sexta-feira, outubro 30, 2009

Os Brindes dos Jornais

Não há jornal ou revista que não tenha o hábito de anexar ao dito um DVD, CD ou livro, para combater o mais que evidente "voltar as costas" ao jornalismo escrito.

Razões? Há várias. A crise, a "net", a televisão (embora na maior parte dos dias as notícias dos telejornais sejam praticamente as que saem nos diários - sim falta muita imaginação e prática de jornalismo neste sector da comunicação social...), cansaço de notícias desagradáveis e muito iguais, etc.
Muitas destas ofertas valem a pena, como é o caso da do jornal "i", às sextas, que decidiu oferecer grande parte da obra de Fernando Pessoa, editada. Começou bem, com a "Mensagem". Para a semana vem "O Banqueiro Anarquista"...

terça-feira, outubro 27, 2009

Há Trabalhos e Trabalhos...

Às vezes penso que há pessoas com o qual não vale a pena gastar uma palavra que seja de "latim". Mas depois reconsidero (talvez por ter a sensação de que todas as ideias podem ser aproveitadas para a literatura...), vale quase sempre a pena trocarmos ideias, mesmo que os nossos companheiros de conversa sejam capazes de dizer aquilo que para nós é o maior dos disparates...

Aquele senhor que apenas conhecia de vista resolveu sentar-se "abusivamente" na nossa mesa, com o argumento que o café estava cheio (e estava...). Não demorou muito tempo a meter-se na conversa e a tecer desconsiderações sobre quem escrevia. Começou logo por insultar o Saramago, depois foi o Cristiano Ronaldo, dizendo que ambos podiam ser espanhóis à vontade, que não faziam falta nenhuma a Portugal.
Entre outras coisas ridículas que foi dizendo, enquanto nós olhávamos uns para os outros, com um sorriso de admiração pela lata do homem que só nos conhecia de vista. Um dos meus companheiros de mesa ainda lhe disse que o que ele pensava não interessava nada, pois ambos nasceram em Portugal e gostavam de ser portugueses. O que ele foi dizer, apareceu logo a Ibéria de Saramago e a República da Madeira do Jardim, naquela conversa sem ponta por pegar.
Mas para o fim viria a parte melhor: «Eu sei que os senhores também escrevem, mas isso não é profissão. Arte não é trabalho, para ninguém.» E não voltámos a sair dali.
Para o homem o trabalho não era coisa que se gostasse de fazer, as coisas que se gosta de fazer são diversões...
Foi mais longe ainda: para ele mesmo as profissões de juiz, médico, advogado, engenheiro, eram trabalho, não eram feitas com gosto.
Ainda argumentámos, mas percebemos que não adiantava e foi um alívio quando o homem se despediu e saiu pela porta fora.
Mas nem tudo se perdeu. Antes de sairmos, quando íamos para pagar a despesa, descobrimos que tínhamos recebido um "prémio", o "anti-saramago e ronaldo" tinha pago os cafés...
E eu ganhei um "post"(resumido, que a conversa foi bem mais longa)...
As conversas de café são sempre uma "Terapia", dai a escolha de Magritte...

quinta-feira, outubro 22, 2009

A Música do Sol

No tempo dos índios (pelo menos os dos filmes do oeste americano...), consta que eles ensaiavam umas "danças da chuva", por cá é mais ao contrário.

Assim que começa a chover entre nós, é tempo de inundações, filas intermináveis de carros, acidentes bizarros nas estradas, e claro, muitos banhos para quem tem de andar na rua...
A cidade branca de repente fica cinzenta. O que vale é que é quase sempre "chuva de pouca dura"...
O Sol volta a aparecer, animado, proporcionando umas guitarradas em seu louvor, por umas estrangeiras, que também aceitam moedas e notas...

terça-feira, outubro 20, 2009

Ensaio sobre a Senilidade

Não era para falar do assunto, até para não fazer publicidade ao nosso "nobel", mas noto que o senhor está pior do que o que eu pensava. Julguei que todo este "pó escuro" fazia parte de mais uma manobra de "marquetingue", para fintar a crise e vender mais uns milhares de livros, directos para as estantes de quem acha fino ter um livro do "nobel".

