domingo, agosto 31, 2014

Amanhã já Não há Brinquedos...


O Museu do Brinquedo de Sintra abre hoje pela última vez ao público, depois do Município local deixar de subsidiar esta instituição.

Só espero que os proprietários deste espólio, com mais de 60 mil peças, chegue a acordo com a Câmara Municipal de Lisboa - ou com outra instituição Lisboeta -, para a sua instalação na Capital (num curto espaço de tempo) seja uma realidade, onde terá, sem qualquer dúvida, mais visibilidade e visitantes que em Sintra.

sábado, agosto 30, 2014

O Romance Constantemente Adiado


Só escrevi um romance, que acabou por marcar a minha estreia literária. Foi escrito durante o Verão de 1992 e publicado em 1995 depois de ter dado algumas "cambalhotas" em algumas editoras, de ter sido finalista do "Prémio Policial" da Caminho....

Depois disso comecei quase uma dezena de romances, escrevi uma novela e muitos contos (mais de meia centena, com toda a certeza...).

Hoje, ainda na cama (continuo a acordar cedo aos sábados e a ser "invadido" por algumas questões, para as quais nem sempre tenho resposta...), pensei no assunto. Até por estar novamente atrás de um romance, já com uma série de capítulos escritos...

Provavelmente a minha "desistência" a meio destas históricas, prende-se com a ideia que tenho do romance - que pode estar errada, mas aconteceu na minha primeira experiência, conseguida... -, em que este só se torna verdadeiramente romance, quando as personagens tomam conta da história e fintam o escritor, que não só se vê-se obrigado a ir atrás delas, como também a satisfazer os seus caprichos...

Não consigo pensar o romance de outra forma, embora reconheça que uma boa parte dos romances publicados por aí não fujam do controle dos seus autores, até pela "vulgaridade" das suas personagens. 

Mas talvez seja tempo de mudar de filosofia...

sexta-feira, agosto 29, 2014

Lutar Contra as "Sociedades Anónimas"


Sei que não é possível combater o anonimato, até por ele ser em algumas circunstâncias a única forma de se chegar à verdade - situações em que há ameaça da integridade física e até da vida -,  através da denúncia anónima às autoridades.

Embora não diabolize a internet, de nenhuma forma, sei que ainda não se chegou ao ponto certo da sua regulação (que para alguns irá ser entendido como forma de censura, etc). A melhor prova disso é a forma como se utilizam as caixas de comentários, especialmente dos jornais.

Felizmente na blogosfera existe uma coisa chamada moderação de comentários, a qual a maior parte das pessoas que têm blogues aderiu, mesmo os que acham que toda a gente tem direito a manifestar a sua opinião neste espaço.

A única coisa que eu continuo a não perceber é a necessidade de as pessoas deixarem um comentário anónimo, quando nem sequer precisam de assinar com o seu verdadeiro nome, pois podem assinar como quiserem, têm toda a liberdade para criarem uma personagem.

E não continuam a ser anónimos? Não. Passam a ser alguém, mesmo que não tenha identidade real.

Até aqui tenho publicado comentários anónimos, desde que não sejam ofensivos. A partir de hoje, não publicarei mais nenhum, pelas razões que já expressei.

Se não querem usar o vosso nome, sejam criativos, criem uma outra identidade para utilizar na blogosfera. Nos meus espaços aceitam-se opiniões contrárias, o que não se aceitam são insultos.

Como Ricardo Araújo Pereira, muito bem disse na "Visão" (31 de Outubro de 2013): «A internet não pode albergar mais pessoas grotescas do que o mundo real na medida em que todo o universo de pessoas, incluindo as grotescas, habita no mundo real.»

