sexta-feira, setembro 30, 2016

Os Livros não Querem Ficar para Trás...

Ontem falei aqui da importância do cinema nas nossas vidas, e nem de propósito, recebi logo uma lição durante a leitura da "Tenda dos Milagres"...

Jorge Amado ao caracterizar a personagem principal colou um espelho à minha frente, de repente senti-me Baiano: «Archanjo era solicito e gentil, jamais humilde, reverente ou adulador - assim é o povo da Baía. O homem mais pobre da cidade é igual ao mais poderoso magnata, em seu orgulho de homem; e é com certeza, mais civilizado.»

Graças ao meu pai, desde cedo aprendi que não sou mais nem menos que ninguém, quanto muito serei diferente... E nunca gostei de adular e ainda menos de ser bajulado. Quando ao ser solicito e gentil, essa parte herdei da minha mãe...

(Óleo de Steven Christopher Seward)

quinta-feira, setembro 29, 2016

O Cinema Continua a Ser um dos Nossos Melhores Espelhos


Sempre gostei muito de cinema.  Já o devo ter dito aqui, mais que uma vez.

Ainda me recordo dos primeiros filmes animados que vi no "Cine Pinheiro Chagas", dobrados em português do Brasil (foi por isso e por existir o Zé Carioca que durante a infância pensava que o Walt Disney era brasileiro).

Continuo a pensar que o cinema me ajudou mais a crescer que os livros. Até por ter deixado quase de ler na parte final da adolescência e começo da idade adulta.

Os nossos primeiros contactos com o bem e o mal -  pelo menos de uma forma explicita - aconteceu  com os filmes. Experimentámos pela primeira vez o sentimento de injustiça e de abuso de autoridade com os westerns ou policiais, que nos fizeram querer vestir a pele de "índio" ou "ladrão", e não de "branco" ou "polícia".

Com o amor e com o sexo aconteceu a mesma coisa. Até por ser uma coisa que não era normal falar-se em casa...

Mas além de também funcionar como "escola", continuo a pensar que cinema é um dos nossos melhores espelhos, com mais ou menos exageros...

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, setembro 28, 2016

Voltar a Ler Jorge Amado...


A Biblioteca da Incrível Almadense (onde colaboro como "bibliotecário"...) de vez em quanto recebe livros que faziam parte do espólio de antigos associados, que quando partem, deixam os familiares sem saber o que fazer com estas "heranças" (por falta de espaço e também por falta de interesse...). 

Muitos lembram-se da Incrível e vão saber se a Colectividade Almadense recebe livros. Por uma questão cultural, nunca se diz que não. E quando passo por lá dizem-me que há uns sacos com livros a precisarem de ser arrumados na biblioteca...

Como gosto de livros, é sempre um prazer manuseá-los e arranjar espaço para eles nas estantes, onde se sintam mais apresentáveis...

Claro que nem todos os livros estão em boas condições. No último lote que recebemos, um exemplar da "Tenda dos Milagres" de Jorge Amado estava completamente descolado, com quase todas as suas folhas soltas. Parecia irrecuperável mas pensei logo em armar-me em "encadernador" e dar-lhe uma segunda vida. Trouxe-o para casa, e depois de o "salvar" , folhei-o, para ver se estava preparado para novas leituras. Apesar de ter umas letras minúsculas, piscou-me o olho com alguma lata e já vou na página oitenta e dois.

Há alguns anos que não lia Jorge Amado, embora ele continue a ser o autor brasileiro que mais li e um dos meus preferidos do "país irmão".

E posso dizer que tem sido uma maravilha este regresso ao realismo mágico baiano, com o Jorge a dar vida a Pedro Archanjo, que  tentou aproveitar o bom da vida, sem ter de se desviar do seu caminho. Está ali o povo brasileiro, capaz de sorrir e de desafiar todas  as amarguras do dia a dia, por acreditar que tem sempre uma "tenda dos milagres" à sua espera...

terça-feira, setembro 27, 2016

«Passávamos o tempo na rua a jogar à bola.»

Hoje quando fui levar a minha filha à escola ela perguntou-me se tinha jogado futebol quando era pequeno.

