terça-feira, setembro 30, 2008

Esta Lisboa, Gasta...

Sei que não é novidade nenhuma para ninguém, a forma como Lisboa tem sido maltratada nos últimos anos...

Sinceramente, tenho alguma esperança que Helena Roseta, consiga fazer algo de positivo, pela cidade e pelas pessoas, embora saiba que ela não faz milagres.
Quando a Rute escolheu uma frase de Gonçalo Cadilhe, do livro, "Nos Passos de Magalhães", em que ele diz que Lisboa está gasta, para dizer que não concordava, eu concordei com o Gonçalo. Comentei que também acho que Lisboa está gasta, pelo menos fisicamente.
Estou convencido que não há cidade nenhuma que consiga sobreviver normalmente, sem habitantes no seu "coração".
É por isso que acho que a grande aposta do Munícipio, deverá ser a recuperação e o aluguer de casas a casais jovens, que queiram viver e dar uma nova vida à Baixa Lisboeta. E não precisam de ser todos artistas, a diversidade é muito saudável...

Sem querer, foquei dois pontos polémicos, as casas da Câmara de Lisboa e o famoso "magalhães", menino dos olhos do primeiro ministro.
A fotografia, os "Porteiros", é de Robert Doisneau. Também em Lisboa, as pessoas de idade foram as últimas a fecharem as portas das suas casas, antes de passarem para as suas últimas moradas...

segunda-feira, setembro 29, 2008

O Centenário de Machado de Assis

Esta semana li várias peças jornalísticas, em se dizia que Portugal estava a passar ao lado do centenário do falecimento de Machado de Assis.

Sinceramente, acho que não. E então se colocarmos a questão, em relação à forma como se têm comemorado algumas efemérides importantes da nossa literatura, no Brasil, estamos falados...
A Casa Fernando Pessoa dedica o dia de hoje ao notável escritor brasileiro (um dos meus preferidos, a par de Jorge Amado, José Lins do Rego, Cecilia Meireles, Clarice Lispector e Nelson Rodrigues) e a Gulbenkian promove um colóquio também hoje e amanhã, sobre o romancista.
Os seus livros? Gostei bastante e recomendo as suas "Memórias Póstumas de Brás Cubas"...

sábado, setembro 27, 2008

Goodbye Paul

Paul Newman despediu-se de nós hoje.
Felizmente a sétima arte já tratou de o imortalizar, graças às dezenas de papeis memoráveis que o Paul nos ofereceu...

sexta-feira, setembro 26, 2008

Rouba-se de Tantas Maneiras...

Um daqueles pobres diabos, que são olhados de lado nas ruas e gostam de falar alto, atacou forte uma mesa de três bancários que estavam a almoçar na esplanada do café. «Ladrões! Vendidos!», foram as palavras mais suaves que escutaram, à medida que se deviam sentir, cada vez mais desconfortáveis, por os "holofotes" da vizinhança não os deixarem em paz...

Como nunca reagiram, limitaram-se a comer de cabeça baixa, o "louco" assim que esgotou o reportório foi-se embora...
Sorri para dentro, perante o quadro, mesmo sabendo que estava errado. Ele deveria chamar aqueles nomes aos banqueiros e não aos bancários, que saem sempre de cena mais ricos e sem culpa formada nas falências e nos negócios menos claros.
Quando disse que eram sempre os mesmos a roubarem o pão ao povo... a plateia ficou mais silenciosa, provavelmente por estar de acordo. Lembrei-me logo dos tipos das petrolíferas.
Continuei a andar, sem me esquecer desta frase. Sabia no último século se conseguiu esbater as diferenças entre as várias classes sociais, mas nunca se reduziu muito o fosso entre ricos e pobres (que infelizmente tem aumentado, com as últimas "cavalgadas" deste capitalismo selvagem que agora finge agonizar...).
Perguntei ainda, para os meus botões, porque será que os "loucos" são os únicos que se atrevem a falar alto nas ruas, a dizer uma série de coisas verdadeiras e a apontar o dedo a quem de direito?
Nós que nos achamos com o juízo quase todo, nem sequer nos podemos refugiar nas leis deste país, pois a liberdade de expressão, ainda não foi banida...

