quarta-feira, abril 28, 2010

Portugalidade ou Outra Coisa Qualquer

Sempre gostei do Barcelona. Foi sempre o meu clube de Espanha... mas este ano as coisas mudaram. De repente dei por mim a querer que o Real Madrid fosse campeão, provavelmente por causa do Cristiano Ronaldo. E também por não gostar do ar de rato de Messi, que agora ganha em todas as comparações...

Hoje também estava a torcer pela vitória do Inter (o meu clube preferido de Itália, desde sempre, por causa do equipamento...), mesmo sabendo que as equipas de Mourinho dão menos espectáculo que as de Guardiola...
Não sei explicar com muita racionalidade este gostar do Barcelona (continuo a gostar...) e querer que perca...

Na imagem o Fernando Couto e o Luís Henrique, com as cores do Barcelona a festejarem mais uma vitória...

terça-feira, abril 27, 2010

«Vive e Deixa Viver»

Este lema pescado dos "westerns" do velho Oeste americano, parece uma coisa simples, quase a soar para a banalidade.
O que é facto, é que são raras as pessoas que conseguem "viver e deixar viver", sem se preocuparem com o vizinho ou vizinha do lado (as mulheres no campo da intriga ainda são piores que nós...).
Ao principio fazia-me confusão esta filosofia. Hoje tenho a certeza que é a melhor que podemos ter, para enfrentar a rede invisível da "má língua e do código pasquim" (acho que é assim que o Veloso canta as palavras do poeta Tê...). Eles acabam por desmoralizar perante tanta indiferença...
Até os acham meio loucos.
Era o que se passava com o "Gringo", que reencontrei passados mais de vinte anos. Está quase igual, magro e seco, e distante claro, como os seus heróis.
Falámos da nossa vida, disse-lhe que entre outras coisas, também tinha escrito uns livritos, Ainda estou a ver o seu sorriso e o interesse em saber sobre o que escrevia. Comecei por dizer: «banalidades (são quase sempre...).» Mas depois acrescentei: «também escrevo umas estórias, com heróis parecidos contigo.»
Voltou a sorrir e a pensar que eu estava a brincar com ele.
Não estava, as pessoas que têm como lema, "vive e deixa viver", dão óptimas personagens. O pior é a vidinha, pouco complacente com esta filosofia.
Curiosamente, "Gringo" continua a fumar como o Clint Eastwood, com o cigarro no canto da boca...

domingo, abril 25, 2010

Histórias da Liberdade de um Jovem Libertino

Pouco tempo antes deste dia com nuvens, que todos queríamos limpo, escutei uma história fabulosa, contada por uma terceira pessoa, na presença do homem que aproveitou a primeira semana em Liberdade para devolver muitos dos enxovalhos e das ameaças que sofreu, aos gajos ordinários feitos com a "situação", que ainda não tinham tido tempo de "virar as casacas".

Ele, com um sorriso nos lábios, disse que não se lembrava de nada, o que sabia era o que lhe tinham contado, mas acreditava que sim, que era uma boa verdade, daquelas que o enchiam de orgulho.
Ainda hoje pensa que nunca bebeu tanto álcool como na semana de 25 de Abril a 1 de Maio de 1974, nem sequer sabe se dormiu uma única noite, pelo menos na sua cama.
Aos "vintes" o corpo é quase de aço...
Entre o aproveitar a situação e o prazer de tratar "os bois pelos nomes", nunca chamou "filho da puta", de uma forma tão desabrida, a tanta gente digna desse nome, como nessa semana memorável...
Mesmo sem se lembrar, diz que sim, que bela "ópera do malandro" a sua, tendo como destinatários os ditos "filhos da puta" que lanchavam com o regime e entregavam os colegas com coluna vertebral aos pretensos amigos da DGS.
O mais giro foi assistir à sua mudança de "pele", nas semanas seguintes.
Houve um deles, o "Germanov", até se filiou no PCP, e por lá ficou, como grande antifascista que era...
Ainda pensei que fosse uma brincadeira, mas foi mesmo assim. Nessa semana até a alguns polícias de giro, ele chamou, "filhos da puta", e eles saíam de fininho, com o "rabo entre as pernas"...

Esta fotografia de Luís Buñuel, realizador de cinema espanhol, não está aqui por acaso. Ele era quase assim na época, segundo os amigos...

sábado, abril 24, 2010

Para Uma Memória...

"Para uma Memória de Michel Giacometti", é o título da exposição que será inaugurada, logo à tarde, às 18 horas, na Galeria Augusto Cabrita, no Seixal.

