segunda-feira, julho 31, 2017

«O que é bom acaba-se depressa»

Embora seja uma frase batida, é tão verdadeira. E não há volta a dar. «o que é bom acaba-se depressa».

As férias são isso mesmo. Sim deviam ser gozadas mais vezes, pelo menos três vezes por ano. E podiam ser apenas três períodos de oito dias. Toda a gente ficava a ganhar...

Claro que no meu caso pessoal, regresso sem o drama de ter patrões e chefes à minha espera. Mas é como o mestre Lagoa gostava de dizer: «goza-se mais, mas também se sofre um pouquinho mais.»

Basta-nos tentar encontrar o equilíbrio, para o qual até nem é preciso que se encontrem pratos de balança em qualquer feira de rua...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, julho 27, 2017

Pessoas Sempre Velhas...


Há pessoas que nos dão a sensação de terem sido sempre velhas.

Umas porque envelheceram cedo, outras porque já as conhecemos numa idade madura... 

Outras porque provavelmente só foram fotografadas já numa fase adiantada das suas vidas.

Um exemplo é Pablo Picasso. Não conheço uma fotografia sua em que ele não esteja já quase sem cabelo e o pouco cabelo que tem é cinzento claro.

Mesmo quando está bem acompanhado, como nesta imagem, com François Gillot, de 1948, na praia, uma das suas muitas companheiras, de uma vida que parece ter sido bastante jovial, contrariando o seu "ar de avô"...

(Fotografia de Robert Capa)

sábado, julho 22, 2017

Estou e Não Estou...

(Claro que não estou... mas para o "Largo" não estar completamente ao abandono, finjo que estou...)

E até me apetecia estar na Foz do Arelho, a levar "tareia" daquele mar que fala... mas estou mais a Sul...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, julho 15, 2017

Escrever e Acrescentar Palavras...

Estou a escrever estas palavras e a acrescentar outras palavras a um papel "auxiliador de memória".

À medida que os anos vão avançando, sentimos cada vez mais necessidade de recorrermos a listas, especialmente quando nos deslocamos de um lugar para o outro. 

E se formos para férias, a lista "cresce" mais, porque quase que queremos "levar a casa às costas"...

Já escolhi os livros que vou levar para ler, mas acho que ainda vou trocar um ou outro. Como de costume o computador fica de férias em Almada.

Para que o "largo" não fique completamente abandonado, há pelo menos uma "posta" programada por semana.

Até um dia destes.

(Óleo de Karen Hollingsworth)

sexta-feira, julho 14, 2017

Eu Escolhia, "Indiferença"...


Este quadro do meu conterrâneo, José Malhoa, que me habituei a ver desde pequeno, representado em tamanho grande pela estátua que dá às boas vindas aos visitantes do seu Museu, no coração do Parque das Caldas da Rainha, tem "oficialmente" dois títulos.

Tanto pode ser o "Atelier do Artista" como "Descanso do Modelo". 

Mas eu preferia chamar-lhe "Indiferença". De um lado está o artista a fumar um cigarro e a ver o esboço, do outro está a modelo a olhar para outras telas, enquanto o tempo vai passando, sem se esquecer que é paga à hora... Por muito desconfortável que seja estar ali, apenas com um trapinho a fingir que esconde alguma coisa do seu corpo.

(Óleo de José Malhoa)

quinta-feira, julho 13, 2017

Que Bem que se Está no Oeste...


Saio de Almada, já depois das onze da manhã, com trinta e vários graus de temperatura.

Antes de me aproximar de Torres Vedras sinto que o tempo está a mudar... Não é apenas o céu que perde o seu azul vivo, a temperatura vai baixando (mesmo que o termómetro do carro não seja o mais fiável...).

Quando chego às Caldas sinto um vento delicioso no ar e uns não menos saborosos vinte e seis graus.

É mais que caso para se dizer: que bem que se está no Oeste...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, julho 12, 2017

A Publicidade Feliz


Há cartazes de publicidade que me deixam parado a olhar.

Este é um deles. Só que ainda não me tinha cruzado com a sua versão mínima de "táxi"... e também gostei.

Sei que a publicidade é muito sexista. Mas também sei que não há nada melhor que uma mulher bonita para fazer com que o trânsito rode mais devagar...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, julho 11, 2017

A Moral é Para os Outros...

