segunda-feira, agosto 31, 2020

Que Bem que se Está no Campo...


Se quisermos que os relógios tenham horas com mais minutos, a única alternativa é passarmos uns dias numa aldeia do interior, mas daquelas que não fazem parte dos circuitos publicitários televisivos, que vende de uma forma quase forçada, a ideia do "faça turismo cá dentro".

De repente é possível ler (muito...), conversar sobre tudo e mais alguma coisa (até da "irmã Lúcia" ou de "extraterrestres"...), dentro da noite, ilustrada com um céu cheio de estrelas... e até receber a visita diária nocturna de uma raposa, que nunca se aproxima demasiado, porque deve conhecer algumas das manhas dos humanos. 

E claro, para combater os quase quarenta graus, nada melhor que aproveitar a água da barragem, com a possibilidade de  ficar por ali até ao pôr do Sol, que até consegue pintar os corpos de um tom quase dourado.

Mas tudo o que é bom tem os dias contados... e sem darmos por isso, os tais "dias longos" chegam ao fim... e regressamos à "civilização".

(Fotografia de Luís Eme - Barragem de Idanha-a-Nova)

sábado, agosto 29, 2020

Fragilidades Humanas...


Eu sei que as separações deixam marcas (visíveis e invisíveis...).
Mas não estava de todo à espera, que os seus olhos fossem tão reveladores.

Olhei-a apenas por breves instantes.
E não gostei nada de a sentir tão frágil...

Foi quando voltou a colocar os óculos e fingiu ir ver o Tejo...

(Fotografia de Luís Eme - Quinta da Arealva)

quinta-feira, agosto 27, 2020

«Olha, mais um maluco!»


Não mudámos assim tanto.

Nos nossos dias quando alguém aparece a questionar tudo e todos, começam por o olhar de lado. Se ele rebate algumas questões com novas ideias, a primeira coisa que dizem é: "Olha, mais um maluco!"

Continuamos a ter dificuldade em lidar com a diferença...

(Fotografia de Luís Eme - Lagoa de Santo André)

terça-feira, agosto 25, 2020

«Escrever é pensar com a cabeça e com as mãos ao mesmo tempo»


Às vezes lembramo-nos de coisas tão simples, que já devem ter sido pensadas por milhares, ou mesmo milhões de pessoas, por esse mundo fora.

Como acontece com a frase: «Escrever é pensar com a cabeça e com as mãos ao mesmo tempo.»

É apenas senso comum (e até lugar...).

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

domingo, agosto 23, 2020

Não Vale a Pena Pensar Muito, Mas...


Em nome da sanidade mental de todos nós, é bom não pensarmos muito, em tudo o que perdemos em menos de meia-dúzia de meses.

Mesmo que nada disto tenha sido "fabricado", contraria tudo aquilo que tenha a ver com liberdade. Especialmente a de movimentos...

Tenho cada vez menos dúvidas que estes tempos são quase uma "festa", para quem tem tiques autoritários e gosta de usar os outros como se fossem meros objectos. Hoje é mais fácil arranjar formas de se perpetuar no poder, aproveitando a "crise" e o "adormecimento" das pessoas, que ontem.

Não é que o Costa seja "anjinho" (começou por aproveitar bem a deixa do Rio, para passar a ir menos vezes ao "tribunal parlamentar"...), mas se o PSD estivesse no poder, com o "quer posso e mando" do seu secretário geral, seria pior, até nos podíamos ir aproximando da Turquia, ou da Hungria. Não é por acaso que ele nutre alguma simpatia pelo Chega...

É por isso que não nos devemos abstrair totalmente do mundo que nos rodeia, por muito que nos apeteça "desaparecer"...

(Fotografia de Luís Eme - Quinta da Arealva)

sábado, agosto 22, 2020

Olá Mar Meu, Azul!


Sei que o Atlântico vai variando, à medida que vamos descendo de Norte para Sul. Varia de tonalidades e também de intensidade.

Aquela que gosto de chamar "a praia da minha vida" (Foz do Arelho) é muito povoada de cinzentos e o mar é quase selvagem, adora fazer-se ouvir.

