segunda-feira, janeiro 31, 2011

A Simpatia Lusitana é um Bom Fado

Há quem ande a dizer por aí, que a simpatia lusitana já teve melhores dias, mas como muito bem dizia o Álvaro: «olhe que não, olhe que não.»

Os estrangeiros continuam a querer voltar ao nosso país pela sua beleza natural (os caciques não chegam a toda a parte, felizmente...), mas sobretudo, por serem bem recebidos, com uma simpatia muito própria e espontânea, que é capaz de colocar um velhinho ou uma velhinha de qualquer aldeia remota, a tentar comunicar de todas as formas, com gestos, palavras, algumas até quase "estrangeiras", em adaptações felizes do nosso português, coisa quase impossível de encontrar por esse mundo fora.

Também nos sabe bem encontrar portugueses pelo mundo fora (sim eu sei, de preferência um pouco mais longe que em Madrid ou Paris, aqui também se encontra com facilidade quem tente fugir de nós, ao ouvir a nossa bonita língua, talvez pela proximidade ou por um complexo qualquer, com um nome esquisito...).

Foi o que me contou o Gui, que esteve no Japão e graças a um "cruzamento" ocasional com um casal português, numa das ruas de Tóquio, acabou por jantar com eles e ajudá-los a matar saudades do país que não visitavam há mais de três anos.

É caso para dizer: ainda bem que a Simpatia Lusitana é um "destino"...

sábado, janeiro 29, 2011

A Moda Pode ser uma Coisa Bonita

Não era preciso perguntar-lhe, nada, a forma como andava na rua, hoje mais "passarelle" que ontem, dizia tudo.

Também ele sorriu, de cumplicidade e de mais qualquer coisa.

Sabia que uma roupa bonita e uma maquilhagem, podia mudar as pessoas, mas não daquela forma.

Francisca não tinha mudado apenas por fora, estava também mudada por dentro.

A "moda" dera-lhe um sorriso novo.

Era tão bom perceber o quanto ela gostava de estar e de se sentir mais bonita.


O óleo é de Anna Bocek.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Profissionais do Olhar

Sei que nas grandes cidades há o mau hábito de não olharmos o outro, corremos atrás da indiferença, empurramos, levamos encontrões, raramente recebemos ou pedimos desculpa.

É por estas e outras coisas que continuo a achar que sou um "provinciano". Olho para as pessoas, peço desculpa pela pisadela ou encontrão que dou, enfim, parvoíces, que não são normais nas "capitais do mundo"...

Mas para tudo há uma explicação. Uma das razões para não se olhar o outro, é a miséria alheia estar muito mais presente em Lisboa (quase em todas as ruas...), que numa simples cidade de província.

Hoje, no coração da Capital, dei por mim, várias vezes, a desviar os olhos dos "profissionais do olhar", que se espalham por toda a parte. Espertos (eles e elas), oferecem-nos a expressão mais pungente que conhecem, na tentativa de nos "fazer doer", a ver se nos "espremem" e conseguem fazer cair uma moeda, ou até nota...

Fiquei a pensar que se não fosse "provinciano", se não tivesse a mania de olhar o outro, escapava a este jogo quase de "pantomina"...
O óleo é de Jean Paul Tibbles.

A Qualidade e o Elitismo têm de Ter um Preço

Sempre fui contra a alimentação de "elitismos" e de gente "especial de corrida", na sociedade. Provavelmente foi por isso que sempre estudei em escolas públicas, tal como acontece hoje com os meus filhos.

Não concordo de maneira nenhuma com a campanha de "intoxicação" (mais uma para variar...), onde se tentam misturar escolas particulares que são a única alternativa para alguns alunos, com estabelecimentos de ensino altamente elitistas, que nem sequer escondem a placa, "reservado o direito de admissão".

