quinta-feira, agosto 31, 2017

É Sempre Importante Vestirmos a Pele do Outro, Antes de Falarmos...


Sempre que há um tema polémico em discussão, faço um exercício, que nem custa muito: tento "vestir a pele" dos protagonistas, e só depois de pensar um pouco, é que dou a minha opinião (quando dou...).

Por exemplo, era incapaz de escrever este primeiro parágrafo do artigo de opinião da jornalista Joana Petiz publicado hoje no "D.N.": «E mais de 20 anos depois veio a greve. Uma paralisação inédita na Autoeuropa, com a qual não concordam muitos dos seus funcionários e nem sequer o homem que conseguiu incríveis regalias para quem ali trabalha, enquanto representante dos funcionários, e que fez cair a Comissão de Trabalhadores - que negociou um acordo chumbado por aqueles que representava. O problema: a produção do novo modelo da Volkswagen. Não é que sejam retirados direitos aos trabalhadores. Pelo contrário, a empresa até lhes garantia mais um dia de férias e 175 euros por mês, além das regalias previstas para os turnos, em troca dos sábados de trabalho obrigatório durante dois anos. Nada que seja estranho para quem trabalha no comércio, na restauração, na hotelaria ou mesmo nos media. Mas os senhores da Autoeuropa garantem que não estão disponíveis para trabalhar ao sábado, que isso não é vida que se concilie com uma família e que muitos deles nem sabem onde hão de deixar os filhos nesse dia.»

Em primeiro lugar porque este texto está cheio de "certezas" e de "ficções". Em segundo lugar, porque não se deve comparar o que não é comparável. 

Quando a senhora jornalista diz é uma paralisação inédita, com a qual não concordam muitos dos seus funcionários, gostava de lhe perguntar como foi possível parar a produção da fábrica, com tão pouca aderência. E se é uma paralisação inédita (a primeira greve em vinte anos), é porque a proposta apresentada pela empresa representa um retrocesso no dia-a-dia destes trabalhadores (que não têm nada que ser comparados com quem trabalha no comércio, na restauração, na hotelaria ou nos media). 

Mas esta mania tão portuguesa, de querer sempre nivelar por baixo, tem destas coisas...

Num país em que normalmente se "come e cala" (em nome da crise, que raramente chega às administrações...), gosto de ver trabalhadores a lutarem pelos seus direitos.

quarta-feira, agosto 30, 2017

Ainda Vestígios deste Agosto...

Já de regresso a casa, parámos rente às margens da Barragem do Fratel, para ver de perto o contraste de cores das duas margens e das águas do Rio, com o castanho e o cinzento a predominarem.

O mais estranho de tudo é sentir o Tejo, ali tão perto, completamente incapaz de alterar o rumo ditado pela natureza (mesmo que tenha tido mão humana no começo...).

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, agosto 29, 2017

A Natureza é Cá uma Coisa...

As piores perspectivas concretizaram-se... Não me lembro de ver a Barragem da Idanha-a-Nova com tão pouca água, como neste Agosto maldito.

Nesta fotografia (que é quase no mesmo lugar onde tirei a outra... a paisagem estava de tal forma alterada, que tive dificuldade em fazer o registo no mesmo local), onde agora está o carro, em Abril, ficaria submerso...

Em quatro meses tanta coisa que mudou. A natureza é cá uma coisa...

sábado, agosto 26, 2017

De Abril a Agosto...

Em Abril encontrámos a barragem de Idanha-a-Nova com bastante água (mais que em 2016...).

Não estávamos a contar era com um Junho, um Julho e um Agosto, com temperatura acima da média, que acabam por ter influência na "evaporação" da água...

Neste local onde tirei a fotografia, de certeza que está tudo seco e sem este "espelho"...

Só espero é que a vegetação se mantenha intacta, neste ano de tantos "assaltos" ao verde e ao mundo das árvores...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, agosto 25, 2017

Diogo Piçarra em Corroios

Podemos não gostar de alguns géneros musicais, ou pelo menos não lhes darmos muita atenção. É isso que acontece comigo em relação ao Diogo Piçarra, que ontem à noite visitou a "melhor sala" de concertos da Margem Sul, o "Palco Carlos Paredes" da Quinta da Marialva, em Corroios.


