terça-feira, maio 31, 2022

A Alegria de ter Irmãos...


Normalmente não ligo muito a esta coisa relativamente "moderna" (cresceu com as "redes sociais"...) de comemorar todos os dias uma coisa qualquer, por mais banal que seja.

E por essa razão, nem sequer devia publicitar aqui o "Dia dos Irmãos", mas acabei por achar graça ao bom gosto e às verdades que estão dentro do cartaz que foi escolhido.

Mesmo que sejam "verdades lapalicianas", lembram-nos de como a nossa vida teria sido mais triste se não tivéssemos um irmão. E sim, mais irmãos, seriam sinónimos de mais alegria.


segunda-feira, maio 30, 2022

A Nossa Falta de Memória no Futebol...


Sei que o desporto é uma actividade especial, onde normalmente não se reserva qualquer espaço para os vencidos. Talvez isso explique a cultura da vitória, "a qualquer preço", que infelizmente quase que se tornou "lei" (acredito que está mais associada às modalidades colectivas, pela cultura de clube que foi crescendo à sua volta...).

O simplicidade e a beleza do futebol tornou-o cada vez mais popular, com tudo o que isso tem de positivo e negativo. Não foi por acaso que se começou a tornar na "bandeira" de um bairro, aldeia, cidade ou região. O passo seguinte foi a sua transformação, a pouco e pouco, num espectáculo de massas. Construíram-se estádios, passou a ser televisionado e em pouco tempo transformou-se num dos negócios mais rentáveis do planeta.

A "cegueira clubística" também cresceu, ao ponto de se perceber que a maior parte das pessoas que se deslocam aos estádios, vão lá para verem os seus clubes vencer e não para assistir a uma boa partida de futebol. Não querem que ganhe o melhor, querem sim que ganhe o seu clube. Normalmente o êxito dos clubes assenta nesta "cegueira" colectiva, onde quem está de fora ou não tem clube, sente que isto já não tem nada a ver com desporto. 

Pinto da Costa foi, entre nós, o dirigente que conseguiu aprimorar todos os aspectos que o poderiam ajudar a vencer (dentro e fora dos estádios). Não se limitou a ter grandes equipas de futebol, também se tornou influente no chamado poder do futebol (durante anos deixou que o cargo de presidente da Federação Portuguesa de Futebol fosse entregue à Associação de Futebol de Lisboa, porque tinha mais interesse que a Associação de Futebol do Porto controlasse a arbitragem, a justiça e a disciplina...).

Mas sentiu que ainda não controlava "tudo". E é neste cenário que aparece a figura famigerada do "guarda Abel", que controlava um grupo de bandidos (dizem que era composto por agentes de autoridade e por foras da lei...), que começou a incendiar o terror nos estádios. Quem dizia ou escrevia mal sobre o FC Porto, levava. Houve dezenas de jornalistas agredidos. Infelizmente resultou. Ou seja, o clima de "medo" instaurado, fez com que se fingisse estar tudo bem. Os árbitros, desde sempre os mais "vulneráveis" do "desporto-rei" eram primeiro aliciados e depois ameaçados (se não erravam pelas "prendas" recebidas, erravam pelo "medo"...). Foi este o panorama do futebol português até surgir o "Apito Dourado"...

Embora não houvesse condenações (existiam provas mas foi um problema encontrar testemunhas...), muita coisa mudou no futebol depois do "Apito Dourado". Foi pena que o então presidente do Benfica em vez de ter aprendido a lição, tivesse tentado imitar Pinto da Costa, colocando pessoas da sua confiança em lugares-chave no poder. Porque o mais importante continuava a ser vencer, "vencer a qualquer preço"...

Embora seja benfiquista, estou do lado de Frederico Varandas, que não tem medo de usar nenhuma palavra (ao contrário de vários jornalistas, que sempre se acobardaram, ao longo dos anos - falo sobretudo dos agredidos e ofendidos. Rui Santos, com quem não concordo muitas vezes, é dos poucos que nunca teve medo de falar do que se passa fora das quatro linhas...) contra Pinto da Costa.

Para mim, o futebol ganha-se dentro das quatro linhas, mesmo com alguma injustiça (depende sempre do nosso ponto de vista...), como aconteceu agora na final da Liga dos Campeões. Mas gosto mais que seja a bola a caprichar em não entrar, graças ao guarda-redes ou ao poste, que a coisas estranhas, como a "cegueira" temporária de qualquer árbitro.

Faz-me confusão que Frederico Varandas esteja sozinho nesta luta contra a corrupção no futebol português. Faz-me confusão ver tanta gente a fingir que acredita no "pai natal"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, maio 29, 2022

Um Olhar de "Peão" em Lisboa...


Talvez por ter "pouco mundo" acho Lisboa a cidade mais agradável para se circular a pé, apesar das suas colinas. Sou capaz de caminhar mais de duas horas pelas ruas lisboetas, sem sentir qualquer desconforto. Isso acontece porque descubro sempre coisas diferentes nos lugares e nas pessoas com quem me cruzo.

