segunda-feira, novembro 30, 2020

O Gato Fantasista do Sonho...


Os tempos estão tão estranhos que permitem quase tudo, até falar sobre os sonhos absurdos que nos visitam durante o sono.

Sei que há vários especialistas que os tentam explicar, mesmo quando não têm qualquer explicação (quase sempre...). Mas hoje tudo se explica, graças aos vários cursos de "pantomina", que até têm mestrado e doutoramento.

Imaginem o que é estarem a dormir e aparecer um gato do nada, enrola-se na roda da bicicleta, paramos, saí ileso (os sonhos são como os desenhos animados, tudo é possível...) depois vai para a estrada relvada, enrola-se e começa a descer, ganhando novas formas. Continuo a sonhar e a subir a tal estrada com a bicicleta à mão, que tinha aparecido do nada, já com o gato preto e branco (nunca perdeu a cor durante o sonho...) enrolado. Quando olho para trás o gato tinha desaparecido. Depois olho em frente, vejo-o no cimo, tinha crescido, estava maior que um tigre. Entretanto mudo de estrada e quando olho para a parede de um prédio e vejo um gato pintado, preto e branco, que me acenava (acenava mesmo, como se fosse boneco animado...), foi quando dentro do sonho pensei que só podia estar a sonhar, e acordei...

Sei que não devia andar por aqui a contar sonhos, ainda por cima mais surrealistas que absurdos (sim, o gato podia estar dentro de uma tela do Dali, e não em pose como o conterrâneo que escolhi para dar cor ao sonho).

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, novembro 29, 2020

O Amor é Muito mais que Isso...


"Fechados em casa", vamo-nos cansando de tudo. Quem vive em família, ainda tem outro dilema: respeitar o espaço do outro. Ou seja, ser ainda mais selectivo nas opções mais sonoras (desde o ver televisão ao escutar uma música das que gostam de ecoar pela sala...).

Sim, que essa coisa de se fazer "ligação directa" ao amor, através do gosto pelas mesmas canções e pelos mesmos filmes, é mesmo uma coisa da poesia. Sabe bem vermos um filme no sofá, aconchegados, com olhares cúmplices, ou sorrir com a música que invade a sala... mas o amor é muito mais que isso.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 28, 2020

O "Roubo" nos Títulos no Cinema...


Sempre me fez confusão que no nosso país não se respeitassem os títulos originais dos filmes (é provável que se passe o mesmo em outros lugares, mas o princípio continua errado...). 

Normalmente são feitas "traduções" abusivas, alterando completamente o sentido que o realizador deu ao seu filme, sem esquecer o mau gosto. 

Gostava de saber qual a explicação (se é que existe) para um absurdo destes. Se por acaso ainda tem alguma coisa a ver com a ditadura e com a censura, já é tarde demais para recordar que tudo isso acabou em 1974...

O que é mais estranho, é nunca ter lido nada sobre este assunto, nem mesmo dos ciosos dos "direitos dos autores". Para mim é disso que se trata, de uma violação feita ao direito do autor, alterando o seu título original, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 27, 2020

Contradições entre o Bom Senso e a Liberdade


Faz-me confusão perceber que quase meio século depois da Revolução de Abril, ainda existem tantos "anti-comunistas" entre nós. Sei que a minha opinião não se afasta do facto de ser de esquerda e de ter bons amigos comunistas, mas não foge muito da realidade. 

Com a "Festa do Avante" foi o que se viu. Agora com o "Congresso", passa-se a mesma coisa. Há por aí uma onda que é muito mais que negativista, é quase odienta contra o PCP, alimentada por uma direita que nunca esteve tão sedenta de poder como hoje (vale tudo, até alianças com a extrema direita...).

Sei que se pode falar da falta de algum bom senso no PCP, por existir recolher obrigatório na área metropolitana de Lisboa, depois das 13 horas, durante o fim de semana. O mais lógico seria os seus dirigentes terem adiado o Congresso. Até porque não é difícil de prever que o PC será o único a pagar por este "atrevimento" nos próximos actos eleitorais.

