sexta-feira, setembro 29, 2017

Num Mundo Quase Perfeito...

Para mim, num mundo quase perfeito, não existiam maiorias, nem partidos a governarem durante mais de uma dezena e meia de anos (curiosamente ouvi a jeitosa da Cristas dizer quase isso sobre Lisboa, falou só numa dezena, porque parece ser o tempo do PS no poder na Capital...).

E durante as campanhas para eleições todos os candidatos a qualquer coisa deviam sofrer do "síndroma do pinóquio", ou seja, cada vez que dissessem uma mentira, sentiam o nariz a crescer, crescer, crescer... 

Como sempre, sei em quem devo votar, da mesma maneira que sei em quem não devo (é sempre bom não esquecer algumas pessoas que bem podiam andar à pesca  rente ao rio, em vez de se andarem a enganar e a enganar-nos, anos a fio...).

É também por isso que gosto particulamente das eleições autárquicas, por serem as únicas em que se vota sobretudo nas pessoas. Às vezes até votamos em pessoas que não pertencem ao partido que está mais próximo de nós. E é bom quando isso acontece. Pensamos mais na competência e nas qualidades humanas dos candidatos que da sua cor política...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, setembro 28, 2017

A Identidade (ou falta dela) dos Espaços...

O prédio onde moro tem menos de  20 condóminos, mas nos últimos tempos está a viver uma realidade nova. Depois de anos e anos em que os moradores eram os próprios donos das casas, agora vive o fenómeno do aluguer, da rotatividade das pessoas, ao ponto de termos a sensação de encontrar quase todos os dias gente nova a entrar e a sair do edifício, sem sabermos a  que fracção pertencem.

Esta nova identidade do prédio tem quase sempre mais contras que prós, porque a maneira de olhar para as pequenas coisas é completamente diferente. Por norma o dono de um apartamento tem um cuidado que os inquilinos normalmente não têm, desde o manter a porta da rua, aberta ou fechada, ao uso do elevador, passando pelo ruído nas escadas, há uma falta de sentido de posse que altera tudo... 

E claro, deixa de haver o tratamento de aldeia e de bairro, são quase todos "autómatos", que não conhecem palavras tão simples como o dom dia ou o boa tarde.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, setembro 26, 2017

Uma Tragédia e a Recordação de um Olhar...


Ontem contaram-me uma história intensa, passada há muitos anos na Trafaria.

A personagem principal era um antigo futebolista do Belenenses, que depois de abandonar os estádios, voltou à sua antiga profissão, barbeiro, embora continuasse a treinar algumas equipas do Concelho, quando o convidavam.

Talvez por ser um homem educado, alguns pescadores da Vila começaram a insinuar que ele era homossexual e como devem calcular, a insinuação tornou-se boato e atingiu as proporções, que normalmente as coisas ligados ao sexo, atingem...

Como costuma acontecer nestes casos, a "insinuação" acabou por chegar aos ouvidos do protagonista, que atingido na sua honra, jurou vingança.

E foi o que aconteceu ao começo de uma das noites seguintes na Vila, quando munido de uma arma, bateu a uma porta, apareceu a esposa, a quem mandou chamar o marido. Assim que este se aproximou disparou a pistola à queima roupa e afastou-se, deixando o caído no soalho da casa. A segunda vitima foi um pescador que se preparava para ir para o mar, chamou-o e sem qualquer palavra, atingiu-o mortalmente. Houve ainda uma terceira vitima que encontrou na rua e deixou estendido no chão.

Depois regressou a casa, deitou-se na cama e deu o tiro final... 

Este episódio acabou por me recordar um homem com quem trabalhei, que me olhava de uma forma estranha e incómoda, tentando "despir-me com o olhar". Nunca se insinuou ou tentou alguma coisa. Simplesmente me mirava, como eu penso que miram, os homens que gostam de homens...

segunda-feira, setembro 25, 2017

Um Homem Especial...

Ontem não me apeteceu escrever uma linha sobre o desaparecimento do Bispo Manuel da Silva Martins, que ficou conhecido para a história como o "Bispo Vermelho", devido aos 23 anos que passou na diocese de Setúbal (de 1975 a 1998). 

