignorar a sua verdadeira natureza, selvagem, não o levando a sério, nem mesmo nos dias em que se mostrava irritado. Convencimentos de quem se julga "senhor do mundo"...

Alguns "iluminados", mais atrevidos e endinheirados, até foram capazes de construir casas nas praias (com a manha de um dia poderem transformar o areal mais próximo em praia privada...). com a complacência das autoridades, que raramente se  esquecessem de mostrar o seu "preço" num lugar visível.

Até que chegou, não um, mas vários dias  para o "ajuste de contas"...

O óleo é de Daniel Pollera.

sábado, fevereiro 15, 2014

Outras Interpretações


Estava à conversa com um amigo pintor sobre arte e, entre outras coisas, ele queixou-se do olhar distorcido dos outros em relação aos seus quadros, da dificuldade que tinham em interpretar aquilo que para ele parecia tão evidente.

Claro que não era assim tão evidente. Ele devia perceber (mais que eu...) que a gente das culturas gosta de olhar à sua volta de maneira diferente.

Foi então que lhe falei das palavras, que normalmente não são tão subjectivas como um quadro e também têm sempre mais que uma interpretação. 

Por muito errado que nos pareça, não podemos fazer nada para impedir os outros de colocaram palavras e sentidos inexistentes, naquilo que foi criado por nós. Quanto muito podemos oferecer-lhes a nossa "explicação dos pássaros"...

O óleo é de Loui Jover.

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

O Mistério das Vozes da Rádio


Hoje que se comemora o Dia Mundial da Rádio, não resisto a contar a história de um homem que ao longo da sua carreira radiofónica, só quis ser mais uma voz da rádio.

Bem parecido, foi vitima de assédio e sedução, em muitas tentativas de namoro da sua irmã mais nova, mas bem mais vistosa, que todos conhecemos como televisão. Disse sempre que não. 

Percebe a rapaziada mais nova que aceita dar o "salto" para o pequeno écran (bem mais agradável em termos monetários...), porque hoje a popularidade é bem diferente, tem outro peso.

Ele preferiu manter o mistério, nunca quis ser mais que uma voz. Nem nunca deu qualquer entrevista às revistas de todas as cores, que se vendem por aí.

Sabe que se fosse hoje, era impossível manter a discrição que fez parte do seu dia a dia. Não conseguia ser apenas uma voz...

O óleo é de Ana Perpinya.

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

O Café Sabe-me Melhor com o Frio


O café sabe-me melhor de Inverno, com o frio, e até com a chuva.

Uns dias entro quase de rompante no café, depois de fechar o chapéu, mais encharcado que eu, chegou-me ao balcão e peço um café. Olho para os lados, vejo pessoas de todas as idades, quase todos desconhecidos.

Outros dias entro calmamente, acompanhado, ocupamos uma mesa e ficamos por ali, a saborear a comida, a conversa, pelo menos até chegar o café e a conta...

Sempre o café.

O óleo é de Boyko Kolev.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Ruas e Praças da Memória


Hoje encontrei-me com um companheiro de infância, que não via há mais de vinte anos, num daqueles acasos que por vezes nos acontecem.

As Caldas da nossa infância e adolescência libertaram-se e andámos pelas suas ruas e praças, povoadas de gente. Gente que já não me lembrava que existia...

Reparei, mais uma vez, que sou melhor a recordar lugares que pessoas. Até falámos do tempo em que as feiras de S. João e de 15 de Agosto se realizavam na Mata da Rainha...

Foi uma boa ideia aceitar o seu convite para almoçarmos numa tasca acolhedora, em vez do restaurante que alguém tinha escolhido previamente. Falamos de coisas deliciosas, que as outras pessoas que estavam connosco, provavelmente, não iriam achar piada nenhuma.

O óleo é de Cláudio Caixeta.

domingo, fevereiro 09, 2014

À Procura da Stephanie nas Ondas


Gosto do Mar, vivo, com voz e movimento. Mas isso não quer dizer que goste dele quando se exalta e perde a cabeça, em dias de tempestade como o de hoje.

Sinto que ele fica  desnorteado  e com "cara de poucos amigos", dispensando a minha companhia. Embora goste de fotografia, não descubro grande beleza nestes dias cinzentos, até pela falta de contraste de cores... mas há gostos para tudo.

Ou seja, não andei de todo à procura da Stephanie, mesmo sabendo que se ela aparecesse junto das ondas,  vinha como Deus a colocou no mundo...

O óleo é de Feliks Wygrywalski.

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Temos Medo de Quê?


Não sei se o "mundo virtual" terá alguma coisa que ver com a perda de autenticidade, e até de identidade, de todos nós. Parece que nos tornámos (ou nos estão a querer tornar...) "máquinas de repetição".

Não basta pensar na mudança dos tempos, que segundo a quase velha cantilena, que atrás destes tempos, outros tempos hão-de vir...

