domingo, julho 31, 2016

O Adeus ao Mestre dos Mestres


Mário Moniz Pereira deixou-nos hoje.

Foi só o maior treinador português de sempre, sendo tratado carinhosamente por todos como o "Senhor Atletismo".

Moniz Pereira, além de ter sido o maior fazedor de campeões de atletismo do mundo, também é um dos técnicos mais titulados de sempre. Se se somarem todos os seus títulos colectivos como treinador de atletismo (nacionais, europeus e mundiais...), Alex Ferguson - que dizem ser o treinador com mais títulos do mundo - fica muito para trás do "Senhor Atletismo".

Tive o grato prazer de privar com ele em diversas ocasiões, dentro e fora do atletismo e jornalismo. Até me fiz sócio da "Associação de Amizade Portugal-Portugal", tocado pelo seu amor a tudo o que é nosso, e por sempre achar - tal como ele - que somos muito melhores do que pensamos.

Mas além do atletismo Moniz Pereira tinha outros amores, como o fado, onde chegou a compor dezenas de músicas que se tornaram sucessos, nas vozes de Carlos do Carmo, Amália Rodrigues, Camané ou Maria da Fé, entre tantos outros fadistas.

Nesta fotografia de quem desconheço a autoria, Moniz Pereira está com Carlos Lopes - um dos nossos "heróis" do Olimpo - que tornou Campeão Olímpico, Recordista e Campeão Mundial.

sábado, julho 16, 2016

"Pausa no Miradouro"

"Pausa no Miradouro" é o título de mais uma fotografia da série, "Blue & Yellow", da tal exposição de Setembro...

Como vou fazer uma pausa para férias, que também serão da blogosfera e de tudo o que está dentro dos computadores, achei que esta imagem, já com um cheirinho de férias e também de paragem escolher a próxima viagem, tem todo o simbolismo de quem parte com bilhete de volta em Agosto...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, julho 15, 2016

No Dia Seguinte...

É impossível ficarmos indiferentes a mais um atentado cobarde, e sem sentido, a inocentes, que continuam a ser sempre as suas principais vítimas, por estarem habitualmente no local certo à hora errada...

Hoje os mais optimistas suspiram fundo e pensam que nem tudo é mau nesta nossa sina de estarmos quase esquecidos neste cantinho da Europa.

Já os adeptos do humor negro dizem que temos escapado com mais facilidade aos ajustes de contas dos falsos "justiceiros do Oriente", que aos ataques perpetuados pelos próprios "donos da Europa", com leis para os fortes e leis para os fracos.

Só os mais realistas, sentem que é bom que se comece a pensar que este sossego não vai durar para sempre. 

Em Paris ou em Istambul há muito que a passagem por uma esplanada deixou de ser um simples momento de descontracção e de convívio.

(Fotografia de  Mark Kaufman)

quinta-feira, julho 14, 2016

As Coisas que se Sentem e nem Sempre se Explicam...

Gosto bastante de conversar com pessoas que conseguem acrescentar conhecimento às coisas que gosto, sem serem chatas.

Talvez o Mestre Lagoa Henriques tenha sido o expoente máximo do que acabei de dizer. Ainda recordo a visita guiada memorável que me fez ao espaço expositivo e museológico que ficava ao lado do seu atelier (que penso nunca ter sido aberto ao público, estupidamente...), em que durante mais de duas horas me explicou a história de cada uma das suas esculturas, sem se esquecer de destacar a origem dos materiais mais simples (com destaque para os pedaços de madeira - troncos de árvores ou "lixo" dos navios - recolhidos na "sua praia" de Pedrouços...) aos mais elaborados... Claro que há poucas pessoas com a capacidade de transformar um pedaço de madeira, plástico ou lata, deitados fora, numa obra de arte. O Mestre Lagoa Henriques tinha esse dom...