Mas hoje, ao ler uma frase transcrita no "DN", percebi que o senhor está mesmo mal...
«Não leram o livro e vieram logo, com insólita rapidez, derramar-se em opiniões e desqualificações, tanto da obra como do seu autor. Como falta seriedade intelectual, não se poderia esperar pior. Compreendo que tenham de ganhar o seu pão, mas não é necessário rebaixarem-se a este ponto.»
Segundo a minha opinião, esta frase encaixa perfeitamente na opinião que o "nobel" tem da Bíblia, que só deve ter lido as partes que lhe apeteceram (tal como eu, embora tenha lido as parábolas, e não achei nada que fossem "maus costumes"...) deste livro, ao que consta o mais vendido pelo mundo fora...
E claro, lembrei-me da minha avó materna, que passou os últimos tempos da sua vida num lar. Numa das vezes que a visitei, confidenciou-me, com alguma preocupação, ao olhar para aquele pequeno "mundo" que a rodeava, que só pedia a Deus que nunca lhe retirasse o juízo...
E não retirou, a avó manteve sempre a lucidez, até partir para o lado de lá, da forma aparentemente mais calma que podemos ter, durante o sono...

sábado, outubro 17, 2009

«Olhem Para Mim...»

O cão assim que me viu com a máquina, olhou-me e até se levantou para ficar bem na fotografia, da sua poltrona.

Somos conhecidos, ou não nos cruzássemos todos os dias por ali, rente ao parque de estacionamento, onde vive com mais meia dúzia de companheiros.
Felizmente são animais pacíficos, raramente ladram, mesmo passando "fome de cão"...
Embora sejam quase livres (parece-me que não sabem o que é uma cela ou uma corrente), estão longe de ser uns sortudos. Levam mais pontapés que festas, não comem à horas certas nem tão pouco merecem os cuidados dos animais de circo.
A comparação pode não ser a mais feliz, mas acho que preferiam ser o alvo da atenção dos donos e espectadores de qualquer circo...
Como já perceberam gosto do circo e gosto dos animais do circo. Vivem em jaulas? Pois, mas também é assim nos jardins Zoológicos. Vamos libertá-los e levá-los para a selva, condenando-os à extinção?
Para mim esta é uma lei estúpida, como tantas outras, que está longe de proteger os animais. Se querem realmente fazer bem aos animais, visitem os circos e multem os proprietários que não cumprem as regras mínimas de habitabilidade dos animais (retirando mesmo os animais, caso seja necessário).
Bom é fazer leis, esquecendo o mundo "quadrado" em que vivemos, em que muitos falsos "adoradores de animais", assim que se cansam, abandonam-os ao deus dará, nas vilas e cidades, sempre com demasiados gatos e cães vadios, que não cabem nos poucos canis existentes...
Se isso acontecesse, não sorria ao quase charme diário deste cão, cujo olhar pede mais que um simples: «Olhem para mim...»
E nem vou falar das pessoas que vivem na rua, em piores condições que muitos animais, quase desprezadas pelas leis e por todos nós...

quinta-feira, outubro 15, 2009

Dividir Para Reinar

A direita sempre foi melhor no "jogo rasteiro" que a esquerda. Sempre teve mais habilidade para criar notícias e factos políticos (claro que isso não é indiferente ao facto de Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas, serem grandes especialistas...).

Foi por isso que achei piada, assim que Cavaco Silva caiu em desgraça, aparecer quase do "nada" a hipotética candidatura de Jorge Sampaio à presidência, para dividir a esquerda (e os votos com Manuel Alegre).
O mais curioso foi os "soaristas" terem apanhado logo a boleia e até já andam a recolher apoios (continuam a não perdoar a ousadia de Manuel Alegre), mesmo que a existência de duas candidaturas à esquerda só favoreça a direita...

quarta-feira, outubro 14, 2009

Os Apanhadores de Conchas

Finalmente recomecei a ler livros sem ter de aliar o prazer da leitura (o que nem acontece sempre, claro) à investigação.

