quinta-feira, março 31, 2011

«Nem todos têm a lábia do Joe Cardoso»


Isto de se ser bom rapaz tem que se lhe diga, principalmente próximo de mulheres para quem as boas maneiras e a simpatia têm um valor relativo.


Carlos continua a oferecer-se para ir buscar um café ou uma água à Cristina, entre outras simpatias, sem sequer sonhar da forma como é mimoseado pelas costas, por aquelas senhoritas. "Manso", é das mais suaves. A única brasileira da equipa de trabalho chama-o de "frouxo".

Os homens da casa não gostam nada do "filme". Rogério ao principio ainda lhe dizia para ele se deixar daquelas merdas, que não era assim que conseguiria alguma coisa daquele lado, etc. O rapaz ainda levava a mal, pensava que o "chefe" tinha algum interesse na sua "ninfa".

Foi de uma forma quase acidental que apanhei esta conversa, enquanto bebia café com três amigos da dita "fábrica de ideias", para onde trabalho (sempre que se lembram de mim...). Eles começavam a não achar graça à brincadeira, porque qualquer dia as "jeitosas" punham o Carlinhos a servir de tapete. Não era apenas o "orgulho de macho" a falar, também se sentiam gozados com a situação, enquanto homens.

O Rogério disse: «nem todos temos jeito para engatar gajas, mas há limites.» O Gui a sorrir acrescentou: «pois é, nem todos têm a lábia do Joe Cardoso».

Risota colectiva ao lembramos o bom do Joe Cardoso, um "django" das histórias de amor, que ataca tudo o que seja fêmea e pese mais de quarenta quilos.

Depois de os deixar continuei a sorrir pela rua fora, a pensar na arte de conquistar donzelas (diesel ou a gasolina). Sabia que nem todos tínhamos a lábia do Joe Cardoso, mentindo e inventando descaradamente, para conseguir levar a "água ao seu moinho". Quase sempre com êxito, diga-se.

Muitos de nós vivemos de acasos, mesmo que por vezes sejam provocados. Acho que todos sabemos (ou pelo menos devíamos saber) que as mulheres não caem do céu nem o açúcar é o "isco" ideal para as "pescarias"...

O óleo é de Aldo Balding.

quarta-feira, março 30, 2011

O Poço dos Milagres


Os homens e mulheres da geração dos meus avós eram óptimos a contar histórias.
Tive a felicidade de ouvir muitas, durante a infância, na qual passava uma boa parte das férias na casa dos avós maternos. Recordo com satisfação muitas das contadas pelo avô, um memorável contador de histórias.
O fantástico estava quase sempre presente, embora menos aventuroso que as histórias dos nossos dias, das "Crónicas de Nárnia" ou do "Harry Potter".
Muitas delas tinham séculos e eram passadas de pais para filhos ou de avós para netos, como a famosa história do "Poço dos Milagres", que embora não fosse uma "fonte da vida eterna", tinha umas águas portentosas que curavam quase todas as doenças.
As mais difíceis de acreditar eram as do cego que depois de lavar os olhos começou a ver e do coxo que massajou as pernas e começou a andar.

Perguntámos muitas vezes onde ficava o "Poço dos Milagres", mas o avô limitava-se a oferecer-nos algumas pistas, que serviam sobretudo para nos despistar...

Embora estas histórias fossem deliciosas, principalmente no Inverno, quando nos sentávamos à volta do "lume", o tempo ajudou-nos a perceber que um mundo demasiado saudável, cheio de soluções milagrosas, era capaz de ser um pouco monótono.


O óleo é de Jean Marie Poumeyrol.

segunda-feira, março 28, 2011

As Crónicas Sexuais Femininas (com Rabo de Fora...)


Embora raramente leia as famosas revistas de moda, mexericos ou "fait-divers", às vezes sou surpreendido com as histórias que lá vêm dentro (mais ou menos uma vez por mês quando vou ao dentista com o meu filho para ele fazer a "revisão" do aparelho).


Não estava à espera de ser chamado para "desempatar" uma discussão entre duas "damas" com idade para terem juízo, que estavam longe de chegar a acordo sobre a autoria das "aventuras sexuais" publicadas numa revista feliz e moderna, entre as muitas páginas de publicidade.

