domingo, fevereiro 28, 2021

Uma Cidade de Cafés e Restaurantes


Quando não temos nada a dizer, socorremo-nos muitas vezes de escritos passados.

Foi por isso que achei curiosa uma frase simples, que escrevi para atribuir a alguém, dentro de qualquer história.

A personagem é um provinciano de visita à Capital, que de repente se vê  na Baixa Lisboeta (antes da pandemia...) e desabafa para a companheira: «Ao princípio achei estranho ver tantos restaurantes e cafés abertos. Parece que a única coisa que estas pessoas de Lisboa fazem, é comer e beber. Mas depois, ao cruzar-me com toda esta gente, que aparece de todos os cantos, a falar mais de uma dúzia de idiomas das europas e do mundo, percebi que é mesmo preciso haver casas suficientes para os "alimentar" a todos...»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, fevereiro 27, 2021

Ninguém é Perfeito...


Nunca fui um "purista", nem quero ser. Gosto de olhar à minha volta e pensar que o mundo é muito mais engraçado, com a presença de coisas e de gentes de todas as cores. 

O tempo ajudou-me perceber que quase todas as coisas (especialmente as "inanimadas"...) têm o significado que lhes quisermos dar, tanto no campo artístico como no simbólico.

Deve ser também por isso que gosto do Padrão dos Descobrimentos (talvez não precisasse de toda aquela volumetria, poderia ter-se mantido o tamanho da "maquete" de 1940...), tal como gosto do Fernando Pessoa do Chiado - da Brasileira e do Mestre Lagoa (já li algumas críticas sobre o seu "mau gosto", enfim...).

Como diz o outro, ninguém é perfeito...

(Fotografia de Luís Eme . Lisboa)


sexta-feira, fevereiro 26, 2021

As Ruas que podiam ser "Bairros" e as Gentes que adoram "fabricar intrigas"...


Quando vivemos num lugar relativamente tranquilo, o modo de vida acaba por se assemelhar aos dos bairros onde crescemos. Eu pelo menos sinto isso, não só pelo papel social desempenhado pela mercearia (mesmo em pandemia, há quem vá lá apenas comprar um quilo de farinha, para ver gente ou ficar a par de alguma novidade...), mas também pelas pessoas que nos tratam por vizinho (curiosamente nenhuma delas vive no meu prédio...) e nos oferecem um bom dia e um boa tarde com um sorriso e uma ou outra palavra de circunstância.

Se formos bons observadores deste quotidiano, percebemos quem se interessa mais pela vida dos outros (ao ponto de quase a querer viver...), como é um caso de uma mulher que mora no outro lado da minha rua e que fala de forma a que todos a ouçam, num raio de cem metros. Embora ela pareça ter um "alforge de histórias" (o que poderia ser bom para a ficção e até para o blogue...), evito-a sempre que posso porque todas as vezes que trocou mais que duas palavras comigo, foi para dizer mal de alguém, com o dedo bem apontado. E isso é algo que me faz logo, dar um passo para o lado.

O que eu faço, faz a maior parte das pessoas da nossa rua. Só mesmo quem está sedento de novidades (embora estas tragam quase sempre o "cheiro" da mentira e da dúvida...) é que lhe oferece dois dedos de conversa.

Lá estou eu a "estender o lençol"... Só queria falar do "espírito pidesco" que existe em cada um de nós (e que devíamos tentar controlar sempre, em nome da liberdade individual de cada um de nós...) e que é mais evidente em algumas pessoas, como é o caso desta vizinha, que tem tudo o que os "informadores" da PIDE possuíam, pois soma ao gosto de "bufar", uma grande vontade de fantasiar a vida dos outros.

Foi por isso que sorri só para mim, quando me preparava para entrar em casa e vi-a a dirigir-se para a estrada, assim que viu um carro da PSP a aproximar-se. Os agentes como já a deviam conhecer de "ginjeira", limitaram-se a acenar e seguiram viagem sem parar... Porque felizmente as nossas polícias de hoje, por muitos defeitos que tenham, não perdem tempo com "fabricantes de intrigas"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, fevereiro 25, 2021

«Somos como o vinho do porto. O resto é conversa.»


