quinta-feira, dezembro 31, 2020

O Velho Erro de se ir Atrás (e a frente) do Mais Fácil...


Acho que só no amor é que gostamos de ir atrás de histórias difíceis e estranhas, que nos fazem feridas e que demoram  algum tempo a cicatrizar.

De resto procuramos vezes demais o que parece fácil. É também por isso que se vê tanta gente a "fingir" que é possível apagar o ano de dois mil e vinte, e a dizer que é um ano para esquecer. E acaba por ser um consolo de ir atrás deste "disco", mesmo que tenha riscos...

Mas não. Este ano é para tudo, menos para esquecer. Eu sei que além de termos a memória curta, somos péssimos em matemática, mas não podemos virar a folha do calendário e acreditar em todos os "milagres" que estão a "colar" ao ano de dois mil e vinte e um.

Eu sei que custa, mas faz-nos bem deixar uma ou outra coisa má por esconder. Talvez nunca tenhamos sido tão "esquecidos", tão "roubados", tão "presos"... e sim, também tão "abandonados". A única coisa que há para apagar é este "talvez".

E a sensação de perda esteve longe de ser uma ilusão, aliás, desilusão. Perdemos pessoas de quem gostávamos (a um ritmo estúpido, sem nos despedirmos com devíamos). Perdemos empregos (ou sentimos que eles estão na "corda bamba", à espera dos tais "melhores dias", que vão tardar, tal como os bons patrões - esses raros, que não olham para todas as "crises", como oportunidades para ganhar ainda mais dinheiro...). Perdemos sorrisos. Perdemos amores.

Também ganhámos algumas coisas... além de peso. O espelho mostra-nos umas "olheiras" diferentes, mais profundas... E o que dizer da mudança de cor do cabelo? Talvez o cinzento fique na moda...

Se vontade de "fugir" foi recorrente neste ano maldito, agora segue-se a vontade de "esquecer", de apostar tudo nos "melhores dias"... Só que a "fera" ainda está cá. E é capaz de nos perseguir por todo o lado. 

Talvez não seja má ideia adiar a passagem pelo cabeleireiro para pintar os cabelos cinzentos que foram aparecendo, quase sem avisar, atrás, à frente e de lado. Talvez seja bom não esquecer, pelo menos nos tempos mais próximos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, dezembro 29, 2020

O Microclima do Oeste e o Frio Oceânico...


Hoje fui almoçar com a minha mãe e com o meu irmão e antes resolvi passar pela praia que gosto de chamar "da minha vida". Essa mesmo, a Foz do Arelho. 

Embora estivesse um frio quase de "rachar", gostei de ver aquele mar mexido, onde dei tantos mergulhos na adolescência e começo de idade adulta, com meia-dúzia de amigos inesquecíveis.

Curiosamente, durante a viagem Almada-Caldas, senti que o microclima do Oeste nem sempre funciona de uma forma negativa. Atravessei Lisboa com chuva ligeira, mas depois de Loures comecei a ver o Sol a espreitar, que acabaria por me acompanhar durante toda a viagem.

No regresso a casa aconteceu a mesma coisa. Embora não tenha apanhado chuva, notei que quando estava a passar por Torres Vedras ainda havia vestígios de água na auto-estrada (que devia ter caído minutos antes...). 

(Fotografia de Luís Eme - Foz de Arelho)


domingo, dezembro 27, 2020

A Arte de Rua de Elgee na Arealva


As paredes dos velhos armazéns abandonados do Ginjal há mais de duas décadas que são pintadas por múltiplos adeptos da "Street Art". Só alguns, realmente diferentes (para melhor...), é que conseguem manter-se por mais que meio ano. Os outros são cobertos por novas pinturas, que muitas vezes não passam de inscrições ou nomes simbólicos, pouco ou nada artísticos.


Outro espaço "maravilha" para estes artistas são as ruínas da Quinta da Arealva, que também fica na margem do Tejo, mais próxima da Ponte 25 de Abril. 



Neste lugar especial há um Artista que dá nas vistas, graças à sua qualidade e bom gosto temático. Além de um quase "jardim zoológico" que anima muitas das paredes (acabei de  os publicar no "Casario do Ginjal"...), há desenhos que querem transmitir mais alguma coisa e que publicamos aqui, com a devida vénia a Elgee, de quem não sabemos nada, a não ser que tem um enorme talento...

(Fotografias de Luís Eme - Arealva)


sábado, dezembro 26, 2020

Uma Boa Leitura, Mesmo que "Semestral"...


É raro acontecer, mas aconteceu. Tive um livro seis meses na minha mesa de cabeceira, que fui lendo desde o começo do Verão até este Inverno, que nos trouxe o frio nestes últimos dias de Dezembro, para nos lembrarmos da "essência" da estação.

Falo de "Memórias para o Ano 2000" de José-Augusto França, um livro cheio de pessoas e de acontecimentos. Talvez por isso seja tão pesado - literalmente - e denso (cada página representa duas de um livro normal)...

