quarta-feira, junho 30, 2021

Percebi que se Não Perguntarmos, não Ficamos a Saber...


Comecei a estranhar as perguntas que um rapaz me fazia sobre uma amiga comum, por não saber as respostas e também por achar que era curiosidade a mais.

Percebi que o interesse dele por ela era diferente do meu. Como não lhe dei as respostas que queria, deve ter pensado que era eu que não queria responder...

Embora tivesse uma ligação especial com esta amiga, sabia que esta se resumia à camaradagem do jornalismo e da história, no mundo das investigações. Nunca tinha passado disso, mesmo que sempre tivéssemos uma empatia especial e funcionássemos muito bem nos nossos trabalhos a dois.

Pois é, não sabia se a Esmeralda era casada, se tinha filhos. Mas ela sabia que eu era casado e tinha dois filhos (até teve a oportunidade de conhecer a minha filhota, numa efemeride qualquer ligada aos museus..). Não sabia, porque nunca lhe perguntei. 

Mas continuo convencido que é solteira e boa rapariga, sem filhos (mas como é gira e simpática, deve ter um namorado)... E se nunca lhe perguntei, foi porque não achei que fosse importante.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 29, 2021

Não é Normal


Embora seja de esquerda, não posso deixar de dizer, que já me começam a cheirar a "esturro" os resultados das sondagens, quase sempre felizes para os socialistas.

Não é normal um Governo com tantos casos mal explicados (o último é o acidente na auto-estrada do ministro do costume, em que variar, existem duas versões...), com tantos ministros e secretários de Estado a meterem os pés pelas mãos, não receba o que merece da "vox populi"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, junho 28, 2021

Sempre Ouvi dizer que "Quem não tem vergonha, toda a terra é sua"...


O concelho de Almada tem, provavelmente, a ciclovia mais vista e comentada (de Norte a Sul do nosso País) dos últimos tempos, nas sempre atentas redes sociais, com filmes e imagens, que tal como o algodão, não enganam ninguém. 

Ao longo do percurso desta nova ciclovia da Sobreda de Caparica (com poucos meses), se há coisa que não nos falta são obstáculos nada naturais. Falamos de postes de electricidade, de telefones (às vezes a par...), sinais de trânsito e caixas metálicas das comunicações, que fazem tudo para que o passeio de bicicleta seja pouco linear e  tranquilo (em algumas partes pode ser mesmo perigoso, já que nos obriga a parar e a sair da ciclovia para a estrada...).

Mas mais palavras para quê? É apenas um bom exemplo do trabalho realizado pelos "grandes" autarcas da minha Terra (que agora que se aproximam as eleições andam muito atarefados com a realização obra pública, de preferência vistosa, mesmo que esteja longe de ser uma das prioridades da população)! 

Eu sei que dos políticos, estamos habituados a esperar tudo. E sempre ouvi dizer que "quem não tem vergonha, toda a terra é sua", por isso...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


domingo, junho 27, 2021

Escolhas, Opções & Sorte (que muda de lado de vez em quando...)


Não tencionava voltar a falar da Selecção e de Fernando Santos, mesmo que voltássemos a ser campeões europeus, por uma questão muito simples: não me apetecer "escrever no molhado".

Mas a tentação, essa, esteve sempre cá depois dos jogos. Lembro-me de ter pensado o quanto gostava de ser mosca, depois da derrota com a Alemanha, para poder ouvir os comentários de dois treinadores que são tudo menos "resultadistas". Esses mesmo, o Jorge Jesus e o Sérgio Conceição. Imagino as "verdades" que devem ter dito sobre a nossa selecção nas conversas com amigos...

As coisas com a França melhoraram, mas nunca fomos a selecção que deveríamos ser, se pensarmos na alta qualidade dos nossos jogadores. 

Hoje aconteceu a mesma coisa, mesmo que Renato Sanches e Palhinha tenham tentado disfarçar a falta de ligação "crónica" que existe entre a defesa, o meio-campo e o ataque. A insistência em jogadores como Bernardo Silva ou João Moutinho (distantes da frescura física necessária para um jogo deste nível...), só faz com que os seus companheiros tenham de "correr por eles" em várias situações de jogo...

Sei que os belgas não nos foram superiores e que nos faltou a "pontinha de sorte" de outros campeonatos. Mas isso apenas explica que não basta esperar pela sorte, é preciso correr atrás dela...

Mesmo sem saber o que se passa nos treinos, fico sem perceber os "zero minutos" de competição de Nuno Mendes e Pedro Gonçalves (o melhor marcador do nosso campeonato...) neste Europeu. Mesmo Palhinha, só foi a jogo porque aconteceu o que aconteceu com o Danilo no jogo com a França. Ou seja, os jogadores do Sporting foram ao Euro-2021 só para fazer número...

(Fotografia de Luís Eme - Corroios)


sábado, junho 26, 2021

«Uma das primeiras coisas que aprendemos a fazer, é a cair.»


Há muitas coisas, que por serem tão simples e concretas, raramente povoam os nossos pensamentos. 

Estávamos de volta de fotografias, quando ela apontou para uma imagem e disse: «Uma das primeiras coisas que aprendemos a fazer, é a cair.»

E não é, que é mesmo verdade? Durante os nossos primeiros dois anos de vida, passamos uma boa parte do tempo a descobrir qual é a melhor maneira de cair...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 25, 2021

«Esperar sempre foi uma boa desculpa para tudo.»