As águas só começam a mudar realmente de cor, depois do Tejo abraçar o Oceano, já na margem sul. E também acalma, ligeiramente.

Mas é depois do Sado que ele adquire um azul, azul... que vai melhorando, até ficar muito próximo do "azul marinho"... basta que continuemos a descer para Sul...

(Fotografia de Luís Eme - Foz do Arelho)

sexta-feira, agosto 21, 2020

"Os Cavalos da Praia"...


Há quem goste de passear a cavalo à beira-mar.

E há quem viva dos passeios que proporciona a cavalo, com passagens pelo nosso areal amarelo, sempre com a cumplicidade e (alguns salpicos) de um Oceano vibrante e cantante...

(Fotografia de Luís Eme - Melides)

quinta-feira, agosto 20, 2020

O Nosso Único "Super-Herói"...


Marcelo Rebelo de Sousa é único. É um produto televisivo do melhor. 

Talvez o seu primeiro grande sonho da sua vida fosse pisar os palcos como actor. Inconstante, imaginativo e "fala-barato",  como todos nós (ou um pouco mais...), sonhou ser muitas outras coisas, desde "apresentador de telejornais"... até "presidente da república"...

Se durante antes andou divertido a "fabricar factos", a partir de certa idade, percebeu que era melhor ter "amigos" que  "inimigos". Farto de ter de andar a tirar "pedrinhas dos sapatos", foi à missa e de joelhos deve ter prometido ao seu Deus, que a partir dali, iria ser "o melhor de todos os homens". 

Esta é uma das muitas explicações para este Marcelo que nos acompanha, diariamente (ele não tem domingos nem feriados...), que passa pelos intervalos da chuva, do sol e consegue estar onde sente que a sua presença faz sentido (engana-se uma ou outra vez...).

Nem mesmo os outros produtos concorrentes existentes (as Cristinas...), alguma vez conseguirão comunicar e ter o sucesso que ele tem. Falharão sempre em algo que ele é exímio. Sim, que isto de beijar velhinhas de todos os estratos sociais, servir refeições a gente "sem-abrigo" e ter uma palavra amiga para oferecer a todos eles, e claro, fazer parte de álbuns de fotografia de quase todos os portugueses... deve ser único no mundo.

Toda esta prosa porque ontem à noite "apanhei uma frase no ar" aqui por casa (a minha vida também é apanhar frases no ar...), num diálogo virtual entre o meu filho e os amigos, que diz quase tudo sobre o que a generalidade dos portugueses pensam dele: «O Marcelo até vai salvar pessoas. É impossível ser melhor do que isso.»

(Fotografia de Luís Eme - Quinta da Arealva)

quarta-feira, agosto 19, 2020

"O Fotógrafo que Fazia as Pessoas Bonitas"


Ontem contaram-me uma história deliciosa, que nem sequer tentei confirmar, para não quebrar a quase "magia" das palavras.

Uma conversa normal sobre retratos fez com que uma amiga recordasse a avó materna, que sempre morou no Barreiro, localidade onde passou algumas férias inesquecíveis na meninice.

Ela estava no começo da adolescência e como precisava de tirar fotografias tipo passe para  renovar a matricula, a mãe  telefonou à avó, para combinar a melhor hora para a vir buscar. 

A avó disse que não era preciso, também havia fotógrafos no Barreiro. Acrescentando de seguida que havia um, que era tão bom, que até conseguia que as pessoas feias ficassem bonitas nos retratos que tirava.

A mãe veio buscá-la mas nunca esqueceu esta história e ficou sempre com pena de não ter conhecido "o fotógrafo que fazia as pessoas bonitas".

Estava a falar, nada mais nada menos, que do mestre Augusto Cabrita, o  fotógrafo preferido da Amália...

Adorei esta quase confidência, sobre um das poucas pessoas das culturas de quem nunca ouvi ninguém dizer mal (nem mesmo fotógrafos...).

(Fotografia de Luís Eme - Barreiro)

terça-feira, agosto 18, 2020

Fugir do Óbvio (ou não)...