Por não gostar de andar em filas, quase que só passo de carro por Lisboa ao largo (quando vou às Caldas ou a outro lugar...). E é também por isso que acho ridículo querer colocar mais "limites de velocidade" na Capital (o que só contribui para o aumenta ainda mais das filas e à confusão no trânsito...).

Também não concordo com a proibição de circulação na Avenida da Liberdade de viaturas aos fins de semana. Acho que se deve limitar, sim, diariamente, a circulação a carros particulares (o que já se fala há anos, mas que se fica pelas ameaças...) pelo chamado centro da Capital. Até porque os transportes públicos já foram muito piores...

Do que eu não ouço ninguém falar é dos "limites", que deviam ser feitos às trotinetes (talvez o maior perigo para os peões em Lisboa, graças à "loucura adolescente" de quem as conduz (mesmo que tenham 40 anos...). Limite na velocidade e também do número de existências. 

Claro que em benefício do "turismo" vale tudo, até continuar a "desequilibrar" a cidade, ao ponto de qualquer dia não existir um lisboeta a residir no centro histórico da Capital...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, maio 28, 2022

Um Dia Depois...


Ontem era para escrever aqui no "Largo" sobre o 27 de Maio de 1977 em Angola, mais concretamente sobre Sita Valles, que se tornou a figura mais mítica deste triste acontecimento histórico angolano, em que foram assassinadas milhares de pessoas, em nome da "purificação" do MPLA (algo que nunca foi conseguido...) mesmo que só algumas dezenas tentassem derrubar, o "todo poderoso", Agostinho Neto.

Sem questionar o seu papel político, enquanto militante comunista, acreditamos que Sita ficou na história sobretudo por ser mulher e por ter uma bonita figura. Nessa época o mundo era muito mais dos homens que nos nossos dias. A cineasta Margarida Cardoso fez um documentário com o seu nome que está nas nossas salas de cinema (não sei se é o que passou na televisão na quinta-feira na RTP2, que vi...) sobre a Sita, a família, os seus companheiros, e claro, sobre o "Golpe de 27 de Maio".

Angola está cheia de páginas negras na sua história recente, mas esta é com toda a certeza a mais negra de todas, com o assassínio de milhares de inocentes, quase todos na "flor da idade", cuja maioria teve apenas o azar de estar n0 local errado à hora errada...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, maio 26, 2022

Os Sonhos e as Ilusões (entre outras diferenças)


Talvez os sonhos dos homens e das mulheres não sejam assim tão diferentes, como a Teresa quis deixar bem vincado, numa conversa que foi andando, andando, até chegar ao mundo fantasioso e clássico de Walt Disney, os hoje tão contestados contos de fadas.

Contos que continuam a fazer parte do nosso imaginário, por ambos sabermos que não podemos olhar o passado com os olhos do presente. O "mundo" da primeira metade do século XX está a muitas léguas do século XXI...

Começámos a conversar por não sermos tão sonhadores como uma terceira pessoa, que depois de três casamentos falhados ainda continuava a acreditar nos "contos de fadas", ou seja, nos príncipes encantados. A Teresa, mais cáustica (normalmente as mulheres não defendem as outras mulheres como os homens defendem os outros homens...), disse que ela "não acreditava em porra nenhuma", era apenas uma maneira de fingir que era mais feliz que os outros. Acrescentando, que ela até fazia bem, se tudo aquilo não passasse de uma capa...

O feminismo da Teresa acabou por vir para a nossa mesa, disfarçado de humanismo. Mas ela tinha razão. A vida das mulheres sempre foi mais difícil que a dos homens. Recuou aos tempos da sua adolescência, que não se comparavam com os da mãe e da avó, mas mesmo assim, só saía de casa à noite bem acompanhada e com o destino predefinido. O irmão, pelo contrário, tinha toda a liberdade do mundo... 

Tentei desdramatizar o seu discurso, dizendo que a rua sempre foi dos homens e a casa das mulheres, mas ela pouco ligou ao que eu disse e respondeu-me: «Enquanto andavas na rua a divertir-te com os teus amigos eu estava fechada em casa, a sonhar acordada. É aqui que começa tudo... sonhámos demasiado tempo acordadas, enchemos a cabeça de ilusões. Isso não acontecia por acaso, quase todas as histórias de amor que nos ofereciam tinham o "felizes para sempre" no final.»

E concluiu da melhor maneira: «Ainda bem que esse tempo acabou.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, maio 25, 2022

"A Essência do Comércio" e a Ausência das Revistas nas Salas de Espera...


Quando preciso de ir a qualquer consulta e imagino que vou "esperar", mais que cinco minutos, faço-me sempre acompanhar de um livro, de preferência curto e leve.

