quinta-feira, outubro 30, 2008

Um Quase Deus Latino

Maradona é considerado um deus na Argentina, onde nasceu, e até na cidade de Nápoles, onde viveu os melhores momentos da sua carreira futebolística. Um deus quase no verdadeiro termo da palavra, ao ponto de até existirem capelas em sua homenagem.

O futebol infelizmente também tem destas coisas, mirabolantes...
Claro que Maradona é um deus menor, não só pela sua estatura mediana, como também pela forma como sempre viveu, demasiado dependente da fama e de outros "elixires" demasiado perigosos, que colocaram a sua sobrevivência em risco, mais que uma vez.
Há quem defenda que ele foi o melhor jogador do mundo. Acho que não. Penso que o Pelé foi mais completo, mas...
Ele foi, sim, genial, um dos expoentes máximos do futebol latino, onde a técnica mistura sempre o malabarismo circense com alguma batota, tão bem patente no seu célebre golo baptizado como a "mão de deus", e até no uso de substâncias proibidas...
Há é verdade, hoje Diego Maradona completa 48 anos.

domingo, outubro 26, 2008

Recordar José Cardoso Pires

Não tenho a certeza, mas penso que só nos cruzámos uma única vez, no "Ribadouro".

Entrei na cervejaria lisboeta com dois amigos do jornalismo, a meio da noite e era impossível não repararmos na sua mesa, até pelas vozes animadas de algumas personagens conhecidas. Depois de nos sentarmos a alguma distância, acabei por ser surpreendido por um dos seus companheiros de mesa, um grande realizador português, que me reconheceu e fez questão de me vir cumprimentar.
Mais ou menos na mesma época tentei entrevistar Cardoso Pires, mais que uma vez, mas nunca o consegui. Desculpou-se sempre ao telefone com o livro que estava a escrever, dizendo que nessas alturas não dava entrevistas nem estava para ninguém...
Nesses tempos também costumava passar por Benfica e trocar algumas palavras com o Francisco José Viegas, na sede do Circulo de Leitores, sobre jornalismo e livros. Recordo-me de numa dessas conversas termos falado da importância da caracterização das personagens. O Francisco falou-me do Cardoso Pires, da forma exaustiva com que ele trabalhava as personagens dos seus livros, ao qual nem faltavam fotografias, recortadas de jornais e revistas...
Outra coisa muito especial na sua forma de escrever, eram as várias versões que fazia do mesmo romance. Penso que só o Lobo Antunes (eram muito amigos...) é que também cria mais que uma versão das histórias que escreve.
Falando do escritor, o livro que mais gostei de ler do Cardoso Pires foi "O Delfim", que curiosamente acabou por ser adaptado para o cinema e realizado pelo amigo, que naquela noite fez questão de me cumprimentar no "Ribadouro", e do qual também gosto muito.

Esta fotografia antiga, mostra-nos José Cardoso Pires a recolher informações para mais um romance, provavelmente próximo do espaço físico da obra...

sábado, outubro 25, 2008

Simplesmente Picasso

Picasso continua a ser um nome do mundo, usado para caracterizar qualquer pintura que fuja aos padrões figurinistas normalizados...

É a prova de que poucos conseguiram atingir a sua grandeza mitológica.
Pablo Ruiz Picasso foi um dos maiores génios do século XX, provavelmente o mais relevante das artes plásticas, ou pelo menos o que melhor tirou proveito das extraordinárias qualidades artísticas que possuía.
Picasso nasceu em Málaga, a 25 de Outubro de 1881.
Dizem que nasceu pintor. Sim, só pode...
Gertrude Stein também diz que sim: «Ele desenhava desde pequeno. E não eram os desenhos de uma criança, mas os de alguém que nasceu pintor.»
Uma das suas obras mais conhecidas é a "Guernica", uma obra polémica que presta homenagem às vitimas do franquismo, em particular às do bombardeamento da localidade espanhola.
Picasso ficou de tal forma marcado com a Guerra Civil Espanhola e com o fim da democracia no seu país, que não mais voltou a pisar o seu país, até falecer a 8 de Abril de 1973, em Mougins, França.
Foi sua vontade, que a "Guernica" (exposta mais de quarenta anos em Nova Iorque) só voltasse a Espanha, com o fim do Fascismo, o que aconteceu em 1981...

A fotografia de Picasso é de Robert Doisneau, de 1952.


quarta-feira, outubro 22, 2008

Fado Triste

Foi assim em 1928, numa edição da Sasseti, com a voz de Margarida Ferreira...

