sábado, fevereiro 29, 2020

A Ficção Continua a ser Fintada pela Realidade...


Só no nosso país é que é possível uma directora geral de saúde dizer que dez por cento da nossa população (um milhão...) pode ser infectada com o vírus "Covid-19". Penso que, mesmo que existissem dados estatísticos que aproximassem esses números da realidade, quem exerce um cargo com esta responsabilidade, nunca poderia dizer isso.

Mas como a senhora (não é caso único...) não consegue passar umas horas sem falar para as televisões, rádios ou jornais, com a natural falta de assunto, entra-se com facilidade no "reino do disparate" (agora diz que não se trata de uma previsão, mas sim de um "cenário"...).

Parece que a morte de três jovens por excesso de velocidade (e de fama, no pior sentido...), na segunda circular, não foi suficiente, para que os "mentores" destas competições clandestinas, pensassem duas vezes. Foi publicitada nas redes sociais uma corrida para comemorar os sete dias do acidente, com a previsão de 100 carros na estrada... 

Mesmo que tudo não passe de uma "brincadeira de mau gosto", para trocar as voltas às forças de autoridades, é uma atitude inqualificável, se pensarmos no estado em que ficaram as vítimas do acidente, tal como o carro onde seguiam.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sexta-feira, fevereiro 28, 2020

A "Terra Prohibida" de Pascoaes


Há bastante tempo que tinha curiosidade  em ler a poesia de Teixeira de Pascoaes, considerado por muitos como um dos nossos grandes poetas.

Hoje por um mero acaso, descobri o livro de poemas, "Terra Prohibida", na biblioteca da Incrivel Almadense (terceira edição, editada no Rio de Janeiro em 1923...).


O mais curioso foi descobrir a sua "virgindade" (as suas folhas ainda estavam por abrir...), ou seja, passados quase 100 anos, tudo indica que vou ser o seu primeiro leitor...

(Fotografias de Luís Eme - Cacilhas)

quinta-feira, fevereiro 27, 2020

Penso que Será Inevitável, Mas...


A televisão é um produto cada vez mais tóxico, especialmente pela forma como trata as notícias que conseguem "encher todo o écran". Raramente trata os assuntos pertinentes com a seriedade que merecem. Começa sempre por "alarmar", para depois atingir o ponto da "banalização" (quase sempre nos tempos errados...), quando o problema ainda existe.

Penso que a chegada do "Covid-19" à nosso país, será inevitável. Mas não havia necessidade de todo este alarme, de quase se prepararem os portugueses para a "batalha" que aí vem, colocando-se atrás da porta, como se estivesse à espera do "apito" para saírem à rua, de máscaras - parece que estão quase esgotadas... - , apesar do carnaval ter sido enterrado na quarta-feira...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, fevereiro 26, 2020

A Importância da Cultura Oral


Sei o quanto é importante a cultura oral para o conhecimento, tanto como jornalista como historiador.

A ausência de documentos físicos sobre vários acontecimentos, faz com que tenhamos, obrigatoriamente, que recorrer aos testemunhos orais.

Quando li uma entrevista publicada no final do ano (na edição de 6 de Dezembro do "Ípsilon"), com o escritor jamaicano, Marlon Jones, achei-a extremamente enriquecedora, pela forma aberta como ele falou dos seus livros, dos livros dos outros e de si próprio.

Sei que não vou transcrever a parte mais interessante da entrevista. Vou sim fazer a referência que me interessa, pela sua pertinência e pela sua verdade:

«As pessoas da cultura oral, onde se enquadram os gregos que ouviram Homero, têm de saber se o contador de histórias está a mentir ou não, ir percebendo as nuances, motivações, têm de fazer o trabalho de detective enquanto estão a ouvir. O ouvinte de uma história tem muito mais trabalho para fazer do que o leitor.»

Penso exactamente como o Marlon Jones, especialmente se estiver a realizar um trabalho de investigação, no qual a aproximação com a verdade seja o aspecto mais importante da conversa. A credibilidade adquire aqui um aspecto fundamental. Além da nossa própria  intuição, devemos questionar (sempre que for possível...), porque é mesmo verdade que se apanha mais depressa um "mentiroso que um coxo".

