terça-feira, novembro 30, 2010

«A porta está aberta...»

A frase, «a porta está aberta», pode ser mais que uma coisa, é quase um desafio, e como ela respira Liberdade...
Umas vezes é um teste à coragem, uma outra forma de dizer, «abandona-me se puderes.»
Nem sempre podemos, nem sempre conseguimos atravessamos a "fronteira", porque a Liberdade, mesmo que tenha o sabor do doce que mais gostamos, também assusta...
Não, não é apenas uma questão de querer. É quase sempre um problema mais delicado, por pensarmos demais em terceiros e no amanhã.
Talvez sejamos uns prisioneiros da vida que fingimos gostar...
Talvez...
E a porta ali, aberta.
(não, não é um estado de espírito, foi apenas uma forma diferente de ilustrar a fotografia, tirada de manhã na Casa da Cerca...)

domingo, novembro 28, 2010

Esquecimentos...

Não sei se foi o frio, ou outra coisa qualquer, sei apenas que o Carlos estava mais sensível que o costume.

Já tinha achado estranho vê-lo ser levado de trela por um cão, nas ruas da cidade, embora percebesse que a partir de certa idade, quando se vive só, tenta-se arranjar uma companhia fixa. Todos sabemos que os animais são mais fáceis de aturar que as pessoas, é por isso que muita boa gente em vez de fazer um filho compra um cão...

Voltando ao Carlos, ele não me contou nenhuma aventura, não me falou de nenhuma das suas "mulheres" (algumas sei que são roubadas aos sonhos...), falou-me sim, dos dias pequenos, das paredes frias da sua casa e de ser um esquecido.

Antes de se ir embora disse-me: «o maior esquecimento que tive na puta da vida, foi nunca ter feito um filho, não ser pai, não ter ninguém para ficar com as minha colecções de moedas e selos...»

E virou-me as costas...
O óleo é de Teun Hocks.

sexta-feira, novembro 26, 2010

«Está a olhar para o retrato do país.»

O homem de idade quando me olhou a fotografar a fachada do prédio, no largo onde costuma passar o tempo, aproximou-se de mim e disse, com ar triste e sentido: «está a olhar para o retrato do país.»
Ele voltou para o banco de pedra onde estava sentado e eu continuei a minha marcha, acenando-lhe com simpatia, antes de desaparecer...

quinta-feira, novembro 25, 2010

Arte Lisboa 2010


Passei hoje pela velha FIL, entre Alcântara e Belém, para visitar a "Arte Lisboa 2010 - Feira de Arte Contemporânea".

Gostei de várias coisas que vi... como estas esculturas tão vivas que fotografei...

terça-feira, novembro 23, 2010

«Eu bem me escondo, mas eles não me largam.»

Falam de discrição, mas talvez não saibam muito bem o que isso é. É a explicação possível para o facto de saírem de casa de óculos escuros enormes, com hastes brancas ou cor de rosa, "armadas" com uma indumentaria capaz de provocar um torcicolo a qualquer passeante da rua, que caminhe distraído e depois dizerem: «eu bem me escondo, mas eles não me largam.»

Isto sem falar dos jogos perversos que praticam, para aparecerem nas páginas das revistas de dentista.


O óleo é de Sara Bishop.

segunda-feira, novembro 22, 2010

«Estou aqui! Olhem para mim!»

O actor, já com o cabelo ligeiramente pintado de branco, à medida que andava, olhava para todos os lados, sorridente, como se dissesse: «estou aqui! olhem para mim!»


Sempre que isto acontece, faço os possíveis para olhar para o lado e fazer de conta que não conheço as "vedetas" de serviço de lado nenhum.

Até poderia normal que isto acontecesse com jovens, saídos dos "morangos com açúcar", agora com actores da minha geração como foi o caso do fulano, que agora faz de cozinheiro, aliás chefe de cozinha, na novela portuguesa da SIC do horário nobre. Talvez exista por ali qualquer problema de auto-estima, ou de outra coisa qualquer, que não me interessa saber.

