quarta-feira, outubro 30, 2013

Isto Está Mesmo Tudo Ligado...


Falava eu ontem da "batota na vida", quando o video com o presidente da FIFA começou a cirandar por aí, em que ele faz a sua escolha. 

Mas o cobarde e hipócrita, não faz apenas uma escolha, aproveita o momento para denegrir um jogador que tem sido sempre exemplar, na forma como tem enfrentado todos os "blatters" desta vida.

Mesmo agora, respondeu de uma forma contundente, sem descer ao nível da criatura (tal como tinha feito com Mourinho...), porque realmente isto está mesmo tudo ligado...

Apesar de perceber todas estas "batotas", não deixo de gostar de futebol. Há de facto algo "mágico" neste jogo, que deixa tanta gente fora de si.

O que gostava mesmo era que o "feitiço se virasse contra o feiticeiro" e que o Cristiano fosse escolhido como o Melhor Futebolista do Mundo.

terça-feira, outubro 29, 2013

Fazer "Batota" com a Vida


A crise que vivemos não é apenas económica e financeira, é sobretudo social e moral. A falta de vergonha e de dignidade dos políticos está a "espelhar-se" cada vez mais na sociedade.

Claro que se fala mais do que o que se faz (há mais gente a dizer que vai começar a mentir e a roubar, que a fazer, e ainda bem...).

E esta crise revela-se em tudo, até nas pequenas coisas da vida. Claro que existem explicações. Se a vida das pessoas fosse um pouco melhor, muitas delas não sentiam necessidade de "acariciar o ego" com a invenção de personagens e de outras vidas, nas redes sociais, por exemplo.

É por isso que nem me armo em "diácomo Remédios", apenas constato com uma realidade, que talvez deixe esta gente feliz...

Só que quando se entra no "salve-se quem puder", vai quase tudo por arrasto.

Não sei se é o "faicebuque" que se mete  mais a jeito, se são as gentes (claro que sei que são as pessoas...), mas não deixa de ser triste a apropriação de textos e fotografias dos outros, utilizando-os como seus, com uma vaidade e uma lata que até chegam a fazer saltar as pedras da calçada.

Não sei se também andam fotografias e textos meus à solta por aí, com "novos donos". Não fico muito preocupado, já percebi que a falta de vergonha e de dignidade vieram mesmo para ficar. A única coisa que sei, é que não é por isso que deixo de escrever, de fotografar e de publicar o que me apetece nos meus blogues.

Afinal também sei outra coisa: a mentira continua a ter perna curta, apesar das crises...

domingo, outubro 27, 2013

Pouco Mais Resta que o Amor


As grandes vitimas deste tempo miserável são as pessoas de idade.

Não são apenas os cortes injustos nas reformas. É também o aumento de rendas, da luz, da água, do gáz. A dificuldade em conseguirem uma consulta médica no centro de saúde onde estão inscritos.

Talvez tenham razão. Talvez estes governantes os querem matar de "tortura", com a passagem dos dias cada vez mais difícil de suportar.

Sabem que pouco mais lhes resta, para além do amor das suas companheiras ou dos seus filhos... 

É por isso que nem querem pensar na vida de todos aqueles que ainda tem de suportar a solidão, cada vez mais amarga e dorida, à medida que os anos passam... 

(se usasse música no "Largo" podia muito bem colocar por aqui uma das várias canções de Lou Reed, cantadas quase como um grito de revolta, perante esta sociedade que deixa cada vez mais a desejar, em sua homenagem...)

sábado, outubro 26, 2013

Escrever, Escrever, Mesmo Palavras Ocas...


Ontem recebi o telefonema de um amigo, quase "perdido", por nos últimos meses não conseguir escrever uma única linha. 

Disse-lhe que ele devia ler, pegar num livro e lutar contra  tudo e todos, especialmente contra a tal falta de vontade, quase demolidora.

Não só senti como acrescentei que era  fácil estar do lado de cá da linha do telefone, dizendo para fazer isto e aquilo,  mas não poderia ir mais longe... o "voltar" dependia sobretudo dele.

