segunda-feira, junho 30, 2008

Conseguir Entrar Dentro de Nós...

Na verdade, não há chaves, caminhos, muito menos mapas...

Durante as nossas vidas são poucas as pessoas, que nos conhecem verdadeiramente, que adivinham o nosso passo seguinte, e mesmo assim, com algumas incertezas...
Acho que as pessoas que nos conhecem melhor são aqueles que nos viram nascer, crescer e ficarmos gente grande, os nossos pais e irmãos.
Em casos especiais, encontramos amigos na infância, que ficam para a vida toda, mesmo que apareçam umas montanhas e uns mares, pelo meio, que também conhecem muito daquilo que somos.
O mais curioso, é que as pessoas com quem um dia resolvemos partilhar a nossa vida, nem sempre conseguem entrar dentro de nós, desta forma. Porquê? Talvez por vivermos num tempo diferente, nem sempre percorrido com interioridade.
Partilhamos muitas outras coisas, não menos importantes, como os filhos, mas há portas que parecem, ter ficado fechadas dentro de nós, vá-se lá saber porquê...
A fotografia é do mestre Henri Cartier-Bresson, de uma das ruas de Nova Iorque, em 1947.

sábado, junho 28, 2008

Desencontros...

A vida é uma coisa estranha. Aliás, muito estranha...
Claro que é esta estranheza que lhe dá encanto e mistério, que nos faz andar e correr atrás do nada, que até pode ser quase tudo.
E os lugares que mesmo vazios, têm pessoas?
Este quadro de José Malhoa, "À Beira Mar", enquadra-se num desses sítios...
Sempre que me sento numa das cadeiras, daquela esplanada, virada para o Oceano, encontro um olhar doce e terno, preso às minhas palavras.
Ela na época gostava mais de poesia que eu, conhecia tantos poetas e poemas... as coisas que aprendemos, os dois, ali sentados, fosse Primavera, Verão, Outono ou Inverno...
Acho que nos encontrávamos ali, mais na Primavera e no Outono, quando o mar era apenas nosso e dos pescadores de linha larga...
Vinte e alguns anos depois, descubro, que nunca mais falei com ninguém desta forma, de literatura e de sonhos.
O mais grave, é termos perdido completamente o rasto.
Nunca mais leste as minhas histórias e eu os teus poemas...

quinta-feira, junho 26, 2008

Cartas de Desamor...

As cartas entraram mesmo em desuso.

As únicas cartas que recebemos são de contas, extractos bancários, etc. Tudo coisas que nos irritam e fazem coçar a cabeça.
E por isso mesmo, só podem ser cartas de desamor...
Esta fotografia de Eduardo Gageiro, da Mouraria, de 1958, retirada do excelente álbum "Lisboa no Cais da Memória", tem todo o simbolismo e a preocupação de quem não recebeu uma boa notícia...

segunda-feira, junho 23, 2008

Cândido de Oliveira

Cândido de Oliveira deve dizer pouco a muita gente, mas é um nome grande deste nosso país.

É o nome de um jornalista, que também foi futebolista (foi o capitão da Selecção Nacional, no seu primeiro jogo oficial) e treinador de futebol, com sucesso (Campeão Nacional pelo Sporting duas vezes e vencedor da Taça de Portugal também por duas vezes. Como seleccionador Nacional foi o primeiro treinador a vencer a Espanha. Também treinou o Flamengo, no Brasil, onde se sagrou campeão, e treinou a Académica, no tempo em que jogava de igual para igual com os grandes...).
Foi um dos fundadores e o principal ideólogo de"A Bola", o jornal desportivo de maior sucesso no nosso país, a chamada "bíblia" do nosso futebol.
Mais importante, era a sua grandeza como ser humano. Foi mais que um "pai" para tanta gente, deste país. Nunca escondeu que era um Democrata (durante a 2ª Guerra Mundial colaborou com os Aliados e foi por isso que esteve preso no Tarrafal, do qual deixou escrito um manuscrito, que seria publicado em livro depois da Revolução de Abril, o "Pântano da Morte").
Cândido de Oliveira morreu há cinquenta anos, durante a realização do Campeonato do Mundo na Suécia, de pneumonia. Já partiu para a Suécia, adoentado, porque sempre se preocupou mais com os outros, que com ele...
Passado todo este tempo, não tenho pejo em dizer que Cândido continua a ser uma das maiores, senão a maior, referência do jornalismo desportivo português.
Esta caricatura que escolhi foi assinada pelo Pargana.

sexta-feira, junho 20, 2008

À Procura de um Quadro...