Um dos meus bons amigos, "filósofos", de vez em quando oferece-me algo para escrever e partilhar, por aqui.

Falámos de um médico "péssimo", que finalmente se reformou (que só conheço de vista...). Este "péssimo" não se deve à apreciação técnica, mas sim humana. Ao longo dos anos ouvi chamarem-lhe tudo: de "sapateiro", "besta", "calceteiro" até ao cada vez mais banal, "fdp".

Este meu amigo "aturou-o" mais de vinte anos, primeiro por imposição, depois por habituação. Felizmente as consultas era curtas, mas deu para ele se aperceber que o médico tinha cada vez menos paciência para lidar com doentes e com as doenças, o que o tornou mais condescendente, com as suas "trombas de elefante".

Ele disse-me algo que todos nós sabemos, com a idade, os bons tornam-se melhores e os maus piores, mas utilizando menos palavras: «Somos como o vinho do porto. O resto é conversa.»

Eu dei-lhe uma outra justificação. Provavelmente o médico estava na profissão errada, seguiu as pisadas do pai, por imposição familiar (a velha história de um dia "vir a herdar o consultório e os doentes do pai"...) e nunca se sentiu realizado, nem feliz, no mundo da medicina. Aconteceu-lhe o que acontece à maioria das pessoas.

O meu amigo não ficou muito convencido e levou a questão para o lado material: «Isso é música de "pianola". Tens alguma dúvida de que o dinheiro que ele ganhava por consulta, devia-o fazer sorrir mais vezes para os doentes?»

Não, não tinha, mas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

 

terça-feira, fevereiro 23, 2021

Uma Bela Surpresa...


Hoje recebi um telefonema extremamente agradável, de alguém que me recebeu em casa, quando vim para Lisboa, aos dezoito anos (e que me tratou como a um filho, tal como o marido, o primo Zé...).

Durante esta pandemia tinha pensado várias vezes nela, mas nunca liguei. Tive medo. Medo de não receber qualquer chamada de retorno... ou de receber uma notícia triste. É que ela já ultrapassou os noventa anos...

Foi por isso que foi tão bom falar durante largos minutos, de nós, da minha família... e ficou a promessa que quando o "sol brilhar", vamos nos reencontrar e matar saudades.   

(Fotografia de Luís Eme - Monsanto)


segunda-feira, fevereiro 22, 2021

O Tejo a Meio da Tarde...


Por breves momentos, o Tejo deu a sensação de ter "fechado" portas à navegação (como há sempre cacilheiros e outras barcas das carreira para o Barreiro, Seixal e Montijo, no habitual vaivém, foi mesmo um momento raro...).

E a tarde estava transparente, vê-se a Ponte Vasco da Gama com uma nitidez pouco usual, do Ginjal.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, fevereiro 21, 2021

O Passado é isso Mesmo, Passado...


Não consigo entender esta nova forma de se querer discutir o passado, com o foco apenas na luz dos nossos dias. Provavelmente trata-se de deformação de historiador, por não conseguir discutir o que se passou há 100 ou 200 anos, sem me situar na época.  

Muito menos aceito que qualquer discussão seja feita como se se tratasse de um combate "esquerda-direita" (cada vez mais transformada num "benfica-sporting"), como se de repente o mundo tivesse sido pintado a preto e branco, sem a habitual zona de cinzentos.

O desaparecimento de Marcelino da Mata, um militar português de origem guineense que participou na Guerra Colonial, fez com que se levantassem uma série de questões, surgindo no final as habituais duas teses  antagónicas para o adjectivar:  a de "herói" e a de "criminoso".

Pelo que tenho lido, ele pode de facto ser considerado um herói, já que foi o militar mais condecorado das Forças Armadas durante o conflito armado nas nossas antigas colónias africanas. E criminoso, só o poderá ser, segundo o olhar dos novos países africanos (contra quem lutou...), livres do nosso "império" após a Revolução de Abril.

Para o chamarmos criminoso no nosso país (ele que se limitou a obedecer às ordens das nossas chefias militares numa situação de guerra...), teremos de utilizar o mesmo termo para os cerca de 600 mil militares que foram mobilizados (quase todos obrigatoriamente...) para "defenderem a pátria" durante os 13 anos que durou a fatídica Guerra Colonial.