Uma delas dizia que era impossível que aquelas histórias fossem escritas por mulheres, todo aquele arrojo era coisa masculina. Faltava ali o jogo de sedução e outras pequenas coisas que fazem com que uma mulher se deixe convencer. Apesar da modernice que nos cerca, a mulher continua a não gostar de ser apelidada de "fácil".

A outra dizia que há mesmo mulheres modernas, capazes de se dedicarem ao "engate" (a palavra foi mesmo esta...) e de andarem por aí à pesca de homem.

E eu ali a sorrir, tentado a dar razão à primeira "dama" (elas detestam este nome...). Muito sinceramente, também acho aquelas histórias demasiado "másculas", acho que as mulheres ainda não são assim. Claro que posso estar ultrapassado pelo tempo...

O óleo é de Ger Eikendal.

domingo, março 27, 2011

Amores, Medos e Desamores


Muitas vezes vende-se por aí a ideia de que só as mulheres frágeis são vitimas de violência doméstica.


Eu hoje almocei com uma mulher que foge a esta norma, pois trata-se de uma mulher bonita, forte e independente. E mesmo assim foi vitima de um cobarde que tinha pelo menos duas caras, um daqueles sujeito que ninguém "leva preso".

É por isso que fujo cada vez mais das generalizações.

Há muito que não tinha um almoço assim, daqueles que se esticam pela tarde fora, numa mesa farta composta por quatro mulheres e três homens.

Falámos de muitas coisas do nosso dia a dia (felizmente nada de política ou futebol...). Os dramas também apareceram, quase todos se queixaram das dificuldades em conciliar os filhos de outras relações, e claro, da tendência que nós temos em complicar o que é fácil. A Dulce foi criticada por continuar a ser extremamente contemporizadora para com o seu "ex", o que irrita bastante o seu novo companheiro, que gostava que existisse mais distância.

As opiniões misturaram-se na mesa, e eu ali, sem saber o que dizer, em parte por não compreender a espécie de homens que continuam a olhar para as mulheres como "mercadoria" e "propriedade".

A Dulce não explicou o inexplicável, apenas disse que não queria ser ela a afastar a filha do pai.

Nem sempre conseguimos separar as coisas. Ela vai conseguindo.

Antes de nos despedirmos-nos a Ingrid disse que eu tinha ficado com matéria mais que suficiente para caracterizar duas ou três personagens das minhas histórias. E tinha mesmo...

O óleo é de Stan Moller.

sábado, março 26, 2011

O Café da Manhã

Já escrevi por aqui, mais que uma vez, que sempre que estou sozinho no café, tenho tendência para olhar com mais atenção para o que rodeia e acabo sempre por escrever duas ou três coisas nas folhas de guardanapo (quase papel "bíblia") da mesa.

A maior parte das vezes não aproveito o que escrevo, embora tenha uma caixa, onde guardo estes pequenos apontamentos, com papeis de várias cores e proveniências.

Foi assim que reparei no monólogo de uma das mesas ao lado. Um homem de meia idade, falava falava, enquanto a mulher com idade para ser sua filha limitava-se a escutar e a abanar a cabeça. Podia estar ali, mas também podia estar longe...

Quando chegou um dos meus companheiros de tertúlia, esqueci o casal e acabámos por falar da discrição masculina, pois um dos nossos amigos tinha ido passar uma semana a Londres, para matar saudades da filha. Nós não fazíamos ideia que a filha dele estava na Capital de Inglaterra. Foi então que o Victor me contou que a maior parte dos seus amigos não sabiam que tinha uma filha. Só o ficaram a saber por ele lhe ter dedicado o seu último livro. Eu disse-lhe que nós somos quase sempre mais discretos que as mulheres, só sabemos o que cada um de nós quer contar da sua vida privada. As nossas conversas fixam-se muito nos nossos pontos comuns, quase sempre ligados à cultura e afins.
O óleo é de Graig Nelson.

sexta-feira, março 25, 2011

A Bem da Nação

Perante o quadro cinzento que nos cerca, uma das melhores coisas é não perdermos o sentido de humor, arranjando formas de não nos deixarmos levar pela "onda de pessimismo". Foi por isso que resolvi desenhar o quadro "ideal" para combater a "crise". Como ando a escrever um livro de "histórias improváveis", esta é apenas mais uma...