Só lhe faltou mesmo atravessar-se à nossa frente enquanto continuámos a conversar e a fingir que não o conhecíamos de sitio nenhum, sem lhe devolver o tal sorriso "telegénico".

O óleo é de Angela Hardy.

sábado, novembro 20, 2010

Vitória de Setúbal faz 100 Anos

O Vitória de Setúbal faz hoje a bonita idade de cem anos.

Está longe dos seus melhores tempos futebolísticos, que tiveram como "comandante" José Maria Pedroto, no começo da década de setenta, onde conseguiu feitos inegualáveis para a camisa listada verde e branca, como um segundo lugar no campeonato, uma final da taça de Portugal, várias presenças nos quartos finais das competições europeias e a conquista de um dos troféus mais valiosos de Espanha, o "Troféu Teresa Herrera".

Desta grande equipa que enchia os estádios com um dos "futebóis" mais vistosos da época, recordo:

Joaquim Torres, Vaz; Rebelo, Carlos Cardoso, José Mendes, Carriço, Conceição; José Maria, Matine, Tomé, Câmpora, Octávio; José Torres, Arcanjo, Duda, Guerreiro (entre outros).
Parabéns ao Vitória, com a esperança de que consiga ultrapassar este período mais complicado da sua vida, tão fértil em vitórias desportivas.
Adenda: No "entre outros" não pode figurar de maneira nenhuma o célebre Jota-Jota, Jacinto João, provavelmente o maior símbolo do Vitória, um avançado esquerdino internacional de grande qualidade, reconhecido pela sua bonomia e que oferecia à equipa um toque artístico único (no final de carreira também vestiu a camisola do Caldas). O curioso é que eu depois de escrever este pequeno texto fiquei com a sensação que faltava alguma coisa. E foi logo a "Pérola Negra" do Sado...

sexta-feira, novembro 19, 2010

Neste Inverno Já Não Chove

Pagavam uma renda baixa a um senhorio ausente, que não passava de uma conta bancária, onde todos os meses depositavam o dinheiro.
Tentaram inúmeras vezes entrar em contacto com ele, mas nunca obtiveram qualquer resposta. Os Invernos eram cada vez mais penosos, já não chovia apenas na cozinha, também caía água no corredor, na casa de banho e num dos quartos.
As paredes ficavam negras e o cheiro a humidade entrava pelas narinas e enrolava-se nos corpos.
Não tinham coragem para tomar qualquer medida, cresceram no tempo do Salazar em que a lei era para se cumprir, sempre, pelo menos para os pobres.
Os filhos culpavam-nos por nunca terem comprado uma casa, na época em que o dinheiro valia pouco.
O único que mostrou interesse em resolver o problema foi o neto, com apenas dezanove anos.
Segundo a sua opinião a primeira coisa que era preciso fazer, era deixar de depositar a renda. No inicio não concordaram, mas depois perceberam que era a única maneira de fazer com que o senhorio saísse do seu pedestal.
Três meses depois um casal bateu à porta. Faltava pouco para o almoço. Foi uma hora boa porque o neto estava presente e foi ele quem abriu a porta. Assim que eles se identificaram, exclamou: «até que enfim.» Depois fez-lhes uma visita guiada pelos cantos da casa, mostrou-lhes os tectos negros e os alguidares no chão, que evitavam males maiores em dias como aqueles, cheios de nuvens escuras.
O casal ficou quase sem palavras e prometeu arranjar o telhado, mas tinha de aumentar a renda. O neto, expedito, disse-lhes: «arranjem o telhado que depois falamos do aumento.»
Sempre acabaram por arranjar o telhado e substituir as janelas e portas de madeira por umas de alumínio. Claro que a renda não triplicou como o senhorio queria, apenas duplicou. Mas valeu a pena, os Invernos são mais fáceis de suportar, sem ter de se ter o desumificador sempre ligado...
O óleo é de Edgar Mendoza Mancillas.

quinta-feira, novembro 18, 2010

Contra Sensos Nocturnos

Encontrámos-nos e falámos de muitas coisas, inclusive da noite, dos lugares por onde passávamos e onde encontrávamos amigos comuns.