Ainda não foi nenhum daqueles "meninos de papel" que me "estendem as mãos" quando paro em frente da estante, que tem uma longa lista de espera. Foi um livro que veio parar às minhas mãos de uma forma especial.
Um dos meus amigos, de vez em quanto lá se desfaz de mais umas dezenas de livros, para aliviar os cantos da casa. A última vez que estive por lá, reparei numa torre enorme de livros, quase à porta de saída.
Como já vem sendo hábito, ele disse-me para escolher os que quisesse e levá-los. Muitos eram de teor político, à volta de Marx e Lenine, outros já os possuía. Fiquei preso a um título curioso, "Os Apanhador de Conchas", de Rosamunde Pilcher, que acabou por ser o único livro que levei para casa...
Cheguei à última página ontem e fiquei satisfeito por aquele nome feliz estar aliado a uma boa história. História simples mas bem escrita (e traduzida), o que é fundamental para se gostar.
A personagem principal é uma mulher de meia idade, Penelope (gosto deste nome...), que embora não tenha tido uma vida fácil, sempre teve uma atitude positiva em relação às adversidades que lhe foram batendo à porta. Tornou-se mulher com a Segunda Guerra Mundial que lhe deu um casamento, uma filha e também um amor secreto (que partiu no dia D), mas também lhe roubou muitas coisas, inclusive a mãe...
"Os Apanhadores de Conchas" é também o título de um dos quadros, pintado pelo pai de Penelope, que lhe ofereceu como prenda de casamento e pelo qual ela sentia uma ternura enorme.
Provavelmente foi escolhido como título do livro, porque a autora quis dar uma lição a dois dos filhos da personagem principal (e a todos nós), que o dinheiro não é tudo.
Claro que na vida as coisas não são assim tão lineares, todos sabemos que ele não é tudo, mas pode tornar muitos sonhos possíveis...

segunda-feira, outubro 12, 2009

Os Ditos Dinossauros

O Luís Afonso alia ao excelente traço, a palavra curta, mas sempre certa e deliciosa, no seu histórico "Bartoon" do "Público", que felizmente tem sido recuperado com a sua publicação em álbum.
Hoje foi assim...
Mas com a facilidade com que se alteram leis, nada nos diz que não seja criada uma "lei de excepção", para que os "ditos dinossauros" (alguns quando terminarem o mandato que agora se inicia ficam com mais anos de poder que Salazar) continuem no poder, privilegiando a ciência...

domingo, outubro 11, 2009

Actor? Sempre!

Quem se cruza com ele na rua, olha quase sempre para a sua figura singular, pela excentricidade, originalidade ou outra coisa qualquer, que fica a pairar no ar.

Não conseguiu ser actor a sério, daqueles que aparecem nos palcos, nos filmes ou nas telenovelas (sem contar com os milhentos trabalhos de figuração que faz, com paixão...).
Traído pela "cabeça de andorinha", é incapaz de decorar uma linha de qualquer texto e de seguir o sonho de uma vida.
A mímica podia ser uma solução para o seu caso. Podia mas não é. Até sente alguma indignação pela lembrança. Sonha ser actor, nunca artista de circo.
Lembrei-me do Tochas mas fiquei em silêncio.
Sim ele é de facto quase um actor, mas um actor especial, que escolheu a rua como palco. É capaz de pintar o cabelo de amarelo ou vestir umas calças cor de laranja, para que olhem para ele como uma personagem da sua "novela diária".
Estive tentado a dizer-lhe mais que uma vez que ele era um manequim ambulante e não um actor, mas para quê matar-lhe o sonho?
A ilustração, "Dream", é da autoria de Gilbert and George.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Adeus Zé Manel, e Não te Esqueças de Ir Pela Sombra

Muitas vezes evito falar de coisas que tenho conhecimento (excessivo) de causa.

