sexta-feira, julho 17, 2015

Já em Férias


Estou a poucas horas de partir para o Sul.

Como os computadores e a internet ficam mais uma vez a descansar cá por Almada, só voltarei ao "Largo" no começo de Agosto.

Passem bem e tentem agarrar a felicidade (mesmo que seja só uma nesga...).

O  óleo é de Linda Pochesci.

quinta-feira, julho 16, 2015

Quase em Férias...


Como estou praticamente de férias, pus-me a pensar que devia fazer férias de tudo.

E este tudo devia incluir também a leitura e a escrita.

Mas isso seria reduzir as férias quase ao "nada"...

Ainda por cima nos últimos anos o período alto das leituras tem sido as férias.

Foi então que me lembrei que importante era conseguirmos fazer mais coisas que nos dão prazer, nestes momentos em que ligamos menos ao relógio e à agenda. 

E bom mesmo era esquecer, ainda que só por breves momentos, os problemas da nossa vidinha...

O óleo é de Manuel Amado.

quarta-feira, julho 15, 2015

Farsas & Tragédias


Não tenho falado do Mundo de propósito.  

"Mundo" esse que se tem resumido ao sai entra da Grécia, num jogo entre o gato e o rato, mas a fingir. 

Nem os lideres dos nossos dois principais partidos se escusaram a dar um ar da sua graça, como se fossem uns gajos importantes nas europas... embora não passem ambos de dois lambe-botas, à boa maneira portuguesa.

Só espero que a Grécia não seja um espelho nosso, adiantado no tempo.

Mas acho que ninguém sabe do que fala, muito menos o que vem aí. Nem mesmo a "dama oxigenada alemã", que dizem ser a dona disto tudo, assim como o senhor que usa rodas como pernas, que se armou em engraçado com piscadelas de olhos para os americanos, a fingir querer trocar Porto Rico pela Grécia.

Talvez tudo isto não passe mesmo de uma farsa, com a tragédia a ficar-se pelas ilhas gregas, abandonadas pelos deuses, sabe-se lá porquê...

A única certeza que tenho, é que não tenho falado do mundo, porque a única coisa que sei, é que nada sei...

O óleo é de Guy Péne du Bois.

terça-feira, julho 14, 2015

O Piano Mágico


Ouvir um solo de piano, foi suficiente para recuar no tempo e recordar um dos mais belos ensaios musicais a a que assisti, fortuitamente.

Estava a espera que alguém chegasse, para me receber para mais uma entrevista do jornal. Era alguém com um relógio com horas e minutos diferentes dos meus. Aconteceu-me muitas vezes, a mim, que detesto esperar...

Felizmente aquele piano conseguiu fazer magia, durante vários minutos.

Quando finalmente me chamaram, não me apetecia sair dali. Foi como se aquela música conseguisse entrar dentro de mim e me levasse de viagem por aí.

Sorri com o piano e com a boa memória...

Lembrei-me que nunca cheguei a saber quem era o pianista. Sei apenas que era um jovem que devia rondar os vinte anos. Isto aconteceu há perto de vinte cinco anos. Talvez esse jovem seja hoje um grande pianista...

O óleo é de William Chase.

segunda-feira, julho 13, 2015

Corpos Pintados a uma Só Cor na Praia


Num tempo em que muitos homens ainda não andavam em tronco nu nas praias, já havia algumas mulheres que se despiam rente ao mar.

Foi-me confidenciado por uma actriz famosa que uma boa parte das mulheres ligadas ao teatro, actrizes e coristas dos anos de ouro do Parque Mayer, escolhiam praias mais isoladas para se despirem (as praias menos centrais da Costa de Caparica), protegidas por alguns rapazes de confiança, que faziam um papel parecido com os de segurança.

Não existia qualquer espécie de exibicionismo naquela peculiaridade, havia sim um gosto e uma opção, de ter o corpo todo bronzeado da mesma cor, sem a marca do fato de banho.

Isto passou-se nos anos trinta, quarenta e cinquenta do século passado, quando as praias ainda não eram populares nem o "bikini" estava oficializado...

O óleo é de Paul Gustave Fischer.

domingo, julho 12, 2015

A Sabedoria Tem Cabelos Brancos


Uma boa parte dos meus amigos e conhecidos, além de serem pessoas ligadas ao mundo das culturas, também são mais velhas que eu.

Isso acontece naturalmente. Não tenho qualquer explicação ou teoria sobre o assunto.

Talvez sejam ainda resquícios do jornalismo, que me foi transformando num bom ouvinte. Como também tenho vestido a roupa de historiador, isso leva-me a vários encontros com o passado, onde as minhas principais fontes orais são pessoas antigas. 

Noto que acabamos por falar mais vezes, apenas porque sim. Embora surjam sempre coisas novas sobre pessoas e lugares, em conversas aparentemente banais.