A moral é para os outros. Sempre foi assim, ainda antes da "sabedoria popular" libertar a pérola «faz o que eu digo, não faças o que eu faço». E também antes do Salazar ser "rei sem coroa", pois apesar dele ter um bom costado, não tinha costas para todas as coisas que lhe atiram hoje para cima...

Não sei quando é que os espertos apareceram por aqui, mas desconfio que foi logo depois do Adão e da Eva terem deitado fora as parras.

Foi por isso que voltámos a presente...

Na religião, na política e no futebol é onde se segue mais à risca este "princípio".

Foi praticamente o único ponto em que estivemos todos de acordo, ao sabor do nicola e do cheirinho de medronho. 

Houve quem quisesse introduzir os prostíbulos para a conversa, mas não pegou. Nem sequer se pode falar de moral nestes lugares de comércio. São quase talhos, onde se podem alugar "bifes", como muito bem disse o Diogo.

Começámos e acabámos sem sair da frase, mas ainda mais convictos, de que a moral é mesmo para os outros...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, julho 10, 2017

Fim de Tarde de Domingo...

Nós sabemos que daquele miradouro se vê muita coisa. Desde o Cristo Rei ao Tejo-Mar, passando pela Cerca, pela Torre da Câmara, e claro, de quase toda a margem do rio, do Ginjal à Arealva, e também de Lisboa, de Belém (sim vê-se a Torre...) até às docas do Oriente (quando o rio curva...).

Foi por isso que subimos...

Esquecemos que hoje os pintores já não param em Almada para ver com olhos de hipnotizador a sempre bela Lisboa, memorizando cores e lugares... Sempre que podem culpam a fotografia por lhes ter roubado o prazer de pintar "retratos"...

O Jardim do Castelo também perdeu importância, parece "esquecido": o coreto não recebe bandas de música, antigas ou modernas, o parque infantil raramente agarra uma criança, o miradouro também já recebeu mais turistas. Até o restaurante que já foi de modas, parece ter perdido o brilho...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, julho 09, 2017

Lojas e Bares com Mais Cor e Vida...

O mais que batido empreendedorismo - usado como bandeira política sempre que dá jeito - acabou por ser uma consequência natural da crise e da "invasão" da troika e do fmi, que tão maltrataram o país e os portugueses. 

Foi a resposta "forçada" de muito boa gente, que precisava de arranjar uns euros para a sopa e para as batatas com atum e o arroz com salsichas. 

Quem tinha e tem bom gosto conseguiu transformar muitos espaços vulgares, fechados e abandonados, em lugares que permanecem especiais...

Não sei qual é a história do bar lisboeta, "House of Corto Maltese", sei apenas que é um lugar bonito.

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, julho 08, 2017

A Publicidade (selvagem) de Parede

É possível encontrarmos sempre qualquer coisa de belo no grotesco.

Embora a colagem de cartazes nas paredes seja quase sempre um atentado ao bom gosto, existem excepções. Por exemplo, há zonas degradadas que ganham alguma vida com as cores da publicidade, de cinema, teatro ou concertos. 

Há um pouco de selvajaria neste jogo de colagens (cola-se sempre em cima de alguma coisa, mesmo que ainda não tenha acontecido...), tal como existe nas "pinturas de parede".

Mesmo assim, gosto de tirar fotografias aos dois exemplos...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, julho 07, 2017

Ter de Esperar e Ficar por Ali às Voltas...


Não gosto de esperar. Muito menos mais de uma hora.

Nem mesmo a prática do jornalismo me deu "paciência"... Sim, houve algumas "prima-donas" do futebol que me fizeram esperar mais de  duas horas. E eu tinha mesmo de esperar porque não podia "fechar portas", nem deixar o jornal mal visto.

Hoje enquanto esperava fui dando voltas, tirando fotografias aqui e ali, subindo e descendo escadas, espreitando janelas, olhando quadros e fotografias que animavam as paredes.

Também desta vez era parte interessada... tinha de esperar, por mais um mau profissional, a juntar aos muitos que fazem deste país, o que ele de facto é... E que apesar de todo este "boomm" de gente a querer espreitar Portugal, deixa muito a desejar.

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, julho 06, 2017

Um Céu com Nuvens...

Hoje lá foi mais um dia com "quatro estações".

