sexta-feira, outubro 31, 2014

João Bénard da Costa, o Mestre dos Mestres


Penso que a melhor maneira de me despedir deste mês cheio de filmes aqui no "Largo" (até parece que se instalou por aqui uma daquelas tendas ambulantes, que já não conheci, que oferecia "magia" de terra em Terra...), é recordar o Mestre dos Mestres de cinema, João Bénard da Costa.

Embora tenha sido professor do ensino oficial (professor de história e de filosofia), tenho a certeza que as "aulas" onde teve mais  e melhores alunos foram as sobre cinema.

Tem um percurso único: nos anos 1950 ajuda a criar o  Centro Cultura de Cinema (CCC), um dos cine clubes mais recordados de Lisboa; nos anos 1960 dirige a revista "O Tempo e o Modo" e nos anos 1970 organiza com grande sucesso os Ciclos de Cinema Gulbenkian (outro CCC...). Nos anos 1980 passa a ser  vice director da Cinemateca Portuguesa (torna-se presidente em 1991), com o sucesso que todos os amantes de cinema lhe reconhecem, como programador e historiador, agradecidos pelas suas" folhas da cinemateca".

Mas além desta dedicação, ainda escreveu mais de um milhar de crónicas em jornais, como o "Expresso", "Diário de Notícias, "O Independente" e "Público", uma boa parte delas sobre cinema.

Livros também são mais de uma dezena, embora apenas refira aqui "Os Filmes da Minha Vida" e "Muito Lá de Casa", onde se pode descobrir todo o seu saber sobre cinema. Com uma linguagem agradável e acessível, Bénard da Costa fala-nos dos filmes, dos actores e sobretudo das suas bonitas actrizes...

Não foi graças a ele que aprendi a gostar de cinema (foi mais obra do Charlie Chaplin...), mas tenho a certeza que comecei a olhar para os filmes com outra abertura e profundidade, graças ao muito que fui lendo sobre cinema, da sua autoria. 

Para acabar esta homenagem da melhor maneira, informo que Manuel Mozos, realizou um documentário biográfico, "Outros Amarão as Coisas que eu Amei", que deverá oferecer um excelente retrato do professor, do critico, do escritor e do programador (não falo do actor, porque as suas aparições em dois ou três foram fugazes, quase uma brincadeira e um agradecimento dos realizadores ao muito que fez pelo cinema...).

quinta-feira, outubro 30, 2014

O Cinema Português no Feminino


Embora o Cinema seja do género masculino, a sua beleza é quase sempre feminina.

Mas os filmes não vivem apenas de beleza, também precisam de talento. E sobre isso que vou escrever hoje, sobre as mulheres portuguesas que tiveram um papel importante na Sétima Arte.

A nossa primeira grande actriz foi Beatriz Costa, que "se sentia como peixe na água" nas comédias portuguesas dos anos trinta e quarenta (Milú também foi muito popular, mas não atingiu o mesmo nível).

Nos anos cinquenta e sessenta, houve uma quebra significativa no produção cinéfila, mas mesmo assim apareceram várias actrizes que marcariam uma época, especialmente nos palcos do teatro. Referimo-nos a Laura Alves, Eunice Munõz, Cármen Dolores e Isabel de Castro (que fez vários filmes de sucesso em Espanha...).

Nos final dos anos sessenta, princípios dos anos setenta, continuaram a surgir várias jovens com talento. Curiosamente duas delas ainda continuam a manter uma ligação forte ao cinema português, Laura Soveral e Isabel Ruth, graças à sua qualidade artística.

Nos anos oitenta e noventa houve uma lufada de ar com a descoberta das irmãs, Maria e Inês de Medeiros, Alexandra Lencastre, Rita Blanco, Ana Padrão... e um pouco mais tarde, Beatriz Batarda e Soraia Chaves.

No campo da realização é que tudo se torna mais escasso, Teresa Villaverde e Margarida Gil são a excepção que confirma o vazio feminino. Claro que não é um fenómeno nacional, é mundial. 

Mas se me pedissem para destacar alguém do nosso "império feminino", teria de me inclinar para a Maria de Medeiros, que tem feito quase toda a a carreira de sucesso fora de portas, inclusive em Hollywood.

quarta-feira, outubro 29, 2014

«É o Cinema Estúpido!»


Seria estúpido andar um mês a falar de cinema aqui no "Largo" e não fazer qualquer referência a alguns blogues que falam de cinema, entre outras coisas.

Serão milhares pelo mundo fora e mais de uma centena entre nós (a maioria desconhecida para mim...), mas eu escolhi  só dez, movido por uma simples razão: são os que conheço melhor, mesmo que não os frequente diariamente (a excepção é o "Sound & Vision").


Dos vários apaixonados por cinema, aqui referenciados, faço uma vénia especial a Lauro António, por manter viva a sua paixão pela Sétima Arte, como crítico, cineasta e grande divulgador do que se faz por cá e pelo mundo.

terça-feira, outubro 28, 2014

O Desejo de Almodóvar no Cinema


Está quase a aproximar-se o fim de Outubro e reparei que nem sequer toquei ao de leve no cinema espanhol.

Talvez isso aconteça por ter escapado por um triz dos filmes de "Joselito" e de "Marisol", que foram muito populares para as gerações anteriores à minha.

Às vezes a proximidade afasta-nos, mesmo sem pensarmos muito nisso.

Devo confessar que só comecei a olhar para o cinema espanhol com Pedro Almodóvar, ainda que pense que ele não consegue filmar dramas sem sexo, tendo uma preferência especial por personagens que chocam com o que entendemos ser normal na sociedade, viajando pelo submundo nocturno. Não é por acaso que a homossexualidade (masculina e feminina) e a transsexualidade estão sempre presente nas suas fitas.

Como o nosso Manoel de Oliveira, não gosta muito de mudar de  actores. Carmen Maura, António Banderas, Marisa Paredes, Victória Abril, Rossy di Palma e Penelope Cruz fazem parte da sua "corte" especial.

Na actualidade é o realizador espanhol mais premiado internacionalmente, tendo conquistado o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro com "Tudo Sobre Minha Mãe" (1999), filme que também lhe proporcionou o prémio de melhor realizador no Festival de Cannes, o Prémio Bafta e um Globo de Ouro, tudo em 2000.

