terça-feira, dezembro 29, 2009

«Quero ser Grávida!»

Acabara de entrar numa pastelaria/ padaria, para comprar algumas bolas, quando reparei que um homem mais novo que eu interpelava uma miúda, que deveria ter uns seis, sete anos, acompanhada da mãe.

A pergunta seguinte foi se tinha irmãos. Não foi ela que respondeu, mas sim a mãe: «ela bem queria, mas...»
Apesar da intervenção da mãe, a miúda não deixou de responder à sua maneira: «quando for grande quero ser grávida.»
Foi a maneira simples e bonita de dizer: «quando for grande quero ser mãe».
Todos acabámos por sorrir, embora este tempo não seja para filhos, porque nos tornámos mais egoístas e a vida está cada vez mais difícil, principalmente nas grandes cidades.
Embora alguns puritanos insistam, que todas as grávidas são bonitas, há umas mais bonitas que outras como é o caso de Mónica Bellucci, nesta fotografia.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

"Grades" Entre o Tejo e Lisboa

Parecem grades, mas não o são, muito menos pilares.

É apenas um gradeamento de protecção para todos aqueles que tem vontade de voar quando se aproximam de qualquer "abismo"...
E o Tejo fica assim, depois de uma noite ventosa, em que as suas águas se transvestem de "mar" , com ondas...
Calmo, quase chão, onde apetece caminhar por cima, como se não passasse de uma estrada azul...

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Natal à Beira-Rio


Passo o Natal, quase à beira-rio, foi por isso que escolhi este bonito poema de David Mourão-Ferreira, com o desejo de Boas Festas, para todos vós que aparecem aqui pelo "Largo"...


NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Movimentos Quase Loucos

Aproxima-se o Natal e a febre continua intacta. Não há crise que resista aos comboios de presentes. A partir do dia 20 é uma "tragédia grega" precisarmos de comprar qualquer coisa e termos de nos enfiar em qualquer catedral do consumo.
Para estacionar o carro, no parque de dois pisos e de muitos lugares, é preciso um golpe de sorte, estar alguém a sair, para evitar voltas e mais voltas ao quarteirão, que quase parece a 2ª circular.
Jesus pode não ter nascido para isto (de certeza que não...), mas o Pai Natal foi criado exactamente para este "febrão"...
Escolhi a "Grande Natureza Morta com Mesa de Pé de Galo" de Picasso, nem sei porquê...

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Nem Tanto ao Mar Nem Tanto à Terra

Os "profetas da desgraça" do regime não param, desdobrando-se em entrevistas, aqui e ali. Depois de Medina Carreira foi agora a vez de António Barreto...

Gosto bastante de o ler, mesmo que nem sempre concorde com o que diz.
Mas acho que desta vez ela passou todas as marcas, ao dizer que a justiça era melhor no anterior regime que neste nosso tempo.
Melhor em que aspecto? Mais justa? Não, de maneira nenhuma. Quanto muito seria mais rápida porque as pessoas tinham medo dos tribunais e dos juízes e só lá entravam em última instância (caminhamos para aí...).
O António esqueceu-se dos muitos atropelos, das pessoas que eram presas sem culpa formada (e não estou a falar apenas de presos políticos). Alguns polícias no regime fascista achavam-se no direito de prender quem lhes apetecesse, apenas porque sim. E alguns juízes, de condenar, pelas mesmas razões, porque sim...
E nem vou falar das diferenças constitucionais. Provavelmente temos uma Constituição que é das mais justas e igualitárias do mundo.
Claro que a justiça está em crise e é injusta, pela forma desigual como trata as pessoas, embora este peso seja definido mais pela "habilidade" dos advogados em fintar a lei, que propriamente pelos juízes (embora se perceba pelas suas decisões, tornadas públicas, que há muitos que escolheram a profissão errada)...


O óleo é "Narcissus" de Caravaggio, próprio para quem se acha muito bom, esquecido de que também já foi governante, e nem sempre com resultados brilhantes...


quarta-feira, dezembro 16, 2009

Choveu Mas Não Nevou...

A noite estava fria, os informadores da televisão diziam que era a mais fria do ano (não sei porquê... aliás nunca se sabe muito bem porque razão eles falham tanto na brincadeira do tempo...).

Quando começou a chover, no começo da noite, pensei que poderiam cair alguns flocos esbranquiçados em Almada, apesar de estar farto de saber que o Tejo não está muito para aí virado...
Fui à rua, ver como era a chuva. Só isso. Não tenho cão para passear (se tivesse não seria boa ideia, levá-lo para o "gelo") nem cigarros para fumar...
Era chuva molhada, apenas isso...

sábado, dezembro 12, 2009

Homens com Dificuldade em Aceitar a Realidade

A Sociedade está em mudança. Não tenho dúvidas de os homens serão irremediavelmente ultrapassados nos próximos anos pelas mulheres, no mundo laboral e social, porque sempre tiveram a vida demasiado facilitada, numa sociedade profundamente machista.

Basta olharmos para as universidades e verificarmos que as mulheres além de serem em maior número, também são melhores alunas.
Sei que os casos de violência que aparecem quase todos os dias nos jornais e televisão, ainda não se prendem com estas mudanças na sociedade. Contudo, se o homem continuar a não aceitar que o mundo mudou, que a mulher tem os mesmos direitos que ele, teremos tempos complicados num futuro próximo...
Conheço vários casos de homens da minha geração, que não aceitam que as mulheres tenham vencimentos superiores aos seus. Algo que se tornará normal daqui a poucos anos, se pensarmos que as pessoas mais qualificadas devem ter melhores vencimentos...

O óleo é de Alexey Tkachev.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Qual é a Novidade?

Já percebi que Medina Carreira gosta de ser usado quase como um "bobo da corte", pela nossa comunicação social. Quando precisam de alguém para dizer mal do que quer que seja, lá aparece ele...

Convidado na tertúlia "125 minutos com...", do Casino da Figueira da Foz, disse sobre as "Novas Oportunidades":
«(Os Alunos) fazem um papel, entregam-no ao professor e vão-se embora. E ao fim do ano, entregam-lhe um papel a dizer que têm o nono ano (de escolaridade). Isto é tudo mentira, enquanto formos governados por mentirosos e incompetentes este país não tem solução.»
Qual é a novidade?
Curiosamente, o "saltitão" do desenho do grande Rafael, até se parece com o "prof", principalmente no narizito e na falta de cabelo...

terça-feira, dezembro 08, 2009

Grande Escolha

Fiquei extremamente satisfeito por saber que a Maria João Seixas foi nomeada directora da Cinemateca Portuguesa.

Fica a ganhar o cinema, e todos nós, claro.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

O Animal Político

Mário Soares fez hoje oitenta e cinco anos.

