terça-feira, novembro 29, 2022

A Ignorância é Tantas Vezes Atrevida...


Há crianças com apenas 14 anos, que já viveram mais dramas traumáticos, que muitos adultos com mais de 30 anos.

Felizmente hoje existe mais cuidado na forma como se lida com estes casos. Quando a família negligencia estes menores, as escolas por norma não deixam passar em claro comportamentos inadequados. Tem sido desta forma que se descobrem casos de violência doméstica e até de violação de menores.

Foi por isso que acabei por me meter numa conversa em que se discutiam "os interrogatórios" de uma psicóloga a uma destas crianças problemáticas. A avó desabafava com a minha companheira, expressando a vontade de retirar o neto destas consultas, porque, segundo ele, ela só lhe fazia perguntas que lhe recordavam "tudo o que ele precisava de esquecer"...

Eu disse que a psicóloga só o poderia ajudar, depois de descobrir, o que de facto, o perturbava. E isso só era possível, questionando-o sobre o que o incomodava...

A avó, que tinha a responsabilidade parental da criança, não ficou muito convencida, mas pelo menos deixou de dizer que ia retirar o neto das consultas (gratuitas...) da psicóloga que, com toda a certeza, só o quer ajudar.

E eu fiquei a pensar, que a ignorância é tantas vezes atrevida...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, novembro 28, 2022

Provavelmente nunca irei perceber, o porquê...


O tempo arrefece e há sempre alguém que lembra, à mesa, das dificuldades que os ucranianos estão a passar, para ultrapassarem o frio, sem o uso da electricidade.

Quem pode, volta aos tempos antigos, volta a dar uso aos fogões e salamandras a lenha. Mas é algo que deve ser mais difícil de acontecer nas grandes cidades, onde a lenha também deve escassear...

Mas não era sobre isso que eu queria falar, era sobre a posição de quase todos os comunistas meus amigos, que continuam a ter uma dificuldade enorme em dizer mal de Putin... Passado todo este tempo, continuam a defenderem-se, e a defenderem-no, com o argumento da existência de "neo-nazis" na Ucrânia e o ódio aos EUA...

Provavelmente nunca irei perceber o porquê, de toda esta "cegueira ideológica"...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


domingo, novembro 27, 2022

Os Lugares das Nossas Vidas e a Memória...


Uma das coisas mais curiosas que se passam dentro de nós, é a transformação dos lugares. 

À medida que o tempo passa, os lugares onde fomos felizes, vão ganhando qualidades e características, que se começam a afastar da realidade. 

Penso que todos sentimos estas mudanças, é por isso que somos relutantes em voltar a um ou outro lugar especial, das nossas vidas. 

Temos medo de encontrar outra coisa, temos medo de que a "gravação" que fomos fazendo dentro da memória, tenha sido alterada pelo tempo...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


sexta-feira, novembro 25, 2022

"Burrices", "Teimosias", "Sortes" e "Milagres"...


O facto de ter plena consciência de que a Selecção não é um clube, e que os jogadores cada vez têm menos tempo para treinar - quase que se encontram nos estágios, apenas para prepara os jogos -, só me faz questionar, cada vez mais, o papel deste seleccionador.

Não sei se é "burro" ou "teimoso" (até pode ser as duas coisas...), por continuar a não aproveitar da melhor maneira o trabalho que é feito nos clubes. É confrangedor ver alguns dos nossos jogadores em posições onde estão longe de se sentir como "peixes dentro de água" (percebeu-se isso na segunda parte quando Bruno Fernandes deixou a linha e passou a jogar no centro do terreno e as suas duas assistências deram dois golos...).

É uma pena que esta geração de jogadores (para mim a melhor de sempre), não tenha um treinador com o mesmo nível qualitativo. Estou convencido que se Jorge Jesus ou Sérgio Conceição (dois bons exemplos de técnicos que conseguem tirar o máximo rendimento de cada um dos seus atletas...) estivessem à frente da Selecção, seríamos uns sérios candidatos ao título de Campeões do Mundo. 

Assim, continuamos dependentes da sorte e de mais algum "milagre"...

(Fotografia de Luís Eme - Feijó)


quinta-feira, novembro 24, 2022

Angola e as Pedras (e diamantes) que nos saltam para os Sapatos...


Voltei a falar de governantes e direitos humanos e lá vieram dois "grilinhos falantes", recordar-me da "nossa" Angola e da família dos Santos.

Nem foram muito agressivos para com o Costa, António, acusado pelo senhor Carlos, que partilha o mesmo apelido, embora não sejam da mesma família (muito menos da política...), por beneficiar a Isabel "banqueira".

Foram ao fundo do baú e lembraram-me os artigos de opinião escritos por Paulo Portas, a branquear a governação de José Eduardo, esquecido do passado do senhor ligado à "escola" marxista leninista (sei que dispensava as aspas, já que ele até estudou na União Soviética...).

