sexta-feira, janeiro 31, 2020

Histórias, Jornalismos e Contraditórios...


Hoje estive à conversa com um historiador que desceu até à Idade Média e por lá ficou. Disse ele, que  isso aconteceu muito por culpa de Afonso Henriques e do seu filho Sancho. 

Falámos de algumas lendas - que ele prefere chamar mentiras -, que conseguiram chegar ao século XX, devido aos velhos hábitos de se "decalcarem" ideias e de não se mexer nas "verdades sagradas"...

O tempo é de facto primordial na história, as datas esclarecem tantas coisas... desde a possibilidade de se estar, ou não... (por vezes ainda não se tinha nascido, ou ainda se andava de calções e já "andavam a guerrear"...). E em todas as épocas... Até as estações em que dividimos o ano nos podem dizer algo sobre o que aconteceu em algumas guerras e tragédias.

Das coisas que ele mais gosta é de desmontar "milagres", por muito que isso desencante a Igreja Católica.

Ambos sabemos que não há nada como o contraditório, para conseguirmos chegar mais longe. Em tudo. 

Foi este mesmo contraditório que nos transportou para os nossos dias. Acabámos por ter de falar de algum jornalismo, que pretende ser outra coisa, porque se tiver de escolher, prefere a sensação à verdade.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quinta-feira, janeiro 30, 2020

Apenas Porque Sim...


Fiquei a ver-te partir, preso às tuas últimas palavras.

A espaços, senti que tentaste ensaiar uma despedida, que queria ter qualquer coisa de definitivo. Foi quase como se amanhã, resolvesses partir de viagem para um país longínquo.  

Sei que às vezes fartamos-se uns dos outros. 

Uma vez tinhas-me dito que a bondade excessiva cansa, foi por isso que nunca quis ser muito bonzinho contigo.

Embora seja distraído, senti que te começaste a cansar dos "empurrões" que nos davam. E sobretudo das bocas maldosas que falavam de nós como o "casal maravilha", fingindo ignorar que éramos casados e pais de filhos.

Amanhã vou telefonar-te, apenas porque sim.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, janeiro 29, 2020

A História é o que Aconteceu, não é o que Queríamos que Acontecesse...


Sei que antes de Abril de 1974 a História era interpretada à luz do Estado Novo, especialmente a que se ensinava nas escolas primárias e secundárias.

Felizmente tudo mudou com o regresso da democracia, sem grandes atropelos (o "Verão Quente" é apenas um apêndice). Ou seja, as coisas foram mudando e acontecendo com a normalidade possível.

É por isso que me faz alguma confusão a proposta do Livre (apoiada pelo PAN), que não pretende apenas a "devolução" de património trazido das ex-colónias, quer também a "Descolonização da Cultura" (não consegui perceber muito bem o que é isso...).

Em relação à "Devolução de Património", sei que em alguns casos poderá existir legitimidade para que isso aconteça. Já a questão da "Descolonização da Cultura", à primeira vista até me parece uma proposta "racista", porque devemos ser no campo da cultura, um dos países mais abertos e inclusivos da Europa (o que nos falta em dinheiro sobra quase sempre em boa vontade...).

Mas as pessoas são livres de fazerem as propostas que quiserem, nem que seja para serem notícia de jornal...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

terça-feira, janeiro 28, 2020

O Quase "Vício" da Arte de Rua


Andei a organizar as minhas fotografias de 2019 e reparei que tinha mais de um milhar de fotografias de "Arte de Rua", distantes dos rabiscos. Ou seja, pinturas com alguma qualidade e sentido, que dão quase sempre cor a lugares abandonados ou em ruínas...

Uma boa parte delas (muitas repetidas...) são do Ginjal. Embora se use e abuse dos ""rabiscos", de vez em quanto aparecem umas coisas giras, com a garota desta parede (Fábrica de Braço de Prata).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, janeiro 27, 2020

Este Mundo de Enganos...


Às vezes deixamos-nos enganar, propositadamente, quase sempre por duas razões:  porque não nos apetece chatear e porque ficamos, momentaneamente, quase num estado de "encantamento" pela lata e imaginação do "burlão", ou da "burlona".