Quem não passa a vida a "pedinchar", o que quer que seja, vive num país ligeiramente diferente do real, onde a "cunha" e o "compadrio" acabam por fazer parte do dia-a-dia de qualquer profissão.

Às vezes juntava-se a nós na esplanada um rapaz já aposentado, com um sentido de ironia muito peculiar. Vitima do sistema, gostava de falar da marca de elevadores "cunha", os mais utilizados nos serviços públicos por onde andou.

Toda esta "lenga-lenga", porque um amigo meu, poeta, avesso a este país que continua dentro livros do Eça, contou-me a história de um editor - que por um mero acaso também escrevia versos -, que sempre que ele se tentava aproximar, fugia dele a sete pés. Claro que acabou por desistir de tentar falar com ele. E pensar que a única que lhe queria dizer, era que tinha gostado muito do seu livro de poesia...

Ao falar com outros amigos do meio, percebeu que ele fazia isso com "quase toda a gente" que escrevia, porque achava que "quase toda a gente" que metia conversa com ele "queria qualquer coisa"...

Por detestar generalizações sentiu-se indignado, e nunca mais tentou falar com o senhor. 

Quarenta anos depois foi o editor que tentou falar com ele, queria pedir-lhe autorização para publicar um seu poema numa antologia. O meu amigo olhou-o nos olhos, antes de lhe virar as costas, sem dizer uma única palavra... Embora me dissesse depois, que teve muita vontade de o mandar "barda merda".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, agosto 17, 2020

Andar à Volta do "Pântano"...


A maior parte dos lares que existem de Norte a Sul, são uma vergonha nacional.

Foram criados com um único intuito: ganhar dinheiro. 

É por isso que a maior parte das pessoas pagam condições de habitabilidade e de assistência que quase nunca terão, se esquecermos alguns lares "milionários" (onde curiosamente o "bicho" também entrou...), que só estão ao alcance de poucos. 

Como acontece com todos os "terrenos pantanosos", também estes são demasiado férteis, não sendo por isso de estranhar o aproveitamento político que a oposição de direita está a fazer deste "negócio".

O que me incomoda é que só há vontade de "apontar os dedos" ou de arranjar "bodes espiatórios", e não de obrigar o Estado a tomar medidas sérias e urgentes, fechando todos os lares que não oferecem as condições mínimas de higiene, segurança, alimentação e assistência médica.

Mas para os políticos, o que é mesmo bom é andar à volta das coisas, como se a vida não passasse de um "carrossel"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

domingo, agosto 16, 2020

É Preciso Acreditar, ter Esperança - e Lutar!


Ontem, durante as notícias televisivas da hora do almoço, foi impossível não ficar emocionado com as imagens de Minsk, a Capital da Bielorrússia, quando vi os polícias a baixarem os escudos de protecção, durante uma manifestação de protesto contra o ditador - que se quer manter a todo o custo na presidência do país -, acabando por serem abraçados espontaneamente pelos manifestantes, que lhes decoraram os escudos com flores.

Mesmo que esta gente que só gosta dela própria, crie mil e um mecanismos para se perpetuar no poder, através da repressão e do medo, há um dia que sairão derrotados pela força de toda uma nação. 

Sim, quando o povo  sai em para a rua em massa, nada mais continuará igual.

E não tenho dúvidas de que será bom para todos nós, Europeus, se os escudos floridos  dos polícias e militares, significarem o fim do totalitarismo de Lukashenko na Bielorrússia.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sábado, agosto 15, 2020

Os "Donos dos Donos"


Enquanto escrevo já passaram pelo lado de fora da janela meia-dúzia de cães com os seus donos. O facto de morar num lugar sossegado da cidade e com pequenos espaços quase campestres (excelentes "palácios das necessidades" para os animais...) , faz com que seja um lugar apetecível para os donos circularem, atrelados ou não, aos seus companheiros de quatro patas.

Poucos dias depois da pandemia, as poucas pessoas que se viam a passear na minha rua, andavam todas atrás dos seus cães. Foi por isso que a minha filha disse não fazer ideia que existissem tantos animais da raça canina na nossa cidade... 

E alguns eram enormes. Deve ser uma grande "ginástica" conseguir manter estes animais em casa...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

sexta-feira, agosto 14, 2020

As Nossas "Prisões" de Duas e Três Assoalhadas...