Mas a verdadeira questão que me foi colocada, foi que num dos países mais ricos do continente africano, além de haver demasiada fome e miséria, os direitos humanos nunca saíram dos papéis. Como acontece nas ditaduras, basta dizeres mal de qualquer governante (mesmo que seja verdade, verdadinha...), para seres apontado a dedo e não voltares a ter uma vida normal. E se insistires, podes ser preso e até "desaparecer do mapa". Sim, nestes países que se dizem democráticos, é normal de vez em quanto desaparecer um ou outro opositor. Sei que muitos deles andaram na mesma escola do Putin, mas...

Como o Rui disse, o caminho que nos liga a Angola está cheio de buracos, é por isso que há tantas pedras (para alguns "sortudos", são diamantes...) que nos saltam para os sapatos...

Apesar de todos estes casos, e de termos alguns "telhados de vidro", não devemos ficar no nosso cantinho, a fingir que não se passa nada no Catar, além de futebol.  Andarmos por aí vestidos com as camisolas da selecção a cantar o "Vamos lá cambada", é muito "poucachinho". Mas o mundo é o que é.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quarta-feira, novembro 23, 2022

Os Direitos Humanos, entre Práticas e Teorias...


Não tinha pensado escrever uma linha sobre o Mundial de Futebol. E nem estava a virar  costas ao Catar ou a outros países das Arábias. Estava (e continuo a estar, mesmo que isso não adiante nada...) sim, contra os senhores hipócritas e corruptos que mandam no "desporto-rei", através das federações internacionais e locais.

Muito menos falar dos "direitos humanos", quando temos tantos rabos de palha por esse Alentejo e Algarve fora... 

O Mundo é o que é, graças a este capitalismo cada vez mais selvagem, que tem a capacidade de se regenerar perante todas as crises, criando fossos cada vez maiores entre os mais ricos e os mais pobres, com a complacência de praticamente todos Estados, inclusive aqueles como o nosso, que se dizem democráticos.

É por isso que vemos tantas multinacionais a "publicitarem" na televisão o seu apoio aos "direitos humanos", com a oferta do cêntimo da ordem à Amnistia Internacional (que se tivesse vergonha, recusava estes apoios oportunistas que fazem lembrar o que existe de pior nos "bancos alimentares"...).

Nem me incomoda por aí além que o Presidente da República faça questão de estar presente. Ele é mesmo isso, quer e gosta de estar todo o lado, adora abracinhos e palavras doces que lhe estimulam o ego, sem esquecer as famosas "selfies". Agora os senhores Costa e Silva, deveriam deixar-se de "futebóis"  e ter uma postura mais responsável e humana, até por pertencerem (ou pelo menos dizem pertencer...) ao outro lado, que fica mais à esquerda da política...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


segunda-feira, novembro 21, 2022

A Memória do Chico Fixada nas Toalhas de Papel...


Chegámos a ser uma dúzia à mesa, às segundas feiras, na nossa "Tertúlia do Bacalhau com Grão", agora somos apenas dois, invariavelmente (quando o Mário, o Marinho ou o Luís aparecem é uma festa...).

O curioso, é que nunca nos falta assunto à mesa. O Chico repete-se muitas vezes, quando fala da nossa Incrível e da sua rua José de Mascarenhas ou das imediações (a Capitão Leitão, a Heliodoro Salgado ou a travessa Henriques Nogueira...), mas há sempre algo de novo que fica.

Por causa da sua "memória de elefante" (e também das do Orlando e do Jaiminho...). tenho bem muito mais que duas de dezenas de pedaços de toalhas de papel, dobradas no interior do meu caderno de capa verde (que está cada vez mais gordo...). 

Embora não tenha voltado a abrir grande parte destes registos avulsos, não resisto em pegar na esferográfica e fixar nas folhas de papel simples - que conta quase sempre a companhia de uma ou outra nódoa, de azeite ou de vinho tinto -, os nomes e acontecimentos que me ficam na retina, durante as nossas conversas. 

Foi o que voltou a acontecer hoje, quando viajámos pelos teatros da vida do Chico (até passámos pelo desaparecido "Clube José Avelino"...). Desta vez não ficámos por Almada, atravessámos o rio, para visitar de fugida o Paiva, que tinha um armazém (talvez ateliê seja mais apropriado...) no interior do Parque Mayer, onde era possível alugar todo o género de vestidos e outras roupagens, sem esquecer ou ou outro acessório indispensável, para oferecer um outro brilho às revistas e peças de teatro Incríveis...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, novembro 20, 2022

«Tudo indica que o País que não era para Velhos, também não é para Portugueses...»


