terça-feira, julho 22, 2014

Férias Diferentes

 
As férias este ano são diferentes.
 
São mais curtas e mais calmas.
 
Mesmo assim vou até ao Sul. Sei que a praia pode ser uma impossibilidade, mas pelo menos vou ver e escutar o mar...
 
O óleo é de Mihai Criste.
 

segunda-feira, julho 21, 2014

O Nosso Corpo Não Ajuda...


Por muito que nos esforcemos, nunca conseguiremos atingir o ponto de sedução feminino.
 
Podia começar por falar dos pés, do sacríficio calculado que empurra as mulheres para o uso de sapatos ou sandálias de tacão alto, que lhes oferece um andar que não nos deixa indiferentes.
 
E depois ir subindo, para o vestido acima do joelho, ou para o outro comprido, mas que dança com o vento...
 
E parar no decote, que tem um poder único no olhar masculino.
 
E por fim o mais importante, o rosto que segura o olhar, o sorriso, sem esquecer a companhia dos cabelos macios...
 
O nosso corpo não ajuda mesmo.
 
O óleo é de Fabian Perez.
 

domingo, julho 20, 2014

Uma Particularidade das Casas Vazias


As casas sem pessoas e com pouco mobiliário têm barulhos diferentes dos lugares com vida e movimento. Todos conhecemos o seu eco característico, que quase as aumenta de tamanho.
 
A queda de um simples lápis no mosaico adquire uma sonoridade que viaja por todas as suas divisões.
 
Mesmo os barulhos do exterior, parecem mais nitidos.
 
Há por ali uma solidão, um vazio, que se deixarmos, é capaz de entranhar-se por nós adentro.
 
O óleo é de Alain Gazier.
 

sábado, julho 19, 2014

«O amor é uma coisa passageira.»


A Rita consegue dizer coisas inteligentes com uma leveza, que quase passam despercebidas.
 
Foi por isso que fiquei com a sensação que fui a única pessoa que memorizou o que ela disse, numa das nossas pausas para o café, que: «o amor é uma coisa passageira.»
 
Embora o amor esteja atolado de definições e possa ser vivido de muitas maneiras, acho que ela tem alguma razão.
 
Até mesmo quando o casamento dura quase  "para sempre", o amor tende a passar a ser outra coisa, entre a amizade, o respeito e a lealdade.
 
Nestes casos, de longas vidas a dois, parece que o corpo deixa de ser só nosso...
 
O óleo é de Isabel Guerra.
 

sexta-feira, julho 18, 2014

Elogio com Fumo ao não Fumador

 
Nunca tinha ouvido um elogio tão forte e sentido, a um não fumador activo, pelos frequentadores do seu escritório.
 
Embora ele nunca fumasse, nunca proibiu ninguém de fumar no seu espaço de trabalho e local de abrigo e de escrita, nem mesmo depois das proibições oficiais e da "publicidade assassina" nos maços de cigarros.
 
Depois de escutar os amigos, quase sem jeito, desculpou-se que sempre gostou do cheiro do tabaco.
 
Mas do que ele gosta muito, muito mais do que do cheiro do tabaco, é da liberdade...
 
O óleo é de Bernard Safran.
 

terça-feira, julho 15, 2014

O Poder do Dinheiro


O último escândalo da banca é sintomático da forma de estar das grandes famílias que têm vivido encostadas ao poder político desde os tempos de Salazar (só foram realmente incomodados durante o PREC). Uma boa parte é gente que acredita mesmo estar acima da lei e que quase tudo lhes é permitido, bastando para isso, permanecer fiel aos "poderosos" clãs familiares.

Por essa razão é que só pessoas com muita coragem, são capazes de se libertar desta "teia" e de terem vida própria, longe de uma vida aparentemente de sonho. Digo isso porque a aparência é a nota dominante da vida desta gente, onde até os cursos e a maior parte dos casamentos são "escolhidos" pela família.

Conheço uma das poucas pessoas que rompeu com esta "vida ilusória", e que ao romper com os privilégios familiares, para ser ele próprio, passou a ser o "comunista" da família, mesmo sem ter nada a ver com esta força política.

Quarenta anos depois de Abril, ainda há muita gente que vê o mundo apenas a preto e branco. E se a própria sociedade os ajuda a pensar desta maneira, não é preciso dizer mais nada...

O óleo é de Armando Sendin. 

segunda-feira, julho 14, 2014

Viver Hoje na Palestina


Não sei como é que alguém consegue viver na Palestina nestes tempos infindáveis de guerra.

Pergunto a mim próprio, se são pessoas que têm um sentido muito forte de nacionalidade, ou se simplesmente se sentem encurraladas ali, como se habitassem num lugar transformado em beco sem saída...

Sei que admiro este povo, por continuar a resistir e a lutar contra um invasor, que nem sequer esconde o rosto.

Invasor esse que foi vitima de um dos maiores (senão o maior) extermínios humanos da história do mundo. É isso que me faz mais confusão: como é que um povo que sentiu na pele a violência e a injustiça, não tem grandes problemas em destruir vilas e aldeias, ceifando a vida a "inocentes"...