Ainda bem que me esqueci de lhe dizer que devia ter um blogue, porque sei que isso não adianta grande coisa... o que há mais por aí são espaços quase abandonados, ou onde as pessoas escrevem cada vez mais espaçadamente.

Posso parecer egoísta (ou até mentiroso), mas o facto da blogosfera estar a perder o seu fulgor e dos seus seguidores "mudarem de rua" não faz parte das minhas preocupações. Digo isto porque este é um dos lugares onde eu me "obrigo" ao exercício da escrita, mesmo quando não me apetece e tenha de escrever quase "banalidades".

Claro que gosto de ler "leitores" e "comentadores", mas...

Espero que o meu Amigo volte a descer a rua e encontre um poema à sua procura, ou uma qualquer crónica do quotidiano, que até pode ser sobre o homem que encontrou as palavras no passeio e as agarrou uma a uma e voltou a sentir-se feliz. 

O óleo é de Louis Marcoussis.

quinta-feira, outubro 24, 2013

A Importância das Palavras dos Outros


Noto que nos últimos anos tenho preferido estar com amigos. Dentro dos possíveis tento estar presente nos seus dias especiais, para lhes dar um abraço ou simplesmente um sorriso e uma piscadela de olho. Vou a menos lançamentos, inaugurações de exposições, etc. E se há coisa que evito mesmo, são as cerimónias com mais "etiqueta". 

Utilizo muitas vezes como desculpa para a minha ausência os meus filhos (o que até é verdade... porque eles preferem quase sempre ter os pais só para eles), que não são obrigados a apanhar "seca", de coisas que ainda não lhe despertam muito interesse.
Claro que há situações das quais não conseguimos fugir... então quando somos quase "intimidados" a estar presentes por quem convida.

E Almada tem uma actividade cultural quase gigante, não há fim de semana que não aconteça mais que um acontecimento com interesse...

Consegui escrever até aqui sem falar no ponto fulcral da conversa de café de terça: aqueles que só aparecem quando são convidados para "botar palavra", com exemplos e tudo. Escutei sem fazer grandes comentários. Até porque a vida tem-me mostrado que há muita gente incapaz de ouvir os outros, só se conseguem ouvir a eles próprios. 

São pessoas que por norma se acham de tal forma importantes que nem se apercebem do que perdem, ao ignorar as palavras dos outros, que são quase sempre tão ou mais importantes que os "nossos espelhos".

O óleo é de Massimo Maramo.

quarta-feira, outubro 23, 2013

A Autobiografia de Sir Alex


Nos últimos dias têm sido revelados na imprensa (e até televisão inglesa...) pequenos episódios que fazem parte da obra, "Alex Ferguson - My Autobiography".

Isso faz com que este livro, apresentado amanhã ao público, tenha todos os condimentos para ser um dos grandes êxitos literários no Reino Unido (e não só...) neste último trimestre de 2013.

É muito importante que aquele que é considerado o melhor treinador do mundo, que esteve vinte sete anos no comando do Manchester United, com um sucesso inagualável na melhor e a mais equilibrada liga de futebol do mundo (são sempre vários os candidatos à vitória final e nunca apenas um ou dois, como acontece na maior parte dos restantes campeonatos...), nos conte o que realmente aconteceu, a sua versão de vários acontecimentos polémicos, que normalmente são distorcidos pela comunicação social (que muitas vezes nos conta a versão mais conveniente para a "guerra" da venda de jornais...).

Pelo que tem sido transcrito, há vários jogadores que já devem estar as "orelhas a arder" (com Keane e Beckham na frente...), e outros agradecidos pelos elogios  (Cristiano Ronaldo, Giggs ou Scholes).

Em relação a Cristiano, Sir Alex diz o seguinte: «Cristiano foi o jogador mais talentoso que treinei. Ultrapassou todos os outros grandes jogadores que orientei no United e foram muitos.»

