terça-feira, novembro 29, 2016

As Nossas Histórias que Ficam Fora dos Livros...

Não nos encontramos todos os dias, por não vivermos na mesma cidade e também por nem sempre termos histórias para inventar e contar um ao outro.

Sim, contamos quase sempre um ao outro as histórias que nunca iremos escrever... Posso mesmo acrescentar que se tornou um vício.

Gostei da história que me contaste, um policial a espaços delicioso, com suspense, humor e personagens dignas de qualquer livro escuro. Disse-te que desta vez podias fintar a "superstição do escritor" e transformar em realidade a história que me ofereceste. Sorriste antes de dizer que não.

E faz sentido. Ambos sabemos que as histórias que contamos aos outros ficam demasiado "gordas" para caber dentro dos livros.

No mundo dos livros como em tantos outros, "o segredo continua a ser a alma do negócio"...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, novembro 28, 2016

Revoluções e Palavras em Novembro

Falava-se do 25 de Abril por ser 25 de Novembro.

No início eram quase a "antítese" (o céu e o inferno), mesmo que na mesa estivesse alguém que tinha feito parte deste último movimento, que apenas queria devolver a democracia ao país, acabar com os exageros cada vez mais perigosos, de tantos esquerdistas agrupados em mil e um partidos, que tanto poderiam ser maoistas, como marxistas e leninistas. As amplas liberdades deram-lhes a possibilidade de andarem armados (também em parvos, mas andavam mesmo com armas de verdade). Habituaram-se a ocupar tudo o que parecesse vazio, sempre em "nome do povo" (que costas tão largas que tu sempre tiveste...).

Foi então que a memória os recordou desses tempos cheios de "polícias" (quase todos gadelhudos e com barba revolucionária...), que tiveram o seu auge no dia 28 de Setembro, um dos dias em que puderam virar quase de pernas para o ar todos os carros que lhes apareceram à frente...

Eu sabia que o 25 de Novembro não tinha sido feito para que tudo voltasse a ser como dantes. Para que as famílias exiladas no Brasil e em Espanha regressassem com vontade de "reconquistar" os seus impérios nacionalizados (o que acabou por acontecer, mais ano menos ano...), ao mesmo tempo que se fingiam "vitimas" e pediam indemnizações milionárias ao Estado (e não é que alguns as receberam mesmo?).

Entretanto voltei ao presente. 

E não é que dois dias depois das "iscas" o "melhor administrador de bancos deste país" (só pode ser isso ou algo parecido...) pediu a demissão. 

Um homem passeava na rua com uma folha que parecia um mapa e que abria aqui e ali, para mostrar que fulano era filho de beltrano e neto se sicrano. Talvez por um mero acaso, lá voltavam as velhas famílias, que sempre se "governaram bem" neste país, ora disfarçados de banqueiros, ora de empresários, e sempre "de sucesso!", à baila...

E eu fiquei a pensar que mais importante que saber de onde tinham vindo tantos ministros, secretários de estado, deputados e gestores, com nomes que eram tão familiares a Salazar, era o que tinham feito para chegar até aqui...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, novembro 27, 2016

O Bom Jornalismo, as Mentiras e as Redes

Nunca foi tão necessário o bom jornalismo, numa época em que parece ter deixado de existir o meio termo e que querem empurrar o "bom senso" para longe. Até porque só o bom jornalismo poderá derrotar as  notícias "falsas" que se tornaram moda nas redes sociais...

Há acontecimentos que fazem com que algumas pessoas façam exercícios de memória. É o que tem acontecido com a despedida do "Diário de Notícias" do seu bonito edifício num dos lugares mais nobres de Lisboa. No meio de algum lamechismo também  têm aparecido boas crónicas (nos jornais e na blogosfera).

