terça-feira, julho 08, 2025

Saúde: demagogia e desperdício a mais e competência a menos


A saúde e a justiça retratam de uma forma, cada vez mais nítida, a acção demagógica e incompetente dos partidos de poder e dos políticos, nestas duas áreas fundamentais da nossa sociedade, pelo menos nos últimos trinta anos.

Embora possa ser injusto atribuir todas as culpas à ministra em exercício, se o seu mandato fosse exercido com demagogia a menos e competência a mais, talvez as coisas não tivessem piorado tanto no último ano (embora o PSD insista no seu contrário...). A sua primeira preocupação foi "provocar" a demissão do director geral, Fernando Araújo, com quem tinha tido problemas anteriores enquanto administradora hospitalar, e não dialogar com ele e tentar aproveitar o que se estava a fazer de positivo no sector.

É por isso que, quando se diz que o seu papel enquanto ministra é "destruir o Serviço Nacional de Saúde e entregar de mão beijada os serviços mais lucrativos ao sector privado", poderá ser exagerado, mas... 

Mas a realidade é o que é, e os hospitais e clínicas dos dois principais grupos privados da saúde, continuam a crescer, de Norte a Sul. Ao mesmo tempo que os meios do SNS continuam a ser escassos, com muitas das nossas urgências a fecharem aos fins de semana, com o argumento da falta de médicos.

É muito estranho que este problema se tenha agravado nos últimos anos e que a própria profissão de médico, tenha passado, aparentemente, a ser um serviço público normal, como se fosse um simples trabalho "das nove às cinco"...

E se é verdade que nunca se gastou tanto dinheiro na saúde como na actualidade (sem que se nota qualquer melhoria nos serviços...), é óbvio que terá de existir muita incompetência e desperdício de meios, tanto no Ministério da Saúde como nas administrações hospitalares. Graças aos nossos dois maiores partidos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, julho 07, 2025

«Já não posso ter a minha opinião?»


O meu corte de cabelo hoje foi um pouco mais agitado que o costume.

Assim que o meu barbeiro começou com o já habitual "discurso anti-emigrantes", comecei a desmontar uma boa parte das suas teses populistas com a realidade, com as aldeias e os campos que quase só albergam gente idosa, pelo que a mão de obra tem de ser obrigatoriamente estrangeira. Acrescentei que esta também era a escolha preferida dos exploradores da agricultura intensiva, porque assim têm sempre a possibilidade de ter metade dos seus trabalhadores em situação ilegal, o que lhes poupa uns cobres no pagamento para a segurança social e para as finanças.

Claro que ele não gostou de ser contrariado. Ninguém gosta. Foi por isso que se escudou na frase: «Já não posso ter a minha opinião?»

Claro que pode. Em democracia pode-se quase tudo, até navegar no erro e mostrar a nossa "costela revolucionária", quase a par com a nossa "costela reaccionária"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, julho 06, 2025

Os comboios que só passam uma vez na nossa estação...


Conheço a Sandra há quase trinta anos. Falamos menos do que devíamos, em parte porque a minha companheira nunca lhe achou muita piada. E a maior parte das vezes que nos encontramos no café, que partilhamos ao fim de semana, estou acompanhado.

Às vezes somos surpreendidos pelo meio da semana que nos marca lugar na esplanada do nosso café e colocamos a conversa em dia.

Foi o que aconteceu na última vez que nos encontrámos. Estávamos os dois sozinhos e para não sermos egoístas, ocupámos a mesma mesa. Foi bom, falámos de tudo e mais alguma coisa, menos dos papeis secundários que ela passa a vida a fazer, tanto no teatro como nas telenovelas. Não é por falta de talento ou de graça, é porque "nunca calhou" e porque "agora começa a ser tarde".  Sim, a Sandra já está a aproximar-se dos cinquenta, uma idade terrível para as actrizes...