E que memórias este Senhor nos deixou. De vez em quando aparece um senhor de outro país, olha para este canto, com olhos de ver, fica fascinado e diz:«é aqui que quero viver.»
E quando faz mais por este país que os que cá estão...
Talvez Portugal voltasse a ter futuro com a vinda de mais gente como o Michel, que nos ensinasse a amar as pequenas e grandes coisas que temos...
A exposição fica por lá até 29 de Maio.
Nas proximidades há ainda outra exposição, "Seixal - Imagens de Abril", para recordar esse dia inesquecível...

sexta-feira, abril 23, 2010

O Livro que se Transformou em Pedra...

Por hoje ser um dia especial, apeteceu-me inventar a história de um livro que se transformou em pedra.
Só não sei por onde começar...

(Provavelmente já faltou mais para que o livro deixe de ser de papel e possa ser folheado e marcado como tanto gostamos, mas enquanto ele vai resistindo, a história terá de ser outra, pelo menos a de hoje...)
Foi por isso que resolvi escolher um de dois caminhos...
De um lado estava um livro de capa gasta e velha, que de tanto ser lido e folheado, se cansou dos olhos e dos dedos dos leitores. Foi por isso que se resolveu transformar em pedra, em busca da paz de espírito, sem ser lido por devoradores pela noite dentro, ao ponto de começar a ficar descolado e com folhas soltas.
Do outro, um livro que passou tanto tempo parado na estante, sem que lhe tocassem sequer, que foi endurecendo de tal forma, que um dia descobriu que se tinha transformado em pedra...
Como eu não acredito que exista algum livro que se canse de ser lido, a minha opção para "livro de pedra", só poderá ser mesmo o pobre diabo que se encontra preso na estante, sem que alguém lhe pegue para o acariciar, para lhe sentir o cheiro e o apreciar as palavras...
(Agora falando um pouco mais a sério, há qualquer coisa de enigmático nestes tempos modernos, em que se vendem mais livros e há menos leitores - proporcionalmente...)
Eu sei que o livro é um objecto bonito (há cada um, com a capa mais linda...), mas das estantes apenas se vêem as lombadas...
Agora em relação aos livros parados nas estantes, só lhes posso chamar pobres coitados, que sabem que ninguém lhes vai pegar, a não ser para lhes tirar o pó. Quantos amigos vão perder pela vida fora...

quarta-feira, abril 21, 2010

Somos Assim, Estranhos...

A família há uns bons tempos que já não é o que era...

Estava sentado a escutar o desabafo de uma voz amiga e a pensar como foi desvalorizada a família, esse elemento essencial de qualquer Sociedade, que nos foi deixando mais solitários e até quase órfãos...
Um tio, daqueles que o tempo vai afastando morrera e o funeral acabou por ser um motivo de reencontro com os tios e primos, que não via há anos. Ela não percebia como nos deixávamos enrolar pelo tempo...
Eu também não.
Foi estranho, foi quase como se estivesse a ver-me ao espelho. Há tios e primos que também só reencontro em casamentos (já está quase tudo casado....) ou em funerais.
O óleo é da brasileira Tarsila do Amaral.

segunda-feira, abril 19, 2010

Bendita Nuvem

Temos a mania que só os portugueses é que são bons a tirar partido das situações, mas acho que é universal, faz parte da natureza humana.

A Ingrid foi apanhada em Estocolmo, no meio da nuvem do vulcão, com voos cancelados, e sem haver uma data disponível para o seu regresso ao nosso país, onde vive há oito anos.
Sabia que um casal amigo, com casa no Sul de Portugal andava há uns tempos a querer trazer para cá o velho Saab 9000, para as voltinhas. Como a viagem rodoviária é um pouco longa, coisa para três, quatro dias, no mínimo, acabavam sempre por dar preferência ao avião.
Como todo esta panorâmica quase dantesca pela Europa Central, Ingrid ofereceu-se para trazer o Saab, sem custos, para o nosso canto europeu, que escapou mais uma vez, de boa...
Quem me contou a história foi o Gui, seu companheiro há uma boa dúzia de anos. Disse-me também que ela não vem sozinha, trás uma amiga espanhola, jornalista, até Madrid, e ainda um casal de músicos brasileiros, até Lisboa.
Em vez dos quatro dias esforçados de estrada em estrada, vai ser uma viagem de pelo menos uma semana, com paragens turísticas em Malmoe, Berlim, Paris, Marselha, Barcelona, Madrid e Lisboa.
Um bom programa, calmo, económico, sem as especulações do costume, que começou hoje...
A fotografia é de Marcin Klepacki.

sábado, abril 17, 2010

O Jornalismo não Vive Apenas do Bom Grafismo

A última grande aventura jornalística portuguesa, parece ter os dias contados.