Claro que o lado mais mitológico da cultura oral, não nos levanta estas questões. O aspecto essencial é a qualidade do "contador de histórias", a sua capacidade de nos levar de viagem, de nos cativar, mesmo que esteja a contar-nos algo, que está cada vez mais distante do nosso mundo (as lendas e os milagres perderam muito espaço no nosso tempo...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, fevereiro 25, 2020

Não, Não são Desculpas, Apenas Respostas a Perguntas...


Não. Ninguém vai preso por não pedir facturas com o número do contribuinte. A única coisa que acontece é não se habilitar à "factura da sorte", que parece que ainda dá um carro...

Não vou escrever nenhum livro sobre o que te aconteceu, porque os "livros a pedido", nunca têm a ligeireza e a autenticidade que merecem...

Não te devia dizer isto, mas deixei de passar por aí, porque escreves sempre o mesmo poema. Não consegues deitar fora esse teu amor antigo, que todos os dias salta da mala, mal a abres, poucos minutos depois de acordares e te levantares... E a mim não me apetece comentar a mesma coisa, muito menos dizer-te para meteres um cadeado na mala e deitares a chave fora (e porque não a mala?)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, fevereiro 24, 2020

Uma Pequena Ajuda ao Pequeno Comércio


Sei que não devia dizer isto, mas raramente peço facturas em lojas pequenas.

Por uma razão bastante simples: nota-se à légua que não são abastados nem têm artes de "mágicos".

Sim, tenho a certeza de que não conseguem contratar os senhores contabilistas, que trabalham para o chamado "grande capital". Esses mesmos que conseguem fazer voar o dinheiro, tanto por cima como por baixo da mesa.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

domingo, fevereiro 23, 2020

Ginjal, ao Fim da Tarde...


Nem parecia domingo de carnaval, hoje ao fim da tarde, no Ginjal.

O único "mascarado" que encontrei foi o Sol, que já se tinha "pintado" de Verão, na despedida, apesar de ainda estarmos em Fevereiro.

Os muitos passeantes, conversavam a várias línguas e registavam aquele momento especial com os telemóveis e as máquinas fotográficas, hipnotizados pela beleza única do Tejo...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

sábado, fevereiro 22, 2020

Contra a Corrente


Não era para escrever uma linha sobre o desaparecimento de Vasco Pulido Valente, porque sempre tivemos muito pouca coisa em comum.

Mas ao ver tanta gente a "empurrá-lo para o céu", não resisti a dizer o que penso dele.

Lia-o na imprensa, mas raramente concordava com o que ele escrevia, porque nunca admirei aquilo a que chamo de "coragem insultuosa", a arte de usar as palavras, todas (sim, mesmo as ofensivas, injustas e difamatórias) sem travões.

Como historiador ainda lhe ofereço menos crédito, porque a história não se faz de meras opiniões, conjecturas ou de teorias pouco fundamentadas.

Sei que ontem hoje e amanhã, são dias para se dizerem maravilhas sobre o Vasco Pulido Valente. Mas eu guardo dele a mesma imagem que tinha a 20 de Fevereiro: alguém muito virado para dentro de si próprio, e cujo pensamento, por mais absurdo que fosse (e era, muitas vezes...), era sempre mais importante que a verdade dos outros.

(Fotografia de Luís Eme - Olho de Boi)

sexta-feira, fevereiro 21, 2020

Uma Imagem Demasiado Informativa


Quando olhei para esta fotografia, tirada na semana passada (num daqueles dias com chuviscos...), fiquei logo com a sensação de que tinha apanhado mais coisas do que as que olhara quando carreguei no botão.

Um jovem tira uma selfie a uma gaivota que quer voar; uma senhora lê um livro sentada nas escadas; uma menina dança com as ondas, um homem delicia-se com o telemóvel; as barcas circulam no rio; tenho a sensação de que os pombos estão ali só para disfarçar.

Não é a primeira vez, nem será a ultima, que isso acontecerá... porque a fotografia também gosta de surpreender o fotógrafo.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quinta-feira, fevereiro 20, 2020

A Ficção e a Realidade deste País


Desde que olho para as coisas com olhos de ver, que sinto que os governantes vivem numa realidade paralela, que se aproxima mais da ficção que da "vida como ela é". Penso que isso é intencional e foi a melhor forma que eles encontraram  para conseguirem passar ao lado dos problemas.

Ainda não tinha falado sobre o "caso Marega", porque não há muito a dizer, muito menos a esconder. Ainda bem que teve a coragem de abandonar o campo de jogo (caso contrário, continuávamos todos a assobiar para o lado...).