Apesar de ser conhecido pelo seu mau feitio e pelo autoritarismo, tem uma frase que é tantas vezes esquecida pelos clubes: «Nenhum jogador é maior que o Clube». Penso que em Portugal só o FCPorto é que segue esta frase à risca e é aí que começa toda a diferença...

Uma obra que fará ainda mais furor, daqui a uns vinte anos, será certamente a autobiografia de José Mourinho, até por ele ser muito mais atractivo para os "media" que Sir Alex, pelas polémicas que gosta de provocar, dentro e fora dos relvados... 

terça-feira, outubro 22, 2013

O Cinema e as Nossas Vidas


Na semana passada tive uma conversa extremamente rica sobre cinema, sobre os filmes que gostamos e detestamos.

Conseguimos pôr de lado a nostalgia das grandes salas de cinema e dos seus arrumadores, que eram também guardiões do silêncio. Nem falámos da musicalidade dos "banquetes" de pipocas, que devem ser mais importantes que as fitas exibidas, para a actual "indústria cinéfila".

Falámos sobre as suas temáticas, as suas velocidades e os seus ídolos.

Mas o melhor da tarde foi percebermos por que razão amamos e detestamos tanto os filmes chamados de "europeus" (alguns destes filmes também são feitos na América ou no Japão...). São os filmes mais parecidos com as nossas vidas, por isso é que são considerados tantas vezes chatos e monótonos. A única coisa que alguns realizadores acrescentam é alguma poesia, que é misturada com a fantasia que todos escondemos nos sonhos.

Quando gostamos de pensar os filmes "europeus", é comum descobrimos mais portas abertas, como muito bem acrescentou o Gui, quase a voltar para um Brasil que o continua a deslumbrar, por ser tão diferente do país que nos é "vendido" através das telenovelas...

segunda-feira, outubro 21, 2013

A Cor Dourada (e as outras...)


O Sol passa mais rapidamente por cima de nós, ao ponto de não conseguir destruir todas as sombras. A temperatura também vai descendo, tornando tudo mais ameno. 

Outro sinal de mudança são as cores que nos rodeiam. Não é apenas o azul e o verde que dão lugar ao dourado e ao cinzento, as tonalidades das roupas das pessoas também perdem vida e escondem mais os corpos...

O óleo é de Ernesto Arrisueno.

sábado, outubro 19, 2013

Vinicius de Moraes, o Rio e as Mulheres



Poucos poetas nos aproximaram tanto da beleza do Rio de Janeiro e das mulheres cariocas como Vinicius de Moraes. A sua "Garota de Ipanema" é mais que um clássico, é um hino à beleza e ao encanto feminino.

Na passagem do centenário do seu nascimento, só podia escolher um poema que falasse da Mulher (e que é o começo da "Garota")...

A Mulher que Passa
Meu Deus, eu quero a mulher que passa. 
Seu dorso frio é um campo de lírios
 
Tem sete cores nos seus cabelos
 
Sete esperanças na boca fresca!
 

Oh! como és linda, mulher que passas
 
Que me sacias e suplicias
 
Dentro das noites, dentro dos dias!
 

Teus sentimentos são poesia
 
Teus sofrimentos, melancolia.
 
Teus pêlos leves são relva boa
 
Fresca e macia.
 
Teus belos braços são cisnes mansos
 
Longe das vozes da ventania.
 

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
 

Como te adoro, mulher que passas
 
Que vens e passas, que me sacias
 
Dentro das noites, dentro dos dias!
 
Por que me faltas, se te procuro?
 
Por que me odeias quando te juro
 
Que te perdia se me encontravas
 
E me encontrava se te perdias?
 

Por que não voltas, mulher que passas?
 
Por que não enches a minha vida?
 
Por que não voltas, mulher querida
 
Sempre perdida, nunca encontrada?
 
Por que não voltas à minha vida?
 
Para o que sofro não ser desgraça?
 

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
 
Eu quero-a agora, sem mais demora
 
A minha amada mulher que passa!
 

