quarta-feira, abril 29, 2009

Nada Resiste

Nada resiste ao desejo de "deixar marca", mesmo que essa marca seja apenas uma nódoa de tinta, pintada com a rebeldia de quem não sabe ser jovem...

Claro que a culpa não é destes rapazes e raparigas que parecem achar a "destruição" a coisa mais normal do mundo (inclusive a auto-destruição, como assisti "in loco" na noite de 24 para 25 de Abril, onde além de se encherem de álcool e droga, protagonizaram cenas demasiado tristes, num dia em que se festejava a Liberdade...).
A culpa é de nós, pais, que se auto-excluímos, cada vez mais, do papel de educadores, preferindo ficar a barafustar contra as políticas de educação nas escolas, em vez de exemplificarmos como se deve viver em sociedade, etc.

domingo, abril 26, 2009

A História e as Estórias...

Não sei qual é o "trauma" que Vasco Pulido Valente tem sobre as chamadas Primeira (1910 a 1926) e Segunda República (1974 à actualidade), nem me interessa.

O que me choca é que ele se arme em historiador, quando a única coisa que faz é manipular e deturpar acontecimentos históricos, consoante os seus interesses e o habitual hábito de escrever "contra a corrente".
Menos inocentes e traumáticos são os escritos de Pacheco Pereira, que ninguém diria que em Abril de 1974 fazia parte da extrema esquerda. Também é um bom contador de "estórias", mas tal como o "companheiro vasco", em vez de assinar os seus escritos como ficcionista (vá-se lá saber-se porquê...), também prefere ser considerado historiador...

O desenho do Rui, dos seus tempos da "Visão", mostra o "sapo vasco", a saltar de nenúfar em nenúfar.

sábado, abril 25, 2009

Abril com os Primeiros Cabelos Brancos...

Trinta e cinco anos depois, não só apareceram os primeiros cabelos brancos à "revolução", como também se espalham por aí mais cravos de papel e plástico, em vez dos autênticos...

Escolhi esta foto, deste "avô" anónimo, com um cartaz e uma rosa branca na mão, porque é o exemplo de todos aqueles que cresceram e viveram em Ditadura, que tiveram de assistir a tantos episódios indignos ao longo de 48 anos, empurrados para os curros do silêncio...
Abril para eles foi um grito profundo. «Fascismo nunca mais!»
Quando a descobri lembrei-me de um velho democrata de Almada, José Alaiz, que com 79 anos ainda teve a ousadia de participar no III Congresso Republicano de Aveiro, onde nem a idade respeitosa evitou que fosse agredido à bastonada pela polícia...
O seu exemplo diz-nos que Abril é resistir e acreditar, até ao fim.

quinta-feira, abril 23, 2009

O Nosso Cepticismo

Estava sentado, à espera de um café, a ver o vai e vem habitual das pessoas, que "correm" diariamente em todas as direcções, quando pensei encontrar uma das explicações para cada vez acreditarmos menos nos políticos, nos jornalistas, nos economistas, etc.

Esta nossa busca incessante do conhecimento só nos oferece mais dúvidas e menos certezas.
Estou convencido que se deixássemos de ler jornais e de ver as notícias televisivas, voltávamos a acreditar um pouco mais na natureza e essência humana. E se frequentássemos qualquer templo daqueles que nos ensinam a perdoar o próximo, ainda mais...
Claro que este aparente bem estar, este acreditar nos "vendedores de banha da cobra" modernos, apenas fazia de nós pessoas mais ignorantes e inocentes. E por acréscimo, mais felizes. O conhecimento raramente é sinónimo de felicidade.
É por isso que noto uma crescente aposta na população mais idosa, nas promessas dos partidos, quando se aproximam as eleições. Percebo que eles vão mais atrás do "canto da sereia", por várias razões (além das fragilidades próprias da terceira idade), ainda têm outros princípios, são mais encolhidos e também mais ingénuos em relação ao mundo. Vão mais atrás da palavra bonita que os jovens...
O nosso cepticismo aumenta ainda mais quando verificamos as contradições e manipulações que se fazem no mundo actual, para proteger as pessoas que se julgam (e são julgadas...) muito importantes e que possuem demasiado poder. O que se faz para esconder erros que ultrapassam a natureza humana, e até crimes, que começam a ser banalizados neste tempo de crises, como as falências fraudulentas e o desemprego forçado, que muitas vezes tem como único objectivo maximizar os lucros e não viabilizar as empresas, ainda piora mais as coisas...

quarta-feira, abril 22, 2009

Liberdade não é Apenas uma Palavra

É Abril, mês da Liberdade, mês da Terra, mês do da Esperança...
Apesar de sermos uns distraídos, a Liberdade sempre teve princípios.
O seu princípio mais simples e mais óbvio é conseguirmos interiorizar que só somos verdadeiramente livres, quando sentimos que Liberdade é respeitar os outros, no espaço, no tempo e nas diferenças...
Claro que nem sempre o conseguimos...
E quem mais tem sofrido com as nossas distracções, tem sido o Planeta onde vivemos...

domingo, abril 19, 2009

"O Apagador de Passados"