Gostei sobretudo do vento quase fresco do fim da tarde.

Na fronteira entre o Ginjal e a Fonte da Pipa, foi possível olhar o Tejo assim...

(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, julho 05, 2017

Mais de Quarenta Anos de Desconfianças e Medos...

Os políticos do "bloco central" nunca se conseguiram relacionar de uma forma normal com os militares. 

Nunca lhes perdoaram o facto de terem sido os verdadeiros heróis da revolução, e muito menos da "contra-revolução".

Vingaram-se de várias maneiras. A mais visível é o facto de nenhuma das grandes figuras de Abril ter atingido o posto de general. Salgueiro Maia, Melo Antunes, Vitor Alves, Otelo Saraiva de Carvalho ou Vasco Lourenço,  marcaram e marcam passo como coronéis...

Muitos dos políticos que foram ministros e secretários de Estado, a partir de 1976, nem sequer cumpriram o serviço militar obrigatório (talvez por isso, tenham conseguido acabar com este desígnio patriótico, que em muitos casos era único na vida de milhares de jovens, pois só na instituição militar percebiam o verdadeiro significado de palavras como disciplina, respeito, ordem e espírito de corpo...), ou seja, eram contra a instituição sem sequer perceberem a lógica da sua existência.

Outros mais sabidos tinham "medo", até por saberem que as grandes revoluções do país tinham tido como principais actores os militares. Foi por isso que andaram anos anos a nomear para as suas chefias oficiais generais conservadores e pouco incómodos (na gíria militar "lambe botas"...).

A única coisa a que não podiam fugir era às obrigações que Portugal tinha com a Nato. Foi por isso que continuaram a gastar dinheiro em missões internacionais e em armamento (mesmo com exageros, como foi o caso dos submarinos do Portas...).

Alguns militares mais atentos foram lançando avisos ao longo dos anos, que eram desvalorizados tanto pelos políticos do costume como pelos jornalistas, que gostavam de os apelidar como a "brigada do reumático".

E agora somos notícia no mundo, por um daqueles acontecimentos, que quase parecem anedota (se puderem leiam a crónica de hoje do Ferreira Fernandes no "D. Notícias"...), mas aconteceu mesmo.

E como acontece sempre nestes casos, os políticos de direita da oposição - gente sem vergonha e sem memória -, "exigem" demissões, demitindo-se eles, como de costume, das suas responsabilidades (que não são menos que as do PS...) de mais de quarenta anos de governação contra a instituição militar.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, julho 04, 2017

O que Fazemos com as Memórias...


Eu sei que não damos o mesmo uso às memórias. 

Há quem as esconda num baú e tente fugir-lhes para todo o sempre, mesmo que isso seja uma impossibilidade. E há quem conviva diariamente com elas, como é o meu caso. Quando se faz trabalho de investigação, acabamos por andar sempre metidos dentro das memórias, nossas e dos outros.

É  também por isso que sei que é normal sermos selectivos, guardarmos os melhores bocados das nossas vidas nos "bolsos" mais à mão. Como diz o Fernando, precisamos sobretudo dessas memórias, para nos aguentarmos e mantermos-nos à tona da vida...

Os melhores alimentos para esta "memória intemporal" são as imagens e os objectos que de vez enquanto nos aparecem à frente. Não há nada como uma fotografia ou um pequeno instrumento, ou artefacto, para nos levarem de viagem por lugares e gentes...

Eu por exemplo, ao olhar uma das mulheres deste quadro, lembrei-me que não havia casa do antigamente que não tivesse uma bilha de barro, para manter a água fresca...

(Óleo de Santiago Rusinol)

segunda-feira, julho 03, 2017

Quase o Melhor Prédio do Mundo...


Quatro casas alugadas depois, sente que conseguiu o equilíbrio necessário entre um bom espaço físico e uma paisagem humana secundária, cumpridora da frase feita, "vive e deixa viver".

Quando lhe dizem que mora no "prédio dos velhinhos", sorri, mas o que lhe apetece dizer é que mora quase no melhor edifício do mundo.

Lembra-se vagamente de cães a ladrarem, de criancinhas a chorarem, mas sobretudo da gente bruta que entrava no prédio depois da uma da manhã quase aos gritos, e que quando entravam em casa, não dispensavam o bater com a porta, como se o eco desta fosse um "despertador" para a vizinhança.