O óleo é de Marta Kawiorska.


quinta-feira, agosto 28, 2014

Uma Outra Versão Sobre a Ilusão da Realidade


A história do copo, meio cheio ou meio vazio, é um bom exemplo para quase tudo. Ou seja, para quase todas as conveniências...

o cronista Martim Avilez Figueiredo (tem mesmo nome de "cronista da corte"...) descobriu a pólvora na última edição do "Expresso", no seu artigo, "A Ilusão da Realidade", ao escrever que 60 % da população portuguesa não paga IRS, e como dois  e dois são quatro, obviamente os restantes 40 % da população são "esmagados fiscalmente". Não levanta sequer um pouco o pano, nem diz porque razão isto acontece.

As suas últimas palavras são sintomáticas: «é preciso que mais portugueses paguem impostos para que tudo se torne mais justo.»

Concordo plenamente.

Mas para que mais portugueses paguem impostos é preciso aumentar as pensões abaixo dos 400 euros assim com o ordenado mínimo, que é o valor normalmente oferecido a quem anda à procura de emprego.

E já não vou falar das centenas de milhares de desempregados de longa duração (pessoas com mais de cinquenta anos, considerados velhos para trabalhar...), que sobrevivem com o rendimento mínimo, que não deverá ser superior a 300 euros.

É por isso que as minhas últimas palavras são ligeiramente diferentes das dele: «é preciso que mais portugueses ganhem ordenados e pensões justas, para que os impostos sejam pagos por mais pessoas.»

A aguarela é de Thomas W. Shaller. 

quarta-feira, agosto 27, 2014

Que Bem Que se Está no Campo


Estive uns dias fora, na casa da Beira, e como foi bom estar quase num "outro país".

Graças à inovação deste governo (com a negociata da TDT...), deixámos de ter sinal na televisão. Acabou por ser uma coisa boa, pelo menos para mim. Como levamos alguns  dvd's, o pequeno ecran funciona exclusivamente como "cinema".

Ou seja, nada de notícias deste triste país, muito tempo para ler, passear, e claro, ver filmes.

E o mais curioso, foi ler em quase todos os lados, desde a entrada da casa (onde fui apanhado...) a praticamente todas as outras divisões e até no quintal...

sábado, agosto 23, 2014

Faltava-lhe um Outro Caminho...


Quando se vive no interior normalmente sente-se falta do mar... sente-se falta do que está mais distante.

Ele não, sentia falta de um caminho de ferro, de ver chegar e partir comboios que deixavam e levavam pessoas, e também dos outros de mercadorias, que demoravam uma eternidade a passar. Sabia porque contara uma vez as carruagens, quando foi à cidade grande, enquanto esperava pela composição que o traria de regresso a casa. A automotora puxava nada mais nada menos que 36 carruagens...

Quando olhava para trás, não tinha dúvidas que tinha sido um rapaz estranho, demasiado curioso por tudo o que o rodeava. Devia ser por isso que era bom a  fazer perguntas que incomodavam os adultos, quase sempre por não terem respostas...

Hoje quando volta ao lugar onde cresceu, sorri quando pensa nas coisas que pensava que lhe faltavam na infância, especialmente as respostas que nunca recebeu dos adultos...

O óleo é de Michael Peck.

quinta-feira, agosto 21, 2014

Em Agosto São Mais...


No Verão as várias associações que dão apoio aos sem abrigo da Capital, reduzem a sua actividade. Provavelmente por ser tempo de férias e também por haver menos necessidade de acompanhamento, porque até parece agradável adormecer a olhar para a Lua... 

Talvez seja por isso que há um aumento de gente a dormir na rua, embora seja quase tudo gente de fora.

Sim, alguns turistas com menos euros no bolso aproveitam o facto de Lisboa ainda ser uma cidade aberta e livre e optam por dormir na rua, beneficiando da nossa temperatura amena.

Provavelmente também ficam a gostar de Lisboa e prometem voltar, felizes por não existir o controle de outras capitais europeias, onde há um olhar diferente pelo chamado espaço público e pela ordem das coisas.

O óleo é de Morteza Katouzian.

quarta-feira, agosto 20, 2014

Os Memoráveis de Lídia Jorge


Acabei hoje de ler, "Os Memoráveis", da autoria de Lídia Jorge.