José Eduardo Águalusa escreveu "O Vendedor de Passados", cuja história se passa em Angola e talvez seja um reflexo demasiado nítido da realidade local.
Nós por cá não precisamos que ninguém escreva "O Apagador de Passados", porque se vive demasiado o quotidiano, esquecendo (ou pelo menos finge-se...) alguns episódios anteriores, muitas vezes nada dignificantes, especialmente dos políticos. Quem governou, fala do lado da oposição como se nunca estivesse no poder e não cometesse erros...
Cavaco Silva parece-me ser na actualidade o caso mais visível de quem resolveu "apagar" parte do passado como primeiro-ministro (pelo menos o mais sinistro dos tempos do "cavaquistão"), tentando afirmar-se como uma grande figura moral da república portuguesa.

O desenho do Rui, "Eudeusamentos", de 2001, continua actual...

sábado, abril 18, 2009

O Nosso Mal Profundo

Nem sempre concordo com Miguel Sousa Tavares, mas hoje ele consegue colocar os dedos nas nossas feridas, na sua coluna semanal do "Expresso". Transcrevo a parte final da crónica:
«[...] A corrupção é apenas a ponta do iceberg da crise de valores e princípios que hoje nos caracteriza. A falta de consciência social de muitos patrões, a baixa produtividade laboral que é a nossa imagem de marca, são outras das consequências dessa crise. Como o são a falta de sentido de serviço público na política, como na justiça ou no ensino, ou a ausência de um espírito de solidariedade ou de altruísmo para com os outros. Somos católicos sem ser cristãos, somos ricos sem vergonha dos meios usados para tal, somos famosos só porque nos vendemos às revistas `sociais´, somos corajosos só porque podemos espalhar boatos e difamações nos blogues, a coberto do anonimato e sem ter de prestar contas. E, quando não conseguimos ser nada disso, somos só invejosos e revoltados contra a “corrupção dos políticos todos” na mesa do café.
Nenhuma lei, por melhor que seja, pode resolver este mal profundo.»
A fotografia retrata a "feira popular" na actualidade. Infelizmente também é reveladora de outros nossos males profundos, o desamor e abandono pelo que é nosso...

sexta-feira, abril 17, 2009

Nós, Europeus

É este o título de uma das crónicas mais lúcidas que tenho lido, sobre a nossa relação com a Europa, publicado no "DN" de ontem, escrito por Maria José Nogueira Pinto, uma das poucas pessoas assumidamente da direita que gosto de ler.

Ela coloca vários dedos na "ferida" e analisa com rigor a forma como os nossos governantes (do PSD e PS) nos têm tratado:
«[...] Nós, por cá, nunca fomos ouvidos. Nem mesmo aquando do Tratado de Lisboa e apesar da promessa eleitoral do PS. Os argumentos para nos remeterem ao silêncio foram extraordinários, e quando os meramente processuais se esgotavam evocava-se a complexidade da matéria: os portugueses nunca poderiam votar algo que não eram capazes de compreender. Fomos excluídos do processo por incapacidade cognitiva...
Uma das piores consequências desta exclusão foi a ideia que o português comum fez da União Europeia: a do dinheiro fácil, uma espécie de bodo aos pobres a distribuir por empresas-fantasmas de formação profissional e por construtores de obras públicas, milhões e milhões enviados com o propósito de recuperarmos atrasos estruturais, mas recebidos como se não tivessem contrapartidas da nossa parte, não exigissem um compromisso sério e colectivo para o desenvolvimento do País. [...]».
Aconselho a leitura completa do artigo, disponível no site do "DN".
A fotografia não deixa de ser uma metáfora deste país, tanto dinheiro gasto em cimento, deitado ao rio (já se diz por aí que temos auto-estradas a mais), sem esquecer as grandes negociatas feitas pelo "baronato do cavaquistão" - o tempo das "vacas gordas" europeias -, para proveito próprio...

quinta-feira, abril 16, 2009

O Centenário de Soeiro Pereira Gomes

A edição de hoje do jornal "Avante" dá um destaque especial ao centenário do nascimento do escritor Soeiro Pereira Gomes (14 de Abril de 1909), com a publicação de um suplemento e também da edição da obra, "Contos Vermelhos e Outros Escritos".
Não podia deixar de assinalar a data, pois Soeiro Pereira Gomes foi o primeiro escritor a despertar-me para a "ganância" do capitalismo, no começo da minha adolescência, nos anos setenta, através da leitura de, "Engrenagem", um romance que aborda as implicações da industrialização nos campos, tal como as promessas do patronato que raramente são cumpridas...
Sempre gostei de Soeiro Pereira Gomes, como gosto de Álvaro Cunhal, do almadense Alberto de Araújo, e de tantos outros verdadeiros comunistas que abdicaram do conforto dos seus lares burgueses, para se entregarem à luta pelo ideal de uma sociedade mais justa e igualitária, durante a ditadura salazarista.

quarta-feira, abril 15, 2009

Recuar no Tempo

Aproveitei a Páscoa para passar uns dias na Beira Baixa, onde reparei num pormenor que me tem passado despercebido. Senti-me de regresso a um país antigo, que ainda alimenta a existência de dois universos distintos, o masculino e o feminino, como nos anos, cinquenta sessenta e setenta.