Há várias semanas que ando com vontade de falar sobre a "guerra aberta" entre os dois jornais que se dizem de referência no nosso país, por causa da manipulação de notícias sobre as "escutas de Belém" e da evidente perseguição a Sócrates, por parte do "Público".
Foi esta manipulação que fez com que o "Diário de Notícias" publicasse o famoso "e-mail", que inverteu a ordem das coisas e colocou Cavaco Silva em maus lençóis.
Como costuma acontecer nestes casos, não tardaram as acusações a João Marcelino, em nome da ética e de não sei mais o quê, por ter publicado "algo pessoal e do foro intimo" de um jornalista (ainda se disseram coisas mais absurdas...), pelos "puritanos" habituais.
Conheço o João Marcelino, foi meu chefe de redacção no "Record". Embora não partilhe da sua filosofia e prática jornalística, tiro-lhe o chapéu pela coragem que tem, em valorizar sempre a notícia, em detrimento dos seus sujeitos. Também no "Record", quando publicou a conversa em "off recorde" de António Oliveira, foi mimoseado de mil e uma maneira. Mas como se verificou, a conversa era de tal forma grave que não podia ficar na gaveta. O mesmo se passou com este "e-mail", que se não fosse publicado, não se percebia o "embuste" que tinha sido montado para favorecer o PSD, em prejuízo do PS, no Palácio de Belém.
O José Manuel Fernandes tentou sacudir o capote mas à medida que ia falando, aumentavam o número de "buracos nos seus pés". E aconteceu o anunciado adeus deste senhor que tanto mal tem feito a este diário, que apesar de tudo nunca deixei de comprar, graças aos excelentes jornalistas que possui e que não mereciam todo este "purgatório".
Provavelmente irá para as "europas", receber o "pagamento" do seu apoio miserável à Invasão do Iraque, que ainda hoje provoca a morte de inocentes...
É por isso que digo: adeus Zé Manel, e não te esqueças de ir pela sombra!
E obrigado Rui, por mais um excelente boneco.

quarta-feira, outubro 07, 2009

A Beleza Continua a Ser Fundamental

Estava sentado no café, a fingir que lia o jornal. A culpa não era minha, era da conversa da mesa ao lado, das duas moçoilas que mostravam o seu descontentamento pela lógica de alguns empregos, que apesar de encherem os anúncios de requisitos "técnicos e intelectuais", havia um, escondido, que continuava a prevalecer nas escolhas femininas: a beleza, de preferência acompanhada de sensualidade.
As duas jovens tinham bom aspecto, embora não fossem extremamente vistosas. Talvez fosse este o seu "pecadito".
Com o decorrer da conversa, ainda foram mais longe, falaram das "oferecidas", com exemplos e tudo...

Lembrei-me de uma amiga que andou anos e anos a tentar demonstrar que além de loura e bonita, era inteligente. Conseguiu-o apenas a espaços. Sabia que tinha sido escolhida pela sua beleza, só não percebeu que segundo a filosofia daqueles homens engravatados, cheios de perfume e de vaidade, que a cercavam, ninguém de juizo perfeito queria trabalhar com mulheres inteligentes. Sim, elas são sempre uma ameaça para os "machos" que continuam a dividir o mundo ao meio...
Quem melhor que a Marylin Monroe - que deve ter visto tantas vezes o seu talento ser confundido com o seu corpo e rosto -, para ilustrar este "post"?

segunda-feira, outubro 05, 2009

O Preço Que se Paga Pela Proximidade do Paraíso...

Era para escrever sobre isto a semana passada, mas o tempo foi passando e...

Mas não consigo deixar de colar as "indisposições" da natureza, ao preço que somos "obrigados" a pagar pela beleza que nos é permitida desfrutar.
Os últimos acontecimentos em Samoa e Sumatra, fizeram com que pensasse nos Açores, no Fayal, a minha ilha especial, o lugar que encontrei mais próximo do paraíso (pelo menos para quem gosta do mar azul e dos campos verdes, quase sempre floridos...).
A vida é demasiado irónica, no seu todo. E a natureza, naturalmente, não foge a estes desígnios...

Esta fotografia mostra-nos o Farol e algumas casas soterradas, nos Capelinhos, durante a erupção vulcânica de 1957 e 1958, na ilha do Fayal.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Porque não, o Rio de Janeiro?

Sim, porque não o Rio de Janeiro?

