sábado, abril 30, 2022

A Metáfora dos Cravos de Abril...


Este deve ter sido o único ano em que não tive um único cravo vermelho em casa (verdadeiro) em Abril.

Isso aconteceu por várias razões, a principal por ter comemorado esta data festiva longe dos palcos de música e de discursos, onde também se costumam oferecer cravos (costumam ser lançados à população...).

Claro que andei na rua no dia 25, até me encontrei com um amigo, para falarmos de um projecto, que tem vindo a ser adiado, ano após ano, por múltiplas razões (até pela incerteza em relação à sua recepção...), que não interessa trazer para aqui.

Algumas das pessoas que passavam por nós, na esplanada, traziam cravos, na mão ou no peito, embora a maior parte viesse sem este símbolo de Abril, vermelho ou encarnado (tal como nós...).

O meu companheiro e amigo achou piada ao contraste entre uma mulher que passou com quase uma dúzia de cravos na mão e outra com apenas um. E disse-me: «Este é o retrato actual de Abril, um pais cada vez mais desigual, onde uns tentam agarrar tudo o que podem, sem sequer lhe passar pela cabeça dividir o que têm, pelos que não têm quase nada.»

Limitei-me a sorrir. Mesmo sabendo que era verdade. 

Estive sempre na dúvida se devia escrever sobre isto aqui no Largo, mas acho que esta é uma é uma das várias "metáforas" que se podem encontrar em Abril, mesmo que a Revolução libertadora, não tenha nada a ver com isso...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, abril 29, 2022

Um País com um Tempo Próprio... que se chama Depois...


Apesar da rapidez com o mundo se aproximou de nós, através da visualização dos múltiplos écrans que se ocupam de nós, diariamente, há coisas que não mudam, como o nosso tempo, que continua a ser muito próprio.

É por isso que só agora é que está a surgir com mais alarido o "metoo#" entre nós. E não surge por acaso,  no interior das universidades, onde milhares de jovens vivem pela primeira vez, longe dos pais, entregues a si próprios.

Além de tempos de descobertas, são também tempos de fragilidades, dos primeiros enganos, das primeiras grandes ilusões (e desilusões) amorosas... onde quase tudo parece ser possível, como nos filmes.

As meninas inocentes e giras sempre foram os principais alvos de alunos batidos e também de professores com alma de "dom juan". Muitas viviam primeiros amores com sexo à mistura e fingiam não perceber que uma boa parte das promessas de amor não passavam disso mesmo, de promessas (claro que também há sempre um grupo de alunas, tudo menos inocentes, que sabem que também é possível subir notas, em "sessões de estudo" mais viradas para anatomia, mas pertencem a outro "filme"...).

Isto vai ao encontro de uma realidade que sempre me fez confusão, mas que faz da natureza humana: a atracção que as mulheres têm por patifes. Mas não era disso que eu queria falar, era apenas de sermos um país com um tempo próprio, que se chama depois...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, abril 28, 2022

Há poucos empates na vida, ou se ganha ou se perde.»


Foi sempre mais fácil "ganhar" que "perder", em tudo na vida.

Talvez onde se note mais o azedume das derrotas seja no desporto, porque não existem grandes subterfúgios, ou dúvidas.  Ou se ganha ou se perde, o empate não conta quase para nada. Na vida as coisas são diferentes, poderemos estar "perder", quase sem nos apercebermos. E isso não acontece apenas nos nossos ordenados, cada vez mais curtos ou nos nossos "consumos obrigatórios", cada vez mais caros... Há pequenas coisas, que só começamos a "contar", depois de muitas "perdas", quase invisíveis.

Ou seja, ao longo dos anos das nossas vidas, fazemos sobretudo, a "gestão das derrotas", mesmo que uma boa parte delas sejam involuntárias...

Viver é isto, e ponto final. Umas vezes perde-se, outras ganha-se. Embora à medida que os anos passam, eu fique com a sensação que se perde sempre mais do que o que se ganha...

Claro que este ponto de vista depende bastante da nossa perspectiva pessoal, do lado optimista ou pessimista que mora em cada um de nós.

Toda esta prosápia, porque depois de uma reunião de trabalho, quase assustadora, um dos meus companheiros desabafou: «Há poucos empates na vida. Ou se ganha ou se perde.» 

E naquele caso em particular, íamos todos perder...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, abril 27, 2022

Os Ucranianos e os Nossos Brandos Costumes...