Ontem quando ainda estava sozinho no café escrevi sobre "os jornais onde nunca irei escrever", até por depois dos cinquenta os sonhos serem diferentes... prendem-se menos com lugares e cargos (até por ser a partir desta fasquia que começamos a ser empurrados para o clube dos "velhos"...). Também só me lembrei de referir dois títulos, "A Bola " e o "Diário de Notícias". Sim, são os únicos onde escreveria com gosto, se fosse convidado para tal. Isso não acontece apenas por serem duas "instituições" no mundo do nosso jornalismo, são também os primeiros jornais que me habituei a ler no começo da adolescência.

Dos desaparecidos também lia com gosto (nos seus bons tempos...) o "Diário Popular", o "Diário de Lisboa" e "A Capital", curiosamente todos vespertinos, algo que acabou, pois deixaram de existir jornais da tarde...

Com a chegada de um amigo, a prosa de café foi interrompida.

Falámos de outras coisas, distantes do mundo dos jornais e das notícias. Mas o bom jornalismo continua a ser necessário. Claro que só há bom jornalismo com bons jornalistas. Sei que hoje se mente com facilidade por todo o lado, a começar nos políticos (perderam de vez a noção do ridículo...), mas quem tem como missão a procura da verdade, doa a quem doer, não pode ter preço nem medo de incomodar os vários "poderes instalados".

Nota: Esta é a minha opinião, mesmo que vá contra a nossa realidade, em que o jornal que mais vende, é aquele que mais explora as meias-verdades e que não aceita ser neutro.

(Óleo de Francis Luís Mora)

sábado, novembro 26, 2016

Mais um Mito que Desaparece...

Mesmo que Fidel Castro me desperte simpatia, por ter sido sempre um lutador e um resistente (especialmente contra os EUA...), não esqueço que foi um ditador. 

Não sei se fez mais bem que mal a Cuba, mas acredito que a balança se incline para o lado positivo, por nunca ter sido um "mal amado" pelo seu povo, pelo tempo que durou no poder e também por ter saído pelo próprio pé (ainda que se tenha feito substituir como se vivesse numa monarquia...).

Mas Fidel nunca foi um paladino da liberdade, pois fez tudo menos respeitar aqueles que pensavam de maneira diferente no seu país (perseguiu, mandou prender e - no mínimo - torturar...).

É mais um "mito" que nos deixa, ainda que nunca tenha atingido a popularidade de Che, que se distanciou dele e morreu antes de tempo...

(Fotografia de autor desconhecido)

sexta-feira, novembro 25, 2016

Arte de Rua da Boa...


Em três imagens com ângulos diferentes conseguimos ver coisas diferentes... E não se trata apenas de ilusão de óptica.  Na primeira é o que é, "sucata pintada".


Na segunda imagem todos os materiais utilizados começam a ganhar vida e a querer ser alguém.


Mas é preciso olharmos a imagem bem de frente para darmos de caras com o "animal". E deixarmos de fazer quase figura de "urso"...

Fotografias de Luís Eme - Obra de Bordalo II rente ao Centro Cultural de Belém)

quarta-feira, novembro 23, 2016

Árvore de Outono à Beira Tejo

Hoje de manhã andei a passear pelos campos, sem perder o Tejo de vista, na zona do Monte da Caparica.

Uma das boas surpresas que encontrei foi esta árvore, quase outonal.

Apesar do frio de Novembro o Sol estava bastante brilhante e intenso (fiz bem "vadiar" hoje porque, segundo os meteorologistas, amanhã espera-nos um dia cinzento)... 

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, novembro 22, 2016

Porque Partimos (ou não)...


Eu sei que as pessoas que escrevem nos jornais quando não têm assunto, inventam (também já me aconteceu... e acontece aqui no blogue). É por isso que algumas ideias muitas vezes repetidas vão-se tornando "verdades"...

Uma das coisas de que continuo a ter dúvidas da sua veracidade, é a história de que quem parte são os melhores, e que sempre foi assim. Quanto muito é mais uma daquelas "meias-verdades" que somos bons a explorar e nos levam a viajar pelo menos até aos descobrimentos...

Esquecem-se é que quem partia nessas "empreitadas" de há quinhentos anos era o "povo", eram aqueles que pouco ou nada tinham para comer, e que aceitavam com maior facilidade o risco de partir para o desconhecido, muitas vezes para a "morte"...