Acho que andávamos por ali, meio perdidos, à espera de encontrar alguém, ou que alguém nos encontrasse.

Uma das coisas boas, era continuarmos presos à idade da inocência, o que nos permitia suportar todas as "feira de banalidades" que eram montadas com um sorriso.

Na altura tínhamos a mania de falar da autenticidade e da beleza da noite. Descobrimos que hoje somos incapazes de falar dessas coisas. Acho que mentimos menos a nós próprios.

Nesses tempos tinha uma namorada "protegida" pelos pais e pelos quilómetros que dividiam a Capital dos subúrbios. Ela não tinha ninguém, era daquelas raparigas que fingiam não querer namorar...

Saía muitas vezes comigo, até porque na maior parte dos lugares da noite lisboeta nos anos oitenta só se podia entrar "acasalado". Passou por minha irmã, prima, raramente por namorada. Acho que isso acontecia porque a nossa intimidade ficava-se por alguns passeios de mão dada, mais no Outono e Inverno...

Mas tínhamos uma grande cumplicidade (ainda temos, estas coisas não se perdem com o tempo, mesmo que estejamos meses ou anos sem nos vermos e trocar uma palavra...), talvez por isso alguns amigos comuns pensavam que andávamos "enroscados". Não, éramos demasiado amigos para isso. Coisas que nem toda a gente percebe...

Reparo agora que fiz um desvio na prosa para falar de nós e ainda não toquei nos contra sensos nocturnos.

Passados estes anos todos, chegámos à conclusão que a noite é ligeiramente mais postiça e falsa do que pensávamos, aquela história das pessoas serem mais autênticas com a boleia das estrelas nocturnas, é um "bluff". Muitas vezes não passam de "personagens"...

Realmente passavam-se coisas muito estranhas entre a meia-noite e as três, quatro da manhã. Muita daquela gente que sorria, brincava, entre copos e música, se as encontrássemos na rua no dia seguinte, faziam de conta que não nos conheciam.

Talvez fosse por isso que descobrimos mais uma coisa em comum, as saudades desse tempo.

Praticamente nenhumas. Porque será?

Já há muito que se diz que a noite é uma mulher, mas talvez seja uma mulher pintada, como a representada no óleo de Liana Bennett...

terça-feira, novembro 16, 2010

«Não Tens Frio?»

Entrou na porta do prédio da dona Alda que morava na cave, na companhia do pai, que veio fazer as entregas. Enquanto esperava resolveu subir as escadas de madeira que tinham música. Adorava ouvir os degraus a ranger, era como se falassem uma daquelas línguas que ele não percebia, como a do homem negro que aparecia na mercearia dos pais, e que levava sempre a mesma coisa, uma garrafa de vinho tinto e um pão alentejano.


Quando chegou ao primeiro andar continuou a sua caminhada ao longo do corredor que fazia uma curva uns metros mais à frente.

Foi aí que se cruzou com uma mulher praticamente sem roupa, apenas vestia um robe que lhe tapava as costas. Nunca tinha visto uma mulher tão nua, foi por isso que ficou por ali uns segundos, com os seus olhos quase ao nível dos pelos escuros do "coração" daquele belo corpo feminino.

Ela manteve-se imóvel, com um cigarro nos dedos, olhando o pequeno com ternura. Ele antes de voltar para trás ainda lhe perguntou: «não tens frio?»
O óleo é de Pablo Santibanês Servat.

segunda-feira, novembro 15, 2010

Mestre Lagoa Henriques, um percurso de vida


"Mestre Lagoa Henriques, um percurso de vida", é o título da exposição evocativa sobre este extraordinário escultor, professor e poeta, patente na sede da "Fundação Liga", na Ajuda.
No catálogo da exposição é recordada uma das suas frases emblemáticas: «o grande problema no nosso tempo é conciliar a ética, a estética e a poética.»

domingo, novembro 14, 2010

Kátia Guerreiro no Coliseu

Graças a uma simples frase, ganhei um bilhete duplo para o concerto de Kátia Guerreiro no Coliseu dos Recreios, de ontem à noite.