Devo desde já informar que esta passagem de tempo não aconteceu devido à falta de interesse da obra (nunca pensei em desistir de o ler...). Normalmente estes livros de memórias, são para se irem lendo (a não ser que sejam escritos como se de romances se tratassem...), para irmos fixando os episódios vividos, ao mesmo tempo que situamos as pessoas que vão aparecendo nas suas páginas na época. Há sempre um ou outro acontecimento mais pitoresco, assim como uma descoberta (feliz ou infeliz...) sobre alguém, que até podemos ter conhecido, mesmo que apenas trocássemos um bom dia ou uma boa tarde. E naturalmente, os romances que também vamos lendo, "ultrapassam" este género literário, tanto pela esquerda como pela direita...

Gostei também de conhecer o José-Augusto França, que foi bem mais importante para a cultura portuguesa do que eu pensava. Não conhecia o seu percurso como professor universitário, conhecia apenas o jovem "surrealista", o crítico de arte, o organizador de eventos (exposições, colóquios, homenagens, etc) e o publicista (tinha noção que escrevia muito, mas menos do que a obra referencial que nos deixou...). Também não fazia ideia que a sua passagem pela Fundação Calouste Gulbenkian tivesse sido tão rica, pois foi muito mais que o director da "Colóquio-Artes" (uma revista de referência no mundo artístico, desaparecida no final do século passado...). Até presidiu a Gulbenkian de Paris. Aliás uma boa parte da sua vida foi dividida entre França e Portugal.

Além de romances, gosto muito de ler livros de memórias. Gosto de saber como se vivia noutros tempos e também de tomar contacto com alguns pontos de vista, mesmo controversos, sobre qual foi o papel de várias personagens, em alguns episódios importantes da nossa história. Até por saber que há demasiadas pessoas que se colocam a jeito para ficarem "na fotografia", ocuparem cargos pomposos, mas que não deixam qualquer marca, não fazem rigorosamente nada para mudar, ou para melhorar as coisas à sua volta...

Em suma, uma leitura longa no tempo, mas bastante agradável a espaços, e com a certeza de que ficámos a saber mais algumas coisas sobre a cultura, sobre as pessoas e sobre a história dos lugares.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, dezembro 25, 2020

Os Nossos Resquícios Feudais...


De repente toda a gente "acordou" para um problema que tem anos, a chamada "caça turística", porque nunca se deve ter ido tão longe, como foram alguns espanhóis, na Quinta da Torre Bela, onde foram chacinados quinhentos e quarenta animais de grande porte (veados, gamos e javalis).

Quando a caça começou a escassear, com o aumento de caçadores um pouco por todo o lado, foi decretada a redução dos dias para se correrem os campos em busca de animais, assim como o número de "peças" abatidas (só se podia caçar à quinta, aos domingos e feriados). Mas nem mesmo com estas medidas foi possível "equilibrar" as coisas...

Algumas pessoas com mais poder económico acharam por bem criar zonas privadas de caça (algo que sempre existiu durante a ditadura nas grandes propriedades do Alentejo, normalmente reservadas aos donos, amigos e convidados...), em zonas de mata vedadas, como a de Torre Bela. 

Com esta "inovação", a caça começou a perder o interesse, pelo menos para os verdadeiros caçadores, que gostavam da "luta" que os animais em liberdade lhes proporcionavam. O meu pai, por exemplo, foi caçador, mas nunca se tornou "cooperante" destes espaços, criados sobretudo para os "falsos heróis", falhos de pontaria, que gostavam mais de tirar fotografias com os animais abatidos que de dar gatilhadas (os que podiam até faziam safaris em África, só pelo gozo de tirarem retratos como o polémico do Rei de Espanha, com um elefante caído a seus pés...).

Um amigo, da geração do meu pai, aos poucos foi deixando de caçar, desiludido com esta nova forma de se caçar. Ainda fez parte de uma dessas "cooperativas" de caça, que compravam centenas de animais que depois alimentavam nesses espaços reservados, mas aquilo não era para ele. Sempre gostara de caçar perdizes, mas perdeu esse prazer, porque as aves "alimentadas" eram cada vez menos ligeiras, quase que se punham a jeito de se tornarem "troféus de caça".

Mas o mais grave desta questão, não é este episódio em si, passado na Torre Bela. É continuarmos a viver com uma casta de pessoas, ricas e poderosas, que acham que tudo tem um preço. E como normalmente têm dinheiro de sobra, pensam que podem comprar tudo e todos (inclusive ministros, deputados, presidentes de câmaras, de juntas de freguesia, autoridades locais, e tudo o que lhes apareça à frente...), para obter aquilo que querem. O mais caricato, é que normalmente conseguem "levar a água ao seu moinho"...

Embora se fale pouco nisso, eu continuo a pensar que quase todos os "ismos" negativos da nossa sociedade assentam nos "resquícios feudais" destes "senhores", que não só negam a nossa Constituição (que querem alterar através dos partidos de direita...) como também a própria Declaração Universal dos Direitos do Homem, que nos diz, muito bem, que todos somos iguais perante a lei, em dignidade, em direitos e em deveres.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, dezembro 24, 2020

Um Texto Muito pouco Natalício...