Olho para o Carlos, que se aproxima, vagarosamente, de máscara e bengala, à procura de uma mesa vaga da esplanada do café. 

A minha companheira levantou-se para ir às compras e eu fiz-lhe sinal, para se sentar ao pé de mim. 

Desde o começo  da pandemia é a primeira vez que nos sentamos e conversamos, indo mais longe que a habitual troca de cumprimentos. 

Começou por falar dos amigos que nos apresentaram há quase trinta anos e já não estão cá.  Focou-se no Vitor, talvez por ter partido antes do tempo (se é que isso existe...). Depois disse que o pior da pandemia foi a forma como afastou as pessoas, de uma forma quase definitiva, em muitos casos. Explicou-me que há alguns amigos dele que quase que deixaram de sair  à rua, por imposição dos filhos.

Acabou por sorrir, dizendo, «finalmente tenho uma vantagem em nunca ter tido filhos.»

E continuou. «Passados todos estes anos, ainda não sei se fiz bem ou mal em nunca ter casado. Posso ter passado mais tempo sozinho, mas evitei centenas de discussões e confusões.»

Argumentei que o sal da vida são as confusões e discussões em família. Ele sorriu, com ar de quem não ficou muito convencido, antes de continuar a conversa:

«Esperar sempre foi uma boa desculpa para tudo. Acho que passei a vida toda à espera. Esperei anos a fio a mulher perfeita... Continua a ser a desculpa preferida dos solteirões. E agora espero que me levem para qualquer lado, com pouca esperança de que seja melhor que esta esplanada.»

Depois de nos despedirmos, fiquei a pensar no verbo "esperar", sempre tão presente nas nossas vidas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, junho 24, 2021

Os Dois Lados da Mesma Moeda...


O texto que escrevi ontem pode parecer injusto, mesmo que eu procurasse não meter toda a "farinha no mesmo saco", e falasse sobretudo das "portas que continuam fechadas", muitas delas, estupidamente.

Todos sabemos que há vários "funcionalismos públicos". E são muitos aqueles que nunca pararam durante a pandemia, mesmo trabalhando para o Estado. Todos sabemos que os hospitais, os quartéis de bombeiros, as esquadras de polícia, as unidades das forças armadas e as escolas, tentaram, dentro dos possíveis, manter o país a funcionar.

O texto era dedicado aos muitos "parasitas", que se sentem felizes por conseguirem chegar ao fim do seu de trabalho sem terem feito nada de válido para a sociedade.

Entre muitos exemplos que poderia dar, continuo sem perceber como é que é possível que a renovação de uma carta de condução ou do cartão de cidadão, sejam aventuras de tantas horas perdidas para todos nós, neste Portugal que se finge modernaço, mas que o que gosta mesmo é de alimentar todas estas "redes" de incompetência que circulam à nossa volta.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 23, 2021

Portas Fechadas, Marcações e Campainhas (o velho país com dois dentro de si)...


A chamada sociedade civil, logo que lhe foi possível abriu as portas dos seus estabelecimentos, seguindo as regras de segurança da DGS. Além de marcações para distanciamentos e do gel desinfectante, colocaram na entrada um papel indicativo do número de pessoas que podiam estar no interior das suas casas de comércio, com a respectiva máscara.

Uma boa parte dos lugares públicos, com o selo do Estado (especialmente os ligados a câmaras e juntas de freguesia...), mantiveram as portas fechadas ao público. Atendem apenas por marcação, e para se saber uma informação, por mais simples que seja, temos de tocar à campainha e esperar que alguém se digne a vir até à porta...

Ou seja, pode-se dizer que no campo laboral existem dois países dentro de um só. Sei que não se trata de um problema de hoje, mas infelizmente a pandemia ainda veio agravar mais as injustiças e desigualdades que existiam no mercado de trabalho. 

De uma forma simplista podemos dizer que de um lado estão os trabalhadores que tentam fazer o mínimo possível, sem que sejam vitimas de qualquer tipo de agravamento nos salários, nas funções ou de perda de regalias (normalmente são conhecidos por "funcionários públicos"...). Do outro, estão os que ainda têm de trabalhar mais, porque cada vez são menos nos seus empregos (se no inicio tinha de ser assim, agora dá jeito aos patrões terem poucos "colaboradores", capazes de trabalhar por dois ou por três...

Houve um período em que se falou em tentar fazer uma aproximação dos dois sistemas, mas como isso não interessa à maior parte dos governantes (não fossem eles também "funcionários públicos"...), o projecto ficou num papel qualquer, que já deve ter sido amassado e deitado para o lixo.

Esta realidade desigual faz com que uma boa parte dos portugueses continuem a aspirar ter um emprego no Estado (como dizem que o estado somos todos nós, até parece que querem ser "nossos funcionários"...).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, junho 22, 2021

Cinco Minutos na Europa são Diferentes de Cinco Minutos na América?


Claro que o cinema não pode ser um barómetro da sociedade, mas que me deixou a pensar, deixou.

Ontem antes de ir para a cama percorri alguns canais televisivos, a ver se encontrava algum filme que me "convidasse" a ficar mais algum tempo na sala.

Parei no Canal 2 e fiquei uns minutos a ver um verdadeiro filme europeu, com pouca acção e poucos diálogos, grandes planos de uma actriz loura... ou seja, não consegui perceber nada do filme. Sei que se tivesse mudado para um dos canais dos filmes da américa, a acção e a velocidade das cenas, assim como os diálogos, tinham-me ajudado a entender o que estava dentro desse filme.

