segunda-feira, julho 31, 2023

Tudo menos ser "invisível"...


Acabei de ler, "Invisível", de Paul Auster. Embora seja um autor de quem gosto, não vou falar do livro em si, até por ter uma história estranha. Retive algumas frases, como de costume. Houve uma que tem pouco a ver com este tempo e que até poderia ter inspirado o título da obra:

«Julgo que é melhor sermos tímidos que arrogantes, é melhor encaixarmo-nos delicadamente no meio em que vivemos do que intimidarmos toda a gente com a nossa insuportável perfeição humana.»

Também acho que sim, mas uma boa parte das pessoas acha que não. Gostam de apontar dedos, serem arrogantes e de saltar para qualquer palco... 

Tudo menos ser "invisível"...

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)


domingo, julho 30, 2023

O nosso quase "largo da liberdade"...


Durante a minha passagem pelas Caldas resolvi visitar um lugar onde não ia há muitos anos.

Recordava todo aquele vale, todos os montes que era possível avistar...

Tudo me pareceu mais pequeno, como acontece sempre nestas revisitações do passado. Até a proximidade da aldeia onde apenas fui nascer...

Imagino que fosse este o pinheiro, que tinha um baloiço que fazia as delicias da pequenada (nossas e dos primos)...

Ao contrário de hoje, naquele tempo estava tudo cultivado à sua volta. Eram poucos os espaços por onde podíamos caminhar, sem correr o risco de pisar isto ou aquilo. Felizmente ao redor daquele pinheiro não havia qualquer horta, quase que lhe podíamos chamar o nosso "largo da liberdade"...

E como eu e o meu irmão andávamos sempre a correr atrás um do outro (éramos conhecidos pelo "cão e pelo gato"), o avô e os tios, que estavam sempre à coca, a ver quando é que fazíamos disparate, descansavam a vista, quando estávamos a brincar no "largo da liberdade"...

(Fotografia de Luís Eme - Salir de Matos)


sábado, julho 29, 2023

A última das minhas preocupações quando tiro retratos...


Estava a passar pelo largo do Bairro da Ponte (Caldas), onde ficava a velha sede dos "Pimpões" e se organizavam os bailes dos Santos Populares (há anos que já lá vão...), quando reparei num velho sentado a uma mesa da pequena esplanada de um café de supermercado, entretido a ler banda desenhada. Lia um dos clássicos de Walt Disney, que eram a "oitava maravilha" das leituras da minha infância. Nesse tempo eram escritos em brasileiro (importados do Brasil...). Penso que só depois do 25 de Abril é que se começaram a fazer edições em Portugal.

Vendo que o homem estava completamente absorvido pela leitura, não resisti a tirar "um boneco" (meio à pressa nem ficou com a nitidez desejada, não fosse ele olhar para mim  e "estragar a fotografia"...).

Só depois, quando olhei o retrato com "olhos de ver", é que verifiquei que estava a fazer publicidade ao grupo de supermercados. Nada que me preocupasse, até porque eu sempre gostei de publicidade (sou até coleccionador, tenho centenas de recortes da imprensa...) e faço-a por aqui de forma ocasional e gratuita.

Este pequeno episódio lembrou-me uma chamada de atenção de um dos responsáveis pela Oficina de Cultura de Almada, quando lá fiz a minha última grande exposição. Uma das minhas fotografias com um plano geral da Praça da Fruta das Caldas tinha ao fundo, em letras muito pequeninas, o nome de uma instituição bancária. O senhor começou por me dizer que aquilo era publicidade e que não podia constar no folheto. Claro que lhe disse que era uma fotografia de um lugar e que não podia "apagar" as coisas que por lá existiam. Ou seja, se estava a fazer publicidade, era à Praça da Fruta. E claro que fui intransigente. A exposição era minha, era eu que mandava nas minhas fotografias. Um pouco a contragosto, o funcionário da Autarquia lá meteu a "viola no saco" e foi dar música para outra freguesia.

Continuo a pensar da mesma forma. Não vou "apagar" a publicidade por estar atrás da pessoa ou do objecto que quero fotografar. 

E lá acontece, fazer mais uma vez publicidade, de borla, por aqui no "Largo"...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


sexta-feira, julho 28, 2023

A Minha Cidade e as Pessoas (desaparecidas)...