Disse-lhe a sorrir que joguei quando era pequeno e quando era grande.

E depois voltei à minha infância e disse-lhe que no bairro onde cresci «passávamos o tempo na rua a jogar à bola.» Recordei os baldios que transformávamos em campos de futebol, como o campo de "terra preta" que nos pintava as pernas e que irritavam a avó, que ameaçava proibirmo-nos de ir brincar para a rua detrás...

Já de regresso pensei que em nome da "segurança" e da "especulação imobiliária" foram-nos roubando a rua e hoje é raro vermos crianças a brincar fora de casa (excepção para os espaços criados para esse efeito...).

(Fotografia de autor desconhecido)

domingo, setembro 25, 2016

Quando Quem vê Caras Pensa que vê Corações...

Embora nem seja coisa que me deixe incomodado, reparo que um dos pedintes habituais das paragens do metro de Almada é selectivo. Só pede esmola a mulheres e dá preferência às que têm idade para serem suas mães, embora na falta de "mamãs", também peça uma moedinha a alguém com cara de "irmã caridosa".

Olho-o, discretamente, na sua tentativa de arranjar uns cobres para o vicio que quase já lhe roeu a carne toda. 

Embora seja insistente junto das mulheres que percebe ficarem na dúvida (dou, não dou, ajudo não ajudo...), nunca é mal educado.

E eu continuo à espera que ele um dia me peça uma moeda...

(Fotografia de Elliot Erwitt)

sábado, setembro 24, 2016

Quando se "Inventa" para Ficar na História...


A história de Almada saltou para cima da mesa do café (tal como tem acontecido tantas vezes...) e na defesa dos meus pontos de vista e da história local, acabei por de alguma forma chamar mentiroso a um dos meus companheiros de "tertúlia". Sei que era mais simples ter dito que a verdade não era bem assim, mas em algumas coisas sou demasiado intransigente.

A minha experiência - primeiro como jornalista e depois como historiador - de quase três décadas, faz com que apanhe um "mentiroso" com relativa facilidade. Basta fazer duas ou três perguntas sobre o mesmo tema, para encontrar contradições. Ou estão estar a par dos factos (o que aconteceu...).

É por isso que sempre que quero saber coisas do passado, recorro normalmente a duas ou três fontes, que são de uma honestidade rara. 

Claro que quem "mete os pés pelas mãos" nem sempre o faz por mal. A passagem do tempo faz com que muitas pessoas não tenham a noção de que já se passaram décadas e décadas sobre determinado acontecimento, é isso faz com que se enganem com relativa facilidade na data, e por vezes até do local. Mas pior são  mesmo as pessoas que gostam de se meter dentro da história. Fala-se sobre determinado acontecimento e a primeira coisa que dizem é, «eu estive lá», quando lhes era impossível estarem presentes fisicamente, por serem demasiado pequenos,  por residirem noutra cidade ou até por ainda não serem nascidos...

Eu sei que por vezes é difícil resistir à tentação, de ficarmos na história, mesmo que esta nos tenha passado ao lado. Espero ter sempre a lucidez suficiente para ser um autor e uma fonte credível...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, setembro 23, 2016

É Sexta-Feira...

Sexta-feira sempre foi um dia desejado, porque teve a sorte de ficar à porta do fim de semana.

Embora não tenha um patrão definido, nem trabalhe das nove às cinco, há sextas que me apetecem mais que outras. Esta é uma delas.

Não que tenha previsto alguma coisa especial para amanhã ou para domingo. Mas sim porque me sinto cansado. Começou a escola e como sou o "despertador" cá de casa, isso significa levantar mais cedo e estar na rua ainda antes de "a vida começar"...

Há pelo menos uma vantagem  em todas estas mudanças, a manhã começa mais cedo e como é mais produtiva (sempre aproveitei mais as manhãs que as tardes...), ficamos todos a ganhar.

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, setembro 22, 2016

Segredos que não são Segredos...

Todos nós sabemos coisas sobre os outros que se ficam pelas conversas entre amigos, nem sequer são para espalhar aos sete ventos, muito menos para serem soprados para jornais ou revistas. Pertencem a uma palavra que nos estão a querer roubar, de mil e uma maneira: a privacidade.