As palavras são mesmo como as cerejas... Digo isto porque a conversa que tive com um amigo das "fotografias" sobre a evolução daquilo a que normalmente chamamos "composição", e que faz com que a fotografia consiga chamar a atenção das pessoas, foi extremamente agradável. 

Falámos de palavras que parecem estar fora do mundo da fotografia: "encenação", "recriação", "mistério", "fantasia" ou "imaginação".

Sorrimos com cumplicidade perante a incerteza que nos invade cada vez mais o olhar, sem termos medo da sensação de que sabemos tão pouco do mundo...

(Fotografia de Benn MItchell)

quarta-feira, julho 13, 2016

As Conversas e os Amigos...

Uma das coisas que também acaba por definir a amizade, são as conversas que temos com quem nos rodeia.

As questões que consideramos realmente importantes das nossas vidas, só são tema de conversa com as pessoas de quem gostamos e confiamos.

Sabemos que são elas, que não só  nos apoiam, como ainda são capazes de nos fazer ver que estamos errados, em muitos dos nossos pontos de vista...

(Fotografia de Luís Eme da série "Blue & Yellow")

terça-feira, julho 12, 2016

A Patrícia e o "Futebol-Eucalipto"...


Ontem foi um dia brilhante para o desporto português.

Rui Costa, o nosso ciclista mais talentoso ficou em segundo numa das "etapas-rainhas" da Volta a França.

No Campeonato da Europa de Atletismo que se disputou na Holanda conquistámos no último dia da competição três medalhas de ouro e duas de bronze (grandes Sara Moreira, Patrícia Mamona, Jessica Augusto e Tsanko Arnaudov e equipa feminina da meia-maratona).

Claro que foi o título de Campeão Europeu de Futebol conquistado em Paris que fez o país sair à rua, entre gritos, foguetes, canções e buzinadelas pela noite fora. Porque é sobretudo de futebol que o povo gosta...

No entanto há uma campeã europeia de atletismo que merece um relevo especial aqui no "Largo", a Patrícia Mamona, que fez dois em um. Além de se sagrar campeã do velho continente bateu o recorde nacional feminino do triplo-salto.

(Fotografia retirada do Site "A Bola")

segunda-feira, julho 11, 2016

E Portugal Foi uma Festa...

Talvez só existisse mesmo uma forma de sermos Campeões Europeus, a que Fernando Santos escolheu, desde o inicio. Mas eu, como sou teimoso e nunca fui uma "maria vai com as outras", continuo a dizer que não era a minha.

Felizmente quando se ganha esquecem-se todos os equívocos e até "fetiches" de um treinador que conseguiu misturar Deus com o futebol, mas de uma forma mais simples que os antecessores, chamando vários anjos protectores para a baliza do grande Rui Patrício (que se fosse mais polémico, usassem duas ou três tatuagens e se enchesse de estilo, era considerado um dos maiores do mundo...) e não uma Santa, como Scolari, ou um "Bruxo" como Oliveira...

Falou-se muito de "patinhos feios". É por isso que não deixa de ser curioso e bonito que o golo da vitória na final, fosse marcado pelo jogador que foi até França apenas para fazer número (tal com o segundo e terceiro guarda-redes). Fernando Santos levou um ponta de lança, apenas porque fazia parte da tradição. E muitos teriam preferido levar o jovem André Silva ou outro qualquer, mas nunca o "pé frio" do Éder...

Na minha escolha (também fiz uma lista de 23 jogadores...), a única diferença em relação ao seleccionador foi a inclusão de André Almeida e a exclusão de Vieirinha. E isso aconteceu porque achava importante ter um lateral direito alto e não dois "minorcas", principalmente nos lances de bola parada junto à área portuguesa (e houve situações muito complicadas...). É também por isso que acho que esta foi a escolha mais consensual de sempre.