Ontem passei uma boa parte do dia com  a minha Mãe nas Caldas. 

Além de almoçar também jantei. Conversámos sobre as pequenas e as grandes coisas da vida, como de costume, com várias pessoas e lugares a surgirem nas nossas memórias e no nosso diálogo tão natural como feliz.

Passar mais tempo do que costumo nas Caldas, fez com que passeasse de manhã e também à tarde pelas ruas da cidade, onde encontrei muitos motivos de interesse para "olhar" e tirar as chamadas "fotografias de momento".

Passou-se também uma coisa curiosa e estranha. Apesar do passeio ser mais longo do que o costume, não encontrei uma única pessoa conhecida, nem mesmo de vista. Foi como se todas as pessoas que conheço tivessem mudado de lugar ou então se tivessem escondido à minha passagem...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


quarta-feira, julho 26, 2023

Se antes já se ganhava dinheiro a mais no futebol, o que dizer agora?


Penso muitas vezes que o futebol é um desporto único, com uma capacidade de resistência invulgar, ultrapassando toda a espécie de ataques, altos ou baixos.

O mais provável é que, com esta "febre do ouro" (ou do petróleo...), das arábias, ele leve um abanão, daqueles grandes. Mas no final, mais uma vez, acabará por resistir...

O mesmo não poderei dizer de alguns clubes, que ao ficarem sem os seus melhores jogadores, podem ver os seus adeptos a virar costas aos estádios, em ruptura com todo o "negócio", ao mesmo tempo que os investidores "batem asas", deixando-os nas "ruas da amargura"...

Embora seja cedo para se fazerem contas ou lançar para a mesa prognósticos, ninguém duvida que tudo isto é surreal. Se antes já se ganhava dinheiro a mais no futebol, o que dizer agora?

E o mais grave, é que nem se pode dizer que se trata de um investimento, trata-se apenas de "gastar dinheiro" quase por vaidade e arrogância, para se poder ter os melhores jogadores no campeonato da Arábia Saudita.

Quando há quem veja nesta "loucura", uma boa novidade global, eu olho-a apenas como mais um ataque ao futebol e até à economia europeia e mundial.

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, julho 25, 2023

Seremos sempre diferentes, apesar das insistências...


Continuamos com alguma dificuldade em aceitar que somos diferentes, não apenas pelas coisas mais visíveis, ligadas ao corpo.

É por isso que algum feminismo se torna ridículo (deve continuar a existir "machismo", mas está cada vez mais escondido...), porque quer que sejamos iguais, muito para lá dos direitos. Se nós pensamos e olhamos para as coisas de maneira diferente, não podemos ver as mesmas coisas, aqui e ali.

Tudo isto a propósito de uma conversa que tive com uma amiga socióloga, sobre o nosso comportamento em grupo. Disse-lhe que se se acabarem com "as conversas de homens", onde se dizem palavrões e se usam palavras politicamente incorretas (sim, nós entre homens continuamos a falar de pretos, de paneleiros, de putas, entre outras coisas parvas e ofensivas...), perdemos alguma (ou muita...) liberdade. E não é por dizermos essas parvoíces que somos mais ou menos racistas, machistas, homofóbicos.

Ela disse-me o óbvio, que provavelmente isso nunca iria acontecer, tal como  "as conversas de mulheres". Acrescentou que precisamos dos "grupos sexistas" para existirmos, e que é preferível os encontros de amigos no café a dizerem coisas parvas, que os novos grupos, em que se juntam para fazer muito mais que porcaria, nos estádios de futebol e afins.

Mas o mais curioso foi ela dizer, que "as conversas de homens", mesmo que tivessem bolinha, deviam ser quase sempre mais interessantes que as "conversas de mulheres", muito mais focadas em modas, decorações, cremes, dietas, etc...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, julho 24, 2023

Quase me apetece falar dos "poucos mas bons" (que me pareceram mais que noutros anos)...


Já falei aqui de um Algarve com menos gente. 

O que é mais curioso, é que no meio de essa "menos gente" descobri mais leitores. Sim, vi mais gente a ler livros. E nem estou a falar do meu chapéu, que chegou a ter quatro leitores em simultâneo...

Como continuo a coleccionar retratos de leitores, deixo aqui dois registos, que bem podiam ter como legenda "o rapaz solitário do chapéu azul" e  "o bikini que lia livros"...

