segunda-feira, dezembro 31, 2007

Largo da (Recuperação da) Memória

O meu maior desejo para 2008 aqui no Largo é que portugueses "acordem", que voltem a ter "Memória".
Sim, que se lembrem de coisas como: que temos um ministro da saúde que fecha maternidades, urgências, centros de saúde, e diz que temos mais e melhor saúde; que a escolha do novo aeroporto de Lisboa será determinada por razões e interesses pessoais e não do Estado; que os incentivos à natalidade são o fecho de maternidades no interior e a redução no apoio ao arrendamento de casas aos nossos jovens; que o desemprego continua a aumentar graças à política económica desastrosa dos últimos governos; que os empresários portugueses estão mais preocupados com as migalhas que têm de acrescentar ao novo ordenado minímo (uma vergonha nacional), que com os carros de último modelo que compram ou com a nova vivenda que construiram; que a maior parte dos autarcas só se lembram das populações no ano de eleições; que a frase feita de que Judiciária é uma das melhores polícias do mundo, é apenas mais uma balela, a juntar a tantas outras neste país; o que o senhor Cadilhe, entre outras personagens da finança, andou a fazer, depois de ter sido ministro das finanças; qual era o discurso e a prática de Sócrates, ministro do ambiente de Guterres; das palavras de Pacheco Pereira - entre outros comentadores políticos do bloco central -, durante e após o cavaquistão; que a comunicação social está perigosamente entregue a quatro grupos económicos (um terço do que acontecia em plena ditadura...); que as principais editoras também pertencem a quatro grupos económicos (dantes eram os três da vida airada, agora são quatro...); e sobretudo, que Portugal seria um país muito melhor, se tivesse sido governado nos últimos trinta anos por pessoas sérias, competentes e com sentido de Estado, porque, de certeza, que as funções de ministro ou secretário de estado, não se resumem a gastar o dinheiro público a seu bel prazer ou arranjar empregos bem pagos para a família e amigos, garantindo ao mesmo tempo um cargo administrativo no sector público, milionariamente remunerado e com mordomias "reais", após as funções ministeriais.
Escolhi "O Pesadelo" do Rafael Bordalo Pinheiro, meio desconsolado, por os seus bonecos centenários, continuarem tão actuais neste país...

domingo, dezembro 30, 2007

A Paz é Possível

Há exactamente trinta e cinco anos um grupo de católicos e democratas ocuparam a Capela do Rato, com o objectivo de comemorar o Dia Mundial da Paz, com uma vigilia de 48 horas, onde se chamava a atenção para dentro do país que, "A Paz é Possível", tendo como pano de fundo o protesto contra a Guerra Colonial, para onde eram enviados todos os anos, milhares de jovens portugueses.
As polícias do regime invadiram a Capela e detiveram cerca de setenta pessoas, ao mesmo tempo que encerravam este lugar sagrado.
A fotografia simbólica é de Sebastião Salgado, em Luanda.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

O Último Comício de Benazir Bhutto

Esta senhora paquistanesa nunca me despertou grande interesse, tal como a maioria dos políticos asiáticos, embora ao pé do "generalíssimo" Musharraf, possa e deva ser considerada uma grande democrata, e tenha a virtude de ter sido a primeira mulher a chefiar um governo num Estado muçulmano, com apenas 35 anos...
No entanto há dois aspectos que me parecem demasiado românticos, para que passe ao seu lado do seu assassínio: a sua beleza e a sua coragem.
Ela era realmente bela e muito corajosa, pois sabia ao que ia neste seu regresso ao Paquistão.
Escolheu o caminho mais perigoso, provavelmente por amor ao seu país, ou então, pelo gosto do poder, que já saboreara por duas vezes.
Embora se considerasse uma sobrevivente, não resistiu a mais um atentado e ficará para a história como mais uma mártir do terrorismo que assola todos os continentes...

quinta-feira, dezembro 27, 2007

A Democracia dos Grandes


O projecto central, que já é mais que "nevoeiro", tem como principal objectivo "apagar" dos sufrágios os partidos com menos de 5000 militantes.
Na minha opinião é um projecto muito pouco democrático, tem inclusive alguns laivos de salazarismo.
Incomoda-me bastante que esta rotação política entre apenas dois partidos no nosso país - e que em trinta anos de democracia tem deixado tanto a desejar -, esteja cada vez mais de pedra e cal, e que os outros partidos não consigam entrar nesta batalha pelo poder.
Enquanto algumas sumidades chamam a este sistema político bipartidário de moderno, por ser o que rege países como a Inglaterra ou os Estados Unidos da América, eu olho-o como um regresso a um passado bastante penoso para o país, no século XIX, em que o poder também foi repartido entre os progressistas e os regeneradores, com os resultados que se conhecem...
Só espero que estas nuances não pretendam ir ainda mais longe, ou seja, caminhar para o partido único...
Este cartune do Rui é de 1995, mas continua tão actual...

sábado, dezembro 22, 2007

O Veludo do Musgo no Nosso Présépio


Durante os anos da minha infância, o mais importante do "decor" de Natal era o presépio, a árvore de Natal esteve sempre em segundo plano.
Eu e o meu irmão visitávamos, antecipadamente, os pinhais que rodeavam o nosso bairro, à procura do musgo mais bonito e farfalhudo, para fazer o piso do nosso presépio. Depois de o encontrarmos, guardávamos segredo e não esperávamos muito tempo, para o trazermos para casa, dentro de caixas de sapatos de papelão...
Depois começávamos a construir o nosso presépio, cada vez com mais peças, que íamos comprando ano após ano. Além das tradicionais figuras da sagrada família (com a vaca e o burro), dos reis magos, dos pastores e das ovelhas, também tínhamos outras personagens, inclusive músicos de qualquer filarmónica, sem sequer pensarmos que eram demasiado modernos para o presépio...
Os caminhos eram feitos com areia da praia e os lagos com a prata dos cigarros.
Depois crescemos e fomos perdendo a vontade de fazer o presépio... recordo que nesta altura também já colocávamos as prendas na árvore de Natal e não na chaminé, porque estávamos demasiado grandes para acreditar no Menino Jesus ou no Pai Natal...
Mas enquanto a magia durou, foi bom...

quinta-feira, dezembro 20, 2007

A Vaidadezinha é Tramada...

