sexta-feira, janeiro 30, 2009

Mundos (mais ou menos) Paralelos (1)

Há sempre coisas estranhas que resolvem aparecer nas conversas, por muito simples que sejam.
Às vezes basta passar alguém na rua, para entrar na conversa, mesmo sem saber...
Foi o que aconteceu com a passagem de uma bela moçoila, à frente da montra do café. Todos olhámos, porque ela além de vestir ousadamente, sabia que podia causar transtornos no trânsito...
A única mulher presente na mesa, saiu-se com uma frase, aparentemente fora do contexto: «vocês têm muito mais capacidade para nos despir, que nós a vocês.»
Olhámos uns para os outros, antes de soltarmos uma risada colectiva. Estupidamente, ninguém contrapôs.
A frase não ficou esquecida, pelo menos para mim. Então quando me cruzo na rua com alguém que dá gosto ver...
Claro que acho que que esta capacidade de imaginar o que não é completamente visível, não é coisa de homem ou mulher, mas sim de quem tem uma boa capacidade inventiva...

terça-feira, janeiro 27, 2009

Queria Escrever um Sorriso...

Queria escrever sobre qualquer coisa alegre, feliz, para fugir a este tempo amargo.
Queria escrever um sorriso.
Só não sabia como escrever esta palavra, capaz de encher uma sala silenciosa e estupidamente triste, de alegria, quando se trata do sorriso de criança.
Esta é uma das vantagem de se ter filhos ou netos, para quem a vida ainda é a brincar...
Podem faltar outras coisas, mas os sorrisos, não.

A fotografia é de Eduardo Gageiro, do álbum, "Estas Crianças Aqui", complementado com as palavras de Maria Rosa Colaço.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

O Regresso a Zamora...

Não achei muito graça a este regresso a Zamora, tão festejado.

D. Afonso Henriques, também deve ter dado duas ou três voltas no túmulo, também ele em lugar incerto, como o nosso futuro.
Um dos poucos portugueses, que teria dado um pulo grande, se a idade deixasse, seria Saramago. O Zé de Lanzarote fica sempre contente quando vê o "Sócratos" e a "Sapateiro" juntos (é assim que são tratados com familiadade na tasca de Cacilhas, que já foi da Mary, a única taberna que resiste ao tempo cá no burgo) e dá luz ao seu sonho da construção de uma Ibéria Imperial, que nem precisa de ser comunista...
O Madail dos futebois, também foi capaz de ter esfregado as mãos de contente, pela possibilidade da "estreitação" de laços entre os dois países, tal como a conjugação de uma série de negociatas paralelas, assim como alguns empresários que "crescem" encostados ao Estado...
Este dito encontro com a história, não mudou nem muda nada, porque estou convencido que Portugal e Espanha não nasceram para serem "uno", tantas são as diferenças que existem nas nossas histórias, para além dos ventos e dos casamentos "perigosos"...
Não é por acaso que o Pais Basco e a Catalunha, de vez em quanto, lá tentam dar o seu "grito de ipiranga"...
Claro que tudo isto é música, por isso é que vos deixo "O Tocador de Pifaro", de Édouard Manet...

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Noticiar Outros Mundos...

Durante as eleições foi o que foi, agora a loucura noticiosa tem sido a tomada de posse de Obama (há quinze dias que não se fala noutra coisa)...

Estas passagens pela história e pelo quotidiano dos outros países, são a melhor prova do nosso viver, ora a ver passar aviões, ora a ver passar navios...
Ainda bem que tem caido neve no Norte de Portugal, para sentir que afinal não mudei de país, são apenas os jornalistas e editores que têm uma fixação especial pelos EUA...
O óleo é de Claude Monet, "Igreja de Vétheuil".

segunda-feira, janeiro 19, 2009

É Urgente...


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas
e rios e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros a luz
impura, até doer.
É urgente o amor,
é urgente permanecer.

As palavras do poeta Eugénio de Andrade, fazem sentido, todos os dias...

sábado, janeiro 17, 2009

Tereza Coelho (1959 - 2009)

Li bastantes coisas assinadas por Tereza Coelho, nas páginas de jornais e revistas. Recordo-me especialmente dos primeiros anos do "Público", um jornal que foi diferente...