Mas quando as pessoas são inteligentes, sabem o que querem, e percebem que hoje já não há espaço para "amadorismos", constroem aquilo que se chama um bom espectáculo, que além da música, também precisa de uma boa encenação. 

Foi isso que eu vi, ontem em Corroios, com o Diogo PIçarra, na tradicional festa anual.

(Fotografias de Luís Eme)

quinta-feira, agosto 24, 2017

Histórias Cheias de "Tachos e Panelas", de Norte a Sul...


Infelizmente (ou felizmente...) as eleições autárquicas conseguem oferecer-nos um retrato ainda mais pequenino, e rasteiro, da pretensa classe política portuguesa.

Os concelhos, que alimentam "mil e uma histórias de mau perder", de Norte a Sul, são às dezenas. E o mais grave, é que nenhum dos quatro maiores partidos, com assento parlamentar, escapa aos vários ajustes de contas pessoais, protagonizados por gente que está de tal maneira agarrada ao poder, que tanto é capaz de mudar de partido como de criar um falso movimento independente, só para se manter "à tona de água".

Há cidades e vilas em que a mesma força política conseguiu despoletar três candidaturas: o candidato oficial do partido; o actual presidente preterido; e ainda o vice-presidente enganado (por falsas promessas...).

E ainda temos o caso extraordinário de Oeiras, em que o movimento independente que está no poder também se conseguiu dividir em três...

É uma pena que a maior parte desta gente só esteja preocupada com o respectivo "tacho" e não com a qualidade de vida da Terra e das Pessoas que os elegem...

Isso explica muito o país que somos e as coisas aberrantes que descobrimos por esse Portugal fora...

quarta-feira, agosto 23, 2017

«Não conheces críticos? Estás fodido...»

«Não conheces críticos? Estás fodido...»

Não, não conhecia críticos, pelo menos travestidos com a "farpela" que a Lília lhes oferecia, na nossa conversa. Conhecia um ou dois jornalistas que também escreviam sobre livros, mas aparentemente não tinham qualquer peso editorial ou institucional.

Ainda lhe expliquei que éramos um país demasiado pequeno e com um mercado curto. Ela insistiu que era nesses casos que se fazia mais "lobby", que se fechavam mais portas e janelas, para que as "prima-donas" não se sentissem ameaçadas.

Falámos de livros, de escritores, de jornais e de jornalistas. Como eu insistia em não a levar a sério, ela abriu a pasta e mostrou-me alguns recortes com notas de leitura e reportagens sobre dois ou três livros vulgares, que tinham recebido "estrelas cheias de baba" dos críticos dos semanários da nossa praça. 

Continuámos a sorrir porque o lado anedótico da situação era no mínimo inspirador. E também por sabermos que era difícil que as coisas na cultura fossem diferentes dos mundos da política ou do futebol, neste falso "paraíso" com muito de mar.

Depois de nos despedirmos, enquanto atravessava o rio, acabei por ficar a matutar no assunto.

Se por um lado, nunca tinha pensado na importância de quem escreve conhecer os  tais "críticos", sabia que as "capelinhas literárias" tinham lugares marcados...  E se eu conhecia livros e autores de qualidade que não tinham direito a uma simples nota de leitura na revista "Ler" ou no "Jornal de Letras"...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, agosto 22, 2017

«O que é que move esta gente, mais destemperada que destemida?»


Por alguma razão, são praticamente os únicos que têm escapado ao "mar" de críticas e aos dedos que apontam para todas as direcções.

Podem cometer erros, aqui e ali, mas passam o tempo a correr de um lado para o outro, praticamente sem descanso, e mal alimentados, porque o "dever" empurra-os para a corrida contra os mil e um "infernos" deste Verão, que parecem prometer não deixar nenhum matagal de pé...

É por isso que são muitos os que perguntam: «O que é que move esta gente, mais destemperada que destemida?»

Não acredito que sejam as medalhas de fim de época... Muito menos as histórias vividas, para contarem aos filhos e netos.