Mesmo durante os grandes períodos de emigração, quem partia era quem vivia pior, e como ambicionava a mais qualquer coisa, partia... Mais uma vez, não eram os melhores de nós. Quando muito eram os mais atrevidos e ambiciosos.

Sei que hoje as coisas são um pouco diferentes. Por que se procura uma emigração de qualidade, gente já formada que faz falta aos países mais desenvolvidos (médicos, engenheiros, enfermeiros, arquitectos, etc).

E mesmo quem faz mutações internas, quem muda apenas de terra, não o faz por ser melhor ou pior. Não vou dizer que é o "destino", para não dar um ar fadista a esta prosa, mas acaba por ser a soma de vários acasos. Eu por exemplo, deixei as Caldas, aos dezoito anos. Além de saber que se continuasse por lá, teria o futuro muito condicionado, não me sentia bem a "respirar" aquele ar. Aquela mentalidade pequeno-burguesa não cabia dentro de mim. Mas não havia qualquer tipo de valorização, de ser melhor ou pior que os outros, que ficaram.

Acho que também tem muito que ver com uma frase utilizada pelo anterior governo, que convidava as pessoas a saírem da "zona de conforto" (embora nessa altura fosse utilizada com outro sentido, de fazer com que as pessoas não ficassem à espera de empregos que nunca mais iriam existir...). Se te sentes bem na tua pele, no teu emprego e na tua casa, não precisas de ir para fora...

(Fotografia de Luís Eme - ainda não sei se vou utilizar esta imagem na minha próxima exposição, mas já tem título: "Pisar o Mundo")

segunda-feira, novembro 21, 2016

O Jornalismo Com e Sem Rede...

Continuo a pensar que os blogues são ligeiramente diferentes das "redes sociais" (mesmo que sejam incluídos por muito boa gente nestas novas formas de comunicar), por não resumirem a sua existência a frases curtas, fotografias de ocasião e exploração de casos polémicos, quase ao segundo. E claro, permitem que exista uma distância saudável entre os gestores e os os comentadores. 

Nos últimos tempos (graças às eleições americanas...), o facebook tem sido o alvo escolhido para as críticas de jornais e de jornalistas.

Eu ao não ter - ou frequentar - esta ou outras "redes", acabo por passar ao lado de muitas coisas "interessantes", especialmente para quem gosta de "mexericos". Mas estou longe de diabolizar estas formas de comunicação. Até porque basta-me analisar a matéria jornalística do diário que mais vende no nosso país - desde os títulos da primeira página aos seus conteúdos -, com as meias verdades e alguma ficção (apostam na notícia-novela, com episódios quase diários...) a serem transformados diariamente em notícias, para preferir ficar a ver as barcas a passarem no rio em vez de apontar dedos. 

Por fazer autocrítica, sei que bom era que alguns jornalistas e comentadores olhassem mais para o "mundo" que os rodeia e menos para o seu umbigo...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, novembro 20, 2016

O Natal Continua a Ser Antecipado...

Há vários anos que se antecipa o Natal.

Onde se nota mais esta antecipação é nas iluminações das ruas, que duram de um a dois meses, dependendo apenas da boa ou má vontade dos "alcaides das terras"...

Na publicidade nem vale a pena falar, tenho impressão que já se anuncia por aí o Natal desde Setembro. 

Às vezes pergunto aos meus botões se toda esta "febre" não se torna demasiado cansativa, acabando mesmo por "matar a galinha dos ovos de ouro"...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, novembro 19, 2016

A Ciência Portuguesa Premiada

Elvira Fortunato, cientista e professora almadense, recebeu hoje a "Medalha Blaise Pascal", da Academia Europeia das Ciências.

Apesar de sermos o que somos, não deixa de ser uma boa notícia para o nosso país. Nem tão pouco importa que nos últimos anos tenhamos formado excelentes investigadores, que depois são convidados a emigrar, porque por cá não existem empregos para eles, muito menos dinheiro para investir nos seus projectos de investigação...