É por isso que acho muito bem que os contribuintes portugueses deixem de pagar "mordomias" que estão apenas ao alcance de alguns alunos, quase sempre filhos de gente que tem posses para pagar, embora prefiram mamar na "teta do estado", à boa maneira empresarial. Muitos deles são trabalhadores independentes, que apenas declaram uma parte do ordenado, mas que não têm qualquer pudor em levar os filhos à escola com carros topo de gama nem em exibir as vivendas de luxo onde vivem.

Eu não tenho nada contra o ensino particular. Apenas penso que quem lá quiser inscrever os filhos, terá de pagar, tal como eu pago, quando prefiro ir a um médico particular e não ao centro de saúde.

Claro que há alguns aspectos que devem merecer uma atenção especial do Estado: os professores que vão para o desemprego devem ser absorvidos pelo ensino público, assim como todos alunos. São quem tem menos culpa de um "sistema" (mais um...) que se tem arrastado durante anos e anos e tem sido uma "mina de ouro" para meia dúzia de pessoas.
A fotografia é do grande Robert Doisneau.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

O Mistério Quase Diário...

Ele nunca tinha pensado que a ilusão se podia alimentar durante anos e anos, apenas com uma simples troca de olhares.

Foi por isso que a frase do amigo lhe soou estranha, pelo menos de inicio: «sabes, a ilusão, enquanto está viva nunca se transforma em desilusão.»

Depois desabafou que foi por isso que nunca quis ir mais além, se limitou a olhar e a sonhar, com a mulher misteriosa que subia todos os dias a sua rua.

Concluiu a conversa, afirmando que a realidade não tem qualquer magia.
O óleo é de Nancy Seamons Crookston.

terça-feira, janeiro 25, 2011

O Atrevimento do Olhar

Gosto de arte, gosto de museus, gosto de exposições, gosto de olhar, gosto de sentir, gosto de escutar...
E muitas vezes as visitas a uma exposição são um belo exercício para os ouvidos, graças aos comentários dos meus filhos, capazes de ver coisas que os meus olhos nem sempre alcançam.
Basta que uma obra peça muito mais que um olhar, ser insinuante e viva, para que eles digam coisas capazes de confundir o próprio autor.
É também por isso que gosto de gostar.

O óleo é de Cláudio Dantas.

domingo, janeiro 23, 2011

Nem Rendido Nem Convencido

Não fiquei rendido e muito menos convencido.

Mas é alarmante que a abstenção já vá nos 52,5%.

E claro que acho estranho que o senhor Silva tenha ganho em distritos como Beja, Évora ou Setúbal.

Quem ainda tivesse algumas dúvidas de que o nosso país mudou muito nos últimos anos (para pior...), perdeu-as agora, de certeza.

Ao contrário dos "gazeteiros", enquanto puder vou votar, sempre. Por mim, pelo meu pai e pelos meus avós.

O desenho é do Rui, de 1996, quando alegrava as páginas da "Visão".

sábado, janeiro 22, 2011

Vota Bem Domingo

Nunca me fiei em sondagens e normalmente sei sempre em quem hei-de votar.
Mas se por acaso tivesse dúvidas, nunca votaria em alguém que diz que para serem tão honestos como ele têm de nascer duas vezes, mas que se escusa a esclarecer as dúvidas que persistem sobre os "ovos de ouro" que as "galinhas" do BPN e SLN, puseram, só para alguns amigalhaços, como ele e a filha, por exemplo.
O boneco feliz é do Gui.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Envelhecer Depressa...

Cruzei-me com uma vizinha, que tem mais ou menos a minha idade, e notei, que está a envelhecer depressa demais.

Nos últimos anos só trocamos o normal bom dia ou boa tarde. A última vez que trocámos mais que estas palavras avulsas do quotidiano, foi pouco tempo depois de ter nascido a minha filha.

Os seus olhos brilharam de felicidade, com um «deve ser tão bom ter um casalinho...»