(Fotografia de Luís Eme - Quinta da Arealva)


sábado, fevereiro 20, 2021

Uma Manhã com Saudades da Obsessão pela Escrita e pelas Palavras...


Escrevi o meu único romance há mais de 28 anos (no Verão de 1992...).

E sei porque razão não voltei a escrever nenhum livro de ficção, de "longa duração". Para mim é impossível ter uma vida normal e escrever romances.

Sei que há mais que uma definição do romance, tal como há várias formas de escrever romances. É também por isso que existem bons romances, médios romances e maus romances.

O romancista não é um operário fabril, as palavras não podem, aliás, não devem, ser escritas a metro. Apenas por que sim.

Todas estas palavras porque hoje de manhã cedo, pensei na falta que sentia de uma "terceira mão" para voltar a escrever um romance... e de um lugar onde pudesse estar sozinho, apenas entregue aos meus sonhos e pesadelos.

De uma forma ocasional descobri antes do almoço uma frase de Maria Velho da Costa, que explica um pouco como a "coisa funciona": «O conto é um repouso. O romance exige uma total dedicação. Entra-se num estado de obsessão de tal forma que vamos na rua e temos necessidade de tomar nota de uma ideia que passa pela cabeça. Há uma ferocidade com o romance, uma avidez na construção ficcional.»

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sexta-feira, fevereiro 19, 2021

A Porta Dez Cê...


Nestes tempos sem segundas e sextas-feiras, os dias parecem iguais. Parecem. Mas há uns dias que passam melhor que os outros. Sei que as mudanças de tempo não ajudam nada, à medida que a idade avança, o corpo abana mais com o vento...

Nos dias mais cinzentos é mais fácil questionar tudo e todos. Ficarmos na dúvida se iremos mesmo nos livrar deste "pesadelo" real, que nos persegue há um ano, mais dia menos dia.

Hoje estive com dois amigos que não via há algum tempo. Acharam-me mais gordo. Mas também podiam dizer que estou mais velho. 

Apesar de estar ligeiramente mais pesado, sinto que envelheci muito mais de um ano nos últimos doze meses. Tenho muito mais cabelos cinzentos e nem quero falar de algumas dores que vão ficando, no corpo e na alma...

Nos últimos dias tenho dormido mal. Foi por isso que resolvi não beber café à noite. 

É com estes pequenos nadas que nos alimentamos, sem desperdiçar qualquer oportunidade, mesmo pequena, para pensar que amanhã pode ser melhor que ontem...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, fevereiro 18, 2021

Escutar de novo Vozes na Rua...


Nos passeios que tenho feito pelas ruas nos últimos tempos, raramente ouço uma voz humana. Até mesmo os cães não ladram como antes... Talvez por saberem algumas coisas que nós não sabemos.

Foi por isso que estranhei, enquanto subia as escadas da antiga azinhaga das figueirinhas, ouvir vozes num tom vivo. Era um homem e uma mulher mais ao menos da minha idade. Percebi que ela se queixava da vida, talvez fosse uma daquelas pessoas a quem tudo corre mal. Se alguém cair dum escadote, é ela. Ele nem por isso, foi por isso que na despedida, além de lhe desejar as melhores saiu-se com um juvenil "tá-se bem". Continuei a subir e pensei que a sorte da senhora era que agora ninguém deita bananas para o chão...

Minutos depois ouvi cães a ladrar, num local onde quando passo, eles olham para mim, em silêncio. Percebi segundos depois que era uma conversa de "cão para cão", pois no exterior estava um homem com dois cães, um com trela e outro livre. Era o livre que "conversava" com os outros dois, que também andavam à solta no quintal.

O que achei mais curioso, quando me cruzei com eles, já em silêncio, foi o dono falar com o animal de trela como se ele fosse um filhote bem comportado: "Muito bem, é assim que eu gosto. Quando te comportas assim é uma maravilha sair à rua contigo." Ele tem a vantagem de nunca receber uma resposta que não está à espera (só as crianças, para nos surpreenderem com saídas inesperadas, e ainda bem...).