Embora não tenha nada contra, tenho-me colocado sempre à margem da onda de prémios que se oferecem neste grande universo da "blogosfera". Limito-me a agradecer as deferências de todos aqueles que têm premiado as minhas "casas", mas fico-me por aí.
Claro que se trata apenas de uma opção pessoal.
Como sou bastante distraído (especialmente de coisas que não me dizem muito...), tenho passado completamente ao lado das escolhas dos melhores "blogues", aqui e ali. No entanto não pude deixar de ficar perplexo ao ler no Blasfémias que alguns senhores tinham aceitado ser juízes em causa própria, conseguindo a já pouco original conquista dos dois primeiros prémios. Estou a falar de Marco Santos (Bitaites) - que não faço ideia quem seja - e de Nuno Markl (Há Vida em Markl).
Na minha escala de valores acho escandaloso que estes dois sujeitos tenham aceitado fazer parte de um júri, que ofereceu os dois primeiros prémios às suas "casas". Ainda pensei deixar um comentário na caixa do senhor Nuno, mas como existe moderação de comentários, e ia dizer-lhe o que estou a escrever aqui, a minha opinião ia certamente para o lixo.
Apenas me questiono: um prémio destes, meramente simbólico, é mais importante que a dignidade destes sujeitos?
Pelos vistos é...
A vaidadezinha sempre foi, e continua a ser, uma coisa tramada...
O óleo que embeleza este texto é de Jacques Resch e tem como título "Le Diabolo".

quarta-feira, dezembro 19, 2007

A Morte Traiçoeira de Um Grande Artista


Há exactamente quarenta e seis anos, a PIDE matou, cobardemente, José Dias Coelho, com vários tiros disparados nas suas costas, numa das ruas de Alcântara.
Na época Dias Coelho era um promissor artista plástico, militante do PCP, que decidiu abdicar dos seus sonhos pessoais e passar à clandestinidade, juntamente com a sua companheira de sempre, Margarida Tengarrinha, atrás de um sonho maior: o da Liberdade para todos os portugueses.
O desenho que escolhi, foi uma adaptação que fiz de um dos seus últimos desenhos, reproduzido no "Avante", a quando do assassinato de Cândido Pilé, em Almada, ocorrido um mês antes da sua morte, utilizado (com um filtro) para a capa do meu livro "Almada e a Resistência Antifascista".

sexta-feira, dezembro 14, 2007

A Inesquecível Beatriz Costa

Beatriz Costa faz hoje cem anos.
A excelente actriz está ligada aos anos de ouro do nosso cinema, como primeira figura de fitas como "A Canção de Lisboa" ou "Aldeia da Roupa Branca", dois grandes sucessos, rodados dos anos trinta do século passado.
Foi também nessa época que o teatro de revista teve o seu "bomm", apresentando dezenas de êxitos inesquecíveis, graças ao brilho de Beatriz e de tantos outros excelentes actores e actrizes, como Vasco Santana, António Silva, Costinha, Irene Isidro, João Villaret, etc.
Além dos filmes e do teatro, a actriz também nos deixou quatro livros de memórias, com títulos bem ilucidativos: "Sem Papas na Língua", "Quando os Vascos Eram Santanas", "Nos Cornos da Vida" e "Eles e Eu".
A fotografia que ilustra este texto mostra-nos Beatriz Costa a contracenar com José Amaro na "Aldeia da Roupa Branca", filme que fez com que ficasse conhecida com a nossa "saloinha", algo que aceitou com a sua bonomia, nunca esquecendo a Charneca do Milharado, aldeia do concelho de Mafra onde nasceu.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Parabéns Manoel


Quando alguém, com noventa e nove anos (feitos hoje), continua a fazer aquilo que mais gosta, com talento e com uma perspectiva cinéfila muito própria, onde se encontram laivos de arte e de poesia nos filmes que realiza, merece os mais sinceros PARABÉNS.
E Mestre Manoel Oliveira é muito mais que um icone português, é uma figura grande do cinema europeu.

sábado, dezembro 08, 2007

Eu: Florbela Espanca


Florbela Espança nasceu em Vila Viçosa a 8 de Dezembro de 1894.
Foi a nossa grande poetisa do amor...
Deixo-vos aqui, um seu auto-retrato:


Eu

Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me – pobre louca! –
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca


O desenho é da autoria de seu irmão, Apeles Espanca.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Rogério e a Arte no Futebol


Rogério de Carvalho faz hoje a bonita idade de oitenta e cinco anos.
Foi um extraordinário avançado do Benfica e da selecção, nos anos quarenta e cinquenta, que além dos muitos golos que marcava, era de uma elegância, que tudo parecia fácil, quando tinha a bola nos pés.
Ficou conhecido pelo "Pipi". No princípio da década de noventa explicou-me porquê, nas páginas do "Record": Quando entrei para o Benfica, veio uma moda de Itália, com os casacos de três botões e as calças apertadas em baixo, que eram usados pelos "Pipis". Eu e um colega tínhamos um alfaiate e pedimos-lhe para nos fazer um fato daqueles. Nesse tempo, no Benfica todos tínhamos alcunhas e o Gaspar Pinto e o Albino queriam baptizar-me. Como era magrinho, o Gaspar Pinto pensou em "Agulhas", o Albino disse que como eu era todo "pipas", "Pipi" era melhor. E assim fiquei para a história do futebol.
Além de ser um extraordinário jogador, era correctíssimo, incapaz de responder às agressões e provocações dos defesas adversários...
Parabéns Rogério, pela tua grandeza humana.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

A Nossa Publicidade (5)


Embora este anúncio seja ligeiramente sexista (parece que só os homens é que têm tosse de cão...), não deixa de ser engraçado e estar apropriado para a época.
Sim, basta uma distracção e lá vem o pingo no nariz e a tosse, quase sempre irritante, pelo menos para quem padece da constipação...
Como devem calcular, não tenho qualquer contrato marca, pelo que recomendo qualquer xarope, principalmente o caseiro, de cenoura...