E hoje foi uma boa ideia levar "A Essência do Comércio", de Fernando Pessoa, publicada há quase 100 anos (em 1926, na "Revista  de Comércio e Contabilidade"). É um livro de uma actualidade gritante, que teria muito a ensinar a grande parte dos nossos comerciantes (provavelmente o merceeiro da minha rua já leu este pequeno livrinho...). Começa logo com uma lição dada pelos alemães aos ingleses, com o negócio simples dos "ovos quentes" na Índia.

Fernando dá um particular enfase à psicologia, ao conhecimento que devemos ter "do outro". Curiosamente, essa continua a ser a principal lacuna de quem vive do comércio, que centra todas as suas atenções no presente e no lucro imediato (o turismo ainda agrava mais este problema...).

Apesar de ter ficado agradado com este Fernando Pessoa, "mais comercial", achei estranho a ausência de qualquer revista de moda ou de mexericos, que quase todos folheávamos nas salas de espera de clínicas e consultórios.

A pandemia nem poupou os "famosos", que uma boa parte das vezes, não fazia ideia quem eram nem o que faziam, para além de degustarem croquetes e fazer sorrisos cintilantes para os fotógrafos bem acompanhados.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, maio 23, 2022

O Peso de Termos Mais ou Menos Estado Social


Não sei se temos verdadeiros liberais no nosso país, apesar de agora até existir um partido com esse nome.

Digo isto porque muitas pessoas que defendem um Estado menos Social e mais Liberal, o que pretendem é apoiar mais as empresas e menos as pessoas, com o argumento de que estas é que são "o motor da economia".

Tenho cada vez mais dúvidas sobre este ponto de vista "liberal". Basta olhar para a nossa sociedade, cada vez com menos ricos (mas muito mais ricos) e mais pobres (bastante mais pobres)...

Embora seja contra todo o tipo de subsidiodependências (sempre que for possível, devem dar-se "canas de pesca e não peixe" às pessoas), sei que há áreas da sociedade que só conseguem subsistir com apoios públicos. E por isso que defendo que quem recebe dinheiro do Estado, também deverá ter obrigações, ou seja, tem de dar o seu contributo à sociedade, da forma que lhe for possível.

Muitas vezes quando se fala do rendimento mínimo e de outros subsídios dados às pessoas que vivem com mais dificuldade, tenta-se dar a ideia de que estes têm um peso financeiro muito grande no orçamento do Estado. Provavelmente o apoio que é dado às empresas tem um peso muito maior (podia falar da TAP, mas também da Auto-Europa, que recebe grandes benefícios do Estado...).

É por isso que penso que se tivéssemos um Estado menos Social, a miséria e a degradação da vida humana iria aumentar, um pouco por todo o lado. Sei que há pessoas que não sabem viver sem "esmola", mas através dos apoios que recebem, elas também têm obrigações, que até podem parecer pequenas, mas que acabam por ser fundamentais para um maior equilíbrio social. A mais importante (para eles e para nós...) talvez seja a obrigatoriedade dos seus filhos frequentarem a escola. 

Quando olho para esta sociedade, cada vez mais desigual, só posso ser um acérrimo defensor do SNS (muito mais bem organizado que o que existe...) e da Educação para Todos.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, maio 22, 2022

Uma Crónica com Várias Crónicas dentro (e um esquecimento)...


Sei que tenho alguma facilidade em misturar assuntos nos textos. que escrevo. Quando começo a escrever estou a pensar numa coisa mas depois a minha mão inclina-se para outras direcções e quando dou por ela, Já "estou noutra rua"...

Foi mais ou menos o que aconteceu ontem. Depois de ler o que escrevi, fiquei com a sensação de que tinha escrito matéria que daria para três textos diferentes. Ou seja, escrevi por ontem, hoje e amanhã.

Em parte isso aconteceu por ter sido o primeiro a levantar-me de manhã e ter ido buscar pão à mercearia.

Quando falei na falta que nos fazem as "viagens para longe daqui", esqueci-me de dizer que isso não acontece com a frequência que uma boa parte de nós deseja, porque cada vez temos menos poder de compra, ou seja, estão a querer transformar-nos, quase todos, em pobrezinhos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, maio 21, 2022

Não é como Ser Merceeiro, Mas...


De longe a longe encontro um rapaz que escreve nos jornais e que também continua a preferir a calma da blogosfera aos "turbilhões" (a palavra é dele...) de outras redes sociais, tal como eu.

Falamos da actualidade, de jornalismo, de livros, de cinema e também desta forma de comunicar.

Ele nunca conseguiu ter muitos comentários (nem mesmo nos tempos em que a "blogosfera" estava na moda...) e foi por isso que acabou por fechar a respectiva caixa. Ele fica espantado por eu continuar a ter comentadores e pergunta-me qual é a "fórmula"... E eu fico sem saber o que dizer, por ter consciência que há coisas que não são lineares nem carecem de qualquer explicação "científica". 

Depois de várias insistências disse-lhe que tento que o "Largo" seja um lugar agradável para passear e se visitar. E para que as pessoas se sintam bem, até tem uma "boa esplanada" com um café que é uma delicia. Ele acabou por sorrir e mudar de assunto.