Há alguém que fuma na esplanada, ao mesmo tempo que lê um dos jornais desportivos de domingo. O cheiro do cigarro e o som do folhear do futuro "papel de embrulho", fez-me recuar no tempo. Fixo-me nas mesas remexidas dos cafés dos anos 90, com jornais, livros, fumos e recordo vozes familiares, que tanto esgrimem argumentos sérios como soltam episódios anedóticos, que geram gargalhadas colectivas...

A minha viagem pela memória é traída pelo desabafo de um dos meus companheiros, revoltado com este tempo dos costas e dos marcelos, que olham para o mundo com um sorriso, porque a sua vida continua a ser um enorme fingimento. Para eles o mundo nem sequer faz sentido sem pobres. Não imaginam a geografia humana das cidades sem os "sem abrigo", a quem de vez em quando dão uma sopa, uma sandes e dois dedos de conversa, guiados pelos "bons samaritanos" dos "bancos alimentares" deste país, cada vez mais curto...

Noé foi ainda mais longe (continuo sem saber se é nome ou alcunha...) e ofereceu-nos um retrato de como começamos todos a viver, mesmo os que pensam que não são pobres (como eu...): «Descubro que sou um pobretanas, todos os dias. Começa logo no primeiro banho, quando descubro o frasco de champô vazio e não existe uma embalagem nova. A tragédia continua quando vou lavar os dentes e a pasta está toda espremida e não existe uma de reserva. As coisas só pioram quando abro o frigorifico e vejo o seu fundo, com uma nitidez, que até dói..»

Ninguém foi capaz de sorrir nem de quebrar o silêncio, que durou uma dúzia de segundos que pareceram minutos.

Aproveitei a passagem de um casal de estrangeiros, de calções e mochila, pela esplanada, para pintar o "quadro" com cores ainda mais escuras: «Tudo indica que o país que não era para velhos, também não é para portugueses...»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 19, 2022

O Marcelo "Festivaleiro" Mete com Facilidade os Direitos Humanos no Bolso


Marcelo Rebelo de Sousa continua a fingir que não percebe, que o que é normal para o cidadão, professor e antigo comentador, pode não ser para o Presidente da República.

Apesar de ser demasiado inteligente, continua a deixar-se trair, com alguma facilidade,  pelo "Marcelo festivaleiro", que raramente perde uma oportunidade de participar numa festança (tal como a dona Constança...).

Mas poderia evitar que a "boca lhe fugisse para a verdade" e dissesse que agora que a nossa Selecção está a caminho do Catar, é tempo de esquecer os direitos humanos e viver a festa do futebol.

Mesmo que faça muita questão de estar presente, de tirar "selfies" nas arábias, deveria lembrar-se de que nunca é tempo de se esquecerem os direitos humanos. 

Nunca!

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


sexta-feira, novembro 18, 2022

As Aproximações Literárias...


Há duas ou três pessoas que de vez em quando me telefonam, para falar sobre o que escrevo no blogue, outras duas ou três conversam, com uma ou outra opinião dada "entrelinhas", à mesa do café. Nunca comentam. E embora eu não os questione sobre isso, são eles que se desculpam, quase sempre com a "lengalenga" de que comentar "é mais complicado do que parece"... 

A verdade, é que até se torna mais agradável ter uma conversa com vozes, seja via telemóvel, seja à mesa do café. Porque acabamos sempre por falar de outras coisas, não menos interessantes.

Quando a Teresa chamou a Pilar de "oportunista", a propósito do que escrevi sobre as três mulheres de Saramago, não concordei. Embora até fosse verdade (mas não com aquele peso), porque os encontros que temos com os outros, muitas vezes são oportunidades. Mas neste caso penso que o "sentido de oportunidade" foi mútuo, acabando por ficar a ganhar tanto um como o outro (não vou medir, quem ganhou mais...).

Aliás, para um escritor, uma das coisas mais gratificantes que devem existir, é alguém se aproximar de nós, por causa dos livros, para falar das histórias e das personagens que inventamos, para dar corpo e alma ao romance, à novela ou ao conto, que vão crescendo dentro de nós...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, novembro 17, 2022

As Mulheres de Saramago


Se há um caso em que se pode dizer que as mulheres foram extremamente importantes, na carreira literária e no percurso comum, de partilha de saberes e de culturas, é o de José Saramago.

Ilda Reis, artista plástica, foi a primeira esposa, a mais discreta, mas talvez a mais importante, por ter vivido os momentos mais complicados, os da ascenção de Saramago nos meios culturais, quando o preconceito estava bastantes vincado na sociedade e ele era apelidado como o "serralheiro", em surdina, pela gente da cultura que não gostava muito de privar com quem vinha debaixo. Talvez já pressentissem que ele era bem capaz de subir pela "corda a vida", pulso a pulso, até ao topo...