Nesta região Dom Manuel foi sempre igual a si próprio, especialmente na defesa dos mais desfavorecidos e desprotegidos, num distrito que pagou a factura por ser povoado por operários, e por isso mesmo, gente maioritariamente de esquerda.

Sem querer fazer qualquer paralelo, penso que tal como o Papa Francisco, Dom Manuel conseguiu trazer mais "ovelhas para o rebanho" da igreja católica, que outro padre qualquer, porque tentou ser sempre justo, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, quase sempre diferente da igreja oficial, que adora colar-se ao poder, mesmo que este seja desigual e repressivo...

Se existe de facto um lugar especial para os bons e justos no além, as portas estão abertas para Dom Manuel Martins.

(Fotografia de Pedro Granadeiro)

domingo, setembro 24, 2017

Quando me Descubro Racista...

Eu sei que não olho as pessoas de maneira diferente devido ao tom da sua pele. 

No meu intimo sei que há só uma coisa que me irrita nos pretos, a sua forma de se expressarem, o uso que dão às palavras.

Quando vejo um preto falar de uma forma muito pulida e direitinha, quase sem mexer o corpo, digo logo para dentro de mim: «aqui está mais um "preto-branco"». E sou ainda capaz de ir mais longe e pensar que é alguém que não se sente bem com a sua pele.

Ou seja, para mim um tipo de pele mais escura deve falar e andar quase a dançar, por que é assim que os trópicos mandam...

Até vou dar três exemplos de três figuras públicas, a quem não consigo colar as palavras e os movimentos de corpo à sua cor de pele:  Boss AC (músico), João Mário (futebolista) e Hélder Amaral (político).

E é nestes momentos que me descubro racista...

(A utilização dos termos "preto" e "branco" foi propositada e não teve nada de racista. Além de gostar menos da palavra "negro", num mundo normal (sem ter de ser a preto e branco...) nós somos os brancos e eles os pretos e nenhum de nós tem culpa da forma como fomos "pintados")

(Fotografia de Lorena Monique - estudante universitária de Brasília, autora do projecto fotográfico "Ah Branco dá um tempo", contra o racismo nas universidades)

sábado, setembro 23, 2017

Olhar para Dentro da Cidade

Gosto de olhar para dentro da cidade, estacionado por breves momentos em alguns "miradouros", inesperados, capazes de me oferecerem uma outra maneira de ver o casario imenso de Almada. 

Claro que nem sempre fico satisfeito com o que descubro, de repente a "urbe" parece-me um pouco mais alta, mais larga, e também mais "encaixotada", pelo menos quando comparada com o que vou vendo quando passo pelas ruas.

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, setembro 22, 2017

Andar a Ver "Veleiros"...

Sempre que se aproximam as "vésperas" de lançar um livro, fico com a cabeça demasiada ocupada por insignificâncias, ao ponto de quase não ler, e também não sentir grande vontade de andar pelas ruas com a "cabeça no ar", em busca de palavras soltas que trazem coladas as histórias dos outros. 

É por isso que ando há uma série de dias a "escrever" quase só para as legendas de imagens...

Sei que "postar" não devia ser obrigação. Mas quando não há muita inspiração... pelo menos que vá aparecendo uma ou outra fotografia, para "desmontar"...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, setembro 21, 2017

Um Artista, entre Artistas Almadenses...


Há pouco mais de uma hora foi inaugurada a exposição artística da Imargem, na Galeria Municipal de Almada.

É uma mostra de arte de grande qualidade - uma das melhores do Concelho - que conta sempre com vários trabalhos de gente amiga. 

Os três homenageados deste ano são de alguma forma especiais. A Gena pelo companheirismo e pela amizade que partilhámos...  A Aurora e o Carlos, porque são de facto dois grandes artistas plásticos, da nossa Cidade.

Apetece-me dar um destaque especial ao Carlos Morais e à sua obra, por que esta tem um cunho muito pessoal, tornando-se facilmente identificável, pela qualidade estética.