Hoje de manhã, quando fui à mercearia cá do bairro, por ser o único cliente fiquei à conversa com o rapaz que vi crescer e hoje é quase um homenzarrão. Entre outras coisas, falei-lhe do "jeito que ele tem para namorar as velhinhas, que não lhe desamparam a loja". E ele recordou-me que também elas o conhecem de menino (sabe o nome de todas...) e por isso existe algum maternalismo à mistura, que acaba por ser bom para o negócio.

Pois é, o "truque" é sempre o mesmo. Se tratarmos bem os clientes, eles voltam, sempre...

Embora a realidade não deva ser confundida com a virtualidade, e nestes espaços não existam rostos, idades, sexos, religiões, partidos, etc., os princípios acabam por ser os mesmos. Somos sobretudo pessoas, que gostamos de estar onde nos sentimos bem. E se for possível, olhamos e conversamos, mesmo com quem não conhecemos de lado nenhum (isso acontece tanto quando viajamos...).

Talvez estejamos todos a precisar de "partir", nem que seja até à rua que fica para lá da esquina. Sinto que falta a este mundo, essa ponta de humanismo que nos leva a falar disto e daquilo, desinteressadamente, a oferecer um sorriso, até a um estranho, apenas por que sim.

Não tenho dúvidas de que temos de fazer mais, bastante mais, para que esse "mundo" (que nos está a fugir...) nos seja devolvido...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, maio 20, 2022

Os "Sabichões das Dúzias" das Tevês (e as redes sociais)...


É normal que se continuem a criticar as redes sociais (e até os blogues...), por serem espaços com "excessiva" liberdade. O facto de qualquer pessoa pode dizer o que muito bem entende, nem sempre tem o melhor uso, mas não há nada a fazer, porque a liberdade é isso. E mais importante, continua a ser um privilégio apenas das democracias.

Só que as redes sociais, ainda estão muito "verdinhas", na "batalha da desinformação". Não conseguem sequer chegar aos "calcanhares" da televisão...

Basta termos memória para "batermos" de frente com o nosso Presidente da República, que popularizou melhor do que ninguém, a figura do comentador "tudólogo" televisivo. O seu exemplo quase que se fez "lei" e acabou por dar "palco" a pequenos "marcelinhos" e "marcelinhas", com "lábia" suficiente para opinarem sobre tudo e mais alguma coisa, ao ponto de serem capazes de dizer uma coisa hoje e amanhã o seu contrário.

E a transformação da informação em espectáculo, nunca mais parou.

Infelizmente, os últimos três anos  têm sido "ouro" para todos estes "bandidos". Primeiro foi a pandemia e agora a guerra (depois do desfile diário de "especialistas em vírus", estava longe de pensar que ainda tínhamos mais "especialistas em batalhas"...).

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, maio 19, 2022

A acção com imagens é sempre mais directa que a que usa apenas palavras»


A conversa que tive sobre cinema acabou também por ir parar aos livros, como se a acção que está dentro das histórias escritas fosse igual às das imagens...

Não concordei nada e disse que eram coisas diferentes. A acção dos filmes entra mais rapidamente dentro de nós, por razões óbvias. Agora os livros, são outra coisa.

Acrescentei que, mesmo um filme medíocre, se tiver bastante movimento, com as cenas a mudarem quase de segundo a segundo, deixa-nos presos ao écran, a querer saber o que se vai passar a seguir... Nos livros as coisas não funcionam assim, a acção tem de ser também acompanhada de boa literatura, ou seja, as palavras precisam de fazer mais sentido. O meu companheiro de conversa não ficou muito convencido, talvez por não ser um grande leitor.

Acho que poucas pessoas duvidam de que «a acção com imagens é sempre mais directa que a que usa apenas palavras.» 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, maio 18, 2022

Filmes, Mentiras & Generalizações


Quando escrevi aqui que vi muito cinema português nos anos 80 e 90 do século passado, um leitor do "Largo" fingiu não acreditar. E claro, aproveitou logo a embalagem para dizer mal dos filmes portugueses. Mesmo que desconheça uma boa parte deles...

Disse-lhe que há vários realizadores que contrariam a técnica e o pensamento cinéfilo de Manoel de Oliveira e dei exemplos. Fernando Lopes, António Pedro-Vasconcelos, José Fonseca e Costa e Joaquim Leitão, são realizadores que gostam de acção, de movimento,  não fazem os famosos "filmes parados", que acabaram por ficar como imagem de marca. E podia falar de mais gente, especialmente jovens. Tenho pena que Ana Luísa Guimarães se tenha ficado pela "Nuvem" e que Patrícia Sequeira (gostei muito do filme sobre as Doce...) faça mais televisão do que devia...

O problema do cinema português é um problema comum a muitas áreas da nossa cultura (e não só...): a falta de dinheiro. Sem meios, é impossível fazer um filme com acção, movimento e cenários diferentes. Há quem espere quase dez anos para conseguir produzir e exibir um filme...