Mas não pensem que se tratou de um passatempo da rádio, foi sim, do blogue
Acto Falhado, graças à amabilidade de Rita Ferro e de Isabel Rocha.

A frase foi isso mesmo, uma simples frase: «Kátia, és uma das grandes responsáveis pelo fado se ter tornado uma canção mais viva e menos pesada, sem perder o mais importante, a sua alma (tão nossa).»

Poderia ter sido um pouco mais elaborada, reconheço. O seu conteúdo para mim faz todo o sentido, pois lembro-me que com o aparecimento da Kátia Guerreiro e da Cristina Branco, o fado melhorou a sua poética e diversificou a sua musicalidade, acrescentando qualidade ao fado. E hoje temos fadistas muito bons (como nunca tivemos na história do fado), que mantêm viva a "chama" acesa pela Amália por todos os cantos do mundo...

O concerto foi muito bom, a recepção da Rita e dos seus amigos no seu camarote, do melhor que podemos desejar (apesar de ter sido vitima minutos antes dos "amigos do alheio"...).
Continuo a achar que o Coliseu é a melhor sala para concertos, pois cria um ambiente de grande intimidade entre os artistas e o público.

Obrigado Rita!

quinta-feira, novembro 11, 2010

Amor de Parede

O amor, essa coisa estranha, tão afastada das ciências exactas, continua a deixar marcas em tudo o que é lugar.


Parece coisa antiga, mas não é, ainda há quem prefira perpetuar o seu amor nas paredes, ou em caixas de "pandora".

Nem sempre são imagens bonitas, mas pelo menos fica a intenção e a mensagem de amor...

quarta-feira, novembro 10, 2010

Os Collans

Há uma peça de roupa feminina que sempre me causou alguma impressão, pelo seu aspecto escorregadio, falo dos collans (o espartilho e a cinta já não são do meu tempo..).
Não falo totalmente de cor, nos finais dos anos oitenta, princípios dos anos noventa do século passado, fazia parte de um grupo de amigos almadenses, que não dispensavam a noite de Carnaval em Sesimbra, primeiro no pavilhão e depois na sede de algumas colectividades, que já não recordo o nome. Lembro-me que uma delas realizava os bailes num salão antigo, apalaçado e engraçado.
Num desses anos de folia houve alguém que deu o mote, que tínhamos de nos mascarar de "matrafonas", já não sei com que argumento. Foi a primeira e única vez que vesti os ditos collans, por baixo da saia da irmã de um amigo.
Além de sentir que os collans eram um objecto demasiado estranho no corpo, ainda tive de passar a noite a puxá-los para cima...
O Carnaval também serve para isto, para perceber alguns porquês das peças de roupa feminina...

terça-feira, novembro 09, 2010

Os Renascentistas...

Tenho um amigo que nunca se preocupou em ser brilhante naquilo que fazia, preocupou-se sim, em ser feliz, em fazer as coisas que realmente gostava. E foi assim a vida toda.

Sempre gostou de escrever, começou pelos jornais, até chegar aos livros, de contos e de poesia.

Foi fotógrafo amador, premiado em vários salões. Imparável, ainda fez teatro amador e foi coralista.

Hoje sorri quando olha para trás, satisfeito por nunca se ter deixado aprisionar pelas vozes que lhe surrurravam aos ouvidos, que se fingiam preocupadas em que ele caísse no ridículo.

O preconceito é tramado. É a explicação plausível, para que muitas vezes não se encare a sério uma segunda escolha.
Chico Buarque, embora escreva muito bem, é olhado de lado como escritor em muitos lugares, especialmente por quem nunca leu nenhum dos seus livros. Porque o preconceito, além de cego e surdo, é quase sempre ignorante...
Adenda: Já depois de ter escrito este pequeno texto, li que o Chico tinha sido o vencedor do "Prémio Portugal Telecom", da Literatura Brasileira, com a obra, "Leite Derramado". Vêm por aí mais comichões, pela certa...

domingo, novembro 07, 2010

A Janela da Cozinha

Fomos almoçar à tua casa, mais campo que cidade, e tão perto da Serra, essa mesmo, a do poeta Sebastião da Gama.
Meio a brincar, meio a sério, lançaste-nos o desafio, de nos mudarmos para aí, argumentando que o que parece longe fica perto, graças ao comboio, que passa a meia-dúzia de quilómetros.
Mesmo assim, senti que aquele não era o meu campo. O único lugar onde descobri o "meu campo", foi da tua janela da cozinha, parecia uma visão, próxima deste excelente óleo de Amy Weiskopf...

quinta-feira, novembro 04, 2010

Escrever é Tanta Coisa...