Às vezes penso na quantidade de gente com talento que conheço, que não conseguiu chegar à parte do céu onde poisam as estrelas. Como o Gui diz, muitas vezes, há comboios que só passam uma única vez na nossa estação...

Mas não é apenas isso...

Por uma questão de educação, personalidade, e sobretudo dignidade, não conseguimos "fazer tudo", muito menos irmos na conversa das pessoas que estão quase a "cobrar bilhetes", à entrada da "carruagem dos nossos sonhos". 

E o tal lugar estrelar, vai ficando, cada vez mais longe para a Sandra, como ficou para a Luísa ou para o João e para tantas outras pessoas, que passam o tempo a "lamber as feridas"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, julho 05, 2025

As "duas vidas" do cinema português, uma para o povo e outra para intelectuais...


Desde que me interesso por cinema, que assisto a discussões intermináveis sobre as fitas portuguesas e os nossos realizadores.

O Mestre Manoel de Oliveira foi sempre uma das figuras mais contestadas, até pelos seus pares, porque a inveja sempre foi, e será, aquela coisa pequenina e quase "terrorista". Embora lhe reconheça alguma lentidão e fixação exagerada nos planos (o que para os seus admiradores mais pacientes é poesia...), ele sempre teve uma ideia  do que é cinema. Ou seja, o seu passado e presente, mereceram todo o apoio que teve, e não apenas para que Oliveira ficasse no "guiness" como o realizador com mais idade e experiência da Sétima Arte. Quem tem um mínimo de conhecimento do que é Arte, sabe que o Mestre Manoel foi um dos nossos melhores artistas.

O que normalmente se discute é o "cinema de autor" e o "filme comercial", como se estes fossem inimigos e não pudessem conviver uns com os outros. E como em tudo na vida, as posições de quem faz estes filmes, em vez de se irem aproximando, vão ficando cada vez mais distantes. O ideal era que não se fizesse cinema apenas para o nosso imaginário (umbigo talvez ficasse melhor...), nem se explorasse tanto o que existe de mais popularucho (a graçola manhosa a querer imitar os senhores Santana e Silva, mas muito longe da sua qualidade...). Ou seja, que se pensasse a sério nos espectadores. Mas o mundo é o que é...

Estou a escrever sobre cinema, porque há dois filmes portugueses em exibição que têm sido olhados de forma diferente pelos críticos. Falo de Portugueses de Vicente do Ó e de A Vida Luminosa de João Rosas. Se o primeiro tem sido "deitado abaixo", o segundo tem sido apreciado pela maioria das pessoas que escrevem nos jornais sobre cinema.

Embora compreenda a "defesa" do filme feita por Vicente (também nos jornais), não acho que ele ganhe alguma coisa em se preocupar mais com terceiros que em explicar as coisas menos compreensíveis do seu filme. 

E pelo que tenho lido, se há fita que seja capaz de me levar de regresso às salas, será A Vida Luminosa do João, porque se aproxima mais do que gosto de ver e sentir no cinema.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, julho 04, 2025

Pode-se saber muito sem abandonar o "planeta terra"...


Eu sabia que podia ser uma chatice sabermos muito sobre um assunto qualquer, podíamo-nos tornar condescendentes com os outros, mesmo sem nos apercebermos. E se tivéssemos os hábitos de "professor universitário" de raramente "descermos as escadas" ou "apanhar o elevador", para voltar à terra e falar com os comuns, ainda pior.

Felizmente, há mais mundo nas ruas e nos transportes que nos levam, aqui e ali. Pode ser uma sensação de liberdade, quase indescritível, abandonar os gabinetes e as conversas chatas com os "sabões" e ir ao mercado, comprar cebolas, carapaus, sentir que é possível aprender com aquela gente despachada, e tantas vezes desbocada, que começa a sua "luta diária" ainda antes do sol nascer e mesmo assim consegue sorrir à vida.

 Claro que isto são palavras de "um não especialista", que cada vez mais, passa a vida a olhar os outros, a sentir o mundo a mexer-se, a uma velocidade que já não consegue, nem quer acompanhar. Mas está longe de ser um desistente, continua a caminhar e a olhar com nitidez para o que se passa à sua volta.