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Dar & Receber


António Variações faz hoje sessenta e três anos...
Segundo a minha modesta opinião, o António foi o nosso primeiro verdadeiro artista pop, tendo revolucionado completamente a música portuguesa.
Surgiu quase em paralelo com o "boom" do rock português, no começo da década de oitenta, mas teve o cuidado de mostrar que estava noutra onda, salientando que as suas influências iam de Braga a Nova Iorque...
Com uma presença e um estilo muito pessoal, na forma de cantar, de vestir e de se movimentar nos palcos, deixou-nos canções extraordinárias como: "É P'rá Amanhã"; "O Corpo é que Paga"; "Canção do Engate", "Dar & Receber" ou "Anjo da Guarda".
Foi uma pena ter desaparecido cedo demais...

sábado, dezembro 01, 2007

Dia da Independência


Hoje é o dia certo para dizer a José Saramago, que a resposta para o seu "iberismo" foi dada há exactamente 367 anos, pelos muitos portugueses que sairam à rua e dizeram basta, aos sessenta anos de domínio castelhano, com o reinado dos Filipes, e proclamaram a restauração da Independência Portuguesa.

quinta-feira, novembro 29, 2007

A Nossa Publicidade (4)


Quando ainda não tinhamos sido inundados pela "idade do plástico", até o óleo fula vinha embalado em garrafas de vidro...
E já tinha a fama dos nossos dias, era fresco, puro, leve e tinha a cor do Sol...
Obrigado Maria, pela sugestão e imagem, colheita de 1964...

domingo, novembro 25, 2007

A Reposição da Democracia

Há trinta e dois anos deu-se o 25 de Novembro, um golpe militar que teve como principal objectivo acabar com os "avanços" esquerdistas, que começavam a colocar em perigo o regime democrático de Abril.
O sucesso desta acção militar só foi possível graças à passividade de algumas das pessoas que tinham mais poder no nosso país (Otelo Saraiva de Carvalho e Álvaro Cunhal, por exemplo), que perceberam que a reacção ao golpe colocaria Portugal numa mais que provável guerra civil.
O general Costa Gomes foi um excelente "fiel da balança" em todo este processo, que entre outras coisas, conseguiu que os fuzileiros e os pára-quedistas - ao lado dos sectores mais revolucionários - não saíssem dos quartéis, evitando os confrontos armados...

sábado, novembro 24, 2007

Uma Outra Lisboa

Os amoladores quase que desapareceram das ruas de Lisboa e de qualquer outra cidade, porque as pessoas aburguesaram-se, deixaram de colocar varetas nos chapéus vitimas dos vendavais ou afiar as facas de cozinha e as tesouras de costura...
Recordo também que eles apareciam com as mudanças de tempo, quase a anunciar chuva...

A fotografia é do Eduardo Gageiro, a "dica" da Sininho...

quinta-feira, novembro 22, 2007

Personagens & Pessoas (II)


James Dean entrou no mundo do cinema a uma velocidade estonteante, como se chegasse numa das suas motos ou carros velozes, que acabariam por ser a sua perdição, cedo demais.
A sua rebeldia ficou e tem sido seguida religiosamente por gerações e gerações de adolescentes, que continuam a sentir um encanto especial, quando o encontram em "A Leste do Paraíso", "Fúria de Viver" ou "O Gigante"...

terça-feira, novembro 20, 2007

A Nossa Publicidade (3)


Fiquei perplexo ao ler o comunicado publicitário da administração da Valorsul, publicado no "Público", em relação à greve e aos grevistas da empresa, por o achar uma novidade.
Devo começar por confessar que sou completamente contra a existência de piquetes de greve, porque quem quer trabalhar, está no seu direito. Mas não me parece que isso seja sequer um problema neste caso.
O que é relevante neste panfleto é a tentativa de virar a opinião pública contra os trabalhadores, através de dez pontos (de certeza manipulados...) em que só falta dizer, explicitamente, que eles ganham ordenados milionários e não fazem nada.
Se tivesse dúvidas da razão dos trabalhadores neste protesto, tinham ficado dissipadas com estas manobras administrativas, tão "socráticas"...

domingo, novembro 18, 2007

Dia da Memória


Quase todos nós já perdemos alguém, próximo, nas estradas portuguesas, muitas vezes estupidamente...
Este Dia da Memória é para nos lembrarmos deles e também para interiorizarmos que as estradas não são um espaço de guerra, mas sim o caminho para nos levar ao lugar que escolhemos como destino...

sábado, novembro 17, 2007

Viva a Música Portuguesa!