Liberdade, claro que é, Maria.

É um dos actos mais livres que nos são permitidos, e o quanto nos liberta...

Terapia? Concerteza que sim, ainda por cima barata.

Há opções que não têm bilhete de ida e volta, a escrita é uma delas. Como muito bem disse Pedro Paixão: «ser escritor é um mistério, algo que não dominamos, que nos escapa das mãos...»

O Carlos falou de angústia, que embora nâo seja sinónimo de felicidade, podia mesmo aparecer, se eu deixasse de escrever, deixasse de dizer o que penso, deixasse de exorcitar os meus "fantasmas".

A Piedade usou a palavra gratificante. Sim, é muito gratificante quando as nossas palavras adquirem a forma de livro, quando alguém nos diz que gostou desta ou daquela história.

A Momo percebeu o que eu quis dizer. A Graça escondeu-se atrás de Torga...

Sim, Anita, fazermos o que gostamos, é o princípio da felicidade...

O problema é que há sempre um porquê. Porque escrevemos? E há sempre uma resposta com apenas duas palavras, «porque sim», e o assunto fica arrumado, independentemente de nos sentirmos felizes...

O óleo é de Pierre Bonnard.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Escrever não é Sinónimo de Felicidade

Se não escrevesse sei que existiam fortes possibilidades de ser mais feliz.


Ainda há pouco, antes das sete da manhã, fui perseguido por uma ideia para um policial, que me obrigou a levantar e a colocá-la no papel, com mais alguns desenvolvimentos e gentes, que entretanto foram aparecendo, enquanto eu me mantinha indeciso, se pegava num papel ou não.

Quando não escrevo, acabo por esquecer quase tudo. E depois fico a remoer, «lá perdi mais uma estória...«

O pior de tudo é que mais de noventa por cento destas ideias que aparecem durante e após o sono, acabam por ir parar ao lixo...

É por isso que cada vez tenho menos dúvidas, de que se não escrevesse, existiam fortes possibilidades de ser mais feliz...

A fotografia é de Peter Turnley.

segunda-feira, novembro 01, 2010

A Amante Holandesa

Acabei de ler o romance "A Amante Holandesa" de J. Rentes de Carvalho.


Gostei bastante, talvez por se tratar de um "romance à antiga", daqueles em que não precisamos de andar para trás e para a frente para encontrar o "fio à meada". E também não segue a fórmula dos livros que agarram o leitor logo às primeiras páginas, ou seja, lê-se por prazer e não por obsessão.

É a história de dois homens que misturam sonhos com realidade, sem afastarem muito as nuvens que escondem os seus mundos secretos.
Se desmontar o título, a Holanda é o espaço dos sonhos, e a
Amante, uma ilusão, daquelas que ficam para a vida toda.

Não vou contar a história, até por ser difícil de desmontar em meia dúzia de linhas.
Achei curioso as mulheres serem todas elas personagens secundárias, quase sempre envoltas em mistério, com a fantasia a ganhar vezes demais à realidade, no olhar feminino.

O espaço físico escolhido foi Trás-os-Montes, a província mais distante e rebelde do nosso país.

E como Rentes de Carvalho retrata bem esta gente rural, onde a ignorância é quase sempre atrevida, e até violenta, para aqueles que são de fora, onde as partilhas deixam tantas vezes rastos de sangue...

Foi bom este livro ser um "fura filas" e ter ultrapassado a dúzia e meia de romances que continuam a espera de espaço e tempo, para uma leitura atenta.

As saudades que eu tinha de ler aquilo que chamo de um bom romance.