terça-feira, outubro 30, 2018

Uma Tribo Especial...


Os surfistas são mesmo uma "tribo" especial. 

Visitam o Oceano de Janeiro e Dezembro, sem se preocuparem muito se é Verão ou Inverno, se chove ou faz sol. O que querem é entrar no mar e ficar por ali, à espera das ondas, boas, más e assim-assim...

Embora a Costa não seja a "capital do surf", tem vantagens em relação às praias mais badaladas, não tem um mar tão ruidoso e violento, como os da Ericeira ou de Peniche, por exemplo...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, outubro 29, 2018

O Dia Seguinte...


Acho ridículas todas as tentativas de nos querermos "transvestir" em brasileiros, e pior, querer comandar as suas opiniões e vontades.

E como não frequento as redes sociais, estou longe de conhecer as maiores bizarrices, que se disseram nos últimos dias.

Como amante da liberdade, continuo a pensar que todos os povos são livres de escolher os seus governantes, mesmo que estes tenham tiques de "ditadores" e consigam dizer as coisas mais estúpidas e absurdas, com o ar mais sério do mundo. E nem é aquela coisa, de se mereceram uns aos outros.

Provavelmente nós portugueses, também não merecíamos ter tido Cavaco Silva como primeiro-ministro e presidente da República durante duas décadas... e tivemos.

O mais grave disto tudo, é não percebermos o que aconteceu no Brasil, nos últimos anos, até se chegar a uma situação destas... Não percebermos que os brasileiros se sentem mais inseguros que nunca, com a violência que alastra nas ruas; e que se sentem mais indignados que nunca, pela onda de corrupção que invadiu todas as instituições, públicas e privadas.

À distância de um Oceano, largo e tempestoso, sei que preferia que a democracia triunfasse no Brasil. Tal como alguns anos antes, tinha desejado que o mesmo acontecesse no EUA. Mas eu sou português. só voto em Portugal (e sou daqueles que voto sempre, por mim e pela memória do meu pai e dos meus avós...).

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, outubro 28, 2018

(Memórias & Invenções Sobre a Beira Baixa)


Deixo hoje mais algumas transcrições do conto que escrevi, para a antologia, "Contos do Portugal Profundo", onde as memórias abraçam a imaginação... E onde se descobrem pequenas coisas deste nosso Portugal, quase esquecido...

«[...] Quando olhou para o Olival, que quase se perdia de vista, recordou-se que o pai guardava sempre uma semana de férias no mês de Outubro para voltar à Beira. Antes da chegada do Inverno vinha ajudar os tios na apanha da azeitona. Nunca falaram sobre isso, nem sobre tantas outras coisas… Poderia gostar de sentir o tempo a arrefecer perto da Serra, como acontecia na sua meninice, ou então, de continuar preso à tradição familiar do fabrico do azeite. Provavelmente eram as duas coisas…
Tinha saudades dele. Dos seus silêncios, do seu sorriso suave e sobretudo da força que transmitia, apenas com o olhar. Nunca falara disso com ninguém, nem mesmo com o irmão, muito menos com a mãe.[...]»

«[...] Sentia que a pequena localidade tinha regredido muito, tal como acontecera com tantas terras do interior, nas últimas décadas. A taberna, que agora era apenas café, tinha perdido o atractivo de ter a seu lado a mercearia, onde se podia comprar um pouco de tudo, como ainda acontece nos bairros… O facto de antes ter dois mil habitantes e agora ter menos de quinhentos não pode explicar tudo. Até porque o meu milhar de pessoas que mantêm viva a aldeia, além de estar mais envelhecido e limitado de movimentos, continua a ter de comer todos os dias… [...]»

«[...] Quando voltou para dentro aproveitou para se espreguiçar, ao mesmo tempo que olhava à sua volta. A cozinha tinha apenas a mobilia indispensável, assim como a sala e os quartos. Gostava daquela ausência de inutilidades que vamos juntando ao longo da vida. Era bom a casa não ser de ninguém em especial, pertencer sobretudo a quem chegava, que trazia os seus livros, os seus discos e as suas roupas, que depois levava de volta… [...]»