Escrevi há poucos minutos no "Casario" sobre a falta de sensibilidade social dos políticos do PS e PSD que governam em Almada. Mas quase tudo o que escrevi poderia ser transposto para o país, que sempre preferiu dar "esmolas" a investir com seriedade nas áreas sociais que o substituem desde sempre.

É por isso que em alturas de crise como a que estamos a viver, o fosso social aumenta sempre. 

Sei que houve melhorias significativas na saúde, na educação e na habitação. São inclusive as áreas onde se nota um maior desenvolvimento desde Abril de 1974. Mas continua a haver muita coisa a fazer...

Foi por isso que me fiquei pela cultura e pelo desporto (o futebol profissional é outra coisa...), cujo desenvolvimento nas últimas décadas se deve mais à chamada "sociedade civil" que ao Estado. Os políticos gostam muito é de tirar fotografias com as nossas grandes vedetas, seja do futebol ou do teatro, o resto vai para o "saco sem fundo de promessas". 

Ninguém olha com respeito para os dirigentes associativos, anónimos, dos bairros pobres e degradados, que passaram as últimas décadas a desviar jovens do mundo do crime e da droga, para o desporto e para a cultura. Preferem fingir que eles não existem.

Olham sim, para quem abre casas para praticar a "caridadezinha", para distribuir um pacote de arroz ou de bolachas, a quem engana a fome e o desespero, por não conseguir ter uma vida digna. Muito gostam os políticos que existam "pobrezinhos"...

Embora não seja simpático de dizer isto,  compreendo cada vez mais o crescimento do populismo do nosso país. As pessoas estão fartas destes políticos (que fingem ser diferentes e são tão iguais...) que passam a vida a distribuir milhões por empresas mal geridas e tostões pelo resto na população. 

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade. E sim, viviam pessoas nessa barraca, quando tirei o retrato...)

 

quarta-feira, dezembro 23, 2020

Quando a "Superioridade Intelectual" quer ser mais Forte que a Razão...


Sempre me incomodou, que no meio de qualquer discussão, um dos intervenientes traga para cima da mesa a sua "superioridade intelectual", quando não consegue responder com a eloquência das palavras ou a força dos factos. 

Embora tenha a percepção que os artigos de opinião publicados no "Público", tanto de Raquel Varela (investigadora e professora), como de Carmen Garcia (enfermeira), tenham passado ao lado de uma boa parte dos visitantes deste blogue, apetece-me falar sobre eles. Não tanto sobre a pandemia, mas sobre o que mais me incomodou: a pretensa "superioridade intelectual" que Raquel Varela quis transportar para a discussão, tentando colocar Carmen Garcia, num plano inferior ao seu.

Isto ainda é mais lamentável, vindo de alguém que defende os valores humanistas da esquerda, que se baseiam na igualdade de oportunidades e na liberdade de expressão.

Raquel Varela não gostou que colocassem em causa os seus pontos de vista (defendeu a postura liberal da Suécia, que devido ao elevado número de mortos até já mereceu um pedido de desculpa do Rei ao seu povo...), ainda por cima por alguém que sabe do que fala, pela sua experiência hospitalar.

E por isso "fingiu" que gostava que fosse um professor catedrático, médico a responder-lhe e não uma enfermeira... com um cheirinho mais a "estado novo" que a "abril".

(Fotografia de Luís Eme - Abrantes)


terça-feira, dezembro 22, 2020

Os Jogos que Parecem Treinos, por lhe Faltar o Essencial...


Ao contrário do que dizem algumas vozes (dessas mesmo que não chegam ao céu...), aquele que é o melhor jogador de futebol do mundo, a par de Cristiano Ronaldo, não joga bem apenas com os pés. Ontem Lionel Messi conseguiu dizer numa frase o que acontece hoje nos estádios do futebol vazios durante um jogo, mas sobretudo o que sente um jogador, que se alimenta do calor humano e dos cânticos e gritos que ecoam das bancadas... 

«Com a pandemia todos os jogos são muito difíceis. O futebol mudou muito, e para pior. É horrível jogar sem adeptos, é uma péssima sensação. Não vendo ninguém no estádio, para nós, é como se fosse um treino e custa muito ‘entrar’ nos jogos, por isso é que as coisas estão tão equilibradas. Oxalá tudo isto passe para voltarmos a ter adeptos quando tudo regressar à normalidade.»

Já escrevi aqui, mais que uma vez, que é uma estupidez os estádios não terem público. A única ameaça visível são as claques, e elas sim, devem ser proibidas de frequentar os campos. Agora o adepto comum, que vibra com os seus ídolos e com o seu clube, capaz de oferecer a tal "vida" que falta ao futebol, devia ser bem vindo. Mesmo que onde cabem 60 mil, estivessem apenas 6 mil... 

O jogo deixava logo de ser o "treino", de que Messi fala, e muito bem...

Quer queiram quer não, o público é a "alma" de qualquer espectáculo, seja ele desportivo, musical ou teatral.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, dezembro 21, 2020

Se Fomos Criados por um Deus qualquer, Viemos cheios de Defeitos...