Continuei a caminhada feliz, apesar de não voltar a ouvir vozes tão audíveis... fiquei com a esperança de estar mais perto do normal, do que se previa...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, fevereiro 16, 2021

Os "Copistas" e a Ignorância Atrevida...


Apeteceu-me continuar a escrever sobre o mundo das artes plásticas, para falar de uma realidade, um pouco estranha, com a qual tomei contacto através da minha experiência como associativista cultural.

Durante mais de duas décadas participei na organização de mais de uma centena de exposições artísticas (de pintura, desenho, escultura, fotografia e artesanato...). Contactei com todo o género de artistas, desde vários jovens com talento, à espera de uma oportunidade (que nem sempre surgiu...), às pessoas que depois de se reformarem voltaram aquele que foi um dos seus "amores" na juventude... 

Estas últimas pessoas acabam por ser as mais curiosas, pela forma como olham para a arte e para os artistas. Muitas voltaram a pintar nas universidades de terceira idade. Percebi que nas aulas não se estimulava muito a criatividade, usava-se mais a "cópia" das obras de vários pintores. 

Em algumas exposições alguns destes novos artistas participavam com estas "cópias", sem usarem da tal criatividade, que talvez também vá desaparecendo com o tempo... Perguntava-lhes porque razão não tentavam oferecer um cunho pessoal ao quadro, alterando as cores e acrescentando ou retirando este ou aquele motivo. Olhavam-me com algum espanto e depois diziam que nunca tinham pensado nisso. Mas que era boa ideia. Por vezes acrescentava ainda outro argumento, o direito de autor, que também fingiam desconhecer. 

Dentro da sua "ignorância atrevida", nem sequer tinham noção que o "copiar" pode ser um "caso de polícia"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, fevereiro 15, 2021

Desistir não é Solução, mas...


Conheço vários artistas plásticos, que deixaram de pintar. Alguns dizem que não voltam (embora este "mau estar" com o mundo da pintura não se deva apenas à pandemia, começou nos tempos da "troika"...).

Embora entenda a posição de alguns, que quando começaram a ganhar dinheiro, viraram a sua arte quase exclusivamente para o mercado. Apenas estranho que nem sequer desenhem, que não enchem cadernos de rabiscos...

Talvez seja eu que esteja errado, mas acho muito importante "não se perder a mão", em tudo o que tenha a ver com as artes e letras. É também por isso que escrevo praticamente todos os dias no blogue.

Acabei por pensar numa coisa óbvia, que o dinheiro pode ser perigoso para a arte e para os artistas (acho que o Picasso é a excepção, não é a regra).

Recordei o meu amigo Arménio, que nunca se levou muito a sério nem quis ser um "grande pintor" (mesmo que não lhe faltasse talento...), preferiu sim, viver da pintura. Ir ao encontro do mercado, pintar o que as pessoas compravam na galeria para onde trabalhava. Foi assim que se tornou um aguarelista das ruelas e dos lugares mais típicos de Lisboa...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, fevereiro 14, 2021

O FC Porto e o Que Mudou nos Estádios...


Tenho uma amigo que trabalha como operador de câmara e assistente de realização, no mundo do futebol e conhece como poucos o cheiro da relva e os melhores ângulos de todos os nossos estádios, de Norte a Sul.

Na semana que passou falámos ao telemóvel sobre o projecto de um filme. Eu acabei por puxar para a conversa a contestação do FC Porto, aos árbitros, à procura do seu ponto de vista, completamente neutro (não é um grande amante de futebol, muito menos de clubes...). O que ele gosta é das imagens em movimento, da espetacularidade do futebol. Curiosamente, esse registo pessoal desligado da clubite, faz com que seja quase sempre escolhido para filmar os grandes jogos.

Há uns tempos houve um treinador espanhol (treina o Tondela), que falou abertamente do comportamento dos jogadores e do banco de suplentes do FC Porto em relação às equipas de arbitragem. Pressionam sempre o árbitro quando ele apita contra a equipa, ora fazendo-lhe frente no interior do relvado, ora saltando e gritando no banco de suplentes. Como este senhor tinha sido treinador adjunto do Benfica, quiseram levar esta questão para a rivalidade entre os dois clubes, sem se focarem no verdadeiro problema.

