quarta-feira, março 31, 2021

«Sinto saudades de muita coisa, até de ver os miúdos a correrem atrás da bola.»


Vejo-o quase diariamente. É um homem que já deve ter ultrapassado os setenta anos e que sempre vi a passear na rua. Mesmo durante estes tempos pandémicos, não perdeu o hábito de cirandar pela nossa "quinta da alegria", de máscara e com o cuidado de manter o distanciamento, mas sem se esquecer de trocar as palavras de sempre com a vizinhança.

O que mais sobressai nele é o ar simpático, que reparte com todos, sem se esquecer de mandar recomendações para os outros elementos da família. 

Um dia destes vi-o sentado no muro, com  vista para o campo de futebol do clube do nosso bairro (agora vazio de vida...). Sem perder o sorriso, disse-me: «Sinto saudades de muita coisa, até de ver os miúdos ali no campo, a correrem atrás da bola...»

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, março 30, 2021

Um "Descontrair" que é Também "Desrespeitar"...


Tenho anos suficientes de vida para saber que as pessoas gostam de misturar as coisas, mesmo as mais simples...

Não sei se é tarde, sei apenas que não é cedo para escrever, que respeito é diferente de "respeitinho". Talvez devesse escrever mesmo um texto sobre as diferenças, tirar fotocópias e distribuir por aí... Mas para quem? Quem é que o ia ler? Pois é, estes tempos (e os outros que se seguem...), passam a vida a convidar-nos a ficar no nosso cantinho, a viver e a deixar viver...

Neste caso particular, talvez a culpa seja dos "números". Mal eles começam a baixar, muitas pessoas fingem que já está tudo normal... E se voltarem a subir, faz-se o mais fácil: culpa-se o governo e a ministra da saúde.

Vi-os ao longe, eram cinco e ocupavam todo o paredão. Coloquei a máscara e esperei que imperasse o bom senso, quando nos cruzássemos. Nenhum usava máscara e nenhum se desviou de mim. Foi por isso que lhes perguntei se sabiam o que era "distanciamento social". Só um deles respondeu: «O que é que este quer?» Para depois ser ofensivo: «Vai mais é para o c...». 

Continuei a minha caminhada sem olhar para trás...

Mas fiquei incomodado. Não tanto pelas palavras, mas por sentir que esta gente, mesmo tendo nascido em liberdade, continua a precisar de um "polícia" em cada esquina...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


segunda-feira, março 29, 2021

A Idade (felizmente) Liberta-nos de Muitas Coisas...


Noto que alguns amigos e amigas, com o avançar da idade, deixam de se preocupar com pequenos nadas, tornam-se mais "transparentes". São capazes de dizer coisas que antes não diziam, reconhecem o erro com alguma naturalidade. E também duvidam mais, muito mais... é como se as "certezas" fossem engolidas pelo tempo.

Hoje li algumas palavras de Maria Keil, uma senhora que viveu muito tempo (esteve próxima do centenário de vida...). E talvez por isso foi capaz de dizer:

«Fiz muitos retratos, pintava as pessoas amigas, mas agora não gosto de pintar. Gosto de fazer retratos para guardar a pessoa, sobretudo as expressões. Mas fazer um quadro? Fazer uma natureza morta? Para quê? Fiz muitas, mas acho que não vale a pena. pego num desses grandes livros de arte, com todos aqueles grandes pintores e aquilo me emociona. O que me emociona é a forma das coisas. Se tiver um quadro muito bem composto, gosto. Mas para quê pintar uma senhora nua? Vestida ainda pode ter umas sedas. Não é por uma questão de pudor. Só constato que a arte está cheia de mulheres nuas. É esquisito.»

Foi capaz de questionar algo de que quase ninguém fala (principalmente as mulheres...) do excesso de mulheres sem qualquer peça de roupa nas paredes dos museus e das casas...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)

  

domingo, março 28, 2021

"O Quarto Segredo de Fátima"


Não deixa de ser curioso, que Vasco Pulido Valente, depois da sua última viagem, tenha deixado uma "tirada das suas" para a posteridade, dentro de mais um livro de entrevistas do jornalista João Céu e Silva ("Uma Longa Viagem com Vasco Pulido Valente"). 

Eu sei que até dava jeito ao jornalista, algo de bombástico, para ajudar a vender mais uns livros (a coisa agora está ainda mais complicada com a pandemia...) mas insinuar que Álvaro Cunhal tinha "ganas de assassino"... Não é bem insinuação, é mais "crença", nas palavras ditas pelo jornalista ao "seu" Diário de Notícias, de 20 de Março, que transcrevemos:

«Alguém tão exigente como Vasco Pulido Valente não diria que Cunhal mandaria matar Soares sem ter essa certeza. Tinha a forte crença de que Cunhal, caso fosse um vencedor político, seria capaz de querer riscar Soares dos rivais; o envolvimento político que Pulido Valente viveu à época e o facto de ter seguido Cunhal de perto enquanto jornalista não admitem que tenha dito isto de ânimo leve.»