Nesta fotografia podemos ver um quadro e uma pequena escultura da sua autoria, que como calculam, são ainda melhores ao vivo...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, setembro 20, 2017

O Pescador da Romeira e o seu Fiel Amigo

Este foi um dos "bonecos" a que achei mais graça da vasta "colecção" que dá vida aos muros das fábricas abandonadas do Caramujo e arredores.

O pescador entre o sonhador e o sonolento, sentado a pescar e a "cachimbar" na companhia do seu fiel companheiro, iluminado pelo Farol de Cacilhas, que passou a ter uma nova função, oferecer a luz de palco aos peixes...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, setembro 19, 2017

Os Muros da Romeira Voltaram a Sorrir...

Graças ao Festival Urbano, que se realizou no fim de semana de 9 e 10 de Setembro na Romeira (Cova da Piedade), os seus muros e ruas abandonadas voltaram a sorrir...


Embora seja um lugar cada vez mais abandonado, vale a pena visitar para ver a arte dos nossos artistas de rua.

(Fotografias de Luís Eme)

segunda-feira, setembro 18, 2017

O Cinema que nos é Capaz de Oferecer Algo de Novo...


O cinema embora nunca tenha descurado a diversão, quis sempre ir mais longe, até por gostar de jogar com as nossas emoções.

Esta sua faceta lúdica faz com que nem sempre sejamos capazes de reconhecer a sua importância para a sociedade, especialmente no campo do conhecimento. Não nos oferece tantos pormenores como a literatura, mas dá-nos a imagem dos lugares e das coisas, tal como se fosse um espelho.

Exemplos? Muitos de nós só conheceram os animais da selva no seu habitat natural dentro das fitas do Tarzan, o "Rei da Selva", esse mesmo, o verdadeiro, o nadador olímpico, Johnny Weissmuller. Normalmente ele fazia-se acompanhar da Jane e da Chita, e de mais uma dúzia de animais, todos de cor cinzenta (eram os tempos de ouro das fitas com o preto e o branco).

Tenho saudades do cinema que nos é capaz de oferecer algo de novo...

domingo, setembro 17, 2017

Utopias Futebolísticas...

Ontem, ainda antes do almoço, assisti a uma discussão lamentável sobre clubes de futebol (sim, quando apenas de fala do Benfica e do Sporting, de presidentes, directores de comunicação, etc, fala-se de tudo menos de futebol...). Os argumentos utilizados por ambas as partes foram como costuma ser hábito, rasteiros e ofensivos. 


Embora estivesse de fora da conversa e não fosse "doente da bola", quando vim para casa, fiquei a pensar que se não gostasse do Benfica, era indiferente a todo aquele folclore, a todas aquelas artimanhas de quem quer ganhar a qualquer preço, que tanto pode ser com a ajuda do árbitro, do poste ou até do defesa adversário, que às vezes se engana na baliza.

Mas é péssimo que os estádios tenham cada vez mais espectadores que vão assistir aos jogos apenas para verem os seus clubes ganharem (alguns até passam o tempo todo de costas para o relvado...), mesmo que joguem um futebol miserável, e ganhem com uma grande penalidade que só existiu no apito do árbitro...

Sei que toda esta "nuvem de fumo" é provocada pelas direcções de comunicação de clubes, compostas por jornalistas (como é que esta gente alguma vez podia ser isenta no exercício da sua profissão, já que passa o tempo todo a "incendiar" o futebol?), capazes de tudo para promoverem os seus "patrões" ou para denegrir a imagem dos adversários.

O mais engraçado, é que no final do dia nem fiquei chateado por o Benfica ter perdido no Boavista. Lembrei-me dos muitos jogos que tem ganho com "sorte", sem ser a melhor equipa em campo. E que talvez lhe faça bem, que aconteça o contrário... Talvez os seus dirigentes percebam que é mais importante contratar um bom guarda-redes e um bom defesa central, que continuarem a pensar que são as "camisolas encarnadas" que ganham os jogos...

(Ilustração de Enoch C. Bolles)

sexta-feira, setembro 15, 2017

É Impossível Meter o Meu Gosto no Bolso...