Mas o que mais me incomodou neste episódio foi ver os nossos principais governantes (Presidente da República, Primeiro-Ministro, e especialmente o Ministro dos Negócios Estrangeiros), mais preocupados com a imagem do país para o exterior, que na urgência em se tomarem medidas sérias, para erradicar estes problemas crescentes, nos estádios e nas nossas ruas.

Desde o começo do ano, além dos insultos racistas ao Marega, também morreu um jovem cabo-verdiano, em Bragança, depois de ter sido brutalmente agredido; e uma portuguesa de origem angolana foi barbamente agredida por agentes da autoridade, depois de ter resistido à sua detenção, na Amadora (este último caso foi desencadeado no interior de um autocarro e o seu motorista acabou por ser agredido, posteriormente, como retaliação...).

Talvez o Governo ache que tudo isto é "normal". E a única coisa com que temos de ter mais cuidado, é com a forma como as notícias viajam pelo mundo, para não afugentar os turistas...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)

quarta-feira, fevereiro 19, 2020

Estes Nossos Terrenos Demasiado Férteis...


Lá vou eu utilizar novamente as metáforas...

Mas tem de ser. A nossa governação ao longo dos anos tem sido feita sempre em "terrenos demasiado férteis", abrindo espaços e criando oportunidades, quase sempre desaproveitadas pelas oposições (os partidos do regime tinham todos "rabos de palha" e nunca passavam dos "ses"...).

Até que chegámos a este nosso tempo dos populismos, da  gente da "palavra fácil" e que "anda sempre de dedo em riste", a dizer o que é, misturado com o que não é... Mas que , como todos sabemos, facilmente chega - e fica - no ouvido do cidadão comum. 

E se há uma "zona cinzenta" na nossa sociedade, facilmente explorada, é a nossa justiça, que todos sabemos não ser para todos (muito gostamos nós de chamar "ladrões" aos banqueiros que continuam a viver em Cascais e a fazer mini-férias de luxo no Alentejo e no Algarve, sem nos incomodarmos muito, que continuem em liberdade...).

E como se pode ver pelas sondagens, o mais populista de todos os pequenos partidos está a crescer e já não alberga apenas os taxistas, os barbeiros e os vendedores de feira...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)

terça-feira, fevereiro 18, 2020

Quando as Primeiras Impressões, vêm embrulhadas em "Papel de Preconceito" ..


O preconceito está  quase em todo o lado, especialmente dentro de nós (sim, habita dentro de cada um de nós, até dentro daqueles que dizem que não são preconceituosos ou racistas...).

Não é uma coisa do outro mundo, evitarmos uma pessoa apenas "porque sim". Mas ainda conseguimos ir mais longe, e mesmo sem a conhecermos, começamos logo à procura dos seus "defeitos". Isto tanto pode acontecer no nosso trabalho como na nossa rua.

Até que um dia, por um mero acaso qualquer, precisamos da sua ajuda. E do outro lado, além de recebermos o apoio necessário, este ainda vem com um sorriso.

E isso deixa-nos, no mínimo, a pensar...

Mas a única coisa que podemos e devemos fazer, é interiorizar que "as primeiras impressões" não nos devem merecer grande crédito. Faz-nos bem lutar contra o "preconceito", por que ele nunca é uma boa ajuda, especialmente quando lidamos com a diferença...

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)

segunda-feira, fevereiro 17, 2020

Pintar Lisboa Quase ao Desafio...


Não sei se estas jovens são "pintoras de domingo" (as imagens são de ontem...), ou se montam o cavalete, diariamente, no Largo de Santa Lúzia, com o objectivo de ilustrar e seduzir, quase em simultâneo, a Cidade e os muitos turistas que passam por ali...


Sim, continuam a ser mais que muitos, para felicidade do Medina. Param ali pela largueza das vistas para o rio e também pela oferta de tantas esplanadas.


Ouvi pelo menos seis línguas (italiano, espanhol, francês, alemão, inglês e chinês - ou seria japonês?...) diferentes, enquanto caminhava à procura, de tudo e de nada...

(Fotografias de Luís Eme - Lisboa)

domingo, fevereiro 16, 2020

A Dor, o Sofrimento e a Fé Católica


Durante o fim de semana, os padres que deram a missa, de Norte a Sul, passaram a sua mensagem, a favor da vida, contra a eutanásia...