A uma maior profundidade cinematográfica europeia, sobrepõe-se a quase espontaneidade fílmica americana. Mesmo que esteja a falar de ficção, fiquei a pensar se não viveremos mesmo a velocidades diferentes, nestes dois continentes...

E foi assim que fui para a cama a pensar na diferença que existe em cinco minutos de fita... Pensava que de manhã teria esquecido o assunto (como acontece tantas vezes), mas afinal não...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 21, 2021

O Jornalismo de Sarjeta e os "Grandes Educadores"...


Não escrevi nada sobre o pequeno Noah, porque sou pai e sei que só existem "pais melhores do mundo" em programas de televisão e algumas reportagens do mundo de "faz de conta".

A única coisa que sei, pelo que fui vendo e escutando, é que ele é um menino muito diferente daqueles que vivem nas cidades, rodeados de mil e um cuidados. Não tem medo da rua, do campo, da natureza e dos animais. 

E ele só é diferente porque também tem pais diferentes, daqueles que preferem oferecer aos filhos um mundo real, que não se limita apenas a quatro paredes fechadas (casa ou escola) e a uma vida teleguiada pelos audiovisuais, cada vez mais poderosos. E espero que eles possam continuar a ser diferentes, que não tenham de seguir a cartilha dos "grandes educadores".

Sei que o canal e a jornalista "criminosa" do costume, começaram logo a congeminar uma história, com a habitual invenção de réus e fantasmas. Como afinal não existiu "crime", o dito canal seguiu em frente, pouco convencido, como é costume. E também sem pedirem desculpas ou retratarem-se, como se a realidade não passasse afinal de uma grande ficção...

Talvez eles estejam certos. Os políticos que nos governam vivem da mesma forma. Esperam sempre pelo dia seguinte, e depois fingem que "não se passou nada".

Para tratarmos destes políticos temos as eleições, em relação aos jornalistas, talvez devesse existir um "Ronaldo" em cada esquina, para atirar a imensidão de microfones mentirosos que nos rodeia, para o interior dos lagos, rios ou ribeiros...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, junho 20, 2021

Vidas Completamente de "Pernas para o Ar"...


Quando somos jovens, podemos andar de dia e de noite sem dormir. Não há nada que um café forte não resolva e empurre o sono para longe. 

Lembrei-me desses tempos e sei que foi sobretudo a curiosidade que me fez andar "perdido" e "achado" em algumas noites lisboetas. Nunca me quis transformar numa "ave lunar". Além de fazer desporto, gostava (e gosto) muito da luz do Sol...

Também nunca acreditei que as pessoas que vivem abraçadas às luzes e aos brilhos nocturnos, sejam mais autênticas. É um espaço onde é mais fácil vestir a pele de uma personagem gira e entrar com os dois pés num mundo onde há mais liberdade para fantasiar uma vida quase feliz...

Mas o que eu gostava mesmo era de saber como viverão, hoje, as pessoas que trabalhavam pela noite dentro (claro que não estou a contar com os padeiros...). Não tenho nenhum amigo próximo, que seja "ave nocturna". Por isso posso "fantasiar"...

Talvez continuem à espera da manhã, fora da cama... Até são capazes de preparar umas luzes psicadélicas e ficar por ali, a imaginar corpos e rostos, que passam por eles quase a correr, de um tempo que parece perdido. 

Todos perdemos. Mas ninguém perdeu tanto como estas pessoas que viram a sua vida ficar completamente de "pernas para o ar" (continua...), durante esta pandemia, infindável...

(Fotografia de Luís Eme - Costa de Caparica)


sexta-feira, junho 18, 2021

Um Outro "Movimento das Coisas"...


Ontem escrevi sobre um filme e uma realizadora, pela forma como ambos foram "esquecidos" e "abandonados".  O Movimento das Coisas, que foi terminado em 1985 só vai ser exibido em salas de cinema em 2021.

Sobre Manuela Serra há ainda outra história (não menos triste que a do filme...) que a levou a abandonar a sétima arte. Quando ainda não se falava de assédio sexual. Ela explicou-a, sem qualquer tipo de "rodriguinhos", no Jornal de Letras: «Os motivos que levaram a pôr definitivamente uma pedra no assunto foi receber certo tipo de convites... Na altura, os homens muito poderosos sentiam-se à vontade para fazer propostas a mulheres, eu não quis entrar por essa porta. Não devo ter sido a única vítima. Havia abuso de poder e colocaram-me em situações extremamente difíceis. A maioria deles já morreu e os crimes prescreveram.»

Todos nós já percebemos que havia uma casta de "machos" (minoritária...), que utilizavam o poder que tinham para ir muito para além dos jogos de sedução. Pressionavam e chantageavam, até conseguirem o que queriam. Felizmente com todas as denúncias que têm vindo a público, devem ter os seus dias contados.

Do que ninguém fala é de outro poder masculino (o feminino sempre foi muito mais discreto), que sempre dominou o mundo das artes, esse mesmo, o homossexual. Acho curioso que não surja nenhum homem a falar sobre as histórias de assédio, de que foi vítima (por encenadores, realizadores e actores, especialmente no começo de carreira...).

O problema é sempre o mesmo. Provavelmente, além da vergonha, têm medo de entrar em alguma "lista negra" e não voltarem a trabalhar no mundo do espectáculo... 