«Cavaco Silva, preocupado com a situação do país, resolveu optar por formar um governo de unidade nacional, com todos aqueles que enchem as televisões, rádios e páginas de jornais de "soluções milagrosas", os únicos capazes de nos retirar da situação complicada em que nos encontramos.
O governo será chefiado por Marcelo Rebelo de Sousa e terá como ministros:

Mário Crespo (ministro da presidência); Medina Carreira (ministro das finanças); Campos e Cunha (ministro da economia); Helena Matos (ministra da defesa); Vasco Pulido Valente (ministro de negócios estrangeiros); Pacheco Pereira (ministro da administração interna); Paulo Pinto de Albuquerque (ministro da justiça); Manuel Maria Carrilho (ministro da cultura); Joana Amaral Dias (ministra da saúde); José Manuel Fernandes (ministro da educação); Henrique Raposo (ministro da agricultura); Luís Filipe Meneses (ministro das obras públicas).

Esta escolha provocou a indignação de vários políticos, mas a mais notória foi a de Paulo Portas, que até já tinha feito várias inovações estéticas, tais como um implante de cabelo, na esperança de voltar a ser ministro.

Pedro Passos Coelho aceitou com "desportivismo" a opção cavaquista. Sabe que o seu tempo chegará, mais ano menos ano. Sócrates poderá sair do país, pois é muito "desejado" na Grécia.»
O óleo é de Kostecki Tomasz.

quarta-feira, março 23, 2011

Elizabeth Taylor (1932 - 2011)

Elizabeth Taylor foi uma grande actriz e também uma mulher extremamente sensível, com uma grande necessidade de amar e de se sentir amada (talvez seja a explicação para os seus muitos casamentos, que banalizaram um pouco a sua qualidade artística, pelo menos numa certa imprensa...).

O cinema perdeu um dos seus "icones" mais brilhantes e duradouros. Da sua filmografia de luxo (conquistou o seu primeiro óscar em 1960 com o filme "O Número do Amor"), as minhas preferências vão para: "Gata em Telhado de Zinco Quente", "Bruscamente no Verão Passado" e "Quem Tem Medo de Virgina Woolf" (segundo óscar).

terça-feira, março 22, 2011

«Ninguém arrisca tocar com a gente.»

Achei estranho a banda ser composta apenas por mulheres, por não ser uma coisa muito habitual na província.

Depois do concerto tive a oportunidade de falar com duas das moçoilas daquele agrupamento musical, a Teresa e a Ângela, que começaram por me brindar com um sorriso de orelha a orelha, quando lhes perguntei porque razão não tinham nenhum rapazola a tocar com elas. Até que a Teresa, ainda a sorrir, lá me confessou:

«Ninguém arrisca tocar com a gente. Dizem que tocamos música de circo.»

E que bela e alegre era aquela música de circo.

Senti que eram capazes de animar qualquer pessoa, por muito que tivesse o queixo caído.

O óleo é de Zak Barnes.

segunda-feira, março 21, 2011

A Poesia em Festa


Um dos meus poetas é o Zé Gomes Ferreira.

Um dia escrevi-lhe isto:


Zé Gomes,

Podias ser apenas um rei
das palavras e dos sonhos,
mas não...
És um irmão
e um companheiro
de todos os vagabundos,
e, sobretudo,
um «João sem medo»...
de navegar pelos mundos...

Luís Milheiro
O Óleo é de Mário Dionísio.

Primavera com Poesia e Árvores

21 de Março já era uma data especial, por ser o começo da Primavera, a mais bela e sedutora, de todas as estações em que se divide o ano.
Agora é também o "Dia Mundial da Poesia" e o "Dia Mundial da Floresta", ou seja, uma bela oportunidade para se ler um poema (mesmo que seja em casa...) e também para plantar ou simplesmente abraçar uma árvore.

domingo, março 20, 2011

Encontro no Museu

A manhã solarenta de domingo tornava tudo mais agradável, até a "espera" inesperada no interior do cacilheiro grande, que se encheu de carros, graças à corrida pela ponte, que por alguns momentos ficou aberta apenas a atletas, preparados para "invadirem" as avenidas ribeirinhas da Cidade Branca, a correr a a andar.