Embora por vezes tente, sei que não é possível ser neutro, muito menos meter o meu gosto no bolso.

Onde experimento mais essa sensação, é quando monto uma exposição artística sozinho (algo que acontece mais vezes do que queria...). Por muito que me tente defender com as cores e os tamanhos das obras, usando-os inclusive como pontos de referência, acabo quase sempre traído pelos meus olhos, que sabem ser convincentes, ao não prescindirem das suas escolhas.

Como as pessoas raramente se manifestam (pelo menos publicamente...), acabam por não questionar os critérios utilizados na montagem, e ficam sem saber a razão para do quadro do "Manel" ter mais destaque que o da "Maria"...

Ou seja, não tenho a oportunidade de lhes dizer, que é por ser "mais giro"...

(Óleo de Henri Matisse)

quinta-feira, setembro 14, 2017

Simbolismos...

Apeteceu-me voltar ao Museu Leopoldo de Almeida, no Centro das Artes de Caldas da Rainha, e a uma obra cheia de simbolismo.

A caravela diz quase tudo... mas os músculos do navegador, bem definidos, fazem lembrar Cristiano Ronaldo, provavelmente o grande "navegador" português do século XXI...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, setembro 13, 2017

Um Centro de Artes Especial...

Passei pelas Caldas e quase sem dar por isso, entrei nos jardins povoados de esculturas do Centro de Artes, que apresentam os espaços museológicos de António Duarte, Barata-Feyo, João Fragoso, Leopoldo de Almeida e o Espaço da Concas (que estava fechado...).

Ainda não conhecia o Museu Leopoldo de Almeida e fiquei maravilhado com a arte deste grande escultor, que fez coisas extraordinárias como o Padrão dos Descobrimentos, entre centenas de obras históricas, que estão espalhadas pelo país.


Antes de partir, ainda entrei na "Casa de António Duarte", onde fiquei maravilhado com os gessos do quase atelier e com tantas outras preciosidades... Como as damas desta fotografia... e claro dos bustos, de tanta gente bonita.

(Fotografias de Luís Eme)

terça-feira, setembro 12, 2017

Talvez...


Talvez esta fotografia com uma barca, a ver o sol a partir, defina melhor a solidão que um cesto cheio palavras...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, setembro 11, 2017

Falta de Imaginação ou Qualquer Coisa Parecida...


Um das coisas que sempre me fez confusão foi a "imitação" que se pratica no jornalismo (cada vez mais...). Sei que é algo que interessa a quem se prepara para lançar um livro, fazer um concerto ou estrear uma peça de teatro. Mas podiam variar. Não digo que entrevistassem o papagaio, mas um outro actor... ou então fazerem perguntas diferentes daquelas que o entrevistado quer responder (eu sei que ele está mais interessado em vender "batatinhas", mas...).

Eu também sei que não é por querer,  acontece. É por isso é que às vezes as capas dos jornais desportivos "Record" e "A Bola" conseguem acertar na mesma fotografia e na mesma manchete (sem espiões...) no mesmo dia. 

Mesmo sabendo que deveria ser um jornal sem futuro, gostava de trabalhar num diário que conseguisse fazer notícias sempre diferentes da concorrência, entortando-lhes os olhos todas as manhãs, quando fingiam não reparar na banca de jornais.

(Ilustração de Charles Dana Gibsons)

domingo, setembro 10, 2017

Mistérios, Criatividades...

«Um mistério que nunca poderemos desvendar consiste na troca de papéis entre a experiência e criatividade. Porém, a grande magia da escrita consiste no facto de nunca nos conhecermos a nós próprios enquanto não tivermos escrito o que queremos.»

                                                        (John Le Carré, escritor inglês)

(Fotografia de Luís Eme - Destaque de pormenor do desenho de parede na Fonte da Pipa)

sábado, setembro 09, 2017

Aproveitar o Vento no Tejo...

Bebi café, comprei o jornal e fui andar.

O vento "empurrou-me" até ao miradouro da Boca do Vento.