Por outro lado, há toda uma história de resistência, de luta pela liberdade, que não pode ser esquecida. A organização deste Congresso (tal como já tinha sido a da "Festa do Avante"), tem também esse significado. É preciso resistir, é preciso continuarmos a viver com a normalidade possível, sem deixarmos de respeitar o próximo, mas sem ficarmos demasiado condicionados  por um vírus, que também tem sido usado para nos "fechar em casa"... 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, novembro 26, 2020

Um "Deus" Demasiado Humano...


A vida de Diego Maradona deu (e continuará a dar...) livros, filmes, músicas, porque ele foi realmente único, no universo futebolístico.

Se houve alguém que usou e abusou do talento como artista na arte de jogar à bola, foi Diego, a maior de todas as "metáforas" humanas. Sim, foi ele quem mais nos mostrou o quanto podemos ser falíveis, mesmo quando colocamos um pé no território dos deuses...

Fico mesmo com a sensação que nunca colocou bem os dois pés no chão, caminhou sempre alguns centímetros acima da linha do horizonte. Provavelmente foi por isso que nunca teve qualquer problema em vestir a pele de "deus". Talvez nunca tenha sido levado a sério. E foi também por isso que quase tudo lhe foi permitido, dentro e fora dos estádios. 

Não há biografia que esqueça a sua famosa "mão de deus", que valeu um Campeonato do Mundo à Argentina e que explica muito do seu talento de expoente máximo do chamado "futebol de rua", onde se exige, além do talento natural, muita matreirice, pois normalmente joga-se sem árbitros, deixando-nos entregues a nós próprios. Maradona dentro de campo queria ser o melhor, mas também queria ganhar. Isso explica que ele executasse também com talento alguns números do "teatro do engano", algo que continua a fazer parte do futebol (pelo menos para a maior parte dos futebolistas...).  Bastava apanhar o árbitro de costas e os fiscais de linha hipnotizados pela bola, para misturar a "arte de ludibriar" à "arte de bem jogar".

Também não será ignorada a "viagem ilusória", que só agora terá tido um final, e que lhe foi esburacando todos os sonhos... Será uma "viagem" com mais versões e personagens, que o jogo onde ele foi "Rei". Uns chamar-lhe-ão "inferno", outros "mundo paralelo". E é um pouco das duas coisas, é um "mundo" onde se vendem ilusões a troco de dólares, povoado com mulheres boas, drogas fortes, carros velozes, festas loucas, e sobretudo, muitos falsos amigos. "Mundo" que começa naquilo que se chama a extensão do futebol: as bancadas onde moram as claques com os adeptos mais furiosos e doentios e os parques de estacionamento, guardados por "belezas" que querem sempre mais que um autógrafo. 

"Mundo" onde é tão fácil entrar (os convites são aos milhares e têm sempre "à porta" grandes decotes e saias quase sem tecido...). O difícil é depois encontrar a porta de saída... E a sensação que tenho, é que Maradona nunca quis descobrir onde ficava a tal passagem para o "mundo dos outros"...

Sei que Diego não partiu cedo demais. Partiu ainda a tempo de ser recordado, para todo o sempre, como um "Deus do Futebol", mesmo que seja um "deus" demasiado humano...

(Fotografia de Luís Eme - Sesimbra)


quarta-feira, novembro 25, 2020

Uma "Beleza Triste"...



Beleza Triste
 
 
Caminhas só e em silêncio,
No meio do frio e da gente
Sem soltar qualquer lamento
Muito menos o teu grito urgente.
Grito de quem é mulher-objecto
Tratada como mercadoria
E usada neste mundo masculino
Sem espaço para o sonho e fantasia.
 
Queres muito chegar a casa
Deixar as ruas vagabundas
Descansar de mais um dia feio
Que te deixou marcas profundas.
Um homem oferece-te uma frase batida
Porque nada esconde a tua beleza
Nem mesmo os dramas da vida
Que pintam o teu rosto de tristeza.

Luís (Alves) Milheiro


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

terça-feira, novembro 24, 2020

"Vale mais quem quer que quem pode" (sempre foi assim...)