O problema é que a palavra privacidade não rima apenas com outra palavra, que ainda nos devia ser mais querida, a liberdade. Ambas têm um trajecto de vida em comum muito rico, mesmo que nem sempre se pense ou fale no assunto.

Poderia dar muitos exemplos, desde essa coisa ridícula que agora anda na moda, chamada "burquini", mas que não pode, nem deve ser proibida, muito menos no país da "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", aos telemóveis e à internet, que começam a saber quase mais do que nós, ao ponto de conseguirem transmitir a terceiros não só a nossa localização, mas também a nossa ocupação...

Todas estas mudanças na sociedade só deveriam valorizar a tal palavra, privacidade, que cada vez tem menos espaço na nossa vida (pelas "invasões" a que nos deixamos submeter diariamente...). É por isso que não consigo entender que alguém que foi director de jornais possa escrever um livro em que o tema principal é a vida privada dos outros, neste caso particular, políticos. Quando se dirige um jornal vive-se num clima de "guerra diária", entre o que se pode ou não publicar. Questionam-se muitas coisas; se a notícia "tem pernas para andar", se as fontes são credíveis, se foi feito o "contraditório" (algo que parece já não se usar...), etc.

É por isso que só entendo que alguém publique um livro do género por duas razões: para ganhar dinheiro (sim, o livro vai vender muito, as pessoas que normalmente dizem que não o vão ler, são as primeiras a irem às livrarias e a levarem-no para casa, à procura das páginas mais escabrosas...) e para ser notícia de jornal. Como não acredite que o senhor esteja "falido", só pode mesmo querer ver a fotografia nos jornais e revistas e ser falado e comentado  por milhões (mesmo que seja da pior maneira...) nas redes sociais.

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, setembro 21, 2016

Fugir do Nome das Coisas...


É um lugar comum dizer que a Língua Portuguesa é extremamente rica. Riqueza que os ingleses, franceses, alemães ou espanhóis, também encontram, com toda a certeza, no seu "mundo de palavras". 

O que é certo é que descobrimos sempre formas e usos para evitar os chamados "choques frontais", quanto muito damos o flanco e lá surge uma vez por outra um "choque lateral"...

É por isso que se faz tanto o uso da ironia e das metáforas, até mesmo nas notícias dos jornais, que deviam ser objectivas e "servidas a seco", de preferência.

Toda esta introdução para falar da literatura, aliás, dos seus autores, ou para ser ainda mais específico, dos "críticos". De um mundo onde fiquei a saber que existem pelo menos três divisões: os escritores, os escritorzinhos e os escritorzecos. O mais curioso foi perceber que se podem colocar praticamente todas as pessoas que escrevem apenas nestas "três assoalhadas".

Quando pedi que fossem mais longe, até por ser parte interessada (mesmo que escrevesse apenas nos "campeonatos distritais"...), foi um pagode. Até porque a escolha era guiada sobretudo pela opinião pessoal que aquela mesa de "críticos" tinha de quem escrevia, a valia da sua obra era um assunto de importância menor. Ou seja, os "escritorzecos" acabaram por ter a lista literária mais extensa, cabendo aqui e ali até um ou outro candidato ao Nobel. Os "críticos" até se acotovelavam para colocar lá mais um escritor, mesmo que fosse apenas pela maneira de vestir e de andar, entre gargalhadas e palavras jocosas.

Ou seja, devo ficar sempre de pé atrás se me chamaram "escritorzinho". Mas pior, pior, é ser considerado um "escritorzeco"...

As coisas que se inventam para fugir do nome das coisas...

(Óleo de Georg Grosz)

terça-feira, setembro 20, 2016

De Vez Enquanto lá Aparece o País Velho...

Foi impossível passar ao lado da alegria do homem que contava a toda a gente que tinha assistido ao jogo do Benfica ao lado de um dos médicos que o tratara no hospital. A felicidade que ele sentia por ter descoberto que o doutor também chamava nomes feios ao árbitro e aos jogadores adversários...

Pensava que já não existiam pessoas assim. Pensava...