Isabel da Nóbrega, escritora e "menina de bem" foi a sua segunda mulher. Foi também importante para ele, abriu-lhe muitas portas e também horizontes, na sua formação como escritor. Mas nunca "escreveu" por ele nem teve a importância desmedida que lhe é dada pelos "detractores" de Saramago...

A sua terceira companheira, Pilar del Rio, foi a esperança e a novidade, que a vida lhe ofereceu, já depois dos 60 anos de idade, de ter uma nova oportunidade, de ser feliz e de crescer, ainda mais, como autor. Não temos dúvidas que Pilar foi fundamental na caminhada de Saramago até ao Prémio Nobel da Literatura.

Talvez seja em homenagem a estas Mulheres (e a outras que se cruzaram com ele pela vida fora...), que algumas personagens femininas dos seus livros são inesquecíveis...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 16, 2022

Homenagem a Saramago no Dia dos Seus Anos...


Nada melhor para festejar o Centenário do nascimento de José Saramago, que republicar um texto felix que escrevemos (é mais longo que o costume...), quando o escritor foi laureado com o Prémio Nobel da Literatura, para o boletim "O Scala" (n.º 8, Verão de 1998):

«Foi com com grande alegria que vimos José Saramago deixar o hall de entrada da sala, destinada aos eternos perdedores do Prémio Nobel da Literatura, com a serenidade que o caracteriza, depois de ser “Levantado do Chão” pela Real Academia Sueca da Língua.

O país voltou a sorrir de satisfação – e com a Expo 98 ainda tão perto na nossa memória... -, ao ponto de transformar a vitória de Saramago, num êxito de todos os portugueses. Foram erguidas bandeiras de Norte a Sul, levando bem alto “Todos os Nomes” deste escritor, digno herdeiro de Camões, Eça, Camilo, Pessoa, Aquilino e Torga.

A Escandinávia dobrara pela primeira vez a coluna à língua portuguesa. Depois de um longo “Ensaio Sobre a Cegueira”, acabou por reparar uma  injustiça quase do tamanho deste século.

Embora Saramago seja um caso à parte, se fizermos uma “Viagem a Portugal”, encontramos uma mão cheia de poetas e ficcionistas que também poderiam ter sido inscritos nos “Apontamentos” da Academia Sueca.

Quando dizemos que ele é um caso à parte, estamos a basear-nos  num estranho casamento das Letras com Números que nos prova que Saramago é o escritor português vivo, mais conhecido e lido no mundo inteiro.

A sua obra literária é um manancial de estórias sobre a nossa História, “Deste Mundo e do Outro”, não sendo por isso de estranhar que alimente algumas polémicas. E quando se fala de coerência – uma palavra usada para dignificar Saramago e todos os seus camaradas que se mantém fiéis ao comunismo --, devemos fazer uma vénia ao Município de Mafra que continua a defender que “O Memorial do Convento” ofende o bom nome dos seus habitantes; e ao Papa, que  ao folhear “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, continua a perguntar a Deus com um olhar triste e angélico, “Que farei Com este Livro?”, por manterem vivas as suas opiniões divergentes em relação ao escritor.

Mesmo sabendo que este não é o melhor momento para  falarmos da nossa taxa de analfabetismo, não devemos esconder a nossa triste realidade usando o Nobel da Literatura como peneira.

Saramago sentiria, “Provavelmente Alegria”, se usássemos o seu Prémio para sensibilizar os portugueses a visitarem o campo aberto das letras, mostrando-lhes o poder da luz “Poética dos Cinco Sentidos” que nos ilumina nas nossas viagens deliciosas pelo interior dos livros.

E se nos fosse permitido sonhar, gostaríamos que o Nobel produzisse o mesmo êxito na Literatura que as medalhas milagrosas de Carlos Lopes e Rosa Mota obtiveram no Atletismo, fomentando de uma forma avassaladora a leitura nas escolas e nos lares portugueses, arrebatando toda “A Bagagem do Viajante” de Lanzarote e de outros grandes escritores.» 

(Foto de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, novembro 15, 2022

Algumas Singularidades de um Grande Escritor


Apesar de não ser o meu autor português preferido, sempre tive um grande respeito e admiração por José Saramago. Isso deve-se ao amor que sempre revelou pela liberdade, e também ao seu exemplo, de luta e de persistência, que foram fundamentais para que ele se transformasse num dos maiores criadores da língua portuguesa. 

E não menos importante, é o facto de Saramago nunca se ter esquecido de onde veio.

Não tenho dúvidas, de que são muito poucas as pessoas que têm a capacidade, não só de ultrapassar, mas também de colherem dividendos, das dificuldades e dos obstáculos que tiveram de enfrentar pela vida fora (na Cultura).