É por isso que fico feliz, por alguém, como o meu irmão, com uma carreira no ensino, de mais de quatro décadas, a maior parte dela passada na universidade, nunca ter perdido o nome próprio e passado a ser o "doutor"...

Claro que sei que isso também se deve aos meus queridos pais, e numa percentagem menor, aos meus avós maternos, que sabiam tanto, mesmo sem terem tido a possibilidade de conhecer as escolas por dentro, na sua infância.

(Fotografia de Luís Eme - Minho)


quinta-feira, julho 03, 2025

Um dia, no mínimo, estúpido...


O país acordou com duas notícias, que foram exploradas ao máximo pelas televisões, de manhã à noite: a morte de Diogo Jota e o começo do julgamento de José Sócrates.

É sempre estranho e tocante, quando alguém morre jovem. E se esse alguém é um conhecido de todos nós, como é o caso de Diogo Jota, um dos nossos melhores avançados, presença habitual na selecção e atleta do Liverpool, o campeão inglês na época que acabou, tudo piora... O seu irmão André, ainda mais novo que ele e menos conhecido, acompanhou-o neste infortúnio, que teve lugar numa autoestrada espanhola, quando tentavam regressar a Inglaterra.

Tantas questões que ficam no ar, sem respostas. É sempre assim...

Em relação a Sócrates, que mais uma vez contribuiu para o espectáculo, falando aos jornalistas (com a "cassete" do costume...), antes e depois deste primeiro dia, só tenho quatro palavras para o catalogar: é um excelente actor (podia andar a fazer telenovelas e estupidamente foi para a política)!

A única coisa que sei, é que, aconteça o que acontecer, tanto Sócrates como a justiça (e até as televisões "justicialistas" dos directos no aeroporto e afins...) nunca mais conseguirão ficar "bem na fotografia". 

Sim, é impossível alguém sair-se bem num caso como este (por vezes fico com a sensação de que a justiça fez quase tudo ao contrário, acabando por beneficiar Sócrates...), que promete arrastar-se por mais alguns anos...

(Fotografia de Luís Eme - Oeste)


quarta-feira, julho 02, 2025

«A verdadeira crítica não tem de ser feliz ou infeliz, tem de ser honesta.»


O mais curioso na conversa, foi aquele que continua a ser um dos nossos "escribas de eleição", o MEC (Miguel Esteves Cardoso), que mantém uma coluna diária no "Público", ser alvo de algum escárnio e mal dizer, por duas ou três pessoas.

Todos sabíamos que «a verdadeira crítica não tem de ser feliz ou infeliz, tem de ser honesta», como a Carla afirmou. Mas quando se escreve nos jornais há quase 50 anos (é o caso do MEC, que passou pelo "O Jornal", "Sete", "Expresso", "O Independente" e agora o "Público"), é difícil escrever de uma "forma azeda", ainda por cima quando se gosta das palavras, das pessoas e das coisas.

Acabei por ficar a pensar no assunto, entre as viagens de metro e cacilheiro, para a minha margem. Até me recordei das palavras do Miguel, numa entrevista, já com alguns anos, em que ele admitia que a melhor maneira de criticar alguém, era não o conhecer, nunca ter falado com ele. Porque depois descobre-se que as pessoas até são simpáticas e torna-se tudo mais difícil...

Fiquei em silêncio durante a conversa. Poderia ter dito que o Miguel conquistou o direito a escrever sobre coisas que lhe agradam, mas que deixara de ser "crítico" (pelo menos como se entende a função).

E há ainda outra coisa. Mesmo sem nunca ter falado com o Miguel, nem tão pouco o conhecer, apenas de vista, não tenho grandes dúvidas de que ele é boa pessoa. É o que mais se destaca das suas palavras diárias.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa) 


terça-feira, julho 01, 2025

Olhar, ouvir e ficar a pensar no fim das coisas...


