domingo, janeiro 31, 2021

«A culpa não pode morrer solteira»


É em alturas como a que estamos a viver que ficamos a perceber que há demasiadas pessoas a exercerem funções governamentais e institucionais, sem a devida capacidade profissional e humana. Além de não serem competentes, não são responsáveis, muito menos justos ou solidários.

Acabamos todos por ser vítimas destes "elefantes", que passam os dias a "partirem louça", umas vezes sem terem a mínima ideia do que estão a fazer, outras, para mal dos nossos pecados, a saberem bem demais o que fazem, deixando que os seus interesses pessoais se sobreponham aos colectivos.

Estou convencido que isto só mudará quando os partidos (todos...) deixaram de funcionar como "agências de emprego", colocando os "seus" em funções onde a competência e a seriedade deviam estar acima da velha desculpa esfarrapada a que chamam: "confiança política".

Em grande parte é isto que explica a falta de planeamento e de prevenção dos nossos governantes, assim como a sua inacção, e claro, os demasiados atropelos ao que entendemos por senso comum, sem esquecer o compadrio e o amiguismo, que os leva tantas vezes a "fecharem os olhos" a problemas que nos afectam a todos, na saúde, na educação ou na justiça.

Sei que esta pode não ser a altura certa para se fazerem mudanças, mas num país normal, os ministros da administração interna, da justiça e da saúde, já tinham pedido a demissão e sido substituídos.

Como uma vez disse um ministro ao pedir a demissão: «A culpa não pode morrer solteira.»

(Fotografia de Luís Eme - Setúbal)


sábado, janeiro 30, 2021

Precisamos Mais do que um Polícia em Cada Esquina...


Não estou a falar das ruas, embora ontem dois polícias provocassem alguma agitação na minha rua sossegada, ao perseguir meia-dúzia de miúdos de cor, que "ocuparam" o polidesportivo ao ar livre que fica no final da rua das traseiras, para fazerem o que mais gostam, jogar à bola.

Eles tentam fingir que está tudo normal, não usam máscaras nem distanciamentos entre eles. Talvez se desculpem com o facto de estarem ao ar livre... mas nem é sobre eles que quero falar (muito menos sobre os imbecis que se fecham dentro de restaurantes aos magotes).

É sobre a decisão governamental de tornar mil políticos prioritários na vacinação contra o vírus... Talvez seja uma medida profilática para evitar que os muitos "chico-espertos" com cartões partidários dos dois partidos do costume - que já começaram a usar os seus cargos e o "poder" para se colocarem à frente da fila, deixando para trás os que estão no terreno a cuidar dos doentes - sejam apanhados na curva. Ou seja, é uma forma de "validar" o caciquismo praticado pelos "calixtos" das cidades, vilas e aldeias deste pobre país, que continuam a achar-se acima de todos os outros, e até da própria lei.

Sinto vergonha desta gente, cuja falta de carácter e de dignidade, faz mais pelo crescimento do populismo no nosso país, que qualquer discurso do pseudo-líder da extrema direita.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 29, 2021

"Refúgios" e Tempos Diferentes...


Estes tempos de pandemia acabam por acentuar as nossas diferenças de hábitos e gostos, por sermos forçados a partilhar mais horas do que estávamos a contar, com os nossos filhos e  companheira ou companheiro com quem escolhemos viver, fechados em casa.

Enquanto leio livros nas horas mortas, eles viajam por aqui e ali, quase sem perderem de vista aquele rectângulo, mágico e viciante, muito maior que o meu, que continuo a usar apenas como telefone.

Há dias que falamos mais, outros menos. Quase nunca discutimos, talvez por sentirmos que estes tempos não precisam dessas "miudezas". Também é raro ouvirmos música em conjunto (a não ser que escolhamos algum programa televisivo como o "Eléctrico" ou um concerto...). Cada um ouve o que lhe apetece usando os "headphones"...

A televisão só ganha vida mais para o fim do dia... e com a indiferença quase completa dos meus filhos (até as séries já vêm no computador...). Os canais noticiosos são um suplício, ao ponto de poderem ser confundidos com "filmes de terror", sobre hospitais, médicos, doentes e bombeiros. Quem está no sossego do lar chega a duvidar que aquilo esteja mesmo a acontecer "lá fora", que dia após dia, o número de vitimas continue a subir, como se nada fizesse sentido, nem mesmo a "nossa prisão" voluntária...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, janeiro 28, 2021

Vestígios do "Estado Novo" em Almada...


Nunca fiz a leitura da placa do "Castelo de Almada", como hoje, talvez por nunca me ter debruçado muito sobre ela...

E cheirou-me tanto a "Estado Novo"... Sim, duas mentiras daquelas que eram "fabricadas" para encher o peito do povo...