(Fotografias de Luís Eme - Algarve)


domingo, julho 23, 2023

Cacilhas com algumas novidades neste domingo de manhã...


Embora só tenha estado ausente uma semana, descobri algumas novidades, nesta manhã de domingo, quando resolvi dar um ligeiro passeio até ao Tejo em Cacilhas.

Gostei de ver algumas pinturas curiosas (com textos ligeiramente diferentes...) na parte superior das grades de sarjetas no largo de Cacilhas.


E também a instalação de oito "wc's" portáteis numa das extremidades do mesmo largo. Pelos vistos, a juventude católica pode vir à vontade a Cacilhas, pois já têm espaços para deixaram a sua "pegada", líquida ou sólida (bem os podiam manter depois das jornadas, pois a localidade recebe visitantes o ano inteiro)...

E quando me aproximava de casa, descobri junto aos contentores do lixo, um quadro com anjos, que parecia estar ali em exposição, mas o que queria mesmo era uma mão amiga que "salvasse" os anjinhos abandonados e com cara de caso...

(Fotografias de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, julho 21, 2023

Quando as "crianças" já são adultas...


Foi a primeira vez que tirámos apenas uma semana de férias de praia, no Sul. 

Já imaginávamos que ia saber a pouco, mas percebemos que a partir de agora, com dois filhos já adultos, não conseguirás mais do que apenas uma semana com, os dois, ou até apenas com um deles...

Mesmo que por vezes surjam alguns esquecimentos, as crianças cresceram e já começam a desenhar as suas próprias vidas...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


terça-feira, julho 18, 2023

"Quem tudo quer, tudo perde". Ou seja, os "velhos" que já ninguém quer ouvir (sábios de um saber popular quase milenar), continuam certos em quase tudo, nas nossas vidas...


Não precisava do desabafo da senhora que vende bolas de berlim, que se queixava que em relação a outros anos, deviam estar metade das pessoas de férias na praia.

Basta olhar para o aldeamento onde estou (Praia do Cabeço), onde se vê que metade das casas estão fechadas. E percebe-se muito bem o porquê. Quando me pediram quase o dobro do valor que paguei em 2021, por uma quinzena para a mesma casa... 

Apesar da "ganância" (não se nota apenas nas Jornadas da Juventude...), de esta gente, que pensa que os outros são todos parvos, a vida vai tratar de lhes dizer que a maior parte dos portugueses não "nadam em dinheiro"...

Ontem demos um salto a Tavira encontrámos o movimento muito mais calmo. Pois, nem parecia que estávamos na segunda quinzena de Julho...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


segunda-feira, julho 17, 2023

"Agosto Azul" em Julho...


Nestas férias trouxe meia dúzia de livros para ler, como de costume. Um deles foi o "Agosto Azul" de M. Teixeira Gomes, que segundo consta foi um dos poucos Presidentes da República que além de resignar ao cargo, respirou de alívio por se livrar daquela "camisa de onze varas", durante a controversa Primeira República. 

Tenho este livro há bastante tempo, mas só agora, quando andei a fazer algumas mudanças, é que o deixei  de parte (com mais uma dúzia...), para ler nos próximos tempos. O gostar bastante da capa, toda azul, desta quarta edição (1984), também deve ter pesado um pouco na escolha.

Embora o livro não seja muito fácil de classificar, o que mais me apraz de realçar, é a forma como está escrito: a grande riqueza linguística,  cheio de expressões que caíram em desuso, tão comuns nos finais do século XIX e princípios do século XX. 

Não é difícil de perceber que Teixeira Gomes era um homem especial. Além de ser extremamente sensível, tinha uma ligação muito forte à natureza. Descendente de uma família abastada algarvia, teve a oportunidade de "conhecer mundo" desde cedo, como representante dos negócios do pai (venda de frutos secos). Natural de Portimão, tinha uma relação especial com o mar. Relação que está espelhada em várias páginas deste livro, como nesta transcrição:

«Vale-me a presença do mar e só posso pensar no mar... Que grande castigo seria passar sem ele! Eu não vivo contente em sítio donde lhe não veja luzir o azul por entre as árvores... É um segundo céu mais sugestivo por certo  do que o outro. A gente do sertão não tem mais do que um céu. e o mais pobrezinho... A proximidade do mar é o único lenitivo possível à torreira do Sol e a aragem que ele bafeja torna-se a bênção do Verão.»

