sábado, julho 16, 2011

Ir ao Sul e Voltar


Como de costume, vou deixar o "Largo" entregue aos seus frequentadores dilectos, que podem chegar sempre que quiserem ocupar um dos bancos protegidos pela sombra das árvores e ficar por aqui, a ver o mundo a circular...


Em Agosto volto, preparado para começar tudo de novo...

O óleo é de Giner Bueno.

sexta-feira, julho 15, 2011

Está Quase...


O mar está ali, do outro lado da janela.

Só falta mesmo entrar em casa, dar uns passos e sair pela outra porta e sentir aquele cheiro único...

O óleo é de Don Dahlke.

quinta-feira, julho 14, 2011

As Costas Largas da Democracia


Logo de manhã fui interpelado no café por um leitor fiel do "Largo" (embora seja comentador apenas de café...).


Como todos os "profetas do contra", atirou-me logo à cara com dois dos melhores produtos da "nossa democracia", Alberto João e Jorge Nuno, que também se julgam acima de tudo, até da lei, o que não acontecia com a gente do Estado Novo.

Apenas referi que a água e o azeite nunca se misturam.

Ele insistiu e disse que as coisas não eram muito diferentes dos nossos dias, os poderosos continuavam a estar acima da lei. Acrescentei que infelizmente a democracia nunca conseguiu chegar à justiça.

Para o tentar calar tive de o recordar que nesses tempos havia mais máscaras e uma vida mais faz de conta, não era por acaso que todos os escandalos que envolviam as "boas famílias" eram "apagados", para que não ficasse qualquer registo para memória futura. Com o apoio da sempre diligente, censura prévia.

Como Churchill disse: «a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as outras formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.»

O óleo é de Gary Kelly.

O Sonho da Boa Vida do Passado


No início não percebi onde nos iria levar aquela conversa.


Deixei-me levar naturalmente, sem renegar o meu passado, muito menos as minhas origens de esquerda democrática.

Foi esse o problema, que acabou por provocar quase uma transfiguração no meu anfitrião. A pessoa agradável que tinha estado ali a conversar comigo transformou-se de repente e olhou-me como se fosse um inimigo, deitando fora a raiva que tinha dentro de si. Diabolizou a Revolução de Abril, como se fosse o começo de todos os males, tal como os meus ideais sociais, todos errados e derrotados pelo tempo, segundo o seu ponto de vista.

O toque do telefone interrompeu a conversa e ele saiu da sala. Felizmente quando voltou vinha outro, foi como se tivesse deixado o seu lado "fascistoide" na outra divisão. Voltámos a conversar normalmente, sem dar espaço a mais discussões.

Quando sai para a rua vinha confuso, sabia que não precisava de aturar coisas do género. Mesmo assim resolvi ainda fazer um jogo de compreensão, colocando-me no seu lugar. Ver o 25 de Abril destruir e dividir o império da minha família, ter de fugir para o Brasil para não correr o risco de ver os meus avós, pais e tios na prisão. De um momento para o outro foram todos obrigados a descer à terra, a terem de ser pessoas comuns. O espacinho que ocupavam algures ligeiramente acima, mais próximo do "céu", desaparecera...

Embora aceitasse o seu sentimento de perda, ainda tão agarrado ao passado, nunca o iria compreender.

Continuo a pensar da mesma maneira que o meu pai: não sou nem mais nem menos que outro homem qualquer.

O Óleo é de Brent Lynch.

quarta-feira, julho 13, 2011

A Maneira Pequenina de ser Português


Uma das coisas que sempre me irritou neste "paraíso" (cada vez mais só para alguns...), é a maneira estúpida que um certo funcionalismo público tem de esconder os direitos das pessoas.

Noutros países, que prezam o civismo e os direitos sociais, as pessoas são informadas que poderão usufruir disto ou daquilo, com a maior das normalidades. Por cá há o velho hábito de guardar essas "benesses" apenas para os amigos.

Infelizmente esta postura continua bem presente no nosso dia a dia. Digo isto graças ao célebre "magalhães", que continua a ser distribuído nas escolas.

A minha filha frequentava o primeiro ano e tinha direito ao dito cujo, tal como todos os meninos da sua idade. Mas o ano lectivo chegou ao fim e nada de "magalhães". Não estávamos muito preocupados, até por existirem dois computadores cá em casa. Mas na reunião de final de ano com a professora, alguns pais disseram que já tinha a "máquina" em casa, embora não explicassem muito bem como tinham recebido a informação para levantarem o pequeno computador. A professora também revelou não saber nada sobre o assunto.