Pois é, nem os homens são de aço nem as muralhas do "castelo" são de granito. Mas que aquilo pegava, pegava...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quarta-feira, janeiro 27, 2021

Quase "Metáforas" de uma Caminhada...


Como já escrevi por aqui, dia sim dia não faço uma caminhada entre os 45 minutos e a hora e um quarto. Escolho percursos onde sei que quase não me cruzo com pessoas, quando abandono o espaço urbano.

Ainda na "aldeia" achei curioso que à porta de um café estivessem cinco pessoas, sem máscara, a fumar, e a dizer mal do governo, em relação ao combate ao "covid 19". O seu exemplo foi pragmático, em relação ao género de pessoas que gosta de apontar o dedo aos outros, sem se "olhar ao espelho"...

Quando já estava no "campo" ouvi vozes e do alto pude ver oito pessoas, que além de não usarem máscara não respeitavam o distanciamento. Era inevitável cruzarmo-nos, a não ser que eu voltasse para trás. Não voltei. Como viram que eu tinha máscara, quatro elementos do grupo misto colocaram a sua, os outros quatro permaneceram indiferentes embora mantivessem a distância em relação a mim. Deviam ter menos de 30 anos e falavam inglês uns com os outros.

Também me cruzei com um cão (é esse mesmo, o da fotografia...), que tal como eu, passeava "sem dono".  E o cuidado que ele teve com o distanciamento quando passou a meu lado...

Para variar, ao longo do percurso que fiz, encontrei quase uma dezena de máscaras usadas deixadas no chão. 

Este pequeno exemplo diz muito do nosso civismo e do respeito que temos pelo espaço público...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, janeiro 26, 2021

Os "Esquecidos"...


Quando se fazem contas sobre os resultados eleitorais, tratam-se os abstencionistas um pouco como os anónimos em alguns blogues (faz-se de conta que não "existem"...), dá-se o mínimo valor possível, a quem não quis exercer um dos poucos direitos que tem, de poder "mudar alguma coisa".

Sem me servir de qualquer estudo, estou convencido de que os abstencionistas de 2021 não são os mesmos de outros anos. Há muita gente de idade avançada que não votou pela primeira vez, por causa do cerco que o "covid 19" tem feito a todos nós (mas com maior incidência mortal a quem tem mais de 75 anos...). Tenho dois exemplos na família. Tanto a minha sogra como a minha mãe não foram votar nestas eleições. Ambas sabiam que o Marcelo ia ganhar com larga maioria e por isso não acharam que valesse a pena irem para filas das secções de voto, porque à partida estava tudo decidido.

Pelos resultados é fácil constatar que uma boa parte das pessoas que não foram votar votam à esquerda (o PCP e o BE valem mais que os votos no João e na Marisa, mesmo que alguns tenham "viajado" para a Ana... e no próprio PS houve quem não votasse por não querer votar à direita e não gostar da "embaixatriz"). Também se pode pensar que algumas pessoas da extrema direita devem ter votado pela primeira vez (especialmente os jovens...) em eleições, por finalmente se sentirem "representados" por alguém.

Ou seja, estas eleições foram de tal forma especiais, que no meu entender, não permitem uma boa parte das leituras que têm sido feitas pelos analistas e comentadores. Se no Alentejo profundo pode ter existido um voto "anti-cigano" (há muitas comunidades que se têm fixado nesta província e têm comportamentos que desagradam às populações nativas...), não acredito que isso tenha acontecido em Setúbal. Digo isto quando olho para os resultados e por saber que conheço mais de uma dúzia de pessoas que não foram votar e que habitualmente votam na CDU...

Espero estar certo. Mas como disse anteriormente, a "ameaça" veio para ficar...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, janeiro 25, 2021

Já é Mais que uma Ameaça...


O populismo da extrema-direita já é mais que uma ameaça, começa a ter expressão eleitoral.

Os resultados das eleições presidenciais de ontem à primeira vista parecem estranhos, e até absurdos, se pensarmos que o candidato xenófobo, racista, homofóbico e com alergia à democracia (para não dizer outra coisa...), ficou em segundo lugar em quase todos os distritos do país. E conseguiu ainda esta coisa curiosa de ter obtido os seus melhores resultados no Alentejo (20% em Portalegre, 16,7 % em Évora e 16,1 % em Beja), que durante anos e anos foi comunista.

Penso que não é o caso de "os extremos tocarem-se", como me disse, com alguma ironia, um amigo ao telefone. São talvez os filhos e netos desses comunistas, desiludidos por mais de quatro décadas desta "governação a brincar", que nos fazem  pensar tantas vezes que os "taxistas" e "barbeiros" deste país têm razão. Esses mesmo, que só não ostentam a fotografia de Salazar nos seus carros e barbearias, por terem medo de perder a clientela...

Incomodou-me bastante que no meu distrito (de esquerda desde Abril...) o candidato da extrema-direita tivesse ficado com a mesma percentagem de votos da Ana Gomes. Mas como eu só tenho direito a um voto, pouco posso fazer...

