quinta-feira, novembro 30, 2017

E Agora?

Os "Xutos e Pontapés" perderam hoje o seu líder natural, o guitarrista Zé Pedro, o elemento da banda que melhor assumia o papel de "roqueiro" daquela que continua a ser a única verdadeira banda de rock portuguesa.

Para trás ficam quase quarenta anos recheados de concertos, discos, entrevistas... com sucessos que todos recordamos, como "O Homem do Leme", "Remar, Remar", "Minha Casinha", "Circo de Feras", "Chuva Dissolvente", "Contentores", "Para Ti Maria", "Não Sou o Único", "Se me Amas", ou "Quero-te Tanto", entre outras dezenas de canções inesquecíveis.

E agora? Faz sentido continuar? Zé Pedro diria com toda a certeza, que sim.

Resta perceber o que pensam, e o que querem, o Kalu, o Tim, o João Cabeleira e o Gui. Porque deve ser muito difícil continuar na estrada, sem a companhia de Zé Pedro, o seu elemento mais emblemático e o líder natural da banda...

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, novembro 29, 2017

O Anjo Pornográfico

Acabei agora de ler "O Anjo Pornográfico - a Vida de Nelson Rodrigues", de Ruy Castro. Como costuma acontecer quando leio ensaios ou biografias, demoro uma "eternidade" a chegar ao fim. E quando são quinhentas páginas... Ou seja, levei três meses a ler este livro.
Isso acontece porque tenho dois ritmos de leitura. Um para romances outro para ensaios. Os romances são escritos para serem lidos num ápice, os ensaios (onde incluo as biografias), são para se irem lendo, neste caso particular, é como se em cada "encontro" fosse conhecendo um pouco melhor Nelson Rodrigues (tal como sucede com as nossas amizades...).
Não é um livro deslumbrante, como cheguei a ler por aí (se o fosse tinha o devorado, como devoro os bons romances...), mas é um bom livro, muito bem escrito e organizado, que nos oferece um retrato extremamente completo de um dos maiores cronistas da língua portuguesa e um bom dramaturgo (foi bom conhecer detalhadamente esta sua faceta, nem sempre compreendida pelo público...).
Gosto de ler biografias porque acabam por ser também retratos de época, neste caso particular, acaba por nos dar informações importantes sobre a própria história do Brasil do século XX, especialmente do seu jornalismo.
E Nelson Rodrigues era um "escriba" extraordinário, com uma facilidade incrível em escrever sobre o que quer que fosse, mesmo que por vezes misturasse a ficção com a realidade. O facto de ele meter alguns dos seus amigos dentro das crónicas e até das peças que escrevia, dão-nos ideia do género de homem que ele era, muito observador e sem qualquer tipo de pudor, com tudo o que isso pode ter de inquietante e de perigoso (deve ter feito tantos "inimigos" pela vida fora...).
Ruy Castro, o autor, é um grande biógrafo. Nunca se perdeu ao longo da meia centena de páginas, manteve sempre uma escrita equilibrada, conseguindo focar os aspectos mais importantes da vida de Nelson Rodrigues, inclusive a sua vida familiar (desde a infância até aos últimos dias...), povoada de dramas.
A escolha do título também foi óptima. O Nelson era isto...

terça-feira, novembro 28, 2017

A Ambiguidade Feminina...


Nos meus primeiros anos de vida adulta tive mais que um exemplo daquilo que se pode chamar a "ambiguidade feminina".

Talvez fossemos todos do clube dos "assediadores", mas também me parece que era normal as moçoilas disseram "não", mesmo quando queriam dizer sim. Claro que só depois é que se percebia que afinal o "não" era "sim"... Às vezes já tarde demais...

Recordo que cheguei a ser "gozado" por alguns amigos, por ser demasiado respeitador das "damas"...

Claro que estou a falar dos primeiros namoricos, das primeiras saídas, tempos de inseguranças e de incompreensões, povoados por aquilo que me apetece chamar  de "ambiguidade feminina".