Nos entretantos, à boa maneira portuguesa, houve alguém que espalhou o boato que como ninguém ia levantar os portáteis azuis à sede do agrupamento, já havia quem os tivesse em duplicado em casa.

Hoje dirigi-me à secretaria e disse que estava ali para levantar o "magalhães" da minha filha. A senhora foi logo buscar uma caixa, de seguida pediu-me a identificação e depois o valor correspondente ao meu escalão. No final perguntei-lhe porque razão os pais não foram informados pela escola que os computadores já podiam ser levantados. A senhora com uma grande lata disse-me que se estava ali é porque tinha sido informado. Respondi-lhe que tinha sido informado pelo "diz que disse", que não recebera qualquer informação da escola. A senhora abanou os ombros com um sorriso e eu virei-lhe as costas, com um bom dia.

Percebi que se queria o "magalhães", eu é que tinha de me dirigir à escola, e não era a escola que tinha me de comunicar que eles já estavam na respectiva secretaria.

Infelizmente todos os pais que estão à espera que lhes digam alguma coisa sobre a data em que poderão levantar o computador, correm o risco de ficar sem ele (não é que se perca grande coisa, mas...), contrariando aquilo que nos foi sido dito quando preenchemos a ficha com os nossos dados, manifestando o interesse em adquirir a "máquina" que tanto maravilhou o Chavez.

É por estas e por outras que gostava de viver num país mais justo e com pessoas com mais um palmo ou dois, de carácter e profissionalismo.

O óleo é de Vittorio Polidori.

terça-feira, julho 12, 2011

«Os Barcos Morrem Quase Sempre de Pé.»


O velho pescador disse que os barcos que chegavam a velhos morriam quase sempre de pé, mesmo quando eram abandonados na areia, entregues ao frio do Inverno e ao calor do Verão.


Incapaz de contrariar a sabedoria do homem do mar, fiquei em silêncio, embora me lembrasse dos barcos que morriam de pernas para o ar, que os donos viravam ao contrário para todo o sempre.

E eu sabia que havia um pouco de tudo no "cemitério de barcos" da lagoa.

Claro que ele deveria ter na mente uma qualquer alegoria que não percebi, por não pertencer aquele mundo de gente salgada pela vida.

O óleo é de Jaume Laporta.

segunda-feira, julho 11, 2011

O Corpo Escondido


Diziam que não era uma rapariga destes tempos, porque nunca a viram de fato de banho na praia.


Normalmente aparecia de manhã cedo ou ao fim da tarde. Nunca ficava muito tempo ao Sol, dava um passeio à beira-mar e desaparecia.

O mais curioso era ser uma bela mulher, com um corpo esguio e um olhar luminoso.

As más línguas diziam que o Deus dela não gostava que a carne andasse ao léu. Nunca descobri a sua graça...

O óleo é de Jane Eccles.

domingo, julho 10, 2011

O Prazer de Ler


Ficava deliciado a ouvi-la falar dos muitos livros que lera pela vida fora.

Sorri quando me confidenciou que chegava a levantar-se da cama, depois de todos estarem a dormir, para ir ler para a sala, porque queria muito saber o que se ia passar nos próximos capítulos. Chegou a fazer directas porque só conseguia parar de ler quando chegava à última página dos livros.

Fez isto anos a fio, sem que o marido e os filhos desconfiassem...

Quando a deixava tinha uma certeza: «nunca fui nem serei um leitor assim...»

O óleo é de Eric G. Thompson.

sábado, julho 09, 2011

A Tua Janela


Embora nunca quisesse ser menino do coro, sempre tive dificuldades em virar costas à realidade. Acho que o medo, esse gigante, também me deu uma ajuda na fuga de alguns lugares, assim como a trocar as voltas à curiosidade.

Ao passar por uma rua lisboeta, onde não passava há anos, lembrei-me de uma rapariga que me olhava do lado de dentro da janela de um rés de chão alto. O mais curioso é que não nos falávamos, embora nos olhássemos de alto a baixo e de vez em quanto fossemos capazes de trocar um sorriso.

Sabia que uns metros mais à frente deveria encontrar o parapeito que nos ajudou a soltar a língua, numa noite diferente de todas as outras. Quando passei estavas sentada e demasiado alegre (devia dizer pedrada...), deve ter sido por isso que me chamaste. Vinha do cinema e sentei-me a teu lado, a escutar a história que tinhas para me contar da tua vida. Até fiquei a saber o nome que me quiseste oferecer (Diana), que até tinha a ver contigo.