Refiro-me ao "I", que perdeu o director e há uns tempos que está no mercado, a ver se algum dos "barões" da comunicação social se deixa seduzir pelo projecto.
Pelas notícias divulgadas, ninguém se tem interessado muito pelo título nem pela proposta.
Gosto do formato e do grafismo, já em relação ao conteúdo, deixa muito a desejar, embora tenha bons jornalistas e colaboradores. Nisto do jornais, às vezes basta uma "ovelha negra" para que o rebanho fique tresmalhado.
Qualquer pessoa informada percebeu que houve a tentativa de se ocupar o espaço do centro-direita, que tão bons resultados deu com "O Independente" de Portas (algo que nunca foi conseguido...). Só que a história raramente se repete, pelo menos no jornalismo.
Tenho-o comprado religiosamente aos sábados de manhã, apenas devido à sua revista "Nós", dirigida por Pedro Rolo Duarte, capaz de fazer coisas diferentes e com qualidade. Mas como hoje chegou às bancas a última das cinquenta editadas, se não aparecer uma boa substituta, perdem um cliente ocasional...

sexta-feira, abril 16, 2010

Objectos Especiais

Não é preciso sermos especialmente materialistas ou saudosistas, para sentirmos o quanto alguns objectos nos são úteis e especiais. Como não fazem parte do clube dos "imortais", um dia acabam por perder a funcionalidade e têm de ser substituídos. O pior é sabermos que existe uma grande proabilidade de não encontrarmos um substituto à altura...

Inspirado neste tempo, fiz uma festa no meu chapéu de chuva que me acompanha a mais de vinte anos, resistindo a tantas chuvadas e temporais. Foi uma oferta do meu pai.
Tem o cabo a imitar cana da índia, o tecido já está um pouco gasto, com um pequeno furo e algumas pontas a desfiarem, mas as varetas prometem continuar a enfrentar os temporais, como se fossem "trinca-fortes". O mesmo acontece com umas calças ou um blusão que envelhecem, cujo modelo deixou de se fabricar, e logo aquelas farpelas que já faziam parte da "nossa moda", para a vida toda...
Às vezes até um caderno ou uma caneta, ou com outra coisa qualquer, deixam de aparecer no mercado. Nunca houve um tempo como este, em que as novas modas (surgem todos os dias) tornam quase tudo obsoleto, e claro, raro...

O óleo é de Leonid Afromov.

quarta-feira, abril 14, 2010

Vai um Cafezinho?

Com a moda dos dias disto e daquilo, era inevitável que também se inventasse o dia do café.
Só o descobri este ano, graças a uma colecção de pacotes de açucar muito curiosa, que nos oferece várias efemérides calendarizadas.
Imaginem só, calhou-me logo um pacote com o dia 14 de Abril, indicando que se comemorava o dia mundial do café. Mas não havia necessidade, pois se há bebida que nos acompanha diariamente, é a famosa bica, cimbalino, ou outra coisa qualquer, bem quentinha e aromatizada.
Embora não seja um "agarrado" - raramente bebo mais que um café por dia -, é uma bebida que me sabe bem. E além de agradável é muito social. Tantas conversas que se misturam com um café...

domingo, abril 11, 2010

Mergulhar na Paisagem

Não sei onde ouvi esta expressão, quase de certeza que não foi inventada por mim.

A única coisa que sei é que adoro "mergulhar na paisagem".
Quando não nos apetece pegar no carro e andar por aí, a aturar as "avarias" dos condutores de fim de semana, que enchem as nossas estradas, resta-nos o Tejo, que é sempre uma delícia a qualquer hora do dia.
Não sei porquê, mas gosto mais das suas margens, ao cair da tarde. Se possível, até conseguir ver o Sol a escapar, lá para os lados de Cascais.

Hoje foi assim, a maré estava baixa...

sábado, abril 10, 2010

Ainda Malcolm e Paris...


Estive indeciso em colocar esta fotografia, que acompanha o "libreto" das canções, de "In the Absence of the Parisienne", ou a capa do álbum...

E porque não, colocar as duas?...

sexta-feira, abril 09, 2010

Paris de Malcolm Mclaren

Passei um pouco ao lado da vida de Malcolm Mclaren, cujo dia a dia foi quase um turbilhão, pelo menos nas suas fases mais criativas.