É um grande livro sobre a Revolução de Abril e sobre os seus principais heróis, que sobressaíram do tal grupo de 5.000 mil homens, que tomou a Cidade de Lisboa, na madrugada de 25 de Abril de 1974.

É também um excelente exemplo de como se pode fazer ficção, sem fugir dos factos e sem menorizar as grandes figuras da Revolução.

O ponto de partida escolhido pela autora é uma fotografia, datada de 21 de Agosto de 1975, que juntou à mesma mesa do "Memories" figuras improváveis - aos nossos dias, claro - de vários quadrantes da sociedade, quando o PREC estava ao rubro. Fotografia que será usada como pano de fundo de um documentário televisivo produzido para a CBS, a conhecida cadeia televisiva norte americana, a partir dos depoimentos de uma boa parte dos retratados, onde estão incluídos os principais estrategas do 25 de Abril de 1974.

Ana Maria, Margarida e Miguel Ângelo são as principais personagens desta aventura, recebendo de Lídia Jorge os papeis de jornalistas e operador de câmara, na realização da "História Acordada".

Um dos aspectos mais curiosos deste romance, é a posição do casal de poetas, que também aparecem na fotografia, Francisco e Ingrid, principalmente ele, com um pensamento demasiado realista em relação à Revolução, logo nos seus primeiros dias. Francisco achava que o facto de não se ter derramado sangue seria fatal para o desfecho do golpe militar, ou seja, fingia-se uma mudança para que tudo ficasse na mesma... Quem diria, um poeta aparentemente vazio de sonhos...

Muito mais haveria a dizer desta obra, onde Otelo surge a cavalo, na Praia Grande, ao engano. O jornalismo que, através de António Machado, aparece quase moribundo... E até se inventa um amor fora de tempo, porque Margarida queria ter um "filho da revolução", alguém com sonhos, gerado com um homem diferente dos homens da sua geração...

Se puderem, leiam.

terça-feira, agosto 19, 2014

A Dificuldade em Aceitar a Mulher como Igual


Quase todos os dias descobrimos histórias de violência, que demonstram a dificuldade que o homem tem em aceitar a mulher dos nossos dias, sem tempo para a submissão e em alguns casos, quase escravidão.

O mais grave é existirem casos de agressões em todos os escalões etários, desde jovens com vinte anos a septagenários. Ou seja, não podemos resumir esta negação da igualdade, a um problema geracional, já que se trata de um problema de toda a sociedade.

Embora possa ser polémico e injusto, penso que as mães têm muita responsabilidade em todos estes casos, pois devem ser elas as primeiras a defender o seu papel de Mulher na sociedade, na educação que dão aos seus filhos.

Não podem nunca desvalorizar a importância do seu papel na sociedade moderna e o respeito que devem merecer dos companheiros e dos filhos.

O óleo é de Jon Boe Paulsen.

segunda-feira, agosto 18, 2014

a História de Ava Gardner


Um dos livros que também viajaram para férias foi a biografia, "Ava, a Minha História", da autoria da própria, a actriz Ava Gardner.

Embora não estivesse na lista de prioridades, acabei por o abrir, por curiosidade, preparado para tudo, até para perceber se era uma das muitas biografias escritas por terceiros, que contam apenas o que os biografados querem ver escrito, ou não.

E devo confessar que foi uma agradável surpresa. A forma simples da escrita, os pormenores da infância de Ava, vivida com dificuldades, a forma como ela expôs a sua vida conjugal e até a sua "inadaptação" ao mundo de Hollywood, fizeram-me acreditar que o livro foi  mesmo escrito  pela actriz. 

Claro que é uma obra escrita de uma forma um pouco repetitiva, porque a actriz, considerada nos seus bons tempos como o "Animal mais belo do cinema", conta a sua vida, exactamente como ela foi, sem artificialismos literários.