Mais "crença menos crença", quase que se pode falar de mais um, sim, este podia muito bem ser o "quarto (ou quinto...) segredo de fátima"...

(Fotografia de Luís Eme - Fátima)


sábado, março 27, 2021

Uma Selecção Dividida entre o Bom Ambiente e o Futebol Vulgar...


Quando vejo e leio reportagens sobre a nossa selecção, percebo que todos os jogadores estão unidos e lutam pelo mesmo objectivo, muito graças às qualidades humanas de Fernando Santos, treinador e seleccionador nacional. Sente-se que ele gosta de liderar o seu grupo de trabalho como se estivesse no seio de uma família, onde o respeito e a amizade são quem mais ordena.

Mas depois durante os jogos, sinto que apesar de termos dos melhores jogadores do mundo, a equipa raramente joga um futebol próximo do nível das suas qualidades técnicas. Vou mesmo mais longe, no meio-campo e no ataque, quase todos os jogadores parecem estar "deslocados", não ocupam em campo as posições onde obtém mais rendimento. Bernardo Silva, Bruno Fernandes, João Félix, Rúben Neves, Gonçalo Guedes, André Silva (e até mesmo Cristiano Ronaldo, o "vagabundo" da equipa...), perdem-se mais do que se encontram durante os jogos...

É por isso que me interrogo, muitas vezes: "o que é mais importante numa Selecção, a criação de um bom ambiente ou a maximização das capacidades técnicas dos atletas?"

(Fotografia de Luís Eme - Vila Real de Santo António)


sexta-feira, março 26, 2021

Maldito "Guiness" e essa Mania (apenas mania) de "Sermos os Melhores do Mundo"...


Podemos dar a volta ao "livro dos recordes" e ver o que é que ainda se "pode inventar". E realmente pode fazer-se muita coisa (cuja importância é quase nula, se esquecermos o registo no tal livro...), desde a maior feijoada do mundo servida em não sei quantos quilómetros ao maior pão de ló do mundo, que é capaz de coçar o ego a alguns portugueses, seres cuja felicidade na terra, quase que se resume às vitórias dos seus clubes... Mas que está longe de fazer de nós, "os melhores do mundo".

Embora as generalizações sejam terríveis, a "vida tal como ela é", prova-nos, quase diariamente, que os nossos políticos, empresários, juízes, polícias, jornalistas, professores, funcionários públicos, etc, estão bem mais perto dos "piores" que dos "melhores do mundo".

Era bom que em vez de se tentarem bater "recordes" - que não servem para nada -, uníssemos forças e talento para sermos apenas melhores naquilo que fazemos (sem estarmos a pensar em ser os "melhores do mundo"). Ficávamos todos a ganhar.

Claro que isso só acontecerá quando começarmos a dar importância ao que realmente interessa e não "às coisas pequeninas" que nos rodeiam.

Nota: São capazes de ficar a pensar, "o que é que este está para aqui a falar, que não disse nada?", por não ter sido especifico. Mas não preciso. Na política são casos e mais casos diários, na justiça nem é bom falar, os polícias são bons a "bater e a prender pobres diabos" (o que aconteceu em Corroios envergonha qualquer polícia do mundo), os jornalistas vivem sobretudo das tais "coisas pequeninas". E das restantes áreas nem vale a pena falar...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


quinta-feira, março 25, 2021

Quase Todos os Dias Aparece uma História (dessas que nos deviam indignar)...


Foi preciso uma ministra sueca incomodar-se com a passividade dos nossos governantes e fazer o papel que devia ser nosso: tentar reduzir a nossa dimensão do "paraíso fiscal", especialmente para reformados dos chamados países ricos da Europa, isentos de pagar impostos e com os mesmos direitos dos portugueses, se quiserem ter uma segunda casa em Portugal.

Que maravilha que deve ser, abandonarmos o frio e o escuro e virmos gozar o calor e a luz deste país do sul do Mediterrâneo (e ficar a "tostar" na praias e esplanadas, na companhia de umas cervejolas e uns tintos...).

E nem vou falar dos "bandidos" de todas as partes do mundo, com dinheiro para comprar os não menos famosos "vistos dourados", com a arte de fingir mudar de vida...

E nós, além do clima, que é de facto bom, não temos muito mais para saborear. Continuamos a pagar impostos e a receber ordenados que nos deviam envergonhar, embora os "patrões" insistam que não é possível aumentar mais o ordenado mínimo...