Saindo do livro e voltando à sua vida, há um aspecto pouco singular (ou não... estamos a falar de um republicano e de um democrata que não devia morrer de amores por Salazar), foi o facto de ter vivido o final da sua vida exilado. Desde 1925 até 1941, data do seu falecimento, na Argélia, não mais voltou a Portugal, onde deixara a esposa e duas filhas...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sábado, julho 15, 2023

"Ainda estou, mas quase que já não estou..."...


"Ainda estou, mas quase que já não estou..."

Pois é, daqui a pouco vou dizer adeus a Almada, por uns dias, e passar umas pequenas férias. 

Acho que era a minha avó materna que dizia, que sempre fez bem mudar de ares, nem que fosse um fim de semana prolongado. E como ela estava certa...

Sempre deve ter havido "stress", mas nunca como agora. Vou mesmo mais longe, acho que o nosso corpo não está preparado para viver a esta "velocidade" (tudo passa cada vez mais rápido nas nossas vidas e se não conseguimos acompanhar este ritmo, ficamos irremediavelmente para trás...). Isso explica também o aumento de depressões e outras doenças estranhas, quase iguais a este tempo quase maluco, que nos consome e se esforça para nos "engolir"...

É por isso que todos nós devíamos partir, mudar de ares, nem que fosse por apenas três ou quatro dias...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


sexta-feira, julho 14, 2023

Nestes tempos em que o dinheiro é quem mais ordena...


Mesmo sabendo que somos muito diferentes dos franceses e ingleses como povo, podemos e devemos olhar para o que se tem passado em Paris, com olhos de ver.

Se não acolhermos quem vem de fora, para trabalhar no nosso país, de uma forma decente e equilibrada, correremos sérios riscos de nos debater com os mesmos problemas, num futuro próximo.

Só que existe ainda outro problema (mais bicudo): nós oferecemos coisas mais pequeninas (a começar logo pelo ordenado...) a quem chega, que  países como a França, Alemanha ou a Inglaterra...

E nestes tempos em que o dinheiro é quem mais ordena, a simpatia só é boa mesmo para os turistas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, julho 13, 2023

O mau uso que se dá às palavras dos outros...


Nem sei se a palavra "incómodo" é a mais indicada, quando me falam de uma história mal contada, ou aliás, mais inventada que próximo da realidade, ou de um texto usado por outras pessoas, como se fosse da sua autoria (também já aconteceu com dois ou três textos meus...).

Sei que não me chateio muito com isso (os ditadores têm razão sobre a ignorância e o desconhecimento, poupa-nos uma série de trabalhos...), embora assuma que muitos desses "casos e casinhos" me tenham afastado de vez das redes sociais e façam com que não tenha nenhuma conta do facebook, instagram ou tik-tok.

Claro que não foram as redes sociais  que criaram os burlões, os mentirosos e os plagiadores. Apenas lhes ofereceram um "caminho" mais fácil para circularem à sua vontade.

Pode ser pouco, mas mesmo assim continuo a pensar que temos uma enorme dificuldade em nos enganarmos a nós próprios. Por mais disfarces que usemos, a nossa "maldita consciência" deve no mínimo fazer com que tenhamos de dar umas voltas a mais na cama...

Lá estou eu! Começo a escrever e "viro o jogo". Não era bem sobre isto que queria escrever. 

A minha ideia inicial era falar da deturpação que se faz das palavras dos outros e não do "roubo". 

Até porque os nossos poetas maiores - Sophia de Melo Breyner Andresen e Fernando Pessoa - são as grandes vítimas destes "enganos", com a colocação da sua assinatura em versos que nunca escreveram, ou ainda, na substituição de algumas palavras, apenas porque sim...

Como de costume, podemos culpar o "mundo imperfeito", mesmo que ele tenha muito pouca culpa das "trafulhices e disparates" humanos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, julho 12, 2023

A música tem de tudo, o que vale é que podemos escolher o que ouvimos...


Uma das coisas que mais irrita uma das minhas amigas, é a música foleira que lhe entra pelos seus ouvidos e sai toda catita pela sua boca.