Havia alguma ironia e até humor, na forma como a mulher de idade falou, no balcão da velha drogaria: «Um dia acaba-se tudo, pelo menos para quem acredita que só temos uma vida.»

A frase ficou no ar, não pelos mesmos motivos que foi dita. Sim, eu em vez de me virar para as pessoas pensei logo noutras coisas, assim que comecei a caminhar pela rua.

Comecei por pensar logo na coisa mais difícil e estranha, que um ou outro entendido resolveu atirar à parede, "o fim da história". Não foi dita em jeito de piada, mas só podia ser da família, pois enquanto existirem seres humanos, haverá história...

Depois caminhei para coisas mais simples. Tenho a certeza que não foi Camões que inventou a frase feliz de que "mudam-se os tempos mudam-se as vontades...", a principal responsável pelo final de vida de tantos objectos, de profissões que deixam de fazer sentido (embora aqui seja mais a economia que "mate" alguns trabalhos que se tornam obsoletos ou pouco lucrativos...).

E só não acabam mais coisas, porque agora também se vive das "tradições", que começam a ter mais peso comercial que histórico. E ainda bem, porque além de darem vida a lugares esquecidos, também nos recordam como se vivia noutros tempos. 

E o mais curioso, é trazerem atrás de si o começo de outras coisas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, junho 30, 2025

É sempre bom voltar a pensar nas coisas que parecem ser mais confusas do que aquilo que realmente são


Antes da conversa de ontem, associava os "limites" mais a ditaduras que a democracias.

Depois de pensar no assunto, percebi que ambas têm limites. 

A grande diferença, é que nas democracias a maior parte dos limites são impostos por nós. Nas ditaduras normalmente acontece o contrário, uma boa maior parte dos limites são impostos pelo Estado (até afixam avisos e tudo...).

Eu sei que é uma forma demasiado simplista de falar destes "limites", mas não se afasta muito da realidade.

Claro que mesmo nas democracias, fazem-nos sentir, cada vez mais, até onde podemos ir. Mas isso acontece também pela dificuldade que temos em lidar com a liberdade, que nunca foi a "utopia", de podermos fazer tudo o que nos apetecesse...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, junho 29, 2025

«Acredito, cada vez mais, que as pessoas estão fartas da democracia. E apenas por uma coisa, por ela gostar de impor limites»


A conversa começou com o humor, a tal coisa que para alguns não deve ter limites, e para outros nem por isso, sem nos estarmos a focar em casos particulares ou ligarmos ao desabafo do "humorista da mesa", que disse que cada vez é mais difícil fazer rir as pessoas.

Claro que a conversa avançou logo para outro lado, quando o Carlos  disse: «Quem não quer ter limites, não tem muita vontade de jogar ao jogo da democracia. E também gosta muito pouco de respeitar os outros.»

A resposta, entre a estupefacção e a indignação, foi colectiva. Houve mesmo quem dissesse que os limites faziam parte dos regimes fascistas.

Foi quando o Carlos resolveu ser ainda mais contundente: «Vocês andam mesmo distraídos. Felizmente, em democracia, quase tudo tem limites, ao contrário das ditaduras. Talvez vocês prefiram esses regimes onde vale tudo, onde é costume prenderem-se pessoas, apenas porque sim.»

E foi buscar um exemplo fresquinho: «Não viram o que o senhor todo poderoso da Hungria tentou fazer com a manifestação sobre a liberdade sexual lá do sitio? Ameaçou prender todos os que fossem a manifestação "ilegal". Só não estava à espera que saíssem à rua mais de duas centenas de milhares de pessoas. Deve ter ficado a coçar a cabeça, por não ter prisões suficientes para toda aquela "paneleiragem".»

Foi quando todos percebemos que estávamos a ver o filme errado e voltámos a colocar os pés no chão.

E ele continuou: «O "Monteverde" também não deve gostar nada da palavra limite. Se ele pudesse, tinha silenciado os jornais e continuava a receber avenças da clientela.»