Embora nunca tenha feito parte do núcleo restrito dos meus políticos de eleição, reconheço que é uma figura incontornável da democracia portuguesa.
Ao ler a sua entrevista de hoje no "I", percebi que continua com uma grande vitalidade intelectual. E a não perdoar quem o confronta (conheço algumas vítimas...). Manuel Alegre é o último caso...
Andava a deitar fora alguns papeis quando deparei com uma frase de António Barreto, publicada no "Público" de 31 de Agosto de 1997, que é um bom espelho, apesar de incompleto:
«Estar no sitio certo é, muitas vezes, melhor que ter a força necessária. A sorte é mãe de quem se põe a jeito. Nisso Soares foi mestre. Escolheu os seus tempos e os seus sítios com notável intuição.»

sábado, dezembro 05, 2009

Dois Defeitos Imperdoáveis...

À medida que o tempo passa, percebo com mais nitidez que tenho dois defeitos "imperdoáveis", pelo menos para boa parte das pessoas: ser terrivelmente pontual e gostar de pensar pela minha cabeça.

O primeiro causa-me disabores até cá em casa...
Quando fazia jornalismo "de jornal", apanhava secas que não lembravam a ninguém. Gente entre o conhecido e o famoso que fingia não ter relógio (os piores que apanhei foram de futebolistas, ditos "consagrados"...). Nunca esqueci - até por ter sido uma das minhas primeiras entrevistas - a seca que levei de Fernando Gomes, o "bi-bota de ouro". Quase três horas, e depois de aparecer, não sabia se lhe apetecia ser entrevistado...
Continua a haver gente que não consegue marcar uma hora, e para se defenderem, dizem: «apareço a partir das 10 horas.» Segundo a sua "filosofia" temporal, as 12 horas ainda estão no horário...
O segundo não é melhor...
Isto de eu ter a mania de pensar pela minha cabeça também dá cabo do juizo a muitos "carneiros" que andam por aí, e que não percebem que a nossa cabeça serve para pensar, de preferência, individualmente.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Histórias que Saltam das Janelas para a Rua

As histórias aparecem-me por todo o lado. Agora até já saltam das janelas e aparecem-me pela frente, a pedirem-me que lhe pegue e acrescente um ponto, e outro, e ainda mais outro, para que se torne um conto...

E estou a gostar, já tenho mais de uma dúzia, talvez para um livro, cheio de gente do meu quotidiano. As coisas estão a surgir sem pressas, o problema são as janelas abertas, que multiplicam as ideias...
Esta janela parisiense é de Marc Chagal...

terça-feira, dezembro 01, 2009

Dia da Libertação

O primeiro dia de Dezembro, de há trezentos e sessenta e nove anos, foi acima de tudo um dia de Liberdade, para Portugal e para os Portugueses.

Muitos dos que falam de uma "União Ibérica" conhecem mal o espanhóis e ainda menos os portugueses.
Para mim, bastaram-nos aqueles 60 anos de jugo espanhol, em que perdemos tanta coisa... no entanto não desistimos de ser portugueses e conseguimos a tão desejada independência.
Na segunda metade do século XVI, apesar de alguma decadência, ainda éramos uma das grandes potências mundiais. Tudo isso Espanha nos levou, usando-nos quase como carne de canhão para as suas "guerras", destruindo a nossa Armada...
Não voltámos a ser quem éramos, não aproveitámos muitas das oportunidades que tivemos. Além de vários reis de triste memória, ainda recebemos a triste combinação de sal com azar (Salazar)...
E mesmo com um Abril luminoso, nunca mais nos erguemos. De dependência em dependência, ainda buscamos a nossa identidade, com uma certeza, que vem do tempo de Viriato: apesar da proximidade geográfica, Lusitãnea é completamente diferente de Ibéria.
E porque o 1º de Dezembro de 1640 foi um dos vários dias da Libertação, que tivemos ao longo da nossa história, nada como este "25 de Abril" de Nikias Skapinakis, para colorir as minhas palavras.

segunda-feira, novembro 30, 2009

A Banalização da Vida Versus a Injustiça da Justiça

Ontem à noite estive a ver o "Cinderela Man", um filme que fala de outros tempos, de outro mundo, que curiosamente volta a aproximar-se de nós.

As filas para se arranjar um trabalho duro por um dia, o não ter comer para dar aos filhos, o deixar de pagar a renda, a água e a luz, infelizmente, começam a ser coisa do nosso tempo...
E depois as lições de dignidade dos pobres, que preferiam muitas vezes a fome a terem de roubar, como a que o "Cinderela" deu ao filho, obrigando-o a devolver o salame roubado no talho e a prometer-lhe que não voltaria a roubar nada, por esta não ser a solução, em nenhuma circunstância.
Isso fez-me voltar a estes nossos tempos, que dariam um filme ainda mais dramático, pois com toda esta crise de valores que nos rodeia, é muito difícil a qualquer pai dizer uma coisa destas. Ainda mais num país injusto e desigual como o nosso, em que todos sabemos que quem mais rouba é quem menos precisa e raramente vão para a prisão. E roubam sempre milhões. Milhões que também servem para pagar àquela meia dúzia de advogados vaidosos que já todos conhecemos, que gostam tanto de aparecer na televisão como de defender "ricos e poderosos". É evidente que estes advogados além de vaidosos também são "muito bons", pois conseguem livrar os seus clientes das maiores trapalhadas, como todos sabemos.

Virando a página, sem deixar a (in) justiça que se amontoa por aí, porque o facto da justiça ser injusta, transporta sempre uma série de sarilhos. Percebe-se que há cada vez mais casos de gente que acha que pode fazer tudo, com quase total impunidade, como foi o caso do "assassino de mulheres", que desta vez não se ficou por aqui, foi mais longe, pagando a brandura dos agentes da GNR com mais uma morte e um ferido (sim, um assassino como este tinha de ser imobilizado e algemado imediatamente, assim que foi preso, para não ter a tentação de usar o revólver escondido...), no interior do posto policial.
É esta mesma brandura (ou cobardia...) que permite que tipos como este continuem em liberdade, metendo medo a toda a gente, como se fossem "rambos". Agredindo as mulheres, os filhos, e até vizinhos, perante a passividade das próprias forças da autoridade, que aparecem quase sempre tarde demais, por não ligarem a uma palavra tão importante: prevenção.
É pena que as pessoas muitas vezes tenham de aprender, com o sacrifício da própria vida, como foi o caso do elemento da GNR, assassinado. Mas há regras básicas no tratamento que deve ser dado a criminosos...

domingo, novembro 29, 2009

Gaivotas no Tejo

Foi ontem no Ginjal que "agarrei" este voo de gaivotas.
Lembrei-me de um comentário da
Alice, com poesia e gaivotas, a quem dedico uma pequena parte do poema-fado, "Um Homem na Cidade", escrito por Ary dos Santos e cantado pelo Carlos do Carmo:

(...)
Sou a gaivota
que derrota
todo o mau tempo no mar alto
eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto.