Como normalmente ouve o que não gosta, controla-se mais e a "música pimba" pode continuar a entrar pelos seus ouvidos, mas já não lhe sai pela boca, com tanta facilidade. Diz que a culpa é da rádio (afinal não colocam no ar só música estrangeira...) que ouve no carro.

É normal escutar coisas do género, "não tens mais estações de rádio, além dessas pindéricas que ouves e cantas?" E acabamos todos a sorrir.

Claro que a culpa não é dela, é sim, da chamada "música popular" (os cantores, detestam ser "pimbas", mesmo que não consigam fugir do registo e apelidam-se como "músicos populares"...), que por ser de "ouvido fácil", consegue chegar quase a todo o lado, até aos nossos ouvidos distraídos...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, julho 11, 2023

A "sintomatologia" continua presente em quase todos os poderes...


Depois de acabar de ler "Levantado do Chão" de José Saramago, tinha pensado escrever algumas linhas sobre o livro, por aqui. Até que hoje decidi deixar por aqui a minha opinião.

Mesmo que não seja o grande livro de Saramago, é uma obra bastante significativa, pois foi ela que lhe deu  a "consistência",  a "vontade" e o "balanço", decisivos no seu invejável percurso literário, até ao Nobel.

Sei que li o "Levantado do Chão" tarde demais (quase 43 anos depois da sua primeira edição...), e por isso detectei vários defeitos, que antes poderiam ter escapado, como a doutrina comunista, exagerada, embora tudo aquilo tenha acontecido mesmo no Alentejo. Hoje volta a falar-se demasiado em "escravidão", e eu não consigo olhar de outra forma, para o tratamento que era dado aos trabalhadores dos campos alentejanos (e de todos os campos do país)...

Mas o que não deixa de ser curioso, é toda a "sintomatologia" do regime de então, continuar presente (especialmente em governos maioritários, está a acontecer a Costa o que aconteceu com Cavaco e Sócrates...).

Transcrevo apenas um parágrafo do livro: «A grande e decisiva arma é a ignorância. É bom, dizia Sigisberto no seu jantar de aniversário, que eles nada saibam, nem ler nem escrever, nem contar nem pensar, que considerem e aceitem que o mundo não pode ser mudado, que este mundo é o único possível, tal como está, que só depois de morrer haverá paraíso, o padre Agamedes que explique isto melhor.»

Faz-me confusão, que os políticos (de ontem e de hoje) gostem tanto de governar para parvos e ignorantes, mas não devia. É tudo mais fácil... Já o papel da igreja, é o que sempre foi. Pobrezinhos destes padres e bispos, devem ter tantas saudades do "tempos dos milagres"...

(Fotografia de Luís Eme - Alentejo)


segunda-feira, julho 10, 2023

Musicalidades para quem gosta de ouvir música de olhos fechados...


Estou a começar a manhã, já escrevi algumas coisas no meu caderno, mas não era para escrever por aqui, tão cedo, só que não consigo escapar ao que posso chamar, meu bom gosto matinal (liguei a televisão e comecei a ver e a ouvir o concerto de Brian e Roger Eno na Acrópole de Atenas, na Grécia, transmitido ontem à noite na RTP2), sem resistir à vontade de partilhar esta musicalidade tão pouco popular, mas tão suave, quase doce, que me transmite coisas tão boas...

Gosto muito deste género musical (nunca me canso de ouvir álbuns como o "Cinema" do nosso Rodrigo Leão...).

Sei que toda esta suavidade é incompatível com os nossos tempos demasiado barulhentos. Mesmo assim não resisti em escrever algumas linhas sobre a música de Brian Eno, que não falou muito, mas é tão grande que até teve a humildade de se justificar por cantar algumas canções com a ajuda de uma estante com as letras: «As nossas músicas são tão antigas que já não me recordo das letras... ou então são tão modernas que também não recordo as suas letras.»

(Fotografia de Luís Eme - Évora)


domingo, julho 09, 2023

E se o "dono" tivesse voltado para trás?


Quando estava a beber café na esplanada do café fui surpreendido (tal como todas as pessoas que por ali estavam...), com uma discussão bastante energética e ofensiva, que só não teve direito a um combate físico, porque um dos dois homens idosos já precisava da ajuda de uma "canadiana" (e ainda bem que ele não se lembrou de a usar como "arma"...) para circular.