Gostei que falasse da sua paixão por Espanha e pelo mundo dos touros, influenciada pelo escritor Ernest Hemingway, de Luís Miguel Dominguin, um dos nomes maiores da história do toureio apeado, por quem se enamorou, tal como tantas mulheres.

Embora não seja uma "obra da prima", gostei de conhecer as aventuras e os dramas desta bela actriz, explorada, em todos os sentidos, pela indústria americana da sétima arte, como tantas beldades da história do cinema.

domingo, agosto 17, 2014

Os Artistas cada Vez mais Unidos


Apesar da forma como os poderes têm tratado a Cultura nos últimos anos, especialmente o teatro, com uma boa parte das companhias e dos actores a sobreviverem com grandes dificuldades, elas e eles resistem e continuam a pensar que a sua profissão é tão digna como outra qualquer.

Se viajarmos no tempo percebemos que, excluindo o Teatro chamado comercial, nunca se conseguiu chegar ao grande público, não se conseguiu criar o hábito de levar as portugueses a assistirem aos espectáculos teatrais, tão próximos de nós e das nossas vidas. Isso faz com seja praticamente impossível a uma companhia sobreviver sem apoios do poder central ou local.


A culpa é de todos nós e não apenas dos encenadores e actores (tantas vezes acusados de apenas olharem para os seus umbigos...). O Estado é quem tem mais culpas, já que nunca valorizou o Teatro no ensino, nem apostou na sua divulgação como veiculo cultural (se há Arte que lhes mete medo é a de Talma, porque os actores são capazes de dizer coisas bastante incómodas nos palcos...). E nós também temos a nossa quota parte de culpa, por nos deixarmos "prender" aos sofás, em vez de irmos à procura da magia do Teatro...

É por isso que eu não percebo que seja uma instituição da alta educação, a Universidade de Lisboa, a querer colocar na rua a Companhia dos Artistas Unidos, sediada na Escola Politécnica, devido a dívidas que os Artistas Unidos nunca se recusaram a pagar.

Mesmo compreendendo as dificuldades financeiras que a Universidade de Lisboa também passa, com os cortes sucessivos no apoio dado pelo Estado, achamos que esta instituição tem a obrigação de ser mais sensível que outra qualquer, perante o quase abandono a que está votada a Cultura no nosso país.

E não se devia esquecer que antes da entrada em cena dos Artistas Unidos, o Teatro da Politécnica era um espaço abandonado. Hoje felizmente é um pólo cultural com uma série de valências, que não pode nem deve ser desperdiçado.

O óleo é de Luiz de Souza e as fotografias de autores desconhecidos.

sábado, agosto 16, 2014

Tão Diferentes e Tão Iguais...


Não só gostas como consegues dormir com a luz do Sol que entra pela janela e ilumina o quarto.

Eu pelo contrário, não só gosto como preciso do escuro para adormecer.

É nestas pequenas coisas que percebo o quanto somos diferentes... e o quanto somos iguais.

O óleo é de Eric G. Thompson.

sexta-feira, agosto 15, 2014

Boa, Um Feriado à Sexta


Este é um daqueles feriados que sabem bem e que acaba por ser um "acrescento" às férias (para quem acaba e para quem começa, embora alguém acabe por perder, se fizer como eu, passar as férias numa casa alugada...).

Com a perseguição às deliciosas "pontes" por este governo, com ligações profundas ao trabalho próximo da escravidão - mais horas e menos dinheiro -, já sem falar do "roubo" de alguns feriados, em nome do boato de que produzimos pouco, que quando repetido muitas vezes, até parece verdadeiro, ficamos com a sensação que as semanas deixaram de encurtar cá pelo burgo.

O óleo é de John Holyfield.

quarta-feira, agosto 13, 2014

Um Agosto Fatídico


Nem só o vento e as nuvens estão a perturbar este Agosto.

Em apenas dois dias desapareceram três pessoas importantes, duas ligadas ao mundo do cinema e outra à nossa comunicação social. 