E quando agarro a madrugada
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada
um malmequer azul na cor.
(...)

sexta-feira, novembro 27, 2009

Mistérios do Olhar

Por vezes cruzamos-nos com pessoas que olhamos com mais intensidade. Isso acontece por sentirmos algo especial no seu rosto, no seu olhar, que tanto nos pode lembrar alguém, como nos levar a pensar que seria interessante trocar algumas palavras e não apenas um olhar, com ou sem sorriso...

Ao descobrir o Espaço Llansol lembrei-me da primeira e única vez que nos cruzámos, e sem haver uma explicação aparente, trocámos um sorriso. Apenas e só um sorriso, por mais que um segundo.
Infelizmente as cidades não são aldeias onde há o hábito de falar, até com desconhecidos...

quarta-feira, novembro 25, 2009

Continua um Dia Estranho, Quase Sempre com Nuvens

O 25 de Novembro de 1975 nunca foi (nem será...) um dia claro e limpo como o 25 de de Abril de 1974.

Provavelmente por ainda hoje dividir muitos portugueses. Eu só posso falar do que leio e do que ouço. Aos treze anos teria de certeza outras coisas para pensar...
Sei que era urgente acabar com todos aqueles extremismos e oportunismos que abundavam de Norte a Sul, que estavam a aproximar o país de uma outra ditadura, esta de esquerda, mas...
Há muita gente que ainda não disse tudo... há outros que já disseram o essencial. Não deixa de ser curioso que por exemplo o coronel Vasco Lourenço afirme que foi traído pelo general Ramalho Eanes, que quis ficar com todos os louros da "festa". Mas o general não foi o único a ganhar, até o coronel Jaime Neves, sem esperar, já é general, ao contrário da maior parte dos capitães de Abril...
O golpe era necessário, mas nunca o retrocesso que se deu nos anos seguintes, inclusive a entrega do poder económico às "famílias" do salazarismo e do marcelismo, que voltaram a dominar a banca, a indústria, o comércio e o turismo.
A gaivota de Abril que voava (muito bem apanhada nesta fotografia feliz de Aníbal Sequeira) foi ferida numa asa e embora a maleita tenha cicatrizado, nunca mais conseguiu voar nem planar com total liberdade de movimentos...

terça-feira, novembro 24, 2009

Homens Cobardes Medrosos e Merdosos

As notícias não enganam, a pior espécie do "macho" continua a imergir por aí, um pouco por todo o lado.

Falo dos homens cobardes, medrosos e merdosos, cuja notoriedade social é baterem em mulheres.
Nunca como hoje a mulher foi tão vitima das frustrações e da cobardia de uma espécie de "machos" que ainda a olham como propriedade. E isso começa logo no namoro.
Só não percebo como é que as mulheres, que começam logo a levar "porrada" no namoro, casam com estas bestas. Será que acreditam mesmo que eles um dia mudam?
Como fui educado num ambiente em que homem que é homem, não bate em mulheres, isto é das coisas que me faz mais confusão neste novo milénio. Se há algo da qual me orgulho em relação ao meu pai, foi de nunca ter erguido a mão à minha mãe.
A ilustração é de Hart Benton.

segunda-feira, novembro 23, 2009

As Mesmas Histórias

José Alberto Carvalho disse na entrevista que deu hoje ao "J.Notícias" , entre outras coisas:

«Os jornais americanos lutam por ter notícias diferentes. Em Portugal tentamos ter todos as mesmas histórias.»
É uma coisa que também me irrita e vai contra todos os princípios que aprendi no curso de jornalismo que frequentei.
Nem sequer é uma coisa rara no nosso país, dois jornais, aparentemente concorrentes, publicarem o mesmo tema e a mesma fotografia na capa...
Além da tão necessária investigação, falta também originalidade ao nosso jornalismo.
E nem vou falar da televisão. Os chamados "jornais da tarde" não fazem mais que transcrever as principais notícias publicadas nos diários da manhã...

sábado, novembro 21, 2009

Música Sempre nos Deram (felizmente)

«Lá isso é verdade, música sempre nos deram à farta, não é de hoje nem de ontem», exclamava divertido o Necas, que com três mulheres lá em casa, sabia bem do que falava.
«E eu que sempre gostei de dançar ao som das suas músicas», respondia, divertido, o Silvino. «Ainda hoje danço tudo, tango, xá-xá-xá, valsa (rápida ou lenta), salsa, samba ou marcha».
«Só quero que me expliquem, como é que dois machistas como vocês, conseguem morar numa cidade que é governada há mais de vinte anos por uma mulher?» Questionava a dona Joana, exímia a chutar para canto e a defender as mulheres da malandragem.
Eles olharam uns para os outros e trataram de içar a bandeira branca...
Não sabia o que escrever para acompanhar este bonito óleo de André Derrain e saíram estes improvisos de café, naquele que é o café da Joana...

quarta-feira, novembro 18, 2009

A Essência do Nada

Na minha experiência de "conversador" noto que existem pessoas que adoram aprofundar a "essência do nada", ou seja conseguem questionar tudo, sem chegar a qualquer parte, certa ou incerta...

Em qualquer conversa por mais simples que seja, arranjam sempre maneira de ir ao encontro das discussões intermináveis, que tanto podem andar em busca do sexo dos anjos, como a tentar descobrir quem chegou primeiro ao mundo, o ovo ou a galinha.
São sempre pessoas a evitar, especialmente se a conversa for séria. Digo isto porque eles tem quase sempre o poder da "desconstrução", ao ponto de conseguirem fazer desaparecer em pouco tempo o "fio da conversa"...
Mestres desta essência? Alguns filósofos, com e sem escola, e claro, os nossos cronistas Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente...
o óleo é de Édouard Manet...

segunda-feira, novembro 16, 2009

Uma Estranha Duplicidade

Ao ver de uma forma transversal o programa televisivo "Ídolos", transmitido pela SIC, percebi com clareza que muitos dos nossos jovens são desprovidos de qualquer sentido autocrítico. Quando são confrontados com o júri, ficam muito espantados, especialmente quando lhe dizem que não sabem cantar. O mais grave é que eles além de fazerem figuras tristes, estão mesmo convencidos que são bons a valer...

Infelizmente a sociedade que emergiu do pós 25 de Abril tem-se alimentado muito deste "auto-convencimento", inclusive ao mais alto nível. Anda por aí um grande "carrocel" cheio de pessoas medíocres, que até têm conseguido chegar a ministros e deputados da nação, com os custos que todos nós sabemos...
Depois descobrimos pessoas inteligentes e cheias de talento que preferem a sombra e a calmia "às luzes da ribalta". São sempre extremamente competentes nas suas profissões mas raramente ambicionam a cargos de poder, para mal dos nossos pecados. Provavelmente precisavam de um pouco da vaidade que está entranhada nos genes deste jovens "candidatos a ídolos" de qualquer coisa...