A primeira reacção deste meu amigo foi sorrir. Mas depois contou-me que no início achava tudo aquilo completamente estranho, estar ali, sem ninguém nas bancadas. Os gritos, os assobios, os aplausos, o calor humano que tomava conta de tudo, desaparecera... Ao mesmo tempo que o relvado se tornava mais vivo. Agora era possível ouvir os jogadores dentro de campo a falarem uns com os outros e com o árbitro, assim como os treinadores, a tentarem passar a sua mensagem aos seus pupilos.

Esta mudança fez com os árbitros tivessem de mudar de atitude. Não podiam fechar os olhos a situações completamente aberrantes e ofensivas, que partiam dos bancos, ou de jogadores mais exaltados. Eram de alguma forma, "obrigados" a ter uma mão mais dura, disciplinarmente, porque o que antes passava despercebido, agora era audível por todos. Isso explica que hoje sejam exibidos mais cartões, a quem não interfere directamente no jogo, como são os treinadores e os dirigentes dos clubes.

O FC Porto é o clube que tem tido mais dificuldades em adaptar-se a este novo futebol, porque um dos factores que sempre tentou usar em seu benefício, foi a tal "pressão", que Pako Ayestaran abordou, depois do jogo que disputou contra o clube das Antas.  Não quero dizer com isto, que não tenha sido vítima de erros das equipas de arbitragem. Quero dizer sim, que o seu comportamento faz com que seja nos tempos que correm, um "alvo" mais visível...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, fevereiro 13, 2021

A Sabedoria do Meu Avô, "Doutor", sem Diploma...


As pessoas que não gostam muito de ouvir falar da "universidade da vida", normalmente acrescentam uma palavra antes do seu primeiro nome e enchem quase sempre o peito de ar, quando escutam um "doutor" ou "engenheiro", que se desloca na sua direcção. 

Fingem esquecer-se que a escola é demasiado limitada e limitativa (especialmente a universidade...), em relação ao mundo das pessoas e das coisas, que nos espera do lado de fora da porta e da janela.

Embora tenha andado na universidade, sei que aprendi coisas muito mais utéis, na outra "universidade", porque tive a sorte de ter melhores professores.

É por isso que não tenho qualquer problema em dizer: se não fosse a "universidade da vida", o que seria de nós?

Eu sei que fui um estudante ligeiramente distraído (ou azarado...), porque os bons professores que conheci nos vários patamares de ensino contam-se pelos dedos das minhas mãos. E nenhum foi capaz de me ensinar coisas tão duradouras como o meu avô materno, que era impossível ser analfabeto, pois foi um dos melhores professores que conheci pela minha vida fora.

Continuo a pensar que a escola é demasiado fechada (e rígida) para os próprios professores, que muitas vezes se sentem perdidos nas salas e nos corredores. Digo isto porque sou amigo de vários mestres do ensino, com quem é sempre um prazer partilhar saberes, que tanto podem vir de dentro como fora dos livros, num ambiente de amizade e cumplicidade.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, fevereiro 12, 2021

Um Falso Espelho...


Não sou propriamente um "menino do coro", mas incomoda-me que as nossas telenovelas (que acabo por "ouvir", se não "fugir" da sala...) explorem sempre o pior que existe dentro de cada um de nós.

Sei que o mundo está longe de ser uma "estrada de felicidade", mas esta aposta no "vale tudo", nas vidas de pernas para o ar, na gente que passa os dias a lixar o próximo, nos mil enganos dentro e fora dos casamentos... ainda despe mais uma sociedade "doente", já tão pouco vestida de valores humanos...

(Fotografia de Luís Eme - Amadora)


quinta-feira, fevereiro 11, 2021

Passeio (clandestino) ao Lado do Tejo Sujo


Hoje, no meu pequeno momento de "exercício físico e mental", fui até ao Largo de Cacilhas.

Cruzei-me com mais gente do que o costume na rua. Talvez estivessem a aproveitar a "aberta", o breve momento que a chuva se deixou substituir pelo Sol, para fazer compras...

Já no Largo, estranhei que a fita azul, colocada pela polícia marítima para cortar o acesso ao Ginjal, tivesse desaparecido (só lá estavam as pontas, presas aos postes). 