Talvez sejamos um povo um pouco mais preso aos "brandos costumes" e ao "mundo das aparências" (só acho que não vale a pena continuarmos a culpar D. Afonso Henriques, D. Sebastião ou o Salazar, as coisas são o que são...), que os outros. Talvez.

É quase normal apetecer-me escrever que isso só acontece porque a lengalenga das "virtudes públicas e dos vícios privados", continua a comandar as acções, tanto das nossas vítimas como dos malfeitores. Só que pode não ser bem assim. O medo pode ser mais importante para o nosso silêncio, que outra coisa qualquer, sebastianista ou salazarista.

Se por um lado é humano escondermos o que nos diminui, o que nos humilha, o que nos faz doer (até porque o mundo lá fora normalmente não nos leva a sério, apenas finge que se preocupa com os nossos problemas...), por outro, podem existir males maiores que nos conduzem ao silêncio. Podemos ser ameaçados (até de morte!), tal como os que nos são próximos, para nos mantermos de boca fechada.

E há ainda outras questões a ter em conta: vamos queixar-nos a quem? Aos juízes e aos polícias que ainda olham de alto a baixo as mulheres que fazem queixas de violência doméstica ou de violação; da mesma forma que apontam o dedo com mais facilidade a quem tem a pele mais escura ou se veste de uma forma diferente?

Por um breve instante, queixamo-nos da má sorte de sermos portugueses. Mas depois lemos os jornais franceses, alemães, italianos, norte-americanos, ingleses, e percebemos que há uma qualquer coisa mais forte, que nos torna quase iguais aos outros povos. Parece que afinal existe algo espalhado pelo mundo, que quase banaliza os defeitos que pensamos serem só nossos.

Pois é, não somos "grandes peças". Se fomos criados por um deus qualquer, viemos cheios de defeitos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

domingo, dezembro 20, 2020

«Todas as profissões são dignas, desde que os seus profissionais sejam dignos»


Quando alguém nos diz que «todas as profissões são dignas, desde que os seus profissionais sejam dignos», a nossa primeira tendência é achar que não. O preconceito é tramado. A primeira profissão que nos surge no pensamento é aquela que estupidamente chamam "a mais velha profissão do mundo", a prostituição.

Temos dificuldade em olhar para esta profissão como mais uma, mesmo que seja tão antiga como dizem. Esquecemos que presta um serviço que pode ser tão importante como outro qualquer, que tenha a ver com a "limpeza" do corpo.

Fala-se quase sempre da "humilhação" e da "exploração" da mulher. Mas esse não é o problema da profissão em si, mas sim de todos aqueles que gravitam na sociedade, à espera de uma oportunidade para ganhar dinheiro à custa de alguém e que fazem desta (entre outras...) profissão quase um "lixo" social.

Durante o "Estado Novo" houve três alterações legislativas, na tentativa de "apagar" esta profissão do mapa, em 1949, 1954 e 1963. A partir de 1 de Janeiro de 1963, a prostituição foi mesmo proibida, assim como a assistência médica que era dada a estas profissionais. Esta proibição teve pouco efeitos práticos, apenas a tornou "clandestina", aumentando ainda mais a exploração do corpo da mulher, assim como o risco da transmissão de doenças sexuais aos clientes. Só vinte anos depois é que a prostituição foi legalizada, mas com muitas limitações, e com a hipocrisia do costume...

A frase-título deste texto foi dita por uma mulher que foi prostituta durante vinte anos (praticamente sempre na clandestinidade, de 1964 a 1884...). Teve a sorte de exercer esta profissão como se fosse um emprego, trabalhando durante o dia, quase sempre com clientes certos... Nunca teve nenhum "chulo", apenas uma Senhora que sempre procurou dignificar a profissão. A sua história de vida dava uma crónica com dezenas de páginas... mas apenas acrescento que aos dezassete anos ficou grávida de um dos senhores da casa de família para quem trabalhava. Não só foi expulsa do emprego, como foi abandonada à sua sorte pelos familiares mais próximos.

Foi graças a histórias como a desta mulher, que houve alguém, também "abandonada e com um filho nos braços", que se preocupou com este terrível destino feminino e tentou que tivessem uma vida quase normal. 

A "casa de meninas" onde sempre trabalhou ficava no centro da cidade e tinha letreiro e tudo. Era uma alfaiataria, com quatro "modistas" a tempo inteiro  (todas com carteira profissional...) e uma ama que tomava conta dos filhos das empregadas. A sala de entrada era exactamente igual a qualquer atelier de alfaiate, com modelos e casacos com provas e três máquinas de costura, que eram usadas pelas funcionárias nas horas mortas da tal profissão, que dizem ser tão velha como a nossa existência...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, dezembro 18, 2020

Livros Dentro de Caixas e de Conversas


Eram meia dúzia de caixas de papelão com livros. Muitos deles ainda embalados em plástico, completamente "virgens" de leitores. A amiga que me pedira ajuda para ver o que estava dentro das caixas, achou estranho aquele "desperdício" (a palavra é dela), mesmo sem ser uma grande leitora.