O que eu gostava mesmo era que os políticos tirassem ilações destes resultados (o que mais uma vez não deverá acontecer...) e que ministros como o senhor Cabrita metessem a "viola no saco" e fossem "desafinar" para a sua casa. Mas quando Rui Rio (que pode ser quem tem mais a perder com este "avanço") teve o desplante de falar ontem à noite como um "vencedor", em toda a linha, está tudo dito...

(Fotografia de Luís Eme - Alentejo)


domingo, janeiro 24, 2021

O Voto é um Direito de Todos Nós


Já fui votar. Como de costume na minha mesa de voto não foi necessário esperar (não sei se tem menos eleitores, sei que tem sido assim nos últimos anos, costuma ser a única que não tem filas...).

Reparei que aparentemente manteve-se tudo igual na escola secundária (é provável e desejável que existam mais mesas de voto...), com apenas uma entrada na escola, para todos os votantes.

Havia filas no interior e no exterior da escola, com a devida distância, mas que poderiam ser reduzidas, se os organizadores tivessem pensado em organizar o acto eleitoral com pelo menos mais uma entrada para as mesas de voto (e a escola tem várias...).

Nestas eleições votei essencialmente contra o candidato que não tem qualquer pejo em assumir que não respeita a constituição nem o regime democrático.

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


sábado, janeiro 23, 2021

A Realidade Nunca é Muito Diferente da Ficção...


Um amigo contou-me uma vez, um daqueles episódios familiares que nenhum de nós deseja viver. Foi um episódio de tal forma marcante, que nunca mais conseguiu olhar e recordar o pai da mesma forma...

Alguns meses depois dele partir, receberam um telefonema da América estranhíssimo. No início pensaram que era engano ou uma brincadeira de mau gosto, mas pelos detalhes que lhes foram oferecidos, perceberam que ele tinha outra família nos Estados Unidos da América (uma mulher e dois filhos).  Os meio-irmãos americanos não só entraram em contacto com eles como quiseram conhecer, a "outra família", do pai.

E alguns meses depois viajaram até ao nosso país. Não foi um encontro feliz nem infeliz. Foi sobretudo estranho, para todos. Deve ter sido por isso que nunca retribuíram a visita, não sentiram qualquer curiosidade em conhecer a América que foi do pai.

Se a história dos "marinheiros que tinham uma mulher em cada porto" era exagerada, também não foi difícil concluir que havia alguma verdade dentro dela... Talvez o pai nem fosse caso único. 

"Embarcadiço", passou uma boa parte da sua vida no meio do Atlântico, ao serviço de uma companhia de navegação americana, e nos intervalos das viagens, tinha "duas casas e duas famílias", em dois continentes. Durante mais de vinte anos conseguiu dividir-se entre Nova Jersey e Malveira,  sem levantar grandes questões, embora nunca passasse de um marido e de um pai ausente... 

Confidenciou-me que os presentes bonitos que recebia, e que eram novidade, nunca foram suficientes para apagar a sensação de ter um pai, quase sempre, em viagem, à volta do mundo. Na infância e adolescência inventou muitas histórias e transformou o pai num "herói", quase ao nível dos nossos descobridores. Depois cresceu e a vida tratou de lhe devolver um pai diferente, distante (talvez saudoso da "outra família", com quem foi mais feliz...) e pouco heroico. 

Por mais que tente, não consegue perdoar a "cobardia" ao pai. Não é tanto o facto de ele ter "duas famílias", mas sim por ter conseguido levar este seu segredo para a "cova". Fez alguns interrogatórios no seio da família e percebeu que nem mesmo os seus irmãos sabiam desta "duplicidade" familiar.

Depois de se reformar o pai passou os seus últimos dez anos de vida no nosso país (só viajou uma vez para a América, para festejar o centenário da empresa onde trabalhara...). Nem este afastamento da sua família americana fez com que desabafasse com alguém sobre este dilema, que pensamos muitas vezes, que só se passa nos filmes e nas telenovelas...

Este é apenas mais um episódio que nos diz que a realidade nunca é muito diferente da ficção...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


sexta-feira, janeiro 22, 2021

Caminhar, sim, mas sem Paragens e sem Conversas...


Sinto estes últimos dias mais parecidos com Março...

As "loucuras" do primeiro fim de semana acabaram por correr o mundo inteiro (sabe-se lá com que comentários, dos holandeses e afins...) e fazer com que perdêssemos, por algum tempo, a "beira-mar" e a "beira-rio" (nesta margem do Tejo por enquanto ainda não existem barreiras...).

Até os bancos de jardim, voltaram a ser apenas dos pombos e das gaivotas. É estranho, mas tem de ser...