Aqui e ali, escutamos histórias deliciosas, sobre quem quer mesmo chegar ao topo. E como se sabe "vale mais quem quer que quem pode".

Ou seja, contaram-me uma história que assentava que nem uma luva no Tony Carreira, por ser o artista português que deve ter a maior "legião de fans" (muito graças à sua dedicação à causa).

No começo de carreira o cantor em causa, chegou a pagar a alguns "figurantes", para depois dos espectáculos, fazerem fila no pequeno espaço de venda de cd's e distribuição de  fotografias autografadas. Como de costume, pessoas chamam pessoas, e as filas começaram a crescer de tal forma, ao ponto de darem a volta ao quarteirão e de colocarem no "desemprego" os primeiros fans, mesmo que fantasistas. 

Segundo alguns entendidos, isto chama-se "investimento na carreira". 

Mesmo que a história pudesse ter alguma fantasia à mistura, achei-a deliciosa. E sim, há muita maneira de fabricar "campeões", do que quer que seja...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, novembro 23, 2020

«Despimos diariamente a pele das personagens. Nunca deixámos de ser pessoas.»



Nos últimos meses mudei de café, apenas por ser um lugar mais sossegado para saborear a bica depois do almoço (só lá para o fim da tarde princípio da noite é que aparece a malta "alternativa", que há 30 anos que anda vestida de preto (nunca lhes perguntei mas talvez se sintam "viúvos" e "viúvas" deste país...).

Não falo com a maioria deles. A única justificação que encontro para este "desencontro", foi nunca ter pertencido aos seus "mundos" (nunca embarquei em ondas psicadélicas e sempre fui uma "ave lunar"...). O seu olhar marcado, com olheiras que quase chegam ao pescoço, faz-me pensar que devem ter passado ao lado de mais de metade dos sonhos. Sonhos que passaram quase sempre pela música. Meia dúzia deles ainda tocam em bandas, mas o que ganham quase nunca deu para o "gasóleo". Todos aqueles que quiseram ter vida própria (há quem tenha optado por continuar a viver na casa dos pais, como se aos cinquenta continuassem eternamente adolescentes...), tiveram de arranjar uma segunda profissão.

A Glória é das poucas pessoas com quem falamos, um pouco mais que o bom dia ou o boa tarde. Ela também quis ser cantora, mas nunca se iludiu muito e continuou a estudar, psicologia, e hoje trabalha no Município de Lisboa. 

Ela bem poderia dar uma ajuda aquela malta, mas nenhuma das partes está muito interessada nisso. É caso para dizer: "Vivam os sonhos!"

E foi por causa dos sonhos que ela me falou de um trabalho de investigação que está fazer, que acaba por se intrometer nessa coisa tão na moda, que é o ser-se "famoso", e que é cada vez mais difícil de definir. Tem dezenas de entrevistas feitas. A maior parte das pessoas com quem falou (músicos, actores, escritores e pintores, todos com carreiras sólidas...), passa um bocado ao lado da "fama", que chamam "televisiva". E dizem que isso é mais coisa das carinhas larocas que fazem telenovelas e publicidade, que gostam de encher as revistas e as redes sociais com bocados do corpo e mexericos com namorados.

A maior parte dos actores e actrizes (e também alguns músicos mais populares) disseram, utilizando palavras diferentes: «Despimos diariamente a pele das personagens. Nunca deixámos de ser pessoas.» Acrescentou que os escritores e pintores nem sabem muito bem o que é isso de se ser famoso. E muito raramente alguém fala com eles nas ruas sobre as coisas que fazem.

Não me deu nenhuma novidade. Mas a frase mais metida com o mundo dos teatros, ficou cá dentro. 

Mas não deve ser fácil deixar todos os dias a "pele" da personagem, pendurada no camarim...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, novembro 22, 2020

A Nossa Memória Curta...


Se há uma coisa que eu gosto, é de ter "memória", de me lembrar do que aconteceu ontem, sem pensar apenas no "hoje".