Dois anos depois ganhou mais um Óscar, com o filme "Fala com Ela" (melhor argumento original) e também um Globo de Ouro e o prémio Bafta. E não podemos esquecer os seus seis "Goya" (prémios espanhóis de cinema mais importantes).

O filme que mais gostei de Almodóvar foi "Tudo Sobre Minha Mãe".

segunda-feira, outubro 27, 2014

A Beleza Francesa no Cinema


Embora esteja distante dos seus tempos dourados (quem não está, nestes tempos de "esquecimento" da Cultura?), o cinema francês continua a ser um dos mais importantes e consistentes da Europa.

Desde os anos trinta do século passado não faltaram bons realizadores: Jean Vigo,  Jean Renoir, Jacques Tati, Robert Bresson, Claude Chabrol, Alain Resnais, Francois Truffaut, Agnés Varda e Jean-Luc Godard (sem esquecer os irmãos Lumiére, claro, que fundaram as imagens em movimento), são um bom exemplo.
Muito menos actores. Maurice Chevalier, Jean Marais, Yves Montand,  Michel Piccoli, Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, Jean-Louis Tritingnant, Philippe Noiret, Gérard Depardieu e Jean Reno. E actrizes: Simone Signouret, Brigitte Bardot, Jeanne Moreau, Emmanuele Riva, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Juliette Binoche (na imagem), Audrey  Tautou e Marion Cotilard.

Muitos deles (especialmente elas, com a sua beleza) passaram por Hollywood, com sucesso...

Além de organizar um dos principais certames de cinema do mundo, o "Festival de Cannes" (desde 1946), França "deu à luz" dezenas de filmes inesquecíveis, que fazem naturalmente parte da história do cinema.

domingo, outubro 26, 2014

"Hiroshima, Meu Amor"


Ontem, ao dar uma volta pelos canais disponíveis no cabo, acabei por ficar no dois, ao descobrir o conhecido filme, "Hiroshima Meu Amor", baseado no romance de Marguerite Duras e realizado por Alain Resnais.

Como acontece com a maior parte dos filmes que já vi, aos poucos é que me vou recordando do que acontece no meio e no fim...

É um filme muito poético, mas também bastante triste. A escolha de Hiroshima, como figura central do romance e do filme, não aconteceu por acaso.

também gostei do preto e branco, num tempo dominado pela cor.

Senti que é um filme que alimenta demasiadas incertezas: talvez tudo seja fugaz nesta vida; talvez tenhamos medo de um segundo amor; talvez tenhamos medo de ser felizes...

E é um filme francês (quase que não falava do cinema francês, muito importante no nosso Continente...), que tem como protagonista uma grande actriz, Emanuéle Riva.

sábado, outubro 25, 2014

Os Realizadores Portugueses e o Público


Há cineastas que fazem filmes para eles mas também para os outros, percebe-se que querem passar a sua mensagem, querem ter gente nas salas a assistir às suas fitas. Outros nem por isso...

José Fonseca e Costa, João Botelho, António-Pedro Vasconcelos, Joaquim Leitão, Luís Filipe Rocha, Miguel Gomes, João Canijo e Fernando Lopes, sente-se que quando realizam estão a pensar nos espectadores. Outros nem por isso...

Alguns preocupam-se mais em ganhar prémios internacionais, que em ter público. Outros  até se dão ao luxo de brincar com a sua Arte, faltando ao respeito aos espectadores (a "Branca de Neve" de João César Monteiro  é o melhor exemplo).

Esta dualidade de objectivos acaba por ser nociva para o cinema português e é normalmente bem aproveitada pelos seus inimigos.

Este cartaz não foi escolhido por acaso, homenageia o Kilas, aliás, Mário Viegas, um dos melhores actores portugueses do século vinte.

sexta-feira, outubro 24, 2014

A Bela "Nuvem" de Ana Luísa Guimarães


Sabia que escrever sobre cinema diariamente, ia ser complicado (embora não esteja a ser tanto como tinha pensado...). Até por não ter muitas ideias pré-concebidas. 

Normalmente escrevo ao fim do dia. Acaba por aparecer sempre alguma coisa, nem que seja uma fotografia a pedir atenção (foi o que aconteceu ontem, gostei da fotografia do "Monty" e acabei a escrever sobre ele...).

Sei que tinha pensado em escrever mais sobre o cinema português, até por ter visto bastantes filmes nos anos oitenta e noventa (quase todos os que visitavam as salas...).

Lembro-me de ficar espantado com a "porrada" que alguns filmes levavam, enquanto outros que não achava muita piada, eram tratados como "obras de culto".

Um dos filmes que mais gostei de ver foi a "Nuvem" realizado por Ana Luísa Guimarães (na foto) em 1992.

Gostei por o achar diferente. Além de ser protagonizado por jovens, era um filme, sem os tiques do teatro. 

Já não me lembrava muito da história e fiz alguma pesquisa para me situar. O filme abordava a marginalidade, que gosta de espreitar à saída da adolescência, com os grupos e as nossas escolhas, que acabam por ser erradas, para não perdermos os nossos amigos...

Os protagonistas são Afonso Melo (perdi-lhe o rasto...) Rosa Castro André (faz telenovelas...). Logo a seguir aparecem Diogo Infante, Guilherme Filipe, Filipe Cochofel, Marcantonio Del Carlo, Rui Luís Brás e também o músico Luís Varatojo.

Sei que a Ana Luísa continua ligada ao cinema (como professora...), mas tenho pena que não tenha voltado a realizar filmes...

quinta-feira, outubro 23, 2014

A Estranha Forma de Vida de Hollywood


Gosto bastante desta fotografia de Montgomery Clift, por estar à janela e por aparentemente estar a beber uma bebida quente (chá ou café). Embora saiba que não seria o primeiro a beber álcool numa caneca com asas, mas...

Antes de saber o que lhe aconteceu em 1956, já tinha percebido que existiam dois actores diferentes: um jovem talentoso com bom ar e misterioso; e um homem mais maduro, mas com um ar demasiado neurótico e inseguro à frente das câmaras.