Os problemas só começaram com a escolha do onze titular. E não foi por acaso que empatámos os primeiros três jogos. O meio-campo sempre foi e é o sector mais importante para dar equilíbrio a uma equipa de futebol, e como tal, deveriam ter jogado os jogadores em melhor forma e também os mais rotinados no sector. Ou seja, William Carvalho, Adrien e João Mário, que jogam juntos - e com grande qualidade - há vários anos no Sporting.

Como se viu, o seleccionador só começou a perceber estes desequilíbrios quando o Europeu "começou a doer"... mas mesmo assim, sempre que podia lá metia o João Moutinho (até jogou parte da final onde continuou a ser uma "sombra" do jogador que foi...).

Criticou-se muito Cristiano Ronaldo, que voltou a apresentar-se numa grande competição longe da sua melhor forma. Faltava-lhe a mobilidade habitual (não conseguia ganhar os lances de um contra um) e a confiança (nunca falhou tantos livres e muitos deles eram à sua medida...). Mas foi um jogador diferente, um autêntico Capitão, que pensou primeiro na equipa e só depois nele. Até na final se percebeu isso (devia ter sido logo substituído...), em que preferiu sofrer e até agravar a lesão, a fazer o que era mais fácil.

Isso só aconteceu porque Fernando Santos foi sempre um treinador honesto e um verdadeiro líder, capaz de acarinhar e tratar todos os jogadores que levou ao Europeu da mesma forma. Só assim  se percebe que tenha criado um dos melhores ambientes em redor dos jogadores de selecção.

Claro que é um treinador muito conservador, muito agarrado aos seus princípios de jogo, mas não tem medo e sempre assumiu as suas opções (que nem sempre me agradaram...) e é a primeira pessoa a merecer este título de Campeão Europeu. Acreditou sempre, mesmo quando poucos acreditavam...

Foi bom sentir que todos os 23 jogadores lutaram pelo mesmo objectivo nos relvados de França: serem Campeões da Europa. Se Pepe, Nani, Ricardo Carvalho, William Carvalho, Ricardo Quaresma ou Rui Patrício foram confirmações, José Fonte, Rafael Guerreiro, Ricardo Sanches e Éder, foram muito mais que revelações, foram autênticos Campeões. 

(A escolha desta fotografia retirada do site do "Record", deve-se ao facto de mais uma vez termos tido um "herói improvável" nesta conquista europeia...)

domingo, julho 10, 2016

Paris na Linha do Horizonte

Tal como nos acontecia nos anos 1960, a maior parte das estradas vão dar a Paris e não a Roma.

Claro que nesses tempos quase longínquos, nem todos os que fugiam de uma vida de escravidão ou de uma guerra injusta, iam por estrada. Caminhavam por onde calhava e por onde os "passadores" os guiavam...

Hoje, felizmente com uma atmosfera completamente diferente, também é Paris que agarra a esperança de um povo que continua a estar mais habituado a perder que a ganhar...

É por isso que quero que Paris seja hoje uma festa...

(Fotografia de Artur Pastor)

sábado, julho 09, 2016

O que Os Olhos dos Outros Vêem...

Quando encontrei um dos vizinhos da minha sogra na rua e fui cumprimentado de uma forma estranha, além de ter deixado um dos meus pés atrás, percebi que havia por ali algum filme à procura de um pano branco. 

Estava longe de pensar que ele ia manter o seu sorriso malicioso, até encontrar espaço e tempo para me perguntar baixinho, ao lado do filho da nora e do neto: «Quem era aquela mulher com quem estavas a conversar no outro dia?» 

Sorri-lhe e ingenuamente tive o desplante de lhe dizer a verdade: «Não sei.» E naquele momento não fazia mesmo a mais pequena ideia de quem é que ele estava a falar. 

Ele insistiu. «Era pequenina mas tinha tudo no sítio.»

Foi então que se fez luz na minha cabeça com a palavra "pequenina". Percebi que não me lembrava porque a única relação que mantinha com a mulher era de camaradagem nas culturas. Por distracção, ou não, nunca lhe descobri os predicados que este homem com idade para ser meu pai via... E falávamos de trabalho. Sei que se lhe dissesse ele não ia acreditar. Ou então era capaz de perguntar se costumávamos fazer serão, com o mesmo sorriso.