(Óleo de Rolf Armstrong)

segunda-feira, novembro 27, 2017

As Mulheres Assassinadas e as Forças de Segurança


Eu tinha pensado escrever esta semana sobre a forma como nos relacionamos com as mulheres e vice-versa, mas o artigo que a Fernanda Câncio publica hoje no Diário de Notícias (Mulheres Mortas), "cortou-me o pio". Artigo que aconselho todas as pessoas a lerem.

A Fernanda relata um caso, um dos mais graves que li, e que me tinha passado ao lado, pelos menos com todos estes pormenores. O que me choca mais é a conivência das forças de segurança e autoridade (GNR), que se limitaram a assistir a um assassinato, sem esboçarem um só gesto para defender a vítima de maus tratos e a filha.

É quase um lugar comum dizer que é mais que tempo de mudar, que é uma vergonha a forma como alguns agentes de autoridade tratam todos estes casos, sendo coniventes (e até co-responsáveis) por muitas das mortes que têm ocorrido nos últimos anos, por tratarem ocorrências graves de violência doméstica com uma ligeireza incompreensível. 

Será que ainda não perceberam que o país mudou, assim como as leis e a sociedade? É que a Revolução de Abril aconteceu há mais de 43 anos....

(Óleo de Michael Malm)

domingo, novembro 26, 2017

"A vida como ela é..."

Nelson Rodrigues, um dos grandes cronistas da língua portuguesa foi o autor de uma das crónicas que tiveram mais êxito no Brasil, "A vida como ela é...", em que embora ficcionasse a vida, tudo acabava por bater certo, tal era a forma surpreendente e inexplicável com que algumas pessoas viviam os seus dias...

Mas não é do Nelson que quero falar hoje,  mas sim da vida de todos nós, da forma como facilmente criticamos os outros, muitas vezes sem sequer os tentarmos perceber, outras, deixando alguma inveja a "flutuar"... Tudo isto porque cada vez  se conhecem mais casos de pessoas (já com idade suficiente para saberem o que é melhor para elas) que embora gostem de alguém e assumam a relação amorosa, cada uma continua a viver na sua casa. Ou seja, não querem perder o seu espaço, a sua liberdade. Por muito que me chamem egoísta, individualista, eu acho que isso não faz mal nenhum ao amor, nem ao facto de gostarmos de alguém. 

Só consegui que percebessem o meu ponto de vista, quando dei um exemplo quase antagónico, falando das pessoas que deixam de gostar, e por "dependência" (não ter onde ficar, ou estarem mesmo dependentes economicamente do outro...), são obrigadas a viver no mesmo tecto com alguém que já não suportam...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, novembro 25, 2017

Romeu "Excessivo"...

O Município de Almada resolveu aproveitar a comemoração do 20.º aniversário do Fórum Romeu Correia para realizar dezenas de iniciativas de homenagem ao grande Escritor de Almada, neste ano em que se comemora o centenário do seu nascimento, praticamente em apenas uma quinzena.

Não pensaram no quanto isso poderia ser "cansativo" para as pessoas, principalmente para os indiferentes ou aqueles que sempre olharam de lado para Romeu Correia.

Isso poderá explicar a ausência de público numa sessão tão prometedora como a de ontem, em que se iria falar da matéria mais popular, e de mais evidência como autor, a sua faceta de dramaturgo, com as peças que escreveu e as que visitaram os palcos, especialmente de grupos amadores, de Norte a Sul.

É também nestes momentos que eu percebo a parte "postiça", da Almada, "Capital do Teatro"... Não apareceu um actor, um encenador ou um amante de teatro...

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, novembro 24, 2017

Ser Engraçado, Cair em Graça e Afins...

Há pessoas que percebemos logo às primeiras que há muito poucas hipóteses de alguma vez sermos amigos, tais são as diferenças que descobrimos logo num primeiro relance.

Podemos estar enganados, pode acontecer, embora saibamos que esta é uma daquelas coisas que nem sequer belisca a regra.

E nem é preciso fazerem-nos mal. Basta fazerem algo que choca com a nossa forma de estar, ou que seja parecido com aquilo que normalmente abominamos. 

O mais curioso, é que a partir daqui, quase todas as tentativas de tentar inverter a situação, são ridículas e deixam transparecer a hipocrisia em que estamos metidos a vida quase toda...

Somos uns gajos tão estranhos.