«[...] As fotografias e os nomes foram lhe recordando pequenos episódios, quase sempre positivos. Percebeu que estavam por ali várias pessoas que tinham acabado os seus dias nas cidades, mas por tradição, ou por outra coisa qualquer, quiseram que os seus corpos desaparecessem no mesmo lugar onde tinham nascido, rente aos campos da Beira.
Havia tios e primos que nunca conhecera fisicamente, mas de quem sabia várias coisas das suas vidas, algumas de forma quase lendária, como o Tio Firmino, que morrera novo e diziam ser o maior jogador do pau das redondezas, um autêntico “malhadinhas” do Aquilino. Era comum virem à aldeia desafiá-lo e normalmente saiam de Alcobar, derrotados e cabisbaixos.
Recordou o tio João, um homem alto e bonito, o único que tinha olhos azuis da família, vá-se lá saber porquê. Tinha algo de imperial, como se tivesse existido na família qualquer mistura de “sangue azulado”.
A última morada do bisavô Francisco elevava-se um pouco acima das outras, provavelmente, como reconhecimento da aldeia pelo seu papel activo na defesa da comunidade, ao exteriorizar com tanta energia a importância da água para todos.
Estupidamente lembrava-se mais dos homens que das mulheres da família. Foi por isso que quando descobriu o retrato da tia Isabel, que lhe oferecia uns bolinhos secos deliciosos, reviu-a com gosto. Sorriu ao recordar a sua figura anafada, brejeira e com um andar quase dançante. Agora achava piada ela enchê-lo de beijos quando se víam, na altura nem por isso. Sorriu ao recordar que os beijos lambuzados, eram uma especialidade de quase todas as mulheres da aldeia, especialmente as de mais idade, que o abraçavam e chamavam “filho da minha alma”… [...]»

«[...] Sempre achou graça à diferenciação de sexos assumida na aldeia, até pelo padre e pela igreja. Elas iam rezar para a missa e eles beber do corpo de cristo na taberna do Alfredo.
As coisas não mudaram assim tanto, na actualidade o café continua a ser sobretudo dos homens. As mulheres passam por lá mas quase que não param. Bebem o café e vão para casa. São eles que passam ali as tardes de sábado e domingo a jogar às cartas e a beber minis. [...]»

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, outubro 27, 2018

(A Segunda Despedida à Francesa)


E agora a segunda e última despedida à francesa, que coincide com o fim da história...

«[...] Ao olhar para a paragem da camioneta de carreira, houve algo que lhe chamou a atenção. Aproximou-se e descobriu um cartaz teatral no mínimo curioso, que disputava o espaço publicitário com o anúncio descolorido de uma tourada do ano passado. Sem saber explicar porquê achou piada ao título da peça de teatro, “A Mulher que Falava com os Morcegos”. Podia ser apenas uma piada, mas pensou que era capaz de não ser má ideia aparecer por lá no começo da noite e conhecer esta personagem curiosa.
As sete pancadas de Molière anteciparam a entrada de uma actriz no palco, que descobriu que ia andar por ali, quase uma hora, a falar com as sombras…
O mais engraçado foi descobrir que o monólogo era interpretado por uma cara conhecida. Nada mais nada menos que a Eva, a “conversadora do café”. Embora a personagem se chamasse Laura e a actriz do cartaz fosse identificada como Cristina Nunes...
Não morria de amores pelo género teatral que ficava entre o absurdo e o intelectual, mas sentiu-se bem na sala. A espaços encontrou aquela magia que de vez em quando surge nos palcos. Acabou por ficar agradado, por que havia por ali uma autenticidade diferente, virada do avesso, com várias nuances, com a Laura a movimentar-se muito bem, quase como se estivesse num baile de máscaras.
Percebeu ao longo da quase uma hora, que ela era uma boa actriz.
E até tiveram um momento só deles, quando ela parou de representar por breves segundos.
Aproximou-se da ponta do palco, olhou para ele por mais de um segundo e sorriu. Depois fez um pequeno silêncio e disse, completamente a despropósito, apontando para cima: “Ele veio”… Embora estremecesse com a surpresa, fingiu o melhor que pôde, que não tinha nada a ver com aquele assunto. Os espectadores da plateia, por distracção ou desatenção, também de comportaram como se aquela frase curta fizesse parte do acto. E ainda bem.
No final houve muitos aplausos, Laura veio três vezes ao palco agradecer a generosidade do público beirão, que acabou a bater palmas de pé.
Se fosse numa outra cidade e numa outra vida, tinha passado pelo camarim, para lhe deixar flores e oferecer um sorriso, agradado pelo espectáculo e até pela pequena referência.
Mas preferiu imitá-la e fazer o que ela lhe tinha feito no café, nada mais nada menos, que o que alguém, para os lados de Paris, popularizara como “despedida à francesa”…»

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, outubro 26, 2018

(A Primeira Despedida à Francesa)


Como expliquei na resposta a um comentário, o conto que escrevi para o livro, "Contos do Portugal Profundo", é grandito. Mesmo assim resolvi ir ao encontro de duas frequentadores dilectas do "Largo", que mostraram interesse em ler a história, publico aqui os dois momentos que acabaram por contribuir para o título da ficção ("Despedidas à Francesa num Outro Portugal"). Um hoje. E outro amanhã...