No santo nome do teu martírio
 
Do teu martírio que nunca cessa
 
Meu Deus, eu quero, quero depressa
 
A minha amada mulher que passa!
 

Que fica e passa, que pacifica
 
Que é tanto pura como devassa
 
Que bóia leve como a cortiça
 
E tem raízes como a fumaça.

Da sua "Antologia Poética", da Mulher que Passa, quase quase rente à Garota de Ipanema, onde ele foi buscar a inspiração e até as palavras, numa nova versão...

sexta-feira, outubro 18, 2013

A Estação das Chuvas


Dizem que o Inverno está a chegar.

Não sei se vem de avião, de comboio ou de autocarro. Sei apenas que vem (mesmo que não acreditasse na "meteorologia", nem os vidros duplos da sala, silenciam a água a cair, com trovões e tudo...).

Ainda não é o inverno do frio, é apenas o do S. Pedro, com águas a escorrerem das nuvens e a lavarem as ruas, os carros as casas e os desprevenidos, que gostam de trazer o chapéu de chuva por casa.

As cores dos dias vão ser diferentes, é sempre assim...

O óleo é de Óscar Bluemner.

quinta-feira, outubro 17, 2013

Provavelmente Somos Mesmo uns "Merdas"


O "preto" da rua de baixo disse sem qualquer problema, que o português é um "merdas", quando o Necas lhe tentou ensaboar o juizo, pelas afirmações do "camarada presidente dos santos".

Não sei se ele estava a pensar nas afirmações de Passos Coelho, quando este afirmou que ia "baixar as calças" até ver os amigos angolanos satisfeitos. Pelo menos eu pensei...

Hoje ouvi nas notícias do almoço que a repartição de finanças de Idanha-a-Nova irá fechar e que quem precisar de tratar de qualquer coisinha, terá de se deslocar a Castelo Branco.

Se fossemos um país de gente como deve ser, os moradores do Concelho de Idanha (e de outros tantos concelhos que irão ficar sem as ditas repartições), deixavam de tratar do que quer que fosse com o "fisco", passando à situação de "clandestinos fiscais".

Há coisas que podem soar a provocação, como as palavras do "preto" da rua de baixo, mas que ele sabe do que fala, sabe...

(Foto tirada no Verão na Barragem de Idanha-a-Nova)

quarta-feira, outubro 16, 2013

Jorge "Atrasado" da Silva "Sinatra"


Uma das suas imagens de marca era partir e chegar atrasado. Nunca mudou, apesar dos dissabores que foi recolhendo, até ficar suficientemente maduro, para este defeito quase se transformar em qualidade.

Disse-me que quando era jovem, marcava encontros e normalmente apenas descobria o sítio. Sorria quase sempre de alívio, para não ter de inventar desculpas, com mais ou menos elaboração, por não obedecer às pequenas máquinas com ponteiros e números, que mandavam no tempo e nas pessoas.

Também me disse que às vezes o confundiam com Sinatra, pela sua magreza e pelos olhos  de cor azul.

O óleo é de Guy Wilga Lerat.

terça-feira, outubro 15, 2013

Depois do Livro o Disco...


Se antes já fora publicado o livro de contos, "Largo da Memória", da autoria de um dos grandes jornalistas de "A Bola", Homero Serpa, já desaparecido, agora foi a vez do lançamento do CD de Ricardo Ribeiro, também com o título da nossa "xafarica". E logo de fados!

Ah Fadista!

segunda-feira, outubro 14, 2013

Esperar...


Sentava-se e ficava ali à espera de uma história. Mesmo quando não aparecia nada de interessante, teimoso, escrevia. Só que as palavras fugiam-lhe, pelo menos as certas. E como ele tinha preguiça de pegar no dicionário e partir à sua procura...

Com a poesia a coisa ainda era pior. As palavras bonitas apareciam cada vez mais a horas incertas...