(Fotografia de Izis Bdermanas)

quinta-feira, novembro 23, 2017

As Gaivotas em Terra de Manhã...

Apesar do Sol furar as nuvens ainda pouco escuras, pela manhã, as gaivotas já adivinhavam o pior para a tarde, à beira do Tejo, pelo menos na Capital...

Notei que não há qualquer sinal dos turistas desistirem de Lisboa, nem mesmo no penúltimo mês do ano. 

À tarde, já na Outra Banda, andei pelas ruas quase desertas de chapéu de chuva, a ver se molhava os pés (e consegui). As pessoas abençoam a chuva mas preferem ficar em casa a vê-la cair, do lado de dentro das janelas.

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, novembro 21, 2017

A Falsa Fábrica de Sonhos....

No fim do descampado lá surgiu o velho barracão, ainda com alguma imponência, mas sem portas ou janelas. Ainda era visível a chapa ferrugenta com o nome da segunda vida, como "casa de sonhos", sem esconder que no passado fora uma fábrica de tijolos. 

Os donos fartos de saber que as discotecas passavam de moda rapidamente, fizeram um investimento quase curto. Depois de ser discoteca, ainda foi quase um "templo de rock alternativo", com música ao vivo às sextas.

Foi lá que o Rui e a malta da sua banda fizeram a estreia em concertos ao vivo. Quem os ouviu diz que tocavam bem, com o Rui a cantar em português (foi lá que cantou uma letra da minha autoria,  a "Viagem"...). Gostavam de tocar, de se juntar e criar. Não pensavam em discos, muito menos em ganhar camiões de dinheiro. Pelo exemplo do Rui, penso que nunca se levaram a sério, foi por isso que nem sequer pensarem em abandonar os seus empregos tristes. 

Pouco tempo depois o barracão foi obrigado a fechar por estar completamente "fora da lei". Não foi difícil de perceberem que o "fim" estava um pouco à frente, depois da esquina.

Não se chatearam, simplesmente acharam que aquela brincadeira musical foi perdendo a graça, provavelmente por não terem encontrado qualquer estrada com setas para o futuro. Começaram a vender o material da banda e prometeram deixar de sonhar por uns tempos... pelo menos sonhos com som.

Lembrei-me desta história por ter passado ao pé da velha fábrica e por saber que o Rui não voltou a tocar e a cantar, nem mesmo no banho (pelo menos é o que ele diz)...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, novembro 20, 2017

Quase Cenário de Filme...

A "Outra Banda", outrora tão procurada por gente que vinha a esta margem com o intuito de pintar o Tejo e Lisboa, continua a oferecer a beleza de sempre, do alto dos seus miradouros, que surgem de uma forma natural, nos planos superiores das suas encostas.

Embora esta fotografia seja de Outubro, quando ainda parecia ser "Verão"... podia ter sido tirada hoje, à hora de almoço, em que a temperatura esteve amena, nos jardins da Casa da Cerca, com uma "varanda" virada para o melhor rio do mundo, que bem poderia passar por um cenário de filme, onde nem sequer falta um cacilheiro a navegar...

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, novembro 19, 2017

Estes Tempos Cheios de Nada...

Estes nossos tempos, tão cheios de nada, fazem com que seja cada vez mais fácil ler em diagonal e perceber as coisas de uma forma distorcida. E o pior, é que isso acontece quase sem nos apercebermos.

Toda esta maquinação que nos permite viajar sem dar um passo, ir ao Japão e voltar em meia dúzia de segundos, está a roubar-nos a "atenção" e a "concentração", entre outras coisas, afundando-nos com demasiada informação "inútil", ao mesmo tempo que nos afasta de coisas que realmente nos deviam interessar...

Todo este uso e abuso de informação faz-me pensar que nunca foi tão fácil enganar tanta gente em tão pouco tempo...

(Fotografia de autor desconhecido das bibliotecas itinerantes da Gulbenkian de um tempo com muito mais minutos...)

sábado, novembro 18, 2017

«Qual casa, quais livros, quais quadros?»

As pessoas mais próximas ainda não perceberam até que ponto o António ficou afectado com a fogueira grande que deixou a casa de campo apenas com as paredes.