É por isso que me faz confusão que muitos dos empresários (dos políticos nem vale a pena falar...) que ontem se queixavam de pagar muitos impostos e que gritavam aos sete ventos, que queriam menos Estado, que este só lhes dificultava a vida, entre outras coisas, hoje queiram que o Governo lhes dê o que tem, e sobretudo o que não tem.

Acho que sim, que se devem apoiar as empresas, mas com regras bem definidas. Além da proibição de despedimentos (como no nosso país vigora o trabalho precário, é facílimo dispensar "colaboradores"... que quase trabalham à jorna), estas devem estabelecer objectivos num futuro próximo e deixar de estar dependentes apenas do "turismo", que como já se percebeu, deixou de ser a "galinha de ovos de ouro".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 21, 2020

Campismo Selvagem em Tempos de Pandemia


Há poucos minutos vi uma reportagem televisiva sobre a presença de demasiados estrangeiros, amantes do campismo selvagem e de surf, no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Como as autoridades não têm conseguido ter um papel dissuasor, já há um grupo de moradores locais que faz incursões nocturnas nesses lugares (já são mais de uma centena...), em que, entre outras coisas, devem convidar estes "turistas de pé descalço" a voltarem para os seus países, provavelmente com algumas ameaças pelo meio.

Pelo que percebi, as preocupações deste grupo são sobretudo sanitárias, por estarmos a viver um tempo estranho. E também por verificarem que uma boa parte destas pessoas vivem num "mundo à parte", sem máscaras, distanciamentos e muito menos cuidados higiénicos. Ou sejam, são potenciais focos de infecções.

Há também queixas a nível ambiental, pelo rasto de lixo que deixam nos locais onde pernoitam. Normalmente são oriundos dos países do Norte da Europa (holandeses e alemães, maioritariamente), onde não se encontra um papel ou uma beata no chão nas suas ruas e jardins. Os mesmos que dizem que gostamos demasiado de sol e cerveja... E é isso que me faz mais confusão. Se nos seus países cumprem as leis e regras ambientais, porque não o fazem nos países dos outros?

Por mais rebeldes que sejam (até podem estar em fuga dos seus países com demasiadas proibições...), isso não lhes dá o direito de fazerem o que querem, têm de cumprir as leis e as normas dos países que visitam. E se não o fizerem, não são bem vindos. Ponto final.

Embora seja contra todos os tipos da chamada "justiça popular", penso que este movimento se formou, sobretudo para chamar de atenção sobre o papel passivo das autoridades, neste momento especial das nossas vidas...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


quinta-feira, novembro 19, 2020

Bernardo Santareno Merecia Muito Mais...


Como todos sabemos, este ano de 2020 é madrasto para qualquer género de comemorações ou homenagens.

Todos aqueles que mereciam ser recordados, acabam por sair a perder, como acontece com o dramaturgo Bernardo Santareno, o lado lunar do médico António Martinho do Rosário, que faz hoje 100 anos.

Para muitos Bernardo Santareno foi o maior dramaturgo português do século XX. A par do almadense Romeu Correia, foi um dos autores portugueses mais representados nos palcos amadores do nosso país, de Norte a Sul. 

Curiosamente, em vez de rivais foram bons amigos. Eis o que o dramaturgo natural de Santarém disse de Romeu, na revista "Seara Nova":

«É claro que o Teatro é, foi sempre e continuará a ser, em grande parte, aquele gesto de luz, milagroso, que transforma um qualquer objecto feio e sujo na maravilha dum balão colorido e libertado… Quero eu dizer, com isto, que Romeu Correia tem aquilo a que Garcia Lorca chamava o “duende”. Sem este, por mais vasta que seja a erudição e a “civilização” do autor, é que não há criação dramática; às vezes parece, mas acabamos todos por reconhecer que não é.»

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, novembro 18, 2020

Ruínas Urbanas...


O pior que podem fazer a qualquer sítio é abandonarem-no e deixarem-no fechado, sem qualquer uso, à espera que um dia "morra de velhice".

Fingem esquecer que os edifícios são muito mais resistentes que as pessoas. São feitos de pedra e cimento, podem durar décadas e décadas... até finalmente, desistirem de "existir".

Mas quem está de fora não tem melhor comportamento...