Sei que este meu amigo não ficou muito convencido. Mas também não o queria convencer. Queria sim combater as "generalizações", que além de mentirosas, minam o que de bom se faz no cinema português.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, maio 17, 2022

Gerir (ou não) os "Tempos da Vida"...


Algumas pessoas a partir de uma certa altura, vivem a vida quase sem método, limitam-se a ver passar os dias e a aproveitar as brechas que esta lhes oferece, para fazer uma ou outra coisa, que lhes dá prazer.

Outras nunca desistem do "comando" invisível que pensam ter nas mãos. Por vezes até dá a sensação de que tentam aproximar a vida ao cinema ou ao teatro, criando "actos" e gerindo "tempos" de acção. É por isso que seguem à risca o que escrevem nas suas agendas. 

Mesmo que muitas coisas acabem por "sair furadas", não desistem de ser eles a comandar os seus passos...

Andamos a vida inteira nisto, a tentar gerir "os tempos da vida", entre a ilusão e a desilusão. Uns desistem, outros não...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, maio 16, 2022

O Normal é os Escritores não Acharem Muita Piada às Adaptações Cinematográficas dos seus Livros (mas a vida é isso...)


Sei que os escritores normalmente não gostam muito das adaptações cinematográficas dos seus livros. Sentem que "roubaram" a alma ao livro que escreveram e que estão a ver "uma coisa diferente" na tela.

Podia falar de Ernest Hemingway, que detestou a passagem para o cinema da maior parte das suas obras literárias. Ou então referir as muitas palavras (directas e indirectas...) atiradas pela dona Agustina ao Manoel de Oliveira, por não se identificar com as várias adaptações dos seus textos feitas pelo Mestre. Ele nunca entrou em polémicas, apenas lhe respondeu com o óbvio, quando disse: «Há uma diferença muito grande entre o que é cinema e o que é um livro. A transposição de um livro para o cinema é uma coisa extraordinariamente difícil e nunca há correspondência.»

Curiosamente, mesmo sem ter visto ainda "Um Filme em Forma de Assim" de João Botelho, sobre Alexandre O'Neill, penso que ele iria gostar. Digo isto porque o O' Neill era uma personagem e a fita do João tem muita poesia do Alexandre lá dentro...

Por cá tenho gostado de algumas adaptações, outras nem tanto. Mas não posso deixar de referir "O Delfim" do Fernando Lopes (grande livro e grande filme...), que devia deixar orgulhoso o seu amigo, Cardoso Pires.

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


domingo, maio 15, 2022

«Quanto mais pobres somos, mais necessidade temos de ficar ricos»


É comum dizer-se que somos dos países que gastamos mais dinheiro em jogos de sorte e azar. Pois é, a desigualdade social, "fabrica" destas coisas...

As filas nas tabacarias - que quase já não vendem jornais e mesmo os cigarros já viveram dias mais felizes - são o melhor indicador estatístico desta realidade portuguesa. 

Mesmo sem ter qualquer dado seguro, arrisco dizer que as mulheres (a caminhar para a meia-idade...) devem ser  as grandes consumidoras das raspadinhas (grande "invenção"...), que têm o pior de qualquer jogo: distribuem uns tostões aqui e ali, dando a entender que a sorte já esteve mais longe.

A passar pela tabacaria mais central de Almada lembrei-me da frase, que tem tanto de óbvia como de verdadeira, que o Carlos me ofereceu um dia destes: «Quanto mais pobres somos, mais necessidade temos de ficar ricos.»

E embora a "sorte" apareça muito raramente nos lares mais modestos, ajuda a que os pobres continuem a viver e  a sonhar (e a jogar, claro)...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, maio 14, 2022

A Poesia Escreve-se com a Memória e com os Sentidos


Por já ser quase velho, sei que a poesia se escreve quase de mil e uma maneiras. Há até quem diga que é uma mão invisível que o guia até ao mundo das palavras, que têm tanto de bonito como de estranho.

O poeta Pina dizia que a poesia escreve-se com a memória. E dizia muito bem, mas também se podia referir ao romance e ao conto, que seria deles sem a memória...

É por isso que acrescento à memória os sentidos. 

Acho a poesia muito ligada a todos os sentidos, inclusive ao sexto.

É por isso que só escrevo poesia de vez em quando. A memória não é suficiente para me levar a escrever... preciso dos sentidos (todos, até mesmo do sexto)...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha) 


sexta-feira, maio 13, 2022

Gente a "Cores" e Gente a "Preto e Branco"...


Embora goste dos filmes e das fotografias a preto e branco, sei que o mundo é muito mais que isso, pois todo ele foi contruído com uma multiplicidade de cores, e claro,  de pequenas e grandes singularidades.

E onde é possível encontrar mais diferenças, é dentro e fora de nós, humanos.