Elvira Fortunato é a excepção que confirma a regra.

(Fotografia de autor desconhecido)

sexta-feira, novembro 18, 2016

Uma Fotografia Entre o Privado e Público

É daqueles casos para dizer; «nem de propósito» (escrevi sobre isso há poucos dias...). 

Pois foi, estava à espera do cacilheiro e de repente vi-o a aproximar-se e apeteceu-me fotografá-lo. Depois de tirar a fotografia, reparei num segurança que tinha surgido do nada e que devia ter pensado que eu queria "entrar pela saída" para não pagar bilhete. Descansei-o que só estava a tirar uma fotografia. Foi então que me informou que era proibido tirar fotografias naquele espaço "privado".

Eu apenas lhe perguntei como é que um espaço de passagem de tanta gente, podia ser entendido como privado? Ele disse mais qualquer coisa mas eu limitei-me a sorri-lhe e fui apanhar o cacilheiro.

Mas fiquei a pensar que há realmente uma grande confusão na cabeça das pessoas entre o que é público e o que é privado...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, novembro 17, 2016

Tanta Malta que Ficou à Porta...

Embora Almada tenha fama (e algum proveito...) de ser uma "Cidade de Teatro", é sobretudo uma Terra de muitas culturas. Há muita gente que escreve, muita gente que pinta e muita gente que toca e canta...
Provavelmente, se esquecermos Lisboa e Porto, não deve haver uma outra cidade do nosso país, com tanta actividade cultural e tantos criadores.
Mas o que eu quero falar é de música, das "memórias" que ficaram de uma quase revolução musical que se iniciou no final dos anos 1970, que ficou conhecida como "rock cantado em português", que foi iniciada com o "Chico Fininho" do Rui Veloso e se espalhou de Norte a Sul. Almada sempre gostou de revoluções, deve ter sido por isso que foi um dos lugares onde surgiram mais músicos e mais bandas a trocar o habitual inglês (quase sempre de praia...) pela nossa língua. homenageados este ano pelo Tim, com o espectáculo e o disco, "À Sombra do Cristo Rei".
Um dos grupos de Almada que achei piada quando ainda vivia no Oeste  foram os "Iodo", que vi ao vivo num concerto na Benedita, em que fizeram a primeira parte dos UHF (talvez em 1980 ou 1981...).
Estava longe de pensar que trinta e muitos anos depois iria conhecer um desses rapazes e falar com ele sobre esses tempos, com tanto espaço para sonhos...
Contou-me que em apenas cinco anos tocou em sete bandas e depois mudou de vida, ao perceber que éramos um país demasiado pequeno, sem espaço para todas as bandas que cresciam à volta de Lisboa, como se fossem cogumelos...
Sorriu ao recordar-se que o dinheiro dos espectáculos depois de dividido por todos era uma "miséria". Era por isso que os únicos profissionais das bandas eram os desempregados ou os desocupados a tempo inteiro. E depois ainda havia uns tipos que tinham a mania que eram os "lideres" das bandas, que achavam que deviam ganhar mais que os outros...
Confessou-me ter uma admiração especial pelos "Xutos", por terem conseguido sobreviver a muitas "batalhas" e a tantos "filhos da puta". Sublinhando que são a única verdadeira banda de culto do rock português.
Conversámos sobre mais coisas, mas confesso que me soube a pouco. Mesmo sem estar a pensar fazer a "história do rock português em Almada", fiquei com curiosidade sobre várias personagens que foram aparecendo ao longo da conversa. Ou seja, temos de repetir este regresso ao "25 de Abril do nosso rock".

(Escolhi este título porque um dos grandes êxitos dos Iodo foi a "Malta à Porta"...)

quarta-feira, novembro 16, 2016

Quando a Normalidade faz Toda a Diferença

Lisboa continua a ser mesma cidade de sempre, simples, bonita, calma, acolhedora e barata.

Atributos que num passado recente não eram suficientes para cativar turistas, pelo menos com o volume destes dias fartos em gente, de todas as idades, que nos chegam  das "europas" e das "ásias".