A fotografia é de Alfredo Cunha, do álbum, "Naquele Tempo".

quarta-feira, setembro 24, 2008

O Sonho Livre de Anyana


Sonho Livre

Tenho ânsia de correr
E fugir desta forma de mulher
De correr o mundo inteiro
O mundo que me pertence
Enquanto nele viver
Enquanto o tempo quiser
Tenho ânsia de correr
Em continuo deambular
Toda a raça conhecer
A todos poder amar
Tenho sede de calma, de paz
Tenho fome doutro ar
Deixai-me vida, tempo para o inspirar
A ver o sol morrer a ver o sol nascer
Do mirante dos meus sonhos
Deixai-me mundo, correr.

Esta é uma singela homenagem a Anyana, amiga e poetisa de Cacilhas, que nos deixou ontem.
Que o seu sonho se concretize e continue a correr no Paraíso...

segunda-feira, setembro 22, 2008

O Outono Começa Hoje...

O Outono começa hoje...

com de costume,
ele promete trazer uma mão cheia de coisas.
(nem sequer estava a pensar na chuva de madrugada...)
Contrapõe a nostalgia que se sente da estação leve e quente,
com a frescura no começo da manhã e ao fim de tarde,
o aconchego das roupas mais quentes,
os dias mais curtos e nocturnos,
os dourados das folhas que "pintam" o chão,
os cinzentos das nuvens que enchem o céu...
e também a água-pé e o vinho novo,
as castanhas que perfumam as ruas de Lisboa...
e alguma chuva, pois...

O óleo "Outono" é de José Malhoa.

sábado, setembro 20, 2008

Uma Grande Senhora da Música

Ontem gostava de ter assistido ao serão musical de Maria João Pires, no Centro Cultural de Belém, em que contou com a companhia de Pavel Gomziakov (violoncelo) e Rufus Müller (tenor), inspirado na obra de Beethoven.

Apesar do seu ar aparentemente frágil, Maria João Pires é uma das grandes mulheres do nosso país.
Com a excepção de Amália, que foi um caso único no mundo, Maria João terá sido a primeira mulher, pós Abril, a conseguir a consagração mundial, como pianista de excepção.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Paisagens de Outros Tempos (9)

Quem diria que o Cais Sodré, no século XIX, albergava várias barracas, maioritariamente das pessoas que viviam do rio, os pescadores do Tejo e as varinas que subiam e desciam as sete colinas de Lisboa...

domingo, setembro 14, 2008

Um Areal e um Mar Especial

Qualquer praia é especial, se nos for possível, ouvir o mar, sem interrupções...

Também gosto do areal quando já "pertence" às gaivotas...
Foi por isso que ao deitar-me na areia, depois de fechar os olhos, quase que consegui ver a Cadeira do Poeta, e até uma Caravela sumida, no meio das nuvens...

O óleo cheio de simbolismo é de António Costa Pinheiro, com o tal título, "A cadeira do poeta Fernando Pessoa no seu espaço poético".

sexta-feira, setembro 12, 2008

O Dia Seguinte

O dia seguinte pode ser tanta coisa...

E este dia 12 não é mesmo flor que se cheire. Transporta demasiado desespero, ódio, tristeza e desilusão...
Primeiro foi o Chile de Allende, a sucumbir ao peso das armas e da força de um bando de filhos da puta, de fardas e batinas, alérgicos à democracia e à liberdade...
Tanta gente inocente que desapareceu, debaixo dos escombros da ditadura de Pinochet.
Muitos anos depois, no mesmo dia, Nova Iorque foi escolhida como palco de uma das páginas mais negras do terrorismo, para que sentíssemos que o mundo deixara de ser um lugar seguro e que a tão difundida globalização não trazia apenas vantagens...

"O Descanso do Resistente", foto tirada por Robert Doisneau em Paris, 1944, tem a expressão que se sente num destes dias seguintes, em que é preciso mais força para agarrar a vida, para conseguir sobreviver...

quarta-feira, setembro 10, 2008

As Pessoas de Almada

No "post" anterior falei das pessoas de Almada, mas talvez não tenha sido muito objectivo.