Pediste-me um cigarro e eu nem sequer tinha lume. Foi por isso que descemos o parapeito e entrámos num café nas proximidades onde bebemos uma cerveja ao balcão e compraste um maço de tabaco.

Passeámos de mão dada e prometemos coisas que não tivemos tempo de cumprir, porque nunca mais apareceste à janela (e as vezes que eu passei pela tua rua...).

Nunca percebi muito bem o que perdi ou o que ganhei.

O óleo é de Scott Waddel.

sexta-feira, julho 08, 2011

A Margem Sul e o Tejo da Maluda


Gosto muito da geometria e das cores da Maluda.


Embora esta Margem Sul dos combustíveis não seja a mais recomendável, não deixa de ser um belo quadro, ainda com muito campo aberto, preparado para aceitar os desafios do Presidente da República, da aposta na agricultura. O azar do senhor é o passado não se apagar com uma simples borracha, e, mesmo aqueles que têm a memória curta não se esquecerem do sujeito que era primeiro-ministro quando se "desmantelou" praticamente a agricultura e as pescas...

quinta-feira, julho 07, 2011

«Fez-te mal andares na televisão.»


Muitas vezes lemos as notícias ou crónicas de "esguelha", ou nem sequer lemos, ficamos pelos títulos. Longe vão os tempos em que era capaz de ler um jornal, do principio até ao fim. Não sou dos que culpam a "net" ou jornalismo dos nossos dias. Prefiro culpar o excesso de informação, que faz com que fiquemos completamente baralhados.


Tudo isto para dizer que só esta semana é que li a crónica, Sob Escuta", de Pedro Mexia no "Atual" (Expresso), de 21 de Maio, quando despachava jornais para a reciclagem. Embora a sua prosa fale da experiência de ser escutado, ele também disse o seguinte:

«Eu não levo a mal que as pessoas queiram ouvir as conversas alheias. Boa parte daquilo que escrevo baseia-se em conversas que ouvi. Mas é aquilo a que Alexandre O'Neill chamava a "central das frases": bocados de diálogos coleccionados nas ruas da cidade, falas ocasionais, desconexas, palavras trocadas em cafés ou em ajuntamentos.»

Eu também escrevo muito sobre o que ouço por aí. A última coisa hilariante que escutei foi um casal de alguma idade a discutir porque o homem chamou paneleiro a um fulano que estava numa outra mesa da esplanada. A senhora disse que lhe tinha feito mal andar a fazer de figurante na TVI, que agora achava que todos os homens modernos eram como o Goucha. O mais grave é que a provável falta de audição fazia com que falassem alto e toda a gente os olhasse de lado, esboçando alguns sorrisos, ao mesmo tempo que esqueciam o tal homem moderno, de calças vermelhas e camisa branca...

quarta-feira, julho 06, 2011

O Ateliê do Adriano


Há lugares que são especiais, por muitas razões, uma delas é por pertencerem a pessoas especiais.
O ateliê do Adriano é assim.

As paredes gastas da sala ganham novos encanto com os quadros de estação escolhidos, para nos lembrar do bom de cada época. As flores primaveris foram rendidas por um mar que desagoa numa praia.


Mas mais importante que as cores, ou o sempre presente vinho tinto alentejano, é a sua forma única de acamaradar, de repartir o pedaço de pão com chouriço caseiro ou queijo da serra, com qualquer visita inesperada. Camaradagem que também inunda as conversas sobre quase tudo que é bom na vida, inclusive algumas musas que ficaram por ali suspensas no sofá ou de pé a olhar para um ponto inventado pelo Adriano e que agora são um esboço ou um quadro.


O óleo é de Eric Rimmington.

terça-feira, julho 05, 2011

"Cozinhados" da Blogosfera


Um dos aspectos que dá alguns "pontos" à blogosfera é o facto de ter sido nos últimos tempos o "campo de recrutamento" de um ministro, um secretário de estado, vários deputados, e claro, uma dúzia de assessores, sempre bem relacionados e informados, como mandam as regras.

A característica mais comum de personagens como
Álvaro Santos Pereira, Francisco José Viegas, Carlos Abreu Amorim, Miguel Morgado, João Gonçalves ou Francisco Almeida Leite, foi terem Sócrates como alvo predilecto, ao mesmo tempo que iam piscando o olho à "quinta do laranjal", oferecendo inclusive algumas sugestões, que não eram tão de "borla" como pareciam.