Mesmo sem termos um cão, precisamos de caminhar. Faz bem ao corpo e à alma. De preferência sem paragens e sem conversas... e sem perder de vista o nosso bairro (isso é que é mais difícil de cumprir, pelo menos para mim, que não gosto de andar às voltinhas, prefiro dar uma volta grande...).

Hoje nem sequer saí de casa (estou a fazer uma marcha de pelo menos uma hora, dia sim dia não...), estive entretido a recordar meia dúzia de pormenores técnicos da minha primeira profissão (aprendiz de estofador...), ao forrar algumas cadeiras. O que acabou por ter alguma vantagem, já que me desviou do computador durante várias horas...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

quinta-feira, janeiro 21, 2021

As Mercearias de Bairro Voltaram a ser "Especiais" (será?)...


Desde o primeiro confinamento que fiquei com a sensação de que a limitação de movimentos obrigatória nos tinha "empurrado" para as "velhas" mercearias de bairro.

Quase um ano depois - e de novo confinados - dou comigo a pensar que pode ser apenas uma "coisa minha", e talvez as coisas não tenham mudado assim tanto, por esses "bairros" fora...

Posso ter sido apenas eu a "mudar"... E a voltar a frequentar a mercearia do meu bairro...

E por acaso até já escrevi sobre esta loja especial aqui no "largo" (a propósito do dono, rapaz que vi crescer e era filho da senhora que me tornou cliente, muito graças à simpatia e jeito para o "comércio", coisa que ele herdou...). 

É por isso que o que eu queria mesmo era "generalizar". Mas como não sei se é assim em todos os bairros, é melhor não "inventar". Há sempre a possibilidade de "os outros" não terem tido a nossa sorte...

Embora deva confessar que não se tratou de "amor à primeira vista". A mercearia foi-se tornando importante para nós, aos poucos. Primeiro apenas quase como "padaria" (tem um pão alentejano do Cercal delicioso...), e só depois como "loja de tudo". Como os preços não são muito altos (senti-me várias vezes "enganado" por gente que pensa que somos todos "parvos" e vendem as coisas ao dobro do preço dos supermercados e das grandes superfícies comerciais...), e a fruta e os legumes têm bom ar, é fácil levar sempre mais qualquer coisa...

Mas talvez seja a familiaridade que se vai ganhando, dia após dia (algo que só raramente se conquista com a caixa de qualquer supermercado), que torna as mercearias de bairro especiais...

(Fotografia Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, janeiro 19, 2021

É tão Importante Saber Perder como Saber Ganhar...


Mesmo sem ser sportinguista, gostei de ver o Sérgio Conceição ficar, mais uma vez, "aziado", depois da derrota na primeira meia-final da Taça da Liga.

Parece que as "corridas" em direcção ao árbitro (dos jogadores) e os gritos ameaçadores do banco de suplentes (dos treinadores, dirigentes e até do massagista), estão a deixar de surtir o efeito desejado...

Continuo a pensar que quem não sabe perder, está a mais no desporto. Porque no mundo dos desportos colectivos  normalmente existem  três resultados possíveis, a vitória, o empate e a derrota...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, janeiro 18, 2021

Este Maldito Sistema que Gosta tão Pouco do Mérito...


Se existir algum sector da nossa sociedade que não esteja dominado pelo velho sistema do "amiguismo" e da "cunha", contrariando em toda a linha a tão falada meritocracia (é um pouco como a solidariedade, anda de boca em boca, mas quase sem qualquer resultado prático...), é com toda a certeza a excepção que confirma a regra.

No mundo da política é onde se notam mais "atropelos" e onde se afastam com mais nitidez os "melhores" (normalmente ainda na base da pirâmide...). O normal é vermos várias pessoas serem nomeadas para altos cargos governativos, sem que seja visível qualquer mérito ou qualidade técnica e humana, para o seu exercício. Passa-se o mesmo a nível empresarial, onde os pais continuam a proteger os filhos e a guardarem-lhes lugares nas administrações e nos escritórios. Estes exemplos vão descendo até às chefias medianas, onde é mais fácil a qualquer "lambe-botas" chegar ao comando de qualquer secção, que aos funcionários que dão nas vistas, graças à sua competência e conhecimento técnico.

Embora saiba que as regras de acesso a todas profissões devem ser respeitadas, faz-me confusão que depois de algumas pessoas demonstrarem grande qualidade nas suas funções, continuem a ser perseguidas, com o argumento que lhes falta um "canudo" qualquer ou o "curso", que muitas vezes só abre para quem "eles querem...". Claro que é a inveja que dita a maior parte destas perseguições. Os medíocres só gostam de se verem rodeados de gente ainda mais medíocre...

Foi por tudo isto que adorei a resposta que o treinador do Sporting, Rúben Amorim, deu ao presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, José Pereira (que nunca passou de um treinador mediano...). Este disse, "Quem anda a tirar a carta de condução não está apto para conduzir, Amorim foi extremamente feliz com o argumento que utilizou, na resposta: "O Miguel Oliveira não tem carta e safa-se muito bem na sua vida. Vale o que vale."