Um dos problemas que o confinamento colocou à maior parte das pessoas, foi o espaço reduzido com que se vive nas cidades... Não foram precisos muitos dias para descobrirmos esta nossa vida, quase de "prisão", fechados nos nossos apartamentos...

De repente lugares quase sem uso, como quintais, por muito pequenos que fossem, assim como algumas varandas, tornaram-se lugares apetecíveis, para se respirar no lado de fora do mundo.

Embora quem viva em vivendas também se possa ter sentido "prisioneiro" - todos perdemos a rua... -, já estou como o outro: "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".

Todos aqueles que não têm uma segunda habitação, na praia ou no campo, sentiram-se ainda mais "prisioneiros". Nem sequer podiam olhar o calendário e escolher uma data para passar um fim de semana longe deste pesadelo, que como todos já percebemos, veio para durar...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)

quarta-feira, agosto 12, 2020

A Rábula do Costume: "Mudar Tudo", para que "Fique Tudo na Mesma"...


Nunca existiu no nosso país uma política cultural, com cabeça, tronco e membros, ou seja, o mundo das Artes e Letras nunca foi levado a sério pelo Estado. A maior parte dos políticos só se lembravam (e lembram...) da cultura pouco tempo antes de eleições, para fazer promessas - que sabiam (e sabem) que não iriam cumprir - e sobretudo para terem ao seu lado os "artistas da moda", capazes de lhes garantirem sorrisos, palmas e votos.

A Revolução de Abril prometeu muito, mas como aconteceu em tantos sectores, a "montanha pariu o rato" do costume...

Claro que a generalidade das pessoas, ligadas ao mundo cultural, também têm muitas culpas, porque nunca se uniram na defesa dos seus direitos. Não há uma história de um teatro ter deixado de exibir uma peça, por os seus actores e encenador, se recusarem a apresentar o seu trabalho ao público (pelo menos que seja do meu conhecimento...), ou de um grupo de músicos abandonarem o palco, em protesto. 

As coisas são o que são...

Mas grave, grave, tem sido o papel da actual ministra da Cultura, que mete os pés pelas mãos, as mãos pelos pés, acenando com uns euros para meia dúzia de artistas (os músicos que vão dando uns espectáculos aqui e ali ou a meia dúzia de artistas plásticos a quem o estado adquiriu obras de arte...), esquecendo os outros.

Vários meses depois, lá abriu umas linhas de apoio, para quem está mesmo a passar dificuldades. Mas as dificuldades burocráticas devem ser de tal ordem, que muitos deles, não deverão conseguir ter acesso a estes apoios...

Como este governo - tal como o presidente da República - "têm o hábito de tapar o Sol com a peneira", quando tudo isto acabar (se é que acaba...), iremos perceber que a "rábula" do costume continua em cena, ou seja, "muda-se tudo" para que "fique tudo na mesma".

(Fotografia de Luís Eme - Vila Franca de Xira)

terça-feira, agosto 11, 2020

"Afinal o Dinheiro é Quase Tudo"...


Só uma crise enorme como a que vivemos é que seria capaz de provocar a discussão sobre alguns dos problemas, que sempre afectaram os agentes culturais no nosso país.

Embora a maior parte das questões que se levantam hoje, sejam de ordem material, por estar em causa a própria sobrevivência de milhares de pessoas. Estamos a falar de um sector que sempre funcionou em "roda livre", em que a maior parte das pessoas são trabalhadores independentes (só ganham se trabalharem...). E provavelmente iremos ficar por aqui...

Embora muito boa gente já tenha percebido que a  vidinha que nos permite ganhar dinheiro a fazer aquilo que mais gostamos, está longe de ser perfeita, também não se esquece que é muito bom não ter de aturar "patrões" ou "chefes", daqueles que adoram "infernizar" a vida dos outros, nem tão pouco ter horários fixos de trabalho.

Quase todos eles foram avisados em casa dos pais, para o mundo que os esperava... E quase todos respondiam: "o dinheiro não é tudo".