Fizeram-me uma pergunta e não consegui responder...

Queriam saber quando é que tinha visto um quadro pela primeira vez e se o conseguia identificar. Claro que não era um simples quadro, falávamos de pinturas originais.
Não fazia a mínima ideia.
É o que faz nascer nos lares do povo...
Depois de pensar um pouco, pensei que devia ter sido no interior do Museu José Malhoa, que sempre me lembro de visitar, desde a meninice, e ficar fascinado...
Na família não existiam obras de arte nas paredes (estava a esquecer-me de alguns quadros que o tio João tinha trazido de Moçambique, com motivos locais, no começo da Guerra Colonial...). Além de algumas fotografias, apenas recordo a existência de algumas gravuras religiosas, com a "Sagrada Família", a "Nossa Senhora da Conceição" e pouco mais...

A "Ilha dos Amores", de José Malhoa, claro...

quarta-feira, junho 18, 2008

Paisagens de Outros Tempos (8)

Como podem ver nesta fotografia de 1917, os jovens ardinas animavam as ruas de Lisboa, com as suas palavras publicitárias, cheias de graça, em que numa única frase espalhavam pelas redondezas meia-dúzia de títulos de jornais...

As pessoas que circulavam nas ruas acenavam e lá vinha o "puto" (até aos anos sessenta, a maior parte dos ardinas eram crianças, entre os oito e os catorze anos), a correr com a sacola de jornais atrás...
Havia outra vantagem nesses tempos, era sempre possível receber o jornal em casa, pela janela ou pela porta.
Hoje, com a proliferação dos gratuítos, também há alguns jornais que nos enchem a caixa do correio, mas não é a mesma coisa...

A foto é de Joshua Benoliel (1873 - 1932), um dos nossos primeiros grandes repórteres fotográficos.

segunda-feira, junho 16, 2008

A Nossa Publicidade (9)

Estou farto de saber que o ridiculo não mata... mas pensava que os futebolistas, por ganharam fortunas, não precisavam de fazer figuras parvas, pelo menos na nossa publicidade televisiva.
Estava enganado...
Estou a falar de Nuno Gomes, Nani, João Moutinho e Ricardo Quaresma, com as suas vozes e músicas, ao serviço da TMN.
Claro que são jovens e não pensam...
Será que, pelo menos, eles têm vendido mais telemóveis?

sexta-feira, junho 13, 2008

O Centenário de Vieira da Silva

Maria Helena Vieira da Silva nasceu há cem anos.
Foi uma das maiores figuras da arte portuguesa do século XX.
Mas Helena não foi só uma extraordinária pintora, era também um ser humano extremamente generoso. Além de ter as portas do seu atelier abertas a todos os jovens portugueses, que iam estudar para Paris, também os ajudava materialmente, com a cumplicidade do seu companheiro de sempre, o também pintor, húngaro, Arpad Szenes (que está com ela na foto que ilustra este "post").
Viveu desde os dezoito anos em Paris (onde faleceu em 1992) e foi durante muito tempo ignorada pelo estado português. Só depois de Abril é que Portugal descobriu a dimensão artística desta excelente pintora, de nível mundial.

quinta-feira, junho 12, 2008

Arte da Silva...


foi preciso levantares as asas e voares...
para a cidade única, mãe, irmã e prima das artes, das letras e do amor...
para reconhecerem a artista, a mulher.

a serigrafia de Helena Vieira da Silva é, "Ericeira".