Embora seja um lugar comum, é autêntico: há pessoas que não precisamos de conhecer pessoalmente para admirar.

A fotografia foi retirada do álbum, "A Idade da Prata", de Mário Cabrita Gil.


quinta-feira, janeiro 15, 2009

O Estado Não Somos Todos Nós...

Claro que o Estado não somos todos nós, como muito boa gente pensa. São até muito poucos aqueles que se podem armar em “estado”, que se revela sempre mau pagador, embora quando toca a receber, esteja logo preparado para accionar os famosos juros de mora.
Infelizmente vivemos numa sociedade estatal, onde ministros, secretários de estado, presidentes de câmara, vereadores, etc, passam a vida a usar e abusar destes conceitos demasiado pessoais de se governar em democracia.
Tudo isto vem a propósito do senhor reformado que teve de cortar o indicador no interior do tribunal, para que o seu caso pessoal, viesse hoje escarrapachado em todos os jornais.
Infelizmente casos destes fazem parte do dia-a-dia dos tribunais, com tantas expropriações sem sentido, de Norte a Sul, que além de destruírem parte dos sonhos de muitos portugueses, não lembram ao idiota mais chapado (a excepção são as realizadas por alguns caciques locais, capazes de mudar a direcção de qualquer estrada, para retirarem dividendos pessoais, muito bem caricaturados pelos “Gatos” na rábula do Valentimtim...).
Só que são raras as vítimas deste “estado”, que decidem cortar um dedo à frente de uma juíza em desespero de causa...
O óleo é de Andre Lhote...

terça-feira, janeiro 13, 2009

A Qualidade de Cristiano Ronaldo

Há muitas coisas que não me agradam à volta de Cristiano Ronaldo.

Mas tudo isso é demasiado pequeno e insignificante, quando comparado com a sua extraordinária qualidade futebolistica. Cristiano consegue juntar à Arte de bem jogar, o querer ser Grande.
São raros os homens e as mulheres que conseguem conjugar estas duas qualidades.
Isso explica que com apenas vinte e três anos, Cristiano Ronaldo, tenha sido considerado o melhor futebolista do Mundo, em 2008.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Um Jornalismo de Escolhas e não de Causas...

Cheguei agora a casa e liguei a televisão. A SIC está a transmitir o "Fátima", com uma mesa de convidados, que de uma forma geral criticam a justiça, a lei, os magistrados, pela posição tomada em relação aos últimos acontecimentos do caso "Esmeralda" (que afinal parece que já não se chama Ana Filipa), porque, tal como a apresentadora do programa, sempre tomaram o partido da família afectiva e não do pai biológico, desde o inicio do processo.

Este é apenas mais um exemplo de como se faz jornalismo em Portugal, nos nossos dias. Em vez de se analisarem os dados existentes, opta-se por dar a voz às pessoas, envolvidas emocionalmente, sem o distanciamento que se deve exigir nestes casos.
Em nome da verdade, tenho de dar alguma razão às muitas críticas que Pacheco Pereira faz ao jornalismo, que em vez de informar, lança (cada vezes mais) nas televisões, nos jornais e nas rádios, autênticas manobras de "intoxicação noticiosa".
Foi assim com os pedófilos da Casa Pia, tem sido com o caso desta menina, sem falar nos muitos jogos de poder, de políticos, de empresários e de economistas, que tentam dar a imagem que a justiça não funciona, ou funciona mal, especialmente quando lhes bate à porta...
Provavelmente, as coisas irão piorar ainda mais, porque o descaramento não tem limites.
Tenho pena que em vez de ouvirmos apenas notícias na televisão e na rádio, continuemos a receber em casa notícias acompanhadas de opinião, sempre de uma forma pouco inocente, viradas para o espectáculo.
Pobre país este, que se vai deixando manipular da forma mais vil e desonesta, por interesses que escapam quase sempre ao cidadão comum, que se deixa influenciar e fica preso a todas estas "telenovelas"...
a foto é de Raymond Depardon.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Somos Tão Diferentes e Tão Iguais

Quem tem pelo menos um casal de filhos, sabe que há diferenças demasiado visíveis logo nos primeiros anos, entre o ser menino e o ser menina. Mesmo que sejam educados da mesma maneira, há traços de personalidade e de afirmação no dia a dia, muito próprios.