Talvez que dos cinco adjectivos que ofereci a Lisboa, a tranquilidade (calma...) seja o mais apetecível, num tempo em que Paris, Londres, Bruxelas, Berna, Berlim ou Istambul, estão distantes dos tempos em que tinham alguma proximidade com o "paraíso"...

Se por um lado sei que estamos longe de ser um povo optimista, também sei que sermos demasiado distraídos, dá uma boa ajuda, para que Lisboa continue a ser uma cidade onde ainda se pode andar de turbante ou véu, sem chatices de maior..

Mas não deixa de ser curioso, que nos nossos dias seja a normalidade a fazer toda a diferença. E só espero que continue a ser assim por muito tempo.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, novembro 15, 2016

A Proibição (ou não) de Fotografar...

Há cada vez mais sítios com placas que indicam ser proibido tirar fotografias.

Em parte percebo algumas proibições, numa época em que se usa e abusa da utilização de imagens nas chamadas "redes sociais".

Normalmente quando estou em lugares privados, pergunto se posso ou não fotografar (até mesmo nos museus...). E aceito com algum desportivismo, a resposta negativa.

Hoje passei pela Pousada de Juventude de Almada com o objectivo de tirar fotografias das imediações. Como toda a zona com vista para o rio estava ocupada, acabei por entrar e perguntar se podia tirar fotografias da vista. Os funcionários da recepção disseram-me logo que sim, facultando-me inclusive a passagem para a varanda exterior.

Senti mesmo que foram de uma simpatia pouco habitual, até por eu não ser um cliente da Pousada...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, novembro 14, 2016

A Lua "Gigante"...

Sei que esta fotografia, tirada a pouco mais de uma centena de metros da minha casa, às 18 horas e poucos minutos, não faz justiça à beleza da Lua, gigante, só por esta noite...

Sei também que sem uma grande máquina e tripé, era difícil fazer melhor...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, novembro 12, 2016

Trafaria, a "Praia-Pesadelo"...

Sempre que passo pela Trafaria, fico sem perceber o que foi que aconteceu a esta Terra, que tinha (e em parte continua a ter...) condições para ser um lugar sossegado e agradável para se viver.

Os silos de cereais não podem ser os culpados de tudo. Por exemplo a sujidade da praia, deve-se mais à incúria de uma parte dos seus habitantes, que a utilizam para fazer todo o tipo de limpezas, pinturas e remodelações das embarcações.


Tenho a certeza que não é o Tejo que pinta a areia, que já foi amarelinha, de cinzento...

(Fotografias de Luís Eme)

sexta-feira, novembro 11, 2016

Leonard Cohen (1934 - 2016)


Pergunto-me quanta gente nesta cidade

Pergunto-me quanta gente nesta cidade
vive em apartamentos mobilados.
Altas horas da noite quando olho os outros prédios
juro que vejo um rosto em cada janela
que me olha também
e quando volto para dentro
pergunto-me quantos se sentam às suas escrivaninhas
e escrevem isto mesmo.

Leonard Cohen

(fotografia de autor desconhecido)

quinta-feira, novembro 10, 2016

Ser Mulher na América...


Não tinha a noção de que a condição da mulher nos EUA ainda estava distante do cargo da presidência do país... E muito menos que estivesse um passo atrás em relação à cor da pele, por exemplo.

Digo isto porque ao conversar com amigos sobre os resultados eleitorais na "terra dos sonhos", chegámos à conclusão (simplista) que Hillary Clinton não tinha sido eleita por duas razões: ser mulher, e ser esposa de Bill Clinton.

O grave da coisa é serem duas conclusões tão sexistas, em pleno século XXI...

(Óleo de Kees Van Dongen)

quarta-feira, novembro 09, 2016

Ora Aqui Está uma Quarta-Feira, Farta em Conversas e Emoções...


Ao cair da noite de ontem fomos surpreendidos pela notícia inesperada da rendição às autoridades de Pedro Dias, conhecido como o "Piloto", o suspeito de dois homicídios que andava a monte há quatro semanas.