Eu não estranhei assim tanto, apesar de ser leitor. Lembrei-me de ter recebido ofertas de livros para a biblioteca da Incrível Almadense, também ainda protegidos pela embalagem fechada. Também eles editados pelo Círculo de Leitores.

Lembrei-lhe que devia ser mais comum isto acontecer do que ela pensava, devido à "obrigatoriedade" deste clube de leitores de se adquirirem livros de tempos a tempos. Nem sempre havia os livros que se queria ler e acabava por se escolher um "mal menor", que acabava por ficar no canto. E entretanto chegava mais um "aviso", para se comprar mais uma obra literária...

Contei-lhe que fora sócio deste clube, mas por pouco tempo, por não gostar de ser "obrigado" a comprar livros e também por achar as suas encadernações demasiado pomposas.

Mas havia livros bons, por abrir. Vários Saramagos. Alguns clássicos americanos. Ela disse-me para escolher os que quisesse... e eu já sem espaço em casa para livros, a dizer-lhe que levava apenas um: a "Viagem a Portugal" de José Saramago (a primeira edição de 1981), ilustrada com fotografias de vários autores, inclusive dele.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, dezembro 17, 2020

O Melhor Nadador que Conheço (sempre contra a corrente)


Quando não estamos com as pessoas de quem gostamos, algum tempo (é uma das piores coisas que nos aconteceu com a pandemia...), se não formos muito próximos, ficamos ainda mais distantes, é como se tivéssemos ido viver para a Austrália ou Nova Zelândia.

Foi por isso que gostei que uma das pessoas mais inteligentes que conheço, fosse tema de conversa. Mesmo que fosse falado por ter os "fusíveis avariados" ou por ter um prazer especial em irritar os outros. 

Sorri para dentro, por saber que ele nunca se importou em ser olhado como o "louco da família". Esforçou-se bastante para que não se orgulhassem por ele ter sido o primeiro doutor da rua e ter uma obra notável como investigador. Deixou sempre mais visíveis as partes mais cinzentas ou castanhas da sua vida. 

É um primo afastado, de quem só tenho a dizer bem. Talvez por também gostar de pensar pela minha cabeça. Quando me lembro de meia-dúzia de histórias que contam a seu respeito, sei que a sua vida inspira mais facilmente um romance que uma biografia.

Nunca se preocupou com o dizer dos outros. Esteve preso no começo da "primavera marcelista" apenas por gostar da liberdade. Foram poucos dias, mas tiveram o cuidado de lhe dizer que tinha gostos estranhos, por ser amigo de dois ou três homossexuais, e também de quatro ou cinco comunistas. E que devia ter muito cuidado.

Sei que sempre "nadou" muito melhor que o Pacheco Pereira ou o Vasco, contra a corrente, mas nunca foi "escriba" de qualquer corte. Tinha em comum com Agostinho da Silva, a paixão pelos gatos e pelo pensamento livre. Nunca o conseguiram encaixar em nenhum grupo, nem mesmo dos perigosos, antes e depois de Abril ("bichas" e "comunas"...).

Apeteceu-me telefonar-lhe. Foi quando me lembrei que deve ser uma das raras pessoas que não tem telemóvel.

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


terça-feira, dezembro 15, 2020

A Gaveta das Fotografias com Histórias e Pessoas...


Não sei se é por ter muitas fotografias, que olho cada vez menos para elas. Além dos álbuns guardados, tenho uma gaveta cheia de envelopes, quase temáticos. 

Talvez não queira olhar de frente para o passado, por saber que as fotografias são um dos melhores "bilhetes" para qualquer viagem que queiramos fazer no tempo. 

E se forem quase antigas, não há forma de fugirmos à nostalgia... Quando damos por isso, estamos a fazer festas às fotografias que têm dentro pessoas de quem gostamos.

Não escrevo isto a pensar nas diferenças que encontramos em relação ao que fomos e ao que somos, mas sim na sensação de perda que experimentamos ao olharmos pessoas que deixámos de ver e ter por perto, e dos lugares que deixámos de percorrer. 

Sabemos que não são apenas os acasos da vida que nos "roubam" pessoas. Quando queremos mesmo "desaparecer" de qualquer lugar e tentar "ser outra pessoa", também é possível partir sem deixar rasto. 

E nem estou a pensar nos ex-namoradas ou namorados, que mesmo quando as coisas não acabam muito mal, queremos vê-los longe da vista e do coração.

Sim, também se parte voluntariamente...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, dezembro 14, 2020

O Tão Esquecido "Artigo Primeiro"...


Não deixa de ser curioso, que o único "ismo" que nos devia interessar, verdadeiramente, esteja quase sempre no fim da lista das muitas outras palavras que rimam com Humanismo. como são o  catolicismo, o islamismo, o feminismo, o machismo, o comunismo, o fascismo ou o racismo.

Mas nós somos o que somos, gostamos muito mesmo é de olhar para o mundo à nossa maneira, fingindo que um dos princípios básicos da humanidade, o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos do Homem, não existe:

"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros em espírito de fraternidade."