A mulher nota-se, desde cedo, que é mais esperta e mais atenta ao mundo que a rodeia. O homem, é sempre mais distraído e prático, às pequenas e grandes coisas.
Hoje, logo pela manhã tive um exemplo simples, de como nós somos mais práticos pela vida fora e as mulheres muito mais elaboradas naquilo que fazem. Bastou assistir ao jeito feminino de estacionar o carro.
Enquanto esperava na estrada (sem pensar sequer em apitar...), que uma senhora estacionasse o seu automóvel como deve ser, em quatro movimentos para trás e para a frente, pensei de imediato, que nós homens, fazemos aquela tarefa no máximo em dois movimentos, graças ao nosso sentido prático, ao habitual já está, com que encaramos a vida...

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Não há Lados Certos Neste "Poligono" Chamado Janeiro

Nem sei por onde comece...

Talvez pelo fim, pelo adolescente que talvez nem tenha chegado a perceber, que afinal não era à prova de bala, por ainda se encontrar dentro de um filme de acção.
Morreu com apenas catorze anos, uma idade menor, quase de criança. Não sei se com muito ou pouco mundo à frente. A única coisa que foi divulgada foi que ele já tinha uma longa folha de serviços pelo lado de fora da lei.
À distância, parece-me que ele e os amigos foram os principais culpados do que sucedeu. Apesar das idades curtas, deviam ter corpo de grandes e adorarem desafiar o perigo, em cada esquina. É a explicação para a arma virada para os polícias.
Os agentes da lei, naquele momento já não tinham muitas alternativas: não podiam fingir-se cansados de repente e pararem; fugir também era demasiado arriscado, no momento em que tinham uma arma apontada. Só poderiam fazer aquilo que faz parte dos manuais da sua profissão, disparar de modo a neutralizar o inimigo, que se encontrava armado e tentava escapar, de qualquer maneira, colocando vidas em perigo...
Parece um filme, mas não deve estar muito distante da realidade.
Em relação ao conflito na Faxa de Gaza, perdi quase todas as palavras.
É demasiado óbvio que o Hamas estava a pedi-las, quando começou a lançar "rockets" para o interior de Israel. E se o fizeram para que os israelitas decidissem atacar a sério, para perceberem que não é possível dar o golpe de misericórdia, deixando-os ao mesmo tempo mal na fotografia, em relação ao Mundo?
Pensava que a experiência de anos de "guerra" dos israelitas, já os tinham feito perceber que a violência apenas gera mais violência. E que na contagem final de mais uma "batalha", a grande fatia de mortos, palestinianos, são as crianças, mulheres e velhos do costume...
Para acabar, completamente fora do contexto, Sócrates lá conseguiu dizer a palavra "mágica": recessão.
A foto, apesar de poder facilmente ser confundida com um cenário de guerra, é de uma janela no Ginjal...

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Porque não a Cultura Para Todos?

De um forma quase espontânea, numa discussão sobre a Cultura, o Povo e as Elites, coloquei em cima da mesa a seguinte questão:

«Se toda a gente pode jogar futebol, em qualquer lugar, pelo prazer do jogo, porque razão as pessoas não podem também pintar e escrever, também pelo prazer que se pode desfrutar, com a pintura e com a literatura?»
A primeira resposta foi o silêncio... depois lá me disseram que as Artes não eram um simples jogo da bola...
E vocês, têm opinião sobre o assunto ou preferem ficar em silêncio?
O Pastel é de Rik Wouters.

sábado, janeiro 03, 2009

Os Meus Eleitos

Um dos presentes de Natal que recebi, foi o livro, "O Enigma de Sophia - da Sombra à Claridade", de Helena Malheiro.

Ainda não o comecei a ler, mas deve ser uma obra fascinante, para quem gosta da obra literária de Sophia de Mello Breyner Andresen, e eu gosto...
Este livro fez-me lembrar os autores da minha predilecção, cujo talento faz com que pense muitas vezes, porque esta insistência em escrever?
A Sophia está na primeira linha, juntamente com Aquilino, Cardoso Pires, Torga e Pessoa.
Claro que sei a resposta, escrevo por gostar e também por necessidade (enrolar fantasmas numa folha de papel...), ou seja, escrevo para mim...