Oitenta anos depois, o nosso fado não mudou muito, apesar das várias variações que surgiram desta nossa canção, à qual não foi indiferente o aparecimento de excelentes fadistas...
Guitarristas também foram aparecendo muitos, dos bons.
Oportunistas também nunca faltaram ao longo deste tempo, de Salazar a Sócrates, para escreverem no papel, o nosso "fado triste"...

segunda-feira, outubro 20, 2008

Viram Por aí Rimbaud?

Arthur Rimbaud tornou-se uma figura quase mitológica, como acontece com quase todas as pessoas que morrem cedo demais, depois de prometerem tanto...
Foi assim com Dean, Marilin, Che, e com tantos outros.
O Poeta francês nasceu em Ardennes, a 20 de Outubro de 1854.
Extremamente precoce e um aluno brilhante, Rimbaud escreveu toda a sua obra na adolescência, entre os 15 e os 19 anos.
Isso talvez explique a razão de a sua poesia ser tão forte e visionária, além de possuir uma beleza tão inquietante. Foi escrita nos anos em que travamos mais lutas com o mundo que nos rodeia, por não nos adaptarmos com facilidade a todas as normas que os adultos nos querem impor.
Em 1871 Rimbaud partiu para Paris, onde conhece Verlaine, o amor e outros tantos artistas mundanos...
Desiludido com o amor e com as pessoas que rodeavam, partiu para África onde andou perdido quase vinte anos, sem voltar a escrever...
Voltou a França para morrer, quase anonimamente, num hospital de Marselha, a 10 de Novembro de 1891.
O seu adeus coincidiu com a edição da primeira colectânea dos seus poemas...
Felizmente durante todo o século vinte, Rimbaud, foi fonte de inspiração de imensos poetas e dramaturgos, que além de o popularizarem, deram uma dimensão mundial à sua obra poética.

O óleo que acompanha este texto é "O Rapaz do Colete Vermelho", de Paul Cézanne.

sexta-feira, outubro 17, 2008

O Amor de Mário Eloy

A 17 de Outubro de 1900, Lisboa ficou mais rica com o nascimento de Mário Eloy, um pintor especial, amante da cor e das formas, com uma densidade pouco usual na época.
A sua vida foi atravessada por fugas e paixões, que o influenciaram decisivamente. Madrid, Paris e, especialmente, Berlim, marcaram a sua obra.
Não foi um pintor muito amado pelos críticos, houve mesmo quem o baptizasse de "Pinta-Monos".
Felizmente também viu o seu trabalho reconhecido, especialmente pelos presencistas e surrealistas, que reconheceram Mário como o primeiro artista a «fazer entrar o sonho nas artes plásticas nacionais.»
Este é o "Amor", pintado em 1938...

quarta-feira, outubro 15, 2008

O Poeta do Largo

Manuel da Fonseca, um escritor e poeta de todos os largos do mundo, é recordado hoje no "largo da memória", porque nasceu em Cerromaior, num já longínquo 15 de Outubro, em 1911.

Escolhi uma parte do seu poema "Maltês" (III), desta antologia que ilustra o "post", para homenagear este grande contador de histórias do Sul:

Gente chegou às janelas,
saíram homens à rua:
- as mães chamaram os filhos,
bateram portas fechadas!
E eu, o desconhecido,
o vagabundo rasgado,
entrei o largo da vila
entre dez guardas armados;
- mais temido e mais amado
que o deus a que todos rezam.
- Que nunca mulher alguma
Se rendeu mais a um homem
Que a moça do rosto claro
Ao cruzar os olhos pretos
Com o meu olhar de rei!

terça-feira, outubro 14, 2008

O Sósia...

Eduardo Lourenço de repente passou a ser um nome na moda, na cultura portuguesa.
É destacado como um dos grandes pensadores portugueses do século XX.
No entanto ele surge aqui no "Largo", graças a uma confidência de uma amiga recente, que também faz parte da blogosfera (e muito bem...) .
Num dos muitos colóquios e palestras para o qual Eduardo Lourenço costuma ser convidado, ela esteve presente e assustou-se a valer, quando reparou naquele vulto, de cabelo branco e nariz comprido, que estava sentado na primeira fila. Pensou que era uma "assombração" do ditador Oliveira Salazar, mas com o decorrer do encontro, descobriu que afinal se tratava do professor Eduardo Lourenço.
Através da fotografia que publico (a cor é para lhe dar um toque mais carnavalesco), é possível descobrir várias parecenças. Não é que a Isabel tinha mesmo razão?
Felizmente as parecenças são apenas físicas...

sábado, outubro 11, 2008

Um Novo Conceito de Vender Cultura

O aparecimento da FNAC entre nós foi algo completamente novo e revolucionário, no campo da cultura.

