sábado, novembro 29, 2008

A Apanha da Azeitona

A nossa agricultura tem sido bastante condicionada pela União Europeia. Uma das actividades que vão resistindo é a apanha da azeitona. Não é por acaso que continuamos a ter um dos melhores azeites do mundo...

Os nossos maiores olivais existem nas Beiras e nos Alentejos. Muitos deles hoje são propriedade espanhola...
Apesar de ser uma tarefa árdua, vai resistindo ao tempo.
Esta prosa deve-se ao facto de ter sido convidado para participar na "apanha da azeitona" na Beira-Baixa, neste Outono, onde ainda tenho raízes paternas. Claro que com este frio, nem pensar. Mas senti alguma curiosidade em assistir e ajudar neste trabalho agricola, ainda bastante artesanal, por esse interior fora...
Esta fotografia antiga mostra-nos o traje feminino usado na apanha da azeitona, e é, de 1912. O autor é desconhecido.

quinta-feira, novembro 27, 2008

A Indiferença Portuguesa...

Há muita coisa que me irrita na maneira de se ser português, mas a que considero pior, é a indiferença, o constante abanar os ombros e a vontade de passar ao lado dos problemas, como se tal fosse possível...

Podemos não gostar dos governantes da nossa terra, do nosso país, mas preferimos não votar, porque temos medo da mudança. Quantas vezes nos escondemos atrás da máxima, «para pior já basta assim». Claro que não basta, principalmente quando temos a possibilidade de alterar o rumo às coisas...
Foi esta indiferença que ajudou Salazar a construir o seu pequeno feudo, que tanto mal nos fez e continua a fazer. A única diferença nessa época, é que os que ousavam ser "diferentes", iam parar às prisões do Estado.
Hoje, felizmente, podemos ser diferentes, podemos combater a indiferença, sem correr riscos...
A bonita fotografia de um porto madeirense é de Jean Dieuzaide.

terça-feira, novembro 25, 2008

Se Eça Regressasse...

Se Eça de Queirós regressasse, hoje, só para espreitar este Portugal, que foi uma boa fonte de inspiração para os seus livros, graças a personagens reais, facilmente transponíveis para as páginas dos seus romances, tão actuais, talvez exclamasse:
«Reparo que pouca gente leu os meus livros durante todos estes anos de ausência. Preferia que não me chamassem génio, mas que me lessem, do principio ao fim, em vez de colocarem as minhas obras a decorar estantes. Principalmente os aspirantes a políticos...»

Se há coisa que estranho neste país, cheio de "figurinhas de barro manhoso", é as ditas cujas não se estatelarem mais vezes no chão e ficarem feitas em pedaços. Claro que algumas destas figurinhas, como o Santana e o Portas, usam "cola-tudo". Além de terem sido feitas de formas arredondadas, que lhes permitem "estar sem em pé"...
Se Eça regressasse, batia-lhe palmas, neste seu 163º aniversário, por continuar tão presente e actual...

O desenho é do Rafael Bordalo Pinheiro, retirado do seu "Álbum de Glórias".

sábado, novembro 22, 2008

O Quase "Strip-tese" Laranja

O pior que pode acontecer a alguém que não tem graça nenhuma, é querer ser engraçado.

E quando a pessoa em causa, fala pouco e ri menos ainda, o ditado, «muito riso, pouco sizo», nem se aplica...
Não gosto da senhora, é feia, mal encarada, anda por aí sempre com cara de caso, como se lhe devêssemos alguma coisa. E como quase todos os políticos, finge esquecer o passado, as suas prestações "brilhantes" como ministra da educação e das finanças...
Não lhe conhecia era esta forma especial de utilizar a ironia, deixando os seus defensores quase sem muitas palavras, para além de insistirem que os jornalistas e os socialistas lhe retiram todas as frases do contexto...
Pior que ela, só o renascido "Pinóquio", conselheiro de estado do cavaquistão, que garantiu ter ido ao Banco de Portugal pedir para investigarem a sua própria gestão do BPN...

quinta-feira, novembro 20, 2008

Olhares na Cidade Maior

Conseguimos descobrir sempre coisas novas, de forma quase sempre espontânea e improvável, nas ruas, nos becos e até nos túneis da cidade...

Sim túneis, o Metro lisboeta desloca-se ao longo de várias redes de túneis, no subsolo da Capital...
Toda esta conversa, porque foi no interior de uma das carruagens que descobri que este é o único transporte onde olhamos os outros, que nos cercam, olhos nos olhos, durante mais que um simples segundo.
Isto acontece pela ausência de qualquer paisagem urbana, nas janelas, para nos distrairmos...
Nos autocarros, eléctricos e táxis, temos o quotidiano das ruas movimentadas, com pessoas, veículos, edifícios, monumentos, etc. Nos barcos temos a beleza do Tejo e das suas margens, além da ponte e de outras embarcações que sobem ou descem pelo rio. No Metro para lá das janelas só temos a escuridão... é por isso que restam os companheiros de viagem para ver alguma luz...
O curioso disto tudo, é que só hoje é que pensei nisto, ao olhar as pessoas...

segunda-feira, novembro 17, 2008

O Poder Muda Mesmo as Pessoas...