Sim, há quem até seja capaz de fazer uma espécie de guião - que podia ser o começo de uma peça teatral -, para conseguir ser mais convincente... E nós ficamos ali a pensar, "desta vez estou quase a ser bem enganado"...

(Fotografia de Luís Eme - Olho de Boi)

domingo, janeiro 26, 2020

"O Poeta" de "Um Barco para Itaca"


"Um Barco para Itaca", de Manuel Alegre, veio-me ter às mãos. Por ser curto e estreito li-o quase numa penada.

Gostei muito do poema "O Poeta", que transcrevo:

Quando um homem se põe a caminhar
deixa um pouco de si pelo caminho.
Vai inteiro ao partir repartido ao chegar.
O resto fica sempre no caminho
quando um homem se põe a caminhar.

Fica sempre no caminho um recordar
fica sempre no caminho um pouco mais
do que tinha ao partir do que tem ao chegar.
Fica um homem que não volta nunca mais
quando um homem se põe a caminhar

Vão-se  os rios sem margem para o mar.
Ai rio da memória: só imagens.
O mais é só um verde recordar
é um ficar (sem as levar) nas verdes margens
quando um homem se põe a caminhar.


(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)

sábado, janeiro 25, 2020

Um dos Primeiros Sintomas...


Não queria continuar a "bater na mesma tecla", mas quando assistimos a cenas completamente estúpidas, é difícil ficar em silêncio.

Eu já sabia que um dos primeiros sintomas que nos caracterizam como racistas ou nacionalistas (mesmo quando dizemos que "não somos"), é a frase que somos capazes de deixar escapar num momento de maior raiva, ou que fica a "dançar" no nosso pensamento: «Vai mas é para tua terra! (acompanhada normalmente de outras palavras feias).» 

Ouvi-a hoje, antes de almoço, quando dois rapazes com ar de marroquinos (tanto podiam ser do Norte de África como do Oriente...), obrigaram um condutor a parar na passadeira, quando resolveram continuar a atravessar a estrada, ignorando o ar ameaçador do carro. 

O sujeito abriu o vidro e começou a "grunhir" para os rapazes, como se estivesse cheio de razão. Eles felizmente continuaram a marcha sem darem a mínima atenção às provocações. 

Cheguei a pensar que eram capazes de ter a sorte de não saber falar nem perceber português...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

sexta-feira, janeiro 24, 2020

Personagens sem Filmes


Não sei se o senhor da charcutaria sabe, que tem um ar cómico, natural, mesmo sem ser daquelas pessoas que passa a vida a sorrir. 

O "festival" começa nas suas feições peculiares (agora deixou crescer bigode, o que ainda o mete mais dentro das comédias construídas com actores de ar sério...), que coladas aos gestos e ao próprio andar (mexe-me ligeiramente mais rápido que o comum dos mortais...), facilmente seria colocado num filme.

Claro que isto é conversa de um simples "observador amador". Ao olhar de um realizador experimentado, o mais provável é senhor não "caber dentro da câmara" e nem sequer ser preciso fazer um "casting".

Pois é, nem sempre vemos a mesma coisa, mesmo que estejamos a olhar para o mesmo palácio... O potencial actor que eu vejo, pode não passar de um bom vendedor de queijo, fiambre e chouriço fatiado...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quinta-feira, janeiro 23, 2020

Duas Referências (desportivas) Especiais


Embora goste muito de futebol - e de desporto em geral - evito gastar o meu "latim" ou o teclado do computador a falar e a escrever sobre algo que, infelizmente, é discutido quase sempre de uma forma parcial e desonesta.

Mas hoje apetece-me fazer duas referências, especiais, aqui no Largo. 

A primeira à nossa Selecção de Andebol que esteve muito perto de chegar às meias-finais do Campeonato da Europa e obteve a melhor classificação de sempre numa competição deste nível. 

