quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Bonecos Articulados & Estátuas Silenciosas

De inicio somos todos bonecos articulados, quase com ossos de plástico.
Passamos o tempo a correr e a saltar, a pintar as pernas com manchas negras, de uma dor momentânea, que vai logo embora.
No fim, tornamos-nos quase estátuas silenciosas.
Andamos devagar e com nítidas dificuldades motoras.
E se somos colocados em "lares", a transformação em estátuas silenciosas, ainda se torna mais evidente.
Os lares lembram-me sempre a minha avó materna, não apenas dentro do seu corpo gasto e cansado, já de cadeira de rodas, mas também na dificuldade que começou a ter em falar, por falta de "ginástica da língua". Preferiu colocar-se na tal "ante-Câmara" para a última viagem, voluntariamente, escolhendo o silêncio à insanidade que a rodeava...
A escultura é de Berit Hildre.

10 comentários:

  1. Por muito bons e luxuosos que os lares sejam, nunca poderão substituir o ambiente familiar. É uma realidade. Mas a outra realidade é que hoje em dia é difícil cuidar dos mais idosos a partir do momento em que necessitam de cuidados especiais e constantes. Muitas das famílias não têm os meios financeiros para um lar de primeira qualidade, não podem deixar de trabalhar. Os mais abonados – digo, ricos – esses não serão afetados; dispõem de meios para usufruirem ou proporcionarem cuidados no próprio seio familiar. Ainda bem que o podem fazer, claro!

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  2. Das memórias que sedimentam o nosso palimpsesto.

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  3. Um texto que é a realidade da vida.
    Nos lares as pessoas ficam de cabeça baixa à espera de nada. Antes, tantos afazeres. Agora um excessivo descanso. É o que pensam... É o que lhes dói...
    Um beijo, Luís.

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  4. Que triste, não é?
    Nem quero pensar nisso... A tradição na minha família é partirem de um omento para o outro e cedo, cedo de mais...

    A escultura é muito bonita e foi muito bem escolhida.

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  5. pois não, Catarina.

    fomos criando uma sociedade com melhor nivel de vida mas muito menos humana...

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  6. sim, Helena, e nos fazem pensar se este é o tempo certo...

    mesmo sabendo que isso não existe.

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  7. quase que são obrigados a abrandar o viver, Graça...

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  8. triste e desumano, Carol.

    aprendemos tantas coisas e desaprendemos outras, não menos importantes...

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  9. esta realidade doi-me de forma particular.
    atinge-me violentamente e crava-se
    difinitivamente como um cancro incurável.
    um dia, numa das crónicas da rádio, levei este assunto a debate na tentativa de humanizar a forma como se olha este "esperar" a última viagem. não sei se ajudei a alguma mudança, mas persisto...
    a voz cada vez mais frágil contra muros de resistência granítica.

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  10. sim, Maré.

    pode-se viver até ao fim.

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