Não tenho qualquer dúvida que se fossemos uma sociedade humanista, o agente da polícia que quis defender uma mulher vítima de violência doméstica, não tinha sido atropelado mortalmente pelo homem, que olha para a companheira como um objecto, da qual é dono.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, dezembro 12, 2020

A Beleza dos Campos...


Uma vez por semana visito uma quase fazenda familiar (pequenina), onde me exercito e dou espaço a pequenas coisas que aprendi com o meu avô, com o meu pai e com alguns dos meus tios (sem me aperceber...).

Hoje estava de volta de uma cepa ou - videira -, que tinha demasiadas silvas à sua volta, que me entretive a arrancar pela raiz, para depois a poder podar.

Foi quando me lembrei a espaços do meu avô materno, por ele ser um excelente professor e eu um mau aluno, de tantas lições... com e sem as muitas plantas que brotavam da terra. 

Mas também pensei que estava longe de ser "burro", mesmo pequenote. Não gostava do campo por tudo o que ele significava na vida das pessoas. Dava muito trabalho e pouco proveito a todos aqueles que viviam apenas da agricultura, como era o caso do avô, ainda sem a ajuda das máquinas...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


sexta-feira, dezembro 11, 2020

Quando Evito Ser Cavalheiro...


Continua a fazer-me confusão que algumas mulheres feministas, continuem a gostar do "cavalheirismo". Digo isto porque embora esta característica masculina possa ser entendido como um sinal de "boa educação", carrega dentro de si vários sinais negativos, que podem ir desde o paternalismo até à desigualdade.

Tenho uma amiga feminista militante, que não só gosta, como é capaz de definir o cavalheiro como um homem que gosta de agradar às mulheres, não encontrando nesta maneira de estar, qualquer contradição com o desejo de se viver uma igualdade plena entre ambos os sexos.

Acho que é por isso mesmo, por causa das nossas contradições, que faço os possíveis para não ser cavalheiro quando estou com ela.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, dezembro 10, 2020

Jorge Jesus e este Mundo cada vez mais "politicamente correcto"...


Jorge Jesus é uma das figuras públicas mais genuínas do nosso país. Terá defeitos, como todos nós, mas a hipocrisia e o cinismo não fazem parte da lista. É por isso que é "tão explorado" nas conferências de imprensa, pois raramente se recusa a responder a qualquer questão, por mais polémica que seja.

Este seu feitio fez que em menos de um mês fosse apelidado primeiro de "machista" e agora de "racista", ou seja, apenas por ser igual a ele próprio. Levou com o rótulo de "machista" por ter dito a uma jornalista o que tem dito a dezenas de jornalistas, homens, quando não concorda com as questões levantadas. E ontem, quando lhe perguntaram o que pensava sobre o incidente de Paris entre um árbitro e um treinador (que interrompeu a partida para a Liga dos Campeões, com o abandono das duas equipas...), entre outras coisas disse que o "racismo estava na moda". E infelizmente tem razão, apesar de todas as "virgens ofendidas", que se manifestaram contra ele, por esse mundo fora.

Vou só dar como exemplo o que aconteceu comigo há exactamente uma semana. Quando abri a porta do meu prédio para entrar com as compras, um jovem de cor aproveitou para se enfiar dentro do prédio, sem dizer "água vem água vai", com o objectivo de colocar publicidade na caixa do correio. Chamei-lhe a atenção que não podia entrar sem máscara, por estar num sítio fechado. Argumentou logo que só usava máscara se quisesse. E quando o convidei a abandonar o prédio, fez-se logo de vítima, disse-me que só estava a mandá-lo embora por causa da sua cor da pele. A única resposta que lhe dei foi: «Ponha-se lá fora!», irritado, claro.

Continuo a pensar que se as pessoas querem ser tratadas como iguais, têm de pôr na cabeça que são como nós. Devem defender-se sempre com o facto de terem os meus direitos que qualquer cidadão, e não a fazerem logo o papel de "vitimas", quando as coisas não lhes correm como querem. Algo que está a acontecer cada vez com mais frequência entre nós.

(Fotografia de Luís Eme - Olho de Boi)


quarta-feira, dezembro 09, 2020

Nem Dentro, nem Fora, nem Fora nem Dentro...


Estava no lado de fora da mercearia, que por estes tempos também vai formando filas, a olhar para o senhor que estava estrategicamente colocado à entrada da loja (incomodando quem entrava e quem saía...), que fumava um cigarro, ao mesmo tempo que ia trocando uma prosa com a esposa, que estava a ser atendida.

Ninguém se mostrou incomodado com aquela quase arte, de "estar fora deixando sempre um pé dentro". Conhecia o casal de vista, quase que moravam no meu bairro e eram pais de uma amiga antiga que não vejo há anos (o divórcio com um amigo comum ditou a sua "fuga" de Almada...).

Conseguia dois em um: estar sem máscara e espalhar o cheiro do seu cigarro no interior do pequeno mercado, que só permitia a permanência de três clientes de cada vez na quase sala.