A segunda ao Cristiano Ronaldo, que está prestes a fazer 35 anos e continua a obrigar todos aqueles que andam com "pregos" na mão, a arrumar o "martelinho" na sacola, porque ainda não se vislumbra o tempo de "fecharem o caixão" daquele que é um dos Melhores Futebolistas do Mundo de sempre - coloco-o a par de Messi, Pelé, Maradona, Cruyff e Eusébio - e que continua a fazer golos e a encantar as multidões que ainda vão aos estádios, tal como os adeptos que preferem ficar em casa a dar saltos no sofá.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

quarta-feira, janeiro 22, 2020

"Coisas" do Conhecimento das Coisas...


Não deixa de ser curioso, que à medida que vamos conhecendo a "biografia" de algumas pessoas, isso nos vá levando a perder o interesse e a vontade de as conhecer, pessoalmente...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)

terça-feira, janeiro 21, 2020

Aprender a Viver a Cores na Sociedade


Nestes tempos em que estão a aumentar alguns "ismos", que não fazem bem nenhum à sociedade, nem a nós próprios, é importante reforçar, que todos nós temos inteligência, mais que suficiente, para saber que a nossa cor de pele é apenas mais uma das várias características físicas, que nos diferenciam uns dos outros.

Se por um lado, os "brancos", continuam a apontar o dedo à "diferença" e a querer deixar vincada a sua "supremacia", por outro, os "pretos", continuam a apostar na vitimização e a gostar de fazer o papel de "coitadinhos" e vitimas da sociedade.

Só quando conseguirmos viver "a cores" (abandonar de vez o "preto e branco"...) e deixarmos de parte os sentimentos de superioridade ou inferioridade, alimentados pela nossa cor de pele - de parte a parte -, daremos mais um passo em frente neste coisa que é viver em comunidade...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)

segunda-feira, janeiro 20, 2020

Não Somos Bem Racistas...


Nós não somos "bem" racistas, só não gostamos é muito (perto do nada...) de pretos e de ciganos...

Eu diria que o que somos muito é hipócritas e cínicos.

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)

domingo, janeiro 19, 2020

O "Adamastor" Está de Passagem pela Minha Rua...


Lá fora alguém sopra, com quase toda a fúria do mundo. Quase que me apetece acreditar que é o "Adamastor", mesmo sem precisar de ir espreitar a janela.

Sei que ele aparecia mais no meio dos oceanos, mas acredito que, uma vez ou outra, era senhor para vir a terra, levantar um destes alvoroços, que deve dobrar as pobres árvores da minha rua, e pela parte que me toca, faz estremecer os estores, a pouco mais de um metro da minha secretária...

(Fotografia Luís Eme - Cova da Piedade)

sábado, janeiro 18, 2020

Monumentalidade & Religiosidade


Em parte percebo a quase necessidade de misturar a monumentalidade com a religiosidade, pelo menos no seio da religião católica (isso acontece tanto na arquitectura dos templos como na sua ornamentação artística).

Sempre se usaram as imagens de santos e santas, no interior e no exterior dos santuários e igrejas. Normalmente saem beneficiados pelos artistas, que tentam transmitir aos fiéis uma imagem de beleza, mas também de respeitabilidade, de inocência e temor (especialmente quando elas são Marias...).

Como sou um leigo nestas coisas, não sei muitas coisas, como por exemplo, qual é o significado do uso de animais, aos pés e ao colo destes dois santos, que agora fazem  parte da decoração que rodeia o Cristo-Rei de Almada.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

sexta-feira, janeiro 17, 2020

Tempo para Tudo...


Estava na paragem do autocarro que nunca mais chegava, a ver o quadro electrónico a brincar connosco. De repente os três minutos que faltavam passaram a ser sete... Conhecia aqueles "truques" das paragens do metro de Almada, onde se pratica mais do que se deve, a supressão de transportes...

À minha frente havia um cartaz publicitário, também electrónico, que ia passando duas ou três coisas.

A única coisa que me prendeu a atenção foi a série televisiva "lista negra", por me recordar o único rapaz que tinha uma lista dessas (deve ser mais normal do que o que eu penso, pois até os telemóveis têm uma...), onde empurrava para lá a "malta que não interessava".