A atracção por uma vida quase anárquica, com modos de vida diferentes dos outros cidadãos (muitas vezes quase em sentido contrário...), era altamente sedutora. E era normal que ninguém se preocupasse muito em estabelecer regras nas suas profissões. Mesmo que soubessem que nas várias actividades culturais, só meia-dúzia de pessoas é que ganhavam muito dinheiro (é quase como no futebol...). A maior parte dos artistas viviam o seu dia-a-dia, com meia dúzia de trocos no bolso, para a bica e para o almoço e fingiam que eram felizes.

E só uma crise como esta, era capaz de os lembrar que "afinal o dinheiro é quase tudo"...

(Fotografia de Luís Eme - Vila Franca de Xira)

segunda-feira, agosto 10, 2020

Tempos de Solidão...


Se tivesse de dar um título a esta fotografia seria, "Tempos de Solidão...".

Sei que é fácil encontrar por aí muitas esplanadas, cheias de gente... Mas também sei que há muito mais as pessoas, que passam a maior parte dos seus dias, fechadas em casa.

Pessoas que quase que só saem à rua para comprar os bens essenciais necessários para a sua sobrevivência... 

E nem vou falar da "solidão colectiva" (obrigatória...), das gentes que estão fechadas em lares, impossibilitadas de receber a visita das pessoas que mais amam...

(Fotografia de Luís Eme - Vila Franca de Xira)

domingo, agosto 09, 2020

Uma "Televisão" Cada vez Mais Pequenina...


Não consigo entender a quem é que serve esta televisão (a programação de todos os canais generalistas).

Quase tudo é feito sem ter conta qualquer critério qualificativo. Limitam-se a fazer programas, de manhã e à tarde, animados por cantores medíocres, com um único objectivo, usar e abusar da publicidade, cada vez menos encapotada, ao mesmo tempo que tentam angariar gente, refém de sonhos e ambições que as fazem gastar diariamente meia-dúzia de euros (pelo menos), para tentarem ganhar alguns milhares de euros ou um carro...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

sábado, agosto 08, 2020

As Coisas Boas que Ficam...


Houve muita coisa que ficou, do bom tempo que passámos na casa dos avós,  em Salir de Matos, especialmente nas férias grandes.

E não falo da presença, desde sempre, dos animais (uma autêntica "quinta pedagógica"..). Além dos dois bois, da burra, que eram animais de trabalho, havia os outros que faziam parte do que se poderá chamar, ciclo alimentar: as galinhas, os porcos, o perú - para o ano novo -, e por vezes também cabritos e patos. Animais mais exóticos, a única coisa que me lembro era de porquinhos da Índia, que também andavam à solta e quase não se deixavam ver...

Se o avô nos contava histórias, que tanto nos podiam encantar como assustar, a avó tenho um sentido muito mais prático da vida. Por exemplo, em relação ao pão, gostava de nos oferecer a imagem de algo sagrado, como parte do corpo de Cristo, e que o devíamos beijar quando caía no chão, dando o exemplo de que havia muita gente no mundo que queria um bocadinho de pão e não o tinha...

Se a parte sagrada se perdeu no tempo, a factual mantém-se. Hoje, tal como ontem, continua a haver muita fome no mundo, muita gente a querer um bocado de pão, mesmo duro, e a não o ter. E foi essa parte que nunca esqueci...

Lembrei-me disso porque fiz ao pequeno-almoço, algo que não fazia há anos: "sopas de café com leite" (pão partido em bocados, embebido no leite e no café). E sempre que deito fora pão duro, penso nos animais da "quinta pedagógica" dos avós, que faziam com que nenhum resto de comida fosse deitado fora... E claro, nas muitas pessoas que querem um bocado de pão e não o têm.

(Fotografia de Luís Eme - Salir de Matos)

sexta-feira, agosto 07, 2020

Das Primeiras Memórias...


Continuo a pensar que é uma das minhas primeiras memórias, mas pode haver alguma ficção misturada...

Do que não há qualquer dúvida, é que foi a primeira vez que atravessei o Tejo de Cacilheiro e visitei a Margem Sul. Devia ter quatro, cinco anos... 