E eu que pensava que os homens quando têm casos com  outras mulheres a última coisa que fazem é passear com elas nas ruas da sua Cidade.

Percebi mais uma vez que para alguns homens (e para algumas mulheres, claro...) de outras gerações, ainda é complicado encontrarem um homem e uma mulher a conversarem sozinhos na rua ou num café...

(Fotografia de Ed Van Der Elsken)

sexta-feira, julho 08, 2016

Mitologia Literária Deitada Fora

Noto que cada vez há menos espaço para a mitologia na rua dos livros.

Não sei quem foi a primeira escritora realmente bonita que deitou por terra a "estória" de que todas as mulheres que escreviam eram feias. Mas que foi convincente, foi.

Também não sei quem foi o escritor de sucesso que teve a coragem de dizer que bebia leite frio pela noite dentro, enquanto ia conversando com as suas personagens. Mas sou capaz de imaginar a cara de caso de todos aqueles que preferiam álcool de cor forte, capaz de bailar com as nuvens de fumo provocadas pela planta do tabaco ou por qualquer erva aromática das arábias. Ou ainda aqueles que precisavam de comprimidos milagrosos.

Achavam inacreditável que um "copo de leite" pudesse escrever alguma vez uma história mirabolante, capaz de prender o leitor da primeira à última página.

Eu limito-me a sorrir, já que normalmente não bebo leite enquanto escrevo, muito menos me agarro ao álcool. E ainda por cima conheço uma ou duas escritoras giras.

Só posso dizer: «Que bom que é, as coisas serem diferentes do que alguém disse serem antes.»

Imagino a quantidade de mulheres bonitas que durante anos e anos, escondiam as coisas que escreviam, só por causa de uma "patranha"...

(Fotografia de Pierluigi Praturton)

quinta-feira, julho 07, 2016

«Quando escreves ficção não te sentes num baile de máscaras?»


Quando me perguntaram: «Quando escreves ficção não te sentes num baile de máscaras?», fiquei surpreso e disse logo que não, sem perceber muito bem o porquê da pergunta.

Se há lugar onde nunca estive quando escrevo, foi num baile, com ou sem máscaras.

Ainda lhe tentei dizer que a ficção estava longe de ser um baile do que quer que fosse, acrescentando que era apenas uma forma de contar a verdade, utilizando personagens, ou seja, pessoas que apenas existem na imaginação de quem escreve, embora tenham tudo o que têm as pessoas que encontramos na rua.

Do outro lado veio apenas um sorriso, que percebi estar pouco convencido.

Claro que sei que não é uma coisa muito normal andar por aí a inventar histórias. E ainda pior quando o fulano que é mau rapaz pode ser confundido com alguém conhecido... Mas ninguém é perfeito.

Mas os bailes de máscaras são outra coisa...

(Óleo de Krzysztof Rzezniczek)

quarta-feira, julho 06, 2016

Sem um País, Sem uma Cidade...

Podes vir de um outro continente e nunca te habituares a ser europeu. Ou pior ainda, nunca quereres ser isso, mesmo que te deixes enganar pelas vantagens que o passaporte trás.  Até porque Paris Londres ou Berlim, ficam quase ali, depois do virar da esquina...

Quando lhe falei destas portas abertas, desculpou-se com a nossa humanidade, de todos nascermos interesseiros, mesmo que seja por uma mera questão de sobrevivência. As contradições ficam num outro departamento, explicou-me ela. Distantes do leite materno do biberão ou de uma simples sopa (sim dessa para pobres...).