Parece que a lei que "obriga" as estações de rádio a passar 25% de música portuguesa está a fazer muita confusão em algumas cabecinhas.
Só há uma forma de os animar (ou acordar...) recordar os bons da nossa música:
Zeca Afonso; Madredeus; Carlos do Carmo; GNR; Rui Veloso; Brigada Vitor Jara; Rodrigo Leão; Xutos e Pontapés; Mariza; Da Weasel; Carlos Paredes; Trovante; Dulce Pontes; Sal; Paulo de Carvalho; UHF; Filipa Pais, Clã; Sérgio Godinho; Mão Morta; Jorge Palma; Delfins; António Variações; The Gift; Carlos Mendes; Adriano Correia de Oliveira; Sons da Fala; Fernando Tordo; Heróis do Mar; Anabela; Rádio Macau; Adelaide Ferreira; Ala dos Namorados; Camané; Sétima Legião; David Fonseca; Sitiados; José Cid; Toranja; Amália; Essa Entente; Alfredo Marceneiro; Censurados; Mafalda Arnaut; Resistência; Manuel Freire; Entre-Aspas; Pedro Burmester; Opus Ensemble; Maria João Pires; Rio Grande; Maria da Fé; Pop Dell'Arte; Luísa Basto; Peste & Sida; Fernando Mauricio; Jafúmega; Filipe Laurent; Iodo; Maria João; Banda do Casaco; Francisco Naia; Carlos Bica & Trio Azul; Ana Moura; Quinta do Bill; Luís Represas; Ritual Tejo; Teresa Salgueiro; Tetvocal; João Gil; Santos & Pecadores; Lena D'Água; Fingertips; Pedro Abrunhosa; Ena Pá 2000; Alexandra; Grupo Xaile; Paulo Gonzo; Mário Laginha Trio; Fausto; Moonspell; Zé Mário Branco; Blind Zero; Aldina Duarte; Mler If Dada; João Braga; Braindead; Sara Tavares; Black Company; Vitorino; Ramp; Simone; Cool Hipnoise; Janita Salomé; CTT; Cristina Branco; Trabalhadores do Comércio; Fernando Lopes-Graça; Táxi; Eugénia Melo e Castro; Doce; Carlos Guilherme; Roxigénio; Marina Mota; Silence 4; Emanuel Nunes; Humanos; Rita Guerra; Polo Norte; Tiago Bettencourt; Anjos; Né Ladeiras; Kizomba; João Pedro Pais; Corvos; Mafalda Veiga; Duo Ouro Negro; Tony de Matos; Herminia Silva; Gaiteiros de Lisboa; André Sardet; Madalena Iglésias; Gomo; JP Simões; Lúcia Moniz; Bernardo Sasseti; Carlos Paião; António Chainho; Tonicha; Artur Pizarro; João Afonso; Lenita Gentil; Carlos Martins; António Pinho Vargas; Argentina Santos; Carlos Zingaro; Joana Amendoeira; José Peixoto; Tim; Francisco Fanhais; Kátia Guerreiro; Luís de Freitas Branco; Misia; José da Câmara; Teresa Silva Carvalho; Max; Pedro Caldeira Cabral; Tózé Brito; Jacinta; Luís Cilia; Isabel Silvestre; José Medeiros; Rui Pato; Carlos Alberto Moniz; Luís Madureira; Samuel; Nuno Guerreiro; Boss AC; Raquel Tavares; Pedro Joia; Maria Teresa de Noronha; Paulo Bragança; Júlio Pereira; Ana Sofia Varela; Pedro Barroso; Henrique Feist; Inês Santos; Carlos Ramos; Rão Kyao; Amélia Muge; Beto; Susana Félix, Paco Bandeira, António Vitorino de Almeida, etc.

Espero que esta lista de cento e setenta e quatro chegue, e está praticamente limpa de "pimbalhada" *...
A ordem dos músicos foi ditada apenas pela minha memória, ou seja, iam aparecendo e eu ia escrevendo...
O Zeca Afonso, se estivesse entre nós, fartava-se de rir, com o desplante dos pobres dos nossos radialistas, sem música portuguesa de qualidade para pôr a rolar...
* (Marco Paulo; Mónica Cintra; Tony Carreira; Ágata; Emanuel; Romana; Quim Barreiros; Luís Filipe Reis; Rute Marlene; Mikael Carreira; Rebeca; José Alberto Reis; Micaela;D'Arrazar; Toy; Excesso; Ana Malhoa; Marante; Delírio; Nel Monteiro; Adiafa; José Malhoa; Roberto Leal; Broa de Mel; Miguel & André; Ana; Rui Bandeira; Nucha; António Calvário; Artur Garcia; Maria José Valério; António Mourão; Fernando Correia Marques; Armando Gama; Mila Ferreira; Dino Meira; Sabrina; Clemente; Eugénia de Lima; Maria Albertina; António Pinto Basto; Cândida Branca-Flor; Nuno da Câmara Pereira; Gonçalo da Câmara Pereira; Nico da Câmara Pereira; Santamaria; Jorge Fernando; Linda de Suza; D'zrt, Zé Cabra, entre outras dezenas de artistas, conhecidos também por "reis" (e rainhas, claro) da cassete pirata)

quarta-feira, novembro 14, 2007

Amadeo, Amadeo!


Amadeo de Souza-Cardozo faz hoje 120 anos.
Natural de Manhufe, Amarante, escapou-se para Paris, onde se juntou aos primeiros vanguardistas da arte portuguesa, que tiveram de "fugir", para romper com a visão artística que imperava no país, também aqui, com algum atraso em relação às novas tendências europeias.
Amadeo foi o melhor e também o mais inteligente, desta extraordinária geração de pintores, fundamental para o crescimento do modernismo entre nós.
Como tantos génios, Amadeo, despediu-se de nós, demasiado cedo, com apenas 31 anos, vitima da mortífera gripe espanhola.
Foi bom ter-nos deixado obras de tão grande qualidade, reconhecidas em qualquer parte do mundo.

terça-feira, novembro 13, 2007

Personagens & Pessoas (I)


Não sei se são os filmes que nos influenciam, se somos nós que influenciamos os filmes...
Talvez estejamos bem uns para os outros...
Acho que o facto de se viverem tantas vidas na tela, quase todas fascinantes, devem colocar o "eu" dos actores, em maus lençóis, com dificuldade de serem apenas eles próprios.
Querem melhor exemplo que a Marilin Monroe (que nesta foto ainda não era completamente loura...)?

domingo, novembro 11, 2007

A Nossa Publicidade (2)


Não era para voltar já à publicidade, mas isto de ter três blogues têm que se lhe diga...
Mas já tinha este anúncio da Ice Tea em lista de espera, porque o acho soberbo.
Será que alguns homens deixaram de beber esta bebida refrescante, com medo de ficarem com o corpo tão esbelto e curvo?
Penso que não, mas se resultasse, era uma boa solução para os transexuais masculinos...
Não sei porquê, mas ao descobrir este anúncio pensei na ironia da Sininho (ecosdafalesia.blogspot.com).

quinta-feira, novembro 08, 2007

A Nossa Publicidade (I)

Criatividade é coisa que nunca nos faltou.
É por isso que temos excelentes publicitários.
De vez em quando vou colocar aqui alguma publicidade, de borla, para analisarmos os seus efeitos no nosso dia a dia.
Começo com uma série da PT, que é um bom indicador da forma como somos iludidos e muitas vezes nos deixamos levar, até porque no mundo de hoje quase ninguém dá nada a ninguém...
Os nossos"artistogatos" falam em chamadas grátis para sempre, só que na verdade não é bem assim, temos de pagar uma mensalidade, além da "renda" habitual, à PT...
Depois nas letras pequenas (nestas coisas da publicidade é bom lermos sempre as letras pequenas...) já dizem que são "noites grátis PT para sempre".

terça-feira, novembro 06, 2007

Bom Dia Sophia...