Sem querer transformar o "Largo" em obituário, é impossível não falar de Lauren Bacall, a grande companheira de "Boggy", nos filmes e na vida, cuja beleza e olhar penetrante não deixou ninguém indiferente.

Noutro registo, mais nacional, é impossível não render a homenagem a Emídio Rangel, uma das grandes figuras da comunicação no nosso país. Foi o "pai" da TSF, que nos ofereceu uma nova forma de se fazer jornalismo na rádio, com o sucesso que todos reconhecemos. Com o aparecimento das televisões privadas foi um dos principais responsáveis pelo crescimento da SIC, que em menos tempo do que se esperava, bateu a concorrência e tornou-se líder das audiências televisivas.

terça-feira, agosto 12, 2014

Robin Williams (1951 - 2014)


Robin Williams deixou-nos ontem, provavelmente cansado desta coisa que é viver.

Não nasceu com um rosto ou um corpo que fizessem dele um candidato a galã de cinema, não lhe deixando outra alternativa, que não fosse socorrer-se do seu grande talento e graça natural frente às câmaras, que o transformariam num dos melhores actores do cinema americano.

O professor do "Clube dos Poetas Mortos", o radialista de "Bom Dia Vietname" ou o médico de "O Bom Rebelde" (onde ganhou o seu único Óscar), são apenas três dos muitos papeis inesquecíveis que nos ofereceu, graças à densidade dramática e ao humanismo que oferecia em cada personagem que interpretava.

segunda-feira, agosto 11, 2014

A Deturpação da Palavra Amante


Quase por acaso, eu e a Rita desembrulhámos a palavra amante, enquanto bebíamos um café.

Nem sempre estamos de acordo, mas desta vez nunca saímos de tom, não houve qualquer desafinação.

Não houve lugar para falarmos de amor, mas sim de amantes (homens e mulheres), da forma como estas terceiras pessoas são envolvidas nas relações, qual o seu lugar na sociedade e se este termo não tem sido deturpado ao longo dos tempos...

Fomos olhando à nossa volta - com exemplos e tudo - e rapidamente concluímos que muitas vezes o papel de amante se resume a um entretimento, a uma forma de passar o tempo de uma maneira diferente, mais prazenteira e descontraída. 

Claro que não nos esquecemos dos amantes de uma vida inteira (estes sim, verdadeiros casos de amor...), que aceitam um papel secundário, vitimas de casamentos previamente combinados. Ambos acreditámos que estes são as excepções que confirmam a regra.

O óleo é de Leonor Fini.

domingo, agosto 10, 2014

Beleza Versus Inteligência


As pessoas das gerações dos meus avós e pais não eram mais parvas que as do meu tempo. Quanto muito, seriam mais ingénuas, o que acabaria por as tornar também mais crédulas. Foi também por isso que assistiram a vários "milagres"...

Mas nem é esse ponto que quero abordar. Quero sim falar do "boato" imposto por uma sociedade patriarcal e machista, que andou anos e anos a espalhar que as mulheres bonitas eram menos inteligentes que todas as que tinham contraído qualquer dívida com a beleza. E se fossem louras as coisas pioravam...

Embora a beleza feminina continue a ser fundamental em muitas coisas, até para se conseguir um emprego, fico feliz por no meu tempo a formosura ter feito as pazes com a inteligência.

Pois é, agora até as escritoras são bonitas...

O óleo é de Jon Boe Paulsen.

sábado, agosto 09, 2014

Abril nos Cafés


Quem como eu, cresceu por Abril adentro, só consegue retratar o país, através dos relatos de amigos e conhecidos.

Foi o que aconteceu hoje no café, quando perguntei ao meu companheiro de mesa, como eram as "tertúlias de café" em Almada, antes de Abril. Ele começou por dizer «que não eram», ou seja, não havia o hábito de se falar de tudo como nos nossos dias. As pessoas tinham a noção exacta do que podiam e não podiam dizer, todos percebiam que não se vivia em liberdade.