O óleo é de Justine Brax.

sábado, julho 12, 2014

Austerlitz de Sebald


Acabei de ler, "Austerlitz", de W.G. Sebald.

Não é um livro fácil (foi por isso que o coloquei de lado, pouco entusiasmado com as suas primeiras páginas), é por isso que não devemos desistir de qualquer livro no inicio...

Há alguma originalidade na forma como o autor organiza esta história, no início muito documental, avançando depois para um registo memoralista, muito bem construído, a partir de um encontro entre dois homens. Encontro esse que se repetirá algumas vezes, com diferenças temporais, e retratado sempre como uma daquelas coincidências estranhas das nossas vidas.

A personagem principal, Jacques Austerlitz, conta ao narrador a sua triste história de vida, com mais que uma identidade, pormenorizadamente. Austerlitz nunca se conseguiu libertar dos seus fantasmas, nem do drama de ter perdido os seus verdadeiros pais durante a Segunda Guerra Mundial, por terem cometido o pecado de ser "judeus"...

Este livro é uma viagem dentro de outras viagens, contadas pelo Austerlitz a um amigo estranho, que tem o condão de saber ouvir...

É mais um daqueles livros que vale a pena ler, por estar bem escrito e por deixar algo da sua história dentro de nós.

sexta-feira, julho 11, 2014

É um Vício, Apesar das Encomendas...


Sim, ainda leio jornais de papel.

Com menos atenção e menos paciência para as muitas "encomendas", que surgem embrulhadas em artigos de opinião, da cor do "poder".

É por isso que uma das minhas diversões de leitura continuam a ser os jornais desportivos, por saber que são os mais efémeros, os que mais embrulham compras de mercearia e de mercado (sem a ASAE saber...).

Nada que me incomode. Claro que neste começo de Verão tenho perdido muitas coisa, muitas aquisições do Benfica, que de certeza fazem primeiras páginas, quase sempre "encomendas" de empresários.

Às vezes questiono-me, se o jornalismo não será também uma espécie de mercearia, que vende notícias, entre outras coisas...

O óleo é de Cesar Prada.

quarta-feira, julho 09, 2014

A Curiosidade (ou não) Sobre o que Desconhecemos


Embora possa parecer estranho, há muita gente que se esforça por saber o mínimo possível sobre futebol. Ou seja, sabem que existe uma bola redonda, duas balizas, um campo, uma mão cheia de rapazes ou raparigas atrás dela e pouco mais.

Foi por isso que imaginei um encontro fortuito  com um desses homens que sabem tudo sobre o jogo da bola e um ignorante...

«Ele que por principio fugia de tudo o que eram conversas sobre jogadores, golos e árbitros, desta vez ficou atento às palavras do homem de meia idade, que falava calmamente, como se existisse magia dentro de um campo de futebol. Por ser um homem antigo falava de craques que ele nunca ouvira falar como: Di Stéfano, Kopa, Kubala, Yaschine, Matateu, Germano, Travassos ou Charlton. 
Mas quem o deixou mesmo impressionado foi "o Anjo das Pernas Tortas", um brasileiro que tinha como nome de "guerra", Garrincha, e que trocava os olhos aos adversários, que deixava sentados no relvado, a espumar, com as suas fintas únicas de corpo e alma.
Ao escutar aquele homem, maravilhado com os toques mágicos destes craques, ficou a pensar que um dia qualquer ainda podia vir a gostar de futebol...»

(Na foto surge Garrincha na praia, a mostrar as suas habilidades, provavelmente a uma das suas muitas namoradas, de uma vida demasiado errante fora dos estádios...)

segunda-feira, julho 07, 2014

Horizontes Cada Vez Mais Curtos para os Jovens


Ainda a propósito dos vestígios da conversa que deixei por aqui ontem, resolvi falar mesmo na primeira pessoa. Ou seja, tendo como exemplo os meus filhos.

O meu filho de dezasseis anos, mais "absorvido" pela crise e pelo desemprego, não arrisca nenhuma profissão, quando lhe pergunto o que quer ser amanhã...
A minha filha de nove anos quer ser actriz, sem medos. Sei que ainda não tem consciência de como se trata a cultura e os agentes culturais neste país, mas...

Acredito que se as coisas continuarem assim, provavelmente irão para outras paragens, tal como tantos jovens.

Tudo isto graças aos nossos governantes, que além de hipotecarem o país economicamente, também estão a empurrar o "futuro" de Portugal para fora das nossas fronteiras.

Claro que poderão estar a pensar em colonatos de chineses, malaios, japoneses ou de russos como solução para combater a "desertificação" humana...

O óleo é de Ivana Lomova.

domingo, julho 06, 2014

Ainda Bem que a Infância Continua a ser um Mundo de Sonhos


Todos nós sabemos que na infância cabem quase todos os sonhos, mesmo quando nos tentam proibir de sonhar.