Felicidade que se desvaneceu quase de seguida quando me contou em forma de desabafo, o seu drama familiar de sempre querer ter filhos, do marido não gostar de crianças e até chegar a ameaçá-la com a separação, caso ela fosse longe demais e tentasse o "golpe da gravidez acidental".

Nunca teve a coragem de o fazer, e agora, quase com cinquenta anos, deve sentir que o tempo da maternidade já passou.

Tenho quase a certeza que é esta a causa de estar a envelhecer depressa demais.

É impossível não reparar no seu ar triste quando nos cruzamos, parece que já não sabe sorrir...
O óleo é de Gustavo Catalan.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

"Posta" ao Café

Enquanto bebíamos café, a Rita chamou-me a atenção: «é preciso teres muita lata, para escrever coisas tão básicas». Percebi que tinha "poisado" os olhos mais no título que no texto, como se o "Largo" fosse o "Correio da Manhã", que olhamos de soslaio, quando passamos pelo quiosque dos jornais.

- Lata? Não, eu tenho é um bidom.
- Às vezes pareces um velho a escrever.
- Como é que se escreve à velho?
- Utilizando coisas fora de moda, ultrapassadas.
- Olha que não...
- Olha que sim.
- Queres mesmo falar no assunto?
- Quero!
- A verdadeira questão é porque razão pensar em sexo, nos pode levar à "porcaria"...
- Há palavras que não devem ser levadas à letra. A carga da palavra pode não ter o sentido que lhe deste.
- Como é que sabes? Fui eu que a escrevi, pode ser uma simples ficção, ou pode ter sido apanhada num diálogo qualquer. Mas acho que é real. Há mulheres que chamam isso aos maridos por eles gostarem de sexo.
- Talvez não olhem para o sexo como uma coisa limpa.
- Provavelmente. Deve andar por ali dedo da educação de sacristia.
- Sim, tens razão, ainda há muita recriminação sexual. Por ser mulher é que tenho mais pena que ainda existam tantas mulheres que tenham medo de ter prazer.
- Com essa frase, silenciaste-me...

E foi assim mesmo, pagámos os cafés e batemos em retirada, ela para Norte e eu para Sul...

«És um porco, só pensas nisso!»

E de facto pensava cada vez mais "nisso", tinha sempre a sensação que gostava mais de sexo que a mulher.

David não se achava um porco, talvez ligeiramente tarado. Mas nem sempre fora assim...

Claro que não tinha saudades dos seus tempos de "inocência". Ninguém deve ter.
Viajou pela memória e descobriu a primeira vez em que lhe apeteceu chamar "porco" a um homem. Começou a trabalhar com apenas dezasseis anos, numa fábrica de decoração. Foi empurrado para a secção das costureiras e dos criadores, onde fazia um pouco de tudo. Nesse tudo faziam parte as alterações dos quartos e salas que serviam de modelo para os clientes.

O chefe, um sujeito alto e com uma grande penca, costumava mandá-lo juntamente com uma miúda da sua idade, filha de uma das costureiras, para as limpezas e preparação da mudança de cenário. Tornaram-se amigos e aproveitavam para falar de coisas que não podiam falar à frente dos colegas mais velhos, quando estavam só os dois. Esta cumplicidade não passou despercebida ao "manda chuva".

Uma vez perguntou-lhe, descaradamente: «então já comeste a miúda?» David não lhe deu qualquer resposta, mas ofereceu-lhe um olhar onde demonstrou não ter achado graça à questão. E claro que não "comera" a miúda. Sabia que aquele não era o local, nem a hora para "isso".

Ao pensar nisso, sente que aos dezasseis anos o sexo não era uma prioridade na sua vida, como não deve ser, na vida de qualquer adolescente. À distância de trinta anos, pensa que a inocência, misturada com as muitas dúvidas e incertezas, arrefeciam o desejo.

Agora também era chefe de secção, mas nunca seria capaz de perguntar a um empregado, se já tinha feito isto ou aquilo, com uma das colegas. Nem era coisa que o preocupasse.