(Fotografia de Luís Eme - Vila Real de Santo António)


terça-feira, março 23, 2021

Nem Isso é Vantagem (pelo menos no nosso país)


Nestes tempos "amarelos", passo os dias rodeado de papéis, alguns também já de cor amarelada (os jornais gostam de ir mudando de cor...). Vou lendo, arquivando e deitando fora, mas há sempre um ou outro pormenor que fica. Embora a política seja o que menos me desperta interesse, acabo por fazer algumas ligações, que parecem ter ficado mais óbvias, à distância de vinte e mais anos.

Tenho bastantes recortes do jornal da minha cidade natal (Gazeta das Caldas), que me fazem perceber o quanto foi nefasta a perpetuação no poder de um senhor com o mesmo apelido do nosso primeiro-ministro como presidente de Câmara. O quanto se perdeu por teimosia, burrice e arrogância política...

Nem a situação geográfica das Caldas, bem no centro do Oeste - com as cidades de Peniche, Nazaré, Alcobaça e Bombarral a pouco mais de vinte quilómetros e as praias da Foz do Arelho e São Martinho do Porto a pouco mais de dez e Óbidos a cinco (manteve com este Município e com o seu presidente uma "guerra" aberrante, desbaratando o muito que foi feito pelo desenvolvimento da Vila, e eram da mesma força política...) -, foi aproveitada para manter e desenvolver a sua notória importância comercial, turística e cultural.

Se fôssemos um país normal, pessoas como este senhor, que se perpetuavam no poder entre os vinte e os trinta anos (abençoada lei que fixou o número máximo de mandatos autárquicos...), não poderiam fugir das suas responsabilidades, do muito mal que fizeram às suas terras. Ou seja, era impossível "empurrarem" a culpa para os outros, porque muitos dos erros cometidos estão fixados no tempo e na história.

Mas como todos sabemos, nem o facto de se conhecer os responsáveis pelos muitos "desmandos", que se fizeram de Norte a Sul, é uma vantagem no nosso país, onde continua a reinar a impunidade (muito graças à nossa justiça e ao nosso poder político...).

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, março 22, 2021

Lutar contra o Amanhã


Faz-me confusão que gente com filhos e netos, continue a "fingir" que as alterações climáticas não passam de uma "invenção" de ambientalistas lunáticos.

No seu mundo o mais importante continua a ser, ser-se bem sucedido. Este bem sucedido é normalmente sinónimo de se "ganhar muito dinheiro". E para conseguirem estes objectivos, as preocupações ambientais vão sempre para o "fim da lista", o que querem é tirar tudo o que puderem das suas terras, no mais curto espaço de tempo.

Quando lhe falamos do amanhã, sorriem. Depois acrescentam, com uma piscadela de olho, que o amanhã não existe...

(Fotografia de Luís Eme - Almada) 


domingo, março 21, 2021

Quando a Poesia Ajuda a Sobreviver


A poesia não se limita a aproveitar o melhor e o mais bonito que existe no mundo das palavras, para expressarmos o que sentimos. Pode também ser uma boa ajuda, para suportarmos um pouco melhor a "febre dos dias" (bons, maus e assim a assim...). É por isso que há quem expulse os demónios que tem dentro de si, através de poemas, quase numa catarse, ao ponto de nem sempre se reconhecerem no que escrevem...

Conheço mesmo algumas pessoas que sofrem de esquizofrenia e que escrevem poesia. Escrevem por necessidade, para se libertarem, mas também para se encontrarem com eles próprios. E felizmente às vezes conseguem...

Por saber que a poesia pode ser uma ajuda para vivermos melhor, um dia de cada vez, preferi falar disso, em vez de publicar um poema, neste bonito Dia Mundial da Poesia.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, março 20, 2021

Os Escritores Imaginários Quase que não Cabem Neste Mundo...


Às vezes penso que os escritores deviam ser todos como a Elena Ferrante, seres quase imaginários, sem um retrato físico e psicológico real. Ou seja, cada leitor podia fazer o esboço que quisesse, oferecer-lhe um rosto, um corpo, à sua medida.

O livro é que devia ser importante, as palavras é que deviam fazer o "retrato" do escritor.

Claro que se isso acontecesse, seria o fim das muitas "feiras de vaidades" (quase tudo serve para o uso da "estrela de famoso",  um colóquio, um lançamento ou ou festival literário...), das entrevistas dos escritores cheios de si mesmos (são tantos...) e das filas de gente em busca de um nome para enfeitar o frontispício dos livros. 

A única dúvida que tenho, é se se venderiam menos livros. Umas vezes penso que sim, outras que não. Se por um lado há quem goste de "mistérios, por outro, há um nicho de mercado que compra "nomes e lombadas", que assim que entram em casa, vão logo directos para a estante...