Continuam a espalhar a palavra de Deus e a dizer, que só com "muita dor e sofrimento" se chega ao "Céu"...

Também continuam a dizer que os pobres e humildes (sim, os que aceitam a sua condição e não "exigem" melhores condições de trabalho nem de vida...), têm um caminho muito mais curto para chegarem ao "Paraíso"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sexta-feira, fevereiro 14, 2020

Os "Filmes Errados" Chegam Rapidamente ao Mundo Real


Estava numa fila do supermercado, quando assisti a um episódio, quase surrealista. Tudo começou quando um senhor pediu a uma senhora (preta por sinal...), para afastar as suas compras das dele, para não confundir a menina da caixa. Mal ele imaginava que iria provocar uma confusão, quase diabólica, ao ponto da mulher não mais se calar, apelidando o homem  de "maluco" para cima. Este ainda a tentou trazer à razão, dizendo-lhe que não lhe tinha faltado ao respeito, e por isso mesmo, ela deveria respeitá-lo e tratá-lo com decência.

Só piorou a situação... além de aumentar o tom de voz, começou a tratar o senhor (mais velho que ela) por tu. Este, envergonhado com toda a situação, virou-lhe costas e não lhe dirigiu mais a palavra.

Um jovem branco que estava atrás de mim teve o desabafo: «e nós é que somos racistas...»

Podem imaginar a pandemónio seguinte...

Sai dali a pensar no Trump, no Bolsonaro, mas também na Joacine... Não sei onde iremos parar, se a tese de que "quem fala mais alto é que tem razão", começar a vingar, um pouco por todo o lado...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quinta-feira, fevereiro 13, 2020

Nada se Mantinha como Dantes, mas...


Não queria as paredes pintadas, dizia que tudo devia ficar como sempre fora... Fingia esquecer que nada se mantinha como dantes.

A mulher mais madura disse que as mulheres demoram mais a apaixonar-se, mas depois resistem mais ao processo de desmoronamento.

Eu fiquei em silêncio. Devia ter dito que em relação ao amor, as mulheres e os homens não são assim tão diferentes... Mas talvez estivesse errado.

(Fotografia de Luís Eme - Salir de Matos)

quarta-feira, fevereiro 12, 2020

Almoçar Com uma "Personagem de Filme"...


Almoçávamos divertidos porque, como sempre, o Manel fala mais do come. Lá mais para o fim da nossa refeição, sabemos que ele ainda vai estar com o prato quase cheio. É sempre assim. 

Nada que o incomode. Ele aparece por ali, sempre que pode, sobretudo para conversar, saber coisas e contar ainda mais coisas.

Não sei porquê, mas enquanto o escutava, deliciado, a contar as suas melhores aventuras como taxista lisboeta, via-o quase como uma personagem de filme do Fernando (Lopes), sobre a Lisboa que mais amava.

Depois quando regressei ao trabalho, deparei-me com um texto delicioso escrito pelo Jorge Silva Melo, sobre "Belarmino" (escrito há quase 25 anos no "Público")... Transcrevo apenas meio parágrafo: «O que é belo, fraternalmente belo, neste filme seco e terno, cru e franco, é que ele é vadio. Não há aqui um sistema (sociológico, dramático, político, estético, narrativo...), não há um "universo" para encarcerar uma personagem (apesar das grades finais), Lopes vai filmando - no gerúndio.»

Sim, o Manel tem qualquer coisa de diferente, que tenho quase a certeza que cabe dentro da câmara de um realizador como o Fernando...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, fevereiro 11, 2020

A Democracia Começa a estar Mesmo em Perigo


Não precisamos de viajar para o Brasil ou para os Estados Unidos da América, para percebermos e sentirmos que a democracia começa a estar mesmo em perigo.

Vou dar apenas dois exemplos, os do Sporting Clube de Portugal e do Partido Social Democrata, em que se percebe nitidamente que as minorias pretendem "roubar" o poder de quem foi eleito democraticamente, pelas maiorias.

No Clube de Alvalade, o seu presidente é contestado praticamente desde o primeiro dia, por ter mudado as regras que existiam em relação ao apoio às claques (oferta de bilhetes e apoio pecuniário). No PSD Rui Rio também é contestado desde que foi eleito líder do partido, pelas facções minoritárias, que não aceitam que o partido a que pertencem seja governado com um programa político diferente do seu.