Esta mudança aconteceu no dia 12 de Maio de 1956, quando um poste telefónico se atravessou à frente do seu Chevrolet e o deixou demasiado marcado (física e psicologicamente...), não conseguindo ser o "Monty" dos primeiros tempos. 

A bebida e as drogas passaram a ser uma companhia permanente, para suportar as dores no corpo e na alma. Este inferno durou dez longos anos, até ser encontrado sem vida no seu apartamento em Nova Iorque. Houve mesmo quem apelidasse  o seu drama pessoal como o «suicídio mais longo vivido em Hollywood».

A sua homossexualidade foi outro problema (durante algum tempo foi disfarçada com a bissexualidade) que o perseguiu, nunca se conseguiu libertar do sentimento de culpa que sentia...

Apesar de todos estes dramas, "Monty" continua a ser considerado um dos melhores actores da sua geração. Foi protagonista de grandes filmes ("Rio Vermelho" (1948), "Anjos Marcados" (1948), "Um Lugar ao Sol" (1951), "A um Passo da Eternidade" (1953), "Os Deuses Vencidos (1958) e deu-se ao luxo de recusar papeis de outras fitas que acabaram por ser um sucesso ("Crepúsculo dos Deuses" (1950); "A Leste do Paraíso" (1955), "Sublime Tentação" (1956) ou "Rio Bravo" (1958).

quarta-feira, outubro 22, 2014

Os Nossos Clássicos no Cinema


Apesar de termos uma história e uma literatura extremamente ricas, uma boa parte dos clássicos adaptados ao cinema, estão longe de ser grandes filmes.

Não escolhi por acaso o filme "Frei Luís de Sousa" (que é apenas uma peça de teatro...). 

E pergunto, porque razão nunca ninguém quis filmar a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto? 

Mesmo os nossos grandes poetas aventurosos, Camões e Bocage, se têm nascido noutros países, imagino o que se poderia fazer sobre as suas vidas... Por cá fizeram-lhe filmes, mas falta, entre outras coisas, o sal das suas vidas. E nem vou falar dos descobrimentos.

A falta de meios não responde a tudo...

O giro é ver os filmes dos outros sobre os navegadores do século XVI, em que se mete a história debaixo do tapete e não aparece nada sobre a nossa epopeia dos descobrimentos. Quanto muito aparece um marinheiro português, misturado no meio da tripulação...

Lá vem mais uma pergunta: se não somos muito bons a gostar de nós, porque razão os outros iriam contar as histórias da nossa gente?

terça-feira, outubro 21, 2014

Eu Ainda Sou do Tempo...


Eu ainda sou do tempo das grandes salas de cinema e dos cartazes publicitários gigantes - trabalhos artísticos feitos por grandes cenógrafos -, que ocupavam as fachadas dos edifícios monumentais do Eden, do Condes ou do Império.

Vi muito cinema no começo dos anos 1980 com dois grandes amigos cinéfilos, o Henrique e o Tozé, nos estúdios que tinham nascido nas quase caves de vários edifícios modernos lisboetas, mas também nas grandes salas, que se esforçavam por manter o glamour, mas...

Penso que a maior sala lisboeta onde assisti a um filme de cinema foi a do Eden. Sei que pelo menos foi a que me deixou mais deslumbrado.

Deslumbramento que começava logo com a sua escadaria e hall de entrada...

segunda-feira, outubro 20, 2014

A Bela Itália Cinematográfica


A Itália é mesmo um país de cinema. Sempre foi.

Embora muitos filmes nos tenham passado ao lado (desde os anos quarenta que os EUA dominam o mercado mundial, além disso havia a censura, pouco simpática para os bons tempos do neorealismo italiano...), é inquestionável o seu valor, assim como o dos seus realizadores e dos seus grandes actores. 

Não é por acaso que a Itália é o país que mais vezes conquistou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, ao longo da história do prémio mais importante da indústria do cinema (sem falar da Palma de Ouro de Cannes).

Não tenho dificuldade em escolher os dez filmes que mais gosto: "Roma, Cidade Aberta" (Roberto Rosselini); Ladrões de Bicicletas" (Vittório De Sica); "A Estrada" (Federico Fellini); "8 1/2" (Federico Fellini); "Amarcord" (Federico Fellini); "O Leopardo" (Luchino Visconti); "Era Uma Vez na América" (Sergio Leone); "Cinema Paraíso" (Giuseppi Tornatore); "A Vida é Bela" (Roberto Benigni);  "A Grande Beleza" (Paolo Sorrentino).

Nem tão pouco os dez melhores realizadores italianos: Vittório De Sica; Federico Fellini; Roberto Rosselini; Luchino Visconti; Michelangelo Antonioni; Sergio Leone; Bernardo Bertolucci; Ettore Scola; Roberto Benigni; Giuseppi Tornatore.

O problema maior é escolher actores. Fico com a sensação que Marcello Mastroianni secou tudo à sua volta... além de Vittorio Gassman, Roberto Benigni ou os inesquecíveis Totò e Eduado De Filippo, tenho dificuldade em encontrar outros grandes actores. Já o mesmo não se passa com actrizes, muitas delas com passagem por Hollywood (embora isso tenha acontecido mais pela beleza que pelo talento...): Anna Magnani, Giulietta Masina, Sophia Loren, Silvana Mangano, Cláudia Cardinale, Gina Lollogrigida, Alida Valli, Monica Vitti e mais do nosso tempo, as esplendorosas Isabella Rosselini e Monica Bellucci. Estas excelentes protagonistas são bons exemplos em que o talento se complementou com a beleza.

Na fotografia Federico Felllini, Marcello Mastroianni e Sophia Loren, num momento de descontração, durante as filmagens.

domingo, outubro 19, 2014

A Televisão não é o Cinema...


Embora seja possível passar o dia inteiro a ver filmes na televisão (graças ao cabo...), estas fitas são sempre diferentes das que vimos projectadas numa sala de cinema.

E nem vou falar do glamour das grandes salas, substituídas por pequenos estúdios, devido aos custos da sua manutenção...