Nunca tinha reparado com tanta nitidez que os cafés são para os homens e a casa e a igreja para as mulheres.
Por ter bebido café em terras diferentes (Alcafozes, Medelim, Penha Garcia), onde o único ponto comum era estar rodeado apenas de homens, de várias idades, que faziam um barulho ensurdecedor (até neste aspecto as mulheres fazem falta, cortam o pio a tantos homens...).
O mais curioso é que algumas mulheres da cidade, quando regressam ao interior beirão, parecem sentir-se cómodas com esta separação.
Eu senti-me bastante estranho neste recuo no tempo...
A fotografia é do inesquecível Robert Doisneau (acho que já a publiquei, mas...).

terça-feira, abril 14, 2009

Escrever sem Amarras...

A blogosfera é escrever, escrever, sem amarras, sem condicionalismos, sem medos...

E quem tem uma "costela" provocadora como eu, ainda sente mais gozo em escrever coisas que algumas pensavam que não teria coragem de publicar...
Mesmo que digam: «Ele escreveu aquilo, mas a história não foi bem assim...», não faz mal, porque o mundo é quase redondo. Digo quase, porque não é exactamente como uma bola. E a ficção mistura-se cada vez mais com a realidade, mesmo no jornalismo que se julga sério.
No nosso país os folhetins do século dezanove dos nossos romancistas deram lugar a outros, com personagens reais e factos ainda mais "estapafúrdios", que os criados pelo Eça ou pelo Ramalho Ortigão.

O óleo é de Manuel Amado.

sexta-feira, abril 10, 2009

Obrigado, Filho da Puta!

Este título é mais provocatório que outra coisa.

Tudo isto porque há coisas impensáveis, que nos acontecem de vez em quanto.
Este agradecimento deve-se apenas ao facto de ter conhecido uma Grande Senhora, há um ror de anos, pelo simples facto de ser filha do gajo do título.
Envergonhada com a "filha de putice" do pai, ela teve a humildade de descer do seu pedestal e vir pedir desculpa à "plebe", coisa que fez com que todos a respeitassem (ainda mais) e aprendessem o quanto é importante separar o trigo do joio.
Voltámos-nos a encontrar muitos anos depois, graças à poesia, da vida e dos livros...
Claro que não falámos do "filho da puta", porque era um assunto sem poesia...

quarta-feira, abril 08, 2009

Eles São Mesmo os Melhores


Quem tinha dúvidas de que o F.C.Porto é de longe a melhor equipa portuguesa, deve-as ter perdido ontem.
O Benfica e o Sporting estão muito longe da competência e da qualidade portista.
Palavra de benfiquista!

domingo, abril 05, 2009

A Aposta Ganha na Vitimização

Ao olhar para as sondagens que vão circulando por aí, é fácil de perceber que não há "escândalo" que resista à capacidade do nosso primeiro ministro em se "auto-vitimizar", escudando-se nas habituais "campanhas negras", "perseguições pessoais", "xicanas políticas", "mentiras", etc.

O que me irrita é que Sócrates não está a ser avaliado pelo seu papel como governador e pelo estado actual do país, praticamente pior em todos os sectores que há quatro anos, porque as reformas anunciadas (algumas das quais iniciadas) foram sendo metidas na gaveta, à medida que a data das próximas eleições se foi aproximando.
A única que permanece por aí, estupidamente, é a reforma da educação feita contra os professores (como se tal fosse possível, pelo menos com êxito e a melhoria do sector...).
Incomoda-me bastante este jornalismo rasteiro que anda por aí, à procura das "fragilidades" pessoais de Sócrates, sem focar a política desastrosa do seu governo na saúde, na justiça, na educação, na economia e nas finanças.
Só se as ditas "campanhas negras", afinal são "brancas", e apostam nas qualidades de "actor dramático" do secretário geral do PS, para vencer as próximas eleições...
O óleo, "Espanta Pardais" de José Malhoa, assenta que nem uma luva em alguns espantalhos que andam por aí, disfarçados de políticos e de jornalistas...

quinta-feira, abril 02, 2009

Retrato de Família

Não tenho tido tempo para escrever por aqui, foi mais uma semana daquelas... mas não deixei de ler alguns jornais.

Não sei se leram o "Expresso" do último sábado, em que a jornalista, Sara Moura, faz o retrato do poder da Madeira, com um esclarecedor, "Tudo em Família". Está lá tudo, todas as ramificações do poder "ajardinado", com filhos, irmãos, cunhados, maridos, sobrinhos, etc.

Não fiquei espantado, até por saber que esta é a prática de uma boa percentagem das nossas autarquias locais. Já tinha falado disso aqui há pouco tempo.

Aplaudo sim a coragem da jornalista Sara Moura, que não teve medo (se calhar teve e tem, mas mesmo assim escreveu esta reportagem...) dos tentáculos do "polvo" madeirense...
O "boneco" é do Rui, dos seus bons tempos da "Visão".