É por isso que vou dar mais um exemplo...
Quando vim morar para Almada, estranhei encontrar tantos "malucos" pelas ruas.
Passado algum tempo percebi o porquê do fenómeno.
A autenticidade das pessoas, fazia com que estas não tivessem receio, nem pudor, em expor as suas feridas à sociedade onde estavam inseridas.
Mesmo que se tratasse de um filho deficiente (desde que o grau não fosse demasiado profundo), eles achavam que não o deviam fechar em casa, porque o mundo é de toda gente...
Acho que hoje as coisas mudaram, para pior, tal como o país. Muitos dos ideais em que quase todos nós acreditávamos, foram varridos para debaixo dos tapetes...
Mas mesmo assim, ainda sinto que vivo no mundo real, em Almada...

"A Bicicleta de Tati", é da autoria de Robert Doisneau.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Uma Conversa Sobre Livros

Apesar de me ter deitado tarde no sábado, não devia faltar ao encontro promovido pelo blogue
À Volta das Letras porque, entre outras coisas, iam falar de um dos meus livros...
Quando cheguei à esplanada, aquele grupo de amigos já estava sentado a conversar. Entrei facilmente na conversa, variada e rica, como de costume.
Foi a Laranjinha quem mais falou sobre o meu livro de contos, para dizer e saber coisas que se escondem quase sempre por detrás das histórias e das personagens.
Uma das observações mais pertinentes que fez, foi que se notava bastante o meu gosto por Almada e pelos almadenses.
Isso fez com que lhes explicasse as diferenças que encontrei entre a minha cidade natal, burguesa e conservadora, e Almada, uma cidade de operários e progressista. Comecei por lhes dizer que era de esquerda, pelo que senti logo uma grande identificação com os almadenses, pessoas muito autênticas e reais, ao contrário de uma franja considerável de caldenses, que viviam (e ainda devem viver) quase de uma forma ilusória, num mundo de aparências...
Claro que também lhes expliquei que nem tudo são rosas em Almada e que o poder é uma coisa tramada, mesmo quando se afirma solidário, justo e amigo do ambiente.
Mais de trinta anos de poder, comunista, socialista ou social democrata, acaba por criar sempre demasiadas zonas obscuras e clientelismos inexplicáveis...
Este gostar de Almada também está ligado às pessoas especiais que tive o privilégio de conhecer e que me abriram as portas da cultura da cidade. Nunca esquecerei Romeu Correia, Henrique Mota ou Fernando Barão...

sábado, setembro 06, 2008

Isto é Arte!

Não sei se houve discussão na blogosfera sobre o Sapo que foi crucificado pelo artista alemão, Martin Kippenberger (como faleceu em 1997, se tiver possibilidade, algures, não deixará de sorrir, perante a universalidade tardia da sua arte...).

Aplaudo o museu italiano, "Museion", de Bolzano, por resistir às pressões do Vaticano, do governo de Berlusconi e das autoridades locais.
Porque razão a escultura, "Primeiro os Pés", que nos mostra um Sapo crucificado, com a língua de fora, uma caneca numa mão e um ovo noutra, não pode ser considerada arte?
Num tempo em que estamos todos a ser "crucificados", lentamente, em nome de tanta coisa, porque não um sapo?
Blasfémia? Não, é apenas um objecto de arte. Blasfémias serão sim, as frases ditas em nome de Deus, por quem tem tantos rabos de palha...
Eu percebi a mensagem de Martin e acho que o Bento XVI também...

quinta-feira, setembro 04, 2008

Sem Comentários

Antes de partir de férias tinha pensado que teria de deixar um meus blogues, com os comentários fechados.

Isto aconteceria apenas porque não tenho tempo para responder a todos os comentários que fazem no "Casario", no "Largo" ou nas "Viagens".
Não me foi difícil perceber qual se adaptaria melhor a este "silêncio" forçado.
Sinto que o "Largo da Memória" tem uma personalidade forte e é mais universalista, qualidades que fazem com que sobreviva bem sem comentários.
Por isso não estranhem se encontrarem a caixa de comentários fechada.
Embora o tempo esteja mais escasso, não cheguei sequer a equacionar o fecho de um dos blogues, porque qualquer deles tem uma identidade muito própria, o que dificultaria bastante a minha opção. Até ver, eles estão para durar...
A fotografia é de Karsti Stiege.