Uma sala de cinema (de preferência sem o mastigar e o mexer das pipocas), tem uma atmosfera única, que não só nos permite estarmos apenas concentrados no filme (apreciamos cada pormenor, cada cena, com muito mais intensidade...), como também nos oferece outra beleza de imagens e de sonoridade.

Em casa (a não ser que estejamos sozinhos...) nunca conseguimos atingir a profundidade e o silêncio, tão necessários para apreciarmos um filme como ele merece...

sábado, outubro 18, 2014

Manoel de Oliveira: Sem Prazo de Validade


Manoel de Oliveira é um privilegiado, pois, com 105 anos de idade continua a fazer o que mais gosta, filmar.

Numa foi um realizador popular. "Aniki Bobó", a sua primeira longa metragem é a única fita que tem um conteúdo popular, até por retratar a infância na Ribeira. O mais curioso é o facto de não ter sido muito bem aceite no seu ano de estreia, 1942, sendo mesmo um fracasso comercial, contribuindo para o seu afastamento da sétima arte durante catorze anos...

Embora tenha voltado a filmar nos anos cinquenta e sessenta no século passado, só depois da Revolução de Abril é que apostou a sério no cinema, tendo realizado em quarenta anos mais de trinta filmes (o seu último filme, "Os Velhos do Restelo", foi realizado este ano).

Claro que este número só foi possível pelo peso da sua idade e por ser muito respeitado na Europa. Manoel de Oliveira passou a ser uma "instituição", garantindo apoios de várias entidades oficiais (que provavelmente estavam longe de pensar que Oliveira ainda estaria a filmar com a bonita idade de 105 anos...).

Destes mais de trinta filmes assisti a pelo menos uma dúzia, ficando desiludido, pelo menos em metade das fitas. Embora reconheça talento ao realizador, que consegue criar momentos de grande beleza poética nas salas de cinema, acho que o ritmo que imprime nos seus filmes é demasiado lento e teatral.

Ainda hoje, quando falo de Manoel de Oliveira, há alguém próximo que recorda a roda da carruagem, filmada de uma forma quase interminável, no "Dia do Desespero".

E também compreendo outros realizadores portugueses, que têm mil e uma dificuldades para conseguir apoios para os seus filmes, que não acham muita piada que baste ao "Mestre" dizer que quer realizar mais uma obra, para o dinheiro aparecer...

sexta-feira, outubro 17, 2014

A Ausência das Pessoas das Salas de Cinema


Só encontro uma explicação para a ausência, cada vez mais significativa, das pessoas das salas de cinema: o comodismo.

O mesmo comodismo que nos agarra ao sofá e nos afasta do teatro, dos concertos, das exposições, dos lançamentos, etc.

Eu sei do que falo, porque também vou cada vez menos vezes ao cinema. Até aqui ia com a minha filhota, que ainda não tinha idade para ir sozinha, mas com dez anos, já quer ir com as amigas... mas a partir de agora, não sei. Até porque não gosto de ir ao cinema sozinho.

O preço dos bilhetes também poderá ter alguma influência, mas não creio que seja das mais importantes.

Nunca me esqueço da surpresa que tive, no começo da década de noventa do século passado, quando fui à Costa de Caparica ver o "Campo de Sonhos", com o Kevin Costner e era o único espectador de uma das salas do Centro Comercial Oceano (penso que é este o nome, é o mais próximo da praia...).

Há muita gente que critica a "bela pipoca" e os filmes de acção, mas se não fossem eles, talvez já não existissem salas de cinema no nosso país, pelo menos as abertas diariamente, com várias sessões diárias...

E já me esquecia de dizer, que gostei muito do filme.

quinta-feira, outubro 16, 2014

Diferenças & Teimosias


Não lhe devia chamar teimosia, mas é...

É a única explicação para continuar determinado a levar até ao dia 31 esta "obsessão" pelo cinema. E embora não tenha muitos comentadores, tenho mais leitores (muitos devem vir ao engano, graças ao "google" porque eu não sou muito mau a fazer títulos...).

O mais curioso é não ter falta de assunto (embora às vezes as ideias me pareçam um bocado banais).

Estava de volta do romance que continuo a escrever (que bom a vontade ter ficado comigo, embora fique com a sensação de tenho ali uma "meia dúzia de romances" e umas cinquenta personagens) e lembrei-me que as frases e as ideias feitas são uma coisa quase parva.

À medida que vou "crescendo", descubro que cada vez concordo menos com a ideia de que  escrevemos sempre o mesmo livro, realizamos o mesmo filme ou interpretamos o mesmo papel.

Pode existir gente que se deixa prender e não sai do mesmo registo (Lobo Antunes é um bom exemplo, daí que até perceba que ele continue a escrever o mesmo livro, até por insistir em narrar obras sem uma história e sem principio, meio e fim).

Penso que nos filmes as coisas ainda são mais diferentes. Se eliminarmos as sagas com números, que tem objectivos meramente comerciais, cada filme é um caso. Claro que admito que existam alguns "Lobos Antunes". O próprio Manoel de Oliveira, tem dificuldade de sair do seu registo pessoal, mas isso de certeza que se deve à sua idade avançada. E em relação aos actores, é que é tudo diferente. A maior parte deles têm vocação para camaleões, adoram vestir a pele de personagens diferentes, viverem outras vidas, aparentemente mais interessantes que as suas...

É verdade, além de passearem aqui pelo "Largo", sejam bem educados e digam olá ou bom dia.

quarta-feira, outubro 15, 2014

Os Actores Preferidos de Alguns Realizadores


Embora não tenha feito uma pesquisa exaustiva, sei que  há vários realizadores que gostam de trabalhar quase sempre com os mesmos actores. Isso acontece por razões ligadas ao talento, mas também por amizade e até  laços familiares.

Recuando no tempo, é mais que evidente a escolha de John Wayne por John Ford, numa boa parte das suas fitas, especialmente os westerns. Micahel Curtiz também realizou uma série de filmes de aventuras com o par Errol Flynn e Olivia de Havilland. John Huston também gostava de filmar o seu grande amigo de farras, Humprey Bogard. Billy Wylder também teve uma relação especial com Jack Lemmon, escolha certa para as suas comédias.