Mas claro que é algo cada vez mais difícil de acontecer, porque quase todos os escritores gostam do seu "momento de fama", dos cinco minutos roubados aos cristianos ronaldos... Quase que me apetece dizer que os "escritores imaginários" quase que não cabem neste mundo...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, março 19, 2021

Dia do Pai e Dia da Mãe...


Hoje que é dia do pai, lembrei-me sobretudo da minha mãe.

O meu pai já não está cá há quase duas décadas. Partiu cedo demais... Mas não precisa de um dia, para me recordar dele. Felizmente encontramo-nos muitos dias, aqui e ali, por isto e por aquilo. E é sempre bom...

Mas lembrei-me da minha mãe, por continuar igual. Apesar da idade e de alguns percalços de saúde, continua a pensar mais nos outros que nela própria. Vive mais preocupada com os filhos e netos, que com ela própria...

Normalmente as Mães são mais assim que os Pais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, março 18, 2021

«A vida é uma merda!»


Foi um grito de revolta de um só homem, que fez um eco diferente na rua quase vazia. 

O grito ficou-me na cabeça por uns instantes, por saber que é dito por poucos e pensado por muitos, especialmente neste tempo, em que viver é realmente estranho, quase martirizante, e pode mesmo "cheirar mal"...

Antes de abandonar a frase curta tive vontade de sorrir, pela capacidade que algumas pessoas têm em "abreviar", aquilo que quase se pode dizer, ser um sentimento comum...

Por ser uma frase tão óbvia, apeteceu-me escolhê-la como título deste pequeno texto, sem sequer me dar ao trabalho de a "pedir" ao homem que caminhava com uma bengala na mão e com a máscara a descer-lhe pelo pescoço, para ser mais fácil dizer, livremente, o que lhe ia na alma: «A vida é uma merda!»

Pois, é uma daquelas frases que não deixam dúvidas, a ninguém.

 (Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, março 17, 2021

"Um Burocrata na Quinta (e na sexta)"


Graças aos múltiplos exemplos de gente incompetente, que mais não faz que atrasar (e atazanar) a vida aos outros, comecei a escrever mais uma "peça de teatro" (para a gaveta...).

Até visualizei o palco, dividido ao meio (com o público a assistir aos dois espaços: a repartição com gente à espera de vez, e o seu gabinete, para onde se ausentava e onde ficava largos minutos, a fingir ir em trabalho, para logo se sentar na cadeira a ler o jornal - sem se esquecer de colocar os sapatos em cima da mesa...), com as pessoas a esperarem e a desesperarem do lado de lá...

E quando voltava de novo ao atendimento, tornava o fácil, difícil. Um qualquer documento, que podia ser facultado em menos de uma hora, demorava uma semana no mínimo a ser entregue...

Era mesmo um "burocrata na quinta (e na sexta)", um exemplar demasiado fácil de encontrar em qualquer serviço público...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, março 16, 2021

O Golpe das (minhas) Caldas...


Hoje passa mais um ano do golpe falhado que partiu, com bilhete de ida e volta, das Caldas, que ganhou o seu dia quase revolucionário: o "16 de Março".

Por ser um dos primeiros actos subversivos que conheci (o pai de um dos meus melhores amigos, assistiu a tudo, de binóculos, numa vivenda do Avenal (área de residência com vista para o então RI nº 5 (regimento de infantaria número cinco), porque o "golpe" foi falado na cidade onde cresci e vivi até aos dezoito anos, até mesmo por "putos" de onze anos, que frequentavam o primeiro ano do ciclo preparatório.

Ao longo dos anos fui escutando várias versões desta tentativa de golpe militar. E cá vez estou mais convencido de que foi de facto um "contragolpe" spinolista. Como o general se sentia "fora do baralho", pois embora tivesse conhecimento do que se passava, estava quase a "leste do paraíso" em relação ao MFA. E como Spínola devia delirar com medalhas, era um daqueles militares com "apetites de herói", não queria passar ao lado da Revolução...

O mais curioso, foi ter sido Marcelo Caetano a trazê-lo para a história da Revolução de Abril, com a quase ameaça de só entregar o "poder" ao general do monóculo, para este não ficar caído na rua...

Esta minha opinião baseia-se em várias conversas que tive com "Capitães de Abril", na leitura de entrevistas com alguns intervenientes e também no meu "sexto sentido" (a intuição vale mais do que se pensa na história...).

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, março 15, 2021

O "Desaparecimento" dos Poemas...


Não sei se fui eu que me cansei dos poemas, se foram eles que se cansaram de mim.

Nunca foram muito constantes, mas houve períodos em que apareciam com frequência. Era por isso que os esperava com um papel (de qualquer tipo e tamanho) e com um lápis e depois tentava dar-lhes uma forma de vida. 