A Ana anda preocupada e diz a todos os amigos que o companheiro não anda bem. Tudo porque quando alguém lhe "quer medir o pulso", para saber coisas que ele desistiu de quer saber e lhe faz perguntas sobre tudo o que aconteceu, ele com um sorriso nos lábios diz: «Qual casa, quais livros, quais quadros?»

Com os amigos mais próximos vai mais longe nas explicações: «Há muito que a casa precisava de uma remodelação. Nos últimos anos foi tratada como "depósito de lixo", levávamos para lá o que não nos fazia falta. Os móveis que não queríamos, as roupas que não usávamos, os livros que não líamos e os quadros que não cabiam nas paredes. Agora voltou tudo ao início. Vai voltar a ser a casa dos primeiros tempos, quando acabarem as obras.»

E vai ainda mais longe no seu sorriso: «Talvez volte a ter tempo de pegar na viola no quintal e tocar para os pássaros.»

Mesmo assim desconfiam da sinceridade das suas palavras. Não compreendem que ele seja capaz de dizer, «Voltar atrás para quê?», um lugar comum que é título de livros e de filmes, mas que é a melhor solução para se conseguir continuar a andar em frente, sem andar com os bolsos cheios de "fatalidades". 

Não sei se é o facto de ser homem (com um bom poder de abstracção - que há quem chame capacidade de "fugir dos problemas"...), que me leva a compreender o António. Sei que o que ele quer dizer é que há coisas mais importantes que os objectos que vamos guardando pela vida fora, por muito que façam parte das nossas memórias...

(Fotografia de Tarlé Dominique)

sexta-feira, novembro 17, 2017

Os Meus Passeios Mágicos com Romeu Correia...


Quando pensei em escrever o meu último livro, "Passeio Mágico com Romeu Correia", tinha como principal objectivo, homenagear, e dar a conhecer, quem foi realmente Romeu Correia, que por vezes é "criticado" por quem nunca leu um livro da sua autoria nem assistiu a uma peça sua.

Mas não pensei nestes "amigos da onça" (que também aprendiam alguma coisa com a sua leitura...), pensei sobretudo nas gerações mais novas, que apenas conhecem Romeu Correia por ser o patrono da grande sala da Cultura de Almada. Com o meu livro ficam a conhecer o Romeu em todas as suas vertentes, especialmente nas que mais se destacou (literatura, teatro e desporto).

Recordo sobretudo os nossos passeios pelo Almada, que foram a fonte de inspiração para o título deste livro. E vou transcrever o que escrevi na "Apresentação", neste dia que é de Romeu Correia:

[…] O uso da palavra “mágico”, dentro de um “passeio”, fez-me recuar no tempo, voltar às nossas “piscinas” que começavam na esplanada do senhor Manuel, na Praça da Renovação. Depois avançávamos pela rua Fernão Lopes, atravessávamos o Largo do Tribunal subíamos as escadas até ao Jardim, e quase sem darmos por isso, estávamos na Rua Direita... Íamos parando aqui e ali, para que o meu querido “cicerone” me explicasse melhor, quem eram as personagens que se iam misturando na nossa conversa, dando vida a uma Almada que continua a existir na memória do Romeu e das Gentes que se orgulham de viver numa Terra solidária e fraterna, que não deita fora o passado (o Orlando e o Chico permanecem na primeira fila...).[…]

quarta-feira, novembro 15, 2017

A Famosa Folha Branca...

Eles falavam de folhas em branco, de inspirações e transpirações, da "espera" que se faz às histórias, e que mesmo assim elas escapam-se por entre os dedos.

Mas as coisas mudaram muito, já quase ninguém escreve em papel (o António é um dos poucos resistentes, com a sua letra pequenina que se cola às folhas como lapas...), fingem tocar piano nos teclados, que a única coisa que sabem é soltar letras que querem ser palavras, frases, capítulos, contos, novelas, romances... entre outras coisas.

Eu estava ali em silêncio, com vontade de fingir que ia fumar um cigarro à varanda, porque já estou tão habituado a escrever por escrever, que nem sequer me lembro de "vacilar" perante a famosa folha em branco.

Ou então fazia "voar" as ditas folhas, transformando-as em aviões de papel...