Assim que se descobre o seu abandono, começam a ser "sangrados", quase diariamente. A primeira coisa que cai são os vidros das janelas. Depois rebenta-se com uma porta, entra-se furtivamente e leva-se o que ainda resta e pode ser prestável, nem que seja num ferro velho. 

É mais ou menos nesta fase que os falsos artistas de rua, começam a borrar as paredes, tornando tudo ainda mais horrível e decadente...

Penso tantas vezes que era preferível oferecerem o edifício que vão deixar vazio, a alguma associação, a alguém que lhe pudesse oferecer uma segunda vida. Mas não, preferem assistir à sua decadência física, até não servir para nada e para ninguém...

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


terça-feira, novembro 17, 2020

Rabiscos com Humanos



Nós íamos falando e o Zé Manel ia desenhando... Pois é, cada um expressa-se como quer, ou como pode.

Era quase sempre assim, quase que podíamos fazer um caderno ilustrado das nossas conversas. Quase. Ambos sabíamos que no meio das nossas palavras, apareciam três ou quatro figuras demasiado estilísticas, que não ficam muito bem nos livros, mesmo que estes sejam alegres.

Lembrei-me disso, hoje bem cedo, quando vi um "sem abrigo" a arrumar a trouxa, depois de mais uma noite passada no seu poiso, a fachada de um edifício abandonado no centro da cidade.

Uma das últimas conversas que tivemos em grupo, no meio das nossas "reuniões criativas" foi sobre esta gente que foi empurrada para a rua ou desistiu de ter uma vida "normal" (há sempre variáveis há volta da normalidade...). Lembro-me que no meio da conversa o outro Luís disse uma coisa curiosa, que para estas pessoas, o "comer", o "vestir" e o "morar", nunca foram muito importantes no seu dia-a-dia. Ninguém concordou. E como de costume, não chegámos a lugar nenhum, a conversa foi mais uma vez  interrompida pelo aviso de que terminara a "hora do recreio"...

Quando se desiste, tudo deixa de ser importante para nós. Quando somos forçados a desistir, nós é que deixámos de ser importantes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, novembro 16, 2020

Não Conseguir Inventar Dias Desiguais...


Os dias são cada vez mais iguais.

Há várias coisas que estou a fazer cada vez menos. Escrever é uma delas. É por isso que até sou capaz de escrever "sobre nada", por aqui, para ver se não perco a mão.

E é também por isso que louvo todos os "criadores da pandemia", que conseguem aproveitar bem as oportunidades, mesmo que não caiam do céu.

Talvez não tenha muito a ver, mas a ficção científica nunca foi um daqueles interesses grandes, nem mesmo no cinema.

E mesmo que tente, tenho cada vez mais dificuldade em inventar "dias desiguais"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, novembro 15, 2020

As "Migalhas" e as "Habilidades" do Costa...


Uma das caracteristicas mais apreciadas de António Costa é a sua capacidade de negociação (há mesmo quem diga que é capaz de vender um burro coxo em qualquer mercado, como qualquer "cigano" que se preze...). 

Embora não seja um "vendedor de banha da cobra" (raramente promete o que não pode cumprir...), não deixa de ser bastante hábil com as palavras, não dando "ponta sem nó". Nos seus discursos dá a entender que dá um "quilo" de qualquer coisa, para depois oferecer apenas umas "gramas" da tal coisa, que tanto podem ser os direitos dos professores, dos enfermeiros, dos polícias, ou a mais recente promessa de ajuda aos donos dos restaurantes (como é que é possível fazer cálculos sérios usando os fins de semana deste ano de pandemia?). 

Infelizmente, acabamos por ser todos vítimas desta sua habilidade política, pois promete muito para dar sempre pouco...

Todos nos recordamos das suas palavras  sobre as alterações no IRS, dizia que íamos receber mais e pagar menos. Quando chegou o tempo de se pagar e de se receber, percebemos que ficou tudo mais ou menos igual (mais tostão menos tostão)...