«[…] Na Vila perdeu-se um pouco pelas ruelas, quase desertas, até que entrou num café, decidido a petiscar qualquer coisa. Um dos pratos do dia era ervilhas com ovos escalfados, algo que não comia há muito tempo. Não pensou duas vezes na escolha da ementa.
No final, quando saboreava o café, foi surpreendido pelo olhar vivo de uma mulher da sua geração, cujas rugas indiciavam que poderia ter um ou dois anos a mais que ele. Mas ela não se limitou a olhar, foi-se aproximando e fez-se mesmo convidada para um café, como se estivessem numa daquelas casas onde os homens pagam bebidas às mulheres.
Ao perceber que ele não estava com muita vontade de falar, fingiu não se preocupar e fez quase todas as despesas da conversa. Esperta, começou por o provocar e fazer sorrir, quando tentou certificar se o gato da vizinha Aurora também lhe comera a língua.
Disse ser uma Eva e quis saber quem era ele. Ofereceu-lhe o segundo nome, Manel, o que foi aproveitado para ela misturar logo um pincel na conversa, em mais uma tentativa de deixar mais à vontade.
Naquele momento não sabia muito bem o que pensar da mulher, com o tal nome original que alguns homens fingem acreditar, que foi uma criação por Deus… Mas era impossível passar ao lado da sua lata…
E ela lá continuou a falar sem parar. Queria saber coisas do homem que se ia tornando um mistério, por não lhe dizer praticamente nada do que lhe apetecia ouvir. Foi quando Eva lhe explicou que podia mentir, inventar uma vida, acrescentando que às vezes era uma boa maneira de se sonhar acordado. E sem deixar que a interrompesse afirmou que todos mentimos, todos escondemos alguma coisa. Foi quando ele sorriu de novo, por ser verdade e também por ter à frente uma mulher que parecia não desistir às primeiras às segunda e às terceiras.
Talvez fosse professora de filosofia, ou então psicóloga, daquelas que fartas de ouvirem as histórias dos outros, se resolvem libertar nos lugares mais insólitos e oferecer quase todas as palavras do mundo a desconhecidos.
Ela insistiu e foi ainda mais longe na descodificação que fazia da natureza humana. Falou do medo, da impotência, da solidão, da perda… Metia-se com ele, talvez por sentir que ele fingia não ser grande adversário, E era verdade. Naquele momento estava ali sentado, com a mesma sensação de estar a assistir a uma peça de teatro ou a um filme. E como sabia que o silêncio era de ouro nos momentos em que a arte se confundia com a vida, não perturbava nem um pouco o “monólogo” da Eva…
Numa última tentativa de lhe arrancar alguma coisa dos bolsos de dentro, onde se escondem os sonhos e pesadelos, Eva contou algo que, segundo as suas palavras, nunca tinha dito a ninguém. Pensava cada vez mais vezes que talvez tivesse sido melhor ter uma vida calma, de ser apenas mãe e dona de casa. Ter uma vida mais parecida com a da avó que com a da mãe, que também teve de trabalhar a vida quase toda fora de casa… E foi ainda mais longe. Olhou para outra mesa mais distante, com dois adultos e duas crianças, e falou-lhe de uma família, que poderia muito bem ser a sua, se…
 Foi o único momento em que se sentiu quase obrigado a dizer alguma coisa. Com um sorriso leve afirmou que adoramos desculpas, quando todos estamos sempre a tempo de mudar. Sem se deixar interromper, disse que a vida tem o condão de nos oferecer mais que um caminho, tanto podemos dar um passo em frente, dois para o lado ou um para trás.
Depois das suas palavras apareceu o silêncio. Os segundos que se seguiram pareceram minutos. Foi como se ele quebrasse a magia do “monólogo” anterior.
Foi neste momento que Eva fingiu ir à casa de banho e desapareceu.
Só dez minutos depois é que percebeu que ela não ia voltar… Ainda ficou por ali a pensar, pelo menos outros dez minutos, novamente com a máquina do tempo a fazer marcha atrás, e sem grande esperança de a voltar a olhar.
O mais curioso foi ter gostado de a conhecer, mesmo que soubesse que era provável nunca mais se encontrarem, em qualquer parte incerta, porque como lhe confessou, quando ensaiou a despedida, estava ali apenas de passagem. Depois ela desculpou-se, quase à homem, que ia fazer uma “mija” e já voltava.
Mas desapareceu…
Talvez fossem as suas palavras que quebraram a magia da conversa, comandada pela mulher, do início ao fim.
Foi acordado nas suas deambulações pelo olhar de uma outra mulher, que entrou à procura de alguém e saiu. Sorriu novamente, mais pelo presente que pelo passado, porque há muito que não o olhavam de uma forma estranha, e muito menos se faziam convidados para a sua mesa. [...]»