O óleo é de Nico Steijn.

sexta-feira, outubro 11, 2013

As "Ruas" e "Avenidas" das Palavras


Não é de hoje que sei que a leitura e o significado das palavras podem ter sentidos diferentes para as outras pessoas.

A primeira vez que tive realmente consciência disto, aconteceu no jornalismo, quando fiz uma reportagem sobre o futuro de um certame artístico, que cresceu de tal forma que ultrapassou a sua organização e as próprias instalações onde se realizava, ao ponto de atravessar um período crítico, com muitas indecisões pelo meio.

Além da reportagem não me escusei a dar pistas para o futuro, que tanto poderiam passar pela selecção de trabalhos como pela mudança do espaço (para um salão maior...).

Este trabalho acabou por causar alguma polémica, porque houve pessoas que conseguiram "ler" coisas que eu não tinha escrito...

A sua posição estava de tal forma pré-concebida, que leram o artigo de "esguelha".

Na época conversei com elas e percebi que continuavam a pensar que havia mais qualquer coisa por detrás das minhas palavras.

Este exemplo pode muito bem ser transposto para as caixas de comentários da "blogosfera" e do "faicebuque", onde percebemos que há entendimentos diferentes da mesma coisa escrita, que podem inclusivamente causar discussões do "arco da velha". 

Penso que isso também se deve à riqueza das palavras, que podem ter múltiplos significados. Às vezes até os próprios autores são surpreendidos pelas interpretações de terceiros.

Desde que não se transportem "facas, chinelos e alguidares" para a conversa, acho que esta diversidade que nos pode levar para várias "ruas" e "avenidas" das palavras, extremamente ricas, só nos poderão fazer crescer.

O óleo é de L.S. Lowry.

quarta-feira, outubro 09, 2013

Verão no Outono


Hoje fui almoçar com à minha mãe às Caldas.

Como de costume, passeei um pouco pela cidade.

Por ser Outono, "dei um pulo" à Mata das Caldas, para tirar retratos e para pisar as folhas caídas...

Claro que esteve um dia de tudo menos de Outono.

Quando regressava à grande Cidade, reparei que a temperatura registada no carro era 31 graus.

terça-feira, outubro 08, 2013

Quando as Palavras São Mais Simples que os Homens...


Depois de termos escutado um professor que foge da "cátedra" como o diabo da cruz, com prazer, tivemos de escutar um seu colega, incapaz de descer do seu pedestal, colocando a plateia, ora a olhar para o tecto do auditório, ora a riscar as folhas que tinha para apontamentos ou outras coisas quaisquer. 

O meu companheiro de lado conseguiu separar as duas intervenções, com uma frase de mestre: «os académicos  não percebem, ou então fingem não perceber, que quando falam para uma plateia, o mais importante é serem entendidos por toda a gente e não apenas pela meia dúzia de  "iluminados" do costume, bons a bater palmas e a fazer vénias.»

O óleo é de Auguste Herbin.

segunda-feira, outubro 07, 2013

O Mar é a Única Estrada da Liberdade no Sonho...


O mar é a única estrada da liberdade no sonho de milhares de seres humanos que vivem abaixo do limiar da pobreza nas várias Áfricas e querem uma vida diferente, para melhor.

A Europa, apesar das crises, continua a ser um lugar onde os aventureiros que compram uma passagem para a outra margem, pensam, ser diferente. Onde se respeitam os direitos humanos. Tem dias...

É por isso que viajam atrás do sonho, o tal que lhe pode dar uma vida menos desigual.

A ilha de Lampedusa é apenas mais um sinal, um sinal que arrepia e que faz com que não apeteça nada escrever sobre a "morte" e sobre o seu negócio.

Egipto e Síria são dois retratos mais à mão de um mundo pintado de sangue, que nos dizem que o mundo caminha mesmo como o caranguejo.

O óleo é de Tomasz Setowski.

sábado, outubro 05, 2013

O Cavalo Mais Versátil do Cinema


O filme começou como acabou, praticamente sem dinheiro.