Interesseiro, achei que a ausência de qualquer fita era um convite para continuar a marcha à beira do rio, sem ter a sensação de estar a fazer algo proibido. Foi agradável passear ao lado do Tejo, mesmo que o encontrasse mais sujo que o costume (demasiados plásticos para o meu gosto...).

Quando subi para Almada e dei de caras com as outras fitas, que cortavam a passagem, em sentido contrário, intactas, percebi que sempre fora uma mão humana, clandestina,  que fizera desaparecer a fita em Cacilhas...

Entretanto o Sol ficou sem tempo e a chuva acompanhou-me no regresso a casa.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, fevereiro 10, 2021

À Espera da Primavera...


Tem chovido muito, mas como "perdemos a rua", nem sequer nos queixamos.

A Cidade precisa da Primavera... o Mundo precisa da Primavera... Nós precisamos da Primavera...

Precisamos de ver a vida a recomeçar, de ver as plantas a florirem...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, fevereiro 09, 2021

A Vida e as Segundas Oportunidades...


Sei que não existem pais perfeitos, da mesma forma que sei, que alguns são melhores que outros. Mesmo que não existam fórmulas, muitas vezes basta querermos ser, e fazer por isso, claro. Também é importante que a vida ajude, que se consiga o equílibro familiar necessário...

Escrevo estas palavras porque ao abrir um dos meus vários "caderno de férias" (este de 2008), descobri uma descrição que fiz , do que olhei, já quase ao fim da tarde, na praia:

«Vi na praia um avô e um neto, juntos no banho e nas conversas na toalha.

Lembrei-me dos pais que se esqueceram de ser pais e que depois fazem promessas de ser melhores avós. Só que a vida nem sempre nos dá segundas oportunidades... e muitas vezes este desejo sai defraudado. A distância é o mais comum. O normal é os nossos filhos encontrarem uma segunda terra para viverem a vida de adulto. Mas também podemos partir cedo demais, ter uma daquelas vidas que não chegam a netos... E lá se vai o desejo e a vontade de se ser "pai", uma segunda vez, com mais tempo e ternura...»

Nós agora ainda temos outro problema. Como casamos tarde e ainda temos filhos mais tarde, nem sequer pensamos muito na tal "segunda oportunidade"... 

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


segunda-feira, fevereiro 08, 2021

Essa Coisa Tonta de Criar...


Na televisão já vi e ouvi mais que um criador artístico (quase sempre na música...), a dizerem que a pandemia tem sido bastante inspiradora (o último foi o Tim no "Eléctrico"...). Sinto alguma estranheza, por sentir um "vazio" quase diário (felizmente acordo com algumas ideias de vez em quando...), que é partilhado por alguns amigos com quem vou falando, a uma distância cada vez maior.

Sinto muito na pele o facto indesmentível (pelo menos para mim...), de o acto criativo ser um processo solitário. Sei que a casa cheia de vozes, risos, passos e outros ecos, tem tudo o que quem escreve não  precisa...

Se não fosse o blogue (às vezes é custoso escrever qualquer coisa, por muito curta e vaga que seja...), que me obriga a usar as palavras, às vezes nem eu sei bem para quê... é por isso que se se foi transformando mais em "diário" que noutros tempos, com mais cores que a fila de cinzentos que pinta estes dias mornos, habitados dentro de casas com janelas viradas para ruas quase vazias.

Acho que nunca comecei tanta coisa, que continua a espera de um meio, e que sabe que falta quase uma vida para ter um fim...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, fevereiro 07, 2021

As "Acrobacias" Humanas do Costume (com pinos e volteios de casaca)...


Por muito fortes que sejamos, é muito difícil lutar contra o "mundo", especialmente quando ele se ergue, quase em uníssono, com uma vontade quase louca de nos tramar.

No desporto, aliás no futebol, é onde isso acontece todos os dias. Mesmo quem já provou tudo, como são os casos de Cristiano Ronaldo ou José Mourinho, se as coisas começarem a correr mal, aparecem logo alguns "coveiros", movidos a inveja e cinismo, capazes de inventar coisas do arco da velha, só para defenderem os seus pontos de vista, tentando apagar tudo o que fizeram antes, como se tal fosse possível...