(Foto de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, junho 17, 2021

"Uma (triste) História Portuguesa"


Hoje ao ler o que João Lopes  escreveu no Diário de Notícias, sobre o filme de Manuela Serra, O Movimento das Coisas, que esperou 36 anos para ser um "filme público", pensei em vários amigos, que tiveram o triste sonho de um dia serem realizadores de filmes.

Ele diz muito bem, que é uma História Portuguesa, acrescentando: «Do que somos, talvez do que não sabemos que somos.» O filme de Manuela Serra foi concluído em 1985 e vai ser exibido em 2021. Não sei se o filme é bom ou mau, sei apenas que a sua autora é uma mulher-coragem.

Tenho amigos que não só desistiram, como mudaram de país. Deixaram para trás vários filmes, "perdidos", provavelmente para todo o sempre (um deles com um argumento meu e outros dois com colaborações nos diálogos de algumas personagens...). É preciso ser-se corajoso e louco, ao mesmo tempo, para tornar público algo que se fez trinta e alguns anos antes. Até porque nessa altura éramos "outra pessoa"...

Como sei demasiadas histórias sobre a atribuição dos subsídios no cinema português, muitas com um "cheiro pior que o de qualquer esgoto", não vou falar sobre isso. Apenas digo que falta fazer uma investigação séria sobre os filmes, os realizadores, os júris e o dinheiro que tem sido investido pelo Estado no cinema português nos últimos 40 anos.

Mas inquieta-me bastante o que a maior parte dos portugueses pensam sobre o que é cultura e o que é arte. E essa "inquietação", começa logo nos políticos que temos, que preferem mil vezes a palavra "entretenimento" a essa coisa estranha que alguém resolveu chamar "cultura" (sem ser do batatal...). Eles sabem que enquanto as pessoas andarem "entretidas", não têm muito "tempo" para pensar... As televisões vivem o seu dia a dia na mesma diapasão, também preferem "entreter" a "fazer pensar". Desculpam-se com as audiências, mas do que eles gostam mesmo, é de pôr no ar os nossos pseudo-artistas da "tv e cassete pirata" (muitos deles nem cantarem sabem, estou certo de que nem sequer eram apurados para a primeira fase dos vários concursos de talentos musicais televisivos...).

Nesta triste "História Portuguesa", só posso louvar a persistência, o amor à arte e a coragem de Manuela Serra.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 16, 2021

A Sorte, as Escolhas & as Opções


É costume dizer-se que não há campeões sem sorte, e é verdade. Há sempre uma ou outra vitória, que só se torna possível graças aos chamados "imponderáveis" do desporto...  

No futebol isso costuma acontecer quando a melhor equipa tem de enfrentar mais que os onze jogadores adversários do costume. Além do famoso trio que leva um apito e bandeirinhas para o relvado - que durante hora e meia age como se fosse dono do campo e da bola e têm o poder de "inclinar o campo de jogo" para um dos lados -, também tem de lutar contra os postes, a trave (que podem funcionar quase como um íman...), ou contra um guarda-redes que se vai agigantando, "reduzindo" o tamanho da baliza, ao mesmo tempo que os minutos começam a escassear e os jogadores vão perdendo a frescura física e mental, passando a ser apenas onze jogadores e não uma grande equipa de futebol.

Tal como a água dos rios não passa pelo mesmo sítio duas vezes, é de todo improvável que a selecção portuguesa de futebol tenha a mesma "estrelinha da sorte" que teve no Euro-2016, quando se sagrou Campeã da Europa.

Como contrapartida possui uma selecção muito mais forte, com jogadores mais experientes e com mais qualidade (Penso que só a França possui uma equipa tão, ou mais, equilibrada e valiosa) Ou seja, pode ter uma "estrelinha da sorte" mais pequenina e demonstrar durante os jogos que é realmente uma das melhores equipas do Mundo.

E é aqui que começam as minhas dúvidas, que cresceram depois do primeiro jogo, quando enfrentámos um adversário fraco (quando comparado com a Alemanha ou França) , e a quem, durante mais de oitenta minutos, não conseguimos marcar um único golo. E também não ajuda muito ter um seleccionador conservador, com medo de fazer substituições e alterar o rumo das coisas...

Não tenho dúvidas de que Portugal só será uma grande equipa se jogar com os melhores jogadores, e nas posições em que se sentem mais confortáveis e capazes de oferecer um maior rendimento ao colectivo.

Exemplos? Na defesa acho inconcebível que jogue Rafael Guerreiro no lado esquerdo, quando temos um Nuno Mendes, que apesar da sua juventude, é muito melhor que o companheiro. No meio-campo continuamos a jogar com dois trincos quando temos um Renato Sanches, pleno de confiança e força. Ainda no meio-campo, além do aparente cansaço de Bernardo Silva e Bruno Fernandes, é notório que jogam fora das zonas de campo onde podem ser mais influentes. E no ataque, não percebo como é que possível jogar sem João Félix... 

Claro que estes exemplos prendem-se com as minhas preferências pessoais, mas gostava de ver a nossa Selecção a jogar ao mesmo nível da qualidade dos nossos jogadores, que são mesmo dos melhores do mundo.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, junho 15, 2021

Fraquezas e Fortalezas "Xocialistas"...


Não sei se é um primeiro-ministro forte que transforma os seus ministros em fracas figuras, se é o contrário. Se são ministros sem grande jeito para a coisa, que fazem de um chefe de governo o "grande líder".