E para colocar os especialistas do crime da TVI e CM a "roerem meias de sem abrigo", teve ainda a  lata de oferecer o exclusivo da sua entrega à RTP.

Apesar de se ter tornado quase num "herói" cinéfilo de filmes de acção (provavelmente sem ter saído muitas vezes do "quentinho" de algum lar amigo...), e ser suspeito de todas as peripécias que aconteceram por aqueles lados e descoberto por essa Europa fora, não consigo sentir qualquer simpatia pela personagem.

Compreendo o seu medo de ser apanhado pela GNR e fico à espera das "versões" que se seguem (ele para já diz-se inocente...), em mais uma daquelas "séries" que prometem durar várias temporadas...

Ao começo da manhã outra surpresa (pelo menos para mim...), a vitória de Donald Trump nas presidenciais americanas. A primeira coisa que me apetece dizer é que os americanos só têm o que merecem, que foi nada mais nada menos que aquilo que a maioria dos votantes escolheram.

Claro que gostava de ser surpreendido pela positiva, perceber que afinal ele não é tão "maluquinho" como gosta de mostrar na televisão e descobrir alguém mais inteligente e sensato que o último presidente eleito pelos republicanos...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, novembro 08, 2016

Gaivotas em Terra, sem Tempestade...

As gaivotas tornaram-se uma presença habitual nas ruas de Almada. E isto acontece em qualquer estação do ano. Talvez se estejam a querer fixar na cidade como aves urbanas, imitando os pombos...

Fazem-se estudos para tudo, mas ainda não li nada sobre este fenómeno.

É por isso que não sei se isso acontece por causa das grandes quantidades de lixo que produzimos, de a recolha do lixo ter deixado de ser diária e possibilitar a existência de pequenas "lixeiras" rente aos contentores superlotados de sacos de plástico, ou por outra coisa qualquer.

Sei sim, que os poetas que escreviam que só havia gaivotas em terra quando se aproximava uma tempestade, estão a ficar ultrapassados pela evolução - natural ou não - das espécies...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, novembro 07, 2016

Uma Segunda-Feira Alegre (e Poética)

À segunda-feira almoço com um grupo de amigos de Almada, onde nunca falta boa disposição e vontade de conversar, seja com leveza ou com profundidade.

Como normalmente almoçamos bacalhau cozido com grão, baptizámos este nosso convívio comensal por: "Tertúlia do Bacalhau com Grão".

E eu na semana passada escrevi esta "espécie de poema", dedicado a eles:

A Segunda-Feira
  
A segunda não tem de ser um drama
por se seguir ao dia de descanso.
Se escolhermos um bom programa
ganhamos no mínimo um dia de avanço

É por isso que deixo uma sugestão:
um encontro à mesa com boa gente
que seja capaz de nos afagar o coração
e fazer da segunda um dia diferente

Sei que se a comida for regada
com as palavras e a alegria  “italiana”
não há espinha que fique atravessada
neste belo começo de semana

É isso que acontece na nossa mesa
com o bacalhau a ser uma mera formalidade
porque há uma “vela” sempre acesa
que ilumina e abraça a nossa amizade
  
Luís [Alves] Milheiro

(Gravura da Cervejaria "Leão de Ouro", de J. Christino) 

sábado, novembro 05, 2016

Estranhas Formas de Protestar...


Na sexta-feira também acabámos por falar sobre o péssimo serviço que os funcionários do metro têm prestado a todos aqueles que são forçados a utilizar este tipo de transporte diariamente.

Fui "apanhado na curva" dois dias e não achei muita piada aos anúncios de perturbações nas linhas por que os trabalhadores estavam em plenário. Agora imagino aqueles que utilizam este transporte todos os dias...

Por mais argumentos que coloquem em cima da mesa, não aceito as formas de protesto escolhidas pelos trabalhadores da generalidade dos transportes, em que prejudicam essencialmente os utentes dos transportes. Que tem ainda outro contra, em vez de estes ficaram solidários com as suas lutas, ficam revoltados porque além de chegarem atrasados aos locais de trabalho, são forçados a viajar dentro de carruagens superlotadas, tal como acontecia há duas décadas, sem qualquer necessidade...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, novembro 04, 2016

As Duas Lisboas...