Mas no mundo do espectáculo passa-se a mesma coisa. Nunca esqueço o que aconteceu com Herman José, que era considerado o maior humorista da nossa história, e que de um momento para o outro, deixou de "ter graça", de nos "fazer rir". Embora alguns anos depois continue a demonstrar que o  seu talento não fugiu com a idade... E na actualidade é notória a aposta de muita boa gente no fracasso de Cristina Ferreira, pelos motivos do costume (a inveja e o cinismo da ordem...). A tal gente que tem tanta dificuldade em conviver com o sucesso dos outros...

Quando temos memória, torna-se mais difícil de aceitar toda esta "acrobacia humana" que nos cerca...

(Fotografia de Luís Eme - Foz do Arelho)


sexta-feira, fevereiro 05, 2021

Tão Perto e Tão Longe...



Lisboa está logo ali, a seguir ao rio. 

Olho-a todos os dias. Mas olhar é pouco...

Sinto falta da travessia, do partir, do chegar, do voltar...

Sinto falta de andar pelas ruas, descobrir uma coisa nova, que pode ser um simples nome de uma pensão ou de um café, que já conhecia mas nunca reparara na "placa de identificação", que me leva a sorrir a dizer a fingir, que até parece ter sido ali colocada "ontem"...

Já passaram demasiados meses, desde que começámos a dizer que tudo ia melhorar. Como os meus filhos já são grandes, não tive de retirar nenhum desenho colado na janela, com um arco iris pintado de esperança, quase sem cor...

Pois é, já passou uma eternidade e ainda lá não chegámos...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


quinta-feira, fevereiro 04, 2021

Homens Transformados em "Escadas" por Outros Homens...


Os homens do teatro gostam muito de usar as palavras de Shakespeare para retratar a nossa realidade. Dizem sempre que ele permanece actual, que os problemas que enfrentamos continuam a ser os mesmos... É quase como o Eça, embora este pareça ser mais literário e menos teatral (mas com jeito, tudo se adapta...). 

Se é de "actualidade" que se trata, podíamos recuar mais no tempo. Sim, podíamos ir à Grécia de Sócrates ou à Galileia de Jesus de Nazaré. Os seus ensinamentos continuam válidos, não se perderam no tempo. Nunca deixaram de ser citados, mesmo que o uso das suas ideias tenha sido sempre mais teórico que prático.

Por a política ser um "teatrinho", os seus actores e encenadores também adoram "partir de viagem" e tanto podem parar nas primeiras civilizações, com um gostinho especial por Roma e Grécia, como encherem o peito com o "século das luzes"... ou ainda perderem-se de amores por heróis mais recentes, como Churchill. Ainda por cima agora contam com o "google" e a "wikipédia", que lhes vieram facilitar a vidinha...

Sim, basta escrever Confúcio para se descobrir que afinal este filósofo era Chinês (muitos devem ficar desiludidos e "confusos"...) e que viveu meio século antes da nossa era... ou que Cícero era um advogado de Roma (e não um filósofo grego...).

Lá estou eu a divagar... Apenas queria dizer que a história passa o tempo a repetir-se e que os homens cometem quase sempre os mesmos erros, de século para século. Gostam de usar a sabedoria dos grandes filósofos intemporais, apenas em citações, nunca em exemplos. 

Pois é, os homens pequeninos (mesmo os que têm um metro e noventa...), sempre foram bons a usarem os melhores como "escadas", e, ponto final. 

Alguns até têm um gato chamado Confúcio ou um cão baptizado como Sócrates (agora menos, por causa de um certo português...).

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, fevereiro 03, 2021

Pensar, Sempre foi um Problema...


Se fossem apenas as pessoas com um palminho de cara, que se adoram ver dentro do "pequeno écran" e nas revistas que lhes inventam amores, a defenderem todo o "lixo" que nos entra pela casa dentro, mal carregamos no botão da televisão, quase tudo batia certo (quase toda a sua vidinha está lá dentro...).

Tudo muda quando pessoas que temos por inteligentes também defendem a frase gasta, dita mais de mil vezes pela "maltinha do negócio": «é isto que as pessoas querem.»