Ontem, durante a viagem de Almada para Lisboa, passei uma boa parte do tempo a falar de nós, portugueses, por sermos tão diferentes dos ucranianos.

Ao contrário do meu companheiro de viagem, disse que se fossemos nós a ser invadidos, o conflito armado duraria uma semana, no máximo. Rapidamente baixaríamos as armas e deixaríamos de ripostar (era o que Putin queria e pensava que iria acontecer na Ucrânia...), deixando o ditador russo gritar vitória e ditar regras.

Provavelmente ele escolheria uma qualquer "marionete" para governar o nosso país ao seu jeito (mesmo que provisoriamente). Claro que lhe iríamos fazer a vida negra, a nossa "rendição" seria sempre apenas um "número", uma forma inteligente de não enfrentar directamente este "Golias". Sabíamos, que mais ano menos ano, ele desistiria de nós.

Dos romanos aos espanhóis, os nossos invasores nunca tiveram vida fácil. Os nossos "brandos costumes" são isso mesmo, é quase como se tivéssemos horror a sangue e ao barulho das armas pesadas, usando coisas mais simples, para "moer" a paciência aos nossos inimigos...

Claro que a realidade é sempre ligeiramente diferente do que pensamos e escrevemos. Mas estamos muito longe de ter o sangue frio dos povos de leste (até por termos a sorte de ter Sol durante quase todo o ano e raramente termos temperatura abaixo de zero graus...).

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


terça-feira, abril 26, 2022

A Mensagem podia muito bem ser esta: "Não compliquem o que é simples."


A equipa de juniores do Benfica, que venceu a "Liga dos Campeões Europeia" deste escalão, deu uma lição de bem jogar e de objectividade, na tarde de ontem. Lição que devia ir "direitinha" para a equipa de seniores, que joga um futebol complicado, pobre e feio,  e que está a "anos luz" do que é praticado por estes jovens, cujas idades vão dos 17 aos 20 anos. 

O bom exemplo prático que estes jovens deram na Suiça, podia muito bem resumir-se a uma curta mensagem: "não compliquem o que é simples".

O "castigo" que eu dava aos jogadores e técnicos da equipa principal do Benfica, era verem este jogo de terça a sexta, antes de cada treino. Talvez, que, com a insistência, acabasse por ficar alguma coisa na cabeça de todas aquelas "vedetas", que são muito bem capazes de achar que "já sabem tudo..." 

Um tudo que, diga-se de passagem, é muito poucachinho...

(Fotografia de autor desconhecido - de homenagem ao "King") 


segunda-feira, abril 25, 2022

As Melhores Palavras de Abril, para Festejar Abril...


As palavras da Sophia e do Capitão Maia, são do que existe de melhor, para festejar Abril...


(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, abril 24, 2022

O Tempo não Muda Apenas os Lugares, também vai Mudando as Pessoas...


Não se trata de nenhum "empate" (a democracia vence sempre qualquer ditadura...), mas apenas de uma constatação. De 1974 a 2022, distam os mesmos 48 anos, de triste memória, vividos entre 1926 e 1974.

Se em 1974 e 1975, até a democracia social do CDS, caminhava, mesmo que lentamente, em direcção ao socialismo... hoje quem continua a assumir-se como socialista, corre o risco de ser apelidado de elemento da "extrema-esquerda". O PS não conta para este "campeonato", porque o seu nome é ilusório, a matriz do partido sempre foi social-democrata.

Ou seja, se no "Verão Quente", os interesses já se sobrepunham às ideologias (todos queriam ser revolucionários, ter um passado antifascista, até aqueles que tinham sido informadores da PIDE sentiam necessidade de  inventar um tio "preso político", porque os anos de prisão eram "medalhas"), nem sei o que dizer dos anos seguintes...

É caso para dizer, que "o poder tudo transforma". Não vou fazer nenhuma lista com as pessoas que foram "evoluindo" da esquerda para a direita, cujo "bilhete de ida" teve quase sempre como destino, os dois partidos do "arco da governação", mas são dezenas e dezenas de políticos. Alguns chegarem mesmo a ministros, um deles até foi primeiro-ministro e presidente da comissão europeia...

Claro que o olhar sobre as mudanças varia conforme os interesses (como  quase tudo na vida...). Os que gostam de passar o tempo a saltar de, um lado para o outro, defendem-se com a expressão popular, de que só "os burros é que não mudam". 