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919.
Cresceu na Casa da Granja...
Casa branca frente ao mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto em que dorme
O milagre das coisas que eram minhas.

Casa que ficava frente ao Mar...

De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

O "boneco" é do António.

sábado, novembro 03, 2007

Um Rio Cheio de Cor e Barcas Belas


Estava à beira rio, na Trafaria quando vi passar um cargueiro, que acabou por obrigar o cacilheiro a dar uma volta maior, fazendo com que de repente, aquele pedaço do rio, junto à vila, ficasse congestionado de "barcas belas"...

quarta-feira, outubro 31, 2007

Hoje é o Dia Mundial da Poupança


Fiquei a saber da efeméride, através das notícias matinais da RTP, ao escutar uma jovem senhora, loura, falar da importância de se poupar, nem que fosse um euro por dia...
Fui obrigado a sorrir com a história da poupança de um euro.
E lembrei-me o quanto temos sido obrigados a poupar nos últimos anos, por força das circunstâncias do país, quase "doente" crónico, porque a maior parte dos "medicamentos" que lhe têm sido aplicados, estão fora de prazo. Não é senhores Guterres, Durão, Santana e Sócrates?
Poupamos na energia, nos combustíveis, na água, nas comunicações, na roupa, na alimentação, na diversão, etc. Porque o dinheiro não estica, apesar de continuarmos a receber, quase diariamente, correspondência e telefonemas de apelo ao consumismo e ao crédito...
A fotografia é do Muxito (Cruz de Pau - Seixal), porque também se poupa estupidamente na reconstrução deste país, cada vez mais pobre, apesar do ar rico dos seus governantes...

terça-feira, outubro 30, 2007

A Arte de Espírito Santo

Guilherme Espírito Santo, além de ter sido um avançado centro de inegáveis qualidades, que o catapultaram para a equipa principal do Benfica e da selecção nacional, e também foi um extraordinário atleta saltador, campeão e recordista nacional dos saltos em altura, comprimento e triplo salto.
Era um futebolista elegante, rápido e de uma correcção exemplar, transformando-se em pouco tempo no ídolo de todos os benfiquistas. Embora não fosse fisicamente muito robusto, tinha uma habilidade extraordinária e um grande poder de elevação, marcando golos inesquecíveis de cabeça. Como também conjugava bem a técnica com a velocidade, era habitual deixar os defesas adversários sentados no chão. Furiosos, estes, sempre que podiam, castigavam-no com violência. A resposta de Espírito Santo era o desprezo completo pelas suas acções anti-desportivas, levantando-se sem responder às suas provocações e agressões.
Só foi internacional A oito vezes porque na época os jogos internacionais escasseavam, e também porque teve pela frente a sombra de Peyroteo, o maior goleador de sempre do futebol português, seu grande amigo, que não teve pejo nenhum em escrever nas suas memórias: «O Guilherme joga futebol muito melhor que eu».
Além de futebolista Espírito Santo foi também um grande atleta. O mais curioso é o facto de ter descoberto o atletismo por um mero acaso, quando num treino de futebol ultrapassou a fasquia do salto em altura colocada a 1,70m, deixando toda a gente estupefacta, especialmente os saltadores que não conseguiam saltar aquela altura. Acabou por aceitar o convite endereçado pela secção de atletismo do Benfica, e em pouco tempo estabeleceu novos recordes nacionais do salto em altura, comprimento e triplo salto. Na primeira disciplina foi recordista ibérico e o seu recorde nacional de 1,88m esteve mais de vinte anos sem ser ultrapassado.
Guilherme Espírito Santo vive em Cacilhas, desde o princípio dos anos setenta e fez hoje a bonita idade de 88 anos.

domingo, outubro 28, 2007

Objectos Quase de Museu (IV)


A tecnologia é uma coisa incrível.
Quase de um momento para o outro, alguns objectos que foram de grande utilidade para todos nós, tornam-se obsoletos.
É o que está a acontecer às tradicionais disquetes, cada vez mais fora de moda, graças às "penn's", aos "cd's e dvd's"...

quinta-feira, outubro 25, 2007

Apanhar Boleia no Tempo de Táxi


Uma das capas mais felizes do "boom" do rock português foi a do primeiro álbum dos "Táxi", com o quarteto (João Grande, Rui Taborda, Henrique Oliveira e Rodrigo Freitas) nortenho dentro de uma espécie de táxi, um Mercedes 180 D, daqueles bonitos, verdes e pretos...

terça-feira, outubro 23, 2007

A Fadista das Vielas


Herminia Silva nasceu há cem anos...
Não foi a fadista das grandes salas de espectáculo, mas sim das casas de fado, das verbenas, do teatro de revista e das festas nas colectividades populares.
Teve sempre um acompanhante de luxo, o célebre Pacheco, que andava sempre para a frente!
A Lisboa castiça tinha - e tem - algo da Herminia, que encontramos em Alfama, na Mouraria ou no Bairro Alto...

domingo, outubro 21, 2007

Histórias de Amor

Se há coisa que nunca nos faltou foi humor, mesmo nos piores momentos.
Felizmente, Rafael Bordalo Pinheiro sempre teve bons seguidores na imprensa portuguesa.
Estava a remexer na papelada, quando encontrei várias bandas desenhadas da autoria de Miguel, que assinava umas eloquentes "Histórias de Amor" no "Público". Tenho ideia que ele também passou pelo "Expresso".
Não faço ideia o que é feito dele, mas que era um grande "retratista social", era sim senhor...

