quarta-feira, outubro 31, 2007

Hoje é o Dia Mundial da Poupança


Fiquei a saber da efeméride, através das notícias matinais da RTP, ao escutar uma jovem senhora, loura, falar da importância de se poupar, nem que fosse um euro por dia...
Fui obrigado a sorrir com a história da poupança de um euro.
E lembrei-me o quanto temos sido obrigados a poupar nos últimos anos, por força das circunstâncias do país, quase "doente" crónico, porque a maior parte dos "medicamentos" que lhe têm sido aplicados, estão fora de prazo. Não é senhores Guterres, Durão, Santana e Sócrates?
Poupamos na energia, nos combustíveis, na água, nas comunicações, na roupa, na alimentação, na diversão, etc. Porque o dinheiro não estica, apesar de continuarmos a receber, quase diariamente, correspondência e telefonemas de apelo ao consumismo e ao crédito...
A fotografia é do Muxito (Cruz de Pau - Seixal), porque também se poupa estupidamente na reconstrução deste país, cada vez mais pobre, apesar do ar rico dos seus governantes...

terça-feira, outubro 30, 2007

A Arte de Espírito Santo

Guilherme Espírito Santo, além de ter sido um avançado centro de inegáveis qualidades, que o catapultaram para a equipa principal do Benfica e da selecção nacional, e também foi um extraordinário atleta saltador, campeão e recordista nacional dos saltos em altura, comprimento e triplo salto.
Era um futebolista elegante, rápido e de uma correcção exemplar, transformando-se em pouco tempo no ídolo de todos os benfiquistas. Embora não fosse fisicamente muito robusto, tinha uma habilidade extraordinária e um grande poder de elevação, marcando golos inesquecíveis de cabeça. Como também conjugava bem a técnica com a velocidade, era habitual deixar os defesas adversários sentados no chão. Furiosos, estes, sempre que podiam, castigavam-no com violência. A resposta de Espírito Santo era o desprezo completo pelas suas acções anti-desportivas, levantando-se sem responder às suas provocações e agressões.
Só foi internacional A oito vezes porque na época os jogos internacionais escasseavam, e também porque teve pela frente a sombra de Peyroteo, o maior goleador de sempre do futebol português, seu grande amigo, que não teve pejo nenhum em escrever nas suas memórias: «O Guilherme joga futebol muito melhor que eu».
Além de futebolista Espírito Santo foi também um grande atleta. O mais curioso é o facto de ter descoberto o atletismo por um mero acaso, quando num treino de futebol ultrapassou a fasquia do salto em altura colocada a 1,70m, deixando toda a gente estupefacta, especialmente os saltadores que não conseguiam saltar aquela altura. Acabou por aceitar o convite endereçado pela secção de atletismo do Benfica, e em pouco tempo estabeleceu novos recordes nacionais do salto em altura, comprimento e triplo salto. Na primeira disciplina foi recordista ibérico e o seu recorde nacional de 1,88m esteve mais de vinte anos sem ser ultrapassado.
Guilherme Espírito Santo vive em Cacilhas, desde o princípio dos anos setenta e fez hoje a bonita idade de 88 anos.

domingo, outubro 28, 2007

Objectos Quase de Museu (IV)


A tecnologia é uma coisa incrível.
Quase de um momento para o outro, alguns objectos que foram de grande utilidade para todos nós, tornam-se obsoletos.
É o que está a acontecer às tradicionais disquetes, cada vez mais fora de moda, graças às "penn's", aos "cd's e dvd's"...

quinta-feira, outubro 25, 2007

Apanhar Boleia no Tempo de Táxi


Uma das capas mais felizes do "boom" do rock português foi a do primeiro álbum dos "Táxi", com o quarteto (João Grande, Rui Taborda, Henrique Oliveira e Rodrigo Freitas) nortenho dentro de uma espécie de táxi, um Mercedes 180 D, daqueles bonitos, verdes e pretos...