A única coisa que posso acrescentar é que continuo a gostar muito de ouvir o seu álbum "Paris", muito pessoal, ao qual se juntaram as vozes de Catherine Deneuve, Françoise Hardy e Amina.
Embora não consiga explicar muito bem porquê, sinto que está ali muito da Paris que amo...

quinta-feira, abril 08, 2010

O Regresso à Civilização (Será?)

Eu estava ali, momentaneamente quase a mais, entretido a olhar para o Tejo.

Bebia um café e até me apeteceu fumar um cigarro, só para ver o fumo a fazer uma nuvem na esplanada solarenta.
O almoço tinha sido interrompido por um escritor quase famoso, que exclamava coisas risíveis para o meu companheiro, que de vez enquanto me olhava de lado, para ver se eu estava com cara alegre ou se fingia ter me ausentado para outro lado qualquer.
Ainda o estou a ouvir: «você não sabe a sorte que tem, por permanecer no anonimato, não ter gente à sua volta a pedir autógrafos, nos sítios mais inesperados.»
Quando nos deixou, lá tivemos que libertar o riso.
Acho que nem o Saramago ou o Lobo Antunes são muito importunados nas ruas, quanto mais um "escriba" da segunda divisão, armado em Tony Carreira da literatura.
O meu companheiro de mesa disse que todos os fulanos que querem ser famosos, deviam ser vendedores da "Remax", que nos enche as caixas do correio de caras larocas e também das outras...
Lembrei-me logo de um vizinho da tal empresa de sucesso, que até tem um carro personalizado, com a sua fotografia e os contactos em grande plano.
A janela é do Matisse.

terça-feira, abril 06, 2010

O João Pastor

A Páscoa tem sido sinónimo de mini-feiras no interior, numa pequena aldeia da Beira Baixa, onde é possível quebrar rotinas e aliviar o "popularucho stress".

Mesmo que me deite tarde, sou o sempre o primeiro a acordar. Depois de comer qualquer coisa, lá vou eu, em busca de nada, na companhia da bicharada que voa e canta, pelos campos, desta vez mais verdes e floridos, graças à boa da chuva.
Num destes passeios matinais também fui surpreendido pelas movimentações rápidas de um rebanho, que mudava de lugar de pastagem, sem ter tempo sequer para saborear a folhagem. Tudo graças à acção de um pequeno cão, ladino, que passou perto de mim e fingiu que não me viu, ali parado, a assistir ao espectáculo como se estivesse num "camarote".
Ao longe estava um rapaz, que de vez em quanto assobiava, para que o cão se acalmasse e deixasse o rebanho saborear a pastagem.
Aproximei-me e passei rente ao jovem que estava prestes a entrar na adolescência, dei-lhe um bom dia e recebi um nada de resposta. O único que respondeu foi um velho cão, pastor serra da estrela, que me avisou para desaparecer dali, como se estivesse a mais.
Lá segui o meu caminho, sem mudar de velocidade e sem parar de olhar para o rebanho...
Aquele encontro fez com que me lembrasse do meu pai, porque a sua primeira profissão foi pastor. Tantas vezes que em vez de ir à escola, tinha de ir guardar cabras e ovelhas, descalço, pelos montes e vales que circundavam a sua aldeia...

quinta-feira, abril 01, 2010

Um Cão em Cada Dedo

A Alice começa assim:
«trinta anos depois, o meu nome é ainda uma palavra com um rosto em definição [...]», e acaba: «a idade foi sempre ingrata. trinta anos depois, ainda não sei quem sou.»
Penso que as suas palavras reflectem o sentimento de uma geração, para quem este país tem tido um comportamento vergonhoso. Têm cursos, não têm trabalho, têm sonhos, não têm espaço para sonharem...
Talvez seja por isso que ela diz, mais à frente:
com um cão em cada dedo
as minhas mãos continuam à espera
de um poema que me leve daqui
[...]
gostava de me transformar numa palavra
não importa a ferida que possa causar
quando acontece um rosto por acaso
[...]
e também diz, noutro poema:
o meu medo é o deserto ser um livro,
o mundo todo ou só a minha casa ser um livro,
e eu ser um objecto imundo,
um adereço provisório do autor.
(que acaba assim:)
o meu medo é ter de ladrar para estar vivo.
Que dizer de uma poeta, que se exprime com esta Liberdade, com esta Coragem, sem ter medo de usar as Palavras Todas?