Uma terceira pessoa deixou um jornal (esse mesmo o mais "famoso" de todos...) numa das cadeiras da mesa que ocupara. Os dois homens de idade tiveram a mesma ideia, mas o mais lesto chegou primeiro e apropriou-se do jornal.

O mais giro, é que ambos falavam (aliás, discutiam... e ofendiam-se) como se o jornal lhes pertencesse. De um momento para o outro causaram um reboliço tal na esplanada calma, que não deve ter existido uma única pessoa que não se sentisse incomodada, e sem ter percebido o que se estava a passar.

Como a discussão teve lugar a dois metros de mim, vi "o filme todo"...

A única coisa em que pensei naquele momento (além da evidência de estar tudo a ficar "maluquinho"...), foi no hipotético regresso do verdadeiro dono do jornal... Era curioso ver o que se passaria, com a presença de mais um "dono do jornal" (o legítimo)...

Entretanto o homem que coxeava foi-se embora, deixando atrás de si um rasto de insultos, para o espertalhaço que "fingia ler o jornal".

Quem diria, numa altura em que quase não se lêem jornais de papel, ainda há quem quase corra, e "se bata", para ser o "novo dono" do jornal que gosta de encher as páginas com facas, alguidares e mulheres quase sem roupa...

 (Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, julho 08, 2023

"Não é... Mas podia ser..."


Esta expressão que não diz quase nada do mundo, diz alguma coisa da natureza humana.

Quem a costuma utilizar é um amigo poeta, talvez para se distanciar, para deixar bem vincado que gosta de ir à Lua e voltar.

Um dia falei-lhe sobre o pouco sentido da "frase-expressão", ele começou a sorrir e disse-me que devia andar mais atento ao mundo.

Depois explicou-me que eram muito mais os que queriam passar por espertos que os que não se chateavam nada de passar por parvos nesta bola pouco cristalina... mas ambos estavam a enganar-nos.

Mas depois acabou por me dizer, «não leves a sério a frase, é apenas poesia. Não te esqueças que na poesia pode-se tudo, até arrancar olhos.»

Só podia sorrir com uma resposta destas. 

E fiquei a pensar que podia muito bem ter ficado calado, não querer saber, nem dar sentido, ao que "Não é... Mas podia ser..."

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, julho 07, 2023

«A rejeição é a mãe de todos os maleitas humanas»


Há dias em que tenho pouco ou nada para dizer, mas lá faço um esforço para escrever qualquer coisa por aqui no "Largo", porque sei que se o deixar ligeiramente abandonado, o "voltar" é sempre mais complicado...

Hoje não. Tenho pelo menos três temas que poderia desenvolver, ainda que ligeiramente, por aqui.

Mas o que me ficou na cabeça foi a frase, «A rejeição é a mãe de todas as maleitas humanas.» A palavra maleita tirou de alguma forma a carga religiosa da frase, e ainda bem...

A pessoa que disse esta frase, usou-a no contexto da violência em França, embora também tenha visitado os EUA, onde são cometidos mais atentados dentro de escolas, por alunos... E foi ainda mais longe, disse que muitos crimes sexuais também são praticados devido à "rejeição".

Em vez de alimentarem mais uma conversa, as suas palavras deixaram-nos em silêncio. E depois houve alguém que mudou de assunto.

A professora de inglês e português deixou-me a pensar. E não foi  nada difícil concordar com ela.

Somos seres mais frágeis do que parecemos (ou queremos parecer...) e ficamos muito marcados pelo nosso percurso de vida, especialmente na infância. A rejeição normalmente está ligada à falta de amor (de pais, familiares, amigos...), e também ao mau hábito da humilhação pública (há pais, e até professores, bons nisso...). Nenhum de nós esquece estas coisas, podemos quanto muito compreender e até perdoar. Mas não somos todos iguais, há quem nunca esqueça, nunca perdoe...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quinta-feira, julho 06, 2023

Parece que deixou de existir o "meio-termo"...


Quase toda a sociedade vive de "picos", positivos ou negativos. O oito nunca esteve tão perto do oitenta. O quarenta e o cinquenta tornaram-se quase irrelevantes.

As redes sociais e a informação televisiva têm uma responsabilidade muito grande nesta mudança, porque funcionam, cada vez, como "lupas" de aumentar, em relação à realidade. E nós acabamos por ser levados (uns mais outros menos...) por esta nova forma de olhar para o mundo que nos cerca.