(Fotografia de Ann Mansolino)

terça-feira, novembro 14, 2017

O Começo e o Fim do Amor têm Sempre Muitas Nuances...


Às vezes as pessoas contam-nos coisas, demasiado fortes, que podiam ser de livros ou de filmes, mas são mesmo da "vidinha"...

Um amigo que já vive há muito uma "segunda vida", contou-me o que lhe fizeram num dos momentos de maior fragilidade da sua vida. Naquilo que hoje considera um acto frio, de pura vingança, não por ser um mau rapaz, mas apenas por ter sido sempre dono do seu nariz.

Acabado de chegar do hospital, após uma operação delicada, foi "depositado" na cama cheio de dores. A companheira saiu para ir à farmácia para lhe comprar medicamentos que precisava com urgência. Mas esta deve-se ter olhado ao espelho e sentido mal com o seu aspecto e pelo caminho resolveu passar pelo cabeleireiro. 

Quatro horas depois, quando chegou a casa, ele quase que agonizava, na cama, com dores infindáveis...

O recado fora transmitido. O começo e o fim do amor têm sempre muitas nuances...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, novembro 13, 2017

"Duplicidades" (era o título...)


Descobri hoje o começo de qualquer coisa... um texto ainda do século passado que queria ser uma história qualquer. O jornalismo estava presente, na pele de Pedro Gama, o protagonista do meu primeiro (e único...) romance, "Bilhete para a Violência". Sem perceber bem porquê, pelo menos hoje, é uma história de perdas:

«Ao entrar na redacção do jornal, Pedro experimentou uma sensação nova, estava tudo silencioso. Sempre pensara que os jornalistas, habituados a conviver com os dramas do dia a dia, nunca fechavam para balanço.
Aproximou-se da secretária arrumada de Patrícia, recordou a colega bonita e inteligente, revoltada com um mundo que ainda não aprendera a conviver com esses atributos. Pedro olhou durante alguns segundos para os jovens redactores que escreviam como se estivessem dentro do cinema a ver um filme. Foi quando um toque ligeiro no ombro o trouxe de regresso ao mundo dos vivos. Era a Helena, boa jornalista e companheira. Fora ela que lhe comunicara em primeira mão a morte da Patrícia.»

Percebi que era um policial, que a jornalista aparentemente se tinha suicidado, mas apenas, aparentemente...

(Fotografia de Cecil Beaton)

domingo, novembro 12, 2017

A Dualidade da Amizade e a Santa Bárbara...

A vida vai-nos ensinando sempre a separar o trigo do joio. As pessoas podem-nos enganar algum tempo, mas nunca para sempre.

É também por isso que não devemos usar demasiado a palavra "amigo", ao ponto de a banalizar.

Hoje estive a ler um caderno de palavras datado de 2006. Uma das coisas que me chamou a atenção foram as palavras que escrevi sobre a amizade, que transcrevo (continuo a pensar da mesma maneira). 

«Um verdadeiro amigo não se preocupa com as coisas pequenas, não nos chama a atenção por nos termos esquecido de uma vírgula numa crónica, nem tão pouco diz que estamos mais gordos ou usamos o cabelo demasiado curto ou grande.
Um verdadeiro amigo preocupa-se com o nosso bem-estar, além de falar das coisas que realmente importam, se perceber que estamos num dia mau, é capaz de nos oferecer uma história divertida, só para afastar o tédio e todas as coisas com pouco sentido.»

Claro que não escrevi isto por acaso. Foi por perceber que esta definição não era igual para todos. Há por exemplo quem pense que um amigo é aquele que tem uma paciência infinita para nos aturar, embora este princípio só se aplique a ele e nunca a nós...

Ou seja, há muito quem só seja "amigo" para receber e nunca para dar.

Mas eu sei que estou diferente. Sei que em 2006 não era capaz de dizer a alguém que me telefona a pedir ajuda, «Já sei que me está a telefonar para pedir alguma coisa. E ainda não é hoje que me telefona para me dar alguma coisa...» Hoje sou. E de alguma forma acabo por desarmar pessoas que só se lembram de "Santa Bárbara quando chove"...