De vez enquanto lá aparece o "país velho", do povo e dos doutores e engenheiros...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, setembro 19, 2016

Olhar para o Futuro e Ver Nada...

Eu sei que o Chico tem razão, o futuro não existe. Mesmo que esteja a apenas um segundo de distância das minhas palavras.

É por isso que também sei que o futuro pode ser uma coisa melhor ou pior, dependendo do nosso presente...

E olhar para as portugueses e para Portugal não ajuda nada. Olho e  perco a vontade de ditar soluções para isto ou para aquilo, entre passado, presente ou futuro. E começo a falar um pouco mais baixo.

Não sei até que ponto me deixo influenciar pelo facto de ter em casa um filhote de dezoito anos, sem saber muito bem o que quer do futuro. E o pior é que tenho a sensação de que o futuro ainda quer menos com ele...

Se ficar, pode acabar o curso e depois candidatar-se à condução de um "tuk-tuk" a um emprego na restauração ou na hotelaria. Mesmo que perceba que não se pode encher a cidade destas "motoretas", nem fazer de cada número de polícia um café, um restaurante, um hostel ou uma loja de "recuerdos". Porque isso parece-me não ser solução para coisa nenhuma.

Mas talvez este país esteja a caminhar para não ser " coisa nenhuma" e também para não ser "para ninguém". 

É possível que alguns empresários acreditem que a (sua...) "galinha dos ovos de ouro" é ficarmos por cá a fazer apenas parte da felicidade dos outros, esses todos que chegam do mundo inteiro com dinheiro para comprar quase tudo, até a nossa dignidade (se deixarmos...). 

Estes "empreendedores" têm os olhos cheios de cifrões e pensam que os portugueses como são simpáticos e gostam de ajudar os outros, que vêm de fora, são o povo "eleito" para  os servir (perto do que se entendia noutras épocas por "escravos" , embora devam continuar a ter a a mania que são cidadãos livres...).

(Fotografia de Alfredo Cunha)

domingo, setembro 18, 2016

Passear e Fotografar Lisboa

Hoje andei a passear por Lisboa na parte de manhã.

E embora tenha passado por ruas que me são familiares, descobri vários motivos de interesse como a casa do "Manel Barbeiro" (na zona da Bica), com um horário muito peculiar, muito virado para os clientes da "vida artística"...

E não levem a loura a sério, porque é uma "Marylin" a brincar...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, setembro 17, 2016

O Meu Olhar Sobre as "Minorias"...


Hoje quando ia para o café comecei a pensar (e a tentar desvendar...) como seria a minha vida, se pertencesse aos chamados grupos "minoritários", mesmo que muitas vezes até possam estar em posição de superioridade numérica - como acontece com as mulheres -, mas nunca em termos representativos ou de poder. 

Percebi que se fosse homossexual (assumido) era olhado de lado na minha rua, no meu bairro e na minha cidade; só teria a vida facilitada se entrasse no chamado mercado do trabalho alternativo; não tinha os mesmos amigos, teria outros (menos...), diferentes. Ou seja, era mais facilmente "notícia" por uma questão que só a mim devia dizer respeito.

Entendi que se fosse "preto" era olhado por muita gente quase como se fosse um "fenómeno do entroncamento"; senti que sempre que existisse qualquer roubo e estivesse nas proximidades, era logo apontado pelo olhar dos outros como "culpado";  se tivesse o bom gosto de namorar uma branca gira, olhavam-nos como se estivesse qualquer coisa fora do sitio; e à partida não tinha todas as portas abertas no campo profissional. Infelizmente ainda há profissões que não são para "pretos"...

Deixei para o fim a questão mais complexa, ser mulher. O meu primeiro pensamento foi de que tinha a vida mais facilitada, era seduzida e bajulada naturalmente pelos homens, podeno "jogar" com isso, ao mesmo tempo que teria mais portas abertas em quase todas as áreas da nossa sociedade (esquecido do que estava por trás de todo este falso cavalheirismo...) . Provavelmente também tinha mais gente amiga. Mas depois lembrei-me que há poucas mulheres em lugares importantes no nosso país, as que exercem esses cargos são a excepção que confirma a regra. Que as mulheres que fazem o mesmo que os homens, recebem menos dinheiro. E nem entrei dentro das casas, nem quis pensar mais no assunto...