Vou só deixar aqui dois exemplos: o seu saneamento da direcção do "Diário de Notícias", depois do 25 de Novembro de 1975, e posterior desemprego, foram decisivos para a sua aposta na literatura a tempo inteiro e na sua afirmação como escritor; a forma como foi "maltratado" pelo governo do PSD, após a edição do seu livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (1995) foi determinante para a sua saída do País, escolhendo a ilha espanhola de Lanzarote com destino, onde "ganhou mais mundo", acabando por conquistar o nosso único "Prémio Nobel da Literatura", em 1998. 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, novembro 14, 2022

A "Idade Maior" e a Palavra "Não"


Esta coisa de  "viver" tem coisas bastante curiosas, talvez a maior seja o que nos vai  acontecendo, à medida que os anos vão passando, mesmo que se perca quase sempre mais do que se ganha.

A maturidade faz com que se diga mais vezes, "não". Se conseguirmos manter alguma independência e não se deixarmos aprisionar dentro de algumas "tribos" (até de amigos...), conseguimos ser menos complacentes com a mediocridade.

Claro que esta coisa de se dizer "não", tem um preço. Em determinada altura, há pessoas que deixam de nos telefonar (algumas faziam-no quase diariamente...), outras esquecem-se de nos convidar para isto ou aquilo. 

É a vida...

Apesar de saber que a ideia de que a idade nos dá estatuto para dizermos e fazermos o que nos apetece, está longe de ser linear (já assisti a vários exemplos que roçam a imbecilidade...), é bom termos cada vez menos medo das palavras. 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 13, 2022

O Começo da Manhã de Domingo nas Ruas da Cidade...


Hoje tive de fazer de "taxista" às nove da manhã e descobri uma cidade quase desconhecida...

Gostei de me movimentar nas ruas, praticamente sem carros em circulação, porque além de conduzir, podia olhar à minha volta, sem as preocupações habituais de trânsito.

Foi por isso que reparei que as poucas pessoas com quem me cruzava nos passeios, passeavam os seus cães, para a primeira "libertação" do dia... Também consegui ver um ou outro homem a acender o cigarro, talvez o primeiro ou segundo da manhã (abençoados, que não se rendem a este mundo falsamente "saudável"....).

Outro aspecto curioso, foi ter ficado à espera na estrada (os portugueses gostam de fazer esperar os outros, parando os seus carros no meio das vias...), para que uma família completa, daquelas que ainda têm "roupa de domingo", entrasse na viatura e fossem à sua vida. Deduzi que deviam ir visitar  algum templo religioso.

Fiquei a pensar que esta é uma das poucas virtudes que descubro nas religiões. Faz com que os seus membros ainda tenham o bom hábito de se "apinocarem" para a missa de domingo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

 

sábado, novembro 12, 2022

Um País que Começa a não ser para (quase) Ninguém


A narrativa governativa tem o hábito de nunca "nos contar tudo", por saberem a que realidade faz mais mal que bem às pessoas e que muda governos. Talvez seja por isso que Costa gosta tanto de fingir que é socialista, que governa e que se preocupa com as pessoas...

Além de sermos um país cada vez mais desigual, também caminhamos cada vez mais para a descaracterização e para o e desequilíbrio, de Norte a Sul.

Talvez a saúde seja a maior vítima deste "desnorte" governativo, por atingir directamente as pessoas. Percebo que quem vive em cidades pacatas do litoral não tenha problemas com o Serviço Nacional de Saúde. Mas o mesmo não se passa no interior (voltou-se a morrer em casa, nas aldeias isoladas, porque as cidades voltaram a ficar distantes...) e em redor das grandes cidades.

Eu normalmente falo das realidades que conheço. E devo viver na região mais afectada em termos de cuidados de saúde. Sim, somos mais de 300 mil pessoas que vivemos nos concelhos de Almada e Seixal e continuamos a ter apenas um hospital, com cada vez mais limitações. E não vale a pena falar dos Centros de Saúde ou Unidades Familiares, porque além da falta de pessoal, falta-lhes organização funcional (as pessoas são quase sempre empurradas para as urgências onde passam horas e horas, para desespero dos próprios e também do pessoal médico...).

E nem era preciso muito para que esta situação tivesse sido resolvida nos últimos vinte anos. Bastava retirar uma parcela pequena do dinheiro que entregámos aos bancos e à TAP...

Claro que se fosse o PSD que estivesse no poder, as políticas não mudavam para melhor, pelo menos para quem vive com mais dificuldades (muito menos as trapalhadas...). E até era bem possível que metade dos nossos hospitais já fossem privados... 

É por isso que o nosso país começa a não ser para quase ninguém. Claro que há excepções. 

Como de costume, quem vem de fora continua a ter um tratamento diferenciado, quer seja através dos famigerados "vistos Gold" ou das reduções fiscais para os reformados da europa rica, que querem disfrutar do nosso Sol o ano inteiro.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, novembro 11, 2022

O Serviço Nacional de Saúde Continua a ser Vítima dos Muitos Interesses que Giram à sua Volta


O que se passa diariamente nos Hospitais e nos Centro de Saúde é algo que devia envergonhar os governantes, mas também as respectivas administrações, assim como todos os médicos e enfermeiros, que colocam os seus interesses pessoais à frente dos interesses dos doentes.