Se me dissessem, há meia-dúzia de anos, que o Zé Sá Fernandes, o homem do contra, o "inventor" de causas por Lisboa, ia estar num programa de televisão, a dar o peito pelos "contentores", com uma série de "músicas" de serrote, em defesa de uma Lisboa para "sonhadores"
, com um tapete verde até Alcântara, não acreditava...
Como era diferente o "Zé das Causas", desta nova versão de Vereador de Lisboa.
Tanta areia que a Secretária de Estado me tentou atirar para os olhos ...
Significativa foi a intervenção do engenheiro Nunes da Silva, quando referiu o projecto de ampliação do parque de contentores referido numa entrevista do responsável pela APL em 2006, de 8 milhões, em contraponto com o de agora, de mais de 150 milhões (afinal parece que é mais, também se fala em mais de 300 milhões)...
Estas diferenças de valores, como todos sabemos, foram negociadas nos bastidores, sem qualquer concurso público. E é aqui que está todo o problema, a falta de transparência do costume, com a gentalha do costume, a encher o bolso e a lesar o Estado (que somos todos nós) em milhões.
Esqueci-me de referir que o desenho é do sempre genial, Rafael Bordalo Pinheiro (obrigado Gaivota...).

domingo, novembro 16, 2008

«O Que é um Amigo?»

Uma pergunta com tantas respostas, daquelas que raramente se fazem...

Acho que logo no berço, descobrimos e sentimos quem são os nossos primeiros amigos.
Depois vamos crescendo, as coisas vão mudando, ainda que lentamente. Até sermos maiores, em idade, tamanho e juízo, ainda temos tempo de fazer amigos dos bons, daqueles que não se esquecem pela vida fora...
Exemplos?
Um amigo é tanta coisa...
É aquele que nos escuta, mesmo quando ficamos chatos, e que tem coragem para nos mandar calar, quando começamos a fazer figura de parvos.
Também é aquele que não nos deixa desamparados, quando as coisas correm para o torto. Sim, mesmo que tenha de se atirar para o pescoço de um gajo de um metro e noventa e apertar-lhe os "garganetes", para ele parar de socar, ainda que momentaneamente, ou inventar uma manobra de diversão, com uma mesa ou cadeira, para chegarmos mais rápido à porta e corrermos a caminho da liberdade...
E claro, é aquele que não prescinde da nossa companhia, mesmo a troco de qualquer boa aventura passageira...
Não sei qual a forma mais sintética de caracterizar um amigo, mas penso que é alguém em que confiamos, ao ponto de abrirmos o mapa das nossas vidas...
Sei que não te respondi totalmente. Também, diga-se de passagem, a tua pergunta era lixada...

A Ilustração é de Raul Cólon.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Não Sei se Parei no Tempo, Mas...

Não sei se parei no tempo, mas adoro as obras inspiradas no realismo e no naturalismo, dos finais do século XIX, princípios do século XX.
Não sei se o facto de ter nascido na mesma terra de José Malhoa, teve alguma influência. Provavelmente sim....
Mas ele não está sozinho. Está bem rodeado por Alfredo Keil, João Vaz, Silva Porto, António Ramalho, Ribeiro Cristino, etc, naquele que terá sido um dos períodos áureos das nossas artes plásticas.

Embora não esteja a chover, está apenas frio (e os meteorologistas dão baixa de temperatura para o fim de semana...), adoro "Os Chapéus de Chuva", de Renoir.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Arte é Isto?

Li hoje no "Global" que um artista italiano fez uma escultura em tamanho real da cantora, Amy Winehouse.
Não vejo qualquer problema na realização de uma escultura da artista pop, só que o objecto desta trabalho artístico, é uma Amy Winehouse, assassinada com um tiro de cabeça e sobre uma poça de sangue.
O autor pode dizer e pensar o que quiser, sobre a arte e a sua peça.
Para mim é repugnante que alguém utilize uma "estrela", já de si, tão cadente, desta forma.
O pior de todo este episódio, é o facto de existirem por aí muitos psicopatas que precisam de fontes de inspiração.
A peça faz parte de uma exposição que é inaugurada sexta-feita em Manhattan, Nova Iorque...

terça-feira, novembro 11, 2008

Hoje é Dia de S. Martinho

Hoje é um dia especial, pelo menos para quem está mais enraizado com as nossas tradições populares.
Este dia dedicado a S. Martinho, além das castanhas assadas, regadas com água-pé, também é o dia da prova do vinho novo...
Ainda me lembro de o avô esperar, religiosamente, por esta data, para convidar os amigos para uma visita à adega, para provarem a "pomada" das últimas vindimas...

A fotografia é de Jean Dieuzaide.

domingo, novembro 09, 2008

Entrevistas Com Voz...

Ao ler a entrevista de Miguel Esteves Cardoso, na revista "Ler", senti essa coisa rara, que é sentir a voz do Miguel, e até os seus próprios tiques, tal é a descontracção com que a conversa se apresenta, quase de café...