Nada melhor que um Magritte para ilustrar esta "posta"...

sábado, novembro 14, 2009

À Procura do Codex 632

Agora que voltei às leituras sem obrigações, tive mesmo de abrir e ler as 550 páginas de "O Codex 632", de José Rodrigues dos Santos.
Nunca gostei de falar sem saber, pelo que sentia imperioso ler o autor, para perceber se estávamos diante de um "talento literário" ou de um simples "operário das letras". À medida que ia lendo, percebi que o Rodrigues era mesmo um operário, havia nas páginas do livro muito mais transpiração que inspiração.
Este livro também reforçou a minha opinião de que é uma estupidez escrever um livro quase com seiscentas páginas, quando metade é "palha", coisas perfeitamente acessórias e desnecessárias, mesmo num romance que quer ser histórico (pelo menos para mim enquanto leitor).
E nem vou falar de algumas frases de mau gosto que vão surgindo, de vez em quando, completamente fora do contexto...
Sei que a minha leitura não foi completamente isenta (antes de ler o livro já pensava que ia ser assim...), talvez exista algum preconceito contra alguns destes "jornalistas-escritores-estrelas de televisão" (a excepção é o Rodrigo Guedes de Carvalho), ninguém é perfeito...
Ainda na última conversa que tive com o meu irmão sobre literatura e religião (graças ao Saramago, claro... vende e farta-se de nos fazer dar à língua), percebi o facto de não conseguir desligar a personagem do escritor.
O João diz para não me preocupar por que isso nem sequer é grave e costuma acontecer com a maior parte dos críticos literários.

sexta-feira, novembro 13, 2009

No Fio da Navalha

Gosto desta expressão, literária e cinéfila, tão utilizada quando as pessoas fazem do risco o seu dia a dia.

Confesso que não gosto muito de andar "no fio da navalha", embora precise de alguma pressão para produzir (até porque quando escrevemos, as boas ideias aparecem quase sempre fora de horas...).
Mas fui buscar esta frase devido ao risco que o novo treinador da Académica corre se deixar a "briosa" para ir para o Sporting. Mas como a nossa sociedade vive de imitações e André Vilas Boas agora é essencialmente tido como um "novo mourinho" (de quem foi adjunto) e não o André "Boas", que se estreou a meia dúzia de dias como treinador principal...
Não tenho dúvidas que se não se defender muito bem, poderá ser triturado por uma máquina especializada em "queimar" treinadores...
Por outro lado, nem sei se será a melhor solução para lidar com a pressão e os assobios de Alvalade. Penso que nesta altura se exigia experiência e maturidade para proteger o grupo de trabalho, demasiado jovem e debilitado.
Mas pode ser que o André seja dos que gostam de andar "no fio da navalha" e seja bom a lidar com "panelas de pressões"...
Escolhi esta imagem porque se há um lugar onde as pessoas parecem cartas de um baralho, é no futebol, onde são descartadas com a maior das facilidades, mesmo que se tratem de um dos "ases" em jogo...

segunda-feira, novembro 09, 2009

Berlim Continua na Lista

A primeira vez que sai de Portugal foi quando fiz dezoito anos.

Estive quase um mês na Alemanha.
Foi um bom tempo, também andei pela Holanda dos lagos e diques, mas não cheguei a visitar Berlim, por ficar demasiado para Norte (fiquei em Monchengladbach, perto de Colónia...).
Nessa altura, em 1981, o Muro ainda era uma parede de cânticos escritos, desenhos, assinaturas e muitas provocações. Se lá tivesse ido também teria escrito qualquer coisa, aos dezoito anos somos assim...
Oito anos depois a Alemanha deixou de ter Oriente e Ocidente, para ser apenas um país, tal como fora até ao final da Segunda Guerra Mundial. Foi um final feliz e pacifico para uma Cidade que não merecia ter sido um "despojo" de guerra, durante tantos anos.
Ao contrário de outras cidades, Berlim nunca perdeu o brilho e continua a fazer parte da minha lista de lugares visitáveis. Acho que existe algo de único na sua fisionomia urbana. Acho.
Um dia destes passo por lá, nem que seja apenas uma ou duas noites...
A fotografia desta automotora, em vez de um muro, deve-se apenas às "pinturas" que lhe fizeram, um pouco à muro de Berlim, um dos primeiros objectos da arte "grafiteira"...

sexta-feira, novembro 06, 2009

Bom Dia, Todos os Dias, Com as Tuas Palavras, Sophia

«Na minha infância, antes de saber ler, ouvi recitar e aprendi de cor um antigo poema tradicional português, chamado Nau Catrineta. Tive assim a sorte de começar pela tradição oral, a sorte de conhecer o poema antes de conhecer a literatura. Eu era de facto tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais, ao universo, que eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio.»



Sophia de Melo Breyner Andresen, Arte Poética V

quinta-feira, novembro 05, 2009

As Palavras de Agustina

Ao descobrir esta fotografia, apeteceu-me falar de Agustina Bessa-Luís, não apenas da escritora mas da mulher, livre e senhora do seu nariz.
Acho que é essa qualidade, de a Agustina não ter medo de dizer o que pensa, sem precisar de levantar a voz e a poeira, que irrita algumas pessoas do "rebanho". Por outro lado, é de tal forma honesta consigo própria, que seria incapaz de inventar polémicas, paras coisas pequenas como vender mais um uns livritos, por exemplo...

terça-feira, novembro 03, 2009

Há Qualquer Coisa Aqui...

Para muitos portugueses a única forma de serem valorizados profissionalmente e de ganhar algum dinheiro, é saírem do país. Onde se nota mais este aspecto é na investigação científica, praticamente inexistente entre nós.

Há ainda outros casos de "desamor", como o de José Saramago ou de Maria João Pires, capazes de inventar desculpas nem sempre convincentes para a sua mudança de morada...
Não sei se sou eu que sou diferente (tal como muitos amigos com quem já falei do assunto), porque embora saiba que o nosso país é farto em incompetência e corrupção, que ganhamos mal, temos uma saúde, uma educação e uma justiça, que por muitas estatísticas que se inventem, estão bem na cauda da Europa, se estiver quinze dias fora, começo logo a sentir saudades...
Há qualquer coisa aqui, que os outros países não têm, e não é apenas o Sol, o Mar e a luminosidade...

domingo, novembro 01, 2009

Um Grande Treinador

Os últimos dois anos fizeram com que percebesse que Paulo Bento é um dos melhores treinadores portugueses de futebol na actualidade.