Claro que existia uma elite que se reunia nos cafés, mas com direito mais que reservado na mesa.

Onde se falava à vontade era nas colectividades, na Incrível, na Academia, na Cooperativa Piedense, etecetera, mesmo que se tivesse a companhia dos "bufos", mais ou menos conhecidos...

Era mesmo outro país, outro tempo...

O óleo é de Vladimir Sorin.

quinta-feira, agosto 07, 2014

O Comboio Descendente


As viagens de comboio são sempre um acontecimento, mesmo que nestes tempos modernos se tenha perdido a liberdade de abrir uma janela, de sentir o vento no rosto, ao mesmo tempo que nos esvoaçava os cabelos.

A única coisa que se mantém intacta, é o não cumprimento de horários. Continua a ser o comboio descendente dos poemas-canções, fazendo questão de chegar a horas incertas, para desespero de quem nos espera na estação e de quem utiliza com frequência este transporte que dança com os carris.

O último exemplo que tive foi quando fui para o Sul no "intercidades". E pior ainda quando tive de mudar de comboio e apanhar o regional na direcção do Sotavento, que até me pareceu andar devagar devagarinho, propositadamente, para que a viagem se prolongasse no tempo.

É por isso que bom bom, é não termos ninguém à nossa espera, aparecermos de surpresa, mesmo que isso aconteça quase fora de horas, tal como nos filmes pretos de homens solitários...

quarta-feira, agosto 06, 2014

Longe do Mar


"Longe do Mar" é um dos últimos livros publicados na colecção Retratos da Fundação (Francisco Manuel dos Santos), da autoria do jornalista do "Público", Paulo Moura.

Comprei o livro sem saber muito bem qual era a sua história (estava à espera numa superfície comercial e para matar o tempo, fui à procura de uma revista e trouxe o livro...) e acabou por ser uma boa surpresa.

Embora já tivesse lido algumas destas histórias no jornal e no blogue do Paulo, "Repórter â Solta", foi bom voltar a sentir o que é viver no interior, em muitos casos praticamente afastados de tudo...

Uma das histórias que já tinha lido e que voltei a ler - com alguma emoção - foi da senhora que viveu durante vinte anos sozinha na aldeia de Anta, a Joaquina. Parece uma coisa absurda, alguém viver tanto tempo sozinha, ainda por cima numa aldeia praticamente inabitável no Inverno, mas aconteceu...

O livro conta muitas outras história de vida, que se passam ao longo da estrada nacional nº 2, de Chaves até Faro, nem sempre fáceis, de gente que até parece ser de outro país...

terça-feira, agosto 05, 2014

A Devolução (ou não) de uma Vida Banal


Desejou muitas vezes perder a vontade de escrever. Queria que lhe fosse devolvida a vida banal de qualquer habitante urbano, sem ter de andar com papeis e canetas nos bolsos...

Alguns anos depois começou a ficar aflito, começou a ver as ideias a fugirem e a perder a vontade de registar coisas tão simples como um sorriso ou um olhar alheio.

Embora ainda não tenha a certeza, talvez chegasse o tempo de se livrar do sonho de se tornar escritor, ainda antes de conseguir escapar do maldito anonimato.

Ainda não sabe se se sente aliviado ou se sente outra coisa...

O óleo é de Sérgio Turle.

segunda-feira, agosto 04, 2014

Preocupações, aliás, Distracções...


Mesmo que não sejamos muito distraídos, a comunicação social faz muito mais que a sua parte, para nos afastar do essencial, assim como os seus comentadores dilectos, habituados a dizer coisas diferentes semana a semana.

Mas talvez seja importante que o dono da marca de  vinhos "Monte Branco", esteja preocupado com a quebra das vendas (algo que duvido, depois de tanta publicidade gratuita...), ou que o padre da freguesia, ache que o "Espírito Santo" vai deixar ainda mais bancos vazios na missa de domingo de manhã...