Foi por isso que ao nos cruzarmos com um antigo vereador, acabámos a falar dele, até por ser tudo, menos a "preto e branco". É também por isso que se percebe à légua as saudades que ele tem do "poder". Apesar de estar afastado há mais de meia-dúzia de anos de funções governativas, continua a aparecer, sempre que pode, a gostar do contacto com o "povo", a adorar "bajular" e ser "bajulado". E como ele gosta de "discursar", mesmo que diga sempre as mesmas coisas, que espremidas são pouco mais que nada (sim, é menino para estar uma hora a falar sobre uma "pedra da calçada")...

É exactamente o contrário de dois presidentes que o acompanharam, que devem adorar ter uma vida normal e viver longe dos "holofotes". É por isso que raramente são vistos em acontecimentos públicos...

Ainda bem que existe o "Sol" e a "Sombra", o "Palco" e a "Plateia"... e a possibilidade de escolhermos o nosso caminho...

(Fotografia de Luís Eme - Idanha-a-Velha)


quarta-feira, maio 11, 2022

Os Espelhos que Espreitam para Dentro de Nós...


Olhamos o espelho à procura de quase tudo, o que se vê e o que não se vê...

O reflexo do nosso olhar não nos revela apenas os sintomas diários, quase banais, de uma noite mal dormida ou de um dia cinzento que nos espera lá fora. O espelho gosta de ir mais longe, de se meter com quem gosta de perder mais de cinco minutos, a lutar contra o que vê, sendo mesmo capaz de abrir alguns caminhos obscuros, por onde se estende a diversidade e a complexidade humana. 

Claro que me vou ficar pelo "mundo real", pelas pessoas bonitas que se acham feias e pelas pessoas feias que encontram coisas bonitas no "jogo" do reflexo dos espelhos... Sim, quando ouves uma pessoa com "tudo no sítio" a dizer que gostava de ter «o nariz mais comprido» ou «a boca mais pequena», isso só pode significar uma "insatisfação permanente" e  mais trabalho para os cirurgiões plásticos. E depois descobres uma pessoa quase "invisível" a dizer que gosta da cor e da expressão dos seus olhos, na maior parte das vezes que enfrenta o espelho. 

Mais uma vez podemos ir à sabedoria popular encontrar explicações para esta coisa terrivelmente humana, de que só querermos o que não temos e só estarmos bem onde não estamos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, maio 10, 2022

Quando nos Tentam Roubar a "Identidade" (publicamente)...


Sempre que passo naquela rua da Sobreda, penso na mesma coisa: quem está ali é um António qualquer Lisboa, mas nunca o poeta António Maria Lisboa, que fez parte do movimento surrealista e morreu novo.

Sei que não é uma situação virgem, esta tentativa de abreviar o que é impossível de abreviar: "o nome de combate" do poeta.

Mas eu continuo na minha: apesar de algumas coincidências, este António Lisboa, não é o António Maria Lisboa. E é um "mal" que pode ser facilmente remediado com a substituição da placa...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda da Caparica)


segunda-feira, maio 09, 2022

Coxos, Pescadores, Caçadores, e claro: Mentirosos


Todos mentimos, uns mais outros menos. Mentimos por razões várias. Uma boa parte das vezes para evitar chatices (tanto em casa como no trabalho), outras para nos "armarmos ao pingarelho", esticando a corda, inventando coisas que gostávamos de ter como um carro um uma vivenda, para "subirmos" um patamar, ainda que ligeiro, na vida e na conversa. Sim, um simples carro em segunda mão, pode ser transformado num BMW. E um apartamento nos subúrbios, com alguma imaginação, pode passar por uma vivenda com piscina e tudo...

Mas, como nos diz a sabedoria popular, alguns mentirosos começam a "coxear" antes dos coxos...

E como há pessoas que nos contam a sua vidinha toda (quase sempre com alguns acrescentos, para dar alguma magia à coisa), sem lhes perguntarmos nada ou sermos íntimos. Acho que isso ajuda a explicar o  sucesso do "facebook". Ou seja, o que não falta por aí, é gente desejosa de viver outras vidas e "contá-las". Mas como nem todos podem ser actores a sério...

Mas vamos lá à tal história de sábado à tarde... A mulher começou a contar-nos as maravilhas da sua "nova vida", quando resolveu mudar de casa (troca de vivenda por vivenda, mas com larga vantagem, pois foi para o "paraíso"...). E nesse dia quente, tinha a piscina da casa, cheia, com os filhos e netos.

À medida que ia contando pormenores, ia sendo atraiçoada pela geografia (uma boa mentira é como a ficção, precisa de um espaço real, para que a estória ganhe sentido...), ao ponto de percebermos que afinal a sua vivenda estava "equipada" para quatro famílias, dois no rés de chão e outros dois no primeiro andar e que a tal piscina, afinal era colectiva...

Pois, quem nos mandou a nós conhecer aquele lugar "paradisíaco", onde mora o Paulo e a Marta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, maio 08, 2022

«Já reparaste na quantidade de bairros sociais que existem no nosso concelho?»


«Já reparaste na quantidade de bairros sociais que existem no nosso concelho?»