 (Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, outubro 25, 2018

Costa de Caparica, 25 de Outubro...


Hoje passei pela Costa de Caparica à hora de almoço e descobri que ainda há quem aproveite o bom tempo (que os meteorologistas dizem estar perto do fim...) para ir a banhos e se estender na toalha,  na tentativa de manter a pele com uma tonalidade mais viva e brilhante...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, outubro 24, 2018

A Apropriação das Memórias...


Tenho lido algumas críticas (quase sempre de militares...) a António Lobo Antunes, por ele ficcionar demasiado a Guerra Colonial. Outros ainda vão mais longe, e duvidam mesmo que ele, que foi médico militar, alguma vez tenha pegado numa arma, ou até tenha estado em contacto directo com o fogo inimigo.

Acho todas estas críticas patéticas e mentirosas. Sem precisar de lhe perguntar, tenho a certeza de que pegou em armas, assim como esteve presente em situações de combate.

Mas mesmo que isso não tivesse acontecido, reconheço toda a legitimidade a Lobo Antunes para escrever sobre essa guerra estúpida (como são todas...). Ao tratar dos seus camaradas feridos em combate, sentia as suas dores e o feridas, um pouco como suas. É esse o espírito militar. E a união ainda se solidifica mais em situações dramáticas... 

E vou ainda mais longe, o escritor faz muito bem em se apropriar das memórias dos seus antigos camaradas, que sabem que têm nele, um extraordinário "porta-voz".

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, outubro 23, 2018

As Primeiras Imagens...


Estávamos em casa quando ouvimos a sirene dos bombeiros de Cacilhas a tocar. Passado alguns minutos voltámos a ouvir aquele som estridente. O meu filho disse que há muito tempo que não ouvia "aquela música" seguida.

E depois acabámos por conversar sobre o provável fogo ou acidente, que deveria ser grande. E também  sobre o profissionalização dos bombeiros, que faz com normalmente tenham homens suficientes no quartel, sem precisarem de ligar o  tradicional som de "chamamento" dos voluntários...

Graças àquele episódio acabei por viajar no tempo e contar-lhe as minhas imagens de criança dos bombeiros...

Era pequeno - ainda nem sequer andava na escola primária - e costumava ir diariamente com à minha mãe, de mão dada, às compras à Praça da Fruta das Caldas.

Quando ouvia a sirene e estávamos perto do quartel dos Bombeiros (à época no centro da cidade...), quase que a obrigava a levar-me até lá, para ver os carros de bombeiros a saírem, apressadamente, com os seus habituais sons de alarme.

Pelo caminho era normal cruzar-me com alguns bombeiros, uns a correr, outros de bicicleta, na direcção do quartel, para mais uma aventura, em defesa da comunidade.

E depois era ver os carros a abandonarem o quartel, rapidamente, enchendo a cidade de sirenes, com os bombeiros pendurados de qualquer maneira, uns já fardados e outros ainda a mudar de farpela...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, outubro 22, 2018

Estavas Ali para Ver a Banda Tocar...


Bem me parecia que não tinhas ido ao largo ver a banda passar. Até porque este ano não passou como nos outros anos pelas ruas de Almada (A PSP cobra uma nota preta pelas Arruadas na Cidade...).

Estavas sentada, mas para ver a nossa Incrível (e as bandas amigas, claro) tocar, na manhã de domingo, que até chegou a ameaçar chuva. 