Pois é, o grupo "minoritário" que parecia ter a tarefa mais fácil, é, provavelmente,  o mais complicado de todos...

(Óleo de Augusta Herbin)

sexta-feira, setembro 16, 2016

«Aprendemos sempre, mesmo sem darmos por isso.»


O que livro nos faz, mesmo um simples livro de crónicas, com um conteúdo duvidoso para muitos leitores. Falo de "A Liberdade do Drible", as crónicas de futebol de Dinis Machado.

Voltei a sentar-me na quase "sala de estar" do primeiro andar na rua Anchieta, onde ficávamos a conversar sobre tudo e mais alguma. Não me lembro muito do que lhe dizia, passados vinte cinco anos tenho a sensação que me limitava a ouvir. Mas não, devia dizer vários disparates compensados com a sabedoria de um escritor "todo o terreno", filho do Bairro Alto, que me ensinou tantas coisas, sem nunca se ter armado em professor. O cinema, o jornalismo, o futebol, e claro, os livros, eram o sal das nossas conversas, que por vezes também penetravam na nossa intimidade.

Há pessoas assim, que nos ensinam coisas com a maior das simplicidades, quase a pedirem-nos desculpa por saberem tantas coisas... 

Pelo caminho ainda me cruzei com a minha mãe, quando a ouvi dizer, com o seu sorriso suave: «aprendemos sempre, mesmo sem darmos por isso». 

Eu sei que ela tem razão...

(Fotografia de André Kertész)

quarta-feira, setembro 14, 2016

O Café as Frases Bonitas e a Vidinha...


Ontem, depois do almoço, bebi café em Almada num espaço agradável, remodelado há pouco tempo.

As paredes estão decoradas com retratos pintados a preto e branco de actores e actrizes da sétima arte. Mas o mais curioso foi terem colocado atrás do balcão um quadro gigante, preto, cheio de frases, aparentemente sábias, escritas a giz, da autoria de gente famosa, com destaque para o nosso Fernando, que também quis ser Alberto, Álvaro, Bernardo e Ricardo.

Quando comecei a ler o nome dos autores, conhecedor das histórias de vida de quase todos eles, questionei-me pela primeira vez sobre o valor real daquelas palavras. 

É sempre mais fácil atirar "bitaites" que viver... isso talvez explique as razões de quase todos aqueles "pensadores" terem sido pessoas infelizes, acabando geralmente mal...

(Fotografia de Alexander Khokhlov)

terça-feira, setembro 13, 2016

Eu, Ela e o Amor


Estava a escrever sobre a cor as formas, quando de repente comecei a inventar poesia, quase estranha. 

Eu estava ali, a escrever e a vê-la, como se estivesse no cinema...


Ela fumava de uma forma galopante,
enquanto dizia:
Não sabia que o amor quando chegava, de rompante,
também era capaz de fugir,
quase sem ter tempo para se despedir.

Apalpava um dos seios, como se lhe doesse, ali.
Depois confessava:
Sabes o que é que penso desta dor?
É uma treta.
Acredito mesmo que seja mais do fugir, sem se deixar ver,
que do amor…

Enquanto arrumava a mala 
quase que filosofava:
O amor pode estar já ali à esquina.
É também por isso que não vou passar por lá.
E também não trouxe moedas para dar ao homem da concertina.


Sei que não faz muito sentido, apesar de rimar... saiu assim...

(Fotografia de Maciek Lesniak)

segunda-feira, setembro 12, 2016

A Liberdade não Tem Muros nem Gaiolas...

Há duas coisas que sempre me irritaram e que espero nunca ter ou fazer.

Falo de muros e de gaiolas.

Desce criança que sempre que incomodaram os muros altos (muitos ainda estavam revestidos na parte superior com pedaços de vidro...), que é algo que pouco resolve, já que normalmente desperta ainda mais a curiosidade de quem passa, pois fica-se sempre com a sensação de que alguém está a esconder alguma coisa...