Muitas vezes perdiam a poesia durante a noite. De manhã, quando os relia, percebia que já eram outra coisa. 

Acho que foi por isso que quando sentia a sua aproximação, ficava quieto, resistia a tentação de pegar num papel e no lápis, quase num "finca-pé", a ver quem é que desistia primeiro.

Não devem ter gostado deste jogo e deixaram de aparecer...

Às vezes tenho saudades deles, outras nem por isso.

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


domingo, março 14, 2021

O Capitalismo no Seu Melhor


O "negócio" das vacinas demonstra mais uma vez que o capitalismo nunca perde tempo com moralismos ou questões de ética, nem mesmo quando estão em causa vidas humanas.

Pouco interessa às empresas os contratos já assinados, por exemplo com a União Europeia, se entretanto lhes aparecerem ofertas mais vantajosas de outras nações. 

O dinheiro fala mais alto, como sempre, ponto final.

(Fotografia de Luís Eme - Quinta da Arealva)


sábado, março 13, 2021

Defender a Legalidade e a Transparência


Dediquei dois textos à "indefinição" profissional que existe em quase todos os sectores da Cultura, por sentir que ela abarca, em simultâneo, as profissões mais desprotegidas e também os sistemas de acesso profissional mais abertos. Vou dar dois exemplos do que acontece actualmente: para alguém entrar numa telenovela, basta ter um "palminho" de cara e ser convidado, o talento ou o conservatório, passam para segundo lugar. O mesmo se passa com qualquer cantor. Basta ele decidir que quer cantar e aí temos nós mais um "artista da tv e cassete pirata", colocado no mundo.

Tudo isto para dizer que o que está acontecer no futebol, com Ruben Amorim, não tem qualquer comparação com a Cultura, porque neste desporto as coisas estão bem legisladas em relação à profissão de treinador. Mas mesmo assim há sempre alguém que "fura as regras" (os dirigentes continuam a achar que "podem fazer tudo", até contratar treinadores sem habilitações...), com a conivência das instâncias superiores. 

Numa primeira análise, quase todos temos a tentação de ficar do lado de Ruben Amorim (por ele ser muito bom...) e do Sporting. Mas as coisas não são assim tão simples. 

Eu percebo quais são os objectivos da Associação de Treinadores de Futebol em todo este processo: ela pretende acabar, de uma vez por todas, com as ilegalidades cometidas por alguns dirigentes, que contratam treinadores sem a formação adequada, como adjuntos, embora toda a gente saiba que serão eles os técnicos principais das suas equipas...

Embora se trate de uma acção pouco popular, e o Ruben Amorim esteja a ser usado como "bode espiatório", a Associação de Treinadores apenas pretende tornar o futebol mais transparente, acabar com algo a que os órgãos de decisão da Liga e da Federação têm fechado sistematicamente os "olhos". 

Claro que esta Associação podia, e devia, ter agido há muito mais tempo (estas "chico-espertices" duram há pelo menos uma década) e não ficar à espera que um excelente técnico, mesmo "não habilitado" - e sem uma equipa de "milhões" -, esteja cada vez mais perto de ser o próximo Campeão Nacional.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, março 12, 2021

A Boa "Aparição" de Vergílio


Voltei a ler Vergílio Ferreira e a  minha satisfação por este reencontro fez com que pensasse na história do meu "regresso" aos livros como leitor a sério. 

Pois é, há sempre um ou outro acaso, à nossa espera, para mudar o rumo dos nossos dias... Ir dar aulas para Vila Franca de Xira e apanhar o comboio que levava mais de três quartos de hora entre as estações de Santa Apolónia e da bonita terra ribatejana, fez com que tivesse de inventar alguma coisa para "reduzir" este tempo, mesmo que a viagem à beira Tejo não fosse das mais desagradáveis.

Sei que um dia levei um livro e nunca mais parei (raramente tinha companhia para a conversa...). Depois descobri que a escola tinha uma excelente biblioteca e tornei-me um dos seus principais requisitantes. O curioso foi a minha insistência nos autores que mais gostava de ler (li praticamente todos os livros que existiam naquelas estantes, escritos por Camilo, Hemingway, Aquilino, Amado ou Steinbeck...), sem nunca experimentar a desilusão.

Era mesmo este o ponto. Mas quando começo a escrever mudo de "rua com facilidade"... 

Estamos sempre um mudança, mesmo sem nos apercebermos. Com o tempo, fui gostando de muitos outros autores, mas não continuei atrás deles (talvez por nunca mais ter sido tão assíduo de bibliotecas...), como neste começo delicioso de leituras. Vergílio Ferreira foi um desses autores que nunca me desiludiu, mas não "persegui". Sempre senti que é um dos nossos grandes escritores. É por isso que estranho só agora estar a ler a sua aclamada "Aparição" (e estou a gostar bastante...).