Nada que te assustasse, muito menos aos músicos de Almada, Alverca e Aljustrel...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, outubro 21, 2018

Contos do Portugal Profundo


Escrevi assim na minha "Carroça":

«A blogosfera tem bastantes coisas boas. Uma delas é a interacção entre pessoas, que gostam das mesmas coisas que nós.
Alguns dos comentadores do blogue literário, "Horas Extraordinárias", de Maria do Rosário Pedreira (poeta e editora), pensaram (penso que a ideia inicial foi da Cristina Torrão...) na possibilidade de  se editar uma colectânea de contos, aberta a todos os "comentadores-escritores", interessados em fazer parte activa da obra.
O mote foi "Portugal Profundo", segundo a visão de cada um de nós.
Aceitaram o desafio: António Breda Carvalho, António Luiz Pacheco, Cláudia da Silva Tomazi, Cristina Torrão, João  J. A. Madeira, José C. Catarino, Luís Alves Milheiro, Maria do Rosário Pedreira e Pedro A. Sande.
E o livro já anda por aí e pode ser adquirido na Amazon.»

Posso acrescentar que o meu conto tem como título, "Despedidas à Francesa num Outro Portugal", onde misturo memórias reais da Beira Baixa com alguma ficção, como foram os dois encontros inesperados, que tiveram despedidas à francesa...

sábado, outubro 20, 2018

«Porque é que vocês têm Sol todo o ano e nós não?»


Quando ele perguntou, a sorrir: «porque é que vocês têm Sol todo o ano e nós não?», esqueceu-se de mil e uma coisas que eles têm e nós não...

Claro que a pergunta era sobretudo um elogio ao nosso clima e nunca para ser levada a sério. E por isso, até podia ter várias respostas, quase todas com algum humor (até podiam ser retiradas de anedotas...).

Houve alguém que disse que eles podiam mudar-se para cá. Sem deixar de sorrir a companheira do "norte-europeu" disse que estavam a pensar nisso...

Fiquei a pensar, que de facto, fazem-nos muito mais falta famílias relativamente jovens, que os reformados do costume. Ou seja, de gente que poderá contribuir activamente na sociedade e não de pessoas que apenas vêm para cá usufruir das ofertas, quase em saldo, oferecidas pelo Estado. O mesmo Estado que paga reformas miseráveis à maior parte dos nossos reformados...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, outubro 19, 2018

Coisas que Parecem Parvas, mas Não são Ditas por Acaso...


Quando ouvi o homem de mais de meia-idade, dizer aos dois homens bem vestidos, «sempre que vejo um advogado, tenho a tendência de agarrar a carteira e de mudar de passeio. E o pior, é que me apetece sempre chamar-lhe aldrabão.»

Os dois homens olharam-no de lado e continuaram a conversar, como se não fosse nada com eles.

Foi então que o João me contou o porquê daquele diálogo provocatório. O homem há mais de vinte anos, ficou sem a casa dos sogros, que lhe calhara em herança, porque foi vigarizado por um advogado, que em vez de o defender, resolveu entregar a casa, quase de mão beijada, a um cunhado, que morava lá por caridade.

A partir daí nunca mais pôde ver advogados à frente. E sempre que pode, vinga-se com palavras...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, outubro 18, 2018

A Música e a Liberdade Sexual


No meu trabalho de pesquisa, descobri uma entrevista interessante do músico João Peste, dos "Pop Dell'Arte", dada ao suplemento "6.ª" do "Diário de Notícias" de 13 de Janeiro de 2006, em que ele numa das suas respostas, aborda a questão da libertação sexual de uma forma, no mínimo, pertinente.

«A questão da libertação sexual é um assunto que praticamente está ausente na maioria da produção musical portuguesa. Grande parte da produção musical portuguesa trata, pelo contrário, da repressão sexual. São as canções sobre o bacalhau de Quim Barreiros ou as canções da Ágata e da Rute Marlene, que não têm a ver, de modo algum, com a libertação sexual. Têm a ver com a repressão sexual, com uma forma atrofiada de encarar a sexualidade, com modelos ultrapassados, machistas e patriarcais que deviam ser completamente banidos no século XXI. Reflectem completamente não só um atraso cultural mas também um atraso de mentalidade e da própria consciência sexual das pessoas.»
                                                         
Ao ler as suas palavras pensei que, neste tempo, de alguma forma revolucionário, pelo menos para as mulheres, ainda ninguém tinha criticado a brejeirice e o mau gosto de alguns músicos do "clube pimba", que utilizam quase sempre o corpo das mulher, em vários jogos sexuais...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, outubro 17, 2018

A Inesquecível Rita Hayworth...


A inesquecível Rita Hayworth faz hoje cem anos.