Naquele meu momento de "enfrentar a lista", sorri por me recordar, que se havia alguém que devia estar em todas as folhas pretas, era ele, ao mesmo tempo que esquecia os atrasos dos transportes públicos, que também devem fazer parte de muitas "listas negras"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quinta-feira, janeiro 16, 2020

Gente Castigada pela Vida Duas Vezes...


Ontem fiz uma coisa que está longe de ser das que mais me agradam, fui a um hospital  público como acompanhante, e onde, naturalmente, permaneci mais de um bom par de horas. Isso deve ter acontecido para sentir na pele que as coisas estão bem piores do que o "quadro que nos tentam pintar" e oferecer...

As pessoas que já estão doentes, são sujeitas a um martírio de horas, desde os tempos de espera, à forma como são tratadas, como se não lhes bastasse a maleita que padecem, ainda têm de ser "castigadas" pela desordem reinante da maior parte dos serviços...

Não sei se foi por estar a observar tudo aquilo que me rodeava, com atenção, que até acabei por não ficar excessivamente impaciente...

Outra coisa que me incomodou foi ver a falta de cuidado dos funcionários para com os doentes com gripe, que estavam por ali, lado a lado com as pessoas saudáveis e com os outros doentes, que não precisavam de "comprar" mais nada no hospital... 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

quarta-feira, janeiro 15, 2020

O Talento Está Lá, Mas...


Embora não seja possível comparar os mundos do futebol e da literatura, penso que se está a colocar "pressão" antes do tempo, em dois jovens talentosos que prometem bastante. Falo de João Félix e de Afonso Reis Cabral.

Claro que o Afonso é um felizardo em relação ao João (esquecendo os milhões de euros do futebol, claro...), porque continua no nosso país, não foi vendido por uma verba obscena ao Atlético Madrid, nem tem de lidar diariamente com a imprensa espanhola, que se nunca deu paz a Cristiano Ronaldo nem a José Mourinho, que eram dos melhores do Mundo, muito mais cobrará a um jovem, que ainda está distante de ser um "fora de série".

Como a literatura é cada vez mais uma coisa de minorias, talvez nem todos saibam que o Afonso é - desde que venceu o Prémio Leya em 2014 - a nossa "coqueluche" do mundo dos livros, pelo menos para os críticos e editores. E ainda não chegou aos trinta anos...

Espero que o João Félix seja suficientemente forte para aguentar toda esta pressão, e que tenha a sorte de ter um treinador para quem o talento seja algo decisivo no futebol (algo que parece não acontecer com Simeone...), como acontece com Guardiola ou Klopp.

Da mesma forma que espero que o Afonso Reis Cabral  escreva os livros que quer escrever e não os livros que querem que ele escreva. Só assim conseguirá ser, num futuro próximo, um escritor de excepção.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, janeiro 14, 2020

A Esperteza Lado a Lado com a Bondade Humana...


Podia continuar a falar do Paulo Gonçalves, pelo seu exemplo como desportista, que parava sempre para auxiliar alguém que estivesse com problemas, e que foi realçado por todos os seus companheiros e até rivais, nas competições de todo o terreno, para falar da bondade humana, que por vezes parece estar em extinção.

Mas vou relatar um episódio, aparentemente banal, que me aconteceu ontem, depois do almoço. 

Vinha com dois amigos e um senhor de idade, bem composto, vem direito a mim e efusivamente estende-me a mão, com um boa-tarde. Retribuo o cumprimento sem a menor ideia de quem era o sujeito. Segundos depois percebi de onde é que não o conhecia, quando ele me estendeu a mão novamente, agora noutra posição, a pedir uma moeda. Comecei a sorrir com a lata do homem, ao mesmo tempo que lhe disse que não tinha qualquer moeda no bolso (tinha gasto as últimas no café...). Mas os meus dois amigos, atentos e bons samaritanos, deram-lhe cada um deles um euro.

Penso que mesmo que tivesse uma moeda no bolso, não a dava ao "pedinte", por achar toda aquela encenação (digna de ser filmada) no mínimo pouco séria, retirada de qualquer manual da "chico-espertice".