Sem querer tirar qualquer mérito a Saramago ou a Lobo Antunes, Aquilino, Vergílio e Cardoso Pires, são os meus escritores do século XX.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, março 11, 2021

Quando a Escolha entre os "Bons" e os "Maus", é mais Difícil do que o que Parece...


Como faço parte das "culturas", é normal que tenha mais conversas sobre estas áreas, tão complexas, por funcionarem muito em "roda livre".

Um meu amigo disse-me que há gente a mais nas artes e que era necessário haver uma "autorregulação", que as pessoas tinham de perceber que nem toda a gente pode ser artista, como nem todos podem ser engenheiros ou médicos. E deu-me como exemplo as respectivas ordens, que limitam o acesso a estas duas profissões.

Embora ele tivesse alguma razão, escolheu dois maus exemplos. Até porque as dificuldades que existem (todos dizem que são demasiadas...) no acesso a estas profissões, ainda não conseguiram acabar com a existência de maus médicos e maus engenheiros.

Ou seja, será sempre muito difícil escolher quem são os "bons" e quem são os "maus", porque o talento natural raramente consegue ser passado para o papel, em qualquer teste que não se afaste muito da "teoria".

O melhor exemplo que lhe consegui dar foi o do mundo das canções. Provavelmente, a existência de uma espécie de "ordem dos artistas", não iria travar a existência de tanto cantor e cantora sem talento, que nos entram pela casa a dentro aos domingos à tarde, que nunca conseguiriam passar da primeira fase de selecção nos concursos de talentos televisivos (onde se descobrem rapazes e raparigas, que dão "vinte a zero" a estes cancionistas de arraial).

Mas sim, é necessário fazer alguma coisa. Até porque não existe mercado para tanta gente. Há muito mais músicos e actores, que concertos de música, peças de teatro ou telenovelas...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quarta-feira, março 10, 2021

Não vamos lá pela Cultura, com toda a Certeza (pelo menos com a que temos...)


Às vezes estamos tão perto das coisas, que não lhe damos a devida atenção.

Foi a minha mãe, durante um telefonema menos breve, que me "falou" das pessoas de Almada que estão a viver com dificuldades, sem serem os "pobrezinhos" dos bairros clandestinos e dos outros, que lhes chamam "sociais".

Foi quando me lembrei que Almada é uma terra de múltiplas culturas. Claro que não estou a pensar nos políticos cá da terra, que sempre encheram o peito, quando falavam de "cultura". Falo sim dos músicos, actores, bailarinos, artistas plásticos, técnicos (escritores não... esses fazem parte de um mundo à parte da cultura, dos "endinheirados" que não precisam de apoios...). E acabei por escrever sobre isso no "Casario".

Claro que havia muita coisa a dizer sobre isto. Mas somos sobretudo uns "brincalhões", que gostam das culturas... uns para se promoverem e ficar bem na fotografia (olá políticos), outros para criarem e se divertirem. Já me estava a esquecer, há ainda uns poucos, que ganham uns céntimos com estas coisas...

(Fotografia de Luís Eme - Quinta da Arealva)


terça-feira, março 09, 2021

Sei que não Nasci para ser Carneiro


Sempre fui curioso, sempre gostei de perguntar coisas (isso explica o jornalismo...). Também desde cedo senti quando me estavam a "enrolar" ou simplesmente a "ficcionar a vida" (às vezes tem de ser...).

O meu avô era extremamente honesto. Nunca esqueço o que avó nos contava, quando queria falar do seu "excesso" de honestidade. Lembrava os primeiros anos de casada, a minha mãe ainda  era pequena e ele trabalhava como feitor de uma das quintas  que rodeavam as Caldas (ela falava das "pereiras" e não dos "pereiras", não sei porquê...). Ele andava altivo, a cavalo. Às vezes visitavam-no e aproveitavam a fruta caída do chão para saciar o apetite, em tempo de "vacas, galinhas e demais animais magros". Ele que não as queria a colher o que não era delas, logo lhes dava uma reprimenda e chamava-lhes "gulosas"... Embora o avô fosse excessivo, a avó dizia isto com orgulho.

Além disso, eu também gostava do jeito do avô para "ficcionar a vida". Como gostava das suas estórias...

Quando comecei a escrever era para falar de uma outra coisa, mas entretanto apareceram os meus avós maternos (e é sempre um prazer recebê-los...) e... Mas vamos lá, à forma como nos tentam levar à certa, com uma cada vez maior panóplia de métodos de controlo e de persuasão (duplicados ou triplicados em pandemia...), tentando que deixemos de pensar pela nossa cabeça, que usemos um "conhecimento" e um "pensamento" cada vez mais imposto.