Olho para o nosso governo e fico sem grandes certezas, até por conhecer as pessoas que exercem funções executivas de grande responsabilidade, apenas pelo que leio nos jornais ou observo na televisão. Também não sei se tudo isto começou logo no processo de escolha, em que foram escolhidas pessoas habituadas a dizer "sim senhor", sem terem o bom hábito de questionar ou de querer saber o "porquê das coisas" (sei que são sempre uma "pedra no sapato" para líderes "sabões"...).

Eduardo Cabrita de certeza que não é a "fraca figura" que aparenta ser, é sim o "saco de pancada" deste governo (todos têm um, talvez Cabrita seja o que tem mais jeito para a função nos últimos anos...). Ministros péssimos deverão ser o da agricultura, da cultura, do ambiente e até o da educação, que preferem "não fazer grandes ondas", porque além de saberem que não têm a "pele de crocodilo" do Cabrita, também não têm "poder" e "dinheiro", para fazerem o que deveria ser feito nas suas áreas de intervenção.

Talvez no final da legislatura, com a sua habilidade quase circense, António Costa consiga sobreviver politicamente. Duvido que o mesmo aconteça com a maioria dos seus ministros, que deverão continuar a ser olhados de lado, sem escaparem de ser apelidados do número mais cómico do circo...

(Luís Eme - Cova da Piedade)


segunda-feira, junho 14, 2021

"O cliente tem sempre razão"


Há muitas coisas, que por serem simples, raramente pensamos nelas.

Hoje estava na esplanada à espera que chegasse alguém para pedirmos dois cafés, quando pensei na diferença que existe de estabelecimento para estabelecimento no atendimento. O café onde costumamos ir à segunda-feira só abre a meio da tarde, pelo que temos de escolher outras opções. A nossa escolha normalmente prende-se mais com a qualidade da bica, que do serviço (preferimos esperar mas beber "café café"...).

Hoje enquanto esperava, pensei que praticamente todas as profissões acabam por ter como finalidade "servir os outros". Em muitas delas esse serviço é directo, como na dita esplanada.

Estranhamos quando notamos que as pessoas não são tão agradáveis como gostaríamos, esquecidos de que todos temos "dias maus"... Claro que quando a "antipatia" é reincidente, percebemos que as pessoas estão na profissão errada e que aquele trabalho é um "fardo" (muitas vezes mal pago...).

É por isso que é importante, mesmo nos dias péssimos, olharmos o espelho e dizermos para a cara triste que encontramos à nossa frente que "o cliente tem sempre razão".

(Fotografia Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 13, 2021

A Dificuldade em Comunicar...


Quase nunca sabemos tudo, porque é raro contarem-nos quase tudo.

A pandemia tem sido um grande exemplo, desta nossa dificuldade em comunicar, em dizermos apenas o que devia interessar saber. Misturamos uma série de banalidades à informação, ao mesmo tempo que tão depressa dramatizamos, como facilitamos situações.

É por isso que se deve ser bastante assertivo com o que diz e faz. Achei extremamente importante que ontem, pouco tempo após o drama que se viveu no jogo de futebol entre a Dinamarca e a Finlândia, fosse divulgada informação (simples e concreta) sobre o estado de saúde de Eriksen.

Hoje aconteceu o contrário com a selecção, ao ponto de alguns jornalistas se submeterem ao papel de "espiões" e "adivinhos", em relação ao João Cancelo, que tinha testado positivo. Era preferível que alguém da selecção fizesse o ponto de situação e dissesse se o João regressava ou não a Portugal (não custava nada...), para que os jornalistas deixassem de fazer papéis estúpidos (sei que alguns gostam, mas...) até tentaram "adivinhar", se alguém tinha entrado ou não numa ambulância que estacionou no hotel, entre outras especulações e parvoíces várias.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sábado, junho 12, 2021

Ginjal ao Fim da Tarde


Segundo o que se diz e escreve, o Algarve "sofre" de uma dependência excessiva dos ingleses.

Penso que isso não acontece em Lisboa e arredores. Pelo menos as pessoas com que me cruzo neste lado do rio falam inglês, mas também francês, italiano ou espanhol.

Cacilhas voltou a ter os restaurantes da rua Cândido dos Reis cheios de gente (a diferença que noto, é que a maior parte dos turistas têm entre os 20 e os 40 anos, vê-se muito menos gente de alguma idade, provavelmente por se continuar a sentir mais "insegura" em relação ao vírus...).

Nos restaurantes do Ginjal passa-se a mesma coisa, as mesas estão quase sempre cheias e as pessoas sentam-se onde podem, a conversar, a beber e a usufruir da beleza do "melhor rio do mundo"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, junho 11, 2021

A Arte de Cortar o Cabelo, de Desenhar e de Fazer "Manifestos" na Barbearia...


Só não deixei de ir cortar o cabelo ao meu barbeiro dos últimos vinte anos, porque ele gosta de desenhar. 

Claro que estou a brincar. O que realmente conta é ele ser bom barbeiro, sem esquecer que ao longo destes anos, acabámos por cultivar alguma amizade. Sem esquecer que ele também consegue ser divertido, mesmo quando não concordo com as coisas que diz.

Está cada vez mais cansado dos nossos políticos, que segundo as suas palavras, conseguem descer sempre mais a fasquia, descendo mais um palmo no "pântano". 

Só não diz maravilhas do líder da extrema-direita por vergonha, e porque ainda finge que é de esquerda. Têm pelo menos dois pontos em comum:  o ódio aos políticos e aos ciganos (devem ter o mesmo trauma, há uma forte proabilidade de terem apanhado algum ciganito "terrível" na escola primária, onde só apareciam de vez em vez, para semear o pânico no recreio e na sala de aulas...).