Acabámos por falar sobre aquele episódio nos metros seguintes. Um dos meus companheiros até nos sugeriu (pela boa compostura do senhor), que o homem podia nem ter qualquer necessidade de pedir, provavelmente tinha qualquer problema mental. Mas nenhum deles teve uma atitude crítica em relação aquele gesto. Nada que me causasse admiração, porque estes meus dois amigos são gente boa, daquela que começa a destoar com estes tempos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

segunda-feira, janeiro 13, 2020

A Informação há Muito Tempo que Já Não é o que Era...


Ontem era para escrever qualquer coisa sobre a forma como Paulo Gonçalves se despediu do mundo dos vivos (involuntariamente), montado na sua companheira de tantas horas, quase sempre boas. 

Sei que há quem diga que uma das formas mais dignas de partirmos, é a fazermos uma coisa da qual gostamos muito... Por não querer ir tão longe, acabei por não escrever nada...

Hoje ouvi algumas coisas que me fizeram pensar. Mas quando alguém é capaz de dizer que o Paulo já tinha idade para ter juízo, está um pouco deslocado das andanças do "todo o terreno", que costuma receber "reformados" das várias disciplinas do desporto motorizado, que tanto podem chegar dos campeonatos de ralis como dos da fórmula um.

Também não fazia ideia que a prova que nasceu como "Paris-Dakar", andasse agora pela Arábia Saudita, depois de ter sido forçada a abandonar uma África demasiado perigosa e viajar pela "Latina-América".

A informação há muito tempo que já não é o que era...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sábado, janeiro 11, 2020

Olhar para o Futuro e Ver o que "Ainda não Existe"...


Há pessoas que conseguem olhar para o futuro e ver aquilo que "ainda não existe", como se lhes fosse possível levantar uma ponta de "qualquer coisa", e ver o amanhã, e o depois de amanhã...

João Bénard da Costa foi uma dessas pessoas. Em "A Casa Encantada" (a sua crónica  semanal do "Público") de 3 de Outubro de 2003, conseguiu antever a geração "Trump", com uma referência ao cinema, que tanto amou, que transcrevemos:

«Lembro-me de um filme de 1994 - "Forrest Gump" chamava-se - em que o herói (Tom Hanks) era uma espécie de atrasado mental, que só tinha uma pálida ideia dos problemas e conflitos americanos ou mundiais. O filme retratava-o como um típico produto do que se chamou a "Baby Boomer Generation", a que foi dominante entre a ascenção de Elvis e a queda de Nixon. Mas aquilo que no livro (de Winston Groom) serviu de base ao filme - uma sátira, mais ou menos verrinosa, contra essa geração - transformou-se, no filme de Zemeckis, numa apologia do "pobre de espírito", que triunfava, porque milhões de americanos se achavam iguais a ele e queriam que a América e o Mundo fossem de homens como ele.
Quando vi o filme. tive um primeiro prenúncio que aquele personagem não representava um tempo passado, mas um tempo futuro. O êxito desse elogio à estupidez deixou-me perplexo. Mais ano menos ano, não iria a nova minoria reclamar direitos e a comemoração do Dia do Estúpido?
Estúpido fui eu, porque infelizmente, essa minoria é maioria, na América ou em qualquer país.»

(Fotografia de Luís Eme - Tejo - a Lua hoje...)

sexta-feira, janeiro 10, 2020

Andava por aí, de um lado para o outro, quando pensei que viajar é outra coisa...


Viajar não é a mesma coisa que andar por aí, nunca foi. Mas nem sempre damos por isso. São as chamadas distracções do quotidiano...

Viajar é partir, procurar outras paragens. Puder olhar, cheirar, tocar e sorrir a outras coisas, mesmo que essas  coisas sejam pessoas.

Mas partir mesmo, até porque nunca foi tão fácil e barato andar por aí à volta do mundo.

Sei que nem tudo é agradável, os aeroportos parecem centros comerciais ao fim de semana, para pior. Os aviões parecem comboios, daqueles que nunca chegam a horas a sítio nenhum. Mesmo assim, as pessoas fazem filas para embarcar, ainda que seja num "avião-autocarro" (e as viagens de pé, estão quase...), porque fica mais em conta.

O barco podia ser uma boa alternativa, se estes também não tivessem sido transformados em "cidades", que transportam e dão abrigo a reformados endinheirados,  que navegam para Norte e para Sul, por esse mundo fora.