Na Europa, Ingmar Bergman também teve  uma relação mais que especial com Liv Ullmann (42 anos...).

Mais próximo de nós, há o caso de Martin Scorsece (na imagem com De Niro, no filme "Touro Enraivecido"), que fez grandes filmes com Robert De Niro, tendo-o substituído nos últimos tempos por Leonardo DiCaprio. Woody Allen fez filmes (e peças de teatro), com papeis destinados às suas companheiras de então (Diane Keaton e Mia Farrow).

Entre nós, Manoel de Oliveira não gosta muito de mudar de actores. É por que pelo menos um quarteto entra em quase todos os seus filmes: Luís Miguel Cintra, Diogo Dória, Leonor Silveira e Ricardo Trêpa (neto). Fernando Lopes também gostava muito de Rógerio Samora.

De certeza que há mais casos, estes foram os mais evidentes. Com uma pesquisa mais elaborada, de certeza que encontraria mais preferência bem sucedidas (lembrei-me agora do cinema italiano, onde também há boas histórias sobre "casamentos" entre realizadores e actores...).

terça-feira, outubro 14, 2014

Os Melhores Filmes...


Sei que é sempre difícil escolher os "melhores filmes", entre os milhares que vimos, desde a infância até à actualidade. E é ainda mais difícil reduzir esta escolha a apenas uma dúzia...

Até porque os filmes são como os livros, não precisam de ser os melhores do mundo, para serem os nossos preferidos. Por vezes as nossas escolhas têm muito a ver com o momento em que os vemos ou lemos, e também com alguns critérios pessoais, que têm que ver com o que somos, enquanto criaturas ambulantes nesta espécie de planeta, quase redondo.

Claro que há filmes que são mais consensuais que outros, por terem marcado uma época e também por serem muito felizes (não na temática mas na forma como chegaram e foram recebidos pelo público), graças à sua qualidade.

Fiz uma lista de vinte filmes que gosto, de todos os tempos: "O Mundo a Seus Pés", Orson Welles; "Casablanca" - Michael Curtiz; "Rio Grande" - John Ford; "Relíquia Macabra" - Jonh Huston; "Jonhy Guitar" - Nicolas Ray; "Shane" - Geroges Stevens; "Janela Indiscreta" - Alfred Hitchcock; "Rio Bravo" - Howard Hanks; "Ben-Hur" - William Wyler; "Lawrence da Arábia - David Lean; "Persona" - Ingmar Bergman; "O Padrinho - Parte II" - Francis Ford Coppola; "Cinema Paraíso" - Guiseppe Tornatore; "ET - O Extra Terrestre" - Steven Spilberg; "Blade Runner - Ridley Scott;  "Touro Enraivecido" - Martin Scorcese, "Era uma Vez na América" - Sérgio Leone; "A Vida é Bela" - Roberto Benigni; "O Paciente Inglês" - Anthony Minghella  ou "O Pianista" - Roman Polanski (tive o cuidado de escolher apenas um filme por realizador, para não ter de triplicar a lista...).

segunda-feira, outubro 13, 2014

O Talento e a Beleza


O talento sempre andou de mão dada com a beleza na Sétima Arte, mesmo nos anos trinta e quarenta do século passado. Os donos dos estúdios e alguns realizadores é que se fingiam distraídos, até para não fugirem dos cânones da sociedade...

Claro que só nos anos 1960 é que a mulher assumiu um lugar mais próximo ao do homem, enquanto protagonista.

Hoje existem várias actrizes que têm um papel igual ou até mais importante que os homens (pelo menos os que contracenam com elas...). Jodie Foster, Julia Roberts, Cate Blanchett, Sandra Bullock, Natalie Portman, Juliette Binoche, Angelina Jolie, Scarlet Johansson, Jennifer Lopez, Keira Knightley,  são a dezena que exemplifica muito bem o que acabei de dizer. São muitas vezes a "cabeça de cartaz" dos filmes em que participam.

E depois há os casos em que algumas belas actrizes (muitas vindas do mundo da moda...), não conseguem fugir da beleza e são quase sempre utilizadas pela imagem que têm. Charlize Theron, Monica Belluci (na imagem), Eva Mendes, Megan Fox ou Noami Watts, são cinco bons exemplos.

domingo, outubro 12, 2014

O Verdadeiro Talento


Meryl Sreep talvez seja a grande excepção da indústria americana, ao ponto de a "regra" de Holywood (andar sempre atrás da beleza feminina...) já não ser o que era.

A forma como se impôs na Sétima Arte foi decisiva para que o talento passasse a ser tão importante como a beleza, abrindo portas a outras mulheres, que queriam ser mais que simples objectos de desejo.

Apesar de já não ir para nova continua a ser das actrizes mais requisitadas de Hollywood e possui a carreira feminina mais sólida e premiada do cinema (só para dar dois pequenos exemplos, venceu o Óscar por três vezes, entre dezoito nomeações; venceu os Globos de Ouro por oito vezes, entre 28 nomeações...).

Talvez os seus maiores segredos tenham sido nunca se ter olhado ao espelho como uma estrela, nem abdicar de ter uma vida familiar normal, distante do ambiente artístico e louco de Los Angeles.

Como todas as mulheres que não param o trânsito, teve de trabalhar mais para se impor. E isso também fez a diferença, tal como a sua versatilidade (ao longo da sua filmografia de dezenas de filmes, já foi praticamente tudo, entre dramas e comédias). E não é por acaso que contracenou com os melhores actores e foi dirigida pelos grandes realizadores...

Os filmes que mais gostei da Meryl  foram: "O Caçador" (1978), "Kramer contra Kramer" (1979), "A Escolha de Sofia" (1982) - primeiro Óscar -, "Africa Minha (1985),"A Difícil Arte de Amar" (1986), "As Pontes de Madison County" (1995), "O Diabo Veste Prada" (2006), "Mamma Mia! O Filme" (2008) e "A Dama de Ferro" (2011).

sábado, outubro 11, 2014

As Divas e as Outras


O cinema sempre teve fascínio pelas chamadas "divas", actrizes que só com a sua presença, conseguiam encher os grandes ecrãs de beleza e encanto. O seu talento nem sempre era explorado, acabando por ser muitas vezes um aspecto secundário nos filmes em que assumiam o papel de protagonistas.