Acho que eles acreditam mesmo que é possível derrotar o mal, que é possível fazer do dia de amanhã, um dia melhor que hoje...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, agosto 21, 2017

As Árvores do Meu Contentamento...

Não tenho a certeza se somos mesmo o "povo que odeia árvores", como alguém disse em conversa. Sei que pelo menos não costumamos morrer de amor por elas...

Algumas oferecem boas sombras, outras dão frutos saborosos (lembrei-me de uma certa figueira...). Mas a maioria cresce ao deus dará...

Há um desinteresse muito grande pela floresta, por toda a gente, explicou o velho sábio, reformado dos campos há uns bons vinte anos. Quase toda a gente se veio embora, para não morrer de solidão e miséria. A esposa acrescentou que o campo era muito bonito e agradável, especialmente na Primavera, mas que dava muito trabalho manter tudo aquilo limpo... então apanhar as ervas, era trabalhar para o boneco.

Talvez seja esse o pensamento generalizado de quem se rende aos matagais, que crescem um pouco por todo o lado...

Depois de toda esta conversa, não há nada como dar um passeio pelo "parque da paz", em Almada, onde neste Agosto farto e ardente, a relva ainda permanece verde e as árvores conseguem sorrir, a quem passa e a quem lhes procura a sombra...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, agosto 20, 2017

Ver Passar o Comboio...

Quando passo de carro ao lado da Linha do Oeste (não passo por ali todos os anos...), perto da casa dos meus pais, reparo que a estrada com passagem de nível, está vedada com rede metálica, impossibilitando a passagem para o outro lado. Mesmo que não seja nada de novo (está assim há já alguns anos), experimento a estranheza do costume...

Foi por isso que escolhi este óleo de José Malhoa, com a criançada alegre, a ver passar o comboio... algo que fiz muitas vezes na meninice, quando havia muito mais que um comboio por dia a circular na Linha do Oeste...

Sei que só um país com demasiados interesses obscuros, e muita gente apostada em ganhar dinheiro fácil, deixa destruir o transporte mais seguro e mais cómodo do mundo...

sexta-feira, agosto 18, 2017

Um "Refresco quase Gelado" a Oeste...

Hoje passei pelo Oeste e acabei por dar uma "saltada" à minha praia. Embora estivesse farto do calor rente à Capital, não esperava sentir a "passagem" do Inverno e do Outono pela Lagoa de Óbidos e pela Foz do Arelho (entre outras tantas praias "protegidas" pelo Cabo Carvoeiro...), em pleno Agosto.

Talvez estivesse bom para a pesca no "coração da Lagoa", pois pescadores não faltavam...

E sim, esta fotografia foi tirada na tarde de hoje. O Sol só espreitava mesmo na parte mais "selvagem" da Lagoa... próximo da Foz do Arelho, servia-se "refresco gelado" com salpicos salgados, ao mesmo tempo que o nevoeiro escondia a praia e o mar dos olhares curiosos...

(Fotografia de Luís Eme) 

quinta-feira, agosto 17, 2017

A Medalha tem Sempre Dois Lados...


Uma boa parte das pessoas que aparecem nas revistas de mexericos, olham para elas quase como o prolongamento dos espelhos que têm em casa. Estão sempre prontas a aparecer e a serem fotografadas (e se houver uns euros pelo meio, ainda melhor). Dizem que as festas fazem parte das  suas "vidinhas", normalmente com um sorriso e sem dramas...

Mas não são estas pessoas as que mais interessam às ditas revistas. Estas preferem as "figuras públicas" que se fingem discretas e que gostam de aparecer apenas quando lhes dá jeito. Os políticos e empresários estão no topo desta lista. Claro que, mais tarde ou mais cedo acabam por sofrer alguns dissabores, porque nunca ninguém gostou que depois de lhes abrirem as portas de casa, de par e par, as fechassem nas suas caras...