O mais curioso, é que não me lembro de praticamente nada de Lisboa, apesar do programa ter sido atractivo. Sei que fomos ao Jardim Zoológico e à Feira Popular, mas destes lugares não retive qualquer memória.

Da única coisa que me lembro desta viagem das Caldas até à Capital e arredores, é de ir ao colo do meu pai, à janela do cacilheiro, e de ter ficado deslumbrado com a viagem e as águas do Rio. Também me lembro que os bancos eram de madeira, envernizados e pouco mais...

Depois fomos visitar o Cristo Rei. Também tenho uma vaga memória de ver tudo pequenino cá em baixo (tamanho de brinquedo), desde as pessoas que visitavam o santuário, até às barcas que navegavam no Tejo...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)

quinta-feira, agosto 06, 2020

Dizer Bom Dia aos "Livros Pacientes"


Embora possa não ser totalmente verdadeiro, tenho a sensação de que este ano tem sido o ano da leitura dos "livros pacientes". Desses mesmo, que me diziam bom dia ou boa tarde (alguns há já mais de duas décadas...) sem que eu lhes desse qualquer resposta...

Depois de me deixar seduzir pelo "Equador", de viajar com o "Lourenço Marques" e de ficar sensibilizado com "Nasci com Passaporte de Turista", agora estou à volta das "Páginas (III)" de Ruben A (e estou a gostar...).

Já tinha lido que o Ruben A era um tipo "louco" e mais coisas do género. Para um país salazarista, só podia ser algo parecido... Tem uma escrita leve, moderna e provocadora. Sente-se que não se intimida com as palavras e isso é quase sempre positivo.

Já tinha pensado ler a "Torre de Barbela", romance que foi "Prémio Ricardo Malheiros" em 1964. Agora vou mesmo lê-lo, um dia destes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

quarta-feira, agosto 05, 2020

O Futebol é uma "Mentira"...


Há muito tempo que sei que o futebol é uma "mentira", que quase todos os clubes vivem acima das suas possibilidades e que são dirigidos, muitas vezes, por gente que em vez de os servir, serve-se, sobretudo do que eles representam junto dos seus adeptos. Esta a explicação mais simples para que se veja muitos dirigentes a sairem ricos dos clubes, enquanto estes vão caminhando, ano após ano, para a falência...

Embora me custe ver o Vitória de Setúbal a caminho do futebol "amador", não se pode continuar a fingir que está tudo bem (se as leis fossem cumpridas isso já teria acontecido antes, mas se calhar só este ano é que existem apenas duas equipas que não cumprem as exigências da Liga, sendo por isso mais fácil empurrá-los para a III Divisão, que agora tem o bonito nome de Campeonato de Portugal).

Neste caso particular o clube sadino tem contado ao longo dos anos com a conivência do Município, que tem feito parte da SAD do clube (talvez sem este apoio o Vitória já não existisse...), e que tem fechado os olhos a muita coisa, por saber o peso que o futebol tem junto das populações. Pois qualquer medida impopular poderá colocar sempre em causa qualquer eleição ou reeleição...

O Vitória de Setúbal é um histórico, basta dizer que é um dos cinco clubes com mais presenças na primeira divisão. 

Durante largos anos foi uma "fábrica de talentos". Jaime Graça, Vitor Baptista, Octávio Machado, Jacinto João, José Mendes, Rebelo, Tomé, Mourinho, José Maria, Conceição, Torres, Quinito, Hernâni ou Hélio, são apenas alguns dos melhores exemplos, de jogadores de grande classe que vestiram as camisolas das riscas verdes e brancas.

E as equipas treinadas por Fernando Vaz e José Maria Pedroto do final dos anos 1960 e princípios de 1970, são inesquecíveis, Não só começaram a "morder os calcanhares" aos três grandes como praticavam o futebol mais vistoso do campeonato.

Se se concretizar a "descida", só posso desejar que volte rapidamente àquele que é o seu lugar, mas de preferência mais saudável financeiramente...

(Fotografia de Luís Eme - Setúbal)

terça-feira, agosto 04, 2020

O Vício da Arte (ou antes, a velha história de que "dinheiro chama dinheiro")...