sexta-feira, outubro 19, 2007

Uma Conversa sobre Censura


Uma professora amiga convidou-me para participar numa palestra sobre "A Censura, Ontem e Hoje".
Havia mais dois convidados, ambos professores. Foram eles que iniciaram a sessão, começando por espreitar para o interior dos jornais, criticando o jornalismo dos nossos dias, sem se esquecerem de salientar os monopólios existentes, e a cada vez mais nitida, autocensura, imposta pelos chefes. Um deles foi ainda mais longe, chamou aos directores, "testas de ferro" das administrações e do poder económico.
Quando foi a minha vez de falar, disse que as questões que tinham sido abordadas, eram pertinentes e preocupantes, mas faziam parte do mundo actual, onde a economia se sobrepõe a tudo. Acrescentei que a história dos "testas de ferro" não era nenhuma novidade no jornalismo nem no mundo empresarial, e como tal, tinha de ser encarada com normalidade. Pois os donos de qualquer empresa, têm o direito de escolher, quem melhor defende os seus interesses.
O que eu fui dizer...
Disseram-me que uma coisa não tinha nada a ver com outra, que a informação tinha de ser livre, etc.
Só os consegui calar, quando lhes lembrei que o José Saramago, quando esteve no "Diário de Notícias" em 1975, não foi lá colocado pelo seu valor como jornalista, mas pelo que representava, como elemento de confiança política, para quem administrava o jornal em nome do Estado...
Os alunos fizeram perguntas várias, interessantes, e até pertinentes. Pela minha parte, expliquei-lhes como funcionava a censura (mesmo sem a ter conhecido pessoalmente...), como cortava os textos com o lápis azul, muitas vezes sem grande nexo. Também lhes disse que a autocensura é algo pessoal, depende de uma série de factores, principalmente da nossa educação e da forma como olhamos o mundo. Não é uma coisa que esteja afixada na redacção ou seja ditada pelo director, como se procurou dar a entender.
Os outros dois companheiros de aventura é que não ficaram lá muito convencidos, com as coisas que disse. Paciência...
O desenho bem elucidativo, é da autoria de Ferreira dos Santos...

terça-feira, outubro 16, 2007

Piquenique no Bosque


Estava a guardar esta história para outra altura...
Não queria falar apenas de Adriano, sem me referir aos outros rapazolas de camisas aos quadrados, de viola às costas e canto fácil, capazes de percorrer o país de uma ponta a outra, para participar em festas e encontros, ou coisas ainda mais simples, como o casamento de um amigo...
Apesar das estradas serem estreitas e curtas, os carros, as camionetas e os comboios mais lentos, eles raramente faltavam a uma "convocatória".
Alguns carros foram chegando, vindos de Lisboa, Porto e Coimbra, completamente cheios de gente. Os menos abonados vieram de comboio e de camioneta.
Depois foram-se chegando, ao local escolhido, abençoado por um Deus, distante da Igreja de Salazar e de Cerejeira.
Os noivos selaram a união perante um padre de calças e camisa, como os restantes, com muitas canções livres e poucas orações surdas...
Curiosamente, era a única criança ali presente, provavelmente para "guardar" a minha tia, como noutras vezes, uma moçoila bonita, que tinha entregue o coração a um marinheiro...
A comida era muito pouco casamenteira, mas deliciou todos os presentes, graças ao perfume do pão, do chouriço das febras e do vinho caseiro, assim como alguns doces...
Não me lembro de tudo, mas sei que passei um dia extremamente alegre, em que me trataram quase como um príncipe. Até me obrigaram a cantar naquele coro, para estragar todas aquelas canções heróicas, cantadas no bosque livre...
No regresso a casa, cansado de tanta brincadeira, voltei às cavalitas, conhecendo as costas de todos aqueles rapazes felizes, onde também estava o Adriano, alto e magro, ainda sem aquela barba à Almeida Garrett, que mais tarde soube que também era Correia de Oliveira...
Só muitos anos depois é que soube que aquele casamento no bosque, também tinha sido considerado uma reunião politica...
Penso que nunca mais nos voltámos a encontrar. Tinha sido giro lembrar-lhe aquele encontro especial de amigos no campo, e dizer-lhe que eu era o "puto reguila"... mas Adriano partiu cedo demais para o lado de lá do mundo e...
Ele partiu mas deixou-nos a sua magnífica voz, como testemunho de uma vida de luta, por uma sociedade mais justa e solidária, nem sempre compreendida...

segunda-feira, outubro 15, 2007

Objectos Quase de Museu (III)


Já não se encontram muitos relógios de sala, por aí, daqueles que enchiam as casas de "música", sempre que passavam os inevitáveis sessenta minutos...
Recordo-me do da casa dos meus avós maternos, muito bonito (e bastante disputado por filhos e netos na altura das "partilhas"...) e também de outro, adorável, que animava a mercearia-taberna do Delfim, em Salir de Matos, com o seu famoso cuco que saía da toca e "cantava", encantando qualquer criança...

sexta-feira, outubro 12, 2007

Damas - a Elegância e a Agilidade nas Balizas


Se ainda estivesse entre nós, Vitor Damas tinha completado no passado dia 8 de Outubro, sessenta anos.
Como benfiquista, só me fica bem dizer, que nunca vi um guarda-redes tão espectacular nas balizas portuguesas como Damas.
Eu sei que a sua fisionomia também ajudou, já que era alto e magro.
A par de toda a sua elegância, Damas era ágil como um felino, defendendo bolas "impossíveis", com a leveza quase de bailarino.
A sua colocação entre os postes, era outro dos seus trunfos, conseguindo dar a sensação aos adversários que a baliza estava mais pequena...
Como jornalista tive o grato prazer de o entrevistar, quando treinava a equipa principal do Atlético, na segunda divisão.
Ainda me recordo do trato familiar com que me recebeu na Tapadinha e da sua voz rouca, única.
Ao contrário de outros ídolos com quem tive a oportunidade de conversar, senti que Damas era autêntico campeão, sem pés de barro...
O "boneco" que ilustra o texto é da autoria de Francisco Zambujal, um nome grande do cartoonismo desportivo, também já desaparecido.

terça-feira, outubro 09, 2007

Dia Mundial dos Correios


Hoje, por se comemorar o Dia Mundial dos Correios, foi lançado pelos CTT, o "meu selo". Ou seja, um selo que pode ser personalizado com qualquer imagem à nossa escolha, inclusive o nosso rosto.
Se Fernando Pessa ainda estivesse entre nós, exclamava: « E Esta!...»