Naquele momento olhei para a varanda que foi do Victor (fazia questão de ter o cê no nome...) e recordei os nossos tempos de tertúlia de café. Era o único fumador do grupo e quando se decretou a proibição de fumar em recintos fechados, ele lá se tinha de levantar para vir fumar mais "um prego" (a expressão era dele) para a rua... 

No Inverno costumava ficar mais dentro que fora, para fugir ao frio, deixando que o perfume do seu cigarro chegasse quase até à nossa mesa. Raramente aparecia alguém a chamar-lhe a atenção. Nada que o incomodasse, diga-se de passagem...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, dezembro 08, 2020

Associativismo, Jornalismo e Amizade...


Hoje recebi dois telefonemas amigos, que me suscitaram questões diferentes.

O primeiro foi feito por um amigo das culturas preocupado com o rumo das colectividades de Almada, especialmente com a nossa Incrível. Não fui capaz de o descansar, porque estes tempos transportam demasiadas incertezas, nas grandes e nas pequenas coisas das nossas vidas. 

O segundo telefonema foi feito por outro amigo, que me confidenciou o final de uma colaboração de quase duas décadas, com um jornal regional, do qual nunca recebeu um euro. Fiquei a pensar que só uma pessoa desprovida de qualquer saber jornalístico, era capaz de dispensar o autor de uma crónica semanal, que era autêntico serviço público (e de borla...). 

É preciso termos esperança. É preciso continuarmos a sonhar que amanhã pode ser melhor que hoje, mesmo sabendo que o mundo não vai deixar de ser injusto...

(Fotografia de Luís Eme - Porto)


segunda-feira, dezembro 07, 2020

O Conhecimento de Ontem e de Hoje...


Hoje à mesa, falámos da escola e do conhecimento de ontem e de hoje.

Os meus filhos acham que sabem mais do que nós sabíamos, com a idade deles. Nós não concordámos. Eu não quis usar as palavras mais e menos, preferi usar a diferença. Aliás, não se deviam querer comparar os tempos, porque nunca são comparáveis.

Agora que tudo o que eles sabem é menos profundo (também não aceitaram muito bem...) e mais superficial, não temos grandes dúvidas.

Ainda voltei ao secundário, para lhes dizer que nos anos de 1975, 1976 e 1977, por ainda se viver em "revolução", só no último período é que tinha professores em todas as disciplinas. Ou seja, sem qualquer dúvida que aprenderam mais coisas que eu, na escola secundária. Ao contrário do que aconteceu na primária... embora eles continuassem a dizer que também sabiam mais que nós, nesses primeiros anos escolares... 

Como eles estão na idade dos "sabões", nem sequer discutimos muito o assunto.

Do que não temos dúvidas, é que mesmo que não saibam mais coisas, têm hoje o conhecimento à distância de um dedo. Qualquer dúvida que tenham, consultam um motor de busca e ficam cheios de "verdades"...

(Fotografia de Luís Eme - Sesimbra)


domingo, dezembro 06, 2020

As Liberdades Criativas do Cinema...


Hoje vi na televisão a versão cinematográfica de "Ben-Hur", de 2016 (foi a segunda vez mas só agora é que sugestionou escrever alguma coisa sobre as adaptações que se fazem de livros para cinema...), bem diferente da primeira, realizada em 1959, por William Wyler, que conquistaria onze oscars, que seria um recorde naquele tempo.

Achei curioso os autores do guião desta segunda versão, ainda se terem afastado mais da obra inicial (o romance escrito em 1880 por Lew Wallace), oferecendo às personagens vidas ligeiramente diferentes, no espaço e no tempo, da fita de Wyler.

Mas o que queria escrever é sobre a liberdade que sempre existiu no cinema, quando adaptam histórias de livros. Embora saiba que não se trata de uma tarefa fácil conseguir sintetizar obras com 200 ou 300 páginas (às vezes mais...) numa história para o grande écran, com menos de duas horas, muitas vezes realizam-se filmes que não têm quase nada a ver com o conteúdo do romance escolhido para "filmar".

Acabei por me lembrar das irritações de Agustina (justificadas) com o que o Manoel de Oliveira fazia com os seus livros...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, dezembro 05, 2020

Uma (boa) Conversa com Livros na Escola...


Ainda antes da pandemia, participei numa conversa sobre livros e sobre ficções, num intervalo de uma aula de geografia do décimo ano. Os alunos tinham feito trabalhos de grupo sobre a importância do livro, em toda a sua abrangência, como documento, como romance, como auxiliar (livros de autoajuda, mas também de culinária ou atlas, mais ligados à disciplina...) e também como divertimento.

A professora fez uma espécie de ciclo, com vários convidados, que falaram da tal diversidade que se encontra dentro dos livros. Eu fui convidado para falar de ficção. 

Provocadora, a professora quis saber o que eu pensava sobre o possibilidade de o romance ter os seus dias contados. Eu abanei os ombros e disse que normalmente as coisas não acabam de "morte matada", o que provocou gargalhada geral. Depois expliquei que coisas como os romances não acabam por decreto, poderão continuar a existir mais de um século, porque dificilmente acabarão os contadores de histórias e os leitores, por esse mundo fora. Provavelmente, cada vez serão menos... mas haverá sempre alguém, capaz de "devorar" com gosto uma boa história.