terça-feira, outubro 23, 2007

A Fadista das Vielas


Herminia Silva nasceu há cem anos...
Não foi a fadista das grandes salas de espectáculo, mas sim das casas de fado, das verbenas, do teatro de revista e das festas nas colectividades populares.
Teve sempre um acompanhante de luxo, o célebre Pacheco, que andava sempre para a frente!
A Lisboa castiça tinha - e tem - algo da Herminia, que encontramos em Alfama, na Mouraria ou no Bairro Alto...

domingo, outubro 21, 2007

Histórias de Amor

Se há coisa que nunca nos faltou foi humor, mesmo nos piores momentos.
Felizmente, Rafael Bordalo Pinheiro sempre teve bons seguidores na imprensa portuguesa.
Estava a remexer na papelada, quando encontrei várias bandas desenhadas da autoria de Miguel, que assinava umas eloquentes "Histórias de Amor" no "Público". Tenho ideia que ele também passou pelo "Expresso".
Não faço ideia o que é feito dele, mas que era um grande "retratista social", era sim senhor...

sexta-feira, outubro 19, 2007

Uma Conversa sobre Censura


Uma professora amiga convidou-me para participar numa palestra sobre "A Censura, Ontem e Hoje".
Havia mais dois convidados, ambos professores. Foram eles que iniciaram a sessão, começando por espreitar para o interior dos jornais, criticando o jornalismo dos nossos dias, sem se esquecerem de salientar os monopólios existentes, e a cada vez mais nitida, autocensura, imposta pelos chefes. Um deles foi ainda mais longe, chamou aos directores, "testas de ferro" das administrações e do poder económico.
Quando foi a minha vez de falar, disse que as questões que tinham sido abordadas, eram pertinentes e preocupantes, mas faziam parte do mundo actual, onde a economia se sobrepõe a tudo. Acrescentei que a história dos "testas de ferro" não era nenhuma novidade no jornalismo nem no mundo empresarial, e como tal, tinha de ser encarada com normalidade. Pois os donos de qualquer empresa, têm o direito de escolher, quem melhor defende os seus interesses.
O que eu fui dizer...
Disseram-me que uma coisa não tinha nada a ver com outra, que a informação tinha de ser livre, etc.
Só os consegui calar, quando lhes lembrei que o José Saramago, quando esteve no "Diário de Notícias" em 1975, não foi lá colocado pelo seu valor como jornalista, mas pelo que representava, como elemento de confiança política, para quem administrava o jornal em nome do Estado...
Os alunos fizeram perguntas várias, interessantes, e até pertinentes. Pela minha parte, expliquei-lhes como funcionava a censura (mesmo sem a ter conhecido pessoalmente...), como cortava os textos com o lápis azul, muitas vezes sem grande nexo. Também lhes disse que a autocensura é algo pessoal, depende de uma série de factores, principalmente da nossa educação e da forma como olhamos o mundo. Não é uma coisa que esteja afixada na redacção ou seja ditada pelo director, como se procurou dar a entender.
Os outros dois companheiros de aventura é que não ficaram lá muito convencidos, com as coisas que disse. Paciência...
O desenho bem elucidativo, é da autoria de Ferreira dos Santos...