Embora tenha beneficiado da má situação financeira do clube (é a explicação óbvia para a sua passagem da equipa de juniores para a principal, sem qualquer tirocinio...), conseguiu ultrapassar com sucesso todas as "marés negras" que lhe apareceram pelo caminho, sendo o segundo treinador com mais tempo de permanência no clube de Alvalade. E se pensarmos que a grande aposta do Sporting tem sido a formação, e nunca o reforço da equipa, para que lutasse pelo título com o FCPorto, os resultados só se podem considerar excelentes.
A sua personalidade e capacidade de liderança têm banalizado as duvidosas limitações técnicas e tácticas apontadas na imprensa - com a história gasta do losângulo e de um único sistema de jogo (como se tal fosse possível, numa equipa de alto rendimento...).
Sei que não vai resistir muito mais tempo, porque alguns jogadores há muito tempo que o querem ver pelas costas (e são eles é que mandam, pelo menos dentro dos relvados...), mas isso não belisca o seu valor como treinador.
De todas as criticas que tenho lido a Paulo Bento, as mais "ranhosas" foram as do Jorge Gabriel. Provavelmente sonha um dia deixar a RTP para treinar o Sporting. Mas o melhor é ele descer à terra, porque ser treinador de futebol é muito diferente de apresentar concursos e programas da manhã...

sexta-feira, outubro 30, 2009

Os Brindes dos Jornais

Não há jornal ou revista que não tenha o hábito de anexar ao dito um DVD, CD ou livro, para combater o mais que evidente "voltar as costas" ao jornalismo escrito.

Razões? Há várias. A crise, a "net", a televisão (embora na maior parte dos dias as notícias dos telejornais sejam praticamente as que saem nos diários - sim falta muita imaginação e prática de jornalismo neste sector da comunicação social...), cansaço de notícias desagradáveis e muito iguais, etc.
Muitas destas ofertas valem a pena, como é o caso da do jornal "i", às sextas, que decidiu oferecer grande parte da obra de Fernando Pessoa, editada. Começou bem, com a "Mensagem". Para a semana vem "O Banqueiro Anarquista"...

terça-feira, outubro 27, 2009

Há Trabalhos e Trabalhos...

Às vezes penso que há pessoas com o qual não vale a pena gastar uma palavra que seja de "latim". Mas depois reconsidero (talvez por ter a sensação de que todas as ideias podem ser aproveitadas para a literatura...), vale quase sempre a pena trocarmos ideias, mesmo que os nossos companheiros de conversa sejam capazes de dizer aquilo que para nós é o maior dos disparates...

Aquele senhor que apenas conhecia de vista resolveu sentar-se "abusivamente" na nossa mesa, com o argumento que o café estava cheio (e estava...). Não demorou muito tempo a meter-se na conversa e a tecer desconsiderações sobre quem escrevia. Começou logo por insultar o Saramago, depois foi o Cristiano Ronaldo, dizendo que ambos podiam ser espanhóis à vontade, que não faziam falta nenhuma a Portugal.
Entre outras coisas ridículas que foi dizendo, enquanto nós olhávamos uns para os outros, com um sorriso de admiração pela lata do homem que só nos conhecia de vista. Um dos meus companheiros de mesa ainda lhe disse que o que ele pensava não interessava nada, pois ambos nasceram em Portugal e gostavam de ser portugueses. O que ele foi dizer, apareceu logo a Ibéria de Saramago e a República da Madeira do Jardim, naquela conversa sem ponta por pegar.
Mas para o fim viria a parte melhor: «Eu sei que os senhores também escrevem, mas isso não é profissão. Arte não é trabalho, para ninguém.» E não voltámos a sair dali.
Para o homem o trabalho não era coisa que se gostasse de fazer, as coisas que se gosta de fazer são diversões...
Foi mais longe ainda: para ele mesmo as profissões de juiz, médico, advogado, engenheiro, eram trabalho, não eram feitas com gosto.
Ainda argumentámos, mas percebemos que não adiantava e foi um alívio quando o homem se despediu e saiu pela porta fora.
Mas nem tudo se perdeu. Antes de sairmos, quando íamos para pagar a despesa, descobrimos que tínhamos recebido um "prémio", o "anti-saramago e ronaldo" tinha pago os cafés...
E eu ganhei um "post"(resumido, que a conversa foi bem mais longa)...
As conversas de café são sempre uma "Terapia", dai a escolha de Magritte...

quinta-feira, outubro 22, 2009

A Música do Sol

No tempo dos índios (pelo menos os dos filmes do oeste americano...), consta que eles ensaiavam umas "danças da chuva", por cá é mais ao contrário.

Assim que começa a chover entre nós, é tempo de inundações, filas intermináveis de carros, acidentes bizarros nas estradas, e claro, muitos banhos para quem tem de andar na rua...
A cidade branca de repente fica cinzenta. O que vale é que é quase sempre "chuva de pouca dura"...
O Sol volta a aparecer, animado, proporcionando umas guitarradas em seu louvor, por umas estrangeiras, que também aceitam moedas e notas...

terça-feira, outubro 20, 2009

Ensaio sobre a Senilidade

Não era para falar do assunto, até para não fazer publicidade ao nosso "nobel", mas noto que o senhor está pior do que o que eu pensava. Julguei que todo este "pó escuro" fazia parte de mais uma manobra de "marquetingue", para fintar a crise e vender mais uns milhares de livros, directos para as estantes de quem acha fino ter um livro do "nobel".

Mas hoje, ao ler uma frase transcrita no "DN", percebi que o senhor está mesmo mal...
«Não leram o livro e vieram logo, com insólita rapidez, derramar-se em opiniões e desqualificações, tanto da obra como do seu autor. Como falta seriedade intelectual, não se poderia esperar pior. Compreendo que tenham de ganhar o seu pão, mas não é necessário rebaixarem-se a este ponto.»
Segundo a minha opinião, esta frase encaixa perfeitamente na opinião que o "nobel" tem da Bíblia, que só deve ter lido as partes que lhe apeteceram (tal como eu, embora tenha lido as parábolas, e não achei nada que fossem "maus costumes"...) deste livro, ao que consta o mais vendido pelo mundo fora...
E claro, lembrei-me da minha avó materna, que passou os últimos tempos da sua vida num lar. Numa das vezes que a visitei, confidenciou-me, com alguma preocupação, ao olhar para aquele pequeno "mundo" que a rodeava, que só pedia a Deus que nunca lhe retirasse o juízo...
E não retirou, a avó manteve sempre a lucidez, até partir para o lado de lá, da forma aparentemente mais calma que podemos ter, durante o sono...

sábado, outubro 17, 2009

«Olhem Para Mim...»

O cão assim que me viu com a máquina, olhou-me e até se levantou para ficar bem na fotografia, da sua poltrona.