E fico-me por aqui, com o Rúben, e com  todos aqueles que enfrentam diariamente, sem medo, os "medíocres".

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, janeiro 17, 2021

"Já não se trata de ter medo, mas sim de respeitar os outros"


Sei que o primeiro confinamento resultou porque existia bastante "medo". O covid 19 era uma doença nova e se no nosso país não existiam casos muitos dramáticos, as imagens que chegavam de Espanha e de Itália, eram mais que suficientes para nos assustar... Até por todos sabermos que o nosso Serviço Nacional de Saúde não nos oferecia mais garantias que o destes dois países europeus...

Dez meses depois voltamos a um novo confinamento, num cenário completamente diferente. Se por um lado há mais conhecimento e mais protecção (as máscaras existentes eram diminutas e por isso não eram obrigatórias no começo da pandemia assim como o álcool desinfectante...), por outro, o convívio com esta pandemia - e com várias medidas contraditórias das autoridades -, provocou cansaço e indiferença na população.

Nem mesmo os números assustadores dos últimos dias têm evitado comportamentos demasiado descontraídos, como os que foram notícia nos telejornais com demasiadas pessoas a passearem de manhã e de tarde no paredão de Cascais rente ao mar, muitas delas sem máscara e sem cumprirem o distanciamento obrigatório (pratica que deve ter sido comum a mais zonas costeiras...). 

Mas temos mesmo de mudar o nosso comportamento. "Já não se trata de ter medo, mas sim de respeitar os outros".

Se não conseguimos respeitar todos aqueles que estão diariamente na "linha da frente", confrontados com cada vez mais casos e piores condições de trabalho, que tenhamos pelo menos respeito por todos aqueles que convivem connosco, diariamente.

(Fotografia de Luís Eme - Costa de Caparica)


sábado, janeiro 16, 2021

Será que a Cultura é Olhada quase como um Vírus?


Eu sei que somos um país com poucos leitores, mas isso por si só, era uma boa razão para que as livrarias se mantivessem abertas (era apenas mais uma excepção...).

Mas pela forma como as coisas e as pessoas da culturas têm sido tratados durante estes longos meses, talvez ela tenha mesmo algum "vírus", que pode fazer mal a muita gente...

Eu sei que não é preciso ler livros, para saber que sempre foi mais fácil governar um país de ignorantes que de gente esclarecida, mas...


quinta-feira, janeiro 14, 2021

A Porta 18...


Estava para escrever sobre a "espertina" que nos persegue, quando nos deitamos fora de hora. Perdemos o sono. Perdemos o pé, ao ponto de termos vontade de esperar pelo amanhecer...

Depois lembrei-me o quanto tenho saudades de andar a pé pelos bairros de Lisboa. Ia em trabalho para as avenidas novas e o normal era regressar a pé, até ao Cais de Sodré, à espera de uma barca para esta margem. De preferência por ruas desconhecidas, mesmo que demorasse duas horas a chegar ao Rio.

Pois, mas nos próximos tempos, os passeios ligeiros, têm de ficar por este lado do Tejo. Não descobrirei tantas novidades como descobria em Lisboa, embora de vez em quando seja surpreendido, como aconteceu hoje, ao olhar para a "Porta 18"...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quarta-feira, janeiro 13, 2021

O Jornalismo, a Justiça e o "Jornalismo Justiceiro"


De repente há uma quantidade de gente do jornalismo que se finge escandalizada, porque dois jornalistas (nessa altura do "Correio da Manhã" e da "Sábado", ambos do grupo Cofina...) foram vigiados pela PSP,  a pedido do Ministério Público, por terem publicado notícias on-line do caso "e-toupeira", ainda antes das acções policiais de buscas e detenções terem acontecido. 

Estes "milagres" são recorrentes e alimentam o "jornalismo justiceiro" praticado por este grupo, useiro e vezeiro em violar o segredo de justiça. Ao ponto de alguns humoristas brincarem com o facto dos jornalistas do "CM" chegarem aos locais dos crimes, ainda antes destes acontecerem...

Embora não concorde com este procedimento do Ministério Público, concordo ainda menos com este jornalismo justiceiro, que adora condenar as pessoas antes de serem julgadas nos tribunais. E sei que esta é a única possibilidade de se descobrir quem são as "gargantas fundas" das nossas policias, que "plantam" informações (pouco inocentes...) nos jornais e televisões sobre uma boa parte dos processos que estão em segredo de justiça.

Não me admira que também estejam a investigar algumas "notícias com preço" (há vários testemunhos de gente que diz ter recebido ofertas de dinheiro de jornalistas do "grupo justiceiro" a troco de informações sobre vários casos polémicos). 