Embora tenha tinha uma vida demasiado agitada e problemática, fora dos palcos e grandes ecrãs (como costuma acontecer com as belas actrizes...), Rita continua a ser uma das figuras femininas mais memoráveis da história do cinema mundial. 

Só a sua presença em cena fazia magia...

(Fotografia de autor desconhecido)

terça-feira, outubro 16, 2018

A Memória de um Amor Salgado...


«Esforçava-se e conseguia, mas sempre por pouco tempo.

Era por isso que tentava aproveitar da melhor maneira os escassos minutos em que conseguia recordar, muitas das partes boas da vida que partilhara com Helena... 

O que lhe surgia com mais cor e movimento eram os passeios que os levaram a tantos lugares. Fechava os olhos e voltava quase ao paraíso. Era como se a sua vida tivesse sido só viajar...

Uma dos sítios onde regressa quase sempre, é ao Mar, à primeira vez que a levou a ver o Oceano, em pleno Inverno. Foi uma surpresa boa porque Helena só conhecia o Mar do Verão, da praia cheia de barracas, chapéus de sol, toalhas, e claro, da imensidão de corpos, praticamente nus e bronzeados. 

Desconhecia por completo a sensação de ter uma praia só  para ela, a possibilidade de escutar aquele mar irritado e teatral, que gritava e barafustava de uma forma única. E se nos aproximássemos mais do que a conta, presenteava-nos com farripos de água, mais suaves e agradáveis que a chuva "molha-parvos", perfumados de sal.

Arrepia-se quando recorda aquele frio, que os abraçava de uma maneira única.»

(Fotografia de Luís Eme - pedaço de uma ficção pura para o conjunto de histórias, com gentes que nunca conheci...)

segunda-feira, outubro 15, 2018

Depois Sorrimos, sem Palavras...


Conversa acalorada, com os cinismos, as hipocrisias, e os egoísmos  a saltaram para a mesa, com a ligeireza de heróis da Olímpia. 

Durante cinco minutos ninguém se entendeu. Foi o bom tempo dos atropelos, de falarmos todos quase ao mesmo tempo.

Em todos os grupos há sempre alguém que fala pouco e que quando abre a boca diz quase sempre coisas "filosóficas". O Arenga é um bocado assim.

Quando disse: «É normal que os interesse particulares se sobreponham aos colectivos. Somos mais ilhas que continentes...»

Ficámos calados a olhar uns para os outros, quase com uma fita métrica, a medir o alcance da frase do nosso "escutador-mor". 

Depois sorrimos, sem palavras.

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, outubro 14, 2018

A Democracia é Outra Coisa...


Esta onda de preocupação (quase doentia) pelo futuro político do Brasil, tem me feito pensar em várias coisas, mas nunca em Bolsonaro, que para mim vale muito pouco como gente, mesmo sabendo que existe uma forte possibilidade de ser o seu próximo presidente.

Tenho pensado sobretudo no nosso país, no que os nossos governantes têm feito à nossa democracia...  ao ponto de 60% da população portuguesa se recusar a votar.

Se quem nos governa, continuar mais preocupado em governar a sua vidinha, que o país, a nossa democracia também terá os dias contados.

Sim, ao contrário do que muito boa gente diz, corremos o mesmo perigo que as outras democracias europeias correm (algumas já foram engolidas...). O que nos tem salvo dos populismos emergentes é ainda estar muito presente na nossa sociedade o "fantasma" da ditadura salazarista e marcelista. 

Mas daqui a dez, quinze anos, a maior parte das pessoas que viveram essa época tenebrosa, já desapareceu... Se nada mudar, estamos cá para ver (infelizmente).

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, outubro 13, 2018

As Vaidades e os Masoquismos dos Governantes


Desde o início que se percebeu que o ministro da Defesa, não tinha nada que ver com aquela pasta e com aquele mundo (provavelmente a escolha do primeiro-ministro já foi feita com esse sentido, para que se fingisse que se fazia alguma coisa, sem se fazer coisa nenhuma...).

Mas os imponderáveis, como o "roubo de Tancos", são tramados...

Só não percebo é porque razão as pessoas (muitas mesmo...) aceitam ser ministros, de matérias que desconhecem, e não demonstram grande interesse em conhecer, para lá dos "dossiers"... Se calhar até percebo: a vaidade de um dia se ser ministro de qualquer coisa, ultrapassa todas as lacunas, possíveis e imaginárias, especialmente num país que continua a viver sobretudo das aparências.

E quem normalmente acaba por ser prejudicado com todos estes "jogos políticos", somos nós, portugueses...