Não consigo explicar muito bem, mas normalmente com a malta da minha geração (e mais novas), tenho conversas muito mais superficiais. 

O pior de tudo é sentir que no nosso país nem sempre se valorizam os cabelos brancos e toda a sabedoria que se vai adquirindo com a vida...

O óleo é de Spartaco Lombardo.

sábado, julho 11, 2015

Um Bom Amigo e um Excelente Actor (de rua)


Ao ver um grupo de raparigas bonitas a tagarelar alegremente numa mesa de café, lembrei-me de um grande companheiro, que partiu cedo demais, vitima de um acidente de viação estúpido.

Era um bom amigo e um excelente actor de rua...  

Vi-o fazer grandes números, especialmente junto das mulheres, a quem fingia não dar a mínima atenção...

Nunca mais esqueci uma das suas melhores saídas, quando estávamos numa esplanada rodeado de miúdas giras. Com uma grande lata e um ar sério, disse-lhes:

«Não levem a mal por eu não vos passar muito cartão, é que a minha perdição são as mulheres feias.»

Elas pensavam que estava a brincar, mas como ele fez de conta que não estava ali, acabou mais uma vez por ser o centro das atenções e comentários.

Foi quase sempre assim. 

Foi um dos poucos homens que vi ser perseguido por mais que uma mulher.

Olhando para este óleo de Louis Schryer, é caso para dizer, só faltou mesmo oferecerem-lhe flores...

sexta-feira, julho 10, 2015

A Felicidade Também Pode Ser Isto


Podíamos sentir inveja, só de os olhar. Mas não, provavelmente por sermos quase todos do clube das pessoas que são capazes de viajar sem sair do mesmo sítio.

Calculamos que eles sejam felizes lá em baixo, nos seus barcos à vela, a furar as águas do Tejo.

E nós somos felizes cá em cima, a ver, a falar, a ouvir e a sentir a brisa que leva os veleiros para lá e para cá. 

Precisamos de distracções para os olhos para chocarmos com boas ideias. Pelo menos é essa a filosofia do Pimenta, que finge que nos paga, para lhe sugerirmos isto e aquilo, para os seus projectos, no seu terraço.

O óleo é de Albert Marquet.

quinta-feira, julho 09, 2015

É Sobretudo uma Questão Cultural


Há vários anos que é assim, muitas pessoas só se lembram da existência do Teatro em Julho, quando o "Festival de Almada" invade a cidade (e agora também atravessa o Rio...).

Nada que me preocupasse demasiado. Até por eu continuar a não ser do teatro, pelo menos daquele que se publicita nos cartazes e programas. Mesmo tendo na minha pasta dois quadros teatrais escritos na pasta, para entregar à encenadora do Cénico Incrível, tenho dificuldade em entender o chamado teatral experimental, demasiado chato para o meu gosto.

Eu sabia que era sobretudo uma questão cultural. Eu crescera com o cinema e a literatura. Era essa a minha "educação" do mundo das culturas.

Ela falava-me com entusiasmo de várias peças, der vários encenadores. Eu abanava a cabeça, que sim. Implicava comigo por não ter comprado uma assinatura. Disfarçava e dizia que não gostava de espectáculos de massas, sem perder o sorriso. Chamava-me nomes feios.

Mais uma vez não chegámos a sitio nenhum. Nem era esse o objectivo. Gostamos sobretudo de desconversar.

O óleo é de Picasso.

quarta-feira, julho 08, 2015

A Outra Trafaria


Eram dois homens, já com netos, presos a uma fotografia, com mais de sessenta anos.

As duas crianças de fato de banho, apanhadas pela kodak a brincarem na praia da Trafaria quando esta ainda era uma estância balnear recomendada pelos médicos (a praia era menos agressiva que a Costa de Caparica, por ainda ser um pouco Tejo) e frequentada por famílias lisboetas e almadenses, que alugavam quartos ou partes de casa.

Ainda conheciam os nomes dos banheiros e dos nadadores salvadores, gente que não foi devorada pelo tempo e ainda permanece viva na memória daqueles homens de cabelos cinzentos.

Não têm muito para falar, quando olham para a Trafaria actual, tão gasta e abandonada.

É por isso que voltam às memórias, ao tio Bernardino, à tia Bárbara e a quem resolve aparecer na praia que foi destruída pelo "progresso".

O óleo é de Nikias Skapinakis.

terça-feira, julho 07, 2015

Uma Mulher Grande


Maria Barroso foi uma mulher grande, que nunca deixou de ser ela própria, apesar de ter sido forçada a abdicar de tanta coisa na sua vida, por fazer parte de uma família que lutou contra o salazarismo e marcelismo, sem nunca baixar a guarda.