Chamar-lhe mentiroso talvez seja forte demais, mas já todos percebemos que no que toca à política e ao poder, está longe de ser uma pessoa séria e com carácter (características comuns à generalidade dos políticos).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, novembro 14, 2020

Tomam-nos Mesmo Todos por Parvos?


Era normal que a direita, assim que lhe surgisse uma oportunidade, imitasse a "gerigonça" de esquerda, para ocupar qualquer poder. Aconteceu agora nos Açores. O PS ganhou, mas perdeu, tal como sucedera  com o PSD nas legislativas de 2015 no Continente...

E os sociais democratas tinham toda a legitimidade para o fazer. O poder também é isso. Não havia era necessidade de quererem comparar o incomparável, para se "defenderem". 

O caso é mais grave do que poderá parecer, pois quando o PSD compara o PCP e o BE ao Chega, começa a entrar num terreno pantanoso e passa a tal linha que nos leva para a chamada "ficção política", que tem dominado países como EUA e o Brasil. Quem deve ter muito ficado satisfeito com a comparação é o tal partido que finge não ver racismo ou xenofobismo no nosso país, e que tenta trazer para a discussão pública a pena de morte e a castração química, entre outros absurdos.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, novembro 13, 2020

Sem Saúde o Dinheiro não nos Vale de Nada


Sei que não vou ser politicamente correcto, mas isso é o que menos me preocupa nestes tempos complicados.

Embora perceba as dificuldades económicas que muitos sectores da nossa economia estão a sentir (quase todos nós estamos a ser afectados pela pandemia...), não consigo entender todos estes protestos contra as últimas medidas tomadas pelo governo, com particular relevo para o recolher obrigatório ao fim de semana, a partir das 13 horas - com o fecho de restaurantes e grandes superfícies comerciais.

Sinto que a maior parte dos comerciantes continuam mais preocupados com o dinheiro que com a saúde pública. Será que não percebem que se não se tomarem medidas como estas, o país acaba por ter de "parar", com a obrigatoriedade do confinamento para todos nós? Com perdas muito maiores para todos?

Basta olharmos para o aumento de infecções diárias, assim como de internamentos (felizmente o número de internados está a ser mais lento que o número de infectados...), que estão a deixar alguns hospitais próximos do seu limite, para se perceber que se tem de combater, aquele que é encarado como o principal foco de contágio pelos especialistas, especialmente na região norte - as reuniões familiares e de amigos aos fins de semana.

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, novembro 12, 2020

«O gajo reformou-se mas continua a tentar passar pelo intervalo da chuva.»


Sei algumas coisas da vida, uma delas é que nunca iremos conseguir passar pelo intervalo da chuva. Ocupamos demasiado volume para que tal seja possível. 

Mas gosto desta imagem, quando é usada com aspas, para caracterizar as pessoas que passam a vida a deixar os problemas nas secretárias dos outros, preferindo "fugir" e fechar portas atrás de si.

E embora também seja algumas vezes complacente (às vezes não nos apetece chatear, preferimos passar por parvos...), detesto esta "complacência geral" de quase toda a sociedade...

Felizmente há quem nunca lhes perdoe, foi por isso que o Rui ouviu das boas do Jaime, por ainda querer andar por aí a fazer o "pino". 


Houve uma frase que provocou a gargalhada geral, por meter a tal "água": «O gajo reformou-se mas continua a tentar passar pelo intervalo da chuva.»

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, novembro 11, 2020

Estar Certo Antes e Depois do Tempo...

O arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles deixou-nos hoje. É um dos poucos portugueses a quem atribuo uma dimensão universal , graças à forma como conseguiu aliar o seu conhecimento teórico e prático, na preservação do território e da paisagem. Foi o grande defensor do  equilíbrio ambiental no nosso país, tanto nas cidades como no campo.

Embora tenha sido ministro pouco tempo (da Qualidade de Vida), deixou um bom legado, com a criação da Reserva Agrícola Nacional e da Reserva Ecológica Nacional. E como cidadão nunca se deixou silenciar perante os muitos atentados que foram feitos no nosso país, oferecendo soluções para os maiores flagelos ambientais do nosso tempo (cheias e incêndios), que raramente foram seguidas, devido aos muitos interesses instalados de Norte a Sul.