Adora dizer que "os portugueses não querem fazer nada". Hoje de manhã até foi a Odemira... Foi quando eu resolvi estragar-lhe os planos e dizer-lhe que estava enganado. 

Os patrões das "frutas e legumes que crescem rápido", querem lá saber dos portugueses. Se puderem contratar vinte paquistaneses ou moldavos pelo preço de dez portugueses, nem sequer pestanejam. E também não se preocupam com a palavra "escravidão"...

Mudou de assunto, o que faz habitualmente quando deixa de ter argumentos... Aproveitou a notícia que passava na televisão para "saltar em cima" do Rio, que andou meses a fio a dizer que era contra os "julgamentos na praça pública" e agora sempre que pode aponta o dedo ao Moreira e ao Medina (ponham-se ou não a jeito...), como qualquer populista que se preze.

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, junho 09, 2021

Luiz Pacheco e César Monteiro, Eternos Fugitivos do Bom-Senso e do Senso-Comum


Bom-senso e senso-comum não são exactamente a mesma coisa, podemos ter as duas coisas, uma delas ou até nenhuma. 

Ontem falei ao de leve de João César Monteiro, que é tudo menos uma personagem consensual, para quem privou com ele e para quem apenas conhece as suas "aventuras". Uns conseguem olhá-lo como um génio, mas outros só conseguem avistar um oportunista e mau-carácter, que passou a vida a fingir que era "outra coisa" e que tinha como passatempo preferido, chatear o próximo.

Luiz Pacheco, embora fosse ligeiramente diferente (não costumava fazer o papel de "personagem de manicómio"...), também é olhado quase da mesma forma. Há quem continue a olhar para ele como um génio, mas uma boa parte de quem o conheceu, mais que de vista, também o considera um mau-carácter, não tão oportunista como o César, mas com um jeito especial para se aproveitar da boa vontade dos outros.

Além de serem desprovidos de bom-senso, Pacheco e César viveram em fuga permanente ao que costumamos chamar senso-comum, como se ele fosse uma "praga" ou uma "doença crónica". Estou convencido que, tanto um como outro, se tivessem tirado a carta de condução e vivessem no nosso tempo, mais tarde ou mais cedo eram apanhados em contramão, em qualquer auto-estrada...

Ao contrário de outras pessoas, que tinham medo e vergonha de pedir o que quer que fosse,  em proveito próprio (alguns morreram na miséria...), Pacheco e César nunca tiveram qualquer pudor em "pedinchar" ou "cravar", quem quer que fosse (César talvez fosse mais mal-agradecido, que Pacheco. Digo isto a recordar-me de um testemunho sobre Prado Coelho, que ao vê-lo sentado numa esplanada, em Paris, teve o cuidado de mudar de passeio, e quando foi questionado pelo amigo, desabafou que o César Monteiro era capaz de lhe pedir para pagar o almoço e depois escrever em qualquer jornal que "tinha cravado um almoço em Paris ao nosso "adido cultural"...)

De César não conheço qualquer comentário a Pacheco, mas o "escritor maldito" demonstrou conhecê-lo muito bem quando o qualificou desta forma, numa entrevista que deu ao Blitz: «João César Monteiro não tem nada de parvo. Reconheço e desde há muitos anos que ele é um tipo muito inteligente, arguto, ambicioso. Não lhe faço nisto favor nenhum. Portanto e digamos: nada do que ele faça ou escreva ou diga (e tem uma linguiça de oiro!) é inocente ou é palerma ou descuidado. É, sempre e muito, calculado, premeditado, único. Não adianta a hábil confusão que é misturarem os termos 'genial' e 'louco', como me calhou ler por aí.»

Não deixa de ser curioso, que Pacheco tenha tentado criar alguma "distância" com o realizador (talvez por nunca ter beneficiado dos subsídios chorudos que César recebeu para fazer os seus filmes nem ter tido a oportunidade de fazer algo parecido com o filme "Branca de Neve"...).

Nunca os consegui olhar como génios. Nem acho que seja uma coisa positiva, ficarmos mais conhecidos pelas nossa excentricidades, que pela obra que deixámos. Tanto Pacheco como César, ficaram muito aquém dos seus talentos literários e cinematográficos. E isso não aconteceu apenas não pelo facto de terem nascido no nosso "pobre país"... 

Fotografia de Luís Eme - Vidais)


terça-feira, junho 08, 2021

Estamos fartos de saber que: "Há gente para tudo"...


Se excluirmos o trabalho fabril, onde somos escravos de máquinas, normalmente nas outras actividades, cada um de nós procura encontrar o seu caminho, a diferença. Mesmo que essa diferença seja a soma do muito que vimos os outros fazerem. 

No mundo das artes as coisas não se passam de forma muito diferente. Embora se procure dar um toque pessoal, tanto através do traço como da técnica, guardamos sempre muitas coisas dos outros,  através do exercício do olhar, mesmo sem darmos por isso. 

É também por isso que se tornou quase impossível sermos completamente originais...

Acredito que não vos tenha passado ao lado a notícia sobre o artista italiano que criou e colocou à venda uma obra artística invisível, por 15 mil euros. E que a tenha vendido. O primeiro comentário que nos quer sair da boca é o lugar comum de que "há gente para tudo" (e tanto serve para o artista como para o comprador...).