Uma coisa não invalidava a outra e não tinha dúvidas que pensava muito mais em sexo que antes. Talvez a mulher tivesse razão...

O óleo é de Van Wieck.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Uma Aproximação ao Surrealismo e ao Hiper-realismo

Uma experiência pessoal curta, as conversas de café, as chamadas de atenção para este ou outro pormenor, como esta do Francisco, cujo hipotético exagero me parece muito menos surrealista que aquilo que se vive actualmente no "faiceboque".

A notória banalização daquilo que se pode chamar a nossa identidade pessoal, nem é o mais dramático. Nunca foi tão fácil deitarmos fora aquilo que não gostamos em nós. Até nos podemos dar ao luxo de "oferecer" um novo rosto e um novo corpo à "outra pessoa" que nos acompanha para todo o lado, vinte e quatro horas por dia. Além do "retrato" físico, também podemos melhorar o psicológico, pois continua a ser fácil misturar ficção com realidade, oferecendo "sonhos" aos "amigos" de ocasião, que queremos felizes e numerosos.

Faz bem ao amor próprio? Talvez. Não tenho conhecimentos assim tão profundos de psicologia para afirmar o que quer que seja neste campo.

Mais grave que esta banalização da identidade, é a mistura que se faz entre o que é privado e o que é público. Penso que esta "confusão" não é alheia ao que se passa hoje na comunicação social, em que vale quase tudo para conseguir uma notícia ou uma imagem, quase num clima de hiper-realismo.

Mas pior que os pormenores "intimistas" das suas vidas, são as imagens. Algumas pessoas expoem os seus familiares nas suas páginas pessoais, especialmente os filhos, através de fotografias, assim como os seus amigos.

É cada vez menos do outro mundo, andarmos por aí, dentro de fotografias que nem sabíamos que existiam, capazes de alimentar a vontade de "aparecer" e de ser popular, de alguém que nunca ultrapassou os fracassos do liceu.
E isso sim, incomoda-me, porque se entra na esfera privado do "outro"...

O óleo é de Georgy Kurasov.

domingo, janeiro 16, 2011

«Deus dá com uma mão e tira com a outra.»

Ninguém estava à espera que a Rita sintetizasse as diferenças do mundo com uma simples frase.

Frase dita de uma forma irónica e com um sorriso nos lábios. Percebia-se que Rita aceitava as regras do "jogo da vida", que nos eram impostas, por alguém que nunca dava a cara, pelo menos de uma forma visível, mas não em silêncio.

O mais curioso foi ter sido o frio e a humidade a convidarem o Verão para se juntar à mesa...

Tudo começou com uma conversa simples sobre o facto da roupa não secar no estendal, com este tempo, mais inglês que português. Todos sentiam a falta do "Deus-Sol", por coisas tão simples como abrir as janelas de par em par.

Depois vieram outras comparações. Mas a melhor de todas foi a da Rita. Depois de falar das saudades do mar e da praia, disse que num planeta normal não devia ser permitido alguém gostar do Verão e do mar e ter a pele branca, povoada de sardas e de cabelos ruivos.

Sem perder o sorriso disse a tal frase-chave: «Deus dá com uma mão e tira com a outra.»

Rita tem toda a razão. E Deus, entre outras coisas, é um brincalhão...

O óleo é de Eva Navarro.

sábado, janeiro 15, 2011

A Beleza Feminina

Não sei se hoje há mais se há menos "ruídos", sobre a exploração do corpo feminino, que há vinte anos, por exemplo, na publicidade e afins.

E, sinceramente, não estou muito preocupado com isso. O que mudou com toda a certeza foi o o discurso e o gosto "feminista". Hoje as mulheres, mesmo as mais acérrimas defensoras da "superioridade feminina", deixaram de imitar o homem, especialmente no vestir. Não se incomodam de salientar os seus atributos físicos, utilizando-os muitas vezes mesmo como uma "arma".