A pergunta surgiu quase do nada. E sim, já tinha reparado. 

O difícil era não olhar para a quantidade de bairros, que se chamam "sociais", vá-se lá saber porquê... por existirem em quase todas as freguesias de Almada.

Normalmente são "caixotes de cimento", construídos para alojar pessoas que escolhem (ou são escolhidas...) lugares estranhos para "sobreviverem", onde normalmente falta um pouco de tudo e que depois acabam por ser realojadas nestes espaços (às vezes com anos de espera, dentro de listas).

Quando me perguntaste que tipo de gente vivia nestes lugares, disse que eram pessoas normais. E depois acrescentei: "No meio de um ou outro vagabundo, que finge viver do ar, moram famílias que normalmente trabalham mais e ganham menos dinheiro que nós."

(Fotografia de Luís Eme - Olho de Boi)


sexta-feira, maio 06, 2022

Aproveitar a Oportunidade para Ficar na História...


Sei que Zelensky tem pouco de santo, mas graças a Putin corre o risco de entrar para a galeria dos heróis e por lá ficar por longos anos, pelo menos para os ucranianos com memória.

Se "não se estragar", até poderá ter uma estátua aqui, um busto ali, além do nome em muitas das ruas e praças da Ucrânia, como referiu o Jorge.

O mais curioso, foi o líder dos ucranianos ter entrado na conversa de café, apresentando-se com várias farpelas. Andou entre o "traste" e o "herói", mesmo que acidental (são quase todos...). E mesmo quem não morria de amores por ele, acabou por se render à sua coragem, porque Zelensky não fugiu, ficou. E já se percebeu que vai ficar até ao fim, seja qual for o desfecho desta guerra estúpida (como são todas)...

Todos sabíamos que este seu gesto tinha sido suficiente para inspirar e fortalecer todo o seu povo. Viram nele o exemplo a seguir, o homem que não vira a cara à luta e que "promete" não abandonar nem desistir do país (não esquecemos as várias "boleias" que lhe ofereceram, que seriam aceites pela maioria dos políticos...) que governa.

Em suma, Zelenky é o "herói" com que Putin não contava e que pode mesmo fazer dele um derrotado. 

Fizemos todos figas para que isso acontecesse, mesmo aqueles que o olham com ar mais de oportunista que de herói.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, maio 05, 2022

Um Mundo Cada Vez Mais Alérgico a Homens Livres


Nunca como hoje se colocou tanto em causa o pensamento alheio. Basta que alguém escreva ou diga algo que seja contrário ao que é comum chamar-se "politicamente correcto".

Claro que não falo das pessoas que têm como primeiro objectivo, "chocar" ou "serem diferentes" (levam isto ao extremo, ao ponto de escreverem ou dizerem coisas, que até são capazes de contrariar o que realmente pensam, quando pensam...). Vasco Pulido Valente deverá ter sido o maior exemplo destes cronistas, muitas vezes incoerentes, e até ofensivos. Hoje tem vários seguidores, mas a léguas do seu talento.

Falo mesmo de "homens livres" (este "homem" não tem sexo definido...). De pessoas que até são capazes de se manifestar contra as instituições a que estão ligadas (partidos, clubes, associações, etc) ou até contrariar amigos próximos, quando sentem que colocam em causa a sua própria liberdade, de expressão, acção ou pensamento.

É cada vez mais difícil encontrar pessoas livres como o foram Gonçalo Ribeiro Teles, Maria de Lurdes Pintasilgo, Manoel de Oliveira, José Saramago ou Mário Viegas, que não se deixavam condicionar pelas "verdades colectivas". 

Adoravam andar fora de "rebanhos"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, maio 04, 2022

É Normal que se Leiam Cada vez menos Livros...


Ontem o Canal um (uma coisa que não "existe", mas que continua a ser tratada desta forma, por quase todos nós. É um pouco como as ruas e os largos que se "rebelam" contra os novos donos e permanecem "eternamente" com as velhas toponímias...), resolveu falar de livros e de leituras, convocando alguns escritores e professores ligados a este mundo.

Claro que não se chegaram a grandes conclusões. Nunca se chega, estes programas são sempre demasiado curtos... Falou-se dos problemas de sempre, da educação, do preço dos livros, da concorrência do nosso mundo digital e também das muitas solicitações para os jovens.

Bateu-se muito na "educação", porque continua a ser fácil "dar porrada" na escola, quando estamos sempre à espera que seja ela a fazer o "nosso trabalho de casa"...

Eu já não "bato" em ninguém. Sei que o problema da falta de leitores é, essencialmente, um problema cultural. Penso que as pessoas que não leem livros, são as mesmas que não vão aos museus ou ao teatro. 

O que eu noto é uma grande lacuna na procura de "novos leitores" (ou de "novos públicos" nos museus e teatros...). Tudo o que se faz no nosso país tem como alvo quem já gosta de ler (desde os "clubes de leitura" aos "festivais literários"...). É preciso ir à procura dos "não leitores" e explicar-lhes o "sabor especial" que um bom livro pode ter. E ir ainda mais longe, pois os livros são de tal forma multifacetados, que até são capazes de nos levar a dar uma "volta ao mundo", sem sairmos do mesmo sítio...