Não tenho qualquer critica a fazer em relação às suas opções, embora alguns acabem por conseguir "roer o próprio rabo", não fossem bons "contorcionistas".

De certeza que perceberam que esta também é uma boa maneira (ainda que bem paga...) de os silenciar e condicionar.

É sempre bom recordar a forma lapidar como Fernando Nobre foi arrumado do mapa político (por muito se tenha colocado a jeito)...

O óleo é de MIchelle de Brito.

segunda-feira, julho 04, 2011

A Beleza da Lagoa de Óbidos


Uma pessoas curiosa perguntou-me se havia alguma paisagem que me tivesse marcado a infância.


Disse que deveria haver mais que uma, mas que não era coisa para falar assim de repente, merecia alguma introspecção.

Quando comecei a pensar no assunto descobri várias, mas algumas eram tão habituais que não as poderia considerar marcantes. O mar por exemplo, fazia parte de todas as férias, assim como Salir de Matos. Pensei no Vale da Quinta... naquela vista campestre deslumbrante até que dei por mim a subir a estrada que me levava para o coração da Lagoa de Óbidos, devia ter uns oito, nove anos.

Era o mais novo daquelas aventura do género das dos "pequenos vagabundos", em que no "segredo dos deuses" nos afastávamos do perímetro do nosso bairro.

Sei que fiquei encantado quando chegámos ao ponto mais alto e descobri a beleza natural das águas da Lagoa, que entravam pelo meio dos campos verdes, povoados de árvores. Era uma novidade para mim, apesar de estar ali tão perto.

Esta fotografia da Lagoa não faz justiça à imagem que ainda tenho gravada na memória, mas foi a que descobri, tirada por mim, que mostra um pouco da beleza das águas que se misturam com os campos...

domingo, julho 03, 2011

«Deixa lá, estás quase lá.»


Quando o Carlos me disse, «deixa lá, estás quase lá», fiquei a sorrir e a pensar que sim, que provavelmente ele tem razão.


Não foi preciso ir muito longe para admitir que começo a ficar céptico em relação a quase tudo o que nos rodeia, e já faltou mais para os tais cinquenta anos, a tal idade da sabedoria...

Mas não me agrada nada sentir que à medida que os anos passam somos forçados a perder a inocência e a ingenuidade, acreditando cada vez menos na boa vontade dos homens e das mulheres.

Tudo isto porque na mesa do café ninguém é capaz de acreditar nas boas intenções de Passos Coelho e companhia. E nem se falou do subsídio de Natal. Quase todos acham que a diminuição de ministérios é só para "português ver", as secretarias de estado, os assessores e as "famílias", que enchem os gabinetes, são para manter e em alguns casos até aumentar.

Estas dúvidas só seriam dissipadas se houvesse mais transparência, se nós soubéssemos quantos eram na era socrática e quantos são agora os que se movem à volta da "corte" laranja com tons azulados..

A ilustração é de Philip Evergood.

sábado, julho 02, 2011

Quando os Sonhos me Trocam as Voltas


Não sei o que os sonhos me explicam, muito menos se têm explicação.

Muitas vezes são de tal forma misturados, que não lhe encontro um princípio, muito menos um fim.

Acho que nem mesmo os sonhos que surgem com nitidez, com pessoas e lugares, são para entender.

Podia falar por exemplo da vez que sonhei que era um príncipe e levava comigo uma princesa na minha montada, que me agarrava, para não ser levada pelo vento. Só depois percebi que éramos transportados por um burro de trote curto, indigno de sonhos com príncipes e princesas, normalmente povoados (pelo menos nas histórias infantis - eu sei que leio muitas..) de cavalos brancos.

O óleo é de Ursula McCannell.

sexta-feira, julho 01, 2011

António, António...


Sempre a conheci como Zefa, um diminutivo quase estranho.


Um dia contou-me a história do seu nome, o porque de Zefa e não Zeferina, como vem no bilhete de identidade. Simplesmente, porque detestava o nome de baptismo...

Nunca perdoou que o pai, António, aborrecido por ser sempre dos primeiros, ficar nas primeiras filas da escola, etc, resolvesse que o seu primeiro filho teria um nome que começasse com a letra zê. Não havia muitas escolhas, foi por isso que ele preferiu Zeferino a Zulmiro (estava convencido que seria um rapaz...).

Ela ao contrário do pai, detestou ser sempre a última nas tais filas da escola...

Perguntei-lhe se alguma vez chateou o pai pela escolha. Sorriu e disse que sim: «muitas vezes.»

O óleo é de Andrew Ameral.