Outra coisa que também se alterou, foi a forma de olhar para o corpo masculino. Aqui sim, numa aposta muito maior como veiculo publicitário, porque hoje o homem também é um consumidor de produtos de beleza, mesmo sem ser "metrossexual" (o meu amigo Necas tem uma definição óptima para estes "efebos", que só não a publico, para não ferir mentes mais susceptíveis...).

Mesmo assim, continuo a achar que o corpo feminino "vende" muito mais que o masculino, porque é, sem qualquer dúvida, mais belo, mais atraente e mais apelativo que o nosso.
O óleo é de John Nava.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Afinal são Namorados...

Quando me preparava para sair de casa e levar a minha filhota à escola ela olhou a janela e disse-me:

- Está nevoeiro.
- Pois está. - respondi eu, acrescentando - e humidade.
- Não sabes que sempre que está nevoeiro, há humidade?
- Sei, eles até são primos.
- Não são nada, são namorados.
- Namorados? Boa.
Para acabar a conversa, ofereceu-me um sorriso daqueles óptimos para começar o dia.

Estamos sempre a aprender, especialmente com as crianças. E de facto o nevoeiro é masculino e a humidade feminina...
O óleo é de Pere Ventura Júlia.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Correr à Procura de Tudo e de Nada

Há menos de uma hora assisti a um acidente completamente estúpido, a poucos metros de mim, numa das zonas centrais da cidade.
Um aprendiz de "fitipaldi" resolveu dar uma curva apertada em apenas duas rodas, acabando por chocar contra um carro estacionado, mesmo ao meu lado, enquanto seguia no passeio.
Gente amiga que tinha deixado segundos antes, em frente da "Incrível", veio logo a correr, assim que ouviu a chiadeira do carro e o barulho do choque, com medo que eu tivesse atravessado a passadeira colocada mesmo na curva ( se o tivesse feito teria sido levado pelo ar à frente do carro...).
O condutor devia ter perto de quarenta anos, estava longe de ser um jovem inconsciente.
O senhor do carro estacionado assim que ouviu o barulho desceu logo de casa e foi mesmo ele o "contemplado", com a amolgadela e os plásticos do farol detrás partidos. Abanou a cabeça e lá foi fazer a declaração amigável.
Claro que o "fitipladi" não merecia tanta simpatia, devido ao excesso de velocidade e à sua condução perigosa. Mas cada vez se chama menos a polícia, neste e noutros casos...
O óleo é de Alex Colville.

terça-feira, janeiro 11, 2011

«Estranha terra esta.»

Muitas vezes, mesmo sem conhecermos bem outras terras, outros continentes, somos capazes de dizer o pior de nós próprios, como povo.

Mas grave é quando a frase é dita por alguém que passa a vida a andar pelo mundo, como é o caso do Gui, produtor de documentários e realizador de cinema nas horas vagas.

Bebemos um café ontem, ao fim da tarde. Falámos de muita coisa, inclusive dos assuntos do momento: as presidenciais e o assassinato de Carlos Castro.

Claro que não nos escapou a mulher que disse nas notícias do almoço que Cantanhede estava solidária com o assassino.

Lembrei-me da nossa conversa hoje, ao ler no "DN", que a família e amigos preparam uma "manifestação pública" e até um "cordão humano" na cidade.

Tens toda a razão, Gui: «estranha terra esta.»

O óleo é de Jorge Gallego.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

O Preço da Perversão Social

A morte de Carlos Castro pode e deve ter várias leituras, que não precisam de ser ofensivas ou homofóbicas. O jornalista pagou o preço (ainda que demasiado elevado...) da perversão que se instalou na sociedade e que passa a mensagem (ainda que sorrateiramente) de que toda a gente tem um preço e todos os caminhos são válidos para se chegar ao objectivo final.