Já quem se mantém fiel à sua ideologia, fala sempre da importância da "coerência"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, abril 23, 2022

O Outro Dia Vinte e Três...


No dia 23 de Abril de 1974, mais de noventa por cento da população portuguesa estava longe de sonhar com qualquer Revolução, muito menos com uma daquelas que tivesse a força  para virar o país de pernas para o ar, dando mais que um safanão em todos aqueles que se sentiam "senhores", dentro do sistema quase feudal, bolorento, incapaz de manter por muito mais tempo o "obscurantismo" (apesar de contar a cumplicidade da Igreja Católica...), que até aí fomentara a ignorância e a pobreza, de Norte a Sul...

Podia falar da educação, da saúde... mas fico-me pela "habitação"...

Se imaginarmos que uma parte significativa do país (a maioria das aldeias...), ainda não tinha luz eléctrica, água canalizada ou esgotos, nas suas "casas"... isso poderá ajudar a retratar esse país, que estava longe... tão longe... de sonhar, sequer, que daí a dois dias, nada mais voltaria a ser igual...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, abril 22, 2022

O Sonho das Minorias é Crescer, Crescer, Mas...


É perfeitamente legítimo que as minorias, quase sempre vítimas de qualquer coisa (em alguns países até da própria legislação...), onde o preconceito é a parte mais visível, queiram crescer, passar para a chamada "parte normal" da sociedade.

O mais importante para estas minorias é terem voz, poderem oferecer exemplos de como continuam a ser discriminadas, no meio do silêncio ensurdecedor da sociedade onde estão inseridas.

O que eu já não compreendo, é que quando a sua situação começa a "normalizar", cometam os mesmos erros de que eram vítimas. 

Ou seja, quando já se sentem em "terrenos confortáveis", com liberdade de acção, fazem com que os outros - diferentes -, se sintam a mais nos seus "mundos" (as feministas e os homossexuais são useiros e vezeiros nesta prática...). 

Mas nós humanos somos mesmo assim, rapidamente esquecemos que a igualdade é outra coisa...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


quinta-feira, abril 21, 2022

Não Mudámos Assim Tanto (a instrução, o banho diário ou a forma de vestir são meras ilusões...)


Os meus filhos acham piada a que eu goste de ver westerns. Por estarem habituados a olhar no cinema outro tipo de violência, mais mecânica e menos humana, não conseguem "ver o que eu vejo" nestes filmes. Devem achar tudo aquilo retrogrado e ultrapassado...

Mas, além de ser fitas bem feitas (falo dos clássicos, claro, da linha de John Ford...), falam da natureza humana sem rodriguinhos. Retratam a sua ambição desmedida (a "corrida ao ouro" e às terras férteis diz quase tudo...), assim como a facilidade com que se mata o semelhante, muitas vezes apenas por sobranceria ou por ciúme (e não precisam de usar a psicologia ou a sociologia para explicar o que quer que seja).

Explicam de uma forma crua, que não mudámos assim tanto, apesar de nos acharmos muito cultos e civilizados...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, abril 20, 2022

Uma Guerra que Serve para Tudo (por cá alimenta a "feira de vaidades" e o "enriquecimento curricular")...


Sei que este título ficou ligeiramente comprido, mas teve se ser mesmo assim... Até porque a Guerra na Ucrânia tem alimentado uma série de coisas curiosas, no jornalismo televisivo do nosso burgo.

Não me lembro de ter visto tantos "especialistas" sobre o que quer que seja, a desfilarem pelos vários canais noticiosos, quase minuto a minuto. São centenas de pessoas, homens e mulheres, com mais e menos idade. Não fazia ideia que existiam tantas mulheres com conhecimentos bélicos (sei que o mundo mudou, mas...). E também pensava que já não havia tantos generais nas nossas forças armadas (parecem ser mais que os soldados, actualmente existentes nos quarteis...). Mas nota-se que estão bem sintonizados com o mundo actual, são capazes de dizer uma coisa hoje e amanhã o contrário...

Outro aspecto que não me tem passado ao lado, é o desfile diário de "repórteres-de-guerra", em todos os canais com notícias. Quase todos os jornalistas e apresentadores de telejornais, se devem ter voluntariado para viajarem para a Ucrânia ou Polónia, pois querem muito "colar" ao seu currículo a passagem por este "cenário de guerra". Não os somei todos, mas no conjunto, entre RTP, SIC, TVI e CMTV, os enviados especiais já se devem aproximar da centena (ou até ultrapassar)...