Até me lembrei se a mochila com que fiz o "inter-rail" em 1985, ainda existia. Talvez, lá para os cantos do sotão da casa dos pais... Antes já pensara que não é possível viajar como nesse tempo (passaram quase 35 anos... o tempo não perdoa). A liberdade entretanto também é outra coisa...

Transformámos quase tudo (nem sempre para melhor), é por isso que viajar também é outra coisa (cada vez mais material e menos espiritual)...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

quinta-feira, janeiro 09, 2020

A Exploração (Abusiva) das Emoções...


Sei que o jogo das emoções faz parte dos muitos teatros de vida que nos cercam, mas também sei que a televisão não precisava de "abusar", explorando cada vez mais as nossas fragilidades. 

As notícias são o que são, e já não descuram a componente do espectáculo... Mas pior são os programas diários, de entretenimento, onde até se "oferecem uns trocados", a quem não tiver qualquer pudor em exibir publicamente as suas fragilidades humanas. E se conseguirem chorar sem cebola, ainda é melhor, para as audiências...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, janeiro 08, 2020

Nem o Pão Escapou...


Normalmente os preços vão aumentando, de uma forma ligeira, ao longo do ano, para que a malta não se chateei nem ligue muito.

Foi por isso que estranhei que um dos pães que eu costumo comprar, tenha passado de 1,50 para 1,70 € (e ainda fiquei com a sensação que estava mais curto de tamanho...). Ainda lhes disse que podiam ter sido mais meigos, não era necessário ultrapassarem os dois dígitos em termos percentuais no aumento. Ficaram a olhar para mim com cara de parvos e com um sorrizito amarelado.

Embora goste bastante do pão, estou a pensar seriamente em deixar de ser cliente.

Também estranhei o aumento do jornal desportivo ("A Bola") que comprei na segunda-feira (mais dez cêntimos). Numa altura em que estão a perder leitores, não será com aumentos que lá vão... Perguntei se o "Record" também tinha aumentado. Disseram-me que sim. 

É curioso, como a "rivalidade" se esbate, no que toca à "concertação dos preços"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, janeiro 07, 2020

O Mau Aproveitamento das Coisas Boas...


A utilização do video-árbitro no futebol tem sido bastante mais polémica do que se poderia pensar, quando este foi criado. Embora reconheça que tem de ser aperfeiçoado (as paragens de jogo são muito longas...), continuo a pensar que foi uma boa inovação e um bom auxiliar para o futebol e para a verdade desportiva, pois fez com que se acabassem com os chamados "roubos de igreja" (expressão que penso ter sido transportada para o futebol pelo grande José Maria Pedroto...), também conhecidos como "erros grosseiros", como eram as grande penalidades e os foras de jogo, que toda a gente conseguia ver (menos alguns árbitros, mais habilidosos que incompetentes), sem ter necessidade de se socorrer das "mil e uma repetições" televisivas ...

Apesar das mudanças, os erros de arbitragem (mesmo os que não são erros...) têm hoje nas nossas televisões  uma maior "caixa de ressonância" , ao ponto de estas terem criado um outro campeonato, povoado de "comentadores-adeptos", em que ganha quem fala mais alto, quem interrompe mais vezes o outro e quem consegue dizer as coisas mais bizarras, sobre o que quer que seja.

Este é apenas mais bom um exemplo da nossa dificuldade em aceitar algumas coisa boas e de lhes dar o melhor aproveitamento.

Se as coisas não se alterarem, penso que o futebol perderá (como tem vindo a perder nos últimos anos...) muita da sua autenticidade e da sua imprevisibilidade, afastando cada vez mais as pessoas dos estádios (agravando o que já acontece hoje, em que a maior parte dos estádios com lotação para milhares de pessoas, têm assistências de apenas algumas centenas de pessoas...).

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)

domingo, janeiro 05, 2020

Uma Casa da Cerca Diferente...


Não me apetece qualificar o trabalho que se está a fazer na Casa da Cerca, que nasceu como Museu de Arte Contemporânea, com uma apetência especial para o desenho.