Caminhava para o Chiado quando me lembrei de telefonar a uma amiga, que tinha vindo à Capital, por um bom motivo, o lançamento do livro da Graça.

Fiquei a saber que estava na Gulbenkian, na companhia de duas boas amigas.

Entrei na estação do metro e minutos depois estava à conversa na esplanada deste espaço encantador, com as três senhoras do Norte, não menos encantadoras.

A "roda" alargou-se pouco tempo depois, com a chegada de mais um amigo comum, que ficaria para o almoço, ao contrário de mim, que era esperado em casa...

O tempo parece sempre curto quando a companhia é agradável e a conversa parece inesgotável...


O óleo é de Pauline Roche.

sábado, março 19, 2011

Salazar, o "Herói" dos Taxistas

Ultimamente quando ando de táxi, apanho sempre condutores "passadistas", a tentar puxar a conversa para a saudade que sentem de Salazar.

A maior parte deles nem sabe bem o que está a dizer, provavelmente por terem a memória curta demais.

Evito sempre entrar nos seus argumentos do "dantes é que era bom", porque sei que não passa de uma patranha. O último taxista que apanhei até tinha saudades das aldeias sem elctricidade e água canalizada. E não tinha um ar nada bucólico. Até foi capaz de dizer que éramos pobrezinhos mas não devíamos nada a ninguém.

Só sorri quando ele disse que nesse tempo até a gasolina e o gasóleo eram vendidos a um preço decente.

As crises encerram vários perigos, um dos mais perigosos é serem capazes de transformar qualquer "filho da puta" numa pessoa de bem, para as pessoas mais distraídas.
Adenda: Outro aspecto curioso, que só pensei nele depois, é que este homem rondava os sessenta anos. Ou seja, pertencia à geração que mais sentiu os efeito da guerra das colónias, para onde eram "empurrados" uma boa parte dos jovens, para defenderem a pátria...

O óleo é de Francesco Capello.

quinta-feira, março 17, 2011

Procurar o Acaso em Lisboa

Passeio muitas vezes à procuro do acaso, principalmente nas ruelas de Lisboa, não fosse a Capital um lugar suficientemente grande para nos sentirmos quase perdidos.

Gosto de subir e de descer os bairros históricos, passear pelas suas ruas estreitas, tentando espreitar sempre que possível o Tejo.

Também gosto muito de parar nos miradouros e ficar por ali, a ver a cidade, em todos os ângulos possíveis.

E claro, tiro muitas fotografias, não fosse Lisboa uma "mulher" extremamente bela, tão fotogénica...

terça-feira, março 15, 2011

A Cor do Jazz

O rapaz de cor era o mais bem vestido da sala. Ninguém diria que ele estava ali, para uma simples audição, com aquele fato cinzento claro de cetim, que fazia conjunto com um colete e gravata creme.

Os outros jovens olhavam-no de lado, com ar de gozo, pela sua figura pitoresca. Ainda escutei um mais atrevido a perguntar ao colega de lado se não gostava de ter uma fatiota daquelas. Este limitou-se a sorrir.

Embora eu também sorrisse com o comentário, pensei noutras coisas: no orgulho do rapaz que estava ali para impressionar, com a música e com o estilo já de artista, por mais ultrapassado que parecesse. Percebi que ele, como africano que era, preferia o brilho de África, ao baço da Europa. E que belas cores nos oferece o continente africano...

O brilho exterior manteve-se intacto quando ele pegou no saxofone e nos deixou a todos boquiabertos. Além de vestir bem, o negro era mesmo bom músico. O melhor daquele grupo.

Durante o intervalo da audição o David confessou-me que já estava à espera de algo musical igual à roupa do jovem. E claro, contou-me uma das suas histórias de músico errante, a da excepção, que lhe dizia que todos os negros eram músicos. Nos anos setenta estava a actuar em Paris, num cine-teatro, com uma "big-band" e antes do espectáculo era costume fazerem horas no bar a trocarem aventuras. Foi então que perguntou a um jovem de cor que estava por ali, que instrumento tocava, ele disse em francês que "tocava cadeiras". David ficou sem perceber que instrumento era aquele, até que um colega da banda lhe disse com um sorriso de orelha a orelha, que o rapaz era um dos "arrumadores" da sala...
A vida continuou a ajudá-lo a ver em cada negro um músico e a perceber que a imprevisibilidade do jazz vive sobretudo da cor africana. Também não chegámos a nenhuma conclusão por os homens serem mais de tocar e as mulheres de cantar...