O Francisco conseguiu brincar com a situação e dizer que o senhor que investiu na "obra de arte" já não devia ter espaço em casa para mais nenhum quadro ou escultura e achou que esta era uma solução razoável para o seu caso.

E na verdade, este é mais um daqueles casos que não vale a pela levar a sério, por mais explicações artísticas e filosóficas que nos queiram dar.

E faz lembrar a espaços o "urinol" que Marcel Duchamp transformou em "fonte", há mais de 100 anos (1917) ou ainda a nossa "Branca de Neve", o famoso filme a preto e com vozes de fundo de César Monteiro (embora esta opção se devesse mais à falta de dinheiro, crise de ideias e ao prazer que o realizador tinha em "eriçar cabelos"...).

E lá volto à frase de ontem do mestre: «A Arte é outra coisa.»

(Fotografia de Luís Eme - Seixal)


segunda-feira, junho 07, 2021

«Se a decisão de se ser artista, partisse apenas de nós, éramos todos artistas»


Fazia-me alguma confusão que o homem que pintava quadros, fosse desprovido de imaginação. Os seus trabalhos partiam sempre de cópias sobre qualquer coisa,  que ele escolhia da sua colecção de fotografias, recortadas de revistas. A maior parte das imagens que guardava eram retratos de outros quadros, uns pintados por artistas famosos outros nem por isso. 

Ele não era mau copista, e por isso era muito elogiado pelos "curiosos" que o rodeavam e namoravam os seus quadros. Notava-se que ficava "inchado" com os elogios.

Deve ter sido por isso que numa das exposições colectivas em que participou, encheu-se de coragem e foi buscar quase pelo braço um mestre, que estava ali um pouco ao acaso.

Este quando olhou o seu quadro, percebeu logo que se tratava de uma cópia. Quando o pintor lhe perguntou o que achava, este limitou-se a dizer que: «a arte é outra coisa.»

O pintor não conseguiu esconder o seu desencanto e assim que pôde, virou-lhe as costas. 

O mestre já com alguma experiência em lidar com estes "egos fascinados", disse para quem o quis ouvir: «Se a decisão de se ser artista, partisse apenas de nós, éramos todos artistas.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 06, 2021

Uma Boa Memória com "Anjos" e "Demónios"


Subia a rua calmamente, quando a voz de um dos homens do café da esquina, me chamou a atenção. 

Há anos que não ouvia aquela alcunha, que tentaram "colar à pele" de um amigo, que não encontro desde o final do século passado.

Não só mudámos de emprego, como eu também mudei de cidade... E depois a vida tratou de nos "desencontrar"...

Lembro-me que quando fui trabalhar para a sua secção, houve logo alguém que me avisou para não lhe dar muita confiança, para não acabar mal. Normalmente gosto de seu eu a fazer os meus próprios juízos (e nunca me dei mal com isso...). E foi desta forma que acabei por ser surpreendido, pela positiva, porque descobri um camarada a sério, que não tinha nada a ver com a personagem que me tentaram "soprar para dentro dos ouvidos".

A sua descontração natural era o melhor antidoto para a pressão diária a que estávamos sujeitos. Hoje apercebo-me melhor da sua paciência e gosto em me ajudar. Até foi capaz de me revelar alguns "truques" da nossa profissão, que eram escondidos e fechados a sete chaves pelos "antigos"...

Fora do nosso dia a dia, há dois acontecimentos passados com ele, que recordo com alguma emoção. 

Corria o boato de que ele devia dinheiro a toda a gente e fingia-se esquecido, na hora do acerto as contas. Aquilo fazia-me alguma confusão porque éramos amigos e ele nunca me pedira dinheiro emprestado (na altura era solteiro e até vivia com algum desafogo...). Foi também por isso que, quando fomos trabalhar para fora, no seu carro, senti-me na obrigação de lhe pagar o almoço. Era o mínimo que podia fazer, pensava eu. Mas não o consegui, porque quando ia para pagar, ele já se tinha antecipado. Foi à casa de banho e pelo caminho pagou a nossa refeição...

A outra aventura ainda é mais digna de realce. Ele adorava a noite e era uma figura popular em vários espaços lisboetas. Eu sabia desta sua faceta, mas estava longe de o imaginar tão popular, ao ponto de me ter "salvo a pele" e a mais três amigos, numa discoteca afro-lisboeta. Um destes amigos com "mau vinho", resolveu começar a provocar uns rapazes de cor, que eram mais do dobro de nós. Quando já começava a pensar que que dificilmente escaparia de boa, daquela refrega, olho para as escadas e descubro-o, com o seu bengalim de estimação. Ele acenou-me e depois aproximou-se, e com a sua descontração natural, não só acalmou as hostes como nos colocou na rua, sem um único arranhão...

Há pessoas assim, passam por nós como "anjos"... E pouco nos importa que na boca dos outros, não passem de "demónios"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 05, 2021

Silêncios Africanos...


O meu tio António quando fala de África, apenas se refere à paisagem local. Tanto pode falar de Luanda, a cidade moderna surpreendente, das mulheres multicolores de uma beleza única, como das florestas também únicas, povoadas de sons e de mistérios. Nunca fala da Guerra.  

O Pedro quase que esqueceu a Angola do tio, mesmo que sejam da mesma idade. Quando o tio foi destacado para a Guerra Colonial, Pedro já estava por cá como estudante no primeiro ano na faculdade de direito... E depois, com o passar do tempo, foi perdendo o hábito e a vontade de falar da África onde nasceu e cresceu. E não é apenas por saber que a sua Angola já não existe...  