Infelizmente, as guerras servem para tudo...

(Fotografia de Luís Eme - Trafaria)


terça-feira, abril 19, 2022

"A Árvore do Poeta"...


Talvez as lendas existam para fintar a realidade. Nunca sabemos muito bem onde começa a verdade e acaba a imaginação e vice-versa.

Claro que o mundo mudou muito, onde antes existiam quintas agrícolas, hoje existem aglomerados populacionais. A árvore podia mesmo ter existido na colina, onde hoje existem vários prédios. A vista continua a ser soberba. É possível ver o mar (e até ouvir as ondas, quando este está mais batido...), apesar de a costa ficar a mais de um quilómetro.

Quando me contaram que naquele lugar havia ali uma árvore, que era "A Árvore do Poeta", a primeira coisa que quis saber foi o seu nome. Disseram-me que só sabiam que ele era poeta, ou seja, com a "lenda" o "mágico das palavras" perdeu o nome verdadeiro, para ir ganhando força e se transformar quase uma personagem universal.

E depois mostraram-me uma frase, que disseram ser da sua autoria:

«Só aqui é possível passar uma tarde, debaixo desta bela sombra, apenas com um bocado de pão, uma dúzia de azeitonas, uma garrafa de vinho, um lápis e um caderno em branco, sedento de palavras...»

Não fiquei nada preocupado com a existência, ou não, de uma árvore, naquele lugar, que continuava a ser tão poético. 

E sim, continuava a ser possível ficar por ali à espera das palavras, empurradas pela maresia ou pelo vento que soprava nos campos...

(Fotografia de Luís Eme - Algarve)


segunda-feira, abril 18, 2022

Não Tínhamos de Ficar (quase) todos a Perder...


Há 25 anos já Maria João Seixas se queixava dos "malefícios" do aparecimento das televisões privadas: 

«Este fenómeno da banalização e vulgarização aconteceu em quase todos os países europeus onde surgiram canais privados. Foi uma interpretação do sentido de competição onde perdemos todos. Talvez tenham ganho alguns investidores... Eu recuso-me a imaginar que o gosto das pessoas é necessariamente  rafeiro.»

Só que o nível da programação não parou de descer, de 1997 até 2022. É quase como se o universo televisivo funcionasse no interior de um "poço sem fundo"... 

O que também não mudou foi a "converseta" dos programadores, que continuam a fingir que acreditam que apenas vão ao encontro do gosto das pessoas. 

E não tinha nada que ser assim... Não tínhamos de ficar (quase) todos a perder...

(Fotografia de Luís Eme - Cova da Piedade)


domingo, abril 17, 2022

Sempre as Mesmas Vozes


Hoje por ser domingo de Páscoa, a programação da televisão foi ligeiramente diferente. Os meus filhos até usaram alguma ironia, por a SIC voltar a ter uma tarde com cinema, fazendo um intervalo na habitual oferta de "música pimba".

Enquanto almoçávamos a televisão oferecia-nos um filme de animação. Eu levantei a questão de serem quase sempre as mesmas vozes a fazerem a dobragem destas fitas. A mesma voz é hoje um ganso, amanhã um leão, depois um cão e se tiver sorte, até pode ser um humano, de longe a longe.

A televisão deve ser o lugar onde se pratica mais o compadrio, onde rodam "sempre os mesmos". Por isso, é normal que o mesmo se passe nos filmes de animação. Mas era bom que algumas vozes tivessem algum descanso. Até porque, não temos falta de gente com vontade de participar neste mundo animado...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, abril 16, 2022

Um Homem de Bem (e um café especial)...


Começava a escurecer quando passei pelo café que frequentava nos meus primeiros tempos de Almada. Foi lá que conheci os primeiros amigos da cidade e também a minha companheira.

O dono estava cá fora e cumprimentámo-nos com a afabilidade do costume. 

É curioso, mesmo tendo deixado de ser cliente da casa, ele continua a tratar-me da mesma forma agradável de sempre.

Talvez ele saiba que se trata apenas de uma questão de geografia, de termos cafés mais perto de casa... Mas, mesmo assim, bem merecia que de vez enquanto aparecêssemos, para matar saudades e ajudar o negócio.