Percebe-se que há demasiadas pessoas - dentro e fora dos hospitais -, apostadas em que as coisas não corram bem no Serviço Nacional de Saúde, para que muitas das suas valências passem, a pouco e pouco,  para as clínicas e hospitais privados.

É a única explicação que encontro, para que o serviço oferecido aos utentes, seja cada vez mais problemático.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, novembro 10, 2022

A Marca (invisível) que Fica, do contacto com a Beleza e a Liberdade dos Campos...


No fim de semana passado, num almoço em família, senti o quanto fui influenciado pelas férias grandes passadas na casa dos avós maternos.

Embora "detestasse" o trabalho duro dos campos e não quisesse  nada daquilo para a minha vida (e isso fazia com que fizesse "ouvidos de mercador" a muitos dos ensinamentos do avô...), ficou muito mais do que eu pensava, daquele tempo, dentro de mim.

Eu e o meu cunhado falámos do pequeno terreno dos nossos sogros, com pontos de vista, completamente divergentes. Ele é completamente citadino, não teve a minha vivência dos campos. Talvez seja isso que faz com que tenha quase alergia à terra e à labuta campestre... Ou seja, nem sequer se dão ao trabalho de por lá passar, e apanhar um limão ou uma tangerina. 

Embora o percebesse, eu, agora, homem, "amava" o campo, ao contrário da criança, que adorava correr e saltar pelos campos fora, mas detestava a dureza de todo aquele trabalho manual (o avô nesse tempo não tinha nenhuma máquina... era a parelha de bois e a burra - com e sem carroça - que o auxiliava na lavra e no transporte das coisas). E foi por isso que lhe falei do prazer do contacto com a terra, de ver essa coisa boa que é o nascer e o crescer dos frutos e legumes. E ele continuou a gracejar que preferia "colher" todas essas coisas do supermercado...

Pois é... mesmo sem darmos por isso, somos marcados de uma forma decisiva pela infância...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda )


quarta-feira, novembro 09, 2022

«Nem de propósito, até o apelido do rapaz, é "Cunha"»


Um dos sintomas mais visíveis de que as pessoas estão à tempo a mais no poder, é percebermos que começam a perder a vergonha e a fazer às "claras" o que antes faziam às "escondidas"...

É provável que exista o dedo da oposição em muitas das denúncias que têm sido notícia, quase diária, tendo como alvo ministros e secretários de Estado. Com culpa ou sem culpa,  percebe-se que há descontração a mais e responsabilidade a menos, na forma como governam o país.

Quando o Carlos disse, enquanto folheava o jornal: «Nem de propósito, até o apelido do rapaz é "Cunha"», ficámos todos a sorrir. 

Mas o caso é grave, a vários níveis. Além dos políticos terem o mau hábito de nos tomarem por parvos, neste caso particular, quem tem filhos com o mestrado ou a licenciatura, que só conseguem arranjar empregos onde lhes oferecem entre o salário mínimo e os mil euros, verem um rapaz com 21 anos, receber um ordenado bruto de 3.700 euros, sem qualquer experiência profissional (os anos de "jotinha" são outra coisa..), é um ultraje.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, novembro 08, 2022

Um Passado de Luta, Antes e Depois de Abril...


Tinha sido amigo de ambos e tanto eu como o Gui, tínhamos uma boa memória do velho Edgar, que apareceu quase do nada, na nossa conversa, graças à sua paixão pelo teatro  (como actor, autor e encenador) e pela poesia (adorava declamar...).

Além de ser extremamente culto teve o seu percurso político, antes de Abril, na clandestinidade. Quando quis ter uma vida normal, casar e ter filhos, sem ter de fugir e de olhar para todas as esquinas, "caiu em desgraça" no seu partido.

Não deixou de ser quem era, mas perdeu muitas oportunidades de ir ainda mais longe, por causa dos "muros" que foram tentando construir à sua volta.

Tinha ainda outro problema dentro do seu partido, era professor universitário e não um operário...

Talvez tenha sido por isso, que ele, com alguma lata, foi abrindo todas as portas que conseguiu, que se lhes fechavam à sua passagem. 

E fez bem. Foi a conclusão que ambos chegámos. Mesmo as homenagens que lhe fizeram, tiveram o seu dedo, foi ele que fez questão de lembrar às pessoas que sabia que gostavam dele, quando é que fazia 80 anos... E apareceu em muitos lugares sem ser convidado, sem se preocupar com os olhares que o ladeavam e que quase "faiscavam"...