É por essa razão que a qualidade humana e profissional é muitas vezes desviada para segundo plano, quando se trata de promover uma carinha laroca (menino ou menina) na televisão, na moda, na publicidade ou até num simples emprego.

Os jovens quando fazem "castings" para um papel numa telenovela ou para uma produção de moda, são instruídos desde cedo que é possível furar as regras, desde que sejam "simpáticos" para quem faz a escolha.

Quantos "machos latinos" não se aproveitam da beleza de algumas bonecas, que querem subir, chegar ao topo da "montanha" sem olharem a meios. O mesmo se passa com "homossexuais" (homens e mulheres), bem colocados em produtoras e agências, que sempre que podem tentam seduzir jovens, que sabem bem ao vão, por mais inocentes que pareçam...

Como nem toda a gente consegue aguentar a pressão do meio e as "estórias de enganos" em que se envolvem, muitos afogam-se no álcool e nas drogas, outros são capazes de fazer coisas impensáveis...

Esta "sociedade-espectáculo", sem se aperceber, está a fabricar "monstros" e "gente oca", que deambulam sorridentes no ambiente fictício que enche as televisões, de manhã à noite, cheio de "glamour" e de "lantejoulas"...
O óleo é de Pierre de Mougins.

sábado, janeiro 08, 2011

As Caixas de Memórias

Tenho muitas caixas de "memórias", nem sempre organizadas, provavelmente por ter dificuldade em desfazer-me de coisas, mesmo insignificantes, que me transportam para vários lugares.

Numa conversa de café com "poetas", houve alguém que disse que quanto mais se gosta de viver, mais memórias se têm.

Não concordei. E depois de pensar melhor, continuei a não concordar.

O gostar de viver pode ser mais "presente" que "passado", pode ser aproveitar todas as portas que se abrem, andar sempre em frente, sem pensar sequer no ontem.

Teoricamente podemos pensar que quando mais se "vive" e "viaja", mais memórias existem.

Só que nem todos olhamos da mesma maneira para as coisas. Nem todos fazemos o mesmo uso das memórias.

Tenho a certeza que há quem goste e aproveite mais a vida que eu e não tenha tantas "caixas de memórias"...

O óleo é de Roberta Serenari.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

A Passadeira Vermelha do Delito de Opinião


Fui convidado pelo Pedro Correia, um dos elementos do blogue "Delito de Opinião" (um dos melhores da nossa blogosfera...), para escrever qualquer coisa.

Claro que foi um prazer (e uma honra), escrever sobre jornalismo, num blogue que tem nas suas fileiras excelentes jornalistas, felizmente no activo.

Escrevi a estória: «Ele não, é anarquista!»
Espero que gostem...

terça-feira, janeiro 04, 2011

Feio & Bonito

Achei curiosa a característica que a minha filha, escolheu para definir o novo professor de ginástica: «é feio». Com seis anos já tem critérios de beleza definidos, sem se preocupar com a "poesia" dos alguns adultos, que encontram beleza em toda a parte...

Fiquei a sorrir porque tinha escrito pouco tempo antes um diálogo entre dois velhos, presos a um banco especial, onde era possível ver o mundo, de trás para a frente e da frente para trás, com pessoas.

O motivo de uma das conversas no banco foi uma mulher que passou e cumprimentou um dos amigos, recebendo logo um comentário do companheiro: «que gaja tão feia!» (é, alguns velhos também dizem a palavra "gaja", ninguém é perfeito...).

Recebeu como resposta: «uma das coisas que aprendi desde muito novo, é que não se chama feia a nenhuma mulher. Nem mesmo às muito feias.»

Fora do diálogo, lembrei-me agora que também tive um professor de português "esteta" que dizia que não existiam mulheres feias. Além de péssimo professor, era mentiroso...