Dos anos trinta aos anos sessenta do século passado, houve largas centenas de actrizes que foram escolhidas para papeis principais, apenas pela sua beleza e pela forma sedutora como comunicavam com as câmaras. Uma boa parte delas apenas passou pelos estúdios. As que ficaram na história do cinema, são apenas algumas dezenas.

Embora corra o risco de esquecer uma ou outra, penso que estas são mesmo as grandes divas de Hollywood: Greta Garbo, Joan Crawford, Ginger Rogers, Hedy Lamarr, Maureen O' Hara, Gene Tierney, Vivien Leigh, Jayne Mansfield, Jane Russel, Ava Gardner, Joan Fontaine, Rita Hayworth, Grace Kelly, Marlene Dietrich, Ingrid Bergman, Elizabeth Taylor, Doris Day, Audreu Hepburn, Kim Novak, Gena Rowlands, Faye Dunaway, e claro, Marylin Monroe.  E depois aparecem as europeias: Anita Ekberg,  Brigitte Bardot, Claudia Cardinale, Sophia Loren, Romy Schneider, Jean Seberg, Julie Christie, Jeanne Moreau, entre outras.


As "outras", são bem menos, mas não menos importantes... Algumas até podiam ser incluídas na lista das "divas", como a Lauren Bacall ou a Katherine Hepburn. O que as diferencia, é que o seu talento andou sempre de mão dada com a beleza na maior parte dos seus papeis. Foram muito mais que simples "bonecas". Não poderei esquecer também  Bette Davis, Judy Garland ou Anne Bancroff, pelas mesmas razões.

Voltarei a este assunto, mas focando a actualidade (e aceitam-se outras sugestões, claro).

sexta-feira, outubro 10, 2014

O Cinema é Masculino


Mesmo sem me socorrer de dados estatísticos de filmes, não tenho muitas dúvidas que se criam mais histórias com o homem como principal protagonista, que com a mulher.

Já conversei sobre o assunto com amigos e ouvi a desculpa - que não sei até que ponto será verdadeira -, de que há mais público feminino que masculino nas salas de cinema. E que elas preferem ver os homens nos principais papeis...

Não vou por aí. Penso que isso acontece por o cinema ser (como já disse anteriormente) um espelho da sociedade. Enquanto continuarmos a viver numa sociedade que não trata a mulher como igual, não vale a pena esperar que seja a sétima arte a caminhar em sentido contrário.

Como em quase tudo na sociedade, o cinema também está organizado com uma predominância masculina. Não é por acaso que os produtores, argumentistas e realizadores, são quase sempre homens. E é normal que organizem os filmes à sua imagem...

Nada melhor para ilustrar estas palavras, que o grande e misterioso, Alfredo Hitchcock, a sair dos estúdios no seu descapotável.

quinta-feira, outubro 09, 2014

O Que é um Bom Actor?


Deve haver muitas definições do que se entende por um bom actor.

A principal está ligada a forma como se entra dentro da personagem de cada filme. Não são raros os actores, que conseguem surpreender os próprios realizadores, pela vida nova que oferecem à personagem que lhes calhou, no quase "sorteio" de papeis.

Um bom actor é também aquele que se consegue tornar mais importante que o filme, ou seja, as pessoas vão ao cinema sobretudo para o ver, mesmo que a fita não parece muito sedutora.

Exemplos? Na actualidade talvez Brad Pitt, Matt Damon, George Clonney ou Mark Ruffalo sejam mais importantes que Tom Hanks, Robert De Niro, Al Pacino, Robert Redford ou Richard Gere. Embora sejam todos actores de culto.

Os tempos vão mudando a importância dos actores (assim como o seu preço...).

É também por isso que é tão difícil escolher o melhor actor. Ou aquele que gostamos mais. Porque há sempre aqueles, há sempre um plural...

Apesar de tudo, há sempre alguém especial. Neste caso particular, escolho um dos clássicos, Gary Cooper.

quarta-feira, outubro 08, 2014

Os Filmes Eternos e os Outros


A diferença mais evidente entre um grande filme e um outro, mediano, acaba por ser a nossa reacção, quando o revemos, anos depois, uma e outra vez.

Podia falar das comédias portuguesas dos anos trinta e quarenta do século passado, cujo "amadorismo" (talvez não seja a palavra certa, até por esta época ser a única em que quase existiu uma indústria de cinema no nosso país) e improviso dos actores - vivem muito da laracha -, acaba por ir perdendo graça, ao mesmo tempo que nos leva a descobrir mais defeitos que virtudes nas suas produções.

Depois vimos um dos filmes do Oeste de Ford, e ficamos encantados com tudo aquilo, até mesmo com algumas cenas mais arrojadas, num tempo que os os efeitos especiais eram uma utopia. Mesmo um dramalhão como "Casablanca", continua a ver-se com gosto, provavelmente pela autenticidade dos actores, sem esquecer o piano do Sam.

Uma das boas surpresas que tive nas férias curtas que fazemos na Beira (com a televisão a ser apenas projector de cinema, desde a implementação do negócio da TDT), foi ver o "Cinema Paraíso" com os meus filhos e eles terem gostado do filme, tal como eu.

Cá está mais um filme eterno...

(A escolha deste cartaz é meramente simbólica, a "Canção de Lisboa" até é um dos filmes mais felizes desta quase primeira parte do cinema português)

terça-feira, outubro 07, 2014

O Encontro com Fernando Lopes


Conhecia Fernando Lopes, sobretudo da televisão, como o senhor "RTP2", canal que ajudou a fundar e foi seu principal responsável nos anos 1980, provavelmente com a melhor programação da sua história.

No começo dos anos 1990 trabalhava no "Record" e tinha uma página dominical,  o "Contra-Ponto", na qual entrevistava uma pessoa ligada ao desporto e outra fora, e depois invertia os temas. Com alguma naturalidade entrevistei Fernando Lopes, que tinha realizado o melhor filme português sobre desporto (embora fosse muito mais que isso...), o célebre, "Belarmino", um quase retrato de um boxeur errante de Lisboa, que se deixou fintar pela vida...