Embora fosse conservador, era aquilo que se poderá chamar de uma pessoa avançada no tempo. Quando ainda não se falava da defesa do Planeta, já ele defendia uma opção verde e ecológica na nossa forma de vida, não como uma moda, mas já com o pensamento na nossa sobrevivência.

E como paisagista que belos jardins ele desenhou, pelo nosso país fora, como os da Gulbenkian...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda de Caparica)


terça-feira, novembro 10, 2020

Os Idiotas estão Sempre à Frente (ou ao lado) dos Ditadores


Enquanto bebia o café, na outra mesa que estava ocupada, a alguma distância, conversava-se sobre o futuro.

Já se estava em 2021 e dizia-se que quem não tomasse a tal vacina futurista, não poderia viajar por esse mundo fora.

Provavelmente é uma invenção dos idiotas do costume (dita ao ouvido dos censores e ditadores desde mundo...), que querem ir sempre mais longe, para o bem e para o mal.

Mas se for acolhida por algum governante, desses modernos, que gostam de pensar por todos, as pessoas mais saudáveis que ficam para o fim, vão ficar "presas"... até que existam vacinas para todos. Pode ser coisa para mais de um ano...

Mas o melhor mesmo é pensar que se trata apenas uma idiotice das redes sociais e dos cafés.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


segunda-feira, novembro 09, 2020

A Liberdade que nos Vai Escapando das Mãos...


Depois de ver o filme brasileiro, "O Grande Circo Místico", fui de alguma forma forçado a olhar para este mundo, que tem encolhido tanto. Temos perdido tanto espaço...

Não se trata apenas dos ciganos que foram obrigados a fixar-se nas localidades e a perderem a sua essência nómada, os circos também deixaram de ser espectáculos quase da mesma "família", já não são ambulantes e itinerantes, e talvez por isso, estejam condenados a um lento desaparecimento, quase agonizante.

Mesmo nós, perdemos espaço para partir para qualquer lugar do mundo, apenas com uma mochila às costas. Não é apenas uma questão de perigo (a "pandemia" não entra neste texto, podia ter sido escrito quando o filme se estreou no cinema...), é sobretudo de "legalismos", que nos vão roubando a liberdade individual, e até a vontade de "descobrir mundo" (pois é, também já está tudo descoberto...).

(Fotografia de Luís Eme - Arealva)


domingo, novembro 08, 2020

Cruzeiro Seixas (1920-2020)



Os deuses não deixaram Cruzeiro Seixas chegar aos 100 anos (faltavam apenas vinte e cinco dias...).

Acredito que não se tenha incomodado muito. Devia estar cansado de viver neste tempo estranho, que tornou todas as máscaras visíveis.

Provavelmente, Artur é o pintor e o poeta que melhor simboliza o surrealismo no nosso país, na cor e nas palavras dos seus dias, muito graças à sua longevidade, à sua transparência e à sua filosofia de vida.

(Desenho de Cruzeiro Seixas)


sábado, novembro 07, 2020

A (falsa) Dúvida...


Os dias cinzentos são quase sempre mais introspetivos, é como se nos virassem para dentro de nós, sem darmos por isso.

Talvez fosse por isso que ouvi o desabafo de um homem, cansado de ser boa pessoa e honesto...

Durante a sua já longa vida foi incapaz de recorrer a expedientes ou golpes baixos. Sente algum orgulho de não ter  vocação para bufo ou "lambe cus", mas continua cheio de dúvidas. Quando disse que não sabia ao certo, se o facto de nunca ter "pisado o risco" se ficara a dever a uma questão de carácter, ou se fora apenas um sinal de estupidez ou cobardia. 

Conheço-o bem, ao ponto de saber que estava a mentir...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, novembro 06, 2020

Um Mundo com a Cabeça no Ar (aliás, nas redes sociais)


Vou voltar a falar dos meus filhos, porque, tal como a maior parte dos jovens da sua geração, conhecem o mundo graças às viagens que fazem nas "redes sociais", onde nem sempre o que "parece é".