Até porque, reparo, que ele continua a ter o mesmo BMW que tinha há vinte anos. Talvez seja demasiado sério e boa pessoa para enriquecer de forma fácil, como acontece, por exemplo, com um dos vizinhos da minha rua detrás, também do ramo, que mesmo em plena pandemia, comprou um Jaguar vermelho, eléctrico, a estrear...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, abril 15, 2022

Os Felinos Continuam a Reinar em Almada


Apesar do aumento notório da raça canina (a pandemia tem destas coisas, quase estranhas, os "humanos" depois de quase esgotarem o papel higiénico, também se muniram de um cão, para puderem sair de casa, de forma "legal"...), Almada continua a ser o reino dos gatos.

Por exemplo, a Escola Cacilhas-Tejo é quase um santuário para os felinos, com vários retiros no seu interior e também com tratadores fiéis.

Mas também existem muitos espaços abandonados, que são ocupados por estes animais (como esta casa em ruínas, quase na fronteira entre Cacilhas e Almada, que alguém "identificou" com bonecos...) e que também têm os seus benfeitores (quase sempre benfeitoras...), que tentam que não lhes falte nada.

Uma das coisas que chamou mais a atenção, quando vim morar para Almada, foi a quase ausência de cães vadios (são mais perigosos para as pessoas...). Já os felinos, era vê-los em quase todas as ruas. E acabam por trazer vantagens para a população, pois além de menos perigosos, são pouco barulhentos, mais higiénicos e fogem mais ao contacto com a nossa espécie, cada vez mais "desumana"...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


quinta-feira, abril 14, 2022

Que Saudades do "Futebol de Rua"...


Foi também no Seixal que descobri um "campo da Lua", com uns pequenotes a darem uns chutos na bola.

Fiquei extremamente feliz por encontrar esta imagem rara, um quase baldio, ocupado como campo de futebol pela miudagem, quer continua a adorar o "futebol de rua".

(Fotografia de Luís Eme - Seixal)


quarta-feira, abril 13, 2022

Encantos da Margem Sul


O Seixal é um dos lugares da Margem Sul por onde mais gosto de passear (à beira-rio ou na sua parte antiga...). Sei que não deve ser nenhuma novidade para os frequentadores do "Largo" (isto de escrever diariamente obriga-nos sempre a umas quantas "repetições", porque somos o que somos...).

Sei que gosto do Seixal, provavelmente, por nunca lá ter morado. Mas mesmo assim, noto, aqui e ali, pequenas diferenças que acabam por fazer toda a diferença...

Há um cuidado pelo património, que não existe, por exemplo, em Almada. As ruas estão mais limpas e as casas, mesmo as antigas, aparentemente melhor cuidadas. As Colectividades mantêm as suas instalações de cara lavada e com ar de quem se "faz à vida", para servir os seus associados e restante população.

Mas não é só isso. Acho que é toda a envolvência desta cidade, que não renega as suas origens e consegue separar o trigo do joio (sim, também há um Seixal novo que floresce, lá para os lados do Benfica, mas essa parte não me entusiasma por aí além...).

Foi por isso que hoje, por estar perto, não resisti a mais uma visita, mesmo que fosse "quase de médico"...

Mas volto a dizer, provavelmente este meu gosto pelo Seixal, é mesmo de ser apenas visitante...

(Fotografia de Luís Eme - Seixal)


terça-feira, abril 12, 2022

Talvez Sejamos (quase) Todos Pobres...


Mesmo um merceeiro de "quinta", quer ganhar como os outros, que se acham de "primeira", com os "males" da guerra.

É por isso que vai subindo os preços, quase diariamente, como se tudo fosse "gasolina". Aumenta tudo, dos produtos mais insignificantes aos chamados bens de primeira necessidade, mesmo que não sofram qualquer interferência dos "ventos" tristes de leste.

Talvez agora sejamos todos pobres (a meia-dúzia do costume não conta...). Quem não se rala muito com isso são os governantes do "faz de conta" do costume, que se passeiam por aí de mãos nos bolsos, como se não fosse nada com eles. A culpa é toda do "nazi" da Rússia...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)


domingo, abril 10, 2022

«A normalidade é uma coisa quase abstracta»


Há alturas que as conversas "marcianas" nos fazem bem, porque neste nosso tempo não há muito para contar de bom, sobre o nosso planeta e sobre os "seres terrestres".