Ninguém está isento de críticas, mas a democracia, é, claramente, outra coisa...

(palavras de um cidadão de esquerda que é benfiquista)

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, fevereiro 10, 2020

A Aposta na Surpresa e na Descentralização


Parece que o "Óscar" quer seguir as pisadas do "Nobel" (dos livros), apostando na surpresa e na descentralização do prémio (se for possível, claro).

Neste caso particular foi uma viragem na direcção da Ásia, aproveitando da melhor maneira a nomeação de um filme e de um realizador coreano. 

Parabéns ao realizador,  Bong Joon Ho, ao seu filme, "Parasitas", e não menos importante, aos seus excelentíssimos actores.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

domingo, fevereiro 09, 2020

"Viva a Vida!"


"Viva a Vida!", é sempre um excelente conselho.

E se estiver dentro de um desenho de parede, bonito, ainda sabe melhor.

Claro que "viver" não é esquecer. Muito menos fingir que se vive.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sexta-feira, fevereiro 07, 2020

"Essa Gente", do Chico...


Acabei de ler "Essa Gente" de Chico Buarque, um livro construído de forma diferente (quase como se fosse correspondência diarística... quase), sobre a vida de um escritor, que se debate com várias crises. 

Quase que me apetece dizer que o que lhe sobra em mulherio lhe falta em inspiração (mas é mesmo assim a vida dos criadores, não é por acaso que a solidão e o isolamento são os melhores amigos dos escritores...).

É um livro simples, mas bonito e bem construído. Provavelmente o de mais fácil leitura, do conjunto da sua obra literária.

E claro, sempre que pode, o Chico foca o "mundo cão" do Rio de Janeiro, especialmente o destes últimos tempos...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

quinta-feira, fevereiro 06, 2020

O "Mito" da Desertificação Humana Lisboeta


Apetece-me continuar em Lisboa, para falar de pessoas que por lá habitam - ou habitaram... -, para de alguma forma tentar deitar abaixo o mito sobre a "desertificação humana lisboeta".

Não é nenhum segredo que a Baixa de Lisboa começou a ficar quase sem habitantes, pelo menos nos últimos vinte anos. Isso explica-se sobretudo pela degradação dos prédios de traça pombalina, que passaram décadas sem sofrer qualquer obra, de beneficiação ou manutenção, por parte dos senhorios, e que com o tempo se transformaram em habitações de "risco" para os seus moradores (que além de descobrirem humidade em tudo o que era sítio, começaram a ver pedaços de tectos a cair, abrindo caminho para os pingos da chuva que manchavam as suas divisões, assim como uma crescente instabilidade nas escadas de madeira, que tinham de subir diariamente...).

Ou seja, foram sobretudo razões de saúde pública que levaram a que uma boa parte das pessoas que viviam na Baixa deixassem as suas casas.

Mas ao contrário da Baixa, os bairros históricos que a rodeiam sempre foram densamente povoados. Já era assim quando Dom Afonso Henriques conquistou Lisboa (nunca faltaram moradores em Alfama, no Bairro Alto, no Castelo ou na Mouraria (para não fugir muito do centro...).

Só com a invasão turística e com a famosa "lei cristas", é que muitas pessoas foram obrigadas a mudar de bairro (a maior parte nascida e criada ali...), porque deixaram de ter condições para pagar as rendas "milionárias", exigidas pelos senhorios...

Quem mora fora de Lisboa muitas vezes tem a ideia de que o Centro Histórico da Cidade estava completamente degradado e abandonado, e que o turismo foi uma "benção", porque contribuiu para a sua recuperação.  Degradado sim, abandonado, não.

Não podemos esquecer as pessoas que davam vida aos bairros, que ainda iam bater à porta da vizinha do lado, para pedir um bocado de sal ou de açúcar... foram forçadas a partir, com os parcos haveres, para Almada, Brandoa, Odivelas ou Moscavide (quem tinha uma "terra" regressou à província)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, fevereiro 05, 2020

O "Contracenso" que é Esta Lisboa


Nunca pensei viver em Lisboa. E nunca coloquei a questão apenas por razões económicas, a minha preocupação maior foi a qualidade de vida.

Claro que falo de uma Capital muito diferente dos nossos dias, estou a recuar até à segunda metade dos anos oitenta do século passado (uma cidade mais feia e degradada, e também com piores meios de transportes...).