Mas Edgar tinha ainda outra coisa rara: nunca se lamentava nem dizia mal dos seus "inimigos". Acho que foi isso que mais me aproximou dele, depois de nos conhecermos. 

Ambos estávamos de acordo, Edgar além de ser um bom amigo, foi um homem de coragem, com um passado de luta, antes e depois de Abril...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, novembro 07, 2022

«Já não é tempo de ler livros maus...»


Falávamos de livros, daqueles que percebemos à segunda página que não nos vão levar a lado nenhum. Mas insistimos em ler, apenas porque sim.

Foi quando eu disse que «já não é tempo de ler livros maus...»

E não é mesmo. Há tantos livros e autores que me deviam acenar das estantes, que ainda não sabem qual vai ser o seu futuro próximo...

Talvez fosse por isso que voltei à poesia de José Gomes Ferreira ("Poesia VI"), que tem sido tão inspiradora... Mesmo com coisas simples que fingem não querer dizer nada, mas que entram dentro de nós, como este poema:


(Acordei cansado de ser mais pequeno do que sou.)

Hei-de pedir a um assassino
que mate em mim o poeta
farto deste destino
de lua preta.

Sim. farto, farto do Sol de lama no poço
e desta tortura
de querer ser o esboço
de deus em miniatura.


(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


domingo, novembro 06, 2022

O Pensamento de Álvaro Cunhal e a Escolha do Novo Líder do PCP


Quando soube da escolha de Paulo Raimundo para secretário geral do PCP, um ilustre desconhecido para a maior parte dos portugueses (não me lembro de ouvir este nome, onde quer que seja...), pensei numa frase de Álvaro Cunhal, presente nas páginas do livro "O Partido com Paredes de Vidro", onde ele pretende reafirmar os princípios do funcionamento do Partido Comunista (não tenho "memória de elefante", apenas reli esta semana uma crítica ao livro...).

Álvaro Cunhal, entre muitas das coisas que escreveu nesta obra, há uma observação que parece ter sido levada em conta nesta escolha, que transcrevo:

«O mais frequente (e a regra) é que a ideologia burguesa influencia mais os intelectuais que os operários e que a participação determinante dos operários na Direcção assegura maior solidez de princípios do que a participação determinante de camaradas de outras origens sociais.»

Provavelmente, é por isso que há a tentativa de escolher alguém próximo do mundo dos trabalhadores. Até porque se percebe, que os tempos que se avizinham, "vão ser de luta", tanto nas ruas como nas fábricas (as que resistem)...

A realidade diz-nos que o PCP continua a não se deixar "manobrar" pelo exterior. Mas gostava que João Ferreira ou João Oliveira (os "escolhidos" pela comunicação social para render Jerónimo de Sousa...), quando fossem questionados sobre esta escolha, em vez de se defenderem, com algum lugar-comum, dissessem o que pensam, mesmo, sobre este "render da liderança"... 

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, novembro 05, 2022

O Empurrão para um Plano Secundário da "Família"


Embora possa ser discutível, defendi que uma das contribuições mais nefastas (numa certa medida, claro...) da democracia, terá sido a desvalorização do papel social da família, como elo de coesão social.

A liberdade chegou a todo lado, até às nossas casas... e com alguma naturalidade foi sendo desmontada a figura do "chefe de família", que a pouco e pouco foi deixando de ter a importância e influência que tinha, até na decisão do futuro dos filhos (era normal os pais escolherem a profissão dos filhos e até terem uma palavra a dizer no casamento...).

As dificuldades do dia a dia em relação ao presente e ao futuro, também faziam com que existisse alguma dependência, até mesmo nos conselhos recebidos (as grandes decisões eram partilhadas e decididas em família...). 

Tudo isso foi mudando, ao ponto de se desvalorizar, cada vez mais, a "experiência de vida" e a "sabedoria acumulada" ao longo dos anos (isto acontece também a nível profissional, onde alguém com 50 anos, já é considerado velho...).

Talvez por recordar com saudade as muitas coisas que o meu avô me ensinou, mesmo sem se aperceber, não concordo com o tratamento que alguns filhos dão aos pais, especialmente, quando eles ultrapassam os 70 anos. Quando são contrariados, é normal dizerem que os país "já não dizem coisa com coisa", ou então, que estão "completamente ultrapassados"...

Por continuarmos a caminhar a passos largos para a "desumanização" da sociedade, não aceito que as pessoas com mais idade sejam quase tratadas como "lixo", quando deixam de servir e só dão trabalho, "deitam-se fora"... ou seja, internam-se em asilos...