Mesmo assim, quando escutei a frase, «a normalidade é uma coisa quase abstracta», não deixei de ficar surpreendido. Até porque me parecia que a normalidade era tudo menos isso... sempre a olhei como algo mais "realista" que qualquer outra "anormalidade".

Ou seja, parecia aberto o caminho para uma conversa de loucos. Mas não. O que a Vera quis dizer foi, que, embora cada um de nós andasse com a sua normalidade colada ao corpo, esta está longe de ser uma coisa comum. Até foi capaz de acrescentar que muitas vezes a nossa normalidade vem acompanhada de alguma ficção e até de mentiras. Sim, algumas pessoas só conseguem levar uma vida normal se lhe misturarem algumas coisas que "não existem".

Mas onde ela quase que me convenceu, foi quando falou da existência das leis e regras que nos são impostas, para que "sejamos todos quase normais". E algumas delas até são contrariadas, sempre que nos é possível.

Depois de me despedir da Vera, continuei a pensar que o termo abstracto era demasiado forte na frase que me ofereceu (só podia partir de uma pintora...). Mas também senti que a normalidade, afinal de contas, não era uma coisa assim tão normal quanto isso...

(Fotografia de Luís Eme - Cacilhas)

sábado, abril 09, 2022

Os "Loucos" que não São "Malucos"...


Se Luiz Pacheco e João César Monteiro não foram as figuras mais "fora da caixa" do seu tempo, andam  muito perto disso, com toda a certeza.

Nunca me cruzei com nenhum deles, nem mesmo quando fazia jornalismo nos jornais. Não calhou, mas eu também não fiz nada para que isso acontecesse, mesmo sabendo que o Pacheco viveu (miseravelmente, diga-se de passagem...), na minha Cidade Natal, durante a minha infância.

Nunca morri de amores pelas suas singularidades, em especial pela forma "chupista" com que viviam. O João César Monteiro ainda me dizia menos, embora fosse mais "fino" (até mesmo, literalmente...) que o escritor e editor "maldito".

Um dos meus amigos adorava o João César. Ainda hoje me conta histórias dele, que parecem pertencer ao domínio da ficção. Ele era sobretudo um provocador. Dizia o que lhe apetecia, sem guardar nenhuma palavra no bolso. Humor negro, cinzento ou castanho, era com ele.

Se tanto um como outro  conseguirem "espreitar", de vez enquanto, cá para baixo, vão sentir que valeu a pena viver quase aos "trambolhões". Se bem que continuam a ser mais recordados pelas suas histórias de vida que pelo seu talento como criadores...

(Fotografia de Luís Eme - Tavira)


sexta-feira, abril 08, 2022

A Vida em Roda Livre...


A vida funciona mais em roda livre do que imaginamos. Deve ser por isso que a partir de uma certa altura (lá para o chamado "meio da vida"...), deixamos de fazer projectos a longo e médio prazo.

Mas não é bem disso que eu quero falar. Às vezes estou um mês sem ver pessoas de quem gosto (quando não as procuro e o "acaso" não nos faz cruzar a mesma rua...) e depois acontecem dias como o de ontem, em que encontramos um amigo logo pela manhã, a quem oferecemos uma hora do nosso tempo, para matar saudades e ouvir meia dúzia de histórias deliciosas. Depois do almoço reparamos numa mulher de cabeleira ruiva e corpo esguio, que não nos é estranha. Mesmo a quase 100 metros de distância conseguimos "descobrir-nos". Eu desço a rua e ela fica à espera na esquina do café onde vai beber a bica. Depois ocupamos uma mesa da esplanada e mais uma conversa inesperada, agradável, sobre livros, pinturas, exposições e gentes que nos são queridas.

O "dia" para ser bom, podia acabar logo de manhã, mas não, prolongou-se para depois do almoço e guardou-me a melhor surpresa para o fim da tarde. Encontrei um poeta que não é poeta (diz ele, claro), quando ia ver o rio e desentorpecer as pernas, depois de ter passado uma boa parte da tarde a arquivar papeis, de pé, de cócoras, sentado e já sem posição.

Fez-me companhia e foi uma maravilha "convocarmos" tantos amigos, conhecidos e até desconhecidos (pelo menos para mim), para nos animarem pelo Ginjal fora...

(Fotografia de Luís Eme -  Ginjal)


quinta-feira, abril 07, 2022

Um Livro de "Branquear"...