A loja francesa ofereceu-nos mais qualidade, quantidade e diversidade, e a preços convidativos. Além dos livros, também nos foram oferecidas secções de música, filmes, fotografia e informática.
Dez anos depois, aquele que foi um dos seus maiores atractivos (o desconto de 10%...), vai passar a ser privilégio apenas dos "clientes FNAC", ou seja dos possuidores de cartão de cliente.
Não sei porque razão o fazem. Como sou cliente, não serei afectado, no entanto penso que as vendas vão descer, e talvez tenham de voltar atrás, daqui a uns tempos...
Claro que nem tudo foram rosas, o chamado mercado tradicional da cultura sofreu na pele esta concorrência pouco leal, ao ponto de terem sido encerradas dezenas de lojas na Capital, especialmente discotecas...
Não há bela sem senão.

sexta-feira, outubro 10, 2008

O Poeta Anónimo...

Não tinha pensado escrever sobre Herberto Helder, que tem um novo livro, "A Faca Não Corta o Fogo", mas acabei por associar a sua singularidade enquanto homem de letras, a uma notícia estapafúrdia sobre o lançamento de um livro de poesia, ontem, de um banqueiro reformado com valores dignos do "euromilhões", que agora é livreiro e talvez poeta.
Quando era mais jornalista do que sou hoje, ou seja, quando tinha uma página fixa de um diário e podia escolher pessoas com quem conversar, tentei entrevistar Herberto Helder.
Sabia que ele não dava entrevistas nem aceitava prémios, mas como era mais jovem, também sabia que não perdia nada em tentar...
Conhecia um dos lugares onde parava, o café "Expresso", no Largo da Misericórdia, no Bairro Alto, onde havia uma tertúlia animada por Manuel da Fonseca, Baptista-Bastos, António Assunção, entre outras pessoas quase anónimas, como o Herberto.
Quando soube ao que ia, escusou-se a falar e não gostou da minha insistência. Foi por isso que me senti quase "empurrado", pelo seu olhar...
Nem me deu tempo de lhe dizer que gostava das suas palavras, todas...

terça-feira, outubro 07, 2008

És Um Espectáculo Beatriz!

Gosto da Beatriz Batarda, por muita coisa.

A que salta mais à vista, é ser uma excelente actriz, em qualquer palco ou fita.
Antes do monólogo, "De Homem para Homem", Beatriz já era uma das nossas melhores actrizes, só não tinha era tantos holofotes a iluminá-la...
Outra coisa que me faz gostar dela, é não se "vender" à televisão que brinca à ficção portuguesa. São raros os actores que não banalizam o seu talento em novelas de cordel, que se confundem, cada vez mais, umas com as outras, graças à vulgaridade dos temas e à realização em série...

sexta-feira, outubro 03, 2008

O Que Diz Molero...

Dinis Machado, despediu-se de nós...

Conhecemos-nos através do jornalismo, tornámos-nos amigos graças aos livros...
Era um verdadeiro lisboeta, generoso, simples, mas com muita pinta...
Escolhi uma passagem deliciosa da sua obra mais emblemática, "O Que Diz Molero", para o homenagear, como grande homem de letras que foi e será:
[...] «Eu, Molero, poseur, ignorante e cabotino, falso íntimo de profundidades várias e outros abismos, correndo há milhares de anos atrás da minha veia caótica, fazendo agulha para os descampados das aferições mais ou menos compartimentadas, distribuindo de passagem lantejoulas literárias em segunda mão, confesso muitas vezes dar comigo, em certas manhãs suspensas, sentado num banco de jardim, vendo as crianças correndo alegremente para a escola, desenhando no ar os gestos da minha antiquíssima imagem, e confesso este espanto, este perfume, esta luz sobre os telhados, esta ave e este céu, este riso e esta cor, este jogo do agarra, estas mãos que tudo querem, esta estampa na sacola, este grito de alegria, esta troca de pedrinhas, este saltitar à chuva, esta água de brincar deste chafariz que canta, este bibe, esta violeta, esta mulher que vai ali, esta mulher que eu amo tanto, este filho que eu lhe dava, este coração que quero, este mundo que começa, este sol que é o primeiro, esta nuvem que se forma, este som que desagua, este sonho que se afasta.» [...]