Este encontro foi delicioso, porque falámos de muitas coisas, que ficaram fora da entrevista. Fiquei com a sensação de ter conversado com um homem extremamente culto e também muito inteligente.

Meses depois (quatro, cinco...), estava a jantar no "Ribadouro" com dois amigos, quando olhei para a entrada e reparei que estavam a entrar o Fernando, o José Cardoso Pires e outro companheiro, menos conhecido, que não consegui identificar.

Continuei a jantar, quando sou surpreendido pelo Fernando, que deixou por momentos os dois amigos para me vir cumprimentar à nossa mesa. Ainda o consigo ouvir com a sua voz forte, «Boa noite, Luís. A entrevista ficou muito boa. Gostei muito.»

Fiquei meio encavacado, mas ao mesmo tempo muito feliz pela simplicidade daquele homem, que podia passar sem reparar em mim, mas... não podia, porque gostava das pessoas (boas e más) com quem se cruzava.

Ia escrever sobre as obras literárias que adaptou ao cinema e acabei a falar de mim (é verdade, o blogue é meu, posso falar de mim à vontade...). Sim, de "Uma Abelha na Chuva" (1971), que falei anteriormente, de Carlos de Oliveira, "O Fio do Horizonte" (1993), de António Tabuchi e "O Delfim" (2001), de José Cardoso Pires. Não foi por acaso que fez estes três filmes, baseados nos livros de três amigos.

Nunca mais voltei a encontrar o Fernando. Mas nunca esqueci aquele olhar brilhante e aquela voz forte, que irradiavam tanto companheirismo e ternura.

segunda-feira, outubro 06, 2014

O Poema "Cinema" de Carlos de Oliveira


O escritor Carlos de Oliveira ainda assistiu à adaptação de uma das suas obras mais emblemáticas, "Uma Abelha na Chuva", ao cinema e em 1972 (com a censura à espreita...), graças a Fernando Lopes, um dos grandes realizadores portugueses.

Laura Soveral (na imagem) foi a Francisca, numa excelente interpretação. Ela e a Isabel Ruth, são duas grandes actrizes, cujo talento, felizmente, tem sido aproveitado pelo cinema português.

E também escreveu este poema:

Cinema

A lentidão da imagem
faz lembrar
 o automóvel na garagem,
o suicídio com o gás do escape,
quer dizer, 
o coração vertiginoso
e a lentidão do mundo
a escurecer
nas bobines veladas
dos suaves motores crepusculares
ou, por outras palavras,
flashes, combustões,
entregues ao acaso das artérias,
melhor, das pulsações.

Carlos de Oliveira

domingo, outubro 05, 2014

A Beleza Versus Talento


Embora fosse criado como espectáculo de diversão, o cinema não desperdiçou a oportunidade se se tornar um dos melhores "espelhos" da sociedade. Claro que não é um espelho qualquer, já que não dispensa a possibilidade de utilizar alguns "pós mágicos". Ao fazer esta comparação, pensei na saudosa sala dos espelhos da Feira Popular que quase todos visitámos e fazia o que queria dos nossos corpos.

É por isso que não devemos exagerar quando falamos na exploração que foi feita da beleza feminina, um dos alvos principais da indústria do cinema desde sempre, mais evidente na primeira metade do século XX (também aqui, espelha a nossa sociedade, feita à imagem do homem...).

E era explorada de muitas maneiras. Ava Gardner na sua autobiografia fala-nos da forma como foi vitima dos estúdios, não só pelos contratos longos com que "prendiam" os actores, nem sempre bem pagos (ela chegou a ser "alugada" a outros estúdios para fazer parte do elenco de outros filmes, por um valor 20 vezes superior ao seu ordenado). Outro aspecto não menos importante era a pouca liberdade que existia na escolha dos papeis que lhes vinham parar às mãos. 

Não foi apenas uma nem duas actrizes, que chegaram ao final das suas carreiras, com a sensação de nunca terem representado o "papel das suas vidas". Sei que isto também pode acontecer com os actores, mas de certeza por motivos mais distantes da beleza física.

Olhando para o que se passa nos nossos dias, percebemos que as coisa não mudaram assim tanto. A mulher continua a ser um "objecto de adoração" (e com a componente sexual ainda mais presente...).

Mas de certeza que tem mais liberdade na escolha dos seus papeis (pelo menos as grandes actrizes), até porque não se explora tanto a "fábrica de musas" (nos anos quarenta e cinquenta quase todos os dias se descobriam bonecas, para rivalizarem com Ava Gardner, Rita Hayworth, Joan Fontaine, Lauren Bacall, Grace Kelly, Ingrid Bergman, Ginger Rogers, Vivien Leigh, e tantas outras).

Um dos bons exemplos (quase a regra que confirma a excepção), de quem sempre recusou esse papel de adoração, é Jodie Foster, que consegue ser uma brilhante actriz, sem precisar de recorrer aos tradicionais jogos de sedução da sétima arte. 

E fico-me por aqui, com a sensação de que ainda haveria tanto por dizer...

Escolhi esta imagem, com a Anita Ekberg e o Marcello Mastroianni, de "La Dolce Vita", porque simboliza muito bem o papel da mulher no cinema.

sábado, outubro 04, 2014

O Rei dos Rebeldes


Steve McQueen não precisou de fazer muitos filmes para se tornar uma figura lendária de Hollywood. Recordo-o em filmes como: "Os Sete Magníficos" (um grande exemplo de idealismo, apesar de todos os disfarces...); "A Grande Evasão" (onde além de ser o rei das fugas, fez um dos saltos mais famosos de motocicleta da Sétima Arte), "O Aventureiro de Cincinnatti" (está como peixe na água, dividido entre o jogo e as mulheres...), "Bullitt" (outro papel à sua medida, um detective fascinado pelos carros) e o "Papillon" (um dos seus  filmes mais apaixonantes, onde Steve volta a ser o rei das fugas... desta vez pelo mar).