Sempre foi mais: «é o que nós queremos oferecer às pessoas.» Mas todos sabemos que as "mentiras" ditas muitas vezes acabam mesmo por se transformar em "verdades". Não é por acaso que para "prenderem" os espectadores aos programas televisivos, "oferecem" dinheiro e carros, a troco de um simples telefonema...

Há quem diga que tudo tem a ver com o nosso lado ocidental, que nos aproximou mais do que devia do modelo de sociedade da América do Norte, em que o apelo ao consumismo de tudo e mais alguma coisa, acaba por ser o seu "motor" de desenvolvimento. E é por isso que existem tantas "ofertas", tantas  "facilidades" para se conseguir ter o que sonhamos...

E eu cada vez concordo mais com eles. Até por saber que a gente que gosta de pensar pela sua cabeça, sempre foi um quebra-cabeças para todos os "vendedores de sonhos" (que trazem também sempre uns "pesadelos" à mistura...).

Pensar sempre foi um problema, até mesmo para as sociedades ocidentais, que gostam de se afirmar ao Mundo, escudadas com a liberdade e a democracia...

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)


terça-feira, fevereiro 02, 2021

Sabe (quase sempre) Bem "Remar contra a Maré"


Não sou muito de esperar pela melhor altura, ou pelo momento certo. A minha teimosia faz com que goste de "remar contra a maré" (embora agora a idade comece a não ajudar, a força já não é a mesma...), é por isso que me apetece falar de Jorge Jesus, sem ligar sequer ao facto de o Benfica ter perdido ontem o derby lisboeta.

Apetece-me falar do homem cheio de singularidades, que é treinador de futebol, e que de repente, viu-se sem jogadores fundamentais (a defesa ficou toda infectada...) e sem os companheiros da equipa técnica...  que em vez de "meter baixa", ficou sozinho ao "leme" da Barca da Luz, sem baixar os braços e sem deixar de olhar a adversidade.

E já estava com sintomas desta doença maldita (fez sete testes que acusaram negativo, só ao oitavo, e com outros exames complementares é que ficou com o selo de "infectado". Estas contradições em volta dos testes são uma daquelas histórias que mereciam uma boa investigação...), aguentou firme e nunca deixou de estar ao lado dos "seus", mesmo que eles não fossem os melhores, fossem apenas os possíveis...

Não conheço Jorge Jesus. Talvez nos tenhamos cruzado alguma vez, em algum jogo ou evento desportivo, mas não o retive na memória. Há algumas coisas que não gosto na sua personalidade, como a sua vaidade, que o faz dar ares de "melhor treinador do mundo" e dizer algumas coisas, quase estúpidas (embora reconheça que este seu amor-próprio foi o "motor" da sua já longa carreira, que começou nas divisões inferiores e nunca o fez desistir de chegar ao topo...). Mas depois gosto do que fica mais escondido, não duvido que o Jorge é alguém extremamente generoso e solidário, que nunca desiste de lutar nem se cansa de vencer.

O Benfica pode não ser Campeão este ano, mas tenho a certeza de que o será no próximo ano, porque Jorge Jesus, além de ser um vencedor, é um treinador de longa duração, que nunca tem uma toalha a seu lado para atirar ao chão.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, fevereiro 01, 2021

A Beleza de Alguns Livros...


Há livros que se destacam logo às primeiras pela sua beleza exterior. O bom gosto do autor e do artista gráfico dão nas vistas, muito antes de conhecermos as suas palavras.

Foi o que aconteceu com "As estradas são para ir", da autoria da Márcia, essa mesmo das músicas, que escreveu, pintou e cantou... sim, o livro tem poemas, textos, canções e muitos desenhos coloridos, que fazem com que o livro se transforme quase num objecto de culto.

A última vez que os meus olhos ficaram agradados com um livro, ao ponto de exclamarem: "Que Coisa Bonita!" (ainda antes de conhecer as palavras...), foi com "a permanência da memória dos dias de sal" da Isabel Pires.

Felizmente as palavras acompanham a beleza exterior, em ambos os livros...

(fico sempre a pensar, um dia também vou fazer "um livro bonito"...)