Fomos andando e ela confessou ser alheia às bandeiras e os cachecóis que as pessoas usam, muito menos percebe toda a exaltação provocada pelo futebol. Talvez por nunca ter conseguido compreender a graça de ficar a ver vinte e dois homens a correrem atrás de uma bola, capazes de empurrarem e de se pontapearem para a conseguirem meter dentro das redes. Talvez porque há coisas que não se explicam, sentem-se, pensei eu, sem tentar sequer fazer desenhos...

Mesmo dentro da Cidade que escolheu para viver é sempre estrangeira,  não consegue sentir nada como seu, nem mesmo o pequeno apartamento onde vive há mais de meia-dúzia de anos. Não culpa ninguém, sabe que é um problema apenas dela. 

O mais curioso é afirmar conhecer a única solução para os seus problemas: voltar de onde teve de fugir e para onde continuam a ir todos os sonhos...

(Óleo de Per Krohg)

terça-feira, julho 05, 2016

O Sol Resolveu Esconder-se ao Fim da Tarde no Ginjal


Cheguei à minutos a casa, depois de mais um passeio pelo Ginjal.

Vi o azul do céu a desaparecer e a ser substituído por um manto cinzento que depois de esconder o Sol ainda tentou meter a Ponte e a Margem Norte no bolso.

E sabem que mais? Gostei de sentir o ar quase fresco rente ao rio, que me fez esquecer os últimos dias, quase africanos.

Esta fotografia também está "fresquinha", terá pouco mais de uma hora de vida. E para ficar mais de acordo com este final de dia "pintei-a" de cinzento.

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, julho 04, 2016

«E como era Ela?»


Um jovem entra apressado no local de trabalho por estar ligeiramente atrasado. 

O chefe tinha o velho hábito de o questionar apenas com o olhar, ficando à espera de uma explicação para o atraso, de preferência próxima dos filmes.

«Cruzei-me com uma daquelas mulheres capazes de parar o trânsito.»
«E como era ela?»
«Loura...»
«Só?»
«Tinha olhos azuis, da cor do mar quando está bonito.»
«E?»
«Trazia um camisolão largo de lã, decotado e melhor ainda, uma mini saia.»
«Camisolão?»
«Sim, mas largo, coisa que fica bem no Verão.»
«Está melhor...»
«Calçava sandálias vermelhas de tacão alto e fino.»
«Mas olha que ainda não a consigo ver...»
«Tinha tudo no sitio. Podia ser uma actriz de cinema ou modelo.»
«Ficou muito melhor...»
«Fumava com estilo, como quase todas as mulheres. E tinha ainda uma outra particularidade.»
«Que particularidade?»
«Trazia um violão.»
«Ela trazia o violão mas tu é que me dás música. Com isto tudo já passaram mais uma série de minutos, vê lá é se vais trabalhar.»
«Está bem chefe.»

O chefe virou costas para esconder o sorriso do jovem, que devia estar a escrever teatrinhos em vez de estar ali a organizar pastas de arquivo...

(Fotografia de autor desconhecido da inesquecível Marilyn)

domingo, julho 03, 2016

O Regresso à Igreja Romana


«Não se lembrava da última vez que entrara numa igreja. sabia apenas que tinha sido há muito tempo. Talvez tivesse sido ainda do tempo do latim. Talvez...
Na sua cabeça ainda conseguia ouvir as palavras romanas ditas pelo padre. Há coisas que se ouvem em criança e que nunca mais se esquecem...
Felizmente os filhos tinham casado apenas pelo registo civil, poupando-o de todo aquele jogo teatral, encenado pelos padres, que têm como ponto alto as juras de amor eternas.
Não lhe fez bem nem mal, estar ali sentado, a olhar para as paredes, para os tectos, tal como fazia na infância, quando era obrigado a assistir à missa de domingo.
Não se lembra da maior parte das palavras do padre, entretido em explicar o porquê dos baptismos... ao mesmo tempo que responsabilizava os pais e os padrinhos pelo percurso do neto. O seu filho estava a cometer o mesmo erro que o seu pai cometera, quando deixou que o baptizassem. Ambos se deixaram levar pelas mulheres, que por conviverem mais de perto com a "culpa" e o "pecado", queriam aproximar os seus filhos de Deus.
Quando o neto começou a chorar, por não ter achado piada ao "banho santo", começou a sorrir. Estava esperançado que o seu neto, que herdara o seu nome próprio, também "roesse a corda", tal como ela fizera, assim que pôde. Até por que também não foi ouvido e achado, nesta entrada de mansinho no reino de Deus.»