Che Guevara


Che Guevara desapareceu há quarenta anos.
Quarenta anos que o transformaram no maior simbolo humano de qualquer revolução, e até da liberdade.
Pode haver várias explicações "filosóficas" ou "sociológicas" para este caso de popularidade mundial, mas eu prefiro a mais simples: o facto de ter morrido de uma forma trágica na Bolívia e também de ter conseguido resistir à vida, mais ou menos certinha, que o esperaria em Havana, depois da conquista do poder, ao lado do seu "irmão" Fidel...
Claro que tudo nele é apaixonante, até esta serigrafia, feita por Malanga e assinada por Warhol...

segunda-feira, outubro 08, 2007

Vindima


É Outono e na aldeia cheira a mosto, um cheiro doce, redondo, farto. Ouve-se, ao longe, o cantar arrastado de uma roga e, na calçada, ecoa o trotar de bestas carregadas de uvas, na azáfama alegre dos últimos dias de sol, para colher o trabalho de um ano, antes das primeiras chuvas que nunca se sabe quando vão cair e já se adivinham para os lados do Monte Airoso.
Pela noite dentro, os lagares enchem-se com a voz ritmada do mandador - esquerdo, direito, esquerdo, direito, tudo a eito, um, dois, esquerdo, direito – marcando a cadência, numa melopeia sonolenta, às vezes intercalada por uma modinha antiga tocada num realejo, se houver tocador á mão.
Vindimas de pobre, sem rogador, nem rancho, nem concertina, nem ferrinhos ou bombo, que conserto desta monta só no Douro, onde o vinho era do fino e valia muito mais.
Quem se lembra das vindimas há-de ter saudades de um copo de mosto, colhido directamente do lagar, doce, perfumado, fresco, e ainda se lembrará da recomendação para o beber com moderação, pois continuava a ferver no estômago.
O vinho que se provava no S. Martinho para lhe adivinhar as qualidades futuras, era o orgulho de cada agricultor, que acreditava que o seu vinho era o melhor vinho do mundo. Para que o confirmassem, a sua pipa estava sempre à disposição de quem quisesse beber um copo e para retribuir esta franqueza, seria ingratidão não dizer bem do vinhito, de preferência com metáforas iniciáticas que os provadores usam para lhe qualificar a cor, o aroma, o sabor e o corpo.
À sua saúde, meu avô, à tua, meu primo!
Nos melhores anos, o vosso vinho, esperto, cheiroso, fresco, foi mesmo o melhor vinho do mundo.
Joaquim Nascimento


sábado, outubro 06, 2007

Objectos Quase de Museu (II)


Embora não seja muito antigo, ainda sou do tempo da existência de vários jornais no Bairro Alto.
O que já não conheci foram as redacções povoadas de máquinas de escrever, que soltavam músicas desordenadas, a várias velocidades e enchiam os cestos de papeis amachucados...
Nem tive nenhum companheiro teimoso, como o Fernando Assis Pacheco, que nunca se desfez da sua "companheira" de tantas horas de inspiração e transpiração...
No "meu tempo" os computadores já tinham acabado com o reinado das máquinas de escrever, com vantagens para todos, apesar de ainda se usar o "MS DOS"...
As "janelas" do senhor Bill Gates só apareceram depois...

quinta-feira, outubro 04, 2007

Fados & Carlos


Estreia hoje no nosso país o filme, "Fados", realizado por Carlos Saura.
É o terceiro filme musical da autoria do realizador espanhol e faz parte de uma trilogia - "Flamenco" (1995), "Tango" (1998) e agora "Fados" (2007) - com o perfume e a intensidade melodramática latina.
É uma estreia com alguma polémica à mistura, por causa de alguns dos patrocínios conseguidos, como o do Município de Lisboa (a inveja é uma coisa tramada...).
Como este filme nasceu de uma conversa entre Carlos do Carmo, Ivan Dias e Carlos Saura, há mesmo quem diga que este é o filme do "Homem na Cidade"....
Claro que ele é muito mais que isso. Não o vi ainda, mas estou certo que tem a riqueza e o olhar de alguém de fora, que conseguiu captar coisas que estão à nossa volta e que nós nem sempre reparamos. O filme "Lisbon Story" de Wim Wenders é um bom exemplo do que acabo de dizer...

terça-feira, outubro 02, 2007

Casario e Figuras de um Sonho


Há imagens que não precisam de qualquer palavra...
É o caso deste óleo de Dominguez Alvarez, cujo título, só por si, é uma pequena maravilha: "Casario e Figuras de um Sonho".
Dominguez Alvarez (1906 - 1942) foi um pintor genial natural do Porto, que morreu precocemente, como tantos artistas portugueses do século XX, "asfixiados" pelo Salazarismo...

domingo, setembro 30, 2007

Objectos Quase de Museu (I)


Os velhos tanques de lavar roupa de cimento já não se encontram aqui e ali, como outrora.
As máquinas de lavar venceram a batalha da roupa limpa, com vantagens para todos nós.
Talvez estes objectos, desconhecidos pelos nossos filhos, tenham espaço em algum museu, quase natural...