Olhei o Ginjal e descobri mais que um motivo de interesse. Percebi que tinha de descer... Não as escadas ("trancadas" por uma grade metálica há uma eternidade...), mas a estrada quase íngreme para o Olho de Boi.

Já na Fonte da Pipa, aproveitei a maré baixa para tirar fotografias repetidas.

Mas o cenário na Praia das Lavadeiras era novo. Além da praia com ondas e bastante areia havia também duas barcas fundeadas, bem aproveitadas em ângulos e lugares diferentes.

E já no regresso a Cacilhas, descubro quase uma regata de navegadores, capazes de dançar com a música e o sopro do vento.

(Fotografia de Luís Eme) 

sexta-feira, setembro 08, 2017

«Não devemos ter medo de divertir os outros»

Quando entrei no seu escritório, vi-o sentado à beira da janela, a olhar para a sua rua e para as pessoas que passavam. Só faltava a habitual nuvem de fumo à sua volta que quase o "camuflava".

Não nos encontrávamos há uns dois ou três anos. O tempo passa sempre rápido demais, especialmente para quem leva a vida a correr, como é o meu caso.

Normalmente falávamos da vidinha e comentávamos uma outra notícia de jornal, estranha, que ele guardava, para desmontar ou recriar. Inevitavelmente, aparecia sempre um livro ou escritor no meio das conversas, que ele dizia serem muito bons, sem nunca me convidar a lê-los.

Desta vez foi diferente, falou-me sobretudo de livros e de escritores, a vidinha só apareceu nos intervalos. Já não escreve nada, olha para as duas mãos e diz que não pode imitar o Zé e dizer que perdeu uma delas, pois elas continuam por ali, enquanto exercita os dedos. Sorriu quando acrescentou que o que o levou a voltar a ler muito foi a esperança de apanhar de novo a "febre da escrita". 

Sem desanimar voltou aos livros: «A imensidão de livros bons é tal, que aparece sempre alguém que nos surpreende. E dos lugares mais improváveis, desde a Índia à Croácia.»

Perguntou-me se continuava a ler, muito. Disse-lhe que lia sem o muito. Pois só conseguia "encher a barriga" de ler nas férias...

Não teve medo de confessar que como escritor sempre foi um chato, que se tinha esquecido do essencial. Voltou a sorrir e a dizer-me algo que se esquecemos muitas vezes no mundo das culturas: «Não devemos ter medo de divertir os outros.»

Saí da sua casa reconfortado, a querer ser cada vez menos chato e com vontade de viver com os livros até ao fim, como ele, até por saber que a função de leitor é  muito mais divertida que a de escritor...

(Óleo de Karen Hollingsworth)

quinta-feira, setembro 07, 2017

As "Certezas" e as Insinuações de Algum Jornalismo...

Ainda a propósito do texto de ontem, acho que não devo deixar passar em claro as palavras de um antigo director de jornal, conhecido como "arquitecto",  um homem cheio de "certezas" e de "truques", que continua a ter a mania que conhece muita gente e muito mundo. O senhor também quis ser escritor e o seu último livro, é de tal forma miserável, que foi retirado do mercado. Falo de José António Saraiva.

Mas vamos lá ao jornalismo. "Política à Portuguesa" era o título da coluna que assinava semanalmente no jornal que dirigia (Expresso) e a 6 de Novembro de 2004 escreveu o seguinte:

«O vendaval que tem varrido a área dos "media" nas últimas semanas faz para já uma vítima da qual muito pouco se tem falado. 
Refiro-me ao "Diário de Notícias".
Antes desta crise o DN era um jornal em situação difícil - hoje é um jornal moribundo.
E isso representa uma perda inestimável para o jornalismo português.»

Só transcrevo esta parte do artigo - que procura fazer uma viagem pela história da comunicação social, metendo pelo meio e pelos lados várias insinuações carregadas de veneno - e o seu último parágrafo:

«A morte anunciada do "Diário de Notícias" não foi acidental nem por doença - tratou-se de um crime.»