Eu escutava-o curioso, enquanto ele ia passando de mão em mão, as fotografias dos quadros que tinha. Eram mais de duas centenas. Só uma dúzia é que estava exposta nas paredes de casa, o restante estava armazenado na sua quase "garagem-forte".

Alguns eram bastante valiosos... e isso é que contava. 

Mas foi sempre vendendo e comprando. Quando tinha um quadro que se valorizava mais, por isto ou por aquilo, vendia-o.

Foi futebolista durante mais de quinze anos. Mesmo sem ter sido uma "prima dona", jogou durante largos anos na primeira divisão e ganhou uns "cobres". Graças a um tio, antiquário, começou a investir em arte desde cedo (afinal não foi apenas o Artur Jorge ou o Oliveira que se habituaram a coleccionar quadros...).

Durante a conversa, nunca notei que houvesse por ali, algum orgulho, por ter uma obra deste ou daquele pintor. O seu entusiasmo fixava-se apenas no dinheiro. O importante era ter um quadro que tinha comprado por quinhentos contos (muito gosta ele de falar em contos...) e agora valia quarente vezes mais. Sem qualquer dúvida que eram animadoras, todas estas contas de multiplicação, mas...

Não era preciso ser muito inteligente, para perceber que ele nunca coleccionara obras de arte. Coleccionava sim, dinheiro. 

Ao contrário de tantos outros futebolistas, que nunca "amaram" o dinheiro e abandonaram os estádios com os bolsos quase tão vazios, como quando iniciaram a carreira... ele nunca esqueceu o que o avô lhe costumava dizer, que o dinheiro chamava dinheiro... desde que fosse usado com "cabeça".

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)

segunda-feira, agosto 03, 2020

Memórias Festivas de Agosto


Ontem, quando estava a escrever sobre Agosto, vieram-me algumas memórias de infância.

Sei que a maior parte das férias grandes eram passadas em Salir de Matos, na casa dos meus avós maternos. Fazíamos alguma praia (ainda me lembro de apanhar o "comboio-correio", que ia sempre cheio e sairmos em Salir do Porto e depois irmos a pé até à praia com mais rio que mar...), mas era sobretudo campo, muito campo.

No começo de Agosto realizava-se a festa da aldeia, com os bailaricos, que tanto animavam as pessoas... E antes do meio do mês os meus pais deviam vir buscar-nos, porque realizava-se a Feira do 15 de Agosto (que ainda se realiza hoje, mas sem o brilho de outrora e noutro lugar...). 

Na minha infância a feira ocupava as ruas principais da Mata Rainha D. Leonor e recebia milhares de pessoas. Recordo que o circo e os outros divertimentos, eram montados no campo de futebol do Caldas. Muitas vezes tínhamos visitas de tios (irmãos do meu pai, que viviam nos arredores da Capital ou na Beira Baixa...), que também aproveitavam para vir à feira...

Íamos quase sempre ao circo, e era uma animação... Especialmente os palhaços e os animais da selva (hoje está na moda ser contra os animais em cativeiro, mas tanta gente que viu pela primeira vez um leão, um tigre ou um elefante, graças aos circos...). 

Lembro-me também do fascínio que exercia sobre mim  e o meu irmão o famoso "Poço da Morte", que nos estava vedado (não era para crianças...). Limitávamos-nos a ouvir o ruído ensurdecedor das "motas voadoras" e a imaginar as acrobacias dos "ases do volante"...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)

domingo, agosto 02, 2020

A Liberdade neste Outro Agosto...


Este Agosto é diferente, tal como foram o Março, o Abril, o Maio, o Junho e o Julho.

Não quero, de todo, ser pessimista e dizer que a vida nunca mais será igual.  Até por pensar que essa é a vontade de uma mão cheia de governantes por esse mundo fora, que nos preferem ver quase "aprisionados", ou pelo menos, sem a liberdade de antes... 

É também por isso que temos de contrariar este ciclo exasperante, tão ao gosto desses governantes de um tempo, que podemos considerar quase maluco.

É possível viver com cuidado, sem descurar essa coisa única, que é a Liberdade...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)