A única coisa que sei, é que o verdadeiro jornalismo mora bem distante deste "vale tudo".

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


terça-feira, janeiro 12, 2021

Os "Imortais" e uma Janela Fechada na Rua Vazia...

Não sei se vou voltar a sentir a estranheza das ruas completamente vazias. Voltar a sentir que estou a infringir qualquer "lei", mesmo sabendo que as caminhadas para exercitar o corpo e a mente são permitidas (desde que não nos afastemos muito da nossa casa...).

Provavelmente não. Nada voltará a ser igual ao primeiro confinamento. Acho que as pessoas já estão cansadas e fartas de ter "medo", é por isso que algumas exageram nos erros... 

Ou talvez não. A maior parte das pessoas continuam cuidadosas e a evitar cometer erros. Andam de máscara nas ruas e nos lugares públicos fechados e têm um frasco de desinfectante sempre à mão nas malas ou nos bolsos.

Até conseguem achar estranho ainda se cruzarem com meia-dúzia de pessoas que se misturam com a multidão, sem qualquer protecção no rosto. E pensam que talvez  elas acreditem mesmo que são "imortais"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, janeiro 11, 2021

Outros "Trabalhos de Casa"...


Há títulos como este, que mesmo sem saberem, já estão a falar do nosso futuro próximo. 

O pior é que... apesar de estar em cartaz no Teatro Joaquim Benite, deverá ser adiado... O mais provável é a dança ficar mesmo para depois.

E nós vamos voltar quase todos aos "trabalhos de casa", segundo as palavras "avisadas" do primeiro-ministro...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, janeiro 10, 2021

O Tempo das "Segundas Mulheres"


Ultimamente não me têm aparecido muitas ideias, daquelas que parecem ter capacidade para alimentar uma boa história. Acho que isso se deve ao "cerco" a que continuamos condenados, porque a rua é o meu "grande depósito" de personagens e de enredos, capazes de entrar pelo computador dentro... à procura de uma nova vida, algo que que se tem tornado cada vez mais difícil de acontecer. 

A falta de "tempo"... é sempre a melhor explicação para o número de histórias inacabadas que moram na pasta das "ficções"...

Foi por isso que estranhei que me aparecessem, primeiro uma, depois outra, duas mulheres durante a noite, mais dentro dos pensamentos que dos sonhos. Mulheres que conhecera durante a infância e adolescência (hoje devem ser octagenárias...) e que eram faladas na vizinhança pelos piores motivos. Sim, não eram mulheres de um homem só. Na época não gostava delas, mais pelo que ouvia dizer que o que conhecia das suas vidas... Nunca fomos muito próximos nem muito afastados, porque os bairros eram como as aldeias. Uma era vizinha de um dos meus tios e a outra amante do pai um dos meus melhores amigos de infância. O mais curioso, é que nem sequer me lembro de alguma vez ter tido uma conversa com elas, sobre o que quer que fosse... 

Mas elas apareceram-me, como se quisessem ser "humanizadas", que eu oferecesse a explicação para o seu comportamento desviante de "segundas mulheres", ou simplesmente "amantes". Havia uma certeza nas suas vidas: não tinham casado por amor, nem nunca amaram os seus maridos. Talvez até os seus filhos tivessem mais parecenças com os amantes que com os homens com que partilhavam o lar. Talvez...

Ambas tinham fama de ter dezenas de amantes. A rua é assim, a um ponto acrescenta sempre um conto. E se for possível até se pode chegar a romances de cordel, com uma linguagem que ultrapassa a linha erótica. Mas uma delas teve sempre um único amante a vida toda (poderão ter existido outros, mas coisas de pouca importância). Talvez ele fosse o amor da sua vida. Talvez...

Apeteceu-me agarrá-las como personagem de qualquer história de um outro tempo, em que havia "primeiras" e "segundas mulheres". Mas provavelmente ficarão apenas por aqui, pelo Largo, que continua a ser um lugar de passagem de muita gente, que anda apenas à procura de uma rua, de uma porta para entrar...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 08, 2021

Dois Homens Bestiais que Derrotam a Besta Dia Sim Dia Sim


Hoje apetece-me falar de futebol. Ou para ser mais preciso, da inveja, do cinismo e da hipocrisia que existe na sociedade e, naturalmente, no "desporto-rei".

Há muito tempo que me custa entender o porquê de estarem sempre a colocar em causa a qualidade dos dois melhores treinadores portugueses. Sei que ambos se colocam a jeito muitas vezes, porque nunca deixam de dizer o que lhes vai na alma, nas conferências de imprensa, deixando vários jornalistas e comentadores de queixo caído.

Como já devem ter percebido falo de José Mourinho e de Jorge Jesus. Gosto de ambos, pelo muito que sabem de futebol e também por nunca se esconderem atrás de "biombos".