O óleo é de Tjarko Ten Have.

segunda-feira, março 14, 2011

O Dia Seguinte

Não mudou nada (será?).

Pelo menos aparentemente.

Há apenas alguns apaniguados assustados, pelo menos na blogosfera.
Habituaram-se a defender o indefensável e não conseguem sair do registo.
E também se julgam os "donos da democracia", que afinal parece não ser de, nem para todos. Coisa que já desconfiava há muito...

Quem defende "pilha-galinhas", acaba por cair no "chacota", mais tarde ou mais cedo.
Só assim percebo que alguém consiga escrever que afinal os 200 mil eram só trinta mil, e outras coisas do género.
Há pelo menos duas novidades neste fim de tarde: o primeiro-ministro vai falar à nação e o líder do PSD vai "ripostar" à nação (quase em simultâneo)...
O Cartaz é do Gui
.
Nota:
Prometo deixar de falar de "gente rasca", mesmo vestindo "armanis", nas próximas postas.

sábado, março 12, 2011

Um Sábado Diferente

«Estranhou toda a movimentação em casa, naquele final da manhã. O telefone tocou várias vezes e sempre para o filho ou a filha.

Foi então que se lembrou da manifestação da "geração à rasca", marcada para o começo da tarde.

Manteve-se em silêncio a ler o jornal. Silêncio que só foi interrompido quando a esposa o informou que iriam almoçar a horas decentes, contrariando a "regra" de fim de semana.

Há muito que criticava a quase ausência dos filhos no dia a dia do país, que nem sequer se davam ao trabalho de votar.

Dizia-lhes que nunca iriam mudar o que quer que fosse, se nem sequer usavam a sua principal arma, o voto.

Não sabia o que dizer nem o que pensar, foi por isso que resolveu ficar calado.
Embora tivesse estranhado os acontecimentos dos últimos dias, a polémica artificial criada à volta da canção dos "homens da luta", tal como o apoio do presidente da República à manifestação dos jovens, presente no seu discurso de tomada de posse, estava satisfeito com todas aquelas movimentações.
Sabia que era importante acordar, que era importante reestabelecer de novo a "democracia", que era importante sair para a rua e dizer não, mesmo que o primeiro-ministro lhes chamasse "comunistas", nas notícias da noite, como gosta de chamar a todos aqueles que se manifestam contra ele.

Salazar também tinha o velho hábito de acusar os comunistas de todos os males do mundo. Feitios...»
O óleo é de Nikias Skapinakis.

sexta-feira, março 11, 2011

Curtas Memórias & Ricas Histórias

Conheço parte das suas vidas, sei inclusive como se tornaram ricos (dos novos), quase sempre sem olhar a meios e fins, aproveitando todas as oportunidades que a vida lhes deu, e ainda outras, destinadas a gente, mais distraída e menos ambiciosa.

Agora que têm os filhos nas escolas privadas e não põem o pé nos centros de saúde ou hospitais públicos, defendem que a saúde e a educação têm de ser pagas. E da justiça nem falam, sabem que é um luxo, deles e de todos os que podem comprar advogados e juízes, sejam banqueiros ou sucateiros...

Uma boa parte esqueceu a infância e a adolescência, o tempo em que também pertenciam ao "clube dos pobres", em que tinham menos oportunidades que os filhos dos doutores e engenheiros.

Bons no teatro trágico-cómico, usaram e abusaram da arte do disfarce. Foi assim que ajudaram a construir este país falso, injusto, mentiroso, demagógico e vigarista.

Os que chegaram ao poder juraram servir e defender o Estado, mas a única coisa que fizeram foi tratar da sua vidinha.

O pior de tudo é que quando se olham ao espelho, continuam em palco e fingem-se orgulhosos do seu "passado", ao qual não faltam carros, casas e mulheres de luxo.
O óleo é do inesquecível, Almada Negreiros.

quinta-feira, março 10, 2011

A Invenção dos "Deolindos"

Das coisas que mais me irrita é ver gente a defender o que considero indefensável.