Quando se vive desta forma, tudo acaba pro ser excessivo, perdem-se os pontos de "equilíbrio", em quase tudo. 

E como eles são essenciais para a democracia...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, julho 05, 2023

"Audiências" televisivas, de, com, e para quem?


Sempre me fez confusão a forma como se medem as audiências. Calculo que também não seja muito claro para os canais mais vistos, porque há momentos em que todos assumem o papel de líderes deste mercado (até o CMTV já diz ser o "maior", afirmando estar acima dos canais generalistas em determinadas horas...).

E ainda me faz mais confusão que o canal que diz ser líder há quatro ou cinco anos (SIC), entre as 21.30 a 00.00 horas tenha mais tempo de publicidade que de programação (ainda não perdi tempo a contabilizar, mas agora, com a possibilidade de se andar para trás, até era um trabalho fácil de fazer. Penso que se deve passar o mesmo na TVI.

Parece-me ser um grande desrespeito pelo espectador, assim como o seu hábito de encurtar episódios e transmitir novelas de menos de 15 minutos, para fazer "render o peixe" e oferecer quatro novelas ao serão, em vez de um filme, por exemplo.

É provável que eu não seja exemplo para ninguém, por gostar mais de cinema que de telenovelas, mas faz-me confusão que nesta "caixa de pandora",  tanta publicidade dê tanta audiência, que as pessoas não mudem de canal, com a oferta que existe por cabo...

O único canal que escapa ligeiramente a estes abusos é a RTP. Embora não seja o canal preferido cá de casa, é o meu, por exclusão de partes. Não vejo as notícias todas no canal público porque tenho uma embirração pessoal com o pivô-escritor, Rodrigues dos Santos (não tem nada a ver com livros, só não gosto da forma agressiva como dá as notícias...).

Como tudo nesta vida é "manipulável", não duvido que aconteça o mesmo com as ditas "audiências"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, julho 04, 2023

A Cultura, a Política e os Palcos...


Ainda antes de começar a escrever, reparei que já estava a misturar as coisas na minha cabeça.

Nunca é simples falar de política e políticos, sem cair na realidade, que não tem de ser "populismo". Muito menos misturá-los com "cultura"...

Tudo começou por uma conversa cá por casa sobre um programa televisivo de qualidade (se o compararmos com a banalidade e vulgaridade que enche as programações de praticamente todos os nossos canais...), "Primeira Pessoa", de Fátima Campos Ferreira. A convidada era a pintora Graça Morais, que a certa altura da conversa, ao passar pela realidade, refere-se ao facto de as pessoas que estão no poder serem bastante incultas e medíocres, e nas consequências diárias, que todos acabamos por sofrer, na carteira e não só.

O meu filho disse que talvez isso aconteça por qualquer pessoa achar que pode ser político, acrescentando que se fica com a sensação de que o maior grau de exigência desta função é a militância partidária. Ficámos em silêncio, por uns breves instantes.

A minha filha foi buscar o exemplo de Zelensky, que tem formação artística (era comediante antes de ser político...), e está a representar bem o seu papel como presidente da Ucrânia. Não percebi muito bem porque é que ela foi buscar este senhor para a conversa. Ela explicou-me que foi por ser alguém ligado à cultura. E isso obrigou-me a dizer-lhe que um agente cultural não tem de ser uma pessoa muito culta. Embora a profissão de actor ou de actriz devesse no mínimo obrigar essas pessoas a lerem bastante, mas não sei se isso acontece... E acrescentei que pelo menos Zelensky se estava a revelar um excelente actor, em qualquer palco, com muita "lata" e coragem. Mas continuava sem saber se ele era ou não, uma pessoa bastante culta... 

Continuo a pensar que ser-se, ou não, culto, não está dependente da nossa profissão. Embora existam profissões que deviam exigir mais estudo e conhecimento (como é o caso dos professores e das pessoas ligadas ao mundo das artes e letras...), ou seja mais cultura. Mas isso nem sempre acontece...