Mesmo sendo esposa de uma figura como Mário Soares, nunca foi a "Mulher de Soares" ou a "Maria Soares", foi sempre a Maria Barroso, a actriz, a declamadora, a professora, mas sobretudo a mulher activa, atenta e sensível, que tinha sempre uma palavra amiga e um gesto generoso para oferecer aos mais desprotegidos da nossa sociedade.

segunda-feira, julho 06, 2015

A Fixação do Sá pelas Histórias de Mulheres Maltratadas


O "Correio da Manhã" consegue ser o jornal mais criticado e também o mais lido do nosso país. Ou seja, o facto dos títulos da capa serem diferentes das notícias, não altera qualquer mudança na vontade de se lerem as suas páginas de papel, muito menos o facto de muitas delas serem capazes de nos deixarem com as mãos manchadas de um vermelho invisível.

Também não podemos dizer que este é o jornal do povo, porque se estivermos atentos descobrimos que é de toda a gente que gosta de viver num outro país, que nem sequer discuto se é real ou imaginário. Apenas tenho a certeza que não é o meu.

Alguns amigos meus lêem este jornal. Não os questiono em relação ao gosto, apenas brinco em relação a algumas notícias com mentiras de perna curta.  Gostos não se discutem e eles gostam de estar informados de que houve mais um fulano qualquer que matou a mulher, um pedófilo que foi preso, uma princesa qualquer da telenovela das nove que mudou de namorado ou de um novo episódio do seriado sobre o prisioneiro 44.

Outros não conseguem esconder as dores do passado, como é o caso do Sá, o engenheiro da nossa rua, que lê de uma ponta a outra as notícias sobre mulheres vítimas de violência doméstica, oferecendo-nos quase sempre ditos que são tudo menos simpáticos sobre elas. Quem não conhecer a sua história de vida, estranha, que alguém culto e educado, seja capaz de dizer tantos disparates sobre o "sexo" cada vez mais "forte".

Mas mesmo nós que sabemos que a mulher o trocou há mais de vinte anos por um desses homens que se afirmam como seus donos e as trazem sempre de rédea curta, não entendemos que ele insista que elas gostam e respeitam quem as maltrata, por isso é que ficam com eles até ao fim das suas vidas.

Quando ele se vai embora comentamos uns com os outros se haverá "cura" para casos como o dele. Queremos acreditar que a psicanálise seria capaz de lhe fazer bem. Ou então o encontro com uma dessas mulheres raras, com paciência e amor suficientes para lhe devolver o que ele perdeu naquele dia em que entrou em casa e descobriu a falta de tudo o que lhe preenchia a vida, quando se deparou com a ausência de alguns dos objectos que decoravam a sala.

O óleo é de Duncan Grant.

domingo, julho 05, 2015

A Velha Casa Rente ao Mar


As saudades que ela tinha da velha casa mesmo quase dentro da praia... Contava mil e uma aventuras, todas de Verão. Quem a escutasse ficava com a sensação de que aquela casa era desmontável, como qualquer tenda ou barraca de praia, apenas tinha vida no Verão.

Talvez só passasse as férias grandes na casa de família  e não soubesse que ela também existia no Inverno. Ou então só queria falar do tempo de praia...

Mas existia. Às vezes passava mesmo a seu lado, bem agasalhado, quando o tio Zé se disfarçava de pescador e nós nos cruzávamos com o seu avô, velho lobo do mar, que gostava de contar muitas das suas aventuras, a quem o quisesse ouvir. Felizmente nós éramos dos que queríamos...

Agora por ali já não existiam casas, era só mar e dunas.  

Eu não lhe disse, mas gostava muito mais destes tempos, sem praias privadas ou casas a tirarem a vista a quem gosta de olhar o Oceano.

O óleo é de Edward Hooper.

sábado, julho 04, 2015

Lixo de Luxo nas Ruas


Na sexta feira ao passar junto aos recipientes de reciclagem de lixo, reparei num saco de plástico com três quadros.

Um deles era uma cópia perfeita do quadro de Henri de Toulouse-Lautrec, que ilustra estas palavras, "La Toilette".

Claro que peguei nele e andou a passear comigo pela cidade (tinha duas reuniões...), depois de arranjar um saco de plástico à sua medida.

As pessoas hoje deitam quase tudo fora. 

Mas as coisas que me "doí" mais encontrar no lixo são livros e obras de arte.

sexta-feira, julho 03, 2015

O Regresso à Normalidade


Andei três dias pelo Oeste, a matar saudades de pessoas e lugares.

Agora estou aqui sentado, sem grande vontade de regressar à "normalidade" (o que quer que isso seja...). Não sei se isso se deve à esta curta ausência ou se ainda são reflexos de um mês com apenas ficções aqui no "Largo".

Em Junho limitei-me a copiar o que já tinha escrito. Claro que nunca deixei de escrever, mas...

Este gato é da Foz de Arelho.