Só posso dizer que quase treze anos depois, o "Diário de Notícias" continua bem vivo. Sei que passa por dificuldades, como todos os jornais... Mas a única evidência desta crónica, é que a "bola de cristal" do arquitecto Saraiva é muito pior que as usadas nas feiras...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, setembro 06, 2017

Olhar Para os Jornais que não Serviram para Embrulhar Coisas no Dia Seguinte...


Passo bastante tempo a pesquisar coisas em jornais antigos, para trabalhos meus e também para "encomendas". Normalmente os jornais mais antigos não me surpreendem, talvez por os olhar sobretudo como um objecto de história, com algo que me não é próximo.

Não sei se lhe chame paradoxo, mas acabam por ser os jornais mais recentes (da década de noventa do século passado e do começo do novo milénio...) que me fazem abanar a cabeça e até sorrir, especialmente quando descubro algumas ideias "assassinas" de vários opinadores "consagrados" que, felizmente, não acertaram, por exemplo, na "vida curta" que ofereceram tanto aos os livros como ao jornalismo ou à história...

Deste trio, o jornalismo acaba por ser aquele que vive hoje com maiores dificuldades, graças à rivalidade cada vez mais "selvagem" das redes sociais. E as coisas só mudarão quando ele voltar a achar a "chave" da diferença e deixar de andar a "reboque"...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, setembro 05, 2017

Comparações Pouco Felizes...


Falar de Deus e de fé numa mesa cheia de cépticos e brincalhões, faz com que o próprio Deus, se tiver mesmo o hábito de estar em todo o lado, vá dar uma curva. 

O bom do  Chico, prestes a esgotar os seus  argumentos divinos, fez uma comparação quase infeliz: juntou a fé à incerteza da paternidade para qualquer homem. Não concordei nada com este atalho, por não precisar de fazer qualquer exame de adn para ter a certeza de que os meus dois filhos são mesmo meus.

Foi então que a conversa deu mais outra volta e foi desviada quase de rompante para o mundo dos futebóis, quando um "médium" qualquer foi bem substituído pelo Adrien e William Carvalho, estes sim, médios de alta qualidade.

Continuo a pensar que qualquer um de nós sabe se tem, ou não, razões para duvidar da  paternidade, tanto dentro como fora do casamento. Foi por isso que até me lembrei do pretenso filho do Baltazar que quando nasceu saiu mais castanho do que deveria, sem estar tempo a mais no "forno". E que a família da esposa para justificar o insólito acontecimento ainda tentou inventar a história de um qualquer  "bisavô africano", de Chelas...

(Óleo de Maurice Denis)

segunda-feira, setembro 04, 2017

Escritores, Porcos e Chouriços...

A idade dá-nos muitas coisas, a maturidade talvez seja uma das mais importantes, pois faz com que sejamos capazes de antecipar cenários e até de utilizarmos algum cinismo, especialmente para quem gosta de nos tomar por parvos.

Recebi um telefonema, mais uma vez de alguém a pedir-me qualquer coisa (99% dos telefonemas que recebo é de gente a pedir-me coisas e nunca a oferecer o que quer que seja. Claro que não estou a contar com os beneméritos dos "call-centers"...). E lá disse, mais uma vez, que não tinha nada do que ela queria na "minha loja"...

Olhei para trás e lembrei-me de dois amigos importantes no meu percurso de "historiador local". Além do seu companheirismo e amizade ofereceram-me retratos perfeitos de algumas personagens locais, ligadas ao mundo dos livros, famosas por só darem "chouriços a quem lhes dava porcos".

Foi graças a estes dois companheiros que fui escrevendo livros sobre Almada (já quase duas dezenas...). Às vezes penso que foi mau, outras nem por isso. Ou seja, podia ter feito outras coisas. Poder podia, mas... Isto explica apenas um bocadinho da história de ter escrito um romance há já mais de vinte cinco anos e nunca mais ter repetido um Verão  tão "inspirador e solitário"...