(Fotografia de Luís Eme)

sábado, novembro 11, 2017

O Assédio Quase Permanente ao Nosso Olhar nas Ruas...


Sei que as mulheres têm demasiadas razões para se queixarem de assédio sexual, tanto no trabalho como nas ruas. Já senti nojo, e até vergonha,  de alguns homens (sempre mais velhos que eu...), pelo que eram capazes de dizer às moçoilas, de várias idades, com quem se cruzavam nas ruas.

Mudando de avenida, também me faz alguma confusão a forma como algumas mulheres "desfilam nas ruas", com decotes que nos puxam os olhos para as suas "explendorosas" e saias curtas que prometem mais do o que escondem, quase sempre em cima de sapatos de meio-metro que as fazem andar quase num "samba urbano".

É aqui que, mesmo que os olhos não digam qualquer palavra, todos nós, homens, sentimos que eles "falam" demoradamente com todas estas paisagens humanas que decoram os caminhos das cidades...

Sem querer misturar as águas, talvez também seja boa ideia, falar um pouco sobre este caso pouco escandaloso, do assédio quase permanente ao nosso olhar nas ruas...

(Fotografia de Philippe Halsman)

quinta-feira, novembro 09, 2017

Recomeçar (ou não) de Novo...

Encontrei um rapaz que de vez enquanto desaparece do mapa e estou anos sem o ver.

Ao contrário de mim, já viveu muitas vidas no mundo que nos espera à porta de casa, todos os dias. Só casamentos foram três, todos eles de curta duração (o que durou mais ficou-se pelos quatro anos...). Já morou em várias cidades e países, mas acaba por voltar sempre à casa dos pais, os únicos que nunca lhe fecham a porta...

Está mais desiludido que nunca, por saber que já não vai para novo e que cada vez há menos empregos para quem se aproxima dos cinquenta. A primeira vez que o vi sorrir durante a nossa conversa foi por causa das histórias de assédio, que estão na moda, ao ponto de ele pensar que sempre deve ter sido um "assediador" militante, pelo menos nos trabalhos onde havia gajas boas. Disse isso como se o "atiranço" fizesse parte da nossa condição de "macho".

E a partir de aqui a conversa melhorou bastante. Foi delicioso vê-lo a "despir e a vestir" as mulheres que foi conhecendo e despachando, e também das outras, que o despacharam... Debitou lugares-comuns a uma velocidade incrível. Afirmou saber, por experiência própria, que todo o amor tem prazo de validade, mesmo que exista por aí muita boa gente que se finge feliz, por ter um casamento com cinquenta anos e mais.

Quando nos despedimos percebi que não é só a vida que nos quer correr mal... nós também nos esforçamos para que ela caminhe (ou não...) para os lados errados, do dia ou da noite...

Somos todos diferentes e todos iguais. É por isso que há quem consiga viver a vida inteira no mesmo lugar e também quem precise de andar a saltitar de terra em terra, à procura daquilo que parece não existir...

(Fotografia de Ruth Orkin)

quarta-feira, novembro 08, 2017

A Gente Pequenina do Meu País...

Já nem me apetece dizer que estou farto da "gente pequenina do meu país", porque são "muitos mais que as mães" (e nem sequer posso dizer que elas não têm culpas no cartório)...

Mas incomoda-me que passem a vida preocupados com o vizinho que comprou um carro melhor que o deles, e continuem a ser benevolentes para com os "sócrates" e "salgados" que faziam aviões de papel com cheques de milhões e quase passaram a ferro o país... ao ponto de lhe chamarem "coitadinhos"... E o juiz é que é um malvado, assim como o procurador. E da cambada dos jornalistas, nem se fala...

Claro que não me apetece abanar os ombros e entrar no coro que passa o tempo a dizer que as "pessoas são o que são". É neste momento que devia meter aqui um daqueles palavrões grandes.

Deve ter sido por causa desta gente que houve alguém que resolveu fazer em Coimbra o "Portugal dos Pequenitos"...

É por isso que escrever é também sobreviver, sem passar ao lado...

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, novembro 07, 2017

O Desabafo do Artista...