Afastando para o lado todas estas distracções, como nunca foi tão comum que o que hoje é verdade amanhã seja mentira, já nem me admiro que daqui a uns meses nos digam que afinal vamos ter de levar todos com o "Novo Banco" às costas...

O óleo é de Catherine Murphy.

domingo, agosto 03, 2014

Por um Fio


Antes de começar a escrever sobre, "Por um Fio", de Thomas McGuane, pensei no que me tinha levado a escolher este livro, de um autor até aí desconhecido. Foi com toda a certeza a capa, a mesma capa que fez com que o comprasse na Feira do Livro da SCALA.

Assim que comecei a ler as primeiras páginas, gostei logo da escrita do autor, tal como da caracterização das personagens, quase tudo gente com problemas, como costuma acontecer no mundo real...

Aliás, o autor consegue dar uma dimensão humana às personagens, quase grotesca, mas se olharmos à nossa volta, sentimos que está tão próxima da realidade. É impossível termos em boa conta a maior parte das pessoas, se as olharmos pelo que são e não pelo que fingem ser...

A personagem principal, Berl, faz uma viagem pela sua vida, como se estivesse a procura de se encontrar ou de descobrir em que altura não se sentiu "meio perdido", inadaptado ao mundo que o cerca.

Entre muita coisa errada da sua vida, a profissão, que também esteve por um fio, foi a única coisa que o conseguiu realizar de alguma forma. Gostava de medicina e tinha-se em melhor conta que as opiniões alheias.

É também curiosa a ligação que existe entre a natureza (Berl nunca desprezou as suas origens campestres, nunca ficou longe da pesca e da caça, que lhe possibilitavam o regresso às origens...) e as pessoas, durante toda a história.

Um bom livro, que irá fazer com que procure outras obras de Thomas McGuane.

sábado, agosto 02, 2014

E se Eu Gostasse Muito de Morrer


Já tinha cá por casa, há alguns anos, o romance, "E se Eu Gostasse Muito de Morrer", de Rui Cardoso Martins. Foi desta que viajou até ao Sul, para ser lido...

Fiquei desiludido porque esperava mais e melhor deste jornalista, cujas crónicas "justiceiras" me deliciaram nas páginas do "Público". A meio do livro, ainda me questionei, se não estava a ser demasiado exigente, por se tratar de um autor português. Talvez. Quando conhecemos as pessoas, às vezes esperamos mais... 

A abordagem aos muitos suicídios sulistas, acaba por ser uma das partes mais interessantes do livro. Achei a a caracterização das personagens demasiado juvenil (embora retratem as vivências  do Cruzeta (o alter ego do autor) neste fase da vida. Se o Rui queria aproximar-se do "Molero" de Dinis Machado, ficou a quilómetros de distância.

E nem vou falar do fim, é quase  um não final de uma história demasiado livre, que andou sempre à frente e atrás do autor.

sexta-feira, agosto 01, 2014

A Realidade (quase Ficção) Finta a Literatura


Era para começar este Agosto, um tudo nada fresco, com as leituras de férias, mas a realidade resolveu "atravessar-se" no caminho a meio da manhã, no interior da carruagem do metro de Almada (boa para claustrofóbicos) e...

Uma senhora entrou na minha carruagem e começou a sua conversa ao telemóvel, com a antena e a voz ligada para todos nós. Percebemos que falava com a filha, colocando em causa o seu papel de mãe (e ainda mais o do padrasto...), ameaçando mesmo retirar a criança da sua guarda, juntando ao "ramalhete" um molho de acusações que não transcrevo.

Não transcrevo a conversa porque o que achei mais notável não foi a temática, mas sim a forma como as pessoas se "despem" ao telemóvel, num "strip-tease" que pode ou não ser lento, mostrando praticamente tudo.

Não tenho dúvidas de que o telemóvel é quase um "irmão" das redes sociais, onde também podemos ligar-nos ao mundo, sem ter de lhe pedir licença... 

O óleo é de Zoey Frank.