O bonito óleo de Manuel Amado, "Bom Dia Lisboa", homenageia este objecto e a Lisboa dos bairros populares...

sábado, setembro 29, 2007

Amália de "Lux"


O suplemento de economia do "Expresso" de 22 de Setembro fez uma reportagem curiosa sobre "doze marcas portuguesas que o tempo não apaga".
A escolha não foi má, mas podiam ter escolhido outras, também portuguesas, simpáticas e esquecidas, porque o tempo não perdoa...
Até podiam escolher marcas internacionais, como a "Lux", cujos sabonetes deram banho a tantas beldades do mundo inteiro.
Sabiam que no nosso país até a nossa Amália Rodrigues, ajudou a vender sabonetes?...

quinta-feira, setembro 27, 2007

O Vulcão dos Capelinhos


Há cinquenta anos a Ilha açoreana do Fayal foi abalada pela erupção de um Vulcão submarino na Ponta dos Capelinhos.
Pelas oito horas da manhã os faroleiros desta ponta da ilha, foram surpreendidos pelo fervilhar da água, a cerca de um quilómetro. Entre os dias 16 a 27 de Setembro o Fayal tinha sido sacudido por mais de 200 abalos sísmicos, de baixa intensidade, um indicador de que algo de estranho se estava a passar nas profundezas da Ilha...
Depois surgiram quatro chaminés submarinas, de onde saiu vapor, cinza e gases cinzentos, no meio de várias explosões assustadoras, que voltaram a fazer tremer a Ilha...
Estas alterações oceânicas fizeram com que surgisse uma nova Ilha, baptizada pelos locais, como a Ilha do Espírito Santo.
Na noite de 16 de Dezembro surgiram os primeiros repuxos de lava incandescente, que inicialmente escorreu para norte, para o mar.
Desde o meio de Setembro, os açoreanos não tiveram um dia de descanso, durante mais de um ano. Os que puderam, partiram para longe, alguns para não mais voltarem...
A actividade sísmica só acalmou na tarde de 24 de Outubro de 1958...
NOTA: A RTP vai transmitir logo à noite uma reportagem sobre esta efeméride, que acredito ser um grande documento histórico, a não perder.

terça-feira, setembro 25, 2007

O Carteiro de Pablo Neruda...


Era para falar ontem do filme "O Carteiro de Pablo Neruda", transmitido na RTP1, no domingo, mas o tempo só hoje é que me deu algumas tréguas, e cá estou eu...
O filme em si, não é uma obra prima. Mas as interpretações de Philippe Noiret, e principalmente, de Massimo Troisi, o poeta-carteiro de Pablo Neruda e pai do pequeno Pablito, são extraordinárias...
O mais curioso (para não lhe chamar trágico...) em toda a história deste "carteiro", é a sua morte no filme, durante uma manifestação comunista, sem ver o seu filho crescer, e no mundo real, de ataque cardíaco, sem ter tido a possibilidade de saborear a sua nomeação para o óscar de melhor actor...

quinta-feira, setembro 20, 2007

O Meu Livro da Primeira Classe


No início do ano lectivo fico atento à algazarra que se ouve na proximidade das escolas para conferir se ainda é o mesmo que se ouvia na minha aldeia, quando havia crianças e a escola abria, pontualmente, todos os anos.
Os livros e o material escolar eram então mais escassos, o que me leva a cobiçar as volumosas mochilas, recheadas de livros, de cadernos e de auxiliares pedagógicos que também dei às minhas filhas e que agora vou espreitando nas prateleiras das lojas, com enorme vontade de comprar.
No meu tempo, havia o livro único para cada uma das classes obrigatórias e, para além do livro, tínhamos uma lousa, um ponteiro, um giz, uma pena, um lápis, às vezes meia dúzia de cores, um caderno de linhas, que na primeira classe era de duas, para que as letras saíssem alinhadas e da mesma altura. E uma sacola modesta de serapilheira que transportávamos a tiracolo para ficarmos com as duas mãos livres para correr, para brincar, para lutar. Tudo com parcimónia como era norma, nesse tempo do livro único!
Desde então, guardei na memória o meu Livro da Primeira Classe e procurei-o durante anos, para lhe voltar a encontrar o cheiro, as cores, o tamanho e o toque.
Encontrei-o, finalmente, não uma reprodução qualquer, mas o próprio, o verdadeiro, ele mesmo, já usado, com algumas folhas soltas, mas completo. Nunca mais o vou perder!
Tinham passado mais de cinquenta anos, mas o cheiro ainda lá estava, as figuras de cada página eram-me familiares e ainda sabia de cor grande parte das lições.
Desde então guardo-o com usura e desfolho-o de longe em longe com todo o cuidado, não vá ele desfazer-se, e quem quiser tê-lo nas mãos tem que me dar garantias de que sabe manusear livros preciosos, ou que está disposto a aprender.
Por estes dias voltarei a abrir o meu livro da primeira classe, com a algazarra de crianças em fundo, e não deixarei de conferir se alguma das primeiras letras se apagou ou se alguma figura se escondeu, sem me dizerem nada.

Joaquim Nascimento

segunda-feira, setembro 17, 2007

Outro Largo da Memória...


Eu sabia que o nome deste blogue não era original.
É por isso que faço, com todo o gosto, referência a um outro "Largo da Memória", o livro de contos de Homero Serpa.
Homero Serpa é um jornalista desportivo que fez parte do mais célebre quinteto do jornalismo desportivo, com quem aprendi a gostar e a perceber de futebol, de desporto e de tantas outras coisas...
Estou a falar de Carlos Pinhão, Alfredo Farinha, Carlos Miranda, Vitor Santos e Homero Serpa.
Conheci os três primeiros, especialmente o Carlos Pinhão, uma das minhas grandes referências no jornalismo.
Homero Serpa, não conheço pessoalmente, embora me seja bastante familiar, nas suas crónicas e nas suas histórias...

sexta-feira, setembro 14, 2007

A Bela Natália


Ontem também se comemorou o aniversário do nascimento de Natália Correia (1923 - 1993).

É por isso que vos ofereço o seu "Auto-Retrato" (in Poemas, 1955):

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.