Ao ler a entrevista de Daniel Proença de Carvalho, de hoje, no "Diário de Notícias", a propósito da edição da sua obra memoralista e biográfica, "Justiça, Política e Comunicação Social - Memórias de um Advogado", acabei por ficar a pensar que estava a "escutar" as palavras de outra pessoa, pela sensatez e até pelo sentido de justiça social.

Mas depois de voltar ao "planeta terra", descobri o advogado de ricos e famosos (António Champalimaud, Leonor Beleza, José Sócrates, Dias Loureiro, Ricardo Salgado, etc), que foi ministro da Comunicação Social, presidente da RTP, accionista de vários órgãos da comunicação social, e voltando à advocacia, o sócio de uma das sociedades mais importantes de advogados...

Claro que num país como o nosso, com tantos problemas para resolver, na justiça, na saúde ou na economia, é fácil ter um discurso "politicamente correcto", que tanto pode saltar para o lado direito como para o lado esquerdo da sociedade.

E fica sempre bem a um advogado "saltar para cima" da justiça. E se for através de um livro de "branquear", ainda melhor...

(Fotografia de Luís Eme)


terça-feira, abril 05, 2022

«Vá lá, escreve qualquer coisa e manda...»


Ando há quase três meses a organizar a papelada que me enche a garagem. Tenho deitado bastantes papeis fora (muito menos do que devia...) e também vou ter de me desfazer de livros. O problema é seleccionar os que não me interessam mesmo...

No meio destes papeis tenho descoberto muitas colaborações avulsas em boletins, poezines e afins, algumas das quais já nem sequer me lembrava... Mesmo sem me envergonhar das coisas que escrevo, sei que podia ter "evitado" a publicação de alguns textos e poemas, mas o apelo insistente de alguns amigos era mais forte: «Vá lá, escreve qualquer coisa e manda...» e fazia com que se fosse à procura do que se escreveu "ontem" e se enviasse em anexo, sem pensar muito na qualidade (como eram colaborações "pro bono" e sem grande "futuro", enviei duas ou três coisas que podia ter ficado esquecidas na gaveta...) e na posteridade.

Claro que não vem mal nenhum ao mundo por isso (é apenas um pequeno desabafo...), até por serem publicações de tiragens reduzidas, cuja existência já caiu no esquecimento... Mas alguns continuam a ter o seu quê de especial, como o "Sabor das Palavras" (título "inventado" pela Nia... que até foi premiada como o meu primeiro e único romance...), quando pegamos neles... 

O "Sabor das Palavras" era o fanzine do "Café com Letras", dirigido pela Ermelinda. Café de tão boa memória e curta existência, em Cacilhas, no começo do milénio...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


segunda-feira, abril 04, 2022

Lisboa e o Tejo Volta a Encher-se de Gente de Fora...


Talvez seja a nossa posição, no ponto mais ocidental da Europa, que atrai tanta gente de fora nestes tempos de guerra (mesmo que ela apenas fique próxima pelas televisões...).

Sei que estes tempos são muito diferentes, dos da "outra guerra", em que Lisboa era sobretudo ponto de passagem, para o outro lado do Atlântico. Por aqui nem se nota a chegada de refugiados. O facto de serem acolhidos sobretudo por amigos e familiares, deve fazer com que prefiram a descrição.

Ou seja, quem chega para passear no Tejo, vem de paragens mais pacíficas. 

No Ginjal ouço mais o francês e o italiano que o inglês, apesar da sua universalidade. Só o velho pescador da fotografia é que foi capaz de soltar umas graçolas em bom português, dedicadas às jovens mulheres, sentadas quase à proa do veleiro que passava frente ao cais.

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


domingo, abril 03, 2022

Até Apetece Perguntar: A Mediocridade Veio da América?


Nunca achei que os Estados Unidos da América fossem uma boa influência para a Europa, porque sempre pensei que eles tinham muito mais a aprender connosco, que nós com eles, mas...

Embora seja indesmentível o peso da cultura norte-americana, especialmente a que nos chega dentro dos filmes, não penso que seja uma coisa boa e formativa.

Não vou cair na patetice de dizer que nós, portugueses, somos mais medíocres, cínicos e hipócritas por causa dos americanos. Apenas penso que perdemos alguma da autenticidade (e até ingenuidade...) que nos caracterizava, porque fomos percebendo que "o mundo é dos espertos".