Não tenho qualquer poder de decisão, mas esta é a minha escolha para a Cidade Olímpica de 2016.
Isto não acontece apenas pelas afinidades que existem entre Portugal e Brasil. De todos os países que estão na recta final (Espanha, Estados Unidos, Japão e Brasil), o nosso "país irmão" é o único que não organizou uns Jogos Olímpicos.
Em relação às cidades candidatas, Tóquio é uma cidade repetente (1964). Madrid não é repetente, mas foi Barcelona que organizou as Olímpiadas em 1992. De Chicago nem falo, porque os EUA já realizaram quatro Olímpiadas: St. Louis (1904); Los Angeles (1932 e 1984), Atlanta (1996)...
Embora a lógica nem sempre prevaleça nestas escolhas, penso que faz todo o sentido que a escolha recaia na bonita cidade do Rio de Janeiro.
Este bonito quadro de Hildebrando Moguiê, tem tudo a ver, ou não se chamasse: "O Rio de Janeiro Continua Lindo"...

quinta-feira, outubro 01, 2009

O Primeiro de Outubro

Não sei muito bem quantos anos se passaram, sei apenas que o primeiro dia do mês de Outubro passou a ser
o meu dia da Liberdade.
Foi durante as férias, no começo de Agosto, que recebi o convite irrecusável de secundar o meu avô paterno, na sua principal actividade comercial. Disse logo que sim. Na manhã seguinte viajei para a cidade, para me despedir do emprego "seguro" e medíocre", de escriturário de terceira...

O avô Xico já tinha ultrapassado os setenta e continuava a sua vida feliz e errante de feirante, de Norte a Sul, enchendo de preocupações a avó Lurdes. Após as habituais pressões familiares, o avô ofereceu-se para cobrir o meu ordenado de funcionário público, promovendo-me a seu chófer particular, ajudante de campo e confidente nas horas pardas do negócio.
Os meus pais torceram o nariz na altura mais acabaram por se habituar à ideia. Embora sonhassem com outro futuro para mim, preferiam que o companheiro de aventuras do avô fosse da família e não um estranho.
Já tinha conduzido meia-dúzia de vezes a velha "ford transit", que hoje seria imprópria para consumo, graças à ASAE... só não conhecia a preceito o "Senhor Xico" da venda, a personagem carismática, adorada por clientes e colegas, devido à sua simpatia e graça natural, algo que não se aprende em nenhuma escola.
Durante quatro anos fui orgulhosamente o condutor da carrinha e o montador do estaminé nas feiras que faziam parte do nosso circuito comercial. Ao avô cabia o papel principal, vender o queijo da serra, com a lábia e os truques de quem nasceu para o ofício. A frase, «melhor que isto não há», fazia milagres, tal como o facto de ter sempre um queijo aberto para a "prova dos nove".
Foi bom conhecer o verdadeiro "mundo" português. Ainda hoje recordo as nossas almoçaradas em tascas bem povoadas de mulherio, a quem ele fazia sempre questão de apresentar o neto, sem se esquecer de lhes piscar o olho, apelidando-me de "fresquinho e competente para atacar quaisquer curvas..."
Para trás ficou o certinho e desesperante funcionalismo público, que não me deixou qualquer saudade. A única coisa que não funcionava em câmara lenta, eram as bocas sujas dos meus colegas. Passavam o tempo a "cortar na casaca" do chefe, que bajulavam assim que ele pisava o soalho da secção. Fiquei sempre com a sensação que tinha tido a "sorte" de trabalhar com o melhor coro de hipócritas e lambe botas da repartição...
Pouco tempo depois de mudar de vida, percebi finalmente o sentido da expressão: «não há vida como a do campo».
Um dia o avô começou a sentir umas dores, que se foram agudizando, que acabariam por o deixar quase fechado em casa, colocando fim a quatro anos memoráveis, recheados de mil e uma aventura no mundo especial das feiras.
Como estava longe de ser um vendedor, lá tive mais uma vez de mudar de profissão. A única certeza que tive nesse momento, era que funcionário público, nunca mais...
O "Mercado das Caldas" é da autoria de Mártio pintor almadense.