Claro que o mérito não é apenas do entrevistado, há aqui muito trabalho e talento de Carlos Vaz Marques, o entrevistador...
Se puderem, leiam.

sábado, novembro 08, 2008

Edmundo Pedro Faz 90 Anos

Edmundo Pedro faz hoje noventa anos, uma idade maior para um grande democrata que conheceu a prisão mais tenebrosa do salazarismo, o Campo do Tarrafal, onde esteve desde a sua inauguração, em 1936, até ao fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945, ou seja, desde os dezassete até aos vinte e seis anos.
Edmundo Pedro continua senhor de uma lucidez invejável, para esta idade e por tudo o que sofreu na luta contra o fascismo português. Esteve perto de protagonizar uma das fugas mais espectaculares da ditadura, no Tarrafal, que só não teve sucesso, por falta de sorte...
Depois de Abril também esteve ligado a um episódio que o levou à prisão, acusado de contrabando de armas. Manteve sempre o silêncio, para proteger o PS, do qual ainda faz parte. Só há pouco tempo é que esta história foi esclarecida, afinal as armas tinham sido distribuídas ao PS pouco tempo antes do 25 de Novembro de 1975, para proteger as sedes do partido, em caso de se verificar um conflito armado, entre a extrema esquerda e as forças democráticas e de direita.
Edmundo acabou por ser "traído" por alguém, que sabia que ele estava a recolher as armas para as entregar ao Exército Português...
Todas estas histórias e mais, podem ser lidas nas suas, "Memórias - Um Combate pela Liberdade", uma obra que vale a pena ler...

quarta-feira, novembro 05, 2008

Contentores Rente ao Tejo, só os da Maluda...

Há causas que têm o condão de juntar pessoas de sensibilidades e gostos diferentes, como tem sido o caso do protesto contra o processo pouco transparente, do aumento da área de desembarque e embarque de contentores, no Porto de Lisboa.

Nem mesmo os especialistas do costume, hábeis a soltar "fumo" para a confusão, têm conseguido convencer os lisboetas de que Lisboa precisa desta mudança, como de "pão para a boca", com historietas de economia, finanças e negócios...
Negócios, sabemos que sim, devem ser muitos, assim como interesses...
Eu tenho várias dúvidas em tudo isto, mas há uma maior que todas: se os contentores forem desviados mais para o interior do Tejo, para a zona da Santa Apolónia, será que os cargueiros deixam de ter interesse em vir para Lisboa, por terem de se deslocar mais duas ou três milhas?
Eu nem era para falar disto, mas ao deparar com esta serigrafia da Maluda, não podia deixar de dizer, que, contentores rente ao Tejo, só ficam bem, nos quadros desta excelente pintora de Lisboa...

segunda-feira, novembro 03, 2008

A Arte de Criar

Há já algum tempo (poucos dias depois da entrevista de José Rodrigues dos Santos ao "DN"), que me apetecia escrever sobre o processo criativo artístico. Não sabia muito bem como abordar o tema, sem ser excessivamente polémico, conseguindo ao mesmo tempo dizer o que penso, de uma forma curta e simples.
Primeiro que tudo, penso que criar é sobretudo um acto de inspiração e não de transpiração, por muita disciplina e capacidade de trabalho que tenhamos.
Segundo o meu ponto de vista, o acto de criar, tem um tempo próprio. Vou mesmo mais longe e digo que a criatividade vive dos compassos de espera, do imprevisto, porque as coisas (pelo menos as boas...) nem sempre saem quando queremos...
Isto serve para todas as artes, da literatura à música, passando pelas artes plásticas e pelos palcos.
Claro que exercitar a criatividade é fundamental e torna tudo mais fácil. Mas não é todos os dias que se cria algo bom ou genial...
Só pela entrevista do jornalista da RTP ao "DN" (nunca li nenhum livro dele e já devia...), percebi que ele é um escritor de transpiração e não de inspiração, já que com as suas palavras desvalorizou o acto criativo, realçando a sua capacidade de trabalho.
É por isso que arrisco dizer, mesmo sem conhecer a sua obra, que os seus livros poderão ser bons, mas nunca serão brilhantes ou geniais.
Claro que é uma mera opinião pessoal...
Este bonito óleo, "O Pombo e Ervilhas", é de Picasso, na sua fase do cubismo sintético.

sábado, novembro 01, 2008

A Escolha de Joaquin

Achei no mínimo curiosa a opção de Joaquim Phoenix, que resolveu anunciar publicamente o abandono da vida de actor para se dedicar à música.

Não sei se será definitiva, porque neste nosso mundo actual há cada vez menos escolhas definitivas...
Claro que nem todos se podem dar ao luxo de abandonar uma vida de estrela de cinema, para entrar num mundo diferente, onde as coisas aparentemente são bastante mais efémeras...
Mas é importante realçar que Joaquim Phoenix não é nenhum principiante na área musical, em 2006 ganhou um "grammy", na categoria de melhor compilação de banda sonora para o filme, "Walk The Line".
E agora vai atrás daquela que sente ser a sua verdadeira paixão...