Quando escrevi o "Bilhete para a Violência", vivia só, tinha duas ou três amigas especiais, mas nada de compromissos com quem quer que fosse... Podia chegar a casa às dez da noite e estar a escrever até às cinco da manhã, apenas com a companhia de uma música suave... e no dia seguinte podia começar mais cedo e ficar a escrever até mais tarde... E foi muito assim no Verão de 1991, tal era a obsessão (algo que nunca mais senti por nenhum candidato a "romance"...) pela história e pelas personagens, que já mandavam mais no livro que eu (isto aconteceu mesmo, ao ponto de conseguirem alterar vários capítulos).

É por isso que penso que só voltarei a conseguir escrever um segundo romance quando for possível "meter férias" da minha vida familiar.

Quem diria, pensei nestas coisas todas por causa do telefonema de uma "caçadora" de porcos... Tenho de lhe agradecer.

(Óleo de Alfred Victor Fournier)

domingo, setembro 03, 2017

A Ficção está Sempre Colada à Realidade...


(pequeno diálogo de um conto que escrevi, inspirado numa história real)

Dois amigos discutem por causa de um caso quase bizarro. Um terceiro amigo tinha encontrado a namorada dentro de um carro a fazer sexo com um colega de trabalho. Pacífico por natureza limitou-se a ligar a lanterna do telemóvel e a apontar-lhes a luz para os olhos, a querer dizer-lhes «estou aqui a ver o espectáculo, não foi ninguém me contou». 
O mais grave da coisa é que era um daqueles namoros que apostavam no casamento, já com casa escolhida, etc.

O mais irritado dos amigos disse: 

- Há coisas que eu sei. Nunca fui nem irei para a cama com a mulher de um amigo. Se ela me aparecesse à frente, nua e num posse convidativa, virava-lhe as costas.

O mais brincalhão quis retirar algum dramatismo à conversa e acrescentou:

- Estás a dizer isso porque sabes que nenhuma namorada ou mulher de um amigo teu vai querer ir para a cama contigo.

(Escolhi este óleo de Pablo Santibanez Servat, porque foi publicado com o texto «Não tens frio?», que continua a ser a "posta" com mais visualizações  - milhares, o que a nudez faz... - de sempre do "Largo")

sábado, setembro 02, 2017

José Freitas e o Tejo


Guardei este cartaz para falar desta homenagem, a um grande nadador de longas distâncias e mais tarde excelente treinador de natação, o lisboeta José Freitas, a quem os piedenses tanto devem, pelo magnífico trabalho que fez na SFUAP, a sua "fábrica" de extraordinários nadadores, como foi o caso da Ana Francisco, Campeã Europeia de Juniores dos 200 metros mariposa.

Não podia haver melhor homenagem, que esta, com mais um abraço de José Freitas ao Tejo, rio onde nadou tantos e tantos quilómetros...

sexta-feira, setembro 01, 2017

Somos Piores do que Parecemos...


Não me vou deter nas doses (nem medir...) de hipocrisia que nos cercam, da gente com cinquenta caras, capazes de dizer uma coisa agora, e passado um minuto o seu contrário.

Porque onde revelamos realmente o que somos, é nas estradas... por pequenas e grandes coisas. Vou só dar dois exemplos.

Apesar de tudo o que aconteceu no nosso país nos últimos meses, durante os meses de Julho e Agosto vi, in loco, vários condutores, de ambos os sexos, a deitarem beatas acesas pela janela fora. Isso passou-se em autoestradas mas também em estradas nacionais ladeadas de árvores.

Por isso é que nem devia estranhar que o fulano que há minutos se atravessou à minha frente, de carro, numa das ruas da cidade, em vez de fazer um gesto amigável de desculpa, ainda tenha levantado os braços e dito coisas feias, por eu ter buzinado. Talvez ele precisasse de um ringue de boxe para acalmar as fúrias destes dias malditos, mas eu nem por isso... Isso acontece porque o blogue também acaba por ser um "ringue", onde podemos extravasar as "raivas", e nem vou falar do "facebook" e do "twitter", onde já existem "mac gregores" com fartura...

No fundo cada um de nós tem o "ringue" que quer e que merece.

Mas é lixado viver num mundo em que somos piores do que parecemos...

(Óleo de Marcello Dudovich)