Das gaiolas nem é bom falar... nunca gostei de ver pássaros presos (no Velho Continente é o mais usual, se esquecermos os jardins zoológicos...), sempre me apeteceu abrir-lhe a pequenina portada e convidá-los a voar, porque é para isso que têm asas.

Sei que o muro francês e inglês projectado para Calais não irá resolver nenhum problema humano, quando muito aguçará o engenho de quem não tem quase nada a perder, arriscando ainda mais a vida, fazendo do atlântico um "cemitério de gente", tal como acontece nos nossos dias no Mediterrâneo.

Como já perceberam os cravos da fotografia são só para disfarçar. Não é por usarmos um cravo na lapela que nos tornamos mais livres ou democratas...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, setembro 11, 2016

Caminhos Sem Volta...

Dos muitos caminhos que escolhemos e percorremos, há alguns que queremos que não tenham volta. 

Digo isto sem qualquer  carga dramática, porque isso pode acontecer apenas por nossa opção e escolha.

E devo desde já acrescentar que não estou a falar do plano sentimental, mas sim do profissional (embora existam mais parecenças entre ambos do que parece...).

Claro que não são muitas as pessoas que têm a coragem de mudar, deixando para trás uma carreira estável, contrariando a opinião de quase todos, apenas porque acreditam que o sonho também comanda a vida, e que mais importante que o dinheiro é sentirem-se realizados e felizes.

O maior obstáculo a este passo, costumam ser os familiares mais próximos.

Também por isso é que um acto de grande coragem...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, setembro 10, 2016

O Simbolismo de Uma Imagem...


Não sei se este "boneco" que fotografei no Ginjal,  foi desenhado como "metáfora" de alguma coisa.

Mas podia muito bem  ser, pois permanece de costas voltadas para o rio, a posição preferida dos políticos do meu Concelho, desde que por aqui vivo (de vez em quando descubro que estou quase há trinta anos a viver e a pagar impostos em Almada...). A única coisa que destoa é o facto de o "rei não ser careca nem andar nu".

Felizmente a maior parte dos visitantes que desembarcam nesta Margem, são incapazes de resistir à beleza do Tejo e não o perdem de vista, caminhando ao longo do quase gigante Cais do Ginjal. Provavelmente até acham engraçado o facto de o caminho estar povoado de  "ruínas" e de placas de filmes de terror (a brincar...), qualquer delea bastante fotogénica...

Talvez seja tempo de organizar uma visita guiada só para políticos (com um atraso do caraças, eu sei...), aliciando-os com a possibilidade de encontrarem nas imediações do Ginjal o Tritão do Romeu ou algum golfinho, com saudades do "rio da minha aldeia"...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, setembro 09, 2016

A Amizade é a Melhor Forma de Amor que Existe

As pessoas em vez de invejarem os outros, podiam pelo menos tentar imitá-los, fazerem um esforço para se tornarem melhores pessoas. Claro que não estou a instigar ninguém a passar a ir à missa aos domingos ou a visitar qualquer templo moderno (daqueles que até têm música e dança). 

Estou convencido que bastava fazer um exercício diário ao espelho, exactamente contrário ao que a bruxa da história da bela adormecida fazia. Sei que se olhássemos mais para dentro de nós próprios, aceitávamos melhor os outros.

Tudo isto porque houve alguém que me questionou, porque razão perdia tanto tempo com os "velhos". Não fui capaz de responder com a brutalidade que a pessoa merecia. Apenas disse que a amizade não tinha idade. E não tem mesmo.

Só mais tarde, depois de mais duas ou três conversas circunstanciais - das que revelam quase tudo, se estivermos com atenção -  é que percebi que a pessoa em questão era demasiado solitária e também devia querer sentir a amizade assim, chegar à sexta-feira e sorrir quando pensa no almoço de segunda... nas coisas boas e nos disparates que se dizem, uns aos outros, entre uma e outra garfada do bacalhau com grão, com sorrisos, palavras quase gritadas, e claro, amor. 

Sim, amor. A verdadeira amizade é a melhor forma de amor que existe...

(Fotografia de Richard Avedon)

quinta-feira, setembro 08, 2016

O Calor, os Sonhos e as Palavras...