Também não entendo por que razão, os ministros não abandonam os cargos, quando toda a gente percebeu (até eles...), que estão ali a mais. Parece que preferem ser "queimados vivos", como é a vontade do primeiro-ministro, que só aceita demissões, depois dos seus "muchachos" estarem bem "chamuscados" (sim, que este caso, é apenas uma repetição do que se passou com a ministra da administração interna).

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, outubro 12, 2018

Fugir da Biografia...


Embora se diga que tudo o que escrevemos é "autobiográfico", penso que só o é, por sair de dentro de nós.

Muitas vezes criamos personagens completamente opostas e diferentes daquilo que pensamos ser. Claro que fazemos a sua construção, a partir do nosso mundo interior. E por isso, mesmo, sem querermos, podem ficar com uma costela (pelo menos...) "autobiográfica".

Nos últimos tempos tenho aproveitado os momentos de lazer para construir histórias sobre pessoas, que têm um ponto em comum: são completamente desconhecidas para mim. Ou seja, não conheço ninguém com aquelas características (pelo menos é o que penso...). 

Estou a gostar, é bastante estimulante esta busca pelo desconhecido.

Ao fazer este exercício literário lembrei-me de Alberto Caeiro, o heterónimo de Fernando Pessoa mais afastado da sua biografia e um dos meus preferidos...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, outubro 10, 2018

As Vozes do Vento...


Normalmente chamo "vozes do vento" aos barbeiros, merceeiros, cabeleireiras, taxistas (embora estes tenham uma postura mais revolucionária - matam e esfolam dezenas de "gatos" enquanto o diabo esfrega o olho) e afins.

Esta minha "adjectivação" deve-se à sua grande prática em falar a "favor do vento".

Se percebem que o cliente é do Sporting, têm o cuidado de mostrar que são benfiquistas moderados (o poster do tetra não engana...), e que sim, o Peseiro tem de ser corrido, que o Bruno é um bandido e vai acabar engavetado.

Se o assunto for mais actual e tiver a ver com o Ronaldo, medem o pulso ao homem ou mulher, se forem "patriotas" estão à vontade, podem desancar à vontade na americana. Se forem "invejosos", a conversa versará mais sobre os milhões, a colecção de carros, a vaidade de querer ser o "melhor do mundo". E claro, a facilidade em "comprar" mulheres e filhos...

Embora já esteja a passar de moda, ainda podem falar da Cristina Ferreira (mais no cabeleireiro, por causa das revistas atrasadas...). Tanto lhe podem chamar "esganiçada" como um "espectáculo" de mulher... 

Tudo isto por causa do vento.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, outubro 09, 2018

Talvez seja da "Camisa de Historiador"...


Não consigo olhar com serenidade para o movimento feminista, que adora "caçar fantasmas e recuar no tempo", como se estivesse em plena revolução.

Isso deve-se ao meu entendimento de que as mentalidades não mudam apenas por "decreto" ou por "revolução". Mudam mais pela percepção de que estão erradas, quando se ganha consciência que se habita num tempo novo. Um tempo em que é preciso colocar um ponto final nos comportamentos sociais machistas, que não só foram aceites, mas estimulados pelos mais velhos (de ambos os sexos), durante séculos...

Talvez seja o hábito de vestir a camisa de historiador, de vez em vez, que me faz ter este olhar...

É por isso que me parece mais doentio que saudável recuar 30 ou 40 anos atrás nas nossas vidas, sem se conseguir olhar e analisar, os contextos e os enigmas que alimentaram as relações entre homens e mulheres (não estou a falar de crimes...).

O mundo está a mudar, e ainda bem. Mas não nos proíbam de continuar a olhar, com satisfação, para a beleza feminina...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, outubro 08, 2018

A Escolha de Fotografias...


A minha escolha da fotografia de ontem, não tinha um duplo sentido (pelo menos era o que eu pensava...), como posteriormente lhe foi dado.

Mas isso já aconteceu mais vezes. Embora as mil palavras sejam um exagero,  uma imagem pode e e e deve merecer várias interpretações, com muitas palavras e frases, mesmo sem chegar ao exagero do milhar.

Se por vezes uma frase escrita por nós pode ser interpretada de várias maneiras (não é nada raro que os outros nos queiram ensinar, o sentido das palavras que escrevemos... já me aconteceu mais que uma vez...).

Uma voz amiga relatou-me via telemóvel, a opinião sobre o que escrevera, sem se esquecer de me felicitar pela ideia feliz de colocar a fotografia, com os homens no primeiro andar, presos ao sete e as mulheres no rés de chão, deliciadas com as cuecas do rapaz...