segunda-feira, junho 09, 2008

A Feira do Livro

Hoje fui à Feira do Livro.
Afinal a montanha pariu um rato... o que a "leya" fez, já tinha sido feito anteriormente na feira, com os livros infantis...
A ideia não é má, mas está longe de ser original...
Acho sim que se devia mudar de local, para um lugar plano e com uma disposição diferente, que permitisse acompanhar melhor os livros, sem nos sentirmos perdidos no meio de tanto livro.
Um amigo meu, aqui há dias, numa conversa de café, defendeu uma solução coberta, como a feira do Porto, no Pálacio Cristal. Eu torci o nariz, mas não tenho dúvidas que gostava de ver a feira num lugar diferente, mas ao ar livre...

sábado, junho 07, 2008

Não, Não Assinei...

Um amigo ficou quase escandalizado, quando lhe disse que não tinha assinado a petição contra o novo acordo ortográfico.

Ainda ouço a sua frase entre a interrogação e a reprovação (quase parecia o Graça Moura...): «Tu, uma pessoa que escreves diariamente, não assinaste uma petição com esta importância?»
Quase que fiquei sem argumentos. Apeteceu-me dizer-lhe que tinha dificuldade em perceber toda esta polémica, mas fiquei em silêncio, uns segundos. Havia de aparecer um porquê para eu responder... e apareceu.
Foi então que disse que concordava com muitas das alterações propostas, em que a oralidade de muitas palavras passava a estar mais próxima do seu verdadeiro sentido. Havia outras que me soavam estranhas, mas não me incomodavam. Nem seria por isso que iria mudar a minha forma de escrever...
Não o convenci. Aliás, nunca se conseguem convencer os fundamentalistas (não é Graça Moura?).
Mas é tão importante pensarmos que há mais mundo português, para além do nosso cantinho...

quarta-feira, junho 04, 2008

O Festival do Pontapé no Microfone

Eu gosto de futebol, mas já não suporto estas reportagens televisivas, em que tudo é notícia, para estes repórteres da banalidade, que só não nos dizem qual a cor da roupa interior dos jogadores, porque os craques até parecem discretos, no meio de tanta indiscrição...
As bandeiras também voltaram às janelas e varandas, porque Scolari sabe-a toda. Consegue andar entre o vendedor de banha da cobra e o pastor das capelas brasileiras, oferecendo esperança a este povo, cada vez mais triste, que se enche de camisetas e cachecóis, enquanto espera alguma alegria da sua selecção...
É por estas e por outras, que sei, que a minha pátria não é o futebol...

segunda-feira, junho 02, 2008

Retratos Desfocados do Meu País...

Talvez o problema seja meu, mas não consigo perceber que numa terra portuguesa, seja atribuído o nome de uma rua a uma mulher, apenas pelo facto de esta ser esposa de alguém, que no caso se chama José Saramago e recebeu o Prémio Nobel da Literatura.

Até se podia dar o caso de Pilar Del Rio ter vivido por uns tempos na aldeia de Azinhaga, na Golegã, mas nem isso...
A senhora poderia sentir que não era digna de tal homenagem, mas não, ainda fez uma declaração de amor, que merecia ter tido uns violinos, como acompanhamento: «Gostaria que todos os enamorados do mundo viessem juntar-se e dar um beijo aqui na esquina das Ruas José Saramago com a Pilar Del Rio.»
Fiquei a saber que neste meu país é relevante o simples facto de se ser esposa ou marido de... na atribuição de nomes de artérias...

domingo, junho 01, 2008

O Dia das Crianças

Hoje é um dia diferente, especialmente para as crianças.

Podia dizer tantas coisas...
Mas a primeira coisa que me ocorre, é desejar que a capacidade de amar e de dar das crianças, quase infinita, fosse retribuída por todos nós, todos os dias, a todas as horas, em todos os minutos...
Quando tal acontecer, de certeza que não serão necessários tantos sinais de perigo, como este da fotografia de Robert Doisneau