E a única coisa que me apraz dizer, é que sei que não nasci para ser carneiro...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, março 08, 2021

Vento, Velas, Dias, Mulheres...


O vento sopra lá fora, quase a querer fazer uma sonata (embora ele tenha demasiados andamentos). 

Talvez esteja forte de mais para velejar, com mudanças bruscas de direcção... 

Talvez.

Embora o mundo ainda continue demasiado desigual para o meu gosto, felizmente há mulheres que gostam de velejar. 

Pois é falo do vento e de velas, porque já não sei que faça ao 8 de Março. Sinto que esta coisa das mulheres terem um dia por ano, para festejar, é tão "machista". É por isso que bom bom, é festejar o Dia da Mulher a seis, a sete, a nove... ou a vinte. Sim, todos os dias que nos apetecer, muitos, quase todos...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sábado, março 06, 2021

Cem Anos de História e de Luta


O PCP faz hoje a bonita idade de 100 anos, que só está ao alcance de poucos. Não é por acaso, que é o único partido político português a conseguir chegar a esta bonita idade.

Continua a ser o partido em que votei mais vezes (a primeira vez que "venci" umas eleições foi quando vim viver para Almada...), porque me sentia bem representado pelos seus parlamentares. Não esqueço a acção política de Álvaro Cunhal, João Amaral, Octávio Teixeira ou Lino de Carvalho, entre outros bons tribunos.

O facto de sempre ter tido amigos e familiares comunistas, que eram (e são) realmente um exemplo de cidadania e de solidariedade, fez com que sempre fosse próximo (sem deixar de ser crítico, em muitas situações...), quase um "primo (ligeiramente) afastado".

(Fotografia de Luís Eme - a partir de um cartaz em Almada)


sexta-feira, março 05, 2021

Dividido entre Abandonos e Ocupações...


Há poucos dias, durante uma das minhas caminhadas, vi uns fulanos ao "ferro" nas instalações devolutas do "Clube Lisnave" e também da velha empresa da Margueira.

Vi que havia dois novos buracos na rede e dois dias depois entrei lá dentro, para tirar algumas fotografias (o retrato de ontem é de lá...). Acabei por me cruzar com os dois fulanos, que pelos vistos ainda não tinham levado o ferro todo. Sem que eu perguntasse, um deles tentou justificar-se, contou-me que estava desempregado e andava por ali a ver se arranjava uns cobres. Respondi-lhe para estar à vontade, só estava a tirar fotografias. Minutos depois o outro passou por mim a alguma distância, e provocador, disse: «Não me queres tirar também uma fotografia?» A minha resposta foi um virar costas.

Fiquei a pensar que uma parte das instalações, que devia ser de escritórios, ainda estava com bom ar (esquecendo o vandalismo do costume...), e que podia ter tido outra vida, outra utilidade, e nunca o abandono. Também pensei que nunca fora ocupada pela "gente sem eira nem beira", por se encontrar à beira da estrada.

Foi então que "regressei" ao Ginjal, porque dias antes tinha descoberto que a casa da Júlia (a última moradora oficial do Ginjal...) estava de novo ocupada, mas com uma inovação: desta vez tinha electricidade e tudo. Da janela da sua cozinha vi uma lâmpada florescente e ouvi música, além de vozes a cantar. Na altura pensei na "arte e engenho" desta gentinha, que consegue ir buscar luz, onde ninguém espera...

Também fiquei dividido em relação a estes espaços abandonados. Sei que se estiverem desabitados a degradação e a destruição é muito mais rápida, a melhor solução era oferecer-lhe uma nova "família". Mas também sei que uma boa parte destes "ocupas", quando abandonam estas "casas de abrigo", deixam-as sempre muito pior do que as encontram...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, março 04, 2021

Quando uma ou Outra Árvore Estranha é Confundida com a Floresta...


O texto de ontem motivou algumas conversas com amigos. A opinião é unânime: estão a "matar o jornalismo", dentro das próprias instituições de informação. 

Pode - e deve - falar-se de um processo lento que já se arrasta há mais de uma década, quando se começaram a misturar demasiados interesses com o jornalismo. 

As dificuldades financeiras fizeram com que uma boa parte das empresas de comunicação social fossem adquiridas por pessoas que não tinham qualquer relação com o jornalismo. A única coisa que lhes interessava era o "negócio" (ou para ser mais preciso, os outros negócios que possuíam e precisavam de ser promovidos, com algumas "notícias felizes"...).