O problema é que não tive nenhuma ideia especial, queria apenas colocar uma imagem minha, como tem acontecido neste último ano (penso que mais de 80% das imagens são fotografias da minha autoria...).

Isso acontece por que nós humanos somos tramados, conseguimos tirar quase sempre algum proveito das coisas negativas.

Há mais de um ano, houve alguém que se queixou, anonimamente, ao "google" sobre os direitos de autor de uma imagem que tinha colocado (nunca percebi qual...). Isso fez com que começasse a ter cuidados redobrados, por um lado tentando colocar sempre o nome do autor da imagem, por outro, optando preferencialmente por fotografias da minha autoria.

Ou seja, o meu "Largo" passou a ser ainda mais personalizado.

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, outubro 07, 2018

O Olhar Masculino e o Olhar Feminino...


Se no caso da sentença recente que suspendeu a pena dos dois violadores, penso que não há diferenças de género, na forma como se olha a aplicação (absurda) da lei, já na alegada "violação" de Cristiano Ronaldo em Las Vegas, há pelo menos dois olhares: um masculino e outro feminino.

Coloquei aspas na palavra violação, porque me parece que se trata sobretudo de um acto de violência sexual, e não tanto de violação. Pelo menos na forma como normalmente se entende a violação.

Embora neste caso particular Cristiano Ronaldo tenha recebido muitos apoios femininos entre nós (é o sentido patriótico a falar e também alguma fobia contra a prostituição...), normalmente a resposta das mulheres é sempre a favor da mulher. E neste caso particular lá aparece novamente a palavra "não", que nos últimos tempos passou a ser mesmo "não"...

Os homens têm sempre tendência para relativizar a questão. O "velho macho", até é capaz de dizer "abençoado", ou "grande homem". Outros, mais identificados com Las Vegas, a Capital do jogo e do prazer, dizem que Ronaldo pagou pelo "serviço completo", ponto final.

Outros ainda, mais legalistas, falam sobretudo em extorsão. Sim, acham que o exame médico feito depois do serviço, não foi realizado por acaso. Muito menos a tentativa de extorsão em forma de leilão (que acabou por resultar, não no quase um milhão pedido inicialmente, mas sim de 323 mil euros pagos, depois da assinatura de um acordo de confidencialidade).

Claro que falo de homens. Não estou a falar de simpatizantes do movimento #me too, pois estes também pedem a "cabeça" de Cristiano Ronaldo, sem dó nem piedade.

As mulheres "justiceiras", começam por falar de uma professora (que deveria estar ali por engano e que deve ter subido ao quarto de Ronaldo apenas para ver as vistas...) e nunca de uma "rapariga de programa" (para não lhe chamar outra coisa...). Depois falam de sexo não consentido, relevando a palavra "não". E por fim, falam da "tragédia" que se seguiu na vida desta mulher depois do episódio:  contusões anais, stresse pós-traumático, depressão, comportamento errático, ansiedade, etc.

Sem a conhecer de lado nenhum, apenas questiono, se a sua presença "em trabalho" numa discoteca em Las Vegas e a visita à suite de Ronaldo, não são já mostras de um comportamento errático (antes de se cruzar com o agradável "pé de meia" português...)

Claro que não faço ideia do que irá acontecer amanhã e nos dias seguintes. Sei sim, que Cristiano Ronaldo tem contra si, o facto de ser uma das personalidades mais populares do mundo...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, outubro 06, 2018

Equilíbrio...


Equilíbrio é o que me sugere esta fotografia (penso que já publiquei uma parecida...).

Algo que falta cada vez mais, um pouco por todo o lado. Nem é preciso falar das redes sociais (onde se usam cada vez mais os "megafones"...) ou das caixas de comentários dos jornais e blogues.

Basta andar por aí e mudar de rua nas passadeiras, para perceber que uma boa parte dos condutores olham para os peões com cara de "buldogue", apenas porque lhe interrompemos a marcha.

Do mundo nem é preciso falar. Os EUA passam o tempo a fazer o pino. Mas os exemplos da Venezuela e do Brasil na Latina-América, não são melhores. 

E depois temos a Europa, que gosta de ser paternalista e de fingir solidária, ao mesmo tempo que pisca o olho aos nacionalismos e populismos, que continuam a crescer, numa "ocupação quase silenciosa"...

(Fotografia de Luís Eme)