Esta talvez seja a consequência mais grave, do "empurrão para um plano secundário da 'Família' "...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sexta-feira, novembro 04, 2022

O Amor à "Pátria" (entre a globalização e a aposta no ressurgimento dos nacionalismos)


Este foi um dos temas mais consensuais da nossa conversa. Não há ditador que prescinda do amor e da defesa da Pátria (muitas vezes contra tudo e contra todos...), agarrando-se a tudo o que pode, como sejam os momentos de glória do passado, o amor-próprio das pessoas, e sobretudo, de muita mitologia.

Não deixa de ser curioso, que tenha sido a globalização a promover o crescimento os nacionalismos na Europa. 

Esta aproximação dos continentes. assim como a abertura das fronteiras entre países europeus, consolidou outro fenómeno: a chegada quase diária de "migrantes" (vindos quase sempre do Norte de África, em fuga da fome, da guerra e do desemprego...). Chegada que também tem contribuído para o papel cada vez mais relevante dos partidos populistas e nacionalistas, xenófolos e racistas, na Europa.

Os tempos de crise que temos vivido nos últimos anos, colocam tudo em causa. Quase ninguém quer que lhes ameaçassem o emprego e a qualidade de vida. 

E estas questões são "terreno fértil" para o crescimento de partidos extremistas, que voltam a trazer à luz do dia o "Deus, Pátria e Família", que tanto jeito deram ao salazarismo e marcelismo, na manutenção do regime ditatorial durante quase meio século.

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quinta-feira, novembro 03, 2022

O "Deus" da Trilogia (ou a traição de séculos a Jesus Cristo)


Não pretendo ser muito exaustivo, mas como disse várias coisas pertinentes (e até discutíveis...) na entrevista com a Teresa, vou continuar de viagem pelo nosso passado recente, para compreender melhor o nosso presente demasiado oscilante.

Acabámos por "desmontar", a trilogia, que continua a ter tanto peso na extrema-direita (basta olhar para este Brasil, tão dividido, onde os apoiantes de Bolsonaro exaltam quase sempre, "Deus, Pátria e Família",  passa-se o mesmo com o líder do Chega...), apostando na ignorância e no misticismo, com as meias-mentiras  do costume.

A primeira coisa que me fez afastar da Igreja Católica foi a "traição" aos princípios humanistas de Jesus Cristo. Ele esteve sempre ao lado dos pobres e desfavorecidos, ao contrário dos papas, bispos e padres deste mundo, que sempre usaram e abusaram do seu poder (os crimes sexuais são apenas uma de muitas manchas que ficam de séculos de exploração e de abusos...).  

Claro que esta "traição" nunca foi foi inocente. Desde cedo perceberam que só poderiam manter o seu "poder divino" e os seus privilégios sociais, se estivessem ao lado dos poderosos. E foi o que fizeram (e fazem...) no mundo inteiro.

Não foi por acaso que a Igreja Católica esteve sempre ao lado de Salazar. E mesmo depois do 25 de Abril, ao perceberem que a democracia só lhes iria retirar poder e desvalorizar o seu papel social, participaram activamente na "contra-revolução", a Norte do Tejo. Até chegaram a aconselhar o voto aos seus fiéis, nas homilias dominicais...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, novembro 02, 2022

Somos Mais Livres mas Vivemos Mais Perdidos...


As mudanças na sociedade, deixam sempre marcas, positivas e negativas. O verso traz sempre atrás de si o reverso, como se a perfeição continuasse a ser uma utopia...

É por estas e por outras, que a democracia começa a perder adeptos, aqui e ali. Evita-se falar de Salazar, embora comece a existir alguma unanimidade (dos historiadores do lado direito...) de que nunca fomos um país fascista. Um dos argumentos, é que se "matou, prendeu e torturou pouco". Outro, é de que não éramos obrigados a fazer parte das instituições fascistas criadas nos anos trinta (Mocidade, Legião...), o que é mentira. Havia represálias para quem se recusasse a fazer parte destas e doutras instituições, que apelavam a um patriotismo quase cego. 

Uma amiga que está a fazer uma tese de doutoramento sobre a o que mudou entre nós, com a perda de influência da trilogia "Deus, Pátria e Famílía", fez-me uma entrevista, queria saber o que eu pensava sobre o assunto.

Disse muitas coisas, andei por vários lugares. E no fim disse: "Hoje somos mais livres mas vivemos mais perdidos."

Andámos quase em todo lado. Foi uma boa viagem. É por isso que prometo escrever sobre algumas das coisas que falámos, durante a semana.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal) 


terça-feira, novembro 01, 2022

"Chuveirinhos" no Ginjal


Quando as marés se tornam mais "vivas" e existe alguma ondulação no Tejo, é possível avistarmos vários "chuveirinhos", naturais, ao longo do Ginjal. 

Isso faz com que seja preciso algum cuidado a passear no paredão. Ou seja, é boa ideia "contar as ondas", para circular em segurança.

Talvez esteja a exagerar, para tirar esta fotografia, tive de esperar mais que as "sete ondas" da colecção...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)