Em todos estes filmes fico com a sensação que ele interpreta sempre o mesmo papel, o rebelde solitário, que parece estar sempre em confronto com as câmaras, e claro, com o mundo. 

Apesar de o cinema ser farto em rebeldes, para mim, Steve McQueen, é o maior de todos.

E depois há a sua beleza selvagem, que muitos homens tentam imitar, mas...

Morreu cedo (com apenas 50 anos), mas como viveu a correr (e a fugir...) -  a paixão pela velocidade era tal, que chegou a participar em corridas de carros e motas -, talvez tenha partido no tempo certo.

Escolhi esta fotografia, porque o meu pai também gostava de usar a espingarda desta forma (apesar de ser pouco aconselhável), quando caçava.

sexta-feira, outubro 03, 2014

Os Livros que se Transformaram em Filmes


Uma das apostas da história do cinema tem sido a transformação de grandes romances de sucesso em filmes. Claro que é sempre uma coisa diferente, até por ser impossível resumir em apenas duas horas trezentas páginas de qualquer livro (e nem vou falar dos "calhamaços" de mais de quinhentas páginas...).

Normalmente os realizadores fazem uma versão pessoal do livro, que nem sempre agrada aos autores, mas... 

Há livros que são tão apetecíveis, que já tiveram  mais que uma versão de filmes ("Os Miseráveis"; "O Grande Gatsby"; "Os Três Mosqueteiros"; "Oliver Twist"; "A Máquina do Tempo", etc). Outros conseguiram alimentar várias fitas, por terem sido escritos quase como se fossem "folhetins", como foi o caso de "Harry Potter" e "O Senhor dos Aneis".

Embora Portugal nunca tenha apostado no cinema como indústria (se excluirmos a época das comédias dos anos trinta e quarenta do século passado...), também foram adaptadas várias obras literárias ao grande écran ("As Pupilas do Senhor Reitor"; "Amor de Perdição"; "Uma Abelha na Chuva"; "A Balada da Praia dos Cães"; "O Delfim"; "O Crime do Padre Amaro" e agora "Os Maias", são alguns exemplos).

Ernest Hemingway teve vários romances adaptados ao cinema e quase nunca gostou do resultado final. Curiosamente, José Saramago, não desdenhou do seu "Ensaio Sobre a Cegueira"...

Um dos livros que mais gostei de ler, "Por Quem os Sinos Dobram",  do grande Hemingway, sobre a Guerra Civil Espanhola, teve uma adaptação de Sam Wood, que foi estreada em 1944 (quando ainda decorria a 2ª Guerra Mundial). Claro que o filme não honra o livro, embora conte com as interpretações soberbas de Ingrid Bergman (Maria) e Gary Cooper (Jordan), na fotografia. 

quinta-feira, outubro 02, 2014

As Aventuras do Oeste


Embora tenha visto os grandes filmes do Oeste na televisão, e não no cinema, eles foram essenciais para a minha paixão pela Sétima Arte.

John Wayne era quase sempre o herói solitário de uma boa parte das "coboiadas", pelo menos as com maior qualidade, realizadas pelo John Ford (sem ser exaustivo, é impossível não falar de, "Forte Apache", "Rio Grande" ou a "Desaparecida", que voltou à ribalta por ter voltado a ser exibida na reabertura do "Cinema Ideal", na rua do Loreto).

Pensava que muitos destes filmes perdiam a graça quando crescesse, até porque a sua qualidade era um pouco duvidosa. Não fazia ideia que alguns deles se tornariam obras inesquecíveis na história do cinema e que continuava a ser um prazer assistir à sua exibição pela vida fora.

Há ainda outros bons exemplos como o "Rio Bravo", de Howard Hawks, "Shane", de George Stevens, "Jonhy Guitar", de Nicolas Ray, "Vera Cruz", de Robert Aldrich ou "Dodge City", de Michael Curtiz, entre tantos outros.

Alguns anos depois (anos 1960 e 1970), surgiu ainda uma outra visão do Oeste, o chamado "spaghetti western", popularizado por Sergio Leone, um grande realizador, que nos ofereceu obras como, "Por um Punhado de Dólares", "O Bom, o Mau e o Vilão" ou "Aconteceu no Oeste" (também teve "actores fetiche" como Clint Eastwood, Leel Van Cleef ou Eli Wallace). Outro atractivo destas fitas era a música singular de Ennio Morricone.

Quando penso na qualidade do cinema da primeira metade do século vinte, não sei porque razão ainda ninguém se lembrou de abrir um canal de cinema, só de clássicos (filmes dos anos trinta aos sessenta), na televisão por cabo. Não tenho dúvidas que seria um sucesso.

quarta-feira, outubro 01, 2014

O Começo da Magia


Os primeiros filmes que vi no grande écran do Cine-Teatro Pinheiro Chagas, nas Caldas da Rainha, foram os clássicos da Disney, falados no português do Brasil. Penso que eram exibidos na quadra do Natal - tal como ainda hoje acontece - a pensar nas crianças.

Mas as melhores memórias que tenho do velho cinema da Praça do Peixe, são as fitas de Charlie Chaplin, interpretadas pelo próprio, através de uma das personagens mais populares da história do cinema, o Charlot, um vagabundo, rebelde e quezilento, tão desenrascado a fintar a "vidinha", que até podia muito bem ser português. Foi uma personagem muito bem construída, com o seu bigode único, o seu chapéu de coco e a bengala inseparável, que lhe dava um andar muito característico, no qual se esforçava em atirar os seus sapatos enormes para o lado da sarjeta.

Hoje pode-se falar da vulgaridade daqueles argumentos (que só não tinham voz, porque o cinema vivia sobretudo da mímica e da pantomina, sem esquecer a velocidade hilariante do mudo...), da exploração do polícia, que acabava sempre humilhado, do homem vigarizado, da mulher que caía sempre na sua cantada ou até do miúdo, com a escola das ruas. 

Mas é importante sublinhar que Chaplin não era apenas actor. Ele escrevia, dirigia, actuava e pagava os seus próprios filmes. Isso explicará em parte a aposta repetitiva neste género de comédia, que ainda se vê com graça.

Não tenho dúvidas que o Charlot  foi o meu primeiro ídolo do cinema.