Este exemplo pode não ser o melhor para ilustrar a "polémica do momento" nas redes sociais, que tem como foco uma frase de João Quadros sobre a "careca" da mulher do ex-primeiro-ministro (um novo "cabeça rapada"...). Mas não anda muito longe. Como eu não tenho a memória curta, não esqueço que foi Passos Coelho e o seu partido que utilizaram a doença da esposa para retirarem dividendos políticos, exibindo a sua falta de cabelo em várias jornadas da campanha eleitoral de 2015. 

As palavras do guionista podem ser de mau gosto, mas quem anda à chuva, se se esquecer do chapéu de chuva, ou não o abrir, molha-se com toda a certeza...

(Fotografia de Cecil Beaton)

quarta-feira, agosto 16, 2017

Talvez Seja um Sintoma de "Velhice"...

Cada vez gosto mais de Mar e menos de praia.

Talvez seja um sintoma de "velhice"...

Sei que o mar pode e deve oferecer-nos paz, mesmo quando anda arisco, e com vontade de comunicar, ao contrário da praia, que é cada vez mais, sinónimo de confusão.

A única certeza que tenho é que há já alguns anos que a minha praia de férias no Sul é calma (agora já nem sequer tem  concessão e "nadador salvador"...). Basta-nos andar alguns minutos a pé para usufruirmos dessa "paz" tão saborosa, para se "recarregarem" as energias necessárias para os meses que se seguirão...

E é também por isso, que apesar da proximidade, evito a Costa de Caparica em Agosto, por muito que me apetece mar...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, agosto 15, 2017

Um Deus (sei que dizem que são muitos mais) Distraído...

Não sou muito entendido nas coisas de Deus, talvez por ter medo de acreditar em coisas para as quais a única explicação terrena que existe, é essa coisa a que se chama fé.

Claro que quando ouço dizer que ele está em todo o lado, fico com a sensação de que ainda é mais distraído que eu. Sei que quem tem fé, defende-o com unhas e dentes e diz que temos de "sofrer", e que é esse sofrimento que nos dá a vida eterna. 

Nas capelas com abóbadas esféricas, há outro Deus que ainda vai mais longe, em vez de vida eterna, oferece quase duas dúzias de virgens a quem dá tudo por ele.

Mas quando olho para o mundo, para os exemplos dos sacerdotes e dos fieis mais exarcebados, fico com a sensação que fomos abandonados por praticamente todos os Deuses...

Acho mesmo que o único que permanece de braços abertos, dia e noite, impávido e sereno, é o Cristo Rei, que até parece feito de pedra e cimento. É preciso esclarecer que não foi ele que virou as costas à fotografia, foi o fotógrafo que escolheu este ângulo...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, agosto 14, 2017

Tanta Gente Diabólica Por Aí à Solta...


Eu sei que somos difíceis de caracterizar enquanto povo, quase que parecemos "bipolares". Talvez isso explique o inexplicável, as mil e uma tentativas de utilizar a desgraça alheia para tirar dividendos políticos, assim como toda a gente que é capaz de se vender por um "prato de lentilhas", para servir interesses cada vez mais obscuros.

Até pode parecer que o líder da oposição sempre conseguiu ler nas estrelas, estava era deslocado no tempo. Porque o diabo chegou mesmo, mas bastantes meses depois. E está a destruir o país de Norte a Sul. Apesar de fazer uso quase diário da demagogia, do populismo e da mentira (tal como muitas dezenas de candidatos a autarcas...), consegue ficar "chamuscado" aqui e ali, porque nem toda a gente deste país tem alma de incendiário.

Mas gostava de perceber o que vai na cabeça e no coração da gente que destrói aquilo que lhe devia ser mais querido, a natureza, em vez de a proteger, através da tão desejada prevenção... Porque se existiam pessoas com dúvidas sobre a existência de tanto bandido cobarde, devem-nas ter perdido de vez neste Verão...

(Óleo de Josef Stoitzner)

domingo, agosto 13, 2017

Eles não Sabem...


As gerações mais novas não fazem ideia do que se passava no mundo da imagem fotográfica, antes da era digital. 

Num tempo em que até os telemóveis já desvalorizam o papel da máquina (será que elas se vão transformar em produto de luxo ou um objecto apenas para "malucos"?), não sei se haverá futuro para elas...