Mas não vou deixar de transcrever o que o realizador Samuel Fuller disse, há 30 anos, ao "Público", sobre os norte-americanos:

«A origem da verdadeira censura reside na mentalidade medíocre. Embora não exista na América nenhuma lei que censure isto ou aquilo, existe essa mediocridade, que é muito mais forte do que Deus ou Washington...»

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sábado, abril 02, 2022

"Uma Receita para o Desastre"


Lia-o quase sempre, embora raramente concordasse com o Vasco Pulido Valente escrevia nos vários jornais onde colaborou. Isso acontecia pelo seu pessimismo e também pela sua vontade de "nadar contra a corrente" (adorava ter um ponto de vista original, diferente de todos os outros, mesmo que não passasse de um disparate...).

Curiosamente "bati de frente" com um pequeno recorte de uma das suas colunas do "Diário de Notícias" (Faz de Conta), datada de 5 de Setembro de 1999. Ou seja, uma coisa ainda do século passado, onde ele "tem razão antes de tempo". Tem como título "Uma Receita para o Desastre" e explica um pouco o porquê da tentativa da invasão Russa e destruição da Ucrânia, que todos assistimos, diariamente. Vamos lá à transcrição:

«A entrada na NATO da Hungria, da Polónia e da República Checa e sobretudo o próximo alargamento da UE a leste transformarão fatalmente a Alemanha na potência hegemónica da "Europa do Meio" /definida, reconheço, sem grande rigor). De qualquer maneira, do Adriático às fronteira da Ucrânia, mandará Berlim. O objectivo histórico do II Reich e do nazismo ressurgiu assim sob os nossos olhos e, prodigiosa coisa, em nome dos direitos do homem. Só falta (mas já se fala nisso) que a Estónia, a Letónia e a Lituânia entrem na NATO - e a Rússia ficará "cercada". Claro que a Alemanha avançou, e avança, no vácuo deixado pelo abjecto fim da URSS e pela actual impotência de Moscovo. Sucede que esta situação não vai durara sempre e que, uma vez arrumada a casa, nenhum governo russo aceitará perder por completo a sua influência na "Europa do Meio". Os perigos da política expansionista (que hoje surpreendentemente ninguém contesta) são mais do que óbvios. Levam em linha recta a uma Rússia humilhada e revanchista, que ainda é a segunda potência militar do mundo e que deverá o "Ocidente" (a Alemanha e a América) como o seu inimigo principal. Uma receita para o desastre.»

Os russos só esperaram vinte e dois anos e alguns meses, para "responder" ao Ocidente e dar razão a Vasco Pulido Valente. E a Alemanha, por muito que disfarce, não está longe do "olho do furação".

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, abril 01, 2022

O Grande Crítico Literário do Século XX


Tenho-me debruçado sobre alguns livros, publicados nos anos 30, 40, 50 e 60 do século passado (em artigos de jornal) e reparo que há um nome que surge quase sempre: João Gaspar Simões.

Para quem não saiba, além de crítico e ensaísta, Gaspar Simões, escreveu em 1950 a primeira grande biografia de Fernando Pessoa, com quem ainda conviveu ("Vida e Obra de Fernando Pessoa"), que foi durante muitos anos o melhor trabalho biográfico realizado sobre o grande poeta português.

Nesta minha pesquisa registei a sua grande longevidade como crítico literário. Sem ter a noção do tempo que viveu, fiquei a pensar que tinha vivido quase um século (depois de consultar a biografia verifiquei que morreu com 84 anos). Ou seja, pode-se dizer que foi crítico literário "toda a vida".

Sei que João Gaspar Simões estava longe de ser um "bem amado" nos meios literários, porque gostava de dizer exactamente o que pensava dos livros que lia, sem procurar ser simpático para os seus autores (mesmo os de que era próximo). Ou seja, funcionava exactamente ao contrário do que se passa hoje (ler o "Jornal de Letras" é quase uma coisa aberrante, em que meia-dúzia de pessoas escreve sobre os livros dos amigos, amigos esses que depois retribuem a respectiva "crítica abonatória", quando lhes é possível...).

Já li mais que uma vez, que João Gaspar Simões foi último grande crítico literário português. Embora possa existir algum exagero nesta frase, pelo menos, na actualidade, não existe ninguém, que lhe chegue sequer aos calcanhares. E mais importante ainda, cultive a independência, escrevendo sobre os livros, não se limitando a oferecer palavras bonitas aos amigos, escritores ou poetas.

(Fotografia de Luís Eme - Fonte da Pipa)