Um amigo das culturas foi mais longe e disse-me que eu era um lírico e que o jornalismo nunca fora livre e independente, em momento nenhum. Contou-me meia-dúzia de episódios sobre pressões exercidas nas direcções de jornais onde trabalhara (a maioria partidárias...). Eu contra-argumentei que as chefias poderiam estar comprometidas e enviar recados para a redacção, mas sem se imiscuírem  nos factos. Era impossível "abafar" uma notícia ou reportagem importante, que estivesse bem fundamentada...

Foi então que resolveu trazer os "críticos" para a conversa, dizendo que a maior "vergonha" dos jornais eram os "gajos" que escreviam sobre livros, discos, peças de teatro ou fitas de cinema. Raramente eram honestos. Escreviam por "amiguismo" ou "ódio de estimação".

Claro que quando generalizamos, estragamos tudo. E muitas vezes damos mais atenção a uma árvore estranha, que ao resto da floresta... 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, março 03, 2021

As "Fábricas de Factos" (ou quando o jornalismo parece ficção...)


Hoje li um artigo de opinião no Diário de Notícias, escrito Pedro Tadeu, elucidativo sobre onde já vai o "mundo da manipulação" de notícias nos jornais, rádios e televisões.

Nada que seja muito de estranhar, e que leva as pessoas a verem cada vez menos notícias (é o que faz uma boa parte das que conheço...). O mesmo se passa com o "comércio" dos jornais, com mais moscas que leitores, agora que o tempo começa a aquecer.

Já não me lembro do dia em que vi esta notícia no nosso maior pasquim, sei que aproveitei logo o momento para tirar uma fotografia. Quando se coloca na capa de um jornal: "covid faz cair consumo de viagra", como manchete, está tudo dito (ou está tudo maluco...).

E na televisão do grupo, as coisas têm sempre tendência para piorar (muito). As notícias parecem ter muito de "faroeste", como se viessem acompanhadas de pistolas, facas e sangue.

Claro que eles sabem o que é bom para o negócio. Isso explica a obsessão pelo Benfica dia sim dia sim (talvez encha sofás em casa, agora que não pode encher estádios...), com uma aposta forte nas demissões de Luís Filipe Vieira e de Jorge Jesus. Por exemplo na véspera do FC Porto-Sporting, o jogo entre os dois primeiros classificados, em vez de se falar das tácticas do Amorim e do Conceição, só se falou do Benfica, de Luís Filipe Vieira e Jorge Jesus... E a "novela" continua, diariamente. O episódio de hoje era sobre o buzinão "Rua Vieira", rente ao Estádio da Luz.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, março 02, 2021

Quatro Milhões no "Laréu"...


Não sei quem é que se deu ao trabalho de "descobrir" esse número redondo, e quase grande, dos quatro milhões de portugueses, que resolveram sair de casa, ao sábado ou ao domingo (não fixei, estou a ficar esquecido...).

Das duas uma (pois era, podiam ser três...):  estamos a ser mais vigiados do que pensamos... ou então há alguém que tem uma capacidade "paranormal" de contar pessoas que andam no "laréu", desde o Algarve até ao Minho, ao ponto de chegar a este belo número.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, março 01, 2021

Viagens Dentro e Fora de Nós...


Estes tempos, continuam a "não serem tempos" para viajar, pelo menos, fisicamente. É por isso que há sempre um ou outro livro, que promete levar-nos, aqui e ali, quase sempre com mais pormenores que os que costumamos encontrar nas verdadeiras viagens. 

E se forem como eu, que não faço planos muito elaborados por gostar de ser surpreendido pelos próprios lugares, pior ainda, em relação ao tal "sumo da viagem".

Lá estou eu a desviar-me... Queria escrever sobre o facto de a nossa riqueza geográfica não ser bem aproveitada pelos viajantes-escritores (andámos por aí espalhados pelos cinco ou seis cantos do mundo, e parece que só o Fernão Mendes Pinto, que também escolheu esta margem para ficar, é que nos contou, muito bem, as suas muitas aventuras e desventuras, na forma de livro  - Camões não conta, tudo aquilo é poesia).

Talvez partissem, sobretudo iletrados... gente com pouca instrução. Os outros, com mais imaginação e saber,  pensavam que lhes bastava "partir" de viagem, nos passeios, curtos ou longos à beira do Tejo ou do Atlântico.

Mas não bastava. Nunca bastou. E é por isso que não existem muitos romances sobre Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé, Macau ou Timor (e nem vou até ao Brasil ou à Índia...).

Tal como nunca fizemos séries ou filmes sobre os grandes protagonistas da história e sobre as nossas epopeias (sei que hoje o "politicamente correcto" é fingirmo-nos envergonhados pela nossa linhagem de conquistadores e descobridores, mas eu estou-me borrifando para tudo o que é "demasiado faz de conta" ou para se "ficar bem na fotografia"...).

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)