Fico com a sensação de que nos estamos a transformar nuns medrosos e cobardes.

Temos medo de quê?

A ilustração é de Loui Jover.

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

O Amor não Resiste a Tudo


Todos sabíamos que o amor não resistia a tudo, nem mesmo nos livros e filmes, quanto mais na vida...

Mesmo os aprendizes de poetas como o Raul, eram incapazes de contrariar esta tese.

Raramente falávamos de amor, mas a Rita trouxe para a mesa um caso concreto: um casal com dois filhos que todos conhecíamos de vista e parecia ter um casamento indestrutível, mas que, como tantos, não conseguiu resistir a um ano e alguns meses de desemprego do chamado  "chefe de família"...

O exemplo era sintomático: dois bons empregos que alimentavam uma boa casa, dois carros, colégios privados para os filhos, férias fora do país, etc.

Até que a crise resolveu desmoronar aquele "mundo", pintado com cores suaves e bonitas. 

A inscrição dos filhos no ensino público e a venda de um dos carros, foram apenas o primeiro sinal da mudança de vida. Com a redução sucessiva do ordenado da esposa, professora (e do subsídio de desemprego dele...), o pagamento do empréstimo da casa tornou-se incomportável. Perante aquele cenário, não foi difícil culpar o homem da casa de todos os males, que não fazia nada, que não saia de casa para procurar emprego, etc, até se chegar à inevitável separação...

Este é apenas um caso entre milhares, de gente que perdeu quase tudo, até o amor, por causa de uma crise, que pode muito bem ter sido inventada, pela gente que ama o dinheiro acima de todas as coisas...

A ilustração é de Loui Jover.

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Somos Tão Fáceis de Embalar


A tolerância que temos para com os governantes mais incompetentes e mentirosos, desde Abril de 1974, é a maior prova de que somos muito fáceis de embalar...

O Salazar, com a sua voz de falsete, quase "piegas", a querer tocar no coração dos portugueses (pobres e ignorantes...), e por vezes a conseguir fazer chorar as pedras da calçada, é a inspiração do nosso actual primeiro-ministro.

Não é arrogante como Sócrates, que despertou ódios em quase todas as franjas da sociedade, porque lhe faltou modéstia e bom senso, entre outras tantas coisas.

Nunca houve um governo que cometesse tantos erros, alguns demasiado graves, sem rolarem cabeças e sem se encontrarem responsáveis. Aliás eles encontram sempre um único responsável: o tal Sócrates de má memória e de costas largas.  

Algumas pessoas  acham, de certeza, que na venda dos quadros do Miró, no acidente do Meco, no "roubo" das bolsas a investigadores, no aluguer dos estaleiros de Viana do Castelo, há ali dedo de Sócrates...

Claro que estas "cantigas de embalar" têm a cumplicidade da maior parte dos comentadores televisivos, radiofónicos e da imprensa, que nunca despem a camisola laranja. Sem falar da complacência de alguns jornais que já foram de referência...

A ilustração é de Loui Jover.

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Dia Molhado


Hoje esteve um dia típico de Inverno, com chuva e vento, óptimo para destruir os chapéus mais frágeis e menos preparados para entrar em qualquer "batalha" com o sopro desnorteado da natureza.

Quase tomei banho à tarde. Quase...

À noite também vou ter de sair. Talvez já seja tempo de tréguas...

A ilustração volta a ser de Loui  Jover, claro.

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Tropeçar no Talento


Há várias coisas que me fazem gostar de arte e de artistas. A principal talvez seja a originalidade. Depois há a cor, o traço, a temática...  

Curiosamente, a descoberta de Loui Jover, fez com que ficasse muito agradado com a sua criatividade e também simplicidade.

É por isso que vou voltar ao talento de Jover, durante a semana...

sábado, fevereiro 01, 2014

«Sabes uma coisa? Estranhamente, senti-me aliviado de bolsos vazios.»


Eram dois, pediram-lhe a carteira e ele começou a rir-se quem nem um perdido.

Puxaram de uma navalha e encostaram-na ao seu pescoço, com cara de maus rapazes.

Olhou-os nos olhos e sem os levar a sério, disse que não usava carteira e que o único dinheiro que tinha, estava nos bolsos.

Um apalpou-o de alto a baixo, o outro aliviou-lhe o pescoço, pedindo-lhe de seguida para despejar os bolsos.

Fez-lhes a vontade e entregou-lhes uns míseros 3 euros e 75 cêntimos, que estavam longe de o envergonhar.

Os dos rapazolas olharam um para o outro e começaram a rir. 

Quando se preparavam para virar costas ele lembrou-lhes do assalto:

«Então, não querem o dinheiro?»

Sem pararem de rir, pegaram nas moedas e despediram-se com um boa noite.

Parecia que não tinha perdido o sorriso desde então, quando me disse: «sabes uma coisa? Estranhamente senti-me aliviado, de bolsos vazios.»

O óleo é de Stephen Conroy.