Hoje cruzei-me com o Louro Artur, um artista plástico almadense que é o autor  do bonito painel em azulejos que retrata a vida literária de Romeu Correia, mas que foi colocado num lugar quase escondido (rente às piscinas da Academia Almadense que estão fechadas há já mais de meia-dúzia de anos e são cada vez mais poiso de gente que gosta de destruir por destruir...).

Com todo este abandono, o painel acaba por sofrer nos azulejos algumas "pinturas de guerra" de quem é incapaz de respeitar a Arte.

Ouvi os seus lamentos, porque ele detesta (e com toda a razão...) ver a sua obra vandalizada, e apesar de ter feito chegar a quem de direito, o que aconteceu, sente que ninguém se preocupa....

Como eu o compreendo, quando ele diz que aquela obra devia estar num lugar mais visível... E até diz onde o gostava de ver (no muro junto à Casa da Cerca, rente à Boca do Vento...), num lugar de passagem, e a espreitar o Tejo...

(Fotografia de Luís Eme)

segunda-feira, novembro 06, 2017

Não São só os Poetas que São uns Fingidores...


Hoje ainda vou falar dos meus livros, ainda que muito levemente, por causa de algo que eu já li em várias entrevistas, dito por mais que um escritor.

Um dos que mais vinca essa ideia é o António, o nosso eterno candidato ao Nobel.

Ele diz que assim que acaba o livro este deixa de lhe pertencer e que nunca mais o volta a abrir (menos ler). Embora eu seja um escritor de "terceira divisão", esta coisa de fazer de conta que os livros que escrevemos deixam de ser nossos (a não ser para continuar a receber os direitos de autor, os poucos que os recebem, claro...), sempre me fez confusão e me soou a "treta". Mas como somos todos diferentes, até é possível que seja mesmo assim...

O meu amigo Pereira (uso este nome que só usamos na "nossa rua" para despistar...), que é um escritor famoso do nosso burgo, também faz como eu, visita os seus antigos livros, muitas vezes com medo de se estar a repetir, porque isto de escrever livros tem muito mais que se lhe diga, que o que o senhor Rodrigues dos Santos pensa. 

E lá vou eu falar novamente do António, que também diz que está sempre a escrever o mesmo livro. Outra coisa que me deixa algumas dúvidas. Só concordo que escrevemos "o mesmo livro", por ele nascer e crescer dentro de nós, Embora escrevamos normalmente completamente "nus", as motivações, os temas, as personagens, os tempos, são sempre muito diferentes (só assim faz sentido continuar a escrever...).

Começo a divagar e depois não digo o essencial, aquilo que queria mesmo escrever: por esta ou aquela razão, volto muitas vezes aos livros antigos (mais aos ensaios que as obras de ficção), e sinto-me sempre confortável com o que escrevi, mesmo descobrindo pequenos erros aqui e ali...

(Óleo de Ludwig Von Hofmann)

domingo, novembro 05, 2017

O Dia Seguinte...


Por muitos lançamentos de livros que façamos, cada um tem a sua história.

A apresentação  do meu "Passeio Mágico com Romeu Correia" acabou por ter um significado ainda mais especial, por neste dia se realizar em Almada, praticamente em simultâneo, e organizado pela SCALA, associação da qual sou dirigente, a "Festa do Associativismo Almadense" (espectáculo de música, poesia e dança).

Isso fez com que ainda acabasse por ser mais marcante ter a Sala Pablo Neruda do Fórum Romeu Correia, cheia de amigos.

Outro aspecto não menos agradável é sentir que este livro a partir de ontem deixou de ser apenas meu (felizmente).

Agora só é preciso que ele cumpra o seu principal objectivo: apresentar o Romeu Correia, na primeira pessoa, especialmente a todos aqueles que não tiveram a possibilidade de conhecer pessoalmente o grande contador de histórias de Almada...

(Fotografia de Fernando Lemos)

sexta-feira, novembro 03, 2017

A Forma como nos Relacionamos com os Livros...


Já cheguei há muito tempo à fase de ter livros que sei que nunca irei ler. Mesmo assim, não resisto ao "olhar" que me lançam, aqui e ali e lá vou trazendo mais um ou outro amigo (para onde já não existem lugares vagos)...