Claro que a definição do bonito e do feio é muito pessoal, mas não vale a pena tapar o "sol com a peneira", pois somos "desenhados" e "esculpidos" de formas muito diferentes, exteriormente e interiormente, nem sempre favorecidos pela tal beleza, que continua a ser "fundamental", especialmente para as mulheres.

Sem chegar ao exagero de dizer que os homens querem-se feios, porcos e maus, aparentemente há menos exigências do olhar feminino, até por continuar a não ser tão franco e aberto como o masculino...
O óleo é de Zeinab El-Seginy, que "dança" entre o feio e o bonito...

segunda-feira, janeiro 03, 2011

A Carta que Não Veio

A última vez que nos encontrámos, ficaste de me escrever, de me enviar os poemas que pensavas publicar, um dia qualquer.

A carta não chegou. Não fiquei muito preocupado. Os relógios rodavam mais devagar e nós sabíamos esperar. Ainda não existiam telemóveis, ficarmos momentaneamente incontactáveis não era nenhum drama, até por vivermos em cidades diferentes.

Só no Verão seguinte soube o que realmente aconteceu. A Mariana contou-me tudo, foste quase forçada a partir para a América de um dia para o outro, não atrás de qualquer sonho, mas a fugir do "céu" que ameaçava cair em cima da tua cabeça. Nem das tuas amigas te despediste.
O teu pai deixou-se enrolar de tal forma nos negócios que só encontrou uma solução para escapar à prisão, deixar o país. Não quiseste abandonar a tua mãe e a tua mana e deixaste tudo para trás.
Assim que olhei este quadro de Javad Azarmehr, lembrei-me de ti. Eras esguia e coleccionavas boinas de várias cores. E claro, ficaste de me escrever, a tal carta que não veio...

Espero que não tenhas desistido da poesia.

domingo, janeiro 02, 2011

A Liberdade Pessoal em Jogo

A hipocrisia e o fundamentalismo raramente têm limites.

Mesmo sem nunca ter sido fumador, não consigo olhar para quem fuma, como um "bandido" ou um "proscrito". Acho que têm todo o direito de fumar nos lugares onde ainda lhes é permitido.

A lei que foi aprovada há três anos é mais que suficiente e preserva a liberdade individual de cada um de nós. Tentar ir mais longe (ainda por cima para imitar os espanhóis...), já começa a cheirar a "doença".

Como muito bem escreveu o Francisco, o álcool é um problema muito mais grave e prejudicial à saúde. E rouba muito mais vidas, especialmente inocentes (então nas nossas estradas, nem é bom falar disso...).

E não se vê o senhor das "gripes" preocupado com o problema, só o fumo é que lhe perturba a alma...


A fotografia é de Robert Doisneau.

sábado, janeiro 01, 2011

Uma Vida Mais Simples

O ano que agora começa pode fazer-nos regressar a hábitos mais simples.
Pelo menos para os que têm estado mais afastados deles.
Nas notícias do dia a falta de assunto foi notória, o foguetório de artificio um pouco por todo o lado (aquele milhão gasto pelo Alberto João, tem muito que se lhe diga...) e o aumento de gasolina acabaram por ser as mais exploradas e desenvolvidas.
Incomoda-me mais o dinheiro gasto no "fogo" que o aumento de gasolina e gasóleo.
A meio do ano, quando tive de me deslocar à "Brisa", em frente do tabuleiro da ponte, para trocar o dispositivo da via verde, pude ver com os meus olhos que sete em cada dez carros que passavam, iam apenas com o condutor...
Nunca fui escravo do carro (nunca vou de automóvel para Lisboa, uma verdadeira "armadilha", cheia de sentidos únicos e onde a ausência de lugares para estacionar é compensada pela acção dos diligentes funcionários da EMEL...). Além de gostar de andar a pé, também não tenho qualquer problema em andar de transportes públicos.
Os "simplórios" como eu, têm algumas vantagens, neste a noutras crises. Foi por isso que escolhi este bonito óleo de Robert Duncan.