Para depois dar-nos o "safanão final": «Acredito, cada vez mais, que as pessoas estão fartas da democracia. E apenas por uma coisa, por ela gostar de impor limites.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, junho 28, 2025

A alegria de quem nos dá a "novidade", do sobe e desce dos preços


Sei que este é o tempo que querem que "os gelados sejam comidos com a testa", mas... 

Ia dizer que há limites, mas se calhar os limites que existem não são os que eu penso...

Tudo isto porque fiquei a olhar para o pivot, que com um olhar feliz, de quem nos está a dar uma prenda, informava através da televisão que a partir de segunda feira, o gasóleo ia ficar quatro cêntimos mais barato.

Não é que eu seja muito forte a matemática, mas se na última segunda o gasóleo tinha subido oito cêntimos, com esta baixa ainda ficámos a "perder" quatro cêntimos.

O senhor capitalismo sabe-a toda, é por isso que está a entrar a toda a hora nas nossas vidas...

E age como se não houvesse passado, só presente. 

O que nos vale é que é um presente "radioso", graças à cumplicidade dos "fazedores de notícias" e dos rapazes e raparigas que adoram sorrir para as câmaras e tanto podiam trabalhar no "tele-marketing" como nas feiras a vender bisnagas ou frasquitos de banha da cobra.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sexta-feira, junho 27, 2025

Não tenho a certeza que para se ser poeta, dos bons, tenha que se ser, marginal, mas...


Há muito tempo que não estava com um rapaz que escreve poemas e que diz falar com toda a gente, menos com poetas.

Outra coisa curiosa (pelo menos para quem não é do meio...), também não lê poemas, de ninguém. Nem mesmo do seu mestre, esse mesmo, o Herberto Helder, de quem acabou de ler a biografia escrita pelo "polícia dos costumes da nossa literatura".

O grande motor da sua poesia é a imaginação. Depois vêm, quase em fila, os filmes, os romances, as suas viagens solitárias, de preferência por ruas vazias, onde seja possível enfiar as personagens que lhe saltitam de neurónio em neurónio.

O mais curioso, é que ele, a "olho nu", é um cidadão completamente normalizado, com um emprego de funcionário público, daqueles bons, em que pode passar o dia a ver as barcas a passar no Tejo (num dos poucos lugares do Estado que ainda não foi obrigado a virar as costas ao rio...), enquanto arquiva os papeis que lhe vêm parar à mão nos lugares certos (é bom nisso, sempre foi muito arrumadinho...).

Nunca casou. Sempre teve dificuldade em viver com outras pessoas no mesmo espaço. Precisa e gosta da sua solidão, de não ser importunado, muito menos que mexam nas suas coisas. É por isso que nunca teve empregada em casa, é ele que é o "fado do lar".

Apesar de todas estas coisas estranhas, quando está comigo, fala pelos cotovelos. Diz mal de tudo e mais alguma coisa. Como adora sublinhar os livros que lê e mostra-me partes que normalmente me passam ao lado (sei que se fosse crítico, seria um mau crítico...) e que são realmente alarvidades literárias.

O mais curioso é sentir, que além de sorrir, também aprendo uma ou outra coisa a seu lado. Sinto que ele é demasiado inteligente para se sentir confortável neste mundo que nos cerca.

A minha companheira conhece-o de vista e chama-lhe "o meu amigo estranho", sem fazer ideia das coisas que ele diz, seja dos poetas que passam a vida a rimar "cão com cagalhão", dos vizinhos a quem diz bom dia e boa tarde, que fazem um esforço do caraças para fingirem que são felizes, ou ainda, das mulheres que passam o tempo a mandar nos homens e no mundo, mesmo que finjam que isso é mentira...

Ele diz que não precisa nada disso. Não precisa de rimar com as palavras, muito menos de sorrir à vida ou agradar aos outros, com as mulheres incluídas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)