Uma das questões mais curiosas e corajosas, foi colocada por um rapaz, que não teve qualquer problema em assumir à frente da sua professora,  que nunca tinha lido um livro só com palavras, da primeira à última página. Ele perguntou-me, sem qualquer "curva", qual era a verdadeira importância dos romances nas nossas vidas. Expliquei-lhe que continuavam a existir muitas vantagens nos romances, a melhor  era a possibilidade de viajarmos no tempo e no espaço, ao mesmo tempo que nos conhecíamos melhor uns aos outros com os múltiplos exemplos de vidas, impressos nos livros (também falei de diversão e prazer, há muitos livros que nos deixam felizes...). E de forma provocatória, acabei a falar do enriquecimento do nosso vocabulário, da descoberta de palavras novas, coisa que falta muito aos jovens, oferecendo como exemplo os meus filhos, que me perguntam muitas vezes qual é o significado de algumas palavras, que não fazem parte do seu dia a dia.

Achei estranho alguém chegar ao décimo ano, sem nunca ter lido um "livro só com palavras", do princípio ao fim. Foi por isso que no final, já no corredor, lhe perguntei, particularmente, se ele não tinha tido leituras obrigatórias na disciplina de Português. Disse-me que sim, mas que se socorrera dos resumos das respectivas obras, para fazer trabalhos.

Pois é, a quantidade de informação que gira à nossa volta, banaliza tudo, até aquilo que ainda se considera como o verdadeiro conhecimento...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, dezembro 03, 2020

Uma Sociedade Deprimida à Força...


Os meus filhos nunca praticaram desporto federado, por falta de jeito e também de vontade. Nada que nos incomodasse muito cá por casa. Apenas fizemos questão que andassem na natação, para que tivessem uma relação saudável com a água, doce ou salgada.

Isso faz com que acabe por passar um bocado ao lado do que se está a passar nos clubes e nas várias modalidades desportivas de formação.

Sei que há modalidades que quase deixaram de existir, por falta de competição e pelo vazio que existe nos clubes, quase sem atletas, pelas exigências da DGS. Ou seja, há milhares de crianças fechadas em casa, sem poder fazer aquilo que mais gostam, por não terem sido criadas condições para que se possam continuar a desenvolver de forma harmoniosa, o corpo e a mente.

Até mesmo o futebol, enquanto espectáculo, tem sido tratado de uma forma desigual, em relação a outras áreas artísticas, como a música, o teatro ou o cinema. Apesar de ter a vantagem de ser praticado ao ar livre, é o único que continua a não ter público.

Cada vez tenho menos dúvidas que não se combate uma doença, de uma forma que irá acabar por contribuir para que toda uma sociedade acabe por ficar mais "doente", quando o "vírus" for embora...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quarta-feira, dezembro 02, 2020

«Felizes são os que acreditam. Mas podem seguir viagem, que eu não passo de um infeliz»


O Natal sempre foi a época do ano em que se fazem mais apelos ao consumismo e também à boa vontade das mulheres e dos homens. Este ano existe ainda uma ajuda extra, a pandemia, para  tentar explorar, ainda mais, o nosso lado sensível.

Não nos custa muito dizer sim ao empregado da loja que nos diz se queremos ajudar com um euro uma associação que ajuda criancinhas, que precisam de um lar, ou de outra coisa qualquer. Agora quando nos querem impingir umas bugigangas em troca de uma doação mínima de cinco euros, para ajudar uma daquelas associações de que nunca ouvimos falar, sentimos que estão a abusar de tudo, até da sorte. 

Quando o Rui disse, com um ar sério: «Eu sei que felizes são os que acreditam. Mas podem seguir viagem, que eu não passo de um infeliz», as duas jovens olharam uma para a outra com cara de caso, em silêncio. Quando perceberam que dali não levavam nada, seguiram viagem com a cestinha cheia de bonecos, à procura de melhor sorte na sua caminhada natalícia, lançando-nos algo parecido com um "mau olhar".

Embora eu soubesse que o Rui estava certo, aqueles que acreditam são sempre mais felizes, nestes casos com demasiadas pontas soltas, também prefiro ser "infeliz"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, dezembro 01, 2020

O "Dono" da Rua Direita...


Hoje de manhã fui fazer uma pequena caminhada e encontrei o que começa a ser normal, nestes dias de "recolhimento", uma cidade quase sem pessoas.

Se na Praça Gil Vicente ainda se encontravam algumas pessoas sentadas nos bancos e nas poucas esplanadas abertas, na rua Cândido dos Reis (a velha Rua Direita de Cacilhas, onde se encontram os restaurantes e que está cortada ao trânsito), vi algumas pessoas à porta os seus locais de trabalho mas só me cruzei com um cão, que se deve ter sentido quase como o "dono da rua", pelo ar desenvolto com que caminhava, como pode ser testemunhado pela imagem...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)