Somos conhecidos, ou não nos cruzássemos todos os dias por ali, rente ao parque de estacionamento, onde vive com mais meia dúzia de companheiros.
Felizmente são animais pacíficos, raramente ladram, mesmo passando "fome de cão"...
Embora sejam quase livres (parece-me que não sabem o que é uma cela ou uma corrente), estão longe de ser uns sortudos. Levam mais pontapés que festas, não comem à horas certas nem tão pouco merecem os cuidados dos animais de circo.
A comparação pode não ser a mais feliz, mas acho que preferiam ser o alvo da atenção dos donos e espectadores de qualquer circo...
Como já perceberam gosto do circo e gosto dos animais do circo. Vivem em jaulas? Pois, mas também é assim nos jardins Zoológicos. Vamos libertá-los e levá-los para a selva, condenando-os à extinção?
Para mim esta é uma lei estúpida, como tantas outras, que está longe de proteger os animais. Se querem realmente fazer bem aos animais, visitem os circos e multem os proprietários que não cumprem as regras mínimas de habitabilidade dos animais (retirando mesmo os animais, caso seja necessário).
Bom é fazer leis, esquecendo o mundo "quadrado" em que vivemos, em que muitos falsos "adoradores de animais", assim que se cansam, abandonam-os ao deus dará, nas vilas e cidades, sempre com demasiados gatos e cães vadios, que não cabem nos poucos canis existentes...
Se isso acontecesse, não sorria ao quase charme diário deste cão, cujo olhar pede mais que um simples: «Olhem para mim...»
E nem vou falar das pessoas que vivem na rua, em piores condições que muitos animais, quase desprezadas pelas leis e por todos nós...

quinta-feira, outubro 15, 2009

Dividir Para Reinar

A direita sempre foi melhor no "jogo rasteiro" que a esquerda. Sempre teve mais habilidade para criar notícias e factos políticos (claro que isso não é indiferente ao facto de Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas, serem grandes especialistas...).

Foi por isso que achei piada, assim que Cavaco Silva caiu em desgraça, aparecer quase do "nada" a hipotética candidatura de Jorge Sampaio à presidência, para dividir a esquerda (e os votos com Manuel Alegre).
O mais curioso foi os "soaristas" terem apanhado logo a boleia e até já andam a recolher apoios (continuam a não perdoar a ousadia de Manuel Alegre), mesmo que a existência de duas candidaturas à esquerda só favoreça a direita...

quarta-feira, outubro 14, 2009

Os Apanhadores de Conchas

Finalmente recomecei a ler livros sem ter de aliar o prazer da leitura (o que nem acontece sempre, claro) à investigação.

Ainda não foi nenhum daqueles "meninos de papel" que me "estendem as mãos" quando paro em frente da estante, que tem uma longa lista de espera. Foi um livro que veio parar às minhas mãos de uma forma especial.
Um dos meus amigos, de vez em quanto lá se desfaz de mais umas dezenas de livros, para aliviar os cantos da casa. A última vez que estive por lá, reparei numa torre enorme de livros, quase à porta de saída.
Como já vem sendo hábito, ele disse-me para escolher os que quisesse e levá-los. Muitos eram de teor político, à volta de Marx e Lenine, outros já os possuía. Fiquei preso a um título curioso, "Os Apanhador de Conchas", de Rosamunde Pilcher, que acabou por ser o único livro que levei para casa...
Cheguei à última página ontem e fiquei satisfeito por aquele nome feliz estar aliado a uma boa história. História simples mas bem escrita (e traduzida), o que é fundamental para se gostar.
A personagem principal é uma mulher de meia idade, Penelope (gosto deste nome...), que embora não tenha tido uma vida fácil, sempre teve uma atitude positiva em relação às adversidades que lhe foram batendo à porta. Tornou-se mulher com a Segunda Guerra Mundial que lhe deu um casamento, uma filha e também um amor secreto (que partiu no dia D), mas também lhe roubou muitas coisas, inclusive a mãe...
"Os Apanhadores de Conchas" é também o título de um dos quadros, pintado pelo pai de Penelope, que lhe ofereceu como prenda de casamento e pelo qual ela sentia uma ternura enorme.
Provavelmente foi escolhido como título do livro, porque a autora quis dar uma lição a dois dos filhos da personagem principal (e a todos nós), que o dinheiro não é tudo.
Claro que na vida as coisas não são assim tão lineares, todos sabemos que ele não é tudo, mas pode tornar muitos sonhos possíveis...

segunda-feira, outubro 12, 2009

Os Ditos Dinossauros

O Luís Afonso alia ao excelente traço, a palavra curta, mas sempre certa e deliciosa, no seu histórico "Bartoon" do "Público", que felizmente tem sido recuperado com a sua publicação em álbum.
Hoje foi assim...
Mas com a facilidade com que se alteram leis, nada nos diz que não seja criada uma "lei de excepção", para que os "ditos dinossauros" (alguns quando terminarem o mandato que agora se inicia ficam com mais anos de poder que Salazar) continuem no poder, privilegiando a ciência...

domingo, outubro 11, 2009

Actor? Sempre!

Quem se cruza com ele na rua, olha quase sempre para a sua figura singular, pela excentricidade, originalidade ou outra coisa qualquer, que fica a pairar no ar.

Não conseguiu ser actor a sério, daqueles que aparecem nos palcos, nos filmes ou nas telenovelas (sem contar com os milhentos trabalhos de figuração que faz, com paixão...).
Traído pela "cabeça de andorinha", é incapaz de decorar uma linha de qualquer texto e de seguir o sonho de uma vida.
A mímica podia ser uma solução para o seu caso. Podia mas não é. Até sente alguma indignação pela lembrança. Sonha ser actor, nunca artista de circo.
Lembrei-me do Tochas mas fiquei em silêncio.
Sim ele é de facto quase um actor, mas um actor especial, que escolheu a rua como palco. É capaz de pintar o cabelo de amarelo ou vestir umas calças cor de laranja, para que olhem para ele como uma personagem da sua "novela diária".
Estive tentado a dizer-lhe mais que uma vez que ele era um manequim ambulante e não um actor, mas para quê matar-lhe o sonho?
A ilustração, "Dream", é da autoria de Gilbert and George.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Adeus Zé Manel, e Não te Esqueças de Ir Pela Sombra

Muitas vezes evito falar de coisas que tenho conhecimento (excessivo) de causa.