A Rita hoje resolveu dividir Lisboa em dois. De um lado ficou a cidade que recebe todos aqueles que trabalham e ultrapassam diariamente as múltiplas fronteiras invisíveis, ora dentro de transportes públicos ora em carros lentos que se deixam engolir pelas filas intermináveis que os trazem e levam para os subúrbios da Capital.

Do outro  está a cidade prazenteira que abraça turistas de todas as idades, que descobrem encantos até nas obras que irritam os lisboetas. Tiram fotografias e talvez pensem que Lisboa é como Roma, uma daquelas cidades onde é fácil tropeçar em "escavações arqueológicas".

Mas a dualidade não parou aqui...

Se nunca houve tantas "casas de pasto", com vistas deslumbrantes, plantadas nos cumes das sete colinas, que em vez de terem cozinheiros têm chefes, tal como hotéis com todas as estrelas possíveis e imagináveis, os "hostels" também crescem como cogumelos (e irritam cada vez mais os donos das grandes cadeias de hotelaria). E também continuam a existir imensas tascas com refeições económicas, que ainda têm as ementas só em português.

Ela também não acha muita piada aos "turistas de pé descalço", que se deliciam a fazer cruzeiros no Tejo nos cacilheiros com travessias por pouco mais que um euro e comem sardinhas e carapaus assados nos restaurantes de Cacilhas, como se fossem manjares de deuses.

Perguntei-lhe se queria que existissem dois tipos de bilhetes, uns para os de dentro e outros para os de fora. Abanou os ombros. Limitou-se a dizer que ainda bem que era sexta-feira...

(Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, novembro 03, 2016

Olhar (e Amar) o Mar...


Ainda hoje gosta de ir ver o mar.  Vai quase sempre sozinha e fica por  ali a olhar, a ouvir e a recordar... 

Sim, recorda a praia da meninice e da adolescência, onde se deliciava a olhar  as ondas e todos aqueles que eram capazes de enfrentar o mar. 

Ficava ali junto às barracas de pano branco a ver os rapazes, muitos deles bonitos, que em grupo desafiavam as ondas do mar. Queria tanto ser um deles, como uma ou outra rapariga mais afoita, que se misturava com eles. Mas o seu papel era ficar por ali, deitava na toalha que lhe deixava o corpo desenhado na areia, a sonhar acordada...

Nunca aprendeu a nadar, a mergulhar ou o que quer que fosse. Talvez fosse tradição familiar ficar por ali, apenas a ver o mar. Os banhos eram tomados na Lagoa e com cuidado porque facilmente se perdia o pé. Naquele mar apenas tinha autorização para molhar os pés, a água chegar aos joelhos já era sinal de perigo.

Nunca esqueceu um grupo de rapazes de várias idades que chegavam de bicicleta e passavam o tempo a correr, saltar, jogar à bola e a mergulhar. Eram a alegria de quem ficava por ali a ver a graça e coragem com que desafiavam o mar alto.
.
Ao contrário do pai, ela quis que os seus dois filhos soubessem nadar e andaram na natação. Mas nem assim aconteceu nenhuma "revolução", tal como o companheiro, vivem bem sem o mar. Só ela experimenta sempre um conforto único, de estar ali a ouvir a voz do Oceano. 

E às vezes sente mesmo uma vontade enorme de caminhar por cima das águas, até à linha do horizonte…

(Óleo de Duffy Sheridan)

terça-feira, novembro 01, 2016

A "Ronca" do Cacilheiro Desvia as Atenções

Se tivesse de escolher uma legenda para esta fotografia, tirada ao fim da tarde, em Cacilhas, só podia ser: «A "ronca" do Cacilheiro desviou as atenções e interrompeu o "sermão aos peixes" dado pelo padre, na habitual comemoração do "Milagre da Nossa Senhora do Bom Sucesso de Cacilhas".

(Fotografia de Luís Eme)