Um dia também sonhou com a independência e até foi militante do MPLA. Fez a luta possível por cá, antes de Abril... Era um jovem cheio de ilusões e de convicções.

Ainda hoje não percebe como é que muitos daqueles estudantes marxistas (alguns que tratava como irmãos e com quem convivia diariamente, assim como outros que estudaram em vários países do Leste da Europa), que regressaram à Terra-Mãe com o apelo da Independência, o enganaram tanto.

Ele como continua a acreditar que se o mundo fosse mais igual e justo, toda a gente vivia melhor, tem muita dificuldade em perceber aqueles governantes que abandonaram o socialismo, mal sentiram o "chamamento" do capitalismo. Nunca vai entender quem toma como seu o que pertence a todos.

E eu fico baralhado, sem saber se hei-de confiar no "encantamento" do meu tio António ou no "desencanto" do Pedro. 

Talvez entenda melhor os seus silêncios...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, junho 04, 2021

1921 Versus 2021


Fiz um jogo com os meus filhos, sobre como seria viver há cem anos. Isso mesmo, em 1921.

Foi um "jogo quase viciado", porque eles já pertencem ao século XXI e se nem imaginam como se vivia há cinquenta anos, mais difícil seria pensarem ainda mais longe...

Foi por isso que só lhes falei de coisas simples. Dos primeiros aviões, de carros mais lentos que os verdadeiros cavalos, de estradas acidentadas que transformavam qualquer pequena viagem numa aventura.

Aquilo que mais os espantou foi descobrirem que há cem anos, apesar de sermos "um país à beira mar plantado", havia muita gente que morria sem ver uma única vez, o mar...

E os domingos, eram dias muito especiais. Era o dia de descanso e da missa, com alguns rituais que hoje já não se usam, como o banho semanal, o rancho melhorado e a existência de uma roupa de domingo. Rituais que fizeram com que soltassem algumas gargalhadas e dissessem algumas piadas.

E não fomos muito mais longe... não falámos por exemplo das elevadas taxas de analfabetismo, nem de como se entrava nas universidades...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Telha)


quinta-feira, junho 03, 2021

«Ninguém é admirado pelo que é, mas sim, pelo que pensam que ele é.»


Parecia um trocadilho saído da boca do Jorge, mas não, ele nem sequer perdeu a compostura, enquanto insistia no seu "quase disco": «Ninguém é admirado pelo que é, mas sim pelo que pensam que ele é.»

Nunca tinha pensado no assunto. Mas não demorei muito tempo a sentir que havia muita verdade nesta "frase jorgiana", porque cada um de nós quando traça o retrato do outro, fixa-se sobretudo no nosso olhar, com uma perspectiva pessoal, que pode ser, ou não, real.

A continuação da conversa trouxe para a mesa alguns exemplos, gente que nunca foi valorizada como merecia, e também o contrário, pessoas se "aproveitaram bem" da imagem que conseguiram passar, mesmo que se tratasse apenas um número... 

E lá surgiu mais uma "frase jorgiana": «Nem todos damos bons actores no palco da vida.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, junho 02, 2021

"Cabecinhas Pensadoras"...


Os jornais e as televisões são um dos nossos melhores "espelhos", especialmente quando se trata de disparates, escritos e falados.

Por vezes descobrimos uma ou outra expressão, que desejamos nunca ter escrito ou dito, mas pode ter acontecido, pois, como nos diz a sabedoria do povo, "no melhor pano cai a nódoa"...

Todo esta palavreado  porque li que um dos nossos ilustres, é um dos maiores pensadores daqui e do mundo. Como sei que ainda não se fazem "concursos de pensadores" por esse mundo fora (sei que algumas alminhas, se me estiverem a ler, são capaz de ir já amanhã organizar o dito concurso...), achei espantoso apelidar-se alguém como "um dos maiores pensadores, daqui e do mundo"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, junho 01, 2021

Estar ou não Estar (Fora do Mundo)...


Quem escreve engana-se sempre mais, que quem apenas pretende ter como "ofício" essa coisa boa que é ser leitor.

Lembrei-me disso ontem, duas vezes. De manhã tinha comentado nas saborosas "Horas Extraordinárias" da Rosário, trasvestindo a realidade com algum azedume, porque a história contada me parecia bonita de mais para ser real (um miúdo que discutia com a mãe numa livraria porque queria levar muitos livros para casa... e um "bom samaritano" anónimo que ao ouvir a "discussão" deixou um cheque-livro na caixa para o ainda jovem "amante de livros").

Disse qualquer coisa como que a história contada era uma coisa do passado, acrescentando, entre  parêntesis, que se fosse actual o pobre rapaz estava completamente "fora do mundo" (dominado pela "magia" dos telemóveis)...

Pois, para me calar, depois do almoço enquanto bebia café na esplanada do "Repuxo", estavam em duas mesas próximas de mim dois leitores solitários. Claro que não eram jovens, mas estavam a ler, com os olhos presos na acção das personagens...

Mas o melhor estava preparado para o final do dia... Com escrevi ontem, uma jovem (não devia ter mais de vinte anos), estava a ler um livro, aproveitando o silêncio da pequena encosta que finge ser campo e de onde se vê "o melhor rio do mundo"...

E sim, talvez ela, naquele momento, também estivesse "fora do mundo". 

Há também a possibilidade de eu estar enganado e de ainda existir espaço de coabitação entre estes "dois mundos"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)