Uma vez chamou a atenção ao casal de trintões que morava à sua frente. Responderam-lhe com maus modos e olharam-no de alto a baixo com olhares quase assassinos, oferecendo-lhe outra frase batida, "quem está mal muda-se". E ele assim que pôde, mudou-se mesmo. 

É por isso que em apenas dois anos já vai na quarta casa (bateu o recorde de permanência nesta última, sete meses), mas tudo indica que é para continuar, até por gostar das vistas, do bocadinho de Tejo que consegue ver se se colocar em cima de um escadote na janela da sala.  

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, julho 02, 2017

O Lado "Vampiresco" da Política...


Há muitas coisas que me incomodam na política e no jornalismo especializado.

Uma das mais irritantes é o lado "vampiresco" dos seus múltiplos actores, sejam eles políticos, comentadores ou jornalistas.

Sempre que acontece uma desgraça, o que todos eles querem é "sangue", começam logo por pedir demissões (muitas vezes parece ser a sua única preocupação, como se elas por si só resolvessem alguma coisa...).

Gostava de os ver tão assertivos na assumpção de responsabilidades em matérias tão delicadas como as que continuam a fazer manchetes nos jornais, nas rádios e nas televisões, a tragédia dos incêndios e o recente roubo de material de guerra numa unidade militar. E fundamentalmente na procura de erros graves e dos seus culpados, e não na aposta do seu "esquecimento"... 

Sim, porque este assobiar para o lado constante, sem que se avance com as reformas tão necessárias, quer no planeamento e ordenamento do território  de um lado, quer das forças armadas de outro (há largos anos que se tenta gastar o mínimo possível com os militares, Portas e os submarinos, são a excepção nas últimas duas décadas...), só pode dar desgraça atrás de desgraça... 

sábado, julho 01, 2017

Um Livro que Merece uma Boa Discussão...


Embora leia e escreva muito, nunca fiz parte de nenhum clube de leitura (os clubes de escola não contam...). 

Nos últimos anos recebi um ou outro convite para fazer parte desta "corte de amantes de livros", mas dei sempre a mesma desculpa: a leitura é um acto solitário, onde normalmente apenas admito a presença dos "meus fantasmas".

E na verdade não sinto muito a necessidade de discutir os livros, até por saber que não lemos para o mesmo lado nem da mesma forma. Embora a história seja a mesma, a maneira como sentimos as personagens é quase sempre diferente. É um pouco como a vida, "joga-se" muito com a empatia e os seus contrários...

Mas o livro que acabei de ler fez-me sentir pela primeira vez, vontade de o discutir, quase da primeira à última página. Falo de "A Sétima Função da Linguagem - quem matou Roland Barthez?", de Laurent Binet.

Felizmente todos os anos leio pelo menos um livro que me deixa, não só a pensar, como com vontade de escrever mais e melhor (o tal romance que me foge das mãos há vinte e tal anos...).

Não vou contar a história (que nem parece ser grande coisa, tal como o título - mas que é muito estimulante, não tenham qualquer dúvida), não só pelo seu absurdo, mas também porque não é sobre isso que me interessa escrever.

O que eu gostava mesmo de discutir é a utilização das personagens secundárias reais numa ficção, quase tudo gente grande da cultura e até da política francesa. Dos chamados intelectuais da "alta cultura francesa" (e arredores), Binet não deixou um único de fora (além de Barthes, aparecem Foucault, Derrida, Lévy, Althusser, Sollers, Kirsteva, Eco, Jakobson, etc).

Era como se eu escrevesse um  livro e colocasse por lá Saramago, Lobo Antunes, Graça Moura, Pacheco Pereira, Pulido Valente, Eduardo Lourenço, misturando a realidade com a ficção. E pelo meio ainda podia oferecer papéis a Mário Soares ou Álvaro Cunhal (que intelectualmente são com toda a certeza mais estimulantes que  um Miterrand ou um Giscard...).

E pensar que só comecei a ler este livro por teimosia... Achei que desta vez devia ler o livro (ao contrário do que aconteceu com os outros) que me foi oferecido pela revista "Ler", pela renovação da assinatura. E fiz muito bem, porque o seu autor consegue escrever um grande romance, quase a partir do nada (será isto "a sétima função da linguagem?")...