Apenas posso dizer que estou a gostar da diversidade, das várias misturas artísticas e também da ocupação dos espaços exteriores, naquele que é um dos lugares mais agradáveis de Almada, pela Arte, pelos Jardins, e sobretudo, pela vista soberba sobre o Tejo e sobre Lisboa...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

sábado, janeiro 04, 2020

A "Ignorância Atrevida" Fez-me Pensar (e ainda bem)...


O que aconteceu em Leça de Palmeira, a um monumento do Cabrita (o artista deixou cair o Reis em 2020...), encomendado pelo Município de Matosinhos, fez-me pensar nos vários monumentos de ferro ferrugento que estão espalhados por Almada, da autoria do escultor José Aurélio (devia ter um contrato de exclusividade com a Câmara na vigência de Maria Emília de Sousa...).

Apesar do exagero do mesmo estilo escultórico (devem existir  quase um dezena de obras feitas com o mesmo material e pelo mesmo escultor...), nunca existiram manifestações públicas contra as respectivas obras, ou actos de vandalismo como o que sucedeu em Leça...


Acho que isso acontece porque Almada gosta de se afirmar através da Cultura e finge ter um olhar mais abrangente do mundo das artes, que o dos habitantes do concelho de Matosinhos.

Neste caso em particular, gostei da "ignorância atrevida", de quem se resolveu manifestar, não tanto contra a obra (umas vigas metálicas soldadas e pintadas de branco...), mas sim contra o valor pago ao artista. 

Provavelmente pensaram que esse dinheiro podia ser investido em algo que fosse mais benéfico para a população local...

(Fotografia retirada do Site do Município de Matosinhos e de Luís Eme) 

sexta-feira, janeiro 03, 2020

O "Milagre" (quase diário) das Compras...


Faz-me confusão a nossa prática, quase diária, da corrida às compras.

Fico com a sensação de que não podemos ver um autocolante preso a uma montra, a dizer "saldos" ou "promoções".

Nem parece que recebemos tão pouco dinheiro ao fim do mês (sim conseguimos viver há mais de uma década praticamente sem aumentos de ordenados, ao mesmo tempo que tudo vai aumentando à nossa volta, desde os alimentos de primeira necessidade, às rendas de casa ou à gasolina e gasóleo (um dos "manás" dos governos do nosso país... provavelmente ainda melhor que o turismo...).

(Fotografia de Luís Eme - Alcochete)

quinta-feira, janeiro 02, 2020

Lisboa, Capital Verde Europeia


Uma das boas notícias deste começo de ano é a escolha de Lisboa como a "Capital Verde Europeia 2020".

Esperemos que se aproveite da melhor maneira esta distinção, que se consiga tornar a Cidade mais verde, mas de uma forma duradoura, que não seja mais uma daquelas coisas, apenas para "inglês (francês, espanhol, italiano ou japonês...) ver" durante todo o ano.

É bom que o Município olhe mais para os lisboetas e que se dêem passos consistentes na melhoria da vida de todos nós. Especialmente de todos os que têm sido "corridos" para as pontas desta Lisboa, como se estivessem dentro de um "fado triste".

Agradecemos tudo o que se tem feito, especialmente a  devolução de uma boa parte da margem do Tejo, mas queremos mais. 

Mais sombras, mais jardins e menos carros.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, janeiro 01, 2020

Sobriedade...


Apetecia-me há já algum tempo mudar o "rosto" do Largo da Memória.

Mas tinha algum receio de "mudar para pior", mesmo que no momento da mudança me senti-se satisfeito (às vezes acontece...).

Deve ter sido por isso que optei por lhe dar um ar sóbrio. 

Talvez possa parecer mais triste, quase "viúvo", mas eu sempre gostei do preto e branco (no cinema, na fotografia e nas roupas...), mesmo que nunca as tenha resumido à minha vida (é bom ter também as outras cores dentro na nossa vida)...

Sei que nos primeiros tempos poderá parecer que o Largo perdeu um pouco a sua identidade. 

Mas espero que seja mesmo só coisa dos primeiros tempos, até porque a cor agora escolhida ilustra mais a memória...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)