Não consigo perceber a "guerra" que a maltinha do costume, quase sempre afecta ao poder socrático (até usam estatísticas e tudo...), está a levar a cabo contra a juventude, ao ponto de os ter apelidado de "Deolindos".

Segundo estas "eminências pardas" está quase tudo bem e não encontram razões para a "geração à rasca" protestar, através de uma manifestação, marcada para sábado.

Talvez seja eu que viva noutro "país". Já não digo nada...

No país onde vivo, nunca os jovens tiveram tanta dificuldade em arranjar o primeiro emprego (depois de terem feito estágios gratuitos, um grande negócio para os empresários do costume...). Os que arranjam emprego, é em condições altamente precárias.

Esta precaridade está a ter reflexos extremamente negativos na sociedade, pois cada vez se casa mais tarde e ter filhos começa a ser um acto heróico. Pois ser mãe significa na maior parte das vezes, desemprego, porque ninguém quer pagar a licença e os direitos da maternidade.

Muitos destes jovens são forçados a viverem na casa dos pais, porque não têm rendimentos que lhes permitam alugar uma casa. E comprar então, nem se fala, muito dificilmente conseguirão obter um empréstimo.

Como tenho dois filhos, com doze e seis anos, só tenho de estar solidário com esta juventude, que está "mesmo à rasca", pois este país há muito que deixou de ser para todos, e ainda menos para eles...
O óleo é de Chris Bennett.

terça-feira, março 08, 2011

As Mulheres e o Poder

Normalmente escolho um poema para homenagear as mulheres, neste dia que é preciso comemorar, mais que nunca, porque a igualdade de género não passa de uma "anedota".

Pouco mudou, mesmo que as mulheres sejam hoje mais cultas e habilitadas que a maior parte dos homens.

Quem manda e decide, enquanto puder, não vai retirar as "barreiras" nem as "placas invisíveis", que continuam a vedar a entrada das mulheres nas ruas e praças do "poder".

Mas o mais triste é ver que quando uma ou outra mulher conseguem entrar nestas ruas e praças, parecem "travestis" masculinos, deitando fora as suas melhores qualidades e trunfos: a sensibilidade, a compreensão, a atenção, a paciência, a abertura e até a sedução.

Mas o problema hoje ainda é mais grave, pois além de ser proibida a entrada das mulheres nos círculos do poder, as "máquinas partidárias" (limitadas e inseguras) não suportam gente séria e inteligente, sejam eles homens ou mulheres...

Isso explica em grande parte a mediocridade e a insensibilidade que nos cerca e governa.

O óleo é de Berit Gruger Johnsen.

A Hipocrisia sem Limites

Vi agora, nas notícias, o bom do Sócrates a convidar uns jovens de Viseu, da "geração à rasca", para jantar, enquanto estes eram corridos da respectiva sala, pela "competente" segurança socialista, depois de se terem manifestado contra o primeiro-ministro.

Como aperitivo para o dito jantar os jovens ainda foram brindados com socos e pontapés.

Já há muito tempo que deixámos ser uma democracia, este é apenas mais um dos indícios...

Só espero que os jovens da "geração à rasca" deixem de dormir na forma e percebam a importância do voto.

É sobretudo através do voto que se pode correr com a gente incompetente e desonesta, que nos governa, da Junta de Freguesia ao Governo Central.

O óleo é de Ton Bouchier.

segunda-feira, março 07, 2011

As Mentiras Socráticas na Saúde

Há algum tempo que não conversava com o Carlos, temos andado desencontrados na pausa para o café.

Não o encontrei bem. Aliás, n
unca o tinha visto tão irritado com as "patifarias" praticadas pelo nosso primeiro-ministro e companhia, especialmente com o que essa gente continua a fazer ao Serviço Nacional de Saúde.

E nem falou das medidas economicistas praticadas de Norte a Sul, com o fecho de centenas de centros de saúde, que têm provocado ondas de indignação e protestos de populações inteiras.

Contou-me que ficou sem médico de família (tal como milhões de portugueses, eu incluído...) e que do centro de saúde aconselharam-no a dirigir-se ao hospital. No hospital, além de ter perdido quatro horas e gasto dinheiro desnecessariamente, disseram-lhe que o problema que tinha não era urgente e tinha que se dirigir ao centro de saúde. Informou-os do que lhe disseram no centro de saúde, mas quem o atendeu fez orelhas moucas e até foi mal educado. Pediu o livro de reclamações e deu mostras da sua indignação, como todos nós devíamos fazer em situações similares.