Provavelmente são demasiados orgulhosos e "cheios de si". Mas ainda bem que são assim, pois é essa confiança (de se acharem os "melhores do mundo"), que os faz ter sucesso naquele que é o espectáculo mais exigente do planeta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, janeiro 07, 2021

Democracia, Mentiras e Poder


Nem sei se comece por falar do péssimo exemplo dado por alguns americanos, em relação ao país que gosta de se afirmar como o "mais democrático e livre do mundo". Ou se fale das "guerras internas" (é notório que existe, mais uma vez, uma luta de poder entre PS e PSD...) sobre a nomeação de um procurador europeu, com demasiadas contradições e até mentiras. 

O exemplo americano protagonizado pelo ainda presidente, que não aceita a sua derrota e continua a falar de "fraude eleitoral" (mesmo que nunca tenha conseguido apresentar qualquer prova...), convidando os seus apoiantes a dirigirem-se para o Capitólio e a ocupá-lo. De cuja tentativa de invasão resultaram quatro mortos, dezenas de feridos, meia centena de detidos e o recolher obrigatório decretado pela presidente da câmara de Washington, a democrata Muriel Bowser, que disse: "Assistimos a um ataque sem precedentes à nossa democracia americana, incitado pelo Presidente dos Estados Unidos. Tem de ser responsabilizado. A sua retórica constante e divisiva provocou as acções abomináveis que hoje vimos".

A questão portuguesa é mais branda, tal como os "nossos costumes", mas não deixa de ser grave. Nestes casos pede-se sempre a demissão do ministro (neste caso ministra), mas normalmente desce-se uns degraus, convidando alguém a "assumir as suas responsabilidades directas".  Foi o que aconteceu com Miguel Romão, que exercia o cargo de director-geral  da Política de Justiça, no Ministério da Justiça, que se demitiu por ser o responsável pelas "mentiras curriculares" da nota que foi enviada para a União Europeia sobre José Guerra. Mas não deixa de ser curioso que ele começasse por dizer que "não houve intenção nenhuma de falsear, subverter ou adulterar qualquer informação por parte de ninguém", para no dia seguinte deixar várias suspeitas no ar em relação à Ministra da Justiça... 

E nem vou falar das acusações do primeiro-ministro, de "conspiração contra Portugal", aos sociais democratas e emigrantes de luxo, Paulo Rangel e Miguel Poiares Maduro.

Percebe-se sim que a democracia continua a ser subvertida, de uma forma cada vez mais descarada, tanto dentro como fora do país.

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


terça-feira, janeiro 05, 2021

O Homem e o Artista, Livre, Insubmisso e Genial


O jornalismo deu-me a possibilidade de conhecer pessoas extraordinárias. Uma delas foi o João Cutileiro, que me recebeu na sua "Casa-Oficina", em Évora, como se nos conhecêssemos desde sempre, numa bela tarde primaveril.

Ninguém diria às primeiras, que aquele homem, facilmente confundido com um operário, graças às marcas de pó branco, nas peças de roupa, no cabelo e até nos seus óculos redondos, era um artista genial, capaz de pegar num pedaço de pedra e oferecer-lhe, entre outras coisas, um corpo de mulher, com todas as curvas possíveis e imaginárias.

Recordo sobretudo a sua autenticidade e o seu sentido de humor. Tantas histórias contadas dentro e fora das suas estátuas, de tamanhos diversos. Tanta vida vivida, tanto amor à liberdade...

João Cutileiro deixou-nos hoje. Felizmente a sua obra irá permanecer séculos e séculos entre nós (a pedra dura mais de mil vidas...). Neste caso particular, trata-se de uma obra singular, da qual tanto se pode gostar como detestar. 

E uma das melhores coisas, para qualquer artista, é não deixar ninguém indiferente...

(Fotografia de Luís Eme - Parque das Nações)


segunda-feira, janeiro 04, 2021

«Devia ser proibido publicar livros depois dos 65 anos»


Um amigo meu que escreve livros e que ultrapassou há pouco tempo a idade da reforma, disse-me, meio a sério meio a brincar, que «devia ser proibido publicar livros depois dos 65 anos.»

E depois explicou-me o que lhe está a acontecer, com demasiada frequência: «depois dos sessenta e pouco começamos a confundir com mais facilidade as pessoas, os lugares e os acontecimentos do dia-a-dia. E o pior é que transportamos esta "confusão" para dentro dos livros, deixando o leitor tão ou mais baralhado que nós.»

Falei-lhe de Saramago e dos livros que escreveu depois dos 65 anos de idade. Ele não ficou muito convencido e trouxe para a conversa o seu "eterno rival" (que gosta de tratar por senhor Antunes), que ainda se baralha mais que ele, com as personagens e com a história dos livros.

E depois foi tempo de darmos os dois uma gargalhada das boas. Dessas mesmo que agora são raras, ao ponto de deixar toda a gente a olhar desconfiada para nós. 