Nos primeiros dias havia muita alegria e curiosidade. Entre outras coisas, a malta achou piada a não existência de camarins, ao ter de partilhar uma tenda de campismo quase gigante, onde era possível ver as miúdas quase nuas, quando se preparavam para as cenas.

Depois a coisa perdeu algumas graça. É sempre assim.

Mas quem mais "sofreu" com a imaginação do realizador foi o "Tristonho", que era o único cavalo presente e teve de fazer três papeis diferentes, ou seja, deixar-se pintar de duas maneiras diferentes, além do seu castanho natural, bonito.

Quem assistiu às filmagens achou piada à confusão, embora pensasse que se tratava de uma brincadeira de "gente pobre", a imitar o quase Circo das pequenas e curtas companhias que se esforçavam para oferecer alegria às gentes das pequenas cidades e vilas.

O óleo é de Sarah Morton.

quinta-feira, outubro 03, 2013

Já Sentia Saudades dos Sons Vivos das Janelas


O conforto e a modernidade tinham decretado a substituição das janelas altas, a madeira ia dar lugar ao aluminio, que embora se mantivesse branco e com um desenho parecido, era outra coisa.

Sentou-se no velho cadeirão que já conhecia pelo menos quatro gerações da família e ficou ali a ouvir o ranger das portadas, o vento, sempre ele, a querer entrar...

Estupidamente a magia da madeira, do antigo e do rústico,  ia ser substituída pelo conforto das janelas com vidro duplo, que se iriam esforçar para "apagar" toda aquela vida que chegava da rua...

O óleo é de Amadeo Souza-Cardoso.

quarta-feira, outubro 02, 2013

A Epopeia dos Bufos,Graxas e Outras "Aves de Arribação" - ou a Tal Proximidade da Ditadura


Quando trabalhamos por conta própria, vivemos num mundo à parte. Nem nos apercebemos do valor da liberdade que temos, apenas dos custos...

Dois amigos funcionários públicos confessaram-me que o ambiente nos seus trabalhos "fedia". Nunca tinham  reparado na existência de tantos bufos e graxas, cada vez mais descarados, nos seus serviços.

O Nuno tentou fugir dos totalitarismos: «A malta tem a mania de culpar o Salazar por tudo e por nada, mas não sei até que ponto ele tem culpa de sermos uns "bufos" e uns "lambe botas". Somos é uns "merdas", que fazemos tudo para ficarmos bem vistos.»

O João abanou a cabeça e empurrou todas as culpas para o ditador e para os que pensam como ele: «Claro que tem culpa. Ele e todos os que não convivem bem com a liberdade e a democracia. É por isso é que criam "papões" no trabalho e deixam bem expresso que a maneira mais fácil de subir na carreira é pertencer ao SIC (serviço de informações do chefe). É essa merda que estes filhos da puta chamam mérito, mas não passa de bufaria com fartura em todos os serviços.»

O João acalmou-se e acabámos por falar do clima de medo que se tinha instalado na função pública, com os despedimentos anunciados. Ninguém queria perder o emprego e mostravam que tinham um preço demasiado fácil aos chefes, que sempre adoraram cortes de bajuladores e informantes...

Felizmente ou infelizmente, é nos momentos dificeis que vem ao de cima o verdadeiro carácter de cada um de nós.

O óleo é de Max Liebermann.

terça-feira, outubro 01, 2013

Vaidade com Pudor Antes de Abril


Ela sorria enquanto falava do pouco tempo que foi actriz, nos anos sessenta: «havia muito pudor, eramos educados a não dizer o quanto gostávamos do palco ou de uma coisa ainda mais rara e festiva, aparecer na televisão.»

Sem deixar que a interrompesse continuou: «E também nos diziam para não darmos muita confiança às gentes da cultura, porque tinham coisas quase canibalescas.»

Eu sorri-lhe e ela devolveu-me o sorriso e disse: «Luís se mais alguma vez aparecer por cá uma ditadura, foge. Os ditadores são tão mentirosos e castrantes».

O óleo é de Savely Sorin.