Há várias semanas que ando com vontade de falar sobre a "guerra aberta" entre os dois jornais que se dizem de referência no nosso país, por causa da manipulação de notícias sobre as "escutas de Belém" e da evidente perseguição a Sócrates, por parte do "Público".
Foi esta manipulação que fez com que o "Diário de Notícias" publicasse o famoso "e-mail", que inverteu a ordem das coisas e colocou Cavaco Silva em maus lençóis.
Como costuma acontecer nestes casos, não tardaram as acusações a João Marcelino, em nome da ética e de não sei mais o quê, por ter publicado "algo pessoal e do foro intimo" de um jornalista (ainda se disseram coisas mais absurdas...), pelos "puritanos" habituais.
Conheço o João Marcelino, foi meu chefe de redacção no "Record". Embora não partilhe da sua filosofia e prática jornalística, tiro-lhe o chapéu pela coragem que tem, em valorizar sempre a notícia, em detrimento dos seus sujeitos. Também no "Record", quando publicou a conversa em "off recorde" de António Oliveira, foi mimoseado de mil e uma maneira. Mas como se verificou, a conversa era de tal forma grave que não podia ficar na gaveta. O mesmo se passou com este "e-mail", que se não fosse publicado, não se percebia o "embuste" que tinha sido montado para favorecer o PSD, em prejuízo do PS, no Palácio de Belém.
O José Manuel Fernandes tentou sacudir o capote mas à medida que ia falando, aumentavam o número de "buracos nos seus pés". E aconteceu o anunciado adeus deste senhor que tanto mal tem feito a este diário, que apesar de tudo nunca deixei de comprar, graças aos excelentes jornalistas que possui e que não mereciam todo este "purgatório".
Provavelmente irá para as "europas", receber o "pagamento" do seu apoio miserável à Invasão do Iraque, que ainda hoje provoca a morte de inocentes...
É por isso que digo: adeus Zé Manel, e não te esqueças de ir pela sombra!
E obrigado Rui, por mais um excelente boneco.

quarta-feira, outubro 07, 2009

A Beleza Continua a Ser Fundamental

Estava sentado no café, a fingir que lia o jornal. A culpa não era minha, era da conversa da mesa ao lado, das duas moçoilas que mostravam o seu descontentamento pela lógica de alguns empregos, que apesar de encherem os anúncios de requisitos "técnicos e intelectuais", havia um, escondido, que continuava a prevalecer nas escolhas femininas: a beleza, de preferência acompanhada de sensualidade.
As duas jovens tinham bom aspecto, embora não fossem extremamente vistosas. Talvez fosse este o seu "pecadito".
Com o decorrer da conversa, ainda foram mais longe, falaram das "oferecidas", com exemplos e tudo...

Lembrei-me de uma amiga que andou anos e anos a tentar demonstrar que além de loura e bonita, era inteligente. Conseguiu-o apenas a espaços. Sabia que tinha sido escolhida pela sua beleza, só não percebeu que segundo a filosofia daqueles homens engravatados, cheios de perfume e de vaidade, que a cercavam, ninguém de juizo perfeito queria trabalhar com mulheres inteligentes. Sim, elas são sempre uma ameaça para os "machos" que continuam a dividir o mundo ao meio...
Quem melhor que a Marylin Monroe - que deve ter visto tantas vezes o seu talento ser confundido com o seu corpo e rosto -, para ilustrar este "post"?

segunda-feira, outubro 05, 2009

O Preço Que se Paga Pela Proximidade do Paraíso...

Era para escrever sobre isto a semana passada, mas o tempo foi passando e...

Mas não consigo deixar de colar as "indisposições" da natureza, ao preço que somos "obrigados" a pagar pela beleza que nos é permitida desfrutar.
Os últimos acontecimentos em Samoa e Sumatra, fizeram com que pensasse nos Açores, no Fayal, a minha ilha especial, o lugar que encontrei mais próximo do paraíso (pelo menos para quem gosta do mar azul e dos campos verdes, quase sempre floridos...).
A vida é demasiado irónica, no seu todo. E a natureza, naturalmente, não foge a estes desígnios...

Esta fotografia mostra-nos o Farol e algumas casas soterradas, nos Capelinhos, durante a erupção vulcânica de 1957 e 1958, na ilha do Fayal.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Porque não, o Rio de Janeiro?

Sim, porque não o Rio de Janeiro?

Não tenho qualquer poder de decisão, mas esta é a minha escolha para a Cidade Olímpica de 2016.
Isto não acontece apenas pelas afinidades que existem entre Portugal e Brasil. De todos os países que estão na recta final (Espanha, Estados Unidos, Japão e Brasil), o nosso "país irmão" é o único que não organizou uns Jogos Olímpicos.
Em relação às cidades candidatas, Tóquio é uma cidade repetente (1964). Madrid não é repetente, mas foi Barcelona que organizou as Olímpiadas em 1992. De Chicago nem falo, porque os EUA já realizaram quatro Olímpiadas: St. Louis (1904); Los Angeles (1932 e 1984), Atlanta (1996)...
Embora a lógica nem sempre prevaleça nestas escolhas, penso que faz todo o sentido que a escolha recaia na bonita cidade do Rio de Janeiro.
Este bonito quadro de Hildebrando Moguiê, tem tudo a ver, ou não se chamasse: "O Rio de Janeiro Continua Lindo"...

quinta-feira, outubro 01, 2009

O Primeiro de Outubro

Não sei muito bem quantos anos se passaram, sei apenas que o primeiro dia do mês de Outubro passou a ser
o meu dia da Liberdade.
Foi durante as férias, no começo de Agosto, que recebi o convite irrecusável de secundar o meu avô paterno, na sua principal actividade comercial. Disse logo que sim. Na manhã seguinte viajei para a cidade, para me despedir do emprego "seguro" e medíocre", de escriturário de terceira...

O avô Xico já tinha ultrapassado os setenta e continuava a sua vida feliz e errante de feirante, de Norte a Sul, enchendo de preocupações a avó Lurdes. Após as habituais pressões familiares, o avô ofereceu-se para cobrir o meu ordenado de funcionário público, promovendo-me a seu chófer particular, ajudante de campo e confidente nas horas pardas do negócio.
Os meus pais torceram o nariz na altura mais acabaram por se habituar à ideia. Embora sonhassem com outro futuro para mim, preferiam que o companheiro de aventuras do avô fosse da família e não um estranho.
Já tinha conduzido meia-dúzia de vezes a velha "ford transit", que hoje seria imprópria para consumo, graças à ASAE... só não conhecia a preceito o "Senhor Xico" da venda, a personagem carismática, adorada por clientes e colegas, devido à sua simpatia e graça natural, algo que não se aprende em nenhuma escola.
Durante quatro anos fui orgulhosamente o condutor da carrinha e o montador do estaminé nas feiras que faziam parte do nosso circuito comercial. Ao avô cabia o papel principal, vender o queijo da serra, com a lábia e os truques de quem nasceu para o ofício. A frase, «melhor que isto não há», fazia milagres, tal como o facto de ter sempre um queijo aberto para a "prova dos nove".
Foi bom conhecer o verdadeiro "mundo" português. Ainda hoje recordo as nossas almoçaradas em tascas bem povoadas de mulherio, a quem ele fazia sempre questão de apresentar o neto, sem se esquecer de lhes piscar o olho, apelidando-me de "fresquinho e competente para atacar quaisquer curvas..."
Para trás ficou o certinho e desesperante funcionalismo público, que não me deixou qualquer saudade. A única coisa que não funcionava em câmara lenta, eram as bocas sujas dos meus colegas. Passavam o tempo a "cortar na casaca" do chefe, que bajulavam assim que ele pisava o soalho da secção. Fiquei sempre com a sensação que tinha tido a "sorte" de trabalhar com o melhor coro de hipócritas e lambe botas da repartição...
Pouco tempo depois de mudar de vida, percebi finalmente o sentido da expressão: «não há vida como a do campo».
Um dia o avô começou a sentir umas dores, que se foram agudizando, que acabariam por o deixar quase fechado em casa, colocando fim a quatro anos memoráveis, recheados de mil e uma aventura no mundo especial das feiras.
Como estava longe de ser um vendedor, lá tive mais uma vez de mudar de profissão. A única certeza que tive nesse momento, era que funcionário público, nunca mais...
O "Mercado das Caldas" é da autoria de Mártio pintor almadense.