terça-feira, outubro 16, 2007

Piquenique no Bosque


Estava a guardar esta história para outra altura...
Não queria falar apenas de Adriano, sem me referir aos outros rapazolas de camisas aos quadrados, de viola às costas e canto fácil, capazes de percorrer o país de uma ponta a outra, para participar em festas e encontros, ou coisas ainda mais simples, como o casamento de um amigo...
Apesar das estradas serem estreitas e curtas, os carros, as camionetas e os comboios mais lentos, eles raramente faltavam a uma "convocatória".
Alguns carros foram chegando, vindos de Lisboa, Porto e Coimbra, completamente cheios de gente. Os menos abonados vieram de comboio e de camioneta.
Depois foram-se chegando, ao local escolhido, abençoado por um Deus, distante da Igreja de Salazar e de Cerejeira.
Os noivos selaram a união perante um padre de calças e camisa, como os restantes, com muitas canções livres e poucas orações surdas...
Curiosamente, era a única criança ali presente, provavelmente para "guardar" a minha tia, como noutras vezes, uma moçoila bonita, que tinha entregue o coração a um marinheiro...
A comida era muito pouco casamenteira, mas deliciou todos os presentes, graças ao perfume do pão, do chouriço das febras e do vinho caseiro, assim como alguns doces...
Não me lembro de tudo, mas sei que passei um dia extremamente alegre, em que me trataram quase como um príncipe. Até me obrigaram a cantar naquele coro, para estragar todas aquelas canções heróicas, cantadas no bosque livre...
No regresso a casa, cansado de tanta brincadeira, voltei às cavalitas, conhecendo as costas de todos aqueles rapazes felizes, onde também estava o Adriano, alto e magro, ainda sem aquela barba à Almeida Garrett, que mais tarde soube que também era Correia de Oliveira...
Só muitos anos depois é que soube que aquele casamento no bosque, também tinha sido considerado uma reunião politica...
Penso que nunca mais nos voltámos a encontrar. Tinha sido giro lembrar-lhe aquele encontro especial de amigos no campo, e dizer-lhe que eu era o "puto reguila"... mas Adriano partiu cedo demais para o lado de lá do mundo e...
Ele partiu mas deixou-nos a sua magnífica voz, como testemunho de uma vida de luta, por uma sociedade mais justa e solidária, nem sempre compreendida...

segunda-feira, outubro 15, 2007

Objectos Quase de Museu (III)


Já não se encontram muitos relógios de sala, por aí, daqueles que enchiam as casas de "música", sempre que passavam os inevitáveis sessenta minutos...
Recordo-me do da casa dos meus avós maternos, muito bonito (e bastante disputado por filhos e netos na altura das "partilhas"...) e também de outro, adorável, que animava a mercearia-taberna do Delfim, em Salir de Matos, com o seu famoso cuco que saía da toca e "cantava", encantando qualquer criança...

sexta-feira, outubro 12, 2007

Damas - a Elegância e a Agilidade nas Balizas


Se ainda estivesse entre nós, Vitor Damas tinha completado no passado dia 8 de Outubro, sessenta anos.
Como benfiquista, só me fica bem dizer, que nunca vi um guarda-redes tão espectacular nas balizas portuguesas como Damas.
Eu sei que a sua fisionomia também ajudou, já que era alto e magro.
A par de toda a sua elegância, Damas era ágil como um felino, defendendo bolas "impossíveis", com a leveza quase de bailarino.
A sua colocação entre os postes, era outro dos seus trunfos, conseguindo dar a sensação aos adversários que a baliza estava mais pequena...
Como jornalista tive o grato prazer de o entrevistar, quando treinava a equipa principal do Atlético, na segunda divisão.
Ainda me recordo do trato familiar com que me recebeu na Tapadinha e da sua voz rouca, única.
Ao contrário de outros ídolos com quem tive a oportunidade de conversar, senti que Damas era autêntico campeão, sem pés de barro...
O "boneco" que ilustra o texto é da autoria de Francisco Zambujal, um nome grande do cartoonismo desportivo, também já desaparecido.

terça-feira, outubro 09, 2007

Dia Mundial dos Correios


Hoje, por se comemorar o Dia Mundial dos Correios, foi lançado pelos CTT, o "meu selo". Ou seja, um selo que pode ser personalizado com qualquer imagem à nossa escolha, inclusive o nosso rosto.
Se Fernando Pessa ainda estivesse entre nós, exclamava: « E Esta!...»

Che Guevara


Che Guevara desapareceu há quarenta anos.
Quarenta anos que o transformaram no maior simbolo humano de qualquer revolução, e até da liberdade.
Pode haver várias explicações "filosóficas" ou "sociológicas" para este caso de popularidade mundial, mas eu prefiro a mais simples: o facto de ter morrido de uma forma trágica na Bolívia e também de ter conseguido resistir à vida, mais ou menos certinha, que o esperaria em Havana, depois da conquista do poder, ao lado do seu "irmão" Fidel...
Claro que tudo nele é apaixonante, até esta serigrafia, feita por Malanga e assinada por Warhol...