Penso que nem mesmo as pessoas com "costela" marroquina, como a Margarida, deviam estar satisfeitas com estes abusos do tempo, com dias e dias com temperaturas acima dos quarenta graus, o que fazia que quem tivesse de andar na rua, enfrentasse a dureza habitual do "norte de áfrica" (até mesmo os alentejanos sentiram mais dificuldades a dormir a sesta à sombra da azinheira)...

Foi um alívio sentir que era verdade, as temperaturas tinham descido mesmo ontem, e para valores mais normais para esta época.

A Rita telefonou-me a queixar-se da minha ausência, e de nem sequer lhe telefonar. Não serviu de nada eu dizer que praticamente só uso o telefone (móvel ou fixo) para falar de coisas menos pessoais, para confirmar ou marcar coisas, para dar ou receber informações (embora o e-mail seja um bom substituto) de trabalho.


Ela tem toda a razão. O calor não é justificação suficiente para eu andar fugido de Lisboa.

E hoje acordei com um sonho estranho, algo que até costuma ser normal. Foi mesmo sonho, não teve nada de pesadelo. Mas teve aquela parte surrealista em que conhecemos as personagens mas não sabemos o que estamos a fazer em lugares quase lunares, com diálogos sem ponta para pegar. Já não dou muita importância a isso, porque outras vezes acontece o contrário, conhecemos os sítios, mas as pessoas vieram de terras que ficam por trás de um outeiro qualquer, longínquo. 

Foi esta dualidade que me fez querer colocar aqui duas fotos tiradas no Ginjal no domingo, em que há duas barcas, duas cadeiras e dois jovens veraneantes que me deixaram cheio de inveja, com os seus mergulhos rente à Praia das Lavadeiras...

(Fotografias de Luís Eme)

quarta-feira, setembro 07, 2016

O Vazio do Dia Seguinte...

Não sei se fica bem chamar-lhe o "vazio do dia seguinte"... algumas horas depois de apresentares um livro ou inaugurares uma exposição.

Funciona quase como uma entrega aos outros. A partir desse momento deixa de ser uma coisa apenas nossa...

Embora, depois ao terceiro dia,  volte tudo a ser quase normal. Mas com os livros ainda é mais estranho. Embora eu não seja daqueles escritores que dizem em entrevistas que nunca mais abriram ou leram um simples linha de um dos seus livros...

Leio todos os livros que escrevo, depois de serem editados e apresentados. Descubro uma gralha aqui e ali, mas nunca fiquei desiludido. Nem mesmo com o meu primeiro livro, imaginem só, um  romance (e único, por alguma razão continua "filho único"...).

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, setembro 06, 2016

A Encenação Faz Parte do Mundo da Arte


Quando me perguntaram onde começava e acabava a "encenação" das fotografias expostas na Oficina de Cultura, comecei por sorrir, para depois dizer: «talvez comece na nossa cabeça, ainda antes de pegarmos na máquina...»

Seguiu-se uma conversa quase sobre a história de várias fotografias (minhas e do Aníbal e Modesto), das quais não tenho muitas dúvidas que as que tirei são as mais espontâneas e por isso talvez as menos encenadas.

Mas isso aconteceu apenas porque sou o mais "amador" e também o elemento da exposição, "Três Fotógrafos, Três Olhares", com menos conhecimentos técnicos (e por isso mesmo também o que explora menos a luz o tempo e o espaço...).

Quanto maior é o nosso conhecimento, mais sabemos o que queremos. Ou seja, é natural que quando vamos para a rua com uma máquina, saibamos aquilo que queremos fazer, mesmo que nem sempre seja possível a aproximação e adoremos ser surpreendidos...

E acrescentei que a "encenação" faz parte de todas as artes, com benefício para todos. Tudo aquilo que nos parece espontâneo normalmente dá muito trabalho...

(Fotografia de Aníbal Sequeira)

segunda-feira, setembro 05, 2016

Literatura cá da Casa à Solta (um)


«Para mim as mulheres não são assim e os homens assado. Deixo essas classificações para os cientistas do comportamento, as directoras de revistas femininas, e claro, o Antunes e o Cardoso, dois grandes cornudos, amansados pela mesma beleza feminina que me faz querer escrever poesia nos seus belos corpos».