Talvez um dia alguém faça um estudo sobre as vidas que se perderam (e se continuarão perder, especialmente no interior...), com todas estas medidas avulsas praticadas no sector da saúde, sem atacar os problemas verdadeiramente escandalosos (as horas extraordinárias de médicos e enfermeiros, assim como os gastos abusivos de medicamentos nas unidades hospitalares).
A continuidade socrática só se compreende porque a maior parte dos portugueses sentem que com a entrada em cena do PSD, as coisas só tenderão a piorar, não fosse Passos Coelho, o homem que queria (se calhar ainda quer...) privatizar a CGD, a TAP e acabar com os passes sociais.
O mais curioso, é que nunca o ouvi falar em privatizar a CP, o Metro ou a Carris...
O óleo é de Brad Holland.

sábado, março 05, 2011

O Carnaval

O Carnaval sempre foi uma efeméride de "libertação", especialmente nos tempos em que não existiam "grandes liberdades" no nosso país.
Penso que tal como a "Revista à Portuguesa", o Carnaval fica sempre a perder em democracia, porque é dificil ir além do óbvio. Por exemplo, o Sócrates ou o Cavaco, já não enganam ninguém, é quase uma banalidade fazer humor com as suas "figurinhas"...


O óleo é de Andrei Markin, e leva-nos a outros carnavais, a outros "bailes de máscaras"...

sexta-feira, março 04, 2011

A Importância da Mitologia Humana

Ao olhar para este bonito óleo de Ger Eikendal, com cores próximas da "latina-américa", a minha atenção acabou por se fixar nos dois "posters" da pretensa parede, com os "heróicos" Marilin Monroe e Che Guevara.
São, sem sombra de dúvida, dois dos maiores símbolos da "mitologia humana" moderna, que se vai alimentando de todos aqueles que conseguem manter o brilho da sua estrela de famosos e que morrem cedo demais.
O cinema e a música continuam a ser as artes onde mais se pratica o quase "milagre" da ressuscitação, através de um negócio próspero muito bem montado, que lhes presta culto e faz com que a sua imagem continue bem viva entre nós.
O Desporto também nos oferece um olhar singular sobre a "mitologia humana". Os grandes campeões são "imortalizados" com os seus grandes momentos nos estádios, como se saissem do seu próprio corpo e ficassem sempre jovens. Deve ser tão estranho sermos homenageados continuamente por coisas que fizémos, há vinte, trinta e quarenta anos...
Só que, numa sociedade povoada de "perdedores", estes "espelhos" tornaram-se mais importantes que nunca...

quarta-feira, março 02, 2011

Histórias, Livros, Sorrisos & Disparates Deliciosos

A Isabel convidou-me mais uma vez para falar das histórias que se metem dentro dos livros, na sua escola, juntamente com o Pedro, que é capaz de virar de pernas para o ar, qualquer sessão com pretensões a parecer séria.

Houve um terceiro elemento, aliás terceira, a Mariana, que escreve histórias infantis e é mãe de um dos alunos, outro Pedro.

Como os alunos do quinto ano estavam sem muita vontade de fazer perguntas, Pedro resolveu virar o jogo e ser ele a iniciar o jogo das questões. Começou por perguntar a um garoto mais barulhento, se ele achava que nós tínhamos ar de escritores. Ele disse logo que não. Pedro insistiu e quis saber porquê. O rapaz disse que nos faltava um laço, um fato escuro e óculos. Primeira gargalhada geral.

Pedro quis saber onde ele tinha ido buscar essa ideia. Ele não se ficou e disse que fora na televisão. Não ficámos muito convencidos, mas sorrimos.

Depois perguntou-lhes se queriam inventar uma história. Disseram todos que sim. Faltava escolher o tema. Uma miúda achou que era giro a história passar-se no Jardim Zoológico e que as personagens deviam ser animais.

Daí a pouco o Pedro era um macaco, eu um urso e a Mariana uma girafa.

Houve tal multiplicação de ideias que foi impossível dar um fim à história. Foi então decidido por unanimidade que temos de voltar para o mês que vem à sala de aulas, para acabarmos a história.
O óleo é de Kandinsky.