Foi o que aconteceu com o famoso "Bom Dia, Tristeza", de Françoise Sagan, que era mais um livro perdido numa montanha de livros, desarrumados, com tinham o preço fixo de um euro.

Como nunca o tinha lido (nunca tinha calhado...), fiquei com ele, com o objectivo de o ler (até por ser um livro estreito, tal como a autora quando o escreveu nos anos 1950) e de não o deixar escapar para qualquer "labirinto" cá de casa.

Acabou por ser uma agradável surpresa, não que tenha uma história por ali além, mas sim por estar bem escrito (e bem traduzido...).

Fiquei a pensar que há duas coisas que me fazem fazer uma vénia aos escritores: escreverem de uma forma irrepreensível; contarem uma história daquelas, que nos prendem da primeira à última página (sem terem no interior "música de serrote").

E "Bom Dia, Tristeza", merece uma vénia. A história hoje já não provoca inquietações a ninguém, mas está muito bem escrita.

quinta-feira, novembro 02, 2017

Uma Comparação Leve e Eficaz...

Pode não ter sido feliz a comparação que a Rita fez, entre o tabaco e o facebook, mas pelo menos foi eficaz.

A primeira pessoa que se manifestou foi o "Carlinhos Batata", que entre sorrisos, disse que o facebook era a melhor coisa do mundo, e sem qualquer ironia.

Quase que nos roubou as palavras, mas mesmo assim lá fomos tentando desmontar aquele "mar de maravilhas"...

O Ruca foi o primeiro a manifestar-se e acha perfeitamente normal que num país em que Toni Carreira e José Rodrigues dos Santos são o músico e escritor de maior sucesso (e este último até já colocou na contracapa do seu último livro a pérola: "É considerado pelos portugueses o melhor escritor nacional"), em que as pessoas prefiram ver os programas do Goucha e do Baião ao "Governo Sombra" (ambos de divertimento), que o facebook seja o máximo.

Eu não quis falar muito, até por não conhecer muito bem o "funcionamento da coisa". Disse apenas que me desagradava a interacção quase instantânea entre as pessoas, algo que nos leva tantas vezes a dizer coisas sem pensar (e o Carlinhos disse logo que isso era uma das coisas que mais gostava...).

A Rita continuou a brincar com a malta e disse que aquilo ainda era mais viciante que o tabaco, e que infelizmente ainda não vendiam pastilhas para "matar o vício".

O Jorge explicou este  sucesso por outro ângulo, pelo interesse especial que dedicamos à vida dos outros, ali podemos espreitar a "janela da vizinha", sem sermos apanhados a mexer nos cortinados. Mesmo que de vez enquanto os apanhemos numa mentirinha (afinal não foram a Londres no outro fim de semana, ele cruzou-se com eles meia-dúzia de vezes na rua...).

Não queríamos chegar a conclusão nenhuma. Queríamos apenas "atirar umas bocas para o ar". Ficámos surpreendidos pela sinceridade do Carlinhos e pelo silêncio da Sara (outra fã...). Até por sabermos, que como quase tudo na vida, o gostar e o não gostar depende muito do que somos, um  pouco do que gostávamos de ser, e outro pouco do que andamos à procura e queremos da vidinha...

(Fotografia de Irving Penn)

quarta-feira, novembro 01, 2017

Não é a Mesma Coisa...


É possível que exista algum preconceito nesta minha análise (e até algum machismo...), mas continuo a pensar que as mulheres jovens têm uma atracção maior por homens mais velhos (assim como estes, que gostam de se sentir "jovens"...) que o inverso. O presidente francês é a excepção que quer confirmar a regra.

Mas isso também pode revelar alguma inteligência por parte das mulheres mais maduras, que são capazes de sentir que já tiveram "filhos" suficientes... ao contrário de muitos homens que exibem as suas jovens namoradas como se fossem "ferraris"...

Tudo isto porque me cruzei com um desses casais quase "contra-natura", cuja moçoila que pensava ser filha, foi beijada na boca pelo "avô" babado. E depois de ter perdido as dúvidas, vi-os arrancar de descapotável. As mulheres jovens e os "balzaquianos" sempre combinaram bem com carros desportivos velozes...

(Fotografia de Zoltan Glass)