Do que não tenho dúvidas, é que falta muita cultura, inteligência e competência a quem chega ao poder. Comunicar bem e estar à vontade em qualquer palco parecem bastar para se ser político, mas a realidade diz-nos que é muito poucachinho...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, julho 03, 2023

A "Tranquilidade" de Maria Judite de Carvalho


Continuo a ler as crónicas de "Este Tempo" de Maria Judite de Carvalho (vou lendo uma ou duas crónicas por dia, para perpetuar a prazer da sua leitura...) e achar este livro editado em 1991, quase "profético", mesmo que as crónicas mais recentes da Maria Judite tenham sido escritas há quarenta anos (as mais antigas foram escritas nas páginas do "Diário de Lisboa em 1968 e as mais recentes no "O Jornal" em 1983...).

Às vezes penso que só nos últimos anos é que nos tornámos egoístas e esquecemos com facilidade o "essencial" nas nossas vidas. Mas parece que estou enganado. É essa a sensação que experimento ao ler a crónica "Tranquilidade", que transcrevo na integra, e diz muito do que somos e já éramos:

«Num dos dias de maior calor deste Verão apareceu no patamar, deitado, sequioso e quase morto (pelo menos assim parecia), um cão arruivado. Todos os que subiam ou desciam a escada paravam, olhavam para o bicho com piedade, pobrezinho, como teria vindo ali parar?, houve quem lhe desse um pires de leite, uma pessoa acabou por o levar consigo não sei para onde.
Há dias, antes do Natal, quando a longa seca terminou e se abriram de par em par as comportadas do céu, um homem de água, muito velho e muito trémulo, quase completamente surdo e talvez meio cego, apareceu sentado num degrau daquela mesmo escada. Um inquilino tentou expulsá-lo, aos gritos, mas ele, coitado, não ouvia ou não percebia o que lhe diziam e tinha um meio sorriso parado na cara escura e engelhada. Depois, quando o deixaram só, encostou a cabeça à parede e adormeceu. As pessoas iam subindo e descendo mas ninguém pensou em ajudar o velho. Talvez as pessoas andassem mesmo mais depressa do que era costume, com receio de que ele, de repente, acordasse e pedisse qualquer coisa, ou fugissem de si próprias ao fugir dele, para não se sentirem culpadas, talvez.
Depois, daí por meia hora o velho acordou, levantou-se com dificuldade e foi-se embora apoiando-se às paredes. As arcadas luminosas do Natal iluminavam-lhe talvez o rosto deserto.
Na escada ficou a marca do seu corpo molhado. E a tranquilidade voltou ao prédio.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, julho 02, 2023

Vícios que também são "bengalas" sociais...


Podia ser, mas não sou, sociólogo.

Claro que sou um observador do mundo que me rodeia (é o que fazem as pessoas que escrevem e tiram fotografias...), mas sem pretensões, muito menos "verdades quase absolutas" como as do Nuno.

É por isso que tenho dificuldade em perceber como se chega a algumas conclusões, como as da Carla, que disse que os maiores inimigos dos consumidores de tabaco e  álcool eram ex-fumadores e ex-bebedores.

Não fiquei nada convencido. Penso que as "brigadas higiénicas" são compostas sobretudo por quem  nunca fumou ou bebeu, e tem quase ódio a quem tem estes prazeres.

Gostei mais do rumo que a conversa acabou por levar, olhando para os cigarros e as bebidas alcoólicas como "desinibidores" sociais, especialmente junto dos jovens, inseguros por natureza.

Claro que, mesmo pela vida fora, o álcool continua a funcionar como "bengala" para algumas pessoas, que têm dificuldade em interagir socialmente. 

Pensei num dos meus tios, que sem beber uma gota de álcool, é uma pessoa completamente apagada. Basta-lhe um copo de vinho para se libertar e tornar-se uma pessoa alegre e vivaça, animando todos aqueles que estão à sua volta.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, julho 01, 2023

É por estas e por outras que farto de me dizer a mim mesmo, que a vida é uma coisa muito estranha...


À medida que vamos entrando para o clube dos "usados", vamos perdendo energia e ganhando ao mesmo tempo alguma preguiça.

É por isso que quando os dias se tornam bastante produtivos, até somos capazes de estranhar.

Claro que o problema não é apenas nosso. A partir de uma certa idade, começa a ser mais difícil traçarmos objectivos e ter metas onde chegar, porque há duas ou três portas que se vão fechando, sem se perceber muito bem porquê.

É por estas e por outras que farto de me dizer a mim mesmo, que a vida é uma coisa muita estranha...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)