A última conversa que tive com a Rita foi sobre um trabalho colectivo em que colaborava, que entre outras coisas procurava saber o que as crianças queriam ser quando fossem gente grande. Trabalho que contou com a colaboração de mais de mil crianças de escolas de todos os distritos do país.

Não estranhou que a maior parte dos alunos quisessem ser actores, cantores, modelos, médicos (ainda resiste este sonho...) ou futebolistas.

Estranhou sim encontrar mais miúdos com vontade de serem bombeiros que políticos, astronautas, professores, aviadores ou pilotos de automóveis velozes.

Que a televisão não enche apenas o sonho dos adultos , já todos sabíamos. Até por nunca se ter cultivado tanto essa coisa de se ser "famoso" - há muito quem viva à sombra desta ideia -, que não tem uma tradução muito linear, até por não se reconhecerem grandes feitos desta gente, para além das festas onde lhe tiram retratos para revistas e os alimentam com "rissóis e croquetes"...

A  única coisa que fui capaz de lhe dizer foi que, apesar de tudo, deve ser mais fácil tornar real o sonho de ser bombeiro, que das outras profissões ou ocupações, destacadas.

O óleo é de Steven Christopher Seward.

sexta-feira, julho 04, 2014

Os Nomes que Não Escolhemos


O Carlos falou-me das mulheres que conhecera com nomes estranhos. O maior de todos era Pulquéria. Não lhe encontrava ponta por pegar, embora soubesse que o seu significado estava ligado à beleza feminina. Também conheceu uma Natércia, várias Zulmiras e até uma Leopoldina.

Sorrimos com alguns nomes, inclusive masculinos, que por sorte ou bom gosto dos nossos pais, não faziam parte das nossas vidas.

Eu que em princípio tinha dito que não conhecia mulheres com nomes estranhos, tive de recuar e lembrar-me de uma namorada de Verão, que era a Dina. Ela escondia sempre que podia o seu verdadeiro nome. Aliás só o soube porque a irmã quando estava chateada com ela, adorava chamar-lhe Leopoldina. Soube depois que "herdou" o nome da madrinha, por imposição familiar...

E lembrei-me que também conheço uma Vina, que detesta ser Silvina.

Tal como não escolhemos os nossos pais, também não escolhemos os nomes próprios. E ainda bem, senão a vida perdia a graça.

O óleo é de Ofélia Kisling.

quinta-feira, julho 03, 2014

Na Verdade, Podemos ser Grandes e não Ser Grande Coisa...


Não sei se é da idade, ou se J. Rentes de Carvalho sempre foi assim, alguém que é capaz de "disparar" com as palavras, em todas as direcções, como os fulanos do velho Texas faziam com as balas.

Desta vez resolveu "disparar" contra os comentadores da blogosfera, com o texto, "Da Superficialidade", publicado hoje no seu "Tempo Contado", que transcrevo integralmente:

«É um mundo que apercebo nos blogues, aquele dos comentários, mas que por inteiro escapa ao meu entendimento, feito que é de fórmulas, dizeres cifrados e obscuras alegorias, querendo dar ideia de que os seus autores partilham subtilezas da vida e do pensamento reservadas para iniciados.
Talvez assim seja, mas para quem como eu está de fora, ganha aquilo um ar de bisbilhotice comadresca, a futilidade que se imagina nos espíritos com um QI ao redor de 80, o banal das conversas sobre o tempo, a carestia, os desarranjos intestinais ou a melhor do Sousa.
A pergunta fica: que gente é aquela, que certamente funciona num emprego, tem deveres de família, vai às compras e ao teatro com ar de normalidade? Que ânsia de presença de afirmação os move? 
Será que, tendo-se em baixa estima, sentindo-se ínfimos e inúteis, se salvam dizendo: comento, logo existo?»

Não concordo nada  com ele, neste e noutros aspectos. Aliás, embora goste dos seus livros e passe pelo seu blogue, estou longe de ser adepto da má língua e da insinuação (como foi este caso...), que por vezes usa no seu "Tempo Contado".

Embora tenha a caixa de comentários fechada, tenho pena que ele não tenha percebido que ela existe sobretudo para dar a palavra a todos aqueles que queiram opinar sobre o que escrevemos, de uma forma directa. E é normal que se criem laços de cumplicidade e até alguma familiaridade na forma como nos tratamos.

Respondendo à pergunta com que J. Rentes de Carvalho encerra o texto, direi que a maior parte das pessoas que comentam, são pessoas normais, que gostam de ler, de escrever e de manifestarem a sua opinião, independentemente do seu QI, da sua profissão, sexo ou credo político e religioso... 

quarta-feira, julho 02, 2014

A Sophia e o Panteão


Olho para o Panteão Nacional e fico com a sensação que aquele lugar é de tudo, menos de poetas, e ainda menos de uma poetisa como Sophia, cujas palavras têm uma ligação tão forte com as coisas vivas, com o mar, com a natureza e com as pessoas.

Melhor sorte tem Pessoa, que está nos Jerónimos, sempre rodeado de gente, não fosse ele um poeta do mundo...

Na imagem, Sophia com Agustina, na Grécia.