(Fotografia de autor desconhecido)

domingo, setembro 04, 2016

Tornar Certa a Incerteza...


Recebi este livro hoje, de presente.

Ao olhar para o título escolhido por Pierre Hourcade, senti que tenho mesmo de tornar certa esta incerteza, tenho de trazer o Fernando, nem que seja apenas por um fim de tarde e começo de noite, a Cacilhas...

(Sabes, só por isso valeu a pena...)

E posso acrescentar que o pequeno conto já tem pelo menos duas vidas e uma frase escolhida do Fernando, para o começo da primeira página:

«Quando às vezes me debruço sobre o mundo, vejo ao longe, indo do porto ou voltando a ele, as velas dos barcos dos pescadores, e o meu coração tem saudades imaginárias da terra onde nunca esteve.»

sábado, setembro 03, 2016

Uma Bela Tarde no Começo de Setembro...

Apesar da Oficina de Cultura não ter tido lotação esgotada, a exposição, "Três Fotógrafos, Três Olhares" contou com uma boa assistência, que não só se mostrou agradada pelo que viu, como também ficou surpreendida pela excelente actuação dos elementos do projecto, "Palavras de Abril, Cantigas de Maio", que cantaram quatro bonitas canções, na nossa bela língua.

Uma das coisas curiosas na inauguração foi a presença de várias pessoas que não sabiam que eu tirava fotografias. E muito menos estavam à espera que eu tivesse várias fotografias bonitas (as palavras são delas...).

Além das mais de setenta fotografias que estão nas paredes, pode ser visto um pequeno filme com as biografias dos autores e 150 fotografias (50 de cada um deles).

Há ainda três pequenos expositores onde se podem ver livros, catálogos, folhetos e velhas máquinas fotográficas (que fazem parte da história dos três amigos que são os protagonistas desta mostra artística). O da imagem é o meu, com várias capas de livros que têm fotografias da minha autoria e a minha primeira máquina fotográfica....

(Fotografia de Luís Eme) 

sexta-feira, setembro 02, 2016

Uma das Frases que Escolhemos...

Eu e o Modesto Viegas escolhemos 18 frases sobre fotografia da autoria de gente grande ligada a esta arte, que também fazem parte da exposição, "Três Fotógrafos, Três Olhares" (estão coladas numa das paredes...). São "frases sobre fotografia para ler, sorrir e pensar..."

Vou deixar-vos uma das que gosto mais, ainda por cima é de um fotógrafo português, o Gerard Castello Lopes:

«A fotografia é uma forma de ficção. É ao mesmo tempo um registo da realidade e um auto-retrato, porque só o fotógrafo vê aquilo daquela maneira.»

Esta é uma das fotografias que gosto mais (se calhar por causa daquilo que o Gerard disse, só eu é que vejo aquilo daquela maneira...) e vai estar exposta amanhã, na Oficina de Cultura. Chama-se "Feira de Cores e Músicas" e foi tirada nas Caldas da Rainha.

(Fotografia de Luís Eme - da série "Blue & Yellow")

quinta-feira, setembro 01, 2016

"Blue & Yellow" (a minha escolha...) na Exposição "Três Fotógrafos, Três Olhares"


No próximo sábado, 3 de Setembro, às 16 horas, será inaugurada na Oficina de Cultura de Almada a exposição de fotografia, "Três Fotógrafos, Três Olhares", onde eu misturo as minhas fotografias com as de dois excelentes fotógrafos e amigos, Aníbal Sequeira e Modesto Viegas.

Poderá parecer "falsa modéstia", mas a menos de dois dias da inauguração começo a pensar que não foi uma grande ideia meter-me nesta "aventura", porque apesar da diversidade das imagens em exposição, sei que estou muito longe do Aníbal e do Modesto. 

É também por isso que foi uma  boa ideia fazer três exposições dentro de uma...

A minha escolha  de "Blue & Yellow" (o estrangeirismo soou-me melhor...) não foi nada complicada. Ao descobrir nos meus arquivos muitas fotografias de que gostava que tinham o azul e o amarelo em destaque, fez-se luz...