Sinceramente não me parece que tenham a resistência do livro, só para dar um exemplo, de algo que continua sem se deixar derrotar por estes tempos demasiado modernos...

sexta-feira, agosto 11, 2017

Olhar a Arte com Olhos de Ver...

Se por um lado gosto de visitar exposições sozinho, ter a liberdade de olhar para as obras expostas como me apetece, por outro, gosto também de partilhar estes momentos com quem sabe mais do que eu e é capaz de me oferecer perspectivas novas sobre o que olhamos.

Foi o que aconteceu ontem, quando tive a companhia de um amigo, artista plástico na visita a um exposição colectiva em que ambos participamos. 

Gosto sobretudo da forma honesta como ele analisa cada quadro, explicando o que está a mais, o que está a menos, e também o que está no ponto. Como de costume, encho-o de perguntas, até por ele ter a capacidade de ver o que eu não alcanço.

Saio sempre mais rico nestas visitas partilhadas com quem sabe olhar e explicar... 

(Fotografia de René Burri)

quinta-feira, agosto 10, 2017

Comparações Masculinas...

Se gostares muito de cavalos não vem mal nenhum ao mundo teres o hábito de comparares as mulheres com as raças destas belas espécies animais.

Claro que estou a pensar apenas pelo lado masculino. Sei que pode ser intolerável para uma mulher, ser comparada com um animal. Ou saber que pertence à classe dos "mustangues", mesmo que isso seja definidor de algo extremamente belo e selvagem...

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, agosto 09, 2017

«Não andas mesmo cá. Vives mesmo noutro mundo.»


Ouço mais vezes do que queria a frase: «Não andas mesmo cá. Vives mesmo noutro mundo.»

Para  caracterizar quem escreve nem é uma frase descabida de todo... Mas normalmente quer ir mais longe, colocar o dedo também irresponsabilidade, falta de interesse, distracção...

Acho que isso se deve sobretudo à minha capacidade de abstracção (que eu gostava de conseguir manter para todo o sempre...), o não ficar a matutar o mesmo problema, horas e horas, dias e dias, ou seja, conseguir descobrir um foco qualquer e mudar de rua...

O que me custa compreender é que as pessoas, mesmo as maduras, finjam não perceber que nunca fomos, nem seremos, fotocópias. Cada um de nós, não só reage de uma forma diferente ao mesmo problema, como também faz uma leitura particular de cada acontecimento. E são estas pequenas particularidades que acabam por provocar tantos desentendimentos conjugais...

Mesmo assim há quem não desista e ande a vida inteira a tentar moldar o outro, como se fossemos feitos de barro...

(Ilustração de José Morell) 

terça-feira, agosto 08, 2017

O "Coro das Velhas" está Cheio de Novas...


Sei que não é apenas portuguesa a mania de dizer mal dos outros nas suas costas - estou cada vez mais convencido que é universal... -, da mesma forma que penso que faz parte da imperfeição humana e também da  forma cobarde e hipócrita como as sociedades urbanas são "educadas" e condicionadas, desde a escola ao mundo do trabalho.

Nem é preciso colocarem avisos nos locais de trabalho, todos nós sabem que os empregos são oferecidos prioritariamente a "carneiros" e "cordeirinhos", que além de saberem falar inglês, francês, também têm de fingir saber "tocar piano" ou "violino"...

(Onde é que eu já vou...)

Sim, começo a escrever e a afastar-me do eco do "coro das velhas" (que agora recebe gente de todas as idades e sexos...), que cortava na casaca de um casal, por este ter a dignidade de sair de casa bem vestido, com o desplante de olharem o mundo, olhos nos olhos.

Ouvia aquela má língua e arrepiava-me. Mas também não fui capaz de dizer nada. A minha única forma de protesto foi o arrastar da cadeira, enquanto virava costas ao "coro das velhas". 

Quando se tem dois filhos, um a sair e outro a entrar na adolescência, e se percebe que a entrada dos jovens na toxicodependência, é completamente aleatória, (basta estar no lado errado à hora errada...), é mais fácil ser solidário com quem sobrevive todos os dias, enfrentando este problema com a discrição possível, que atirar facas nas suas costas...