Mas o problema maior talvez seja todo este excesso de informação que nos rodeia (umas vezes "palha" outras "invenções"). Gera demasiada confusão, ao ponto de ser capaz de nos afastar de pequenos prazeres, como é o da leitura. 

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, maio 03, 2022

Crescer num Mundo com "Escolas" para Raparigas e "Escolas" para Rapazes...


Embora nunca me tenha sentido completamente confortável no mundo "onde os homens não choravam", foi assim que cresci e fui aprendendo a ser homem (por vezes erradamente, mas a vida era isso...).

A presença de um casal amigo (uma agradável surpresa...) na nossa "tertúlia" das segundas, ajudou-nos a viajar no tempo e no espaço, trazendo para a mesa muitas das nossas tradições e também a nossa gastronomia, num mundo tão diferente do dos nossos dias...

De repente, voltei à infância. Lembrei-me de coisas, como a "matança do porco", onde com apenas cinco, seis anos, comecei a assistir a todo aquele "espectáculo", inclusive à gritaria do animal que adivinhava o seu destino (aprendia a esconder o arrepio que me invadia o corpo, provocado por aqueles guinchos). De ano para ano, custava menos, com menos de dez anos devo ter tido a "permissão" para segurar uma das patas... quase num ritual de masculinidade.

Também me lembrei das touradas, que hoje olho como um espectáculo bárbaro (não faço manifestações, acredito que elas morrerão de "morte natural"). Visitei várias vezes a praça de touros das Caldas de mão dada com o avô (um verdadeiro aficionado...), desde os sete, oito anos. Na altura não tinha idade para perceber o porquê de tudo aquilo, muito menos para o questionar. Mas estava longe de ser um espectáculo agradável... Deve ter sido por isso que desde a adolescência, nunca mais visitei qualquer praça...

Quando falámos da gastronomia, falámos desse mundo antigo, tão compartimentado, em que um homem que gostasse de cozinhar, corria o risco de ser olhado de lado, porque "a cozinha era das mulheres"... E de como tudo é diferente, de como hoje podemos ser quase tudo, sem merecermos qualquer reparo.

Claro que a educação conta muito nestas coisas das igualdades... Por sermos dois rapazes, a mãe sempre nos habituou a fazer pequenas tarefas (lavávamos louça, estendíamos roupa... "tarefa proibida", por exemplo, para os homens no mundo da minha sogra, que uma vez fez quase um escândalo, quando a quis ajudar a estender roupa no quintal.

Ainda bem que o "mundo" em que os meninos se vestiam de azul e as meninas cor de rosa, quase que já não existe...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


segunda-feira, maio 02, 2022

Memórias de Abril e Maio de 1981...


O único ano em que participei nos desfiles e nas festas das comemorações do 25 de Abril e do Primeiro de Maio, em Lisboa, foi em 1981.

Era o meu primeiro ano em Lisboa... e com alguma naturalidade, foi um ano de descobertas.

Vinha da província, de uma Cidade quase sem Abril, pouco dada a fervores revolucionários.

Embora fosse um simples observador, era um observador feliz ao assistir a todas aquelas encenações humanas, ainda com espaço para sonhos.

Lembrei-me de tudo isto, porque hoje senti a alegria de um casal, que nunca perdeu um desfile na Avenida da Liberdade de Abril ou na Almirante Reis em Maio (os tempos da pandemia não contam...), que me explicou, entre outras coisas, que é um local de encontro anual. Há amigos que só se encontram nestes momentos festivos em que ainda se festeja a Liberdade...

E o que ficou, foi a expressão da contentamento da Teresa, de que continua a ser muito bom festejar a Liberdade, ainda que seja uma festa cada vez mais curta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, maio 01, 2022

Uma Coincidência Feliz


Este Primeiro de Maio, também é o Dia das Mães.

É sem qualquer dúvida, uma coincidência feliz.

Se há alguém que trabalha, trabalha e trabalha, são as Mães, de todos os países (as que têm outras Mães para lhes fazerem as actividades domésticas não contam...).

Além do trabalho diário nas suas profissões, são elas as primeiras a preocuparem-se com os filhos, com a lida da casa, com a alimentação de toda a prole... entre tantas outras coisas.

Felizmente muita coisa mudou, uma boa parte delas, já não está para se sujeitar a uma vida de "quase escravatura", embora ainda não se tenha encontrado um equilíbrio nestas funções, que a própria sociedade ainda divide, como masculinas ou femininas...

Apesar de continuarmos a ser uma sociedade desigual (a divisão entre ricos e pobres é muito mais difícil de esbater...), é bom que vejamos cada vez mais, nas nossa companheiras e Mães dos nossos filhos, alguém como nós, que caminha a nosso lado e não à frente ou atrás...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)