Hoje é tudo muito diferente, para melhor, pelo menos aparentemente...

Mas há um problema, que se vai acentuando, cada vez mais. Os residentes fixos são cada vez menos importantes para a economia local (e também nacional...), pelo que muitas das mudanças realizadas (especialmente no coração de Lisboa), são mais direccionadas para os turistas que para os lisboetas.

Não queria falar em "ganância", mas é o que a "febre do dinheiro" mais produz por metro quadrado, desde a mercearia do bairro ao hotel mais chique da Cidade. Infelizmente os políticos estão na mesma diapasão, estão a abrir a cidade, com o objectivo de conseguir receber ainda mais turistas, diariamente, porque isso significa mais receitas... e os residentes só têm duas coisas a fazer: aguentam-se ou mudam de ares (infelizmente é isto que mais tem acontecido, embora nem sempre isso aconteça de forma voluntária...).

É por isso que eu digo, que é um contracenso, esta Lisboa... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, fevereiro 04, 2020

A Pronúncia do Norte Quase no Sul


Almada além de ser a primeira Terra que fica para Além do Tejo, junto à Capital, é também um dos concelhos com uma maior proximidade com esta região, graças aos muitos imigrantes que foram chegando e por cá ficaram.

Hoje, por um mero acaso, estive na mesma sala onde se encontravam quatro senhoras, que já caminhavam para lá da meia-idade, e, surpresa das surpresas, eram todas oriundas do interior Norte.

Embora não ligasse ao que diziam, reparava na forma como falavam, na sua pronúncia tão acentuada (embora vivessem por aqui há décadas...). Na minha cabeça comecei a querer traduzir o que diziam, a tentar "escrever" a sua oralidade. 

Reparei que com apenas uma palavra, dizia quase tudo, até porque as quatro amigas eram todas do distrito de "Bijeu"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, fevereiro 03, 2020

Ler, Ler, Ler...


Num tempo em que se questiona tanto, o uso e abuso do telemóvel, gostei de ver várias pessoas, na tarde de ontem, sentadas nos bancos do jardim do Príncipe Real, deliciadas a lerem os seus livros de papel...


Acho que nem deram por mim a "roubar-lhes" retratos...


E ainda bem. Embora ficasse com alguma curiosidade sobre as histórias que habitavam dentro dos seus livros...

(Fotografias de Luís Eme - Lisboa)

domingo, fevereiro 02, 2020

A "Cidade para se Visitar" está a Engolir a "Cidade para se Viver"...


Lisboa já deixou há algum tempo, de ser uma "cidade para se viver".

É também por isso que é quase impossível a um lisboeta comum, conseguir alugar uma casa na Capital.

A aposta conjunta de governantes, comerciantes, senhorios, entre outros "artistas", tem sido a sua transformação numa cidade, quase exclusivamente, "para se visitar" (os estrangeiros que compram casa por cá, é com o objectivo de continuarem a fazer turismo, a deliciarem-se com as vistas, sem se integrarem no seu quotidiano, mesmo que isso aconteça quase em permanência).

Já quase que não se houve falar português rente ao Tejo, na Baixa e em alguns bairros históricos (aqueles que têm mais "pedigree"...).

Quando deixarmos de "ser moda" (acho que isso irá acabar por acontecer...), ficaremos com uma Capital completamente descaracterizada e vazia...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sábado, fevereiro 01, 2020

O Silêncio e o Sossego Nocturno da Minha Rua


Espreito a rua deserta, da varanda. 

Descubro algumas luzes acesas no interior das casas dos prédios de frente, mas nem um vulto a cirandar pelas divisões. Provavelmente, estão todos sentados no sofá...

Olho para cima e descubro o céu pintado a várias tonalidades de cinzento, quase a prometer mais água para amanhã.

Quando "regresso" à minha rua, penso no seu sossego diário, especialmente depois de anoitecer. Sei que é este silêncio que faz com que o sábado adormeça mais rápido por aqui, que noutros lugares.

É por isso que me apetece chamar-lhe, "maldita rua". Não tem uma única loja do que quer que seja, muito menos um café ou bar, que deixasse entrar e sair dois ou três bêbados, capazes de partir um copo, dar um grito ou uma gargalhada na rua e conseguir o feito, de prolongar o sábado para dentro do domingo...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)