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, janeiro 03, 2021

Um Quase Diário destes Fins de Semana Demasiado Curtos...


Estes fins de semana em que a vida na rua "acaba" às treze horas, tornam os dias ainda mais estúpidos e vazios.

Em casa seguem-se as rotinas de sempre. Fugir dos canais de televisão portugueses, com programas de divertimento que me soam cada vez mais patéticos, com o desfile de uma dúzia de artistas permanentes, que até devem pagar para aparecer (quando ligo a televisão é normal dar de caras com o Toy, como se ele vivesse "dentro da televisão") e ver se ainda existem filmes para ver, que consigam escapar da banalidade deste dias.

Somos quatro. É normal cada um estar a "viajar" no seu computador ou smartphone. O silêncio é quebrado pela excitação dos meus filhos quando estão a jogar com amigos (penso eu...), especialmente quando perdem. Ganhar, além de saber melhor, costuma "abanar" menos o apartamento.

Hoje nem sequer pude ouvir o relato do Benfica porque o jogo disputado nos Açores foi interrompido pelo mau tempo, que não se ficou pelo canal, entrou dentro da ilha...

Sei que já estamos em 2021 e que já devia começar a organizar o computador para um novo ano, com novas pastas... mas continua tudo a soar tão a "velho", que ainda não é hoje que dou o salto para o ano novo.

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


sábado, janeiro 02, 2021

Uma Viagem no Tempo, entre a Vergonha, o Orgulho e a Indiferença...


O mesmo acontecimento pode provocar sensações completamente diferentes, ao longo dos tempos, na mesma família.

Lembrei-me disto ao conversar com um amigo, sobre várias aventuras vividas antes de Abril, que me disse a sorrir, que a sua única "nódoa" como antifascista, foi nunca ter sido preso. Contra-argumentei, que foi sim, mais inteligente e cuidadoso que muitos dos seus camaradas (que usam e abusam dessa "medalha").

Quando o meu avô paterno foi preso em 1936,  na Fortaleza de Peniche, no começo da Guerra Civil de Espanha, toda a família ficou marcada socialmente (foram olhados de lado e apontados na rua durante muito tempo...). Um preso era um bandido, ponto final. Porque só depois de Abril é que passaram a existir "presos políticos"...

Eu que cresci em liberdade senti algum "orgulho" em saber que o avô esteve em Peniche e que não gostava nada do Salazar e que simpatizava com os anarco-sindicalistas (e quem é que não "sonhava" com um mundo sem patrões, num tempo em que éramos explorados até ao tutano?).

E os meus filhos, quando visitaram o Forte de Peniche e viram o nome do bisavô gravado no "memorial" (que não conheceram...), ficaram mais próximos da indiferença, que de qualquer outra sensação.

Pois é... o tempo ameniza quase tudo...

(Fotografia de Luís Eme - Peniche)


sexta-feira, janeiro 01, 2021

Porque o "Largo" é um Lugar com Memória...


Sei que falar sobre alguém que nos deixou, não é a melhor maneira de iniciar o ano aqui no "Largo". Mas este é um lugar com memória, e seria injusto não escrever meia dúzia de linhas sobre Carlos do Carmo, que foi mesmo um charmoso. E por isso é uma boa memória para quase todos que tiveram o privilégio de o conhecer.

Além de o entrevistar, estive mais duas ou três vezes com ele, por termos amigos comuns. O que recordo? Um homem de princípios, opinativo, culto, que gostava de ser de esquerda, por acreditar ser possível vivermos num mundo mais igual, para todos nós. Em suma, "boa gente".

Numa das últimas entrevistas que deu (ao "Ípsilon" em Outubro de 2019...), disse:

«Eu necessito de afecto, olho para as pessoas e gosto de sentir afecto por elas, dá-me vida. Morrer? Estou pronto para morrer a qualquer momento. Seria injusto queixar-me. Trataram-me tão bem… O meu pai não tinha dinheiro para mandar cantar um cego e pôs-me a estudar num colégio na Suíça, casei com uma mulher que é uma pessoa do outro mundo e depois os nossos filhos e netos, há aqui um conteúdo de grande liberdade com grande responsabilidade, portanto quando nos encontramos estamos bem. Discutimos, ralhamos, cada um traz o seu problema, é excelente. E acordo sempre bem-disposto: porque estou vivo.»

Gostava de cantar os grandes poetas e teve a coragem de trazer para o fado outros instrumentos, além da guitarra e da viola. Na época foi bastante criticado, mas o tempo deu-lhe razão. A modernidade do fado, deve muito ao Carlos.

Mas como o poeta escreveu, para ele cantar com a sua qualidade e singularidade: "Por morrer uma andorinha, não acaba a Primavera..."

(Fotografia de Luís Eme - do Ginjal com o Tejo e Lisboa)