(Fotografia de Nacho Costa)

sábado, julho 02, 2016

Os Ideários não Transformam as Pessoas em Marcianos

Para aquele "camarada" de voz inflamada o médico do BMW e dos fatos de marca nunca podia ser comunista.

Todos aqueles que o podiam chamar à razão, olhavam para o ar e para os lados. Sabiam tal como eu que a ignorância nunca deixará de ser atrevida, e em muitas situações limite, até cega e ofensiva. Ninguém quis gastar um pouco de "latim", para trazer aquele homem à razão, tirá-lo, nem que fosse por momentos, do "mundo das sombras", libertando-o das suas certezas...

Até que houve uma mulher cheia de coragem, que foi capaz de lhe dizer que mais importante que o carro do médico e as roupas que vestia, era a sua prática diária, ser incapaz de levar dinheiro por uma consulta a todos aqueles que não tinham dinheiro para a pagar. E encaminhar os que precisavam para os hospitais públicos e não para as clínicas privadas.

Depois de um silêncio ensurdecedor que durou alguns segundos, ouviu-se um eco de apoio generalizado àquela mulher-coragem. O homem cheio de certezas, baixou a cabeça, só não sei se se apercebeu da facilidade com que nos deixamos levar pelo verbo e conseguimos ser injustos...

A realidade mostra-nos que o século XXI acabou com os proletários, somos todos "burgueses", quanto mais não seja pelos hábitos de vida que nos são impostos socialmente. 

Mas mesmo no passado sempre houve militantes e amigos do PCP com poder económico. Há tantas histórias por contar de doutores e engenheiros que esconderam militantes na clandestinidade nas suas casas e depois os transportaram nos seus carros até à fronteira...

Continuo a pensar que mais importante que qualquer ideário, é a prática com que vivemos o nosso dia-a-dia, não ignorarmos que esta sociedade que fabrica ricos muito ricos (cada vez menos) e pobres muito pobres (cada vez mais) não serve ninguém.

Até porque os ideários - mesmo que por vezes isso possa parecer possível - nunca transformaram pessoas em marcianos...

(Fotografia de Eduardo Gageiro)

sexta-feira, julho 01, 2016

A Noite e o Dia em Julho...

A noite para mim é quase como o mar. Por muito que goste das suas ondas e seja capaz de nadar até deixar de me apetecer ser "barco",  como se fizesse a travessia da Trafaria a Belém, acabo por me lembrar sempre que não tenho guelras nem pés de pato...

Não gosto de vestir roupa que brilha com as luzes, muito menos de me transformar numa personagem pedida de empréstimo a qualquer filme negro. Muito menos ofereço ilusões com o olhar e meia dúzia de palavras. 

O mais curioso é que às vezes apetece-me fumar e fazer um daqueles exercícios em que se finge conseguir levar o fumo até perto das estrelas. Outras fico indeciso, sem saber se devo beber, ou não, uma das muitas bebidas que nos convidam à loucura...

Mas como isso também me acontece em plena luz do dia, quando os fumadores fazem mais uma pausa no pátio ou mesmo na rua e me apetece "ser do clube". Sei que a rua é sempre mais divertida que o local de trabalho. 

Só não consigo me afogar num bagaço antes de entrar ao serviço, chamando-lhe "mata-bicho"... Muito menos, beber por beber, só para baralhar o fígado.

Talvez a noite seja grande, seja quase um mar, mas não se compara em beleza com o dia...

(Fotografia de Yale Joel)