(Óleo de Norman Rockwell)

domingo, agosto 06, 2017

É Bom para o Negócio, Mas...

Foi uma manhã de domingo de Agosto que se disfarçou de segunda-feira. com os jornais desportivos a desaparecerem ainda antes do diário que mais vende, graças a mais uma vitória do "glorioso". Já não consegui apanhar "A Bola", fiquei-me pelo "Record".

Na conversa  que tive com o vendedor de jornais, ele não me conseguiu explicar muito bem esta loucura em torno do Benfica, embora ela venha desde os tempos que abriu a tabacaria, ainda nos anos 1960... Uns culpavam o Eusébio, mas ele sabe que é mais que isso. Foram as primeiras Taças dos Clubes Campeões Europeus, e foi também o Águas, o Costa Pereira, o Coluna, o Cávem, o Simões, e tantos outros. 

Foi um tempo de grandes vitórias pelo mundo fora, de um país habituado a perder em quase tudo...

Coça a cabeça e diz que se o Benfica não tivesse voltado a ganhar nos últimos anos, talvez já não existissem os três desportivos diários.

Mesmo sem morrer de amor pelos "lampiões" diz: «Não sei quantos são, mas pode ter a certeza que os que compram jornais, são mais que os sportinguistas e portistas juntos.»

(Fotografia retirada do site do "D. Notícias")

sábado, agosto 05, 2017

As Campanhas Alegres não São Para Todos...


Todos os políticos e simpatizantes tentam fazer de cada campanha eleitoral uma coisa alegre, vistosa e simpática.

Mesmo aqueles que não são muito de sorrir e de prometer coisas no seu dia a dia, estragam as pessoas com quem se cruzam com mimos. E no meio da conversa até são capazes de dizer: «Tem toda razão, temos de melhorar. Tem de nos ajudar a fazer melhor no próximo mandato.» Ao mesmo tempo que as enchem de papeis com fotografias e palavras quase bonitas.

Mas nem toda a gente acha graça a estas mudanças estratégicas e temporais. Foi o que aconteceu com o homem que olhou para o ainda vereador com cara de caso e falou num tom alto para todos ouvirem: «Não se ria para mim. Tenho mais vergonha na cara que você e a sua família toda.» E não é que o governante obediente, deu um toque na orelha e "desligou" imediatamente o sorriso?

(O uso deste desenho pode parecer sexista, mas não, é utilizado apenas como exemplo do esforço que as pessoas fazem para parecerem bonitas e simpáticas, neste período de demagogias, antes de sairem à rua. O que nem sempre resulta, como na anedota da senhora alentejana que pintou os beiços...)


sexta-feira, agosto 04, 2017

As Leituras de Férias...


Como de costume li bastante na quinzena de férias. 

Acabei por ler cinco livros. Dois, com letra maior viajavam no saco da praia (não dá muito jeito levar os óculos de ler para a praia...). Foram "Sexo 20" de Santos Fernando e "Talismã" de Mário Zambujal. O primeiro foi uma descoberta, de um autor com graça e de boa prosa. O segundo é um velho conhecido que já não me surpreende, achei mesmo este romance demasiado banal.

Lá por casa fui lendo coisas diferentes: "Fotografias de Lisboa" de Alberto Pimentel (um olhar de um portista sobre a Lisboa da segunda metade do século XIX, cheio de preconceitos e lugares comuns...); "Vale a Pena? - Conversa com Escritores", de Inês Fonseca Santos (gostei de ler... é um livrinho muito didáctico para quem quer perceber um pouco melhor as pessoas que escrevem...); e o último livro que li, foi aquele que mais me fez pensar, "A Terceira Condição", de Amos Oz. Ainda não tinha lido nada deste autor israelita e gostei, apesar de o achar ligeiramente repetitivo, mas a vida é assim mesmo, um dia atrás do outro...

quinta-feira, agosto 03, 2017

Futebol: um Mundo Cada Vez Mais à Parte...