Mesmo que eu lhes diga que é importante não acreditarmos apenas numa história, que as versões únicas são do mais perigoso que existe, porque não há apenas uma história sobre cada pessoa, cada povo ou cada lugar, sinto que não ficam muito convencidos.

Sei que tenho uma visão das coisas ligeiramente diferente do comum dos mortais, porque tanto o jornalismo como a história, foram-me tornando ainda mais céptico, em relação ao mundo que nos cerca. O normal em mim é "questionar" (o que também faz de mim um "chato"...)

Mas incomoda-me muito que as pessoas não usem a cabeça para pensar...

(Fotografia de Luís Eme - Nazaré)


quinta-feira, novembro 05, 2020

«Posso "comprar" o que está por detrás desse teu sorriso?»


Ela olhou-me, fixamente, em silêncio e de máscara. Naquele momento descobri que é muito mais fácil do que pensava, reconhecer as pessoas apenas pelos olhos.

Sorri-lhe e ela, depois de guardar a máscara, quis "comprar", na totalidade (fez questão de me dizer que não queria "metades"...), aquilo que me fizera sorrir. 

Eu disse-lhe que sim, e apenas custava um café.

Era tão simples... Era uma coisa quase infantil, a descoberta de que é mais fácil do que pensava descobrir  quem são os bandidos, que apenas escondem o rosto e deixam de fora os olhos, em qualquer assalto, mesmo "carnavalesco"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quarta-feira, novembro 04, 2020

«A noite tornou-se clandestina»


Contaram-me algumas histórias sobre algumas festas nocturnas, organizadas em plena pandemia, com mil e um cuidados, por todas as razões e mais alguma. 

Só é possível entrar com convite personalizado e nunca se realizam no mesmo lugar. Normalmente são escolhidas quintas isoladas, com o portão de entrada fechado a sete chaves.

Quando ouvi este relato, fiquei a pensar que estas festas deviam ser no mínimo bizarras.

Asseguraram-me que não, não têm nada de diferente de um bar normal. Conversa-se, bebe-se e ouve-se música ao vivo. Numa noite de sorte, até se pode ter a felicidade de escutar a voz de algum cantor ou cantora conhecidos, num ambiente mais informal e descontraído...

Quase em jeito de desabafo, disseram-me: «a noite tornou-se clandestina.»

Nunca tinha pensado nisso. Mas sim, são muitas as pessoas que viviam dentro da noite, e devem continuar a viver... Mesmo que não tenham um "poiso", fora de casa, continuam a esperar pela madrugada, com os olhos bem abertos, entretidos a ver filmes, ouvir música, com um copo de qualquer bebida forte na mão...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


terça-feira, novembro 03, 2020

Um Fato à Medida Exacta...



Não imaginava que existissem tantas pessoas com a mesma opinião, que aquele que espero chamar amanhã, ex-presidente dos EUA, em relação a um assunto demasiado pertinente, que continua a "abanar" e a "sacudir" as nossas vidas. Sim, há por aí muitos eles e elas, que também pensam que o vírus é chinês...

Mesmo que não acredite muito em "teorias da conspiração", factos são factos. E se há um país que está a beneficiar economicamente com toda esta pandemia, é a China.

Como o Carlos diz, poucos alfaiates eram capazes de fazer um fato que tivesse a medida exacta do país que antes da pandemia, já usava "máscaras" no exterior, prometendo (e cumprindo) ser "mais capitalista que os capitalistas"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, novembro 02, 2020

Mudar "porque sim" (e porque não)...


As mudanças na vida raramente acontecem apenas "porque sim". Há sempre algo que nos força a mudar o nosso dia-a-dia, e nem sempre surge de uma forma positiva (sem querer estar a "bater no ceguinho", esta pandemia é um bom exemplo...).

São muito diferentes das alterações quase banais, que acontecem apenas porque alguém decide dar um novo ar a um muro ou a uma parede, como aconteceu na Arealva ou no Ginjal. 



Não tenho qualquer dúvida de que mandamos muito menos do que pensamos, em relação à nossa vida, e sobretudo, a tudo o que nos cerca...

(Fotografias de Luís Eme - Arealva)