segunda-feira, outubro 08, 2007

Vindima


É Outono e na aldeia cheira a mosto, um cheiro doce, redondo, farto. Ouve-se, ao longe, o cantar arrastado de uma roga e, na calçada, ecoa o trotar de bestas carregadas de uvas, na azáfama alegre dos últimos dias de sol, para colher o trabalho de um ano, antes das primeiras chuvas que nunca se sabe quando vão cair e já se adivinham para os lados do Monte Airoso.
Pela noite dentro, os lagares enchem-se com a voz ritmada do mandador - esquerdo, direito, esquerdo, direito, tudo a eito, um, dois, esquerdo, direito – marcando a cadência, numa melopeia sonolenta, às vezes intercalada por uma modinha antiga tocada num realejo, se houver tocador á mão.
Vindimas de pobre, sem rogador, nem rancho, nem concertina, nem ferrinhos ou bombo, que conserto desta monta só no Douro, onde o vinho era do fino e valia muito mais.
Quem se lembra das vindimas há-de ter saudades de um copo de mosto, colhido directamente do lagar, doce, perfumado, fresco, e ainda se lembrará da recomendação para o beber com moderação, pois continuava a ferver no estômago.
O vinho que se provava no S. Martinho para lhe adivinhar as qualidades futuras, era o orgulho de cada agricultor, que acreditava que o seu vinho era o melhor vinho do mundo. Para que o confirmassem, a sua pipa estava sempre à disposição de quem quisesse beber um copo e para retribuir esta franqueza, seria ingratidão não dizer bem do vinhito, de preferência com metáforas iniciáticas que os provadores usam para lhe qualificar a cor, o aroma, o sabor e o corpo.
À sua saúde, meu avô, à tua, meu primo!
Nos melhores anos, o vosso vinho, esperto, cheiroso, fresco, foi mesmo o melhor vinho do mundo.
Joaquim Nascimento


sábado, outubro 06, 2007

Objectos Quase de Museu (II)


Embora não seja muito antigo, ainda sou do tempo da existência de vários jornais no Bairro Alto.
O que já não conheci foram as redacções povoadas de máquinas de escrever, que soltavam músicas desordenadas, a várias velocidades e enchiam os cestos de papeis amachucados...
Nem tive nenhum companheiro teimoso, como o Fernando Assis Pacheco, que nunca se desfez da sua "companheira" de tantas horas de inspiração e transpiração...
No "meu tempo" os computadores já tinham acabado com o reinado das máquinas de escrever, com vantagens para todos, apesar de ainda se usar o "MS DOS"...
As "janelas" do senhor Bill Gates só apareceram depois...

quinta-feira, outubro 04, 2007

Fados & Carlos


Estreia hoje no nosso país o filme, "Fados", realizado por Carlos Saura.
É o terceiro filme musical da autoria do realizador espanhol e faz parte de uma trilogia - "Flamenco" (1995), "Tango" (1998) e agora "Fados" (2007) - com o perfume e a intensidade melodramática latina.
É uma estreia com alguma polémica à mistura, por causa de alguns dos patrocínios conseguidos, como o do Município de Lisboa (a inveja é uma coisa tramada...).
Como este filme nasceu de uma conversa entre Carlos do Carmo, Ivan Dias e Carlos Saura, há mesmo quem diga que este é o filme do "Homem na Cidade"....
Claro que ele é muito mais que isso. Não o vi ainda, mas estou certo que tem a riqueza e o olhar de alguém de fora, que conseguiu captar coisas que estão à nossa volta e que nós nem sempre reparamos. O filme "Lisbon Story" de Wim Wenders é um bom exemplo do que acabo de dizer...

terça-feira, outubro 02, 2007

Casario e Figuras de um Sonho


Há imagens que não precisam de qualquer palavra...
É o caso deste óleo de Dominguez Alvarez, cujo título, só por si, é uma pequena maravilha: "Casario e Figuras de um Sonho".
Dominguez Alvarez (1906 - 1942) foi um pintor genial natural do Porto, que morreu precocemente, como tantos artistas portugueses do século XX, "asfixiados" pelo Salazarismo...