O futebol é um mundo cada vez mais à parte. Foi desporto durante pouco tempo, rapidamente passou a espectáculo, para depois se tornar num dos negócios que movimenta mais dinheiro em praticamente todos os continentes, quase sempre de uma forma pouco transparente.

Mas nem é sobre isso que quero falar, dos mais de duzentos milhões da transferência de Neymar. É de quase tudo ser permitido às grandes vedetas, como é o caso de Cristiano Ronaldo. Poderia falar das acusações de fuga ao fisco, mas penso que o jogador português é suficientemente esperto para não se colocar a "jeito", num país que sempre olhou para os portugueses de uma forma muito especial. Não é por acaso que se diz que de Espanha não nos chega nem bom vento nem bom casamento...

Quero falar sim do seu comportamento como pai e "chefe de família". Porque ainda hoje me espanta que as palavras do dr. Gentil Martins, na entrevista publicada na "E" (revista do Expresso), a 15 de Julho, não tenham sido sequer discutidas - sei que estive de férias, mas não senti que fossem sequer tema de conversa, nem mesmo nas revistas de "mexericos"...

O dr. Gentil Martins comentou desta forma o facto de ele ter recorrido já por duas vezes a uma barriga de aluguer: 
«Considero um crime grave. É degradante, uma tristeza. O Ronaldo é um excelente atleta, tem imenso mérito, mas é um estupor moral. Não pode ser exemplo para ninguém. Toda a criança tem direito a ter mãe.»

Eu antes da entrevista, já achava estranho que este facto não fosse questionado. que ninguém procurasse saber o que levava um atleta, aparentemente saudável e normal, a recorrer a algo que é utilizado para casos extremos, de quem por razões de saúde não pode fazer a gestação normal de nove meses como mãe. Não vou tão longe como o dr. Gentil Martins, mas também penso que toda a criança tem direito a ter um pai e uma mãe.

Se calhar uma boa parte das pessoas é capaz de dizer que o médico é "maluquinho", e que o futebolista da Madeira pode fazer o que quiser da sua vida, entre outras coisas...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

quarta-feira, agosto 02, 2017

Conversas de Rua e Falsas Adolescências que se Prolongam no Tempo...

Não sei se existiu algum acontecimento que provocou a reacção de um casal de meia idade, que dizia mal dos jovens, como se estes fossem culpados de todas as facilidades que nós pais (e eles, avós, sempre foram bons a estragar netos...) lhes oferecemos para viverem quase "à grande e à francesa".

Parei por alguns segundos e em silêncio, comecei a ouvir o coro da "carneiragem" do costume. De repente estava tudo contra os jovens, amaldiçoavam os festivais de música de Verão, com todos os "inconscientes" aos pulos, a ouvirem sons ensurdecedores, que são tudo menos música...

Continuei o meu caminho, sem deixar de pensar que somos nós, pais, que não deixamos crescer os filhos, torná-los livres e independentes... é por isso que se tornou normal viver em casa dos progenitores até depois dos quarenta anos...

E em relação aos festivais de Verão, tantos bilhetes que são comprados com as "mesadas" dadas pelos avós, que também contribuem para estas "falsas adolescências que se prolongam no tempo"...

Posso ainda acrescentar que o meu filho de dezanove anos está esta semana acampado nas proximidades da Zambujeira do Mar, num desses festivais de Verão de "música maluca". O mais curioso, é que não pediu dinheiro nenhum ao pai para ir até ao Sul, curtir...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, agosto 01, 2017

A Beleza Eterna Feminina...

O desaparecimento da excelente actriz francesa, Jeanne Moreau, aos 89 anos, fez com que pensasse que só me lembrava dela como actriz no seu apogeu, ao ponto de ter esquecido a sua participação relativamente recente num dos filmes de Manoel de Oliveira.

Claro que isso acontece por que prefiro recordá-la, bonita e atraente, como faço com tantas outras actrizes, que continuam vivas e paradas no tempo, em tantos filmes memoráveis...

É também por isso que continuo a pensar que o cinema é a arte que melhor protege, e a espaços, "imortaliza", a beleza feminina.

Não sei quem é o autor, mas esta é a fotografia que mais gosto de Jeanne Moreau.