quarta-feira, setembro 30, 2009

Não Transformem Belém numa Casa Amarela

Depois de ouvir a declaração de Cavaco Silva, não fiquei surpreendido, o senhor foi igual a ele mesmo.

Por muitas voltas que Cavaco dê ao "palco", não deixará de ser o "senhor silva".
Claro que eu já tinha percebido há bastante tempo que ele não quer ser o presidente de todos os Portugueses, mas apenas de alguns.
E se por acaso tivesse dúvidas, tinha as perdido ontem, ao ouvir o "senhor silva" falar de um e-mail publicado num jornal, e não nas notícias "encomendadas", publicadas num outro jornal (curiosamente dizem-se ambos de referência...), que colocou as escutas na ordem do dia e até mereceu fortes criticas do seu provedor, ao ponto de despoletar a publicação do tal e-mail.
Parece que para os lados de Belém ainda não perceberam, que nós portugueses não somos tão burros como parecemos...
Esta Lisboa "amarelecida" é do Carlos Botelho...

terça-feira, setembro 29, 2009

Bons Exemplos do Desporto

Embora o desporto já não seja a "escola de virtudes" de outros tempos, ainda pode ensinar muito, especialmente à classe política.

Em qualquer campeonato desportivo, só há um campeão, aquele que fica em primeiro lugar, não há grande espaço para vitórias morais. O segundo é sempre o primeiros dos últimos...
Nem se fazem comparações com o campeonato do ano anterior. A tese desportiva é esta: «por um se ganha, por um se perde.»
Na política ganham sempre todos, em quaisquer eleições.
Foi assim no domingo: o PS ganhou porque ficou em primeiro lugar; o PSD ganhou porque teve mais três deputados; o CDS ganhou porque alcançou os dois digitos e ficou com mais nove deputados; o BE ganhou porque duplicou o número de deputados; a CDU ganhou porque conquistou mais um deputado.
Mais palavras para quê?
Esta fotografia mostra-nos uma das primeiras equipas de futebol do Ginásio Clube do Sul, de 1924.

segunda-feira, setembro 28, 2009

A Verdade é Muito Mais que um Slogan

Se houve cartaz que me irritasse, ao longo das ruas e rotundas por onde ele foi afixado, foi o da "hora da verdade".
Sempre que o via lembrava-me de coisas deprimentes, como a nossa Selecção Nacional de Futebol, que anda desde o começo do apuramento para o Mundial, à espera da "hora da verdade"...

Só o coloquei aqui hoje, porque não queria participar explicitamente no enterro da "política de verdade".
Há coisas com a qual não se brinca. Os fulanos do "marquetingue" já o deviam saber...

domingo, setembro 27, 2009

A Igualdade Plena

Acordei muito cedo hoje.

Não tinha pensado escrever nada neste dia de eleições para o Parlamento. Não por estar em reflexão ou ter medo de dizer o que me vai na alma, apenas porque pensava não ter vontade de dizer o que quer que fosse. Podia falar de futebol, das goleadas "fantasiosas" do Benfica ou dos "roubos" ao Sporting (e atenção que sou benfiquista...), mas não, bastam-me algumas conversas de café para "esmiuçar" (a palavra da moda...) os árbitros incompetentes que envergonham a bola e a relva dos estádios.
Mas vamos lá então ao dia de hoje...
Voto sempre de manhã, numa escola que fica a poucas centenas de metros da minha casa, a caminho do "Repuxo", o café onde passo parte da manhã de domingo a "tertuliar".
Não faço parte dos indecisos, sei sempre onde colocar (ou não) a cruz. Desde o começo da década de oitenta, quando comecei a votar que sonho com um país mais justo, com melhor justiça, saúde e educação para todos.
Infelizmente as coisas estão piores que nesse tempo, em que ainda não estávamos na "Europa". Existem realmente mais vestígios da tal "asfixia" que tanta tinta tem feito correr nas televisões, nas rádios, nos jornais e até nos blogues.
Claro se nos compararmos com países como a Venezuela, Honduras, Angola, Cuba, Líbia, Irão ou China, é risível falarmos de "asfixia". E também só poderemos soltar uma gargalhada (para não chorarmos...) quando vemos alguém a defender uma "política de verdade", falando diariamente da dita "asfixia" no continente, ao mesmo tempo que elogia a "democracia" da Madeira.
Acho que só quando tivermos políticos sérios e livres, com coragem e vontade de cumprir os seus programas eleitorais, o país andará realmente para a frente. Sim, livres das "máquinas partidárias", que não passam de agências de empregos que enchem o governo central e os locais de gente incompetente, afastando-nos cada vez mais do caminho certo.
E tenho realmente pena que muitas pessoas ainda não tenham percebido que o voto, é um dos poucos actos onde todos somos iguais, que a tal "cruz" depende unicamente da nossa consciência.
A Foto é do genial Henri Cartier-Bresson.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Tesouros Esquecidos...


Nós não ligamos muito ao nosso património.
Nem paramos para olhar os belos azulejos de alguns edifícios dos bairros antigos lisboetas, menos ainda alguns varandins superiormente decorados, como este, que por acaso "mora" em Cacilhas. Trata-se da velha casa onde nasceu Romeu Correia, que um dia destes vem abaixo...

terça-feira, setembro 22, 2009

O Jornalista Anarquista

Sempre que haviam eleições, os jornalistas do diário eram escolhidos a dedo para acompanharem os respectivos partidos em campanha, de Norte a Sul.

Ele escapava sempre nestas escolhas, debaixo da sua fama de "jornalista anarquista". Sim, jornalista anarquista, era o nome que se dava na redacção a quem não simpatizava com o PS, PSD, PCP ou CDS.
Nesse tempo ainda não havia o "bloco", que hoje substitui o "anarquismo", sempre pronto a receber quem não se identifica com os quatro partidos da "vida arada"...
Também não se admirava que os directores de jornal fossem sempre conservadores, nem os invejava